sábado, 30 de agosto de 2025


30 de Agosto de 2025
ANDRESSA XAVIER

Jogo jogado

Há julgamentos que começam antes de o tribunal se reunir. O do ex-presidente Jair Bolsonaro é um deles. A data no calendário do Supremo Tribunal Federal, que reunirá a atenção do país a partir desta semana, apenas oficializa o que já se desenha nos corredores, nas análises de bastidores e nas expectativas da opinião pública: o resultado é previsível. A condenação não será uma surpresa, mas a confirmação de um roteiro que o próprio Bolsonaro ajudou a escrever.

A insistência em flertar com o autoritarismo, a tentativa de mudar as regras do jogo e a incapacidade de aceitar a derrota nas urnas colocaram Bolsonaro e sua trupe diante de um tribunal que não julga apenas um ato, mas o modus operandi. É o acerto de contas entre o que se espera da liturgia democrática e quem a desrespeitou, ou a testou, de forma sistemática.

Não se trata apenas de um processo jurídico. É também um julgamento simbólico, de caráter histórico. A democracia brasileira, tão jovem e ainda marcada por cicatrizes, precisa dar respostas claras quando testada. O Supremo, desta vez, não julga apenas Bolsonaro, mas a resiliência das instituições diante de um projeto de poder que não se conforma com limites.

Todos sabem o que virá. Não haverá absolvição milagrosa, surpresas e nem espaço para vitimização convincente. O resultado já está assimilado até por aliados, que hoje medem cada palavra de apoio ou, em casos extremos, somem. Mas o que se abre depois da sentença é mais complexo. A condenação isola Bolsonaro politicamente, mas não elimina a polarização que ele consolidou. O eleitor que o seguiu, o fiel, não desaparece com a decisão do tribunal. O bolsonarismo, como fenômeno social, sobrevive, nesse caso apesar de seu líder. Assim como, lá atrás, o lulismo sobreviveu à série de escândalos de corrupção que culminaram na prisão de Lula.

Hoje todos sabem o desfecho jurídico do caso Bolsonaro, mas ninguém sabe qual será o desfecho político. Afastado do centro da disputa formal, o ex-presidente se torna ainda mais mito para os convertidos. A história brasileira, que acabo de citar, mostra que a prisão não significa necessariamente o fim de uma carreira política e que as brechas jurídicas e políticas podem nos surpreender. Lula esteve atrás das grades e voltou ao Planalto.

O Brasil assiste, assim, a um julgamento com duas camadas. Na superfície, a punição de um homem que afrontou a lei. Em profundidade, repetir que o país não aceitará mais aventuras golpistas. Por ora, o que todos sabem é o resultado que está para ser anunciado. O resto, como sempre na política brasileira, continua em aberto. Espero que o Brasil consiga enxergar além dos fanatismos em torno de dois nomes. O país é maior que isso. 

ANDRESSA XAVIER


30 de Agosto de 2025 
EUGÊNIO ESBER

Nós e o tribunal chinês

Aos brasileiros que sentem a temperatura da água subir, mas ainda consideram estar em uma tépida piscina e não em uma panela, recomendo prestar atenção ao termômetro. Os fatos, sempre eles, são implacáveis com quem os despreza, e os avisos do lento e progressivo cozimento das liberdades no Brasil se sucedem há pelo menos seis anos, quando a suprema corte brasileira se tornou o braço judicial do Partido dos Trabalhadores e a longa manus de perseguição aos dissidentes e de livramento dos corruptos apanhados pela Operação Lava Jato. 

Tudo o que se passou desde março de 2019, com a instauração do interminável e obscuro "Inquérito das Fake News", dá a medida de como uma pequena elite de burocratas pode subjugar um povo pela troca de favores com atores políticos, empresariais e intelectuais cujo cinismo foi magistralmente retratado por Verissimo em seu personagem "Queromeu, o corrupião corrupto", baseado nos corrupiões, aquele pássaro de peito laranja e que parece vestir um capuz preto.

A menos que as sanções norte-americanas funcionem para inibir os donos do poder, é do capuz do STF que sairá a decisão sobre quem pode concorrer a presidente em 2026; quem, se eleito, pode tomar posse; e quem, se empossado, pode governar sem a monolítica oposição do bloco STF-PT. O voto popular, portanto, torna-se secundário, e só não digo que é inócuo porque ainda atende a uma finalidade: produzir, para o mundo, a imagem de milhões de brasileiros acorrendo às cabines de votação. Uma bela coreografia, sem dúvida, a inspirar manchetes-clichês, como "Festa da democracia". Mas, passada a quarta-feira de cinzas, as alegorias são recolhidas. A real engrenagem do poder opera longe e à revelia das ruas.

A caminho de consolidar um regime de partido único, o STF, em coro com reiteradas manifestações de Lula, faz sucessivos acenos à China. Depois de Lula se dizer muito feliz por ter conseguido "colocar na suprema corte um ministro comunista", em referência a Flávio Dino, o futuro presidente do STF, Edson Fachin, recebeu ministros da suprema corte popular da China em abril. 

Os dois tribunais já haviam conversado em 2024, e agora firmaram um acordo de cooperação cujos termos exatos o STF decidiu manter em sigilo. Diante da estranha manifestação do ministro Gilmar Mendes em sessão do tribunal ("... nós todos somos admiradores do regime chinês, né?"), resta perguntar o que a mais alta instância do poder judiciário brasileiro tem a aprender com a corte que serve às diretrizes e interesses ditatoriais do Partido Comunista Chinês.

Não tente exigir, na justiça, o porquê do sigilo. A resposta será algo como "Porque sim. E não amola". _

EUGÊNIO ESBER

30 de Agosto de 2025
MARCELO RECH

Um basta ao Estado mafioso

A megaoperação de asfixia financeira ao PCC é um daqueles momentos em que o país precisa parar para ver onde estamos e como se conserta a situação. A descoberta da imensa rede de trambicagem levanta uma batelada de indagações sobre como, em última análise, chegamos até aqui - e se este é o ponto final ou inicial de algo maior.

É para lá de louvável a união de forças e o trabalho meticuloso dos órgãos de fiscalização para que fosse desfechado na quinta-feira o mais duro golpe nas finanças do crime organizado. Mas o fato de que o PCC estava se adonando dos postos de gasolina de São Paulo com métodos mafiosos era sabido e comentado há anos, com pouca ou nenhuma resistência à ação da facção.

Em abril do ano passado implodiu-se em São Paulo a infiltração do PCC no comando de duas das maiores empresas de ônibus da cidade. A velocidade com que o crime organizado se espraiou para refinarias, usinas de açúcar e o mercado financeiro assusta pela facilidade com que passou a movimentar bilhões nas sombras. A Receita Federal, a Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central, o Ministério Público, a Polícia Federal e entidades que representam o mercado honesto e legal tinham conhecimento das frestas e também há anos trabalham para fechá-las por meio de instrumentos legais, sem que eles conseguissem avançar.

E aqui é preciso parar e perguntar de novo. Por que não avançaram? A ex-senadora Ana Amélia Lemos apresentou há mais de seis anos um projeto sobre devedores contumazes que ajudaria a desmantelar as práticas criminosas de sonegação. Forças estranhas bloquearam o projeto. Agora, o senador Efraim Filho é relator de projeto semelhante. Segundo ele, 1.200 CNPJs devem mais de R$ 200 bilhões - e não por dificuldades financeiras mas porque tais empresas são criadas e fechadas exatamente para burlar o fisco. Com os holofotes acesos, ao menos será mais difícil agora que as forças do mal se movimentem no Congresso para barrar o projeto mais uma vez.

Outra história por ser contada é a resistência que se ergueu, sobretudo nas redes sociais, quando a Receita corretamente tentou aumentar a fiscalização sobre o Pix. Quem espalhou ou reproduziu a fake news de que o governo pretendia taxar o Pix acabou fazendo o trabalho sujo, ainda que indireta e involuntariamente, para que o crime organizado seguisse se valendo de fundos bilionários em fintechs suspeitas.

Agora, espera-se que os órgãos de fiscalização ganhem mais força e instrumentos para dar um basta ao Estado mafioso paralelo. Mas, como dito lá em cima, esse pode ser o ponto de partida. Quando as redes do tráfico, do contrabando e da pirataria forem atacadas com o mesmo vigor, talvez não se precise cobrar ainda mais impostos de quem já os paga e o Brasil ingresse de vez no rol dos países decentes. _

MARCELO RECH

30 de Agosto de 2025
OPINIÃO RBS

Raízes fortes

Não poderia ter sido melhor escolhido o slogan da 48a edição da Expointer, a maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina, que começa neste sábado e vai até o dia 7 de setembro, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Quando anunciam aos visitantes que "nosso futuro tem raízes fortes", os agricultores, os criadores, os empresários e os governantes gaúchos não estão se referindo apenas à história de um Estado que cresceu e se desenvolveu a partir das lides do campo, mas também reafirmam a resiliência dos rio-grandenses para se reerguer depois de cada dificuldade.

Só mesmo um povo com raízes fortes seria capaz de organizar essa grande festa do setor primário depois de ter enfrentado três estiagens seguidas, uma grande enchente estadual e outras pequenas localizadas, o endividamento decorrente das intempéries que ainda não está equacionado e, por fim, os efeitos do recente tarifaço norte-americano. Porém, mesmo nesse contexto de obstáculos sequentes, todos podem ficar certos de que as raízes do trabalho e da coragem brotarão e produzirão árvores, frutos, grãos, alimento para o gado, animais saudáveis, carne, máquinas agrícolas, novas tecnologias, inovação, todo o progresso contido na semente milagrosa da determinação.

A feira será, novamente, um grande palco para o desfile de animais, para as novidades tecnológicas da indústria do campo e para os produtos da agroindústria e da agricultura familiar. Mas pretende ser, igualmente, um espaço estratégico para negócios, para o contato dos brasileiros com representantes internacionais de mais de 25 países, para a abertura de novos mercados, para a presença de autoridades e para a renegociação das dívidas dos produtores rurais. Um dos eventos previstos pelos organizadores é a reunião dos 27 secretários estaduais de Agricultura do país, que já confirmaram presença. Além disso, todos os governadores estão convidados e é esperada, também, a participação de representantes do Ministério da Agricultura e do alto escalão do governo federal.

Mais de 25 países estarão representados na 48ª Expointer. Entre os estrangeiros, estão confirmadas as presenças de autoridades da Ásia, que é um grande e potencial mercado consumidor, das Américas, da África e da Europa, com destaque especial para a Itália, que terá estande próprio em homenagem aos 150 anos da imigração italiana no Estado.

Público e autoridades terão a oportunidade de acompanhar uma programação intensa e atraente, que inclui o maior concurso de cavalos crioulos da América Latina - o Freio de Ouro -, para cuja final, no dia 6 de setembro, são esperadas mais de 200 mil pessoas. Além disso, os visitantes poderão conhecer e fazer negócios no parque de máquinas agrícolas, onde estarão 120 expositores dos mais modernos equipamentos fabricados no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional nessa área específica.

Como sugere o slogan da Expointer, vamos mostrar nossas raízes fortes, mas o futuro também estará presente. 

OPINIÃO RBS

30 de Agosto de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Federação PP-União aposta em Covatti Filho para o Piratini

Quando Covatti Filho se lançou candidato ao Piratini, o objetivo era evitar a divisão entre o grupo que defende o apoio a Gabriel Souza, com Ernani Polo na vaga de vice, e o que prefere uma aliança com o PL, na qual o PP indicaria o companheiro de chapa. A situação mudou nos últimos dias, a ponto de o secretário do Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti, dizer para quem quiser ouvir que o filho será governador, com o deputado Sanderson (PL) de vice e Luciano Zucco na disputa por uma das duas cadeiras do Senado.

Nesta sexta-feira, no almoço de abertura da Casa da RBS na Expointer, Covatti repetiu essa história sem pedir segredo - e os trechos principais puderam ser ouvidos nas mesas vizinhas. Um dos líderes envolvidos nas negociações com o PL confirma que as conversas estão bastante avançadas e envolvem figuras como Ciro Nogueira (PP) e Valdemar Costa Neto (PL).

Os líderes dos dois partidos ficaram alarmados com uma pesquisa encomendada pelo PL. Segundo líderes, ela mostra que, se a eleição fosse hoje, a direita no RS estaria em maus lençóis. Zucco aparece tecnicamente empatado com Juliana Brizola (PDT). No Senado, Marcel van Hattem (Novo), que concorreria em aliança com o PL, perderia para Eduardo Leite (PSD) e Manuela D?Ávila, que ainda não escolheu seu partido.

A pesquisa fez soar o alerta entre os caciques, que consideram fundamental aumentar a relevância da direita no Senado. Zucco seria, na avaliação desses líderes, mais viável do que Van Hattem, por ser o homem mais próximo de Bolsonaro no RS.

Zucco garante que é candidatíssimo

O deputado Luciano Zucco disse que não existe hipótese de desistir da candidatura a governador para concorrer ao Senado. Contou que há alguns dias almoçou com os presidentes nacionais do PP, Ciro Nogueira, e do PL, Valdemar Costa Neto, e nada foi dito sobre a hipótese levantada por Vilson Covatti de ter o deputado Ubiratan Sanderson como vice e ele como candidato ao Senado.

- Não existe isso. Não sei de onde Covatti pode ter tirado essa ideia e não é verdade que o PL tenha encomendado alguma pesquisa que mostre os resultados mencionados. Sou candidatíssimo ao Piratini, com Sanderson e o deputado Marcel van Hattem disputando as vagas no Senado - disse Zucco, preocupado com o prejuízo que a afirmação de Covatti pai possa causar a sua candidatura.

Zucco diz que o PL está conversando com o PP e que ele tem interesse em ver a direita unida na eleição. 

Pimenta visita Juliana de olho em união da esquerda no RS

Não foi só uma visita de cortesia a que o deputado Paulo Pimenta (PT) fez a Juliana Brizola (PDT) nesta sexta-feira. Empenhado em trabalhar para que a esquerda concorra unida em 2026, o PT quer mostrar ao PDT que os dois partidos podem reproduzir no RS a aliança que buscará a reeleição de Lula.

Como Juliana aparece à frente do pré-candidato Edegar Pretto (PT), o PDT vem dizendo que a aliança só prospera se ela for a candidata. Já os petistas adotaram o discurso de que primeiro é preciso discutir a aliança sem impor nomes. Pimenta foi ao encontro de Juliana com esse espírito: tentar convencê-la de que a união é necessária para evitar a vitória da extrema direita. _

Como Heinze explica seu voto contra o "PL da Adultização"

Como pode um senador votar contra um projeto para proteção das crianças e adolescentes nas redes sociais? A pergunta tem se repetido desde quarta-feira, quando o Senado aprovou o PL da Adultização, com apenas três votos contrários - um deles o do gaúcho Luis Carlos Heinze (PP).

Questionado pela coluna, Heinze respondeu com uma extensa nota. Ele reconhece a necessidade de proteger menores no ambiente digital, mas argumenta que o projeto é "deficiente pela falta de especificidade". Entende que o texto não deixa claro o que seria "conteúdo impróprio" e supõe que a lei possa ser usada com interesses políticos, para "ações indevidas de controle das redes". _

Para onde vão os novos helicópteros da Brigada Militar

Um dos novos helicópteros da Brigada Militar destinados a operações de segurança e resgates deverá pousar em Santa Maria, onde ainda este ano será criado o 3º Esquadrão de Aviação. O novo grupamento faz parte da expansão do serviço de aviação da BM.

A opção por Santa Maria é explicada pela geografia, já que fica na Região Central. De lá, o helicóptero pode atender outras regiões com viagens mais curtas em comparação às aeronaves que partem de Porto Alegre, por exemplo.

Ter um helicóptero da Brigada em Santa Maria é uma demanda de toda a região, com apoio dos setores político e empresarial. O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços da cidade, Luiz Fernando Pacheco, diz que há um movimento da sociedade civil e da prefeitura para a construção do hangar, dentro da Base Aérea de Santa Maria.

- A prefeitura se comprometeu em fazer a terraplenagem no entorno, asfalto, piso, e a sociedade civil vai custear o hangar - revela Pacheco.

No total, são quatro helicópteros adquiridos pela BM, dois deles com verba do fundo da reconstrução (Funrigs). Também há expectativa de que uma das aeronaves seja destinada à Fronteira Oeste. 


A Expointer da sustentabilidade

Se o agro e os humores do clima já eram temas inseparáveis, os eventos extremos que vêm acometendo o RS nos últimos anos tornaram essa relação ainda mais evidente. O produtor rural gaúcho sofre pelos dois lados - com a falta e com o excesso de chuva.

Os efeitos do aquecimento global prejudicam a produção e aumentam os custos, encarecendo o preço final, que é sentido no bolso de todos nós, principalmente nos supermercados.

Por isso, no início de mais uma Expointer, é importante destacar o papel do agronegócio como parte fundamental da solução diante do desafio das mudanças climáticas. Se em muitos campos políticos a polarização é fenômeno recente, no campo a dualidade agronegócio x ambientalismo é antiga. Felizmente, essas rusgas, hoje, limitam-se a pequenos nichos. Quase nenhum produtor rural nega os efeitos climáticos, assim como poucos ambientalistas defendem o ambiente sem incluir o homem do campo no debate. Ano passado, houve a maior tragédia climática do Estado, e, mesmo assim, a feira foi realizada. Agora, é hora de dar novo impulso.

A Expointer é mais do que o Freio de Ouro, a exposição e a premiação de animais. É da agricultura familiar, das máquinas e dos negócios. Mas é um momento de debater pesquisas, compartilhar conhecimentos e reafirmar compromissos com a sustentabilidade. _

Melo vai à COP30

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, confirmou participação na COP30. A presença estava em avaliação devido aos altos custos de hospedagem em Belém (PA).

A comitiva ficará em um apartamento de Airbnb, com diária de R$ 7 mil. A vantagem é a capacidade de acomodar até seis pessoas, permitindo dividir o custo.

O valor da diária por pessoa ficará em aproximadamente R$ 1,1 mil. Esse valor supera o limite de R$ 800 estabelecido pela prefeitura para eventos nacionais. No entanto, como a COP30 é um evento internacional, a gestão entende ser possível aumentar para até R$ 2,5 mil, valor que será ultrapassado com a hospedagem coletiva.

A comitiva ficará em Belém de 9 a 15 de novembro. _

A COLUNA ERROU

A China ultrapassou os Estados Unidos em PIB por paridade de poder de compra, e não em PIB per capita, conforme informamos na edição de sexta-feira. _

Entrevista - Marcelo Gleiser - Físico e astrônomo brasileiro

"A natureza é mais poderosa do que qualquer solução tecnológica"

Marcelo Gleiser fará palestra de encerramento do 16º Congresso Estadual da Magistratura, da Ajuris, entre 17 e 19, em Garibaldi. No dia 22, às 10h, fará a palestra "Reconstruir e reencantar: ciência, consciência e o cuidado com a vida". O evento, do Instituto Cidadania Cabanellos, será aberto ao público, no prédio 40 da PUCRS, na Capital.

O que é mais importante: ação coletiva ou ação individual na pauta da sustentabilidade?

Há um problema que chamamos de dissonância cognitiva. O indivíduo, em geral, acha que é muito pequeno para fazer diferença. "Quem sou eu para tomar uma atitude e começar a cuidar das minhas emissões, quando a minha participação nesse processo é tão mínima?". As pessoas desistem antes de começar, e isso para mim é um problema seríssimo. Porque eu acredito em democracia. Acredito na pressão para que os governos também façam alguma coisa, adotem medidas. Você faz a sua reciclagem de lixo, usa menos água, menos energia, usa mais transporte público. Chamo de "a doutrina do menos": menos lixo, menos energia, menos água, menos carro e menos energia. Por que isso é importante? Porque a pessoa, então, fala: "Estou fazendo o meu papel". As pessoas da família podem se mobilizar. Como os governos não estão fazendo muito, acredito muito na força das pessoas.

Qual é o papel das empresas?

Essa é parte desse projeto que começamos aqui na Toscana. Estou extremamente surpreso com o interesse das lideranças brasileiras nesse tipo de conversa. Quando falamos sobre isso, não temos aquela coisa evangélica: "Vocês têm de fazer isso". Algo do tipo alarmista, distópico. Ninguém vai mudar de opinião. Vão começar a mudar de opinião não é só com a cabeça, mas com o coração. A emoção é que gera esse tipo de transformação, de atitude no âmbito pessoal e de liderança corporativa. As pessoas vêm aqui e recebem um tratamento tanto emocional quanto racional. O líder empresarial precisa entender o impacto ambiental que pode ter no processo decisório. É por isso que estamos investindo tanto nessas conversas com lideranças empresariais. O líder sai mexido pessoalmente. Isso gera a transformação que queremos.

É possível conciliar a ciência e a espiritualidade?

A ciência continua sendo objetiva sempre. O que difere a ciência de uma fé é que existe uma objetividade concreta na ciência baseada no processo de validação empírica. Quando as pessoas, no Brasil, falam sobre espiritualidade, começam a achar que é coisa de alma, de espírito, de sobrenatural. Aqui, não estamos falando de nada disso. A ideia é uma espiritualidade ligada com a compreensão de que somos parte de um processo natural muito maior. Não tem a ver com Deus ou deuses. É um processo de pertencimento ao mundo natural. A natureza é muito mais poderosa do que qualquer tipo de solução tecnológica que possamos ter. A tecnologia auxilia, mas ela não resolve. O que resolve é uma mudança de mindset, de ideologia. E é essa mudança que eu estou pregando. Estou propondo o que eu chamo de espiritualidade secular, completamente desvinculada de qualquer tipo de religião. _

INFORME ESPECIAL 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025


25 de Agosto de 2025
CARPINEJAR

Paulo Coelho na fila de mendigos

Em O Mago, biografia de Paulo Coelho escrita por Fernando Morais (Editora Planeta, 2008), consta a descrição de um episódio decisivo na trajetória do autor brasileiro mais lido e mais traduzido do mundo.

Ele já foi um mendigo na fila de Irmã Dulce, em Salvador. Tinha escapado do sanatório psiquiátrico aos 19 anos, ao lado de um interno, sem nada nos bolsos, somente com a roupa do corpo. De carona, ambos viajaram para a Bahia. Penaram com fome, dormiram na rua, sobreviveram de esmolas e sobras de lixo, até que não lhes restou saída a não ser pedir socorro à Padroeira dos Pobres.

Paulo suportou uma longa romaria de horas, de pé, na obra social instalada no bairro de Roma, nas dependências do convento e do hospital que ainda estavam sendo erguidos na época, e conseguiu se aproximar dela. Recebeu um prato de sopa quente e os olhares úmidos da beata magra e franzina, de 1m48cm.

Ela perguntou do que mais precisava. Ele respondeu: voltar ao Rio de Janeiro. Irmã Dulce alegou que não tinha dinheiro, apenas palavra. E palavra, garantiu, durava mais. Pegou papel e caneta e anotou: "Vale dois bilhetes de ônibus para o Rio". Carimbou com o selo das Obras Sociais e assinou.

Paulo acreditou no manuscrito, que guarda como relíquia até hoje. Apresentou-o a um motorista na rodoviária no Largo dos Dois Leões. O condutor sequer questionou a autoridade moral daquelas linhas: ordenou que a dupla embarcasse.

Nesse momento, Paulo experimentou sua virada de chave. Talvez tenha sido um dos milagres silenciosos de Irmã Dulce, que se tornaria a primeira santa do Brasil. Desde então, não foi posto novamente em camisa de força pelos pais. Havia fugido da terceira internação, em que sofrera choques elétricos e tratamento desumano.

Respirou sua arte sem a censura e o tolhimento familiar. Pôde enfim levar uma vida autônoma, mergulhando no jornalismo e no universo do teatro e da música. Viria a ser parceiro criativo de Raul Seixas, mudando a cena roqueira com as letras de Sociedade Alternativa e Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás. Em seguida, começou a apostar em sua carreira solo literária, publicando sua trinca de grande sucesso: O Diário de um Mago (1987), O Alquimista (1988) - que venderia mais do que O Pequeno Príncipe - e Brida (1990).

O que o destino dá, o destino devolve.

Consagrado como escritor de brilho planetário, com 350 milhões de livros comercializados, vertido para 88 idiomas e presente em 170 países, transformou-se em um dos mais generosos benfeitores das obras de caridade de Irmã Dulce.

- Doei a quem me deu de comer - afirmou Paulo Coelho. E não se tratava simplesmente de pão, mas de outro alimento: o da alma, feito dos nutrientes eternos da confiança, da fé, da esperança.

Paulo e Dulce nunca mais se viram pessoalmente. Não foi necessário. Na gratidão, é possível repetir o encontro incansavelmente na memória. _

CARPINEJAR


25 de Agosto de 2025
CLÁUDIA AITANO

Apocalipse anunciado

Fico imaginando Marty McFly, o viajante do tempo de De Volta para o Futuro, ou qualquer outro visitante imaginário do século 21 por acaso de passagem por Porto Alegre em 1985, tentando me explicar como a Internet transformaria a maneira como as pessoas trabalham, se comunicam, fazem compras, se divertem, namoram. E mais: que tudo isso começaria a mudar muito antes do que eu pensava, dali a pouco menos de 10 anos. (Disclaimer: em 1985, nem secretária eletrônica tinha lá em casa.)

Explicar o Tinder, o WhatsApp, o TikTok, o Uber, os aplicativos de banco, a Netflix, os satélites na Amazônia, o smartphone e o gabinete do ódio seria apenas o começo. Depois de 15 minutos, McFly já estaria exausto, e eu ainda não saberia da missa a metade.

Àquela altura, fora dos livros de ficção científica, ninguém parecia muito preocupado com os perigos da nova tecnologia. A maioria das pessoas sabia tão pouco sobre computadores que seria incapaz de alimentar ansiedades muito concretas em relação ao futuro. (Em retrospecto, penso que muitos de nós, pais da chamada "geração ansiosa", gostaríamos de ter sido um pouco mais educados para a paranoia tecnológica nos anos 1990, quando ainda dava tempo de evitar o empanturramento digital das crianças. Carregamos essa culpa. Mais essa.)

Em 2025, as viagens no tempo continuam rolando apenas na imaginação, mas a quantidade de gente fazendo previsões para o futuro aumentou muito - assim como a paranoia. O campo favorito de especulação agora é a Inteligência Artificial, como até o observador mais distraído já percebeu. Não passa um dia sem que surja um aspecto novo, em geral assustador, com potencial para transformar um mundo que já não é grande coisa em algo ainda mais caótico e desigual.

Apenas na semana que passou, colecionei notícias sobre suicídio ("O que minha filha disse ao ChatGPT antes de tirar a própria vida"), desaparecimento de empregos ("40 profissionais com o maior risco de serem substituídos pela IA"), superconsumo de energia ("Data centers estão aumentando a conta de luz de todos"), prejuízos ao aprendizado ("IA está alimentando a pobreza da Imaginação") e manipulação de imagens em vídeos falsos ("O que eu não disse sobre Sydney Sweeney"). Em um mesmo dia, li um texto apocalíptico ("Os pessimistas da IA estão ficando cada vez mais pessimistas") e outro que supostamente deveria me deixar mais tranquila ("IA pode ser meio que normal").

Minha sensação, de vez em quando, é que estão tentando explicar a Internet para quem mal aprendeu a operar uma secretária eletrônica sem se atrapalhar com os botões. _

CLÁUDIA AITANO

25 de Agosto de 2025
OPINIÃO RBS

O desafio do ensino básico

Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na última quinta-feira, o ministro da Educação, Camilo Santana, admitiu que o maior desafio educacional do país é fazer com que jovens e adultos brasileiros concluam o ensino básico. O Censo Escolar de 2024 e levantamentos realizados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que um terço da população brasileira (cerca de 66 milhões de pessoas) não concluiu a Educação Básica, que abrange Ensino Infantil, Fundamental e Médio.

Significa que esse contingente enorme de brasileiros carece de instrução formal suficiente para competir em igualdade de condições num mercado de trabalho cada vez mais exigente e baseado na compreensão das novas tecnologias. Pessoas sem essa formação essencial têm menores salários e menos oportunidades de desenvolvimento profissional, isso quando não resvalam para o trabalho informal precário, gerador de ciclos de pobreza e de desigualdade social.

Considerando tal situação, o MEC elegeu a formação básica como foco prioritário, a partir de programas que assegurem não apenas mais qualidade ao ensino, mas também a permanência de crianças e adolescentes na escola. Os números justificam essa opção política: segundo Santana, a evasão no Ensino Médio chegou a 480 mil alunos antes do lançamento do programa Pé-de-Meia, que oferece incentivo financeiro-educacional na modalidade de poupança para estudantes de escolas públicas, condicionado a matrícula, frequência, conclusão do ano letivo e participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A partir de sua implantação no ano passado, bons resultados já começaram a aparecer: mais de 84% dos estudantes alcançaram a frequência escolar exigida e mais de 90% foram aprovados.

Ainda que persistam resistências políticas ao sistema de remuneração estudantil, que continua sendo visto com desconfiança por parcela expressiva da população (46,9% em recente pesquisa da AtlasIntel), parece haver poucas dúvidas de que, ao combater a necessidade de o jovem trabalhar para ajudar no sustento da família, o programa atua como um incentivo para a permanência na escola e resulta na melhoria dos índices de evasão.

Porém, conforme lembrou o ministro na entrevista à Rádio Gaúcha, o desafio começa na base, na alfabetização das crianças na idade certa. Depois da pandemia de 2020, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) constatou que apenas 36% dos estudantes brasileiros chegavam alfabetizados à idade esperada. Por isso, o MEC estabeleceu a meta ambiciosa de elevar este índice para 80% até 2030. No ano passado, só não alcançou os 60% previstos (ficou em 59,2%) porque o Rio Grande do Sul, devido às consequências das enchentes, não conseguiu cumprir a sua parte. Ainda agora, das 610 escolas estaduais afetadas pelas cheias de maio do ano passado, sete permanecem fechadas, impactando 1.423 alunos, segundo dados da Secretaria da Educação do RS (Seduc). Cabe ao Estado, portanto, um esforço maior para o cumprimento do grande desafio nacional. _

O Censo Escolar de 2024 e pesquisas do MEC e do IBGE demonstram que um terço da população brasileira não concluiu a Educação Básica


25 de Agosto de 2025
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Respostas capitais

Alexandre Schwartsman

Economista da Pinnotti & Schwartsman Associados e ex-diretor do Banco Central (BC) para Assuntos Internacionais

"Os bancos estão entre a cruz e a caldeirinha"

Na última semana, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que restrições judiciais estrangeiras unilaterais não têm validade automática no Brasil. O possível efeito sobre a Lei Magnitsky, aplicada contra Alexandre de Moraes, colocou instituições financeiras em uma encruzilhada.

Com dúvidas sobre qual legislação acatar, os principais bancos do país avaliam os possíveis impactos em meio a incertezas.

Como ficam os bancos brasileiros na questão envolvendo a Lei Magnitsky e o Supremo Tribunal Federal?

Estão entre a cruz e a caldeirinha. Temos ordens conflitantes, em jurisdições conflitantes. A rigor, a Lei Magnitsky não vale no Brasil. O que acontece é que, se você opera nos EUA, e todos os bancos brasileiros relevantes operam lá, essa parte do negócio está sujeita à legislação americana. E a lei americana diz que você não pode ter negócios com pessoas sancionadas, sem entrar no mérito da sanção. Por outro lado, o STF diz que você não pode bloquear as pessoas por causa da Lei Magnitsky. Os bancos têm de convencer um dos lados que não pode ser assim. E concretamente, se há alguma chance de convencer alguém, tem de ser no Brasil, não lá. Ou então, os bancos vão estar sujeitos a sanções. Tem de escolher qual que é o menos pior dos cenários. E eu, honestamente, não sei. Os bancos foram colocados numa situação impossível.

Quais os riscos para o sistema bancário nacional?

Se decidirem obedecer ao STF, os bancos podem continuar fazendo negócios com o Alexandre de Moraes, mas vão estar sujeitos a multas muito pesadas lá fora, e, no limite, podem perder a licença bancária.

Qual efeito prático?

Não é o fim desses bancos, não estamos falando de uma crise sistêmica, mas impacta, sim, não só o negócio dos bancos, mas todas as empresas que dependem de acesso ao mercado americano. Por exemplo, exportadores e importadores tipicamente precisam de linhas de crédito em dólares. Se o banco perde licença lá, impacta financiamento de comércio exterior. Pessoas que tenham conta em bancos brasileiros no Exterior seriam impactadas. Se o cenário é o contrário, os bancos decidem obedecer à Magnitsky e não ao STF, ficam sujeitos a sanções locais, como multas. Então, não há quadro de catástrofe, mas os bancos têm de escolher onde vão levar o menor prejuízo.

Quais os riscos para a economia em caso de sanção dos EUA aos bancos?

É um pouco do que vimos nos últimos dias. Vamos ter de conviver com dólar mais caro, alguma pressão sobre a inflação, juro mais alto.

? O BC pode agir no impasse?

Tem um negócio chamado Ministério das Relações Exteriores, que deveria agir, não o BC. O que o BC pode fazer, mas são cenários hipotéticos e alguns muito remotos, é, caso, de fato, sejam cortadas as linhas de crédito em dólar para os principais bancos, colocar reservas na linha para fazer parte do financiamento do comércio exterior brasileiro.

Pode pesar na próxima decisão da Selic?

Nada. Não vai. Vai ter de esperar para ver para onde inclina.

Qual seria o melhor caminho para sair dessa encruzilhada?

O Itamaraty não tem qualquer entrada. É achar alguém que, de alguma maneira, acabe convencendo o Departamento de Estado de que não é para punir. Por menos que eu goste das decisões do Alexandre de Moraes, me parece fora de propósito a Magnitsky. Não vai equiparar o sujeito a regimes que arremessam opositores de janelas. É uma decisão irracional.

A decisão dos bancos deve ser tomada em bloco?

Tenho a impressão de que cada um vai fazer uma análise individualizada dos riscos. Em particular, se você é um banco do qual o Alexandre de Moraes não é cliente, por que você vai se coçar a esse respeito?

Como essa incerteza sobre alcance da Lei Magnitsky polui o ambiente de negócios?

Um banco que corre o risco de sofrer sanções talvez vá operar com um pouco mais de cautela. A disposição para ofertar crédito, em alguma maneira, pode ser afetada.

O Pix corre algum risco?

Está citado no contexto das sanções comerciais, mas acho que não corre risco nenhum. Um dos motivos não é o motivo principal. Também está errado. O Pix é um experimento extraordinariamente positivo. Acho que o BC não vai abrir mão. As sanções comerciais já aconteceram. Acaba não entrando nos cenários discutidos hoje.

Os últimos acontecimentos da política nacional têm efeito prático neste momento?

Depende do que vai passar pela cabeça do Trump. É imprevisível. Depende de uma variável que não está ao alcance de um economista. Você precisaria de um bom psiquiatra. Talvez não um bom psiquiatra, vai precisar de um xamã. _

GPS DA ECONOMIA

25 de Agosto de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Estado cobra R$ 803 milhões da União no STF

O governo do Rio Grande do Sul ingressou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a União indenize o Estado em R$ 803,5 milhões. Esse valor, já corrigido, teria sido perdido pelo Tesouro estadual entre 2016 e 2022, devido a regras federais julgadas inconstitucionais pelo Supremo.

A ação movida pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE) sustenta que normas da Receita Federal limitaram a possibilidade de os Estados reterem o Imposto de Renda na fonte sobre pagamentos pelo fornecimento de bens e serviços, concedendo tratamento mais favorável à administração pública federal.

Em resumo, as instruções normativas da Receita permitiam que os Estados retivessem o tributo apenas sobre determinadas operações e com alíquotas de 1% e 1,5%, menores do que a de 4,8% praticada por órgãos federais. Em julgamento realizado em 2022, o STF considerou essa restrição inconstitucional, assegurando a Estados e municípios o direito de reter o tributo nas mesmas condições que a União.

- As instruções normativas da Receita Federal arrolavam determinados serviços em que se poderia fazer a retenção, e em percentual inferior ao praticado pela União. Essa restrição foi reconhecida pelo Supremo como inconstitucional - explica o procurador-geral adjunto para Assuntos Jurídicos da PGE, Thiago Ben.

Embora o pedido seja por restituição de recursos, o governo do Rio Grande do Sul não quer receber o valor cobrado no processo. O objetivo é usar o montante como crédito para aderir ao Propag, novo programa de refinanciamento da dívida dos Estados. Na prática, o abatimento do estoque do passivo tornaria as condições de renegociação mais favoráveis ao Estado. Hoje, a dívida com a União é de cerca de R$ 105 bilhões, mas o pagamento está suspenso até abril de 2027 em razão da enchente do ano passado.

A ação, com pedido de liminar, foi protocolada há duas semanas e está sob relatoria do ministro André Mendonça. Ele não tem prazo para decidir sobre a demanda. A coluna questionou a Advocacia-Geral da União sobre o processo, mas não havia recebido resposta até ontem. _

Afago público

- Se a humilhação traz tristeza, o tempo vai trazer justiça - afirmou, colhendo aplausos.

Em prisão domiciliar, Bolsonaro está prestes a ser julgado pelo STF por tentativa de golpe.

Tarcísio dividiu o palco com os também governadores Ronaldo Caiado (GO) e Romeu Zema (MG), que já se lançaram pré-candidatos. Ambos disseram à imprensa que a direita deve se dividir no primeiro turno para, depois, se unir no segundo. _

Tarefa difícil

A liderança de Juliana Brizola (PDT) nas pesquisas para o governo do Estado impulsiona a tese de união da esquerda em torno dela, mas essa hipótese está longe do consenso no PT.

Próceres petistas admitem a possibilidade, mas dizem que isso dependeria de uma articulação demorada e cuidadosa, envolvendo o comando nacional do partido. E, claro, da saída do PDT do governo Leite. _

Cálculos eleitorais

A despeito da empolgação com Juliana, a coligação com o PT não é consenso no PDT, mesmo na condição de cabeça de chapa. Deputados resistem à ideia de afastar-se do governo Leite e temem desgaste na vinculação com a esquerda na campanha. _

Baixo calão

Decisão liminar mandou tirar do ar um vídeo em que o comunicador Marco Antônio Costa, ex-Jovem Pan, ofende o governador Eduardo Leite. Na gravação, Costa reage a críticas de Leite ao ex-presidente Jair Bolsonaro pelo tarifaço.

"As críticas podem ser feitas, sem que sejam levianamente depreciativas", assinalou a juíza Deise Lange Vicente. 

Ainda as vacinas

Passados mais de dois anos do fim da pandemia de covid-19, o deputado federal Osmar Terra (PL-RS) segue dedicado a questionar a eficácia das vacinas. Por proposição dele, a Comissão de Saúde da Câmara sediará amanhã audiência para discutir o assunto. _

mirante

É crescente o apoio de empresários ao secretário do Desenvolvimento, Ernani Polo (PP), para a eleição majoritária de 2026. Polo é pré-candidato a governador, mas pode ser o vice de Gabriel Souza (MDB).

O prefeito Sebastião Melo deverá ser convidado a depor, como testemunha, na CPI da Assembleia que investiga os serviços da CEEE Equatorial e da RGE. A sugestão partiu da deputada Laura Sito (PT).

Ex-prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT) vai concorrer a deputado federal em 2026.

As sessões de quintas-feiras estão com dias contados na Câmara de Porto Alegre. Por acordo dos líderes, as reuniões passarão a ser apenas às segundas e quartas.

POLÍTICA E PODER

25 de Agosto de 2025
INFORME ESPECIAL  Vitor Netto

As expectativas para o Natal Luz

Passado o Festival de Cinema, o Rio Grande do Sul se prepara para um evento que é considerado, por alguns, o maior de todo o Estado: o Natal Luz de Gramado.

Datado para começar no dia 23 de outubro, o evento contará com 82 dias de duração. Esta é a 40ª edição, e as expectativas são as mais altas - pelo menos para Rosa Helena Pereira Volk, presidente da Gramadotur, órgão que organiza a festividade, que espera que esta seja a edição com maior venda de ingressos, principalmente pela retomada após a enchente de 2024.

- O Natal do ano passado já foi importante, foi uma recuperação para a cidade, que passou seis meses fora da prateleira de qualquer agência de viagem. Eles podiam vender qualquer destino brasileiro, menos Gramado, menos o RS, porque para fazer turismo profissional tem de ter assento em aeronave e nós não tínhamos malha aérea suficiente - disse Rosa à coluna.

Segundo a presidente, a primeira edição do evento, em 1986, foi uma reunião de pessoas na Praça das Etnias - na época chamada de Praça das Comunicações - e uma caminhada até a frente da igreja, onde ocorreu um concerto. Em 2025, a ideia é relembrar a tradição.

- Neste ano em especial, toda quinta-feira, nós vamos fazer exatamente dessa mesma forma. Vamos ter coral e elenco, mas também é um convite para que nossa comunidade, que sempre participou ativamente do Natal, que esteja revivendo isso. Essa caminhada vai terminar na Rua Coberta com uma apresentação a cada semana diferente - contou à coluna.

Outra atração que será colocada em prática em 2025 ocorrerá durante o desfile. Dentro de uma ala específica de um carro alegórico, os turistas, por meio do passaporte premium, terão a oportunidade de participar do tradicional desfile.

Outras atrações

Já divulgado no início do mês, o Natal Luz de Gramado deste ano contará também com a participação dos ilusionistas Henry e Klauss, conhecidos internacionalmente, que farão um show dentro do Palácio dos Festivais. Também está confirmado o Nativitaten, espetáculo que celebra o nascimento de Jesus e a magia do Natal por meio de música, dança e pirotecnia, entre outras atividades.

Rosa salienta que, além das atrações pagas, há diversas atividades externas que não exigem a compra de ingressos.

- Temos atividade diariamente na Rua Coberta, na Vila de Natal, muita atividade gratuita. A decoração por si só já é um atrativo inacreditável, porque a cidade vira um parque temático natalino.

A expectativa da organização é receber cerca de 3 milhões de visitantes. _

Tensões diplomáticas

EUA exigem perfis abertos para vistos

A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil publicou ontem em suas redes sociais que, a partir de agora, solicitantes de visto de estudante ou intercâmbio (categorias F, M ou J) deverão ajustar a configuração de privacidade de todas as suas redes sociais para o modo "público".

O objetivo do governo norte-americano é facilitar a verificação de alguns requisitos exigidos por lei e o monitoramento das redes sociais para a liberação dos vistos aos solicitantes dessas categorias.

"Essa medida facilita as verificações exigidas por lei para confirmar sua elegibilidade para entrar nos EUA", diz um trecho da publicação. _

Xadrez da política

Assim, o número de países liderados por presidentes de direita aumentará para cinco, já grupo da esquerda perde um, passando para sete líderes. _

INFORME ESPECIAL

sexta-feira, 22 de agosto de 2025


22 de Agosto de 2025
CARPINEJAR

A chuva de prata

Todo mundo xingou a chuva de prata no início do confronto com o Flamengo, pelas oitavas de final da Libertadores, na noite de quarta-feira, em que o Colorado voltou a ser freguês do Flamengo de Filipe Luís, desta vez por 2 a 0, no Beira-Rio.

Nem o meteorologista Cléo Kuhn previu essa geada lenta e inesperada em Porto Alegre. Dizem que foi um erro da organização, que era para ter sido lançada em caso de avanço para as quartas.

Intencionalmente ou não, as toneladas de papel picado tomaram o gramado. Geraram 20 minutos de atraso e pânico na equipe de funcionários do estádio para tentar tirar o excesso. Eu testemunhava aquela chuva cair e achava linda, diferentemente da opinião da maioria.

Foi o único momento bonito do Inter. O único momento em que brilhamos. O único momento de poesia. O único momento de esperança. Parecíamos River, Boca.  Beira-Rio virava Monumental de Núñez, La Bombonera. A cortina de flocos lembrava o brado guerreiro da Argentina, dos santuários vizinhos, a bênção do alto a um exército de garra, afinco, entrega.

Eu vivenciei o que era comemorar uma vaga, mesmo tendo sido por engano. Experimentei esse prazer por alguns instantes.Se não fosse fora de hora, não aconteceria. Desfrutei da oportunidade de uma festa antes, porque depois seria impossível. Uma vibração de soberania e alívio a que não estamos mais habituados. Uma alegria que já não sabemos como é.

Já culpamos o juiz, o VAR, o excedente de calendário, a parada do Mundial, as lesões, a disparidade de investimentos dos rivais. Agora, só o que faltava: condenar a chuva de prata pelo mau desempenho?

Ela não pode ter esfriado os atletas, pois jamais foram quentes. Jamais entraram em campo. Estou aguardando até hoje. Cadê o meu Inter campeão do mundo? O que fizeram com o meu Inter?

Foi um lampejo de folia, de Carnaval. Aqueles confetes iluminavam o céu como nunca mais tínhamos visto. Atingiam com facilidade o gol, do qual nossos jogadores não conseguiram nem chegar perto durante 90 minutos - e durante dois jogos.

A chuva de prata deu uma goleada no Flamengo. Soterrou o elenco de estrelas. Só ela se mostrou implacável. O Inter não. Pelo contrário: a escalação titular descansou para fracassar melhor. Um time de níquel que não exibiu nenhuma cintilação. Desprovido do argento da técnica, da combatividade. Um time apático, dominado, paralisado, desentrosado, com falhas bisonhas e básicas, que não merecia o apoio de 43 mil torcedores que gritaram sem parar, que ficaram sem dormir, que transformaram a Padre Cacique em ruas de fogo.

Com um técnico sem reação, que não aproveitou a valiosa chance na carreira, que sacou os mais determinados em campo - Bruno Tabata e Alan Rodríguez. A torrente laminada se provou mais real do que os efeitos especiais dos discursos otimistas das coletivas. Enfeite era o Inter. De papelão era feito o Inter. Tombamos em casa mais feio do que fora, veja que ironia.

Não é que o Flamengo está numa prateleira acima. Estamos a sete palmos do chão. Enterrados há muito tempo. O ano acabou novamente em agosto. É a 13ª eliminação dessa direção. Nem de demitir o treinador ela é capaz, porque sugere que não tem dinheiro para contratar outro. Gastou tudo com contratações equivocadas.

Das suas últimas oito partidas, Roger acumulou cinco derrotas, dois empates e uma vitória, com duas desclassificações seguidas (Copa do Brasil e Libertadores). Tem um mísero motivo para permanecer?

Mas pode ser pior. O risco é sucumbir para Cruzeiro ou Palmeiras longe do Beira-Rio, ou tropeçar diante da torcida com Fortaleza ou no clássico Gre-Nal, e se enrascar no Z-4 do Brasileirão.

No fim, sentiremos saudade da chuva de prata, nossa rara trégua de fulgor e beleza. 

CARPINEJAR

Chega de festa fora de casa

Torta tamanho família, cachorro-quente, pastéis, grandes garrafas de refrigerante e alguns brigadeiros que a gente mesmo enrolava com as mãos besuntadas de margarina. Estava pronta a mesa de aniversário de qualquer criança.

A decoração tinha balões, chapeuzinhos, e os copos descartáveis eram coloridos. Os convidados: tios, tias, primos, vizinhos, padrinhos e madrinhas. O "parabéns" tradicional, sem personagens e velas performáticas. Tudo gostoso e simples.

Não gosto de ir a aniversário de criança em casas de festas. É sempre demais! Muita decoração, muitos brinquedos, comida variada. Até picolé distribuem quando está quente. Fui em um que tinha até contação de histórias, recreação e lembrancinha do personagem escolhido para que os convidados levassem para casa.

Festinha com os coleguinhas da escola também é estranho. Cadê as pessoas importantes na vida desse ser no Parabéns pra Você? Me perdoem os professores, não quero diminuir a importância de um mestre na formação de qualquer pessoa, mas, convenhamos, que na vida adulta olhamos para trás e não temos quase nenhum contato com os professores dos anos iniciais. Os coleguinhas nem vou perder tempo justificando.

Aniversário de criança precisa ter músicas tocando, parentes fofocando, um primo comendo oito fatias do bolo, uma tia pedindo chá e colocando cascas de frutas e maçã-seca para ferver, o aniversariante emburrado porque alguém assoprou a vela no lugar dele e aquele tradicional comentário: "Esse pastelzinho é bem recheado! O do outro lá (lembra algum antigo), nossa, era só vento!"

Gostaria de lançar aqui nessa coluna um movimento pelo retorno e pela defesa das festas de aniversário infantil do modelo garagem ou cozinha de casa. Tias e tios, aprendam a fazer tortas! Mães e pais, vamos voltar a enrolar os docinhos!

Hoje em dia esses aniversários que dão "pouco trabalho" custam uma fortuna. E, bem na real, todo mundo que faz essas festas acaba parecendo estar na mesma festinha. Afinal, só personalizam a decoração conforme a escolha do aniversariante.

As crianças precisam dessas festinhas comuns. É no aniversário feito em casa que a família se reúne sem cerimônia, que as crianças correm e brincam com aquilo que elas têm. Os presentes são entregues ao aniversariante na hora que o convidado chega. Ele abre, agradece. Sem aquela coisa horrível de botar nome no pacote e deixar numa caixa na entrada.

Salvem os aniversários de criança. 

MARCO MATOS 


22 de Agosto de 2025
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Sob o predomínio das ações do Fed

Aguardando sinais mais claros sobre o futuro do juro nos EUA, os desdobramentos da queda de braço entre Brasília e Washington e de olho nas eleições, o mercado andou ontem praticamente de lado. O dólar fechou com leve avanço de 0,09%, cotado a R$ 5,478, e o Ibovespa recuou 0,12%. Existia um temor de parte do mercado sobre possível novo capítulo na tensão entre Brasil e EUA diante de mais um indiciamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas esse ruído não apareceu - ainda - nos indicadores.

Também havia certa expectativa de como os ativos iriam reagir à mais recente edição da pesquisa Quaest, que apontou Lula à frente em todos os cenários de primeiro e segundo turno nas eleições de 2026. Geralmente, qualquer sinal de favoritismo do atual presidente costuma deixar o mercado mal-humorado, mas isso também não pesou muito nos dados de quinta, indicando cautela.

O economista André Perfeito afirma que a espera de indícios mais nítidos sobre o futuro do juro nos EUA é mais relevante, neste momento, na análise de ativos no mercado financeiro. Nesse sentido, lembra que, se os juros caírem por lá - como tudo indica -, o dólar fica mais fraco. Como o corte da Selic não será tão célere, o diferencial de juros continuará bom para o Brasil no sentido de vinda de capital estrangeiro para o país.

- A despeito dos ruídos que podem se inflamar, talvez não vai se traduzir em preço de ativo. Ou seja, dólar mais alto, bolsa para baixo, coisas do tipo. Porque existe uma tendência maior ainda que é o enfraquecimento da moeda norte-americana. O preço dos ativos não vai revelar talvez o mal-estar que alguns investidores têm a respeito de algumas dessas questões - complementa Perfeito.

Portanto, resta observar como o mercado vai - se é que vai - colocar esses componentes políticos no radar nos próximos dias. Por enquanto, o cenário externo segue dominando. Aliás, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, programado para hoje, será olhado com lupa. É esperado um indicativo mais claro do rumo da política monetária americana nesse pronunciamento, visto que a ata ficou mais presa a um recorte do passado. Isso pode acalmar ou tumultuar ainda mais o mercado. _

Novo dono no mercado de internet fibra ótica

Uma nova empresa está assumindo os cerca de 400 mil clientes no Rio Grande do Sul da Oi Fibra, divisão da gigante de telefonia que oferecia planos de internet fibra ótica para residências e pequenas e médias empresas.

Como parte do processo de recuperação judicial da Oi, a Nio, que tem como principal acionista fundos geridos pelo banco BTG Pactual, comprou a carteira de clientes da Oi Fibra, por cerca de R$ 5,7 bilhões. Com a aquisição, a Nio já nasce atuando em 41 cidades gaúchas. São 4 milhões de clientes em todo o Brasil.

Conforme a empresa, nada muda para os consumidores, que podem manter o mesmo plano, com o mesmo valor e a mesma forma de pagamento. _

Arrecadação em alta

Como já era esperado, a elevação das alíquotas do IOF ajudou a impulsionar a arrecadação do governo federal. Em julho, ficou em R$ 6,554 bilhões - alta real (acima da inflação) de 13,05% ante igual mês de 2024. No acumulado do ano, o avanço é de 9,42% em relação ao mesmo período do ano passado.

O decreto que definiu o aumento do IOF foi alvo de polêmica nos últimos meses e marcado por intervenção do Congresso e decisão do STF pela validade. Críticos avaliam que o uso do tributo como instrumento arrecadatório configura desvio de finalidade. Isso porque o IOF foi concebido como imposto regulatório. Como pode ser majorado via decreto, costuma ser usado como forma rápida de elevar as receitas. 

O avanço dos sozinhos

Estudo recém-lançado pelo Secovi-RS aponta que apartamentos estilo JK ou de um dormitório eram responsáveis por 34,8% dos imóveis disponíveis para aluguel em Porto Alegre em 2000.

Em 2022, essa fatia saltou para 36,9%. No entanto, essa participação vem caindo nos últimos anos, chegando a 24,7% em 2024 e a 21,7% em 2025 (com dados atualizados até junho).

Na avaliação do Secovi, isso indica uma tendência de demanda elevada por esses tipos de imóveis no mercado imobiliário da Capital nos últimos anos. Dados do último Censo apontam que a proporção de pessoas morando sozinhas em Porto Alegre é superior à observada no Brasil e no Rio Grande do Sul.

Em 2022, período do último Censo, o número de domicílios com um único morador chegou a 162 mil - 29% do total e mais do que o dobro em unidades de domicílios unipessoais verificados em 2000.

O Secovi-RS avalia que o movimento também se reflete nas vendas, destacando que pesquisa do Sinduscon-RS mostra que 50% das unidades comercializadas no primeiro semestre deste ano foram studios ou de apartamentos de um dormitório. 

GPS DA ECONOMIA

22 de Agosto de 2025
CRIANÇAS E ADOLESCENTES

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Crianças e adolescentes. Projeto de lei contra adultização nas redes sociais retornará ao Senado

Aprovado na quarta-feira pela Câmara dos Deputados, o projeto de lei que combate a adultização nas redes sociais retornará ao Senado.

Batizado de "ECA digital" (em referência ao Estatuto da Criança e do Adolescente), o projeto foi apresentado no Senado em 2022. Como a Câmara fez modificações no texto, o tema terá de ser analisado novamente pelos senadores.

A aprovação na Câmara se deu em votação simbólica. Inicialmente contrária ao texto, a oposição passou a apoiar a proposta após mudanças feitas pelo relator, Jadyel Alencar (Republicanos-PI).

A principal mudança foi a criação de uma agência reguladora autônoma, que será responsável por aplicar as sanções. A oposição resistia à ideia de delegar essa tarefa a um órgão vinculado ao governo.

Outra alteração foi a previsão de que os pedidos para remoção de conteúdos que violam direitos de crianças e adolescentes, sem ordem judicial, só poderão ser feitos pelas vítimas, seus representantes, pelo Ministério Público ou por entidades representativas.

- O total controle e a total vigilância que o governo queria no texto original, colocando o projeto de lei da censura disfarçado em um projeto de proteção de crianças, foi desmontado pelo relator - alegou o deputado Kim Kataguiri (União-SP).

O projeto foi pautado diante da repercussão do vídeo divulgado no dia 9 pelo influenciador Felca Bressanim, no qual denunciou casos de exploração de crianças e adolescentes nas redes sociais e alertou sobre os riscos da exposição infantil no ambiente digital.

O que prevê

Com 16 capítulos e 41 artigos, o projeto obriga as plataformas digitais a adotarem medidas "razoáveis" para prevenir riscos de crianças e adolescentes acessarem conteúdos indevidos.

Também prevê regras para a supervisão dos pais e responsáveis e exige mecanismos mais confiáveis para verificação da idade dos usuários de redes sociais, o que hoje é feito por autodeclaração. _

sábado, 16 de agosto de 2025



16/08/2025 - 13h11min
Martha Medeiros

É ou não é bacana ver o mundo mudar? 

Rotem e Lior são amicíssimos e queriam dar uma desconectada da vida em família e do trabalho. Então saíram em férias como se fossem dois brothers.

Até ontem, o Quirguistão estava na lista dos cem países que eu podia morrer sem conhecer, mas tudo mudou depois que assisti à série documental Offroad, na Netflix. Em seis episódios, mostra a viagem de 30 dias que a modelo israelense Rotem Sela fez ao lado de seu grande amigo, o ator Lior Raz. Eles alugaram um 4x4 e desbravaram o cenário deslumbrante deste país tão pouco conhecido, e desconfio que foi o Ministério do Turismo que patrocinou: as filas de embarque para lá devem estar gigantes. 

Em um mundo tomado por governantes insanos e guerras absurdas, fugir para as montanhas – e que montanhas – se tornou emergencial. Mas entre tantas cenas de encher os olhos, fico com a última, quando Rotem e Lior se sentam no chão de um centro urbano, brindam o fim da aventura e declaram-se: te amo. Não, não é uma história de amor. Mas, sim, é uma história de amor.

Um homem e uma mulher, héteros, casados e com filhos, vivenciaram uma experiência intensa juntos. Rotem e Lior são amicíssimos e queriam dar uma desconectada da vida em família e do trabalho. Então saíram em férias como se fossem dois brothers. Só que não. É um homem e uma mulher, ambos atraentes – ela, linda de morrer. Posso imaginar que muita gente, enquanto assistia, se perguntou: quando é que esses dois vão se pegar? 

Nesse sentido, Offroad soa inovador. Celebra a amizade, mas não a romantiza: um mês rodando dentro de um carro é uma experiência íntima, e como tal, sujeita a desgastes e irritações, como em qualquer relação. Mas a palavra que norteia essa expedição é confiança. Enfrentar penhascos, lugares ermos e pessoas desconhecidas exige união, troca de informações através do olhar, saber ceder quando não há consenso. 

Além disso, foi preciso contar com a confiança dos que ficaram em casa, torcendo para que o pai que partiu com a amiga, que a mãe que foi viajar com o astro de Fauda, se divertissem, aprendessem mais sobre si mesmos e voltassem sãos e salvos. O marido de Rotem confiou. A mulher de Lior confiou. Mesmo sem aparecerem na série, provaram que também são grandes amigos de seus amores. 

Dedico essa crônica ao Marcelo, meu “irmão” há 40 anos. No início da nossa amizade, quando trabalhávamos na mesma agência, fomos acampar em Floripa e, na viagem de volta, ele pediu: mente para o pessoal que eu te comi, ou minha reputação já era (a gente ri disso até hoje). E dedico também ao Dinho, outro amigo íntimo que, em 1994, voltando do Taiti, fez uma conexão surpresa em Santiago do Chile, onde eu morava, e se hospedou em meu apartamento, justo quando meu marido estava viajando a trabalho. Outra reputação que foi para o beleléu: a minha. Virei o assunto do prédio. É ou não é bacana ver o mundo mudar?