quarta-feira, 31 de dezembro de 2008


JOSÉ SIMÃO

Ueba! Boas entradas e melhores saídas!

Feias, bagulhos e mocréias, evitem as praias! Senão, o Ano Novo se assusta!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Boas entradas! Boas entradas e melhores saídas. Porque a última vez que me desejaram boas entradas, eu entrei pelo cano.

Rarará! Então: boas entradas e melhores saídas! E olha o que umas amigas minhas já tão dizendo umas pra outras: FELIZ HOMEM NOVO! Rarará! E uma delas disse que, em vez de entrar, ela quer ser entrada.

E eu acho que vou passar o Réveillon na padaria. Hoje de manhã, entrei na padaria, e os caras: "É aí garoto, tudo bem?". "Vai um cafezinho, meu jovem?". Garoto? Meu jovem? Ueba! Vou passar o Réveillon na padoca. Virada na Padoca!

E só hoje reparei que Réveillon tem acento. Eu achava que só a Ivete Sangalo falava RÉveillon! E essa guerra na Faixa de Gaza no Natal? Eu me lembro de duas frases. "A humanidade não deu certo", de Nelson Rodrigues. "A civilização não se comportou", de Ronald Golias, o Bronco. A civilização não se comportou! E essa manchete: "EUA exigem que Hamas pare de atacar Israel".

E atenção! Feias, bagulhos e mocréias, evitem as praias! Senão, o Ano Novo se assusta e não entra! E o Lula que falou: "No dia 31, os brasileiros vão dormir e acordar no dia 1º com uma vida melhor". Só que ninguém dorme no dia 31. Fica todo mundo em pé. E não vai acordar com uma vida melhor, vai acordar com um fígado pior! Vai acordar fazendo curva quadrada. E com a língua mais seca que língua de papagaio! Rarará!

E um grande conselho para a crise: se não tiver dinheiro pro champanhe, pega um saco de supermercado e estoura. O que importa é o barulho. É que um amigo meu foi pro supermercado e disse que tudo aumentou. No Iraque, tem carro-bomba. E agora no Brasil tem o carrinho-bomba. Carrinho-bomba de supermercado. Explode qualquer saldo! É mole? É mole, mas sobe. Ou como disse aquele outro: é mole, mas chacoalha pra ver o que acontece!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em São Miguel do Gostoso (RN), tem uma casa de shows chamada Traseirão. Taí um bom programa pra começar 2009: encarando o Traseirão. Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Analista": companheiro especializado na vida emocional do ânus. O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. Pra ver fogos psicodélicos!

simao@uol.com.br

Ótima quarta-feira - FELIZ ANO NOVO - FELIZ 2009 - SPRING_INTENSITY

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008



29 de dezembro de 2008
N° 15833 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Do fundo do tempo

A fotografia é um instante aprisionado da eternidade. A idéia me vem ao folhear Memória Visual de Porto Alegre 1880 – 1960, álbum publicado pelo Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa e organizado, sob a batuta de Lauro Schirmer, por Denise Stumvoll e Naida Menezes.

Na verdade, o período contemplado é um tanto elástico, pois sobra espaço para um anúncio de 1860 e imagens de 1970. Mas isso é o que menos importa. O que conta é a esplêndida coleção de flagrantes da vida real modelarmente selecionados pelos técnicos de uma instituição que atravessa um excelente momento, como mostrou reportagem do caderno Cultura, de Zero Hora.

Tomem a capa do álbum. Uma banda colegial desfila pela Rua da Praia no penúltimo dia de inverno de 1960. Ali estão os cinemas Imperial e Guarani, a Farmácia Carvalho, o Grande Hotel, o prédio de A Federação, que viria a ser a sede do museu. Mas ali está também o rosto extraordinariamente expressivo de uma menina, que nos mira do fundo do tempo.

Considerem as cenas da Legalidade. Naqueles dias o Rio Grande se levantou pela democracia, na que foi uma das mais belas páginas de sua história.

Olhem a esquina da Rua Conceição com a Voluntários da Pátria. Aqui se ergue o torreão da Estação Ferroviária. Daqui partiam os trens que me levavam a Cachoeira e a inesquecíveis instantes de minha primeira juventude.

E esse bonde que desliza pelos trilhos da Praça da Alfândega, numa manhã perdida da década de 30? Não será ele o símbolo de uma capital com um extraviado cenário vagamente europeu?

E essa mansão do cruzamento da Hilário Ribeiro com Formosa (leia-se Florêncio Ygartua) não será a confirmação de que éramos um quarteirão esquecido de Berlim ou de Viena?

E esse Austin A-70, estacionado junto a um Citroën negro em plena Rua da Praia, esse Jaguar parado na Jerônimo Coelho, esse Stutz percorrendo a Avenida Farrapos não espelham dias que não voltarão?

Sei não, pois talvez tornem a cada vez que eu abrir a Memória Visual de uma Porto Alegre que não existe mais.

Aproveite a segunda-feira e tenhamos todos uma excelente semana. Esta que marcará o fim de 2008 e o início de 2009.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008


FREI BETTO

Feliz Natal

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história

FELIZ NATAL aos infelizes cativos do desapreço ao próximo, da irremediável preguiça de amar, do zelo excessivo ao próprio ego. E aos semeadores de alvíssaras, aos glutões de premissas estéticas, aos fervorosos discípulos da ética.

Feliz Natal ao Brasil dos deserdados, às mulheres naufragadas em lágrimas, aos escravos do infortúnio condenados à morte precoce. E aos premiados pela loteria biológica, aos desmaquiadores de ilusões, aos inconsoláveis peregrinos da vicissitude.

Feliz Natal aos órfãos do mercado financeiro, pilotos de vôos sem asas e sem chão, fiéis devotos da onipotência do mercado, agora encerrados no impiedoso desabrigo de suas fortunas arruinadas. E também aos lavradores da insensatez espelhada na linguagem transmutada em arte.

Feliz Natal às lagartas temerosas de abandonar casulos, ao desborboletear de insignificâncias cultivadoras de ódios, aos exilados na irracionalidade do despautério consensual. E aos dessedentados na saciedade do infinito, no silêncio inefável, nas paixões condensadas em prestativa amorosidade.

Feliz Natal a quem escapa dos indomáveis pressupostos da lógica consumista, dessufoca-se em celebrações imantadas de deidade, livre do desconforto da troca compulsória de presentes prenhes de ausências. E aos hospedeiros de prenúncios do leque infinito de possibilidades da vida.

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta, e coleciona no espírito aquarelas do arco-íris. E a quem trafega pelas vias interiores e não teme as curvas abissais da oração.

Feliz Natal aos devotos do silêncio recostados em leitos de hortênsias a bordar, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura. E a quem arranca das cordas da dor melódicas esperanças.

Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também a quem mergulha todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identifica a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.

Feliz Natal aos dançarinos embalados pelos próprios sonhos, ourives sapienciais das artimanhas do desejo. E a quem ignora o alfabeto da vingança e não pisa na armadilha do desamor.

Feliz Natal a quem acorda todas as manhãs a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas a quebrar convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas para atirá-los no lixo do olvido e se guarda no recanto da sobriedade. E a quem se resguarda em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar.
Feliz Natal aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores, aos escritores sem palavras. E a quem jamais encontrou a pessoa a quem declarar todo o amor que o fecunda em gravidez inefável.

Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove despudorada liturgia eucarística, transubstancia o corpo em copo, inunda-se do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno.

Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão, bordam toalhas de cumplicidades, secam lágrimas no consolo da fé, criam hipocampos em aquários de mistério.

Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia se pronunciar onde a mentira costura bocas e enjaula consciências.

E a quem voa inebriado pelo eco de profundas nostalgias e decifra enigmas sem revelar inconfidências; nu, abraça epifanias sob cachoeiras de magnólias.

Feliz Natal a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas. Queira Deus que renasçam com o menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.

CARLOS ALBERTO LIBÂNIO CHRISTO , o Frei Betto, 64, frade dominicano e escritor, é autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004).

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008



24/12/2008 e 25/12/2008
N° 15829 - MARTHA MEDEIROS


Escute o Natal

Cada pessoa se prepara de um jeito para o Natal. Eu costumo cumprir os rituais inevitáveis que a época exige, como montar a árvore, comprar presentes e providenciar um jantar especial para receber a família.

Mas, como neste período minha emoção fica sempre à flor da pele, me condiciono a algo mais íntimo: seleciono uma trilha sonora adequada ao meu estado de espírito.

Quando se pensa em música de Natal, muitos recorrem a Assis Valente: “Amanheceu/ o sino gemeu/ e a gente ficou/ feliz a rezar...”. Feliz? “Já faz tempo que eu pedi/ mas o meu Papai Noel não vem/ com certeza já morreu...” Eu era criança e achava desolador que o Papai Noel só estivesse vivo para alguns. Desde então, passei a fazer meu próprio playlist natalino.

Gosto de intensidade sonora, fui criada a guitarra. Ainda que aprecie gêneros mais tranqüilos e sofisticados, não adianta: o rock e o blues sempre falaram mais alto aqui em casa.

Mas assim que entra a contagem regressiva para o Natal, entro em jejum de qualquer batida mais compassada, tiro de cena todos os Stones e seus discípulos, e abaixo o volume. Juro, sumo até com os Beatles, e sou capaz de cometer assassinatos em série quando escuto “So this is Christmas/ and what have you done....” do John Lennon. Massacrante. Quem ainda agüenta?

Retirada a sonzeira, abro espaço para gêneros que casam perfeitamente com o astral do momento. Jazz tradicional ou jazz moderno: por exemplo, não consigo parar de ouvir Amy Winehouse cantando Love is a Losing Game. Minha Assis Valente deste Natal 2008.

E clássicos. Chopin, Schubert, Mozart.

Coral também é uma pedida. Perdi a conta dos Natais em que ouvi um coral do Harlem chamado Mount Moriah e que enchia a casa com o ritmo gospel.

E música lounge, que me transporta para a beira de uma praia paradisíaca.

E música popular brasileira cantada quase em silêncio, com ternura, sem agressividade, letras amorosas, leves, confortantes.

Eu falei em silêncio?

O barulho das folhas ao vento e os passarinhos que acordam sempre mais cedo que nós, isso ainda dá para se ouvir na cidade (quando o pessoal não está buzinando – por que se buzina tanto nos dias que antecedem o Natal?).

Mas pra quem tem a sorte de estar em algum lugar menos concreto, benditas sejam as ondas do mar quebrando na areia, o barulho de alguma cachoeira escondida no meio do mato, o espocar imaginário de cada estrela que vai surgindo no céu – trilha sonora do Natal.

Hoje, o que eu desejo para todos, além de receberem um abraço que não seja protocolar como tantos que se recebem durante o ano, é que a gente escute o Natal.

Que o som dessa noite apazigüe a alma, que sinos toquem dentro de nós, que ninguém levante a voz, que tudo seja suave e que o silêncio transmita todos os votos vindos de longe, daqueles que não puderam estar juntos.

Ivete Sangalo? Melhor deixar pro Réveillon.

Para todos aqueles que vem até aqui todos os dias, um Feliz Natal e que o Papai Noel seja generoso com cada um - Entrelacos


24/12/2008 e 25/12/2008
N° 15829 - MARTHA MEDEIROS


Escute o Natal

Cada pessoa se prepara de um jeito para o Natal. Eu costumo cumprir os rituais inevitáveis que a época exige, como montar a árvore, comprar presentes e providenciar um jantar especial para receber a família.

Mas, como neste período minha emoção fica sempre à flor da pele, me condiciono a algo mais íntimo: seleciono uma trilha sonora adequada ao meu estado de espírito.

Quando se pensa em música de Natal, muitos recorrem a Assis Valente: “Amanheceu/ o sino gemeu/ e a gente ficou/ feliz a rezar...”. Feliz? “Já faz tempo que eu pedi/ mas o meu Papai Noel não vem/ com certeza já morreu...” Eu era criança e achava desolador que o Papai Noel só estivesse vivo para alguns. Desde então, passei a fazer meu próprio playlist natalino.

Gosto de intensidade sonora, fui criada a guitarra. Ainda que aprecie gêneros mais tranqüilos e sofisticados, não adianta: o rock e o blues sempre falaram mais alto aqui em casa.

Mas assim que entra a contagem regressiva para o Natal, entro em jejum de qualquer batida mais compassada, tiro de cena todos os Stones e seus discípulos, e abaixo o volume. Juro, sumo até com os Beatles, e sou capaz de cometer assassinatos em série quando escuto “So this is Christmas/ and what have you done....” do John Lennon. Massacrante. Quem ainda agüenta?

Retirada a sonzeira, abro espaço para gêneros que casam perfeitamente com o astral do momento. Jazz tradicional ou jazz moderno: por exemplo, não consigo parar de ouvir Amy Winehouse cantando Love is a Losing Game. Minha Assis Valente deste Natal 2008.

E clássicos. Chopin, Schubert, Mozart.

Coral também é uma pedida. Perdi a conta dos Natais em que ouvi um coral do Harlem chamado Mount Moriah e que enchia a casa com o ritmo gospel.

E música lounge, que me transporta para a beira de uma praia paradisíaca.

E música popular brasileira cantada quase em silêncio, com ternura, sem agressividade, letras amorosas, leves, confortantes.

Eu falei em silêncio?

O barulho das folhas ao vento e os passarinhos que acordam sempre mais cedo que nós, isso ainda dá para se ouvir na cidade (quando o pessoal não está buzinando – por que se buzina tanto nos dias que antecedem o Natal?).

Mas pra quem tem a sorte de estar em algum lugar menos concreto, benditas sejam as ondas do mar quebrando na areia, o barulho de alguma cachoeira escondida no meio do mato, o espocar imaginário de cada estrela que vai surgindo no céu – trilha sonora do Natal.

Hoje, o que eu desejo para todos, além de receberem um abraço que não seja protocolar como tantos que se recebem durante o ano, é que a gente escute o Natal.

Que o som dessa noite apazigüe a alma, que sinos toquem dentro de nós, que ninguém levante a voz, que tudo seja suave e que o silêncio transmita todos os votos vindos de longe, daqueles que não puderam estar juntos.

Ivete Sangalo? Melhor deixar pro Réveillon.

Para todos aqueles que vem até aqui todos os dias, um Feliz Natal e que o Papai Noel seja generoso com cada um - Entrelacos


24/12/2008 e 25/12/2008
N° 15829 - MARTHA MEDEIROS


Escute o Natal

Cada pessoa se prepara de um jeito para o Natal. Eu costumo cumprir os rituais inevitáveis que a época exige, como montar a árvore, comprar presentes e providenciar um jantar especial para receber a família.

Mas, como neste período minha emoção fica sempre à flor da pele, me condiciono a algo mais íntimo: seleciono uma trilha sonora adequada ao meu estado de espírito.

Quando se pensa em música de Natal, muitos recorrem a Assis Valente: “Amanheceu/ o sino gemeu/ e a gente ficou/ feliz a rezar...”. Feliz? “Já faz tempo que eu pedi/ mas o meu Papai Noel não vem/ com certeza já morreu...” Eu era criança e achava desolador que o Papai Noel só estivesse vivo para alguns. Desde então, passei a fazer meu próprio playlist natalino.

Gosto de intensidade sonora, fui criada a guitarra. Ainda que aprecie gêneros mais tranqüilos e sofisticados, não adianta: o rock e o blues sempre falaram mais alto aqui em casa.

Mas assim que entra a contagem regressiva para o Natal, entro em jejum de qualquer batida mais compassada, tiro de cena todos os Stones e seus discípulos, e abaixo o volume. Juro, sumo até com os Beatles, e sou capaz de cometer assassinatos em série quando escuto “So this is Christmas/ and what have you done....” do John Lennon. Massacrante. Quem ainda agüenta?

Retirada a sonzeira, abro espaço para gêneros que casam perfeitamente com o astral do momento. Jazz tradicional ou jazz moderno: por exemplo, não consigo parar de ouvir Amy Winehouse cantando Love is a Losing Game. Minha Assis Valente deste Natal 2008.

E clássicos. Chopin, Schubert, Mozart.

Coral também é uma pedida. Perdi a conta dos Natais em que ouvi um coral do Harlem chamado Mount Moriah e que enchia a casa com o ritmo gospel.

E música lounge, que me transporta para a beira de uma praia paradisíaca.

E música popular brasileira cantada quase em silêncio, com ternura, sem agressividade, letras amorosas, leves, confortantes.

Eu falei em silêncio?

O barulho das folhas ao vento e os passarinhos que acordam sempre mais cedo que nós, isso ainda dá para se ouvir na cidade (quando o pessoal não está buzinando – por que se buzina tanto nos dias que antecedem o Natal?).

Mas pra quem tem a sorte de estar em algum lugar menos concreto, benditas sejam as ondas do mar quebrando na areia, o barulho de alguma cachoeira escondida no meio do mato, o espocar imaginário de cada estrela que vai surgindo no céu – trilha sonora do Natal.

Hoje, o que eu desejo para todos, além de receberem um abraço que não seja protocolar como tantos que se recebem durante o ano, é que a gente escute o Natal.

Que o som dessa noite apazigüe a alma, que sinos toquem dentro de nós, que ninguém levante a voz, que tudo seja suave e que o silêncio transmita todos os votos vindos de longe, daqueles que não puderam estar juntos.

Ivete Sangalo? Melhor deixar pro Réveillon.

Para todos aqueles que vem até aqui todos os dias, um Feliz Natal e que o Papai Noel seja generoso com cada um - Entrelacos

terça-feira, 23 de dezembro de 2008


Jaime Cimenti

História de Natal

O sol abrasador esturricava a tarde no pampa. Vento, nenhum. Até os quero-queros estavam parados debaixo das folhas imóveis da grande figueira do capão. No rancho de pau-a-pique da coxilha, Juliano, nove anos, o mais moço dos seis irmãos, sozinho, olhava para o pequeno pinheiro enfeitado apenas pelas barbas-de-pau.

Em volta estava o minúsculo presépio desbotado: São José, Virgem Maria, Jesus, a vaca, o cavalo, a galinha, duas ovelhinhas e um pedaço de espelho rodeado de terra, imitando um laguinho vazio. Os três reis magos estavam próximos, um atrás do outro, em posição de chegada.

Tudo no canto da salinha. Na noite anterior, Juliano ouviu o pai e a mãe combinarem que dariam apenas frango assado, batatas e sagu naquela noite de véspera de Natal e que no dia vinte e cinco poderiam caminhar até o povoado para assistir à missa, caminhar em volta da pracinha e, quem sabe, tomar picolés de gelo.

Amigos, parentes, dinheiro para presentes ou algum passeio permaneceriam distantes, tal como nos anos anteriores. Depois de pensar por um bom tempo, Juliano pegou o cofre em forma de porquinho que estava debaixo da cama e, com um gesto calmo, mas firme, quebrou-o.

Recolheu as moedinhas e as três notas e caminhou até o bolicho do seu Marcílio. Eram quatro da tarde, ainda daria tempo. Pediu para falar com o bolicheiro, longe da mulher dele, do filho e dos homens que bebiam na mesinha da frente. Mostrou para o comerciante as economias e disse que pretendia dar presentes de Natal para os irmãos e os pais.

O homem contou o dinheiro, disse que, pelo valor, poderia dar pirulitos, balas, algumas rapaduras, uma cuia, um pacote de mate e um vidro de mel. Na verdade, o dinheiro não dava para tanto, mas a atitude do piá tinha comovido "seu" Marcílio e ele resolvera fazer uma caridade natalina, sem dizer nada a Juliano.

De noite, depois do frango, das batatas e do sagu, Juliano entregou os presentes. Ganhou alguns abraços, beijos e agradecimentos, alguns meio rápidos. Recebeu alguns olhares estranhos e desconfiados, mas não se preocupou.

Depois de rezar, adormeceu pensando, meio triste, mas sem amargura, que tinha feito sua pequena parte, que teria muitos natais, presentes e pessoas pela frente, que o bom Deus não lhe iria lhe faltar.

Ótima terça-feira - Aproveite o dia.

domingo, 21 de dezembro de 2008



21 de dezembro de 2008
N° 15826- MARTHA MEDEIROS


Calma, rapaz

Depois de eu já ter escrito vários textos sobre Natal, uns recomendando frear o impulso consumista, outros lembrando de como os gestos são mais significativos que os presentes, outro ainda homenageando a Mamãe Noel (bem mais pró-ativa nessa época do ano que o Papai), e textos ainda lembrando que há crianças que nunca tiveram colchão, lápis de cor, iogurte ou sapato, chego a outro fim de ano esgotada: o que mais dizer a essa altura do campeonato?

Eis que me chega em mãos um livrinho com textos de Drummond – ele mesmo – editado pela Record e chamado Receita de Ano Novo, onde encontro umas frases necessárias e bem mais brilhantes do que qualquer uma que eu possa inventar nessa época de tão pouca novidade.

Então, caros, essa crônica de hoje será feita a quatro mãos com a honrosa parceria de Carlos Drummond de Andrade, que na página 89 do tal livrinho destaca um certo João Brandão, personagem que significa um João qualquer, qualquer um. Ele nos conta:

“Cheguei ao ponto construtivo destas considerações. João Brandão, que às vezes é modelo de sabedoria relativa (a absoluta consiste em deixar a fantasia agir), contou-me que todo ano recebe um cartão nesses termos: “CALMA, RAPAZ”.

“E quem é que te manda este cartão?” perguntei-lhe. “Eu mesmo. Entro na fila, compro o selo, boto na caixa. Porque se eu não fizer isso, ninguém o fará por mim. Ao receber a mensagem, considero-a mandada por amigo vigilante e discreto, e faço fé na recomendação, que eu não saberia me impor, diante do espelho”. Pausa e continuação: “Tem me ajudado muito.

Você já reparou que ninguém recomenda calma a ninguém, na época de desejar coisas? Deseja-se prosperidade, paz, amor, isso e aquilo (´tudo de bom pra você´), mas todos se esquecem de desejar calma para saborear esse tudo de bom, se por milagre ele acontecer, e principalmente o nada de bom, que às vezes acontece em lugar dele. Como você está vendo, não chega a ser um voto que eu dirijo a mim próprio, pelo correio. É uma vacina”.

Se você pudesse mandar um cartão pra si mesmo (e pode), o que escreveria nele, que vacina aplicaria a si próprio? Pense em qualquer frase, seja um lugar comum ou incomum, algo profundo ou raso, inventada por você ou pelo acaso.

“Troque a tristeza pelo alívio”

“Não queira nada dos outros que já não seja seu”

“Pare de lutar tanto pela manutenção do tédio”

“Viver é existir sem medo”

“Espante-se consigo próprio”

“Melhor ter uma vida imperfeita que imitar a vida perfeita dos outros”

O que mais? Pesquise, vá atrás do que você andou sublinhando por aí, lembre de algo que lhe comoveu ou que lhe fez rir muito, procure nos livros de poesia, de filosofia – ou nos livros de sacanagem, por que não?

Nesse Natal, mande um cartão endereçado a você mesmo. Em poucas palavras, coloque ali a vacina que vai salvá-lo em 2009. Seja seu próprio João Brandão.

Feliz reencontro com o que você deseja.

Aproveite o dia - Um excelente domingo.

sábado, 13 de dezembro de 2008



14 de dezembro de 2008
N° 15819 - MARTHA MEDEIROS


A volta triunfal das samambaias

Hoje ninguém mais quer sair da casa dos pais. Adolescentes se tornam adultos, ganham um ótimo salário e seguem entrincheirados no doce lar em que foram criados, desfrutando das vantagens de se ter comida, roupa lavada e liberdade para ir e vir. No meu tempo não era assim.

Aos 16 anos já estávamos sonhando em ter nosso cantinho, aos 18 já estávamos trabalhando, aos 20 já estávamos alugando um apê minúsculo com algum colega de faculdade. Bom, estou generalizando, cada um teve uma saída a seu modo.

A minha aconteceu por volta dos 23 anos, quando só então consegui bancar minhas despesas. Fui morar sozinha num apartamento de um dormitório e mal podia conter minha satisfação: finalmente, teria minha própria samambaia.

Naquela época, ter uma samambaia era tão essencial quanto ter um fogão ou um chuveiro. A samambaia era o toque de natureza de qualquer casa ou apartamento, não importava a classe social. Todos tinham ao menos uma, bem verdinha, pendurada no teto ou em cima de um móvel (mas pendurada no teto era mais legal, tinha mais caimento).

Aos poucos, as samambaias foram sendo transferidas para a área de serviço, cedendo lugar na sala para outras plantas. E, passado um tempo, nem na área de serviço foram toleradas. Saíram de moda. Ter uma samambaia passou a ser cafona.

Quem determina o que é moda ou não é? Na indústria têxtil, ouvi dizer que funciona mais ou menos assim: um pigmento ou um tecido sofre retração de mercado e há uma mobilização para que, na próxima estação, ele seja anunciado como “tendência”, acelerando a demanda.

Claro que os estilistas também fazem sua parte, decretando em seus desfiles o que é chique e o que é ultrapassado – e como não há inúmeras idéias para o ato corriqueiro de se vestir, o que é novo envelhece, depois o velho se recicla e volta a ser novo. E cá estamos nós usando as mesmas coisas, sempre.

Mas será que isso funciona com plantas também? Pasmem, descobri que sim. Abri uma revista e li com esses olhos que a terra um dia há de usar como adubo: “A volta triunfal das samambaias!”.

Achei que era algum filme trash, ao estilo O Ataque dos Tomates Assassinos, mas não, era mesmo o anúncio bombástico de que a samambaia voltou com tudo.

Pegou carona no revival dos anos 70, que já se insinua forte na moda e no décor. Passou a ser o must do paisagismo atual. Cafona? Cafona sou eu e você, santa. Quem não tem uma, pode começar a arrancar os cabelos.

Um excelente domingo e um ótimo inicio de semana para você.

Texto integral - Diogo Mainardi

Protógenes, o carcereiro de Dantas

Protógenes Queiroz se candidatou à vaga de carcereiro de Daniel Dantas. Meus cumprimentos. Ele está certo. A cadeia é um bom lugar para ambos. Tanto faz se dentro ou fora das grades.

Só tenho uma dúvida: quem permanecerá com a chave da cadeia enquanto Protógenes Queiroz estiver viajando pelo mundo, com todas as despesas pagas pela CBF? Porque Protógenes Queiroz, algumas semanas atrás, visitou Rússia, Suiça e Inglaterra, como um parasita no intestino do ponta-direita do ABC de Natal, agregado à comitiva da CBF.

A mesma CBF, por sinal, que foi investigada por ele em 2005, no caso da "Máfia do Apito", denunciado por VEJA. Me pergunto singelamente: será que, em 2011, Protógenes Queiroz estará viajando pelo mundo com todas as despesas pagas pelo Opportunity?

Daniel Dantas está acabado. Ele merece. Mas para quem, como eu, acompanhou suas artimanhas desde o estouro do mensalão, o resultado do inquérito a seu respeito, pelo menos até agora, é escandalosamente frustrante. Daniel Dantas não se tornou Daniel Dantas por ter corrompido um policial ou por ter reciclado dinheiro sujo.

Isso um monte de gente faz. Daniel Dantas é Daniel Dantas apenas por causa de sua promiscuidade com a política. Primeiro, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Depois, durante o governo de Lula, quando o PT se dividiu ao meio, entre a sua turma e a turma da Telecom Italia, uma em guerra com a outra, uma cobrando mais caro do que a outra.

Onde foi parar a política no inquérito sobre Daniel Dantas? Protógenes Queiroz, apesar de seu primarismo debilitante, apesar de sua palermice gangrenosa, apesar de sua falsidade caluniadora, apesar de sua desonestidade rudimentar, era acumpliciado com uns tipinhos perturbados que tinham interesse em mandar recados oblíquos para o governo.

Nesse ponto, seu relatório era melhor do que o dos policiais que foram postos em seu lugar.

Se os arapongas engajados por ele tivessem dedicado mais tempo à compra da Brasil Telecom pela Oi, e menos tempo descarregando material pornográfico da internet, como os arquivos "Boqueteira" e "Jussara", conforme o que a PF encontrou nos computadores da Abin, certamente teríamos mais notícias sobre os esquemas bilionários envolvendo Daniel Dantas e o poder público.

Mas duvido que Protógenes Queiroz quisesse encontrar mais notícias sobre o envolvimento de Daniel Dantas com o poder público. O que ele realmente queria era mais simples do que isso: ter a chave da cadeia, para poder decidir quem ficava do lado de dentro e quem ficava do lado de fora, de acordo com suas necessidades mais urgentes.

Quanto ao parasita no intestino do ponta-direita do ABC de Natal, recomendo um tratamento à base de Quinacrina.

Claudio de Moura Castro

Aprovar quem não aprendeu?

"O medo da repetência leva o aluno de classe média a estudar, para evitar os castigos. Nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que
os filhos estudem"

Para chamar atenção sobre pesquisas irrelevantes, um bando de gaiatos de Harvard criou o prêmio Ignobel (um brasileiro já foi agraciado, por estudar o impacto dos tatus na arqueologia).

De fato, esse é um problema clássico da academia. Como às vezes aparecem descobertas de valor na enxurrada de idéias que parecem bobas, todos se acham no direito de defender as suas. Diante disso, é reconfortante encontrar pesquisas colimando assuntos palpitantes e com resultados precisos e definitivos.

Esse é o caso da tese de Luciana Luz, orientada pelo professor Rios Neto (UFMG), que examinou um problema fundamental: no fim do ano, o que fazer com um aluno que não aprendeu o suficiente? Dar bomba, para que repita o ano? Ou deixá-lo passar?

O uso de dados longitudinais permitiu grande precisão na análise. A autora tratou os números com cuidado e sofisticação estatística. O cuidado aumenta a confiança nos resultados. Mas a sofisticação impossibilita que se faça aqui uma explicação acessível da análise estatística.

Contudo, a interpretação das conclusões é clara. A tese permite comparar um aluno que repetiu o ano por não saber a matéria com outro que foi aprovado em condições similares.

Os números mostram com meridiana precisão: um ano depois, os repetentes aprenderam menos do que alunos aprovados sem saber o bastante. Tudo o que se diga sobre o assunto não pode ignorar o significado desses dados, que, aliás, corroboram o que foi encontrado pelo professor Naércio Menezes e por pesquisadores de outros países.

Ao que parece, para os repetentes, é a mesma chatice do ano anterior, somada à frustração e à auto-estima chamuscada. Andemos mais além da tese. Não reprovando, a nação economiza recursos, pois, com a repetência, o estado paga a conta duas vezes.

E, como sabemos por meio de muitos estudos, os repetentes correm muito mais risco de uma evasão futura. Logo, ganha-se de três lados. Como a "pedagogia da reprovação" não funciona, a "promoção automática" é um mal menor.

Ilustração Atômica Studio

A história não acaba aqui. A angústia de decidir se devemos aprovar quem não sabe torna-se assunto secundário, diante da constatação de que o aluno não aprendeu. Esse é o drama mais brutal do ensino brasileiro. Por isso, a discussão está fora de foco. Precisamos fazer com que os alunos aprendam.

De resto, não faltam idéias nos países onde a educação dá certo. Por exemplo, na Finlândia – e mesmo no Uruguai – há professores cuja tarefa é dar uma atenção especial aos mais fracos.

Por que se digladiam todos contra a "promoção automática", quando a verdadeira chaga é o fraco aprendizado? De fato, há uma razão. Grosso modo, três quartos da população brasileira é definida como de "classe baixa".

Dada essa enorme participação, o que é verdade para seus membros é verdade para o Brasil como um todo. Mas há os 20% de classe média e alta. Para esses pimpolhos, a situação é diferente. Famílias de classe baixa são fatalistas, assistem passivamente à reprovação dos seus filhos.

Se não aprenderam a lição, é porque "sua cabeça não dá". Já na classe média a regra é outra. Levou bomba? Antes zunia a vara de marmelo, depois veio o confisco da bola, da bicicleta ou do i-Phone. Santo remédio!

Reina a "pedagogia do medo da repetência". Essa é a arma dos pais para que o filho se mantenha por longo tempo colado à cadeira e com os olhos no livro. Cá entre nós, eu estudava por medo da bomba. É também a ameaça da bomba que permite aos professores forçar os alunos a estudar. Sem ela, sentem-se impotentes. Portanto, estamos diante de um dilema.

O medo da repetência leva a minoria de classe média a estudar, para evitar os castigos. Pode não ser a pedagogia ideal, mas ruim não é. Já nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem.

O que há são as bombas caindo do céu e criando repetência abundante e disfuncional. Pouquíssimos países no mundo têm níveis tão altos de repetência como o nosso. Ao contrário de outros dilemas, esse tem solução clara, ainda que difícil. Basta melhorar a qualidade da educação para todos.

Claudio de Moura Castro é economista - claudio&moura&castro@cmcastro.com.br


A arte de envelhecer

As novas descobertas que ajudam a abrandar os sinais da passagem do tempo e garantir uma velhice cheia de vida
Irene Ruberti

EM PAZ COM O ESPELHO

Adriana, de 58 anos, com as filhas gêmeas Bianca (à esq.) e Chiara, de 24.

"O importante é viver bem todas as fases da vida", diz a mãeA paisagista Adriana Giuliano Miniguini, de 58 anos, é daquelas mulheres maduras que, sem esforço, atraem olhares.

Na juventude, a beleza da italiana criada no Brasil era tamanha que as pessoas paravam para observá-la. Adriana continua feliz com sua aparência. Tem rugas, mas nunca quis aplicar Botox ou se submeter a grandes tratamentos estéticos. “As rugas são o sinal de uma nova fase na minha vida.

O importante é viver bem todas elas”, diz. A forma como encara o envelhecimento é tão positiva e sábia que infl uencia as três fi lhas, Bianca, Chiara (gêmeas de 24 anos) e Natália, de 34. “Queremos seguir os passos de nossa mãe. Há pessoas que fazem mil tratamentos, mas não são felizes. Nunca se sentem realmente bonitas”, diz Natália.

Além da genética, que parece favorecer as mulheres da família Giuliano Miniguini, elas se beneficiam de bons hábitos adquiridos na infância. A alimentação sempre foi saudável, com frutas, verduras, legumes e carnes magras.

Todas fi zeram balé, como a mãe. As quatro freqüentam academias, para manter o corpo em forma. Cuidam da pele, com limpeza, hidratação e filtro solar, diariamente. Não têm o menor interesse em disfarçar os anos vividos, uma das maiores obsessões contemporâneas.

Artistas sofrem essa pressão contra o envelhecimento com freqüência. Recentemente, uma maquiadora perguntou ao ator Stepan Nercessian, de 54 anos, por que não fazia uma plástica para tirar as bolsas sob os olhos. “Não quero matar o velho que vou ser”, disse ele. “Quero me olhar no espelho com 70 anos e ver como realmente sou.” Essa reação é uma exceção.

Para camuflar a idade, homens e mulheres se entregam aos mais variados tratamentos estéticos sem medir esforços e conseqüências. Alguns exageram no Botox e ficam com a expressão paralisada.

Submetem-se a sucessivas cirurgias plásticas e ganham um aspecto de boneco de cera. Quase sempre, o excesso de intervenções provoca mais estranhamento que admiração (Clique aqui e confira a opinião de internautas sobre o visual de celebridades).

Apesar dos avanços da medicina, a descoberta da pílula da juventude continua sendo um sonho distante

Um dos motivos que tornam a velhice um fantasma é o medo das restrições impostas pelo envelhecimento. O corpo começa a dar sinais de cansaço. A pele perde o viço. O cérebro murcha. Aos 50 anos, o encéfalo pesa em média 1,3 quilo. Quinze anos depois, costuma ter 200 gramas a menos. O sistema nervoso fica mais lento. A massa muscular diminui. A gordura aumenta.

Apesar dos avanços da medicina, que têm contribuído para o aumento da expectativa de vida, a ciência está muito longe de descobrir uma pílula da juventude. Mas existe uma receita para envelhecer com mais qualidade de vida. Ela consiste em cinco simples recomendações:

comer menos
movimentar-se mais
usar e abusar do cérebro
realizar atividades em grupo
nutrir alguma forma de espiritualidade


13 de dezembro de 2008
N° 15818 - NILSON SOUZA


Medida provisória

No uso das atribuições que me confere o princípio universal da liberdade de criação e a paciência dos meus leitores, adoto a seguinte Medida Provisória, sem força de lei, mas com o desejo de que seja compreendida:

Art. 1º – A nova ortografia da Língua Portuguesa, que entra em vigor a partir de 2009, deverá suprimir do vocabulário nacional a palavra “crise”, que tem sido utilizada em nosso país como pretexto para o imobilismo, para a insensibilidade, para a especulação, para a ganância desenfreada e para safadezas de toda ordem.

§ 1º – Em caso de necessidade, poderão ser utilizados como sinônimos da palavra suprimida os termos “desequilíbrio”, “transição” ou, em situações extremadas, “distúrbio”.

§ 2º – Fica terminantemente vetada a palavra “desarranjo”, por sua conotação gastrointestinal, inclusive em pronunciamentos de autoridades de alto escalão ou baixo calão.

Art. 2º – Restrinja-se o uso do prefixo “in”, especialmente diante das palavras segurança, decência, diferença, sensatez, competência, compreensão e tolerância.

Art. 3º – Estimule-se a difusão em todo o território nacional de palavras ameaçadas de extinção pelo desuso, tais como “honestidade”, “solidariedade”, “gentileza”, “simpatia”, “compaixão” e “fraternidade”.

Art. 4º – Fica mantido o trema numa única palavra do nosso vocabulário, para que ela volte a ser pronunciada com ênfase e orgulho por todos os brasileiros: “tranqüilidade”.

Art. 5º – Cumpra-se a supressão do acento diferencial nas palavras ditas homófonas, como determina o Acordo Ortográfico, mas abra-se exceção para pára, quando a forma verbal tiver que ser usada para conter a violência, o desrespeito, a chatice, a covardia e qualquer tipo de abuso contra crianças.

§ único – Neste último caso, o acento diferencial deve ser colocado sobre todos os “as” e seguido de outras expressões devidamente acentuadas: crítica enérgica, denúncia à polícia e punição implacável.

Art. 6º – Inclua-se no alfabeto as letras K, W e Y, mas evite-se, sempre que possível, a escrita de palavras como show, download e megabyte, que dificultam a compreensão, expressam arrogância e um certo desprezo à língua pátria.

Art. 7º – Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação e perde o efeito no mesmo dia, com exceção dos artigos e parágrafos que tocarem o coração dos leitores.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008



10 de dezembro de 2008
N° 15815 - MARTHA MEDEIROS


O mesmo mar, o mesmo sol

A cotação do dólar mantém-se alta, contrariando os prognósticos levemente otimistas dos mercados globais. Até ontem, ele seguia a R$ 2,50 (hoje não sei), e alguns economistas acreditam que ele se estabilizará em R$ 2,80, o que pode ser uma boa notícia para quem lida com exportação, mas é péssima para quem está de malas feitas para sair de férias. Ir para o Exterior ficou, para muitos, proibitivo.

O jeito é entrar numa livraria, comprar o 100 Praias que Valem a Viagem, novo guia do turista profissional Ricardo Freire, e botar o pé na estrada por aqui mesmo.

O livro disseca a costa brasileira desde o Pará até o Rio Grande do Sul. Curiosidade: Ricardo já havia publicado, anos atrás, um guia de praias brasileiras onde ignorou solenemente nosso Estado, e vocês podem imaginar a gritaria dos leitores, ainda mais que o moço é gaúcho. Diplomaticamente, desta vez ele deu uma colher de chá para a Praia dos Molhes, em Torres.

Mas, pra quem está disposto a subir centenas de quilômetros litoral acima, o que não falta é dica de paraísos, com todos os toques sobre hospedagem, alimentação, passeios, melhores ondas e demais informações de primeira necessidade.

Ricardo classificou cada praia com um ícone bem-humorado: em vez de estrelas, a cotação foi feita com havaianas. As praias consideradas imperdíveis ganharam três chinelinhos – e, entre estas praias que atingiram a cotação máxima, estão três de Santa Catarina: Mole, Ilha do Campeche (ambas em Florianópolis) e Praia do Rosa.

Quem conhece bem o litoral catarinense sabe que há inúmeros outros recantos incríveis, mas será que é pra lá que a gente vai neste verão?

Estamos sendo muito solidários com nossos vizinhos. Caminhões saem daqui lotados de donativos e, a prosseguir neste ritmo, não faltarão alimentos, remédios, roupas ou colchões para aqueles que ficaram desabrigados.

No entanto, Santa Catarina não é apenas o Vale do Itajaí. Uma das maiores riquezas do Estado é o turismo, que está sofrendo uma outra espécie de avalanche:

a de cancelamentos de reservas feitas para o Ano-Novo, assim como para as temporadas de janeiro e fevereiro. Isso está acontecendo em praias ao sul de Florianópolis, como Garopaba, Ferrugem, Ibiraquera, Guarda do Embaú, Imbituba, Laguna, onde as enchentes não provocaram alteração na paisagem nem risco aos imóveis. As estradas que tiveram bloqueios já foram liberadas. A vida continua inalterada.

Eu não estou lá para ver com meus próprios olhos, mas creio que vale a pena se informar melhor antes de evitar cruzar o Mampituba.

Claro que os prefeitos das nossas praias ficarão muito satisfeitos em acolher todos os gaúchos por aqui, mas quem tem o hábito de passar as férias em Santa Catarina não deve interromper seus planos sem antes buscar notícias mais realistas.

Também é um ato de solidariedade colaborar para que hoteleiros e comerciantes catarinenses mantenham seus negócios e o emprego de seus funcionários.

Apenas isso: informar-se. Uma atitude que também vale três chinelinhos.

Ainda que com chuva, aproveite o dia

sábado, 6 de dezembro de 2008



07 de dezembro de 2008
N° 15812 - MARTHA MEDEIROS


A mulher independente

Estava autografando meu livro na Feira quando uma senhora alta, elegante, já bem madura, chegou sorridente pra mim e disse: Te acho uma mulher fenomenal.

Eu, toda sorrisos, tomei o livro que ela tinha em mãos e me preparei para escrever uma dedicatória bem carinhosa. Ela então complementou: Mas eu não queria ser casada contigo tu és muito independente!.

Concluí a dedicatória, agradeci a gentil presença dela, enquanto que meu coração começou a bater de forma mais lenta. “O que estou sentindo?”, perguntei a mim mesma, em silêncio. Tristeza, respondi a mim mesma, em silêncio, enquanto a próxima pessoa da fila se aproximava.

Em que eu seria mais independente do que qualquer outra mulher? Quase todas as que conheço trabalham, ganham seu próprio sustento, defendem suas opiniões e votam em seus próprios candidatos. Algumas não gostam de ir ao cinema sozinha, já eu não me importo. Poucas moraram sozinhas antes de casar, eu morei. Quase nenhuma, que eu lembre, viajou sozinha, eu já. E nisso consta toda minha independência, o que não me parece suficiente para assustar ninguém.

Fico imaginando que essa tal “mulher independente”, aos olhos dos outros, pareça ser uma pessoa que nunca precise de ninguém, que nunca peça apoio, que jamais chore, que não tenha dúvidas, que não valorize um cafuné. Enfim, um bloco de cimento.

Quando eu comecei a ter idade pra sonhar com independência, passei a ler afoitamente os livros de Marina Colasanti – foram eles que me ensinaram a importância de abrir mão de tutelas e a se colocar na vida com uma postura própria, autônoma, mas nem por isso menos amorosa e sensível.

Independência nada mais é do que ter poder de escolha. Conceder-se a liberdade de ir e vir, atendendo suas necessidades e vontades próprias, mas sem dispensar a magia de se viver um grande amor. Independência não é sinônimo de solidão. É sinônimo de honestidade: estou onde quero, com quem quero, porque quero.

Sobre a questão da independência afugentar os homens, Marina Colasanti brincava: “Se isso for verdade, então ficarão longe de nós os competitivos, os que sonham com mulheres submissas, os que não são muito seguros de si. Que ótima triagem”.

Infelizmente, a ameaça que aquela senhora acredita que as independentes representam não é um pensamento arcaico: no aqui e agora ainda há quem acredite que ser um bibelô (ou fazer-se de) tem lá suas vantagens. Eu não vejo quais.

Acredito que a independência feminina é estimulante, alegre, desafiadora, vital, enfim, uma qualidade que promove movimentação e avanço à sociedade como um todo e aos familiares e amigos em particular.

“Eu preciso de você” talvez seja uma frase que os homens estejam escutando pouco de nós, e isso talvez lhes esteja fazendo falta. Por outro lado, nunca o “eu amo você” foi pronunciado com tanta verdade.

Um ótimo domingo especialmente para você.

Diogo Mainardi

Cof, cof, cof...

"Tenho expectorado continuamente desde setembro, quando meu menorzinho me passou uma tosse. Posso não entender nada de recessão, mas me considero um especialista em matéria de expectoração"

Benjamin Steinbruch, dono da CSN, publicou na Folha de S.Paulo um artigo intitulado "Expectadores da recessão". Assim mesmo: "expectadores" com "xis". Tenho expectorado continuamente desde setembro, quando meu menorzinho me passou uma tosse. Posso não entender nada de recessão, mas me considero um especialista em matéria de expectoração.

Por isso, o artigo de Benjamin Steinbruch me fez refletir profundamente. Dá para expectorar uma recessão? Interpretei da seguinte maneira: cada pneumococo é um keynesiano em potencial, com seus estratagemas para contaminar os organismos do estado e sufocar as vias respiratórias da economia. É isso?

Se entendi direito, Benjamin Steinbruch pertence ao partido dos pneumococos keynesianos. Cito um trecho de seu artigo: "Até a semana passada, pacotes para estimular investimentos e consumo num total de 3 trilhões de dólares já haviam sido anunciados por diferentes governos.

No Brasil, o caminho é o mesmo. Uma vez que não temos por aqui nenhum problema de solidez no sistema financeiro, a tarefa é direcionar recursos a empreendedores públicos ou privados que efetivamente tenham coragem e competência para gastá-los de forma produtiva".

Cof, cof, cof. Considerando todos os recursos que, nos últimos anos, o BNDES direcionou à CSN, como os 900 milhões de reais para a Nova Transnordestina ou os 300 milhões de reais para o Porto de Sepetiba, Benjamin Steinbruch só pode ser um desses corajosos e competentes empreendedores privados que, segundo ele próprio, teriam de ser contemplados com ainda mais dinheiro público.

Pergunte ao senador petista Aloizio Mercadante o que ele pensa sobre o assunto. Aposto que ele concorda.

Achei que os keynesianos fossem mais obsoletos do que as escarradeiras dos tuberculosos, para continuar com a analogia pulmonar. Mas me enganei. Eles voltaram.

E em sua forma mais agressiva: a dos keynesianos em causa própria, como o presidente da GM, nos Estados Unidos, ou o presidente da CSN, no Brasil. Benjamin Steinbruch, o Hans Castorp da siderurgia nacional, internado em seu sanatório de verbas do BNDES – sim,

Thomas Mann, A Montanha Mágica –, conclui seu artigo recomendando que os recursos públicos "sejam realmente gastos e não fiquem debaixo dos colchões de apavorados expectadores da recessão".

Como eu sou apenas um espectador comum – um espectador com "esse" –, aconselho o governo a fazer o contrário: é melhor ficar sentado na platéia, de mãos dadas com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e assistir aos desdobramentos do espetáculo, deixando o dinheiro prudentemente debaixo do colchão.

E se um keynesiano em causa própria expectorar em sua orelha, na poltrona de trás, afaste-o imediatamente: ele é contagioso.

Lya Luft

Do horror brota a grandeza

"Na hora da tragédia, a solidariedade – que só floresce na dor – vem com força. Em algum lugar, alguém, um desconhecido que jamais iremos ver, abre os braços e diz: irmão. Essa era a palavra que, só ela, poderia nos salvar. E foi pronunciada"

Uma quadrilha de dez a quinze terroristas, meninada em torno de 20 anos, toma de assalto a lendária Bombaim, na Índia, hoje Mumbai, e sai matando a torto e a direito. Simples assim.

Com armas pesadas e moderníssimas, o bando mata sorrindo, segundo testemunhas. Entra em lugares apinhados e famosos, também na cozinha de um hotel de muitas estrelas. Um grupo de jovens chefs com animação e capricho prepara jantares para hóspedes e outros clientes.

Os meninos terroristas entram, sorriem e fuzilam todo o grupo. Saem pelo imenso hotel matando, e, depois de algumas horas (foram dias inteiros!!!), há lugares onde o assoalho é escorregadio de tanto sangue.

Até hoje não sei se tudo ficou esclarecido, pois as notícias eram vagas e confusas, e a matança dos inocentes, vasta e desordenada para quem recebia as notícias, parece que foi muito bem preparada:

havia meses a gangue assassina treinava, preparava, sondava terreno, ia se instalando nos próprios hotéis escolhidos, levando armamentos e preparando salas de comando com sofisticados recursos.

Enquanto isso, ali junto, pais de família, crianças, mulheres grávidas, simples empregados e altos funcionários, da modesta faxineira ao mais bem-posto milionário, viviam sua vidinha ou vidona, sem imaginar que sua morte espreitava com um belo sorriso num rosto de garotão.

A vida tem dessas coisas, não temos lá grande controle sobre ela, corremos muitas vezes como animais confusos para o matadouro.

Ilustração Atômica Studio

Há mais tragédias na lista do momento, como aqui ao lado, na bela, ensolarada, mágica Santa Catarina, onde meus filhos quando meninos iam surfar e eu mesma já experimentei momentos de beleza e serenidade, de pura alegria.

Agora, nesse suposto paraíso, o tsunami – relatava uma jovem vitimada pelo horror – não era água e espuma, mas lama, barro, pedras enormes, arrastando casas, árvores, corpos de gente e de bichos. Pessoas foram enterradas no quintal ou na hortinha, pois nada mais sobrava, nem um metro de terra firme.

Alguns desaparecidos jamais serão achados. Povoados não poderão ser reconstruídos, pois o terreno simplesmente sumiu. Famílias para sempre destroçadas, para todo o sempre, sem sentido, sem aviso, sem entender nada. Não há o que dizer.

Mas não é apenas isso a nossa vida: é também a revelação da grandeza humana, uma onda incessante de generosidade e compaixão.

Pessoas simples de Santa Catarina doam o essencial; acolhem em sua casa vizinhos ou desconhecidos que tudo perderam e, em boa parte, jamais vão recuperar. Gente modesta do país inteiro se mobiliza e as estradas (muitas nem existem mais) seriam insuficientes para esse tráfego de humanidade.

Empregadas domésticas dão um de seus três pares de sapatos usados; crianças dão dois de seus cinco brinquedos; famílias doam um colchão e dormem apertadas; gente manda uma lata de leite em pó e bota mais água na caneca de seus filhos.

Isso tem de valer mais do que todo o frio horror da natureza, descontrolada em parte pela nossa irresponsabilidade, ganância e despreparo, e pela fatalidade que nos ronda.

Tem de valer mais do que a perversão dos terroristas que mataram sorrindo, mais até do que a desgraça de milhares de pessoas que nada tinham a ver com isso, aqui e no outro lado do mundo: o rabino idealista com sua mulher, os garçons e camareiras, os casais em lua-de-mel, os velhos em sua primeira viagem juntos, os empresários ocupados e os funcionários esforçados, os agricultores e professoras, os namorados, as grávidas, os bebezinhos.

Na hora da tragédia, aqui e lá, a solidariedade – que só floresce na dor – vem com força. Estamos na sombra, estamos no abismo, doentes, sofridos, perdidos, órfãos e enlutados, sem ter nem para onde voltar – mas, em algum lugar, alguém, um desconhecido que jamais iremos ver, ou o vizinho próximo, no fim desse horrendo túnel, abre os braços e diz: irmão.

Essa era a palavra que, só ela, poderia nos salvar. E foi pronunciada.

Lya Luft é escritora


Guerra das bonecas

Barbie leva a melhor e Bratz podem sumir após Natal

Decisão da justiça americana ordena que MGA pare de produzir e comercializar as bonecas Bratz, que já renderam US$ 3,1 bilhões desde seu lançamento em 2001

As bonecas Bratz correm o risco de ser banidas das lojas de brinquedos dos Estados Unidos, depois que um tribunal de justiça federal americano proibiu esta semana a MGA Entertainment de fabricar a rival da Barbie. A decisão foi divulgada somente nesta sexta-feira (5/12).



A corte tomou a decisão depois que a Mattel, a maior fabricante de brinquedos do mundo e criadora da Barbie, ganhou uma causa de infração de copyright contra a MGA em agosto.

Uma juíza federal da Califórnia proibiu a MGA de vender e produzir todos os 40 modelos de bonecas multi-étnicas que fazem parte da linha Bratz.

Mas deu prazo à MGA para retirar suas bonecas de todas as lojas logo depois do Natal.

No processo, que se arrastou por meses, o designer Carter Bryant foi considerado culpado por ter desenvolvido a boneca Bratz para a MGA, enquanto ainda trabalhava para a Mattel.

A MGA já apelou, alegando que isso afetará muito a empresa, já que a Bratz é o brinquedo mais vendido da companhia. Em junho, as vendas da Bratz atingiram US$ 3,1 bilhões nos EUA desde o lançamento em 2001. As vendas da Barbie, ainda o brinquedo mais popular da América, caíram 15% em 2007.

A Mattel acha que a rival MGA não deveria lucrar em cima da desonestidade. A empresa já ganhou indenização de US$ 100 milhões em agosto, por conta da quebra de direitos de copyright e mais US$ 90 milhões por quebra de contrato. Se a MGA não conseguir recorrer a tempo, a Mattel pode usar a decisão como base para tirar as Bratz das prateleiras de todas as lojas do mundo.

A marca Bratz tem sido responsável pela queda nas vendas da Barbie desde seu lançamento em 2001. De acordo com números não oficiais, as bonecas Bratz respondem por 40% do mercado total de bonecas nos EUA.

Em 2005, as vendas globais dos produtos Bratz alcançaram US$ 2 bilhões.

Claudia Leitte, por Carlinhos Brown
Uma artista como só o Brasil produz
Redação Época


Guerra das bonecas

Barbie leva a melhor e Bratz podem sumir após Natal

Decisão da justiça americana ordena que MGA pare de produzir e comercializar as bonecas Bratz, que já renderam US$ 3,1 bilhões desde seu lançamento em 2001

As bonecas Bratz correm o risco de ser banidas das lojas de brinquedos dos Estados Unidos, depois que um tribunal de justiça federal americano proibiu esta semana a MGA Entertainment de fabricar a rival da Barbie. A decisão foi divulgada somente nesta sexta-feira (5/12).



A corte tomou a decisão depois que a Mattel, a maior fabricante de brinquedos do mundo e criadora da Barbie, ganhou uma causa de infração de copyright contra a MGA em agosto.

Uma juíza federal da Califórnia proibiu a MGA de vender e produzir todos os 40 modelos de bonecas multi-étnicas que fazem parte da linha Bratz.

Mas deu prazo à MGA para retirar suas bonecas de todas as lojas logo depois do Natal.

No processo, que se arrastou por meses, o designer Carter Bryant foi considerado culpado por ter desenvolvido a boneca Bratz para a MGA, enquanto ainda trabalhava para a Mattel.

A MGA já apelou, alegando que isso afetará muito a empresa, já que a Bratz é o brinquedo mais vendido da companhia. Em junho, as vendas da Bratz atingiram US$ 3,1 bilhões nos EUA desde o lançamento em 2001. As vendas da Barbie, ainda o brinquedo mais popular da América, caíram 15% em 2007.

A Mattel acha que a rival MGA não deveria lucrar em cima da desonestidade. A empresa já ganhou indenização de US$ 100 milhões em agosto, por conta da quebra de direitos de copyright e mais US$ 90 milhões por quebra de contrato. Se a MGA não conseguir recorrer a tempo, a Mattel pode usar a decisão como base para tirar as Bratz das prateleiras de todas as lojas do mundo.

A marca Bratz tem sido responsável pela queda nas vendas da Barbie desde seu lançamento em 2001. De acordo com números não oficiais, as bonecas Bratz respondem por 40% do mercado total de bonecas nos EUA.

Em 2005, as vendas globais dos produtos Bratz alcançaram US$ 2 bilhões.

Ídolos & Heróis – E da reportagem de capa da Época deste fim de semana escolhemos a Claudia aí abaixo dentre os brasileiros destaques de 2008

Claudia Leitte

Claudia Leitte é um clássico da miscigenação brasileira. Meio carioca e meio baiana, é uma pessoa do mundo.

Tem o maior suingue negro-afro, canta com percussão de forma única. Ao mesmo tempo, tem aquele rostinho de mulher da Baixa Escandinávia. Só o Brasil consegue produzir alguém como Claudia Leitte.

Ela é a prova de que o preconceito não pegou na música brasileira. Claudia expõe a cultura da Bahia de forma elegante e contemporânea.

Afirma para o Brasil que a música do país é a melhor para ser ouvida no mundo inteiro. Além de tudo, é corajosa: é muito difícil, com sua ascensão atual, conceber uma criança. Claudia é um orgulho para a Bahia. Feliz tudo para Claudia!

Carlinhos Brown, cantor e compositor


06 de dezembro de 2008
N° 15811 - NILSON SOUZA

Por que corremos?

Não gosto de dezembro. Sei que é um mês igual aos outros, tem chuva e sol, tem dias iluminados e sombrios, tem noites escuras e estreladas. Esta semana, inclusive, fomos contemplados por uma magnífica conjugação da Lua com Júpiter e Vênus, formando um desenho inesperado e lindo no céu do Rio Grande.

Minha bronca, portanto, não é com a natureza deste mês que foi colocado no final do calendário por pura convenção.

O problema são as pessoas. Elas enlouquecem no último mês do ano. Correm como se o mundo – e não o ano – fosse acabar. Ficam nervosas, brigam no trânsito, empurram-se nas lojas, compram o que não precisam, cometem excessos, bebem demais e raciocinam de menos.

Os habitantes de dezembro são uns trogloditas.

Melhor dizendo, são demasiado civilizados. Outro dia li um texto sobre nossos ancestrais pré-históricos e concluí que eles eram bem mais parceiros e solidários do que o homem moderno.

Até por necessidade, para se proteger dos perigos daqueles tempos primitivos, para enfrentar animais ferozes e o medo do desconhecido, formavam grupos, ajudavam-se mutuamente. Embora dependessem da força física para sobreviver, aprenderam a ser criativos e habilidosos.

Basta imaginar, por exemplo, o primeiro homem que dominou a arte de fazer fogo, debruçado sobre um montinho de palha, assoprando levemente para que a faísca resultante do atrito das pedrinhas virasse a chama que ele, orgulhosamente, transformaria em fogueira para aquecer a tribo.

Quem teria paciência para uma proeza dessas neste mundo de tecnologia, urgência e competição?

Já ouvi dizer que as pessoas correm desta maneira no período de festas na ilusão de alcançar uma miragem fugidia chamada felicidade. Por isso, forçam confraternizações, tentam participar de todas as baladas, obrigam-se a trocar presentes e votos de sucesso. A maioria, porém, alcança apenas a frustração.

Talvez pela singela razão de que a verdadeira felicidade é feita de tênues momentos de paz, de breves instantes de ternura familiar, de pequenas gentilezas entre amigos. Na inevitável escaramuça de dezembro, quase não nos sobra tempo para a simplicidade.

O consolo é que o mês da ansiedade passa como um trem de alta velocidade. Querendo ou não, somos todos passageiros. E a alternativa que nos resta, como ensinou Mario Quintana, é seguir em frente, jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Aproveite o sábado - Um excelente fim de semana com muito sol aí dentro de você e lá fora.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008



03 de dezembro de 2008
N° 15808 - MARTHA MEDEIROS


Se “acham” e se perdem

Tem se falado muito em Woody Allen em função do sucesso que Vicky Cristina Barcelona tem feito, e também por causa do livro de entrevistas que acaba de ser lançado, em que o jornalista Eric Lax reúne, em quase 500 páginas, as diversas conversas que teve com o diretor desde que ele começou a dirigir seus primeiros filmes, há mais de 40 anos. Estou lendo o livro e percebe-se que Allen, nessa longa trajetória, mantém-se o mesmo sujeito desencanado.

Desencanado? Aquele paranóico?

Não estou falando das neuras, fobias e ansiedades que o diretor nunca escondeu de ninguém e nas quais se baseou para criar roteiros formidáveis. Estou falando sobre ser desencanado da fama.

Desencanado dessa necessidade que tantos artistas têm de se apresentar ao mundo como semideuses. Woody Allen só marcou presença na capa das revistas de fofoca uma vez: quando se separou da atriz Mia Farrow para se casar com a filha adotiva que essa teve com o primeiro marido.

A asiática Soon-Yi era uma adolescente, e o escândalo estava armado. Woody Allen foi tratado como pedófilo e apostava-se que a tara seria passageira, mas o casal segue junto até hoje e os ânimos se acalmaram: não era tara, era amor. Que decepção.

Afora esse episódio polêmico, Allen é notícia apenas pelos seus filmes. Não freqüenta baladas e não tem o ego inflado. Ao contrário: sua maior excentricidade é ser tímido e se espantar quando o chamam de gênio.

Cada vez me convenço mais de que aqueles que são gênios são os únicos que conseguem prescindir da autopromoção excessiva e manter-se com os dois pés fincados no solo. É por duvidarem de si mesmos que evoluem a cada dia.

Esse assunto me ocorreu porque, numa recente viagem a trabalho, passei 24 horas em companhia de uma produtora de eventos e ouvi histórias incríveis.

Soube de atrizes de terceiro escalão que cobram R$ 70 mil para fazer a apresentação de um seminário (um boa-tarde na entrada e um boa-noite na saída:

R$ 70 mil!), atores mal saídos das fraldas que exigem mordomias de veteranos, sem falar no que a gente sabe pelos jornais – atrizes histéricas pela falta de comida light no camarim e megastars exigindo que troquem todos os assentos dos vasos sanitários por onde irá passar com sua turnê – e nada de comida nativa, eca.

Podem? Claro. A graça da coisa talvez seja essa. Já que são perseguidos por paparazzi, já que têm sua vida íntima investigada, já que não podem caminhar num parque sossegados, compensam agindo como seres de outro planeta e tendo acessos risíveis de megalomania.

Mas eu ainda prefiro rir das piadas inteligentes que Woody Allen insere em seus filmes, aqueles que ele dirige entre um acesso de modéstia e outro.

Aproveite o dia - Tenhamos todos uma ótima quarta-feira

sábado, 29 de novembro de 2008



30 de novembro de 2008
N° 15805 - MARTHA MEDEIROS


Capturados

Um dos DVDs mais legais a que assisti este ano foi A Vida por Trás das Lentes, documentário sobre a carreira da fotógrafa americana Annie Leibovitz.

Tive a oportunidade, também, de ver em Paris a exposição que registra todas as fases de sua trajetória, começando pelas fotos que fazia da família, passando pela fase roqueira (quando foi a principal fotógrafa da revista Rolling Stones), até a consagração na Vanity Fair.

Considero fotografia uma arte, pela capacidade que tem de capturar a alma do fotografado e revelar a nós algo que nosso olho não consegue enxergar.

Lembro que, na minha infância, meu pai não deixava passar um único evento sem fotos: Natal, aniversários, piqueniques na praia. Click, click, click.

Ficávamos um tempão parados, eu, meu irmão e minha mãe, três estátuas sorridentes, esperando o momento de ele encontrar o melhor ângulo, o melhor foco, a melhor luz, para então clicar. Máquina digital, naquela época, era coisa da família Jetson.

Também tirei muitas fotos de minhas filhas quando eram pequenas e guardo inúmeros registros de viagens e de alguns passeios, encontros, momentos que não acontecem todo dia.

Até aí tudo dentro de uma certa normalidade, e sou tendenciosa como todos: a gente acha que só a maneira como vivemos é que é normal. Mas o normal evoluiu muito de uns tempos pra cá.

Hoje, com um celular na mão, você documenta partos, tsunâmis, incêndios, transas, shows e crimes cometidos bem na sua frente. Inclusive, algum crime por ventura cometido por você.

Me pergunto: se você não documentar suas experiências e emoções, elas deixam de existir? Você deixa de existir? Não deveria, mas dá a impressão que sim.

Num surto catastrofista, imagino que em breve deletaremos da nossa memória tudo aquilo que não estiver documentado. Se eu quiser lembrar de uma viagem ou de uma festa, não conseguirei, a não ser que a tenha fotografado e filmado.

O momento em que seu namorado lhe pediu em casamento, aquela caminhada que deu sozinha à beira-mar, o mergulho noturno, o café da manhã na cama enquanto viam um filme do Chaplin, a declaração de amor no meio da estrada – se você não fotografou nada disso, será que aconteceu mesmo? Você ainda consegue lembrar da vida sem a ajuda de aparelhos?

Minhas duas últimas viagens ao Exterior foram feitas sem máquina fotográfica ou celular na bagagem. Fui e voltei sem uma única foto, o que para muitos talvez signifique “ela não foi”. Mas fui. A vida também acontece sem provas documentais.

Ainda Annie Leibovitz: entre seus inúmeros flagrantes, constam os momentos finais de seu pai e da escritora Susan Sontag, as duas pessoas que ela mais amou. As fotos de ambos, cada um na sua hora, agonizando, estão na exposição e no DVD.

Annie Leibovitz é uma artista, e suas lentes são seus olhos, ela não dissocia vida e trabalho, mas admito que senti, mesmo havendo consentimento dos fotografados, uma invasão na intimidade mais secreta de cada um, que é a solidão. Louvável como registro jornalístico, mas desnecessário como despedida pessoal.

Tudo isso para dizer que certas ocasiões ainda me parecem suficientemente fortes para resistirem intactas na nossa lembrança, e apenas nela.

Um ótimo domigo e um excelente início de semana.


Administradores de esquerda

"Em 500 anos de história, nunca tivemos equipes de administradores elaborando programas de governo"

Quando elogiei uma declaração de Dilma Rousseff, em VEJA de 21 de março de 2007, usei a expressão "administradores de esquerda", que intrigou muita gente.

Principalmente aqueles que pensam só existir administradores de direita. Achar que só existem administradores de direita no mundo é um preconceito e um insulto aos 2 milhões de administradores deste país. Para começar, administração é uma ciência neutra, como a engenharia e a medicina.

O que não impede que haja administradores de direita, de esquerda e de centro-esquerda, como de fato acontece. Em segundo lugar, há tempos existe no Brasil a carreira de administração pública, que de direita não tem nada.

De fato, administradores de direita são encontrados em empresas controladas por empresários de direita. Mas a maioria dos administradores é de centro e centro-esquerda, embora nem todos se definam assim.

São aqueles que administram empresas "sem dono", são aqueles que administram empresas de capital aberto e democrático, são os administradores socialmente responsáveis, que estão crescendo em número e poder. Foram eles que lutaram pela pulverização do capital, enfraquecendo assim o controlador capitalista, que foi a primeira ação da esquerda de fato vitoriosa.

Foram os primeiros a criar fundos de aposentadoria para trabalhadores, que hoje controlam 40% do capital americano. Foram os primeiros a criar planos de saúde aos trabalhadores. Foram os precursores do movimento de responsabilidade social das empresas brasileiras.

Ilustração Atômica Studio

No 3° Congresso Internacional de Responsabilidade Social de 1998, havia somente três administradores representando o Brasil.

Este seu colunista, o administrador Oded Grajew, criador do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, e Henrique Meirelles, mais um desses administradores (do Coppead, Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Federal do Rio de Janeiro) injustamente tachados de ser de direita.

Se Meirelles fosse de direita, não aceitaria um cargo no governo do PT, muito menos seria precursor de um movimento de humanização das empresas como esse.

Um dos grandes erros da Revolução Socialista de 1917 foi que ela eliminou, destituiu e expulsou todos os administradores da União Soviética. Dizimaram o segundo escalão da nação. Machiavel recomendava eliminar somente o primeiro escalão.

"Em meados de abril de 1918 os administradores haviam sido totalmente eliminados", orgulha-se um historiador da revolução de 1917, já que eles eram considerados lacaios do capitalismo. Acabaram também com todos os gerentes, supervisores, chefes de seção, bem como contadores e auditores, considerados "espiões" do capitalismo. O restante fugiu a tempo.

Incentivaram a autogestão, o que supõe que administradores não acrescentam valor algum à sociedade. Destruíram os sistemas de avaliação de desempenho, e a produção despencou logo em seguida. Foi esse erro que deu início à desorganização e à corrupção que ainda persiste na Rússia.

O erro foi esquecer que o socialismo precisa ser tão bem administrado quanto o capitalismo, algo que muitos intelectuais brasileiros também esqueceram. Muitos nem sequer conhecem um único administrador.

Nos Estados Unidos, a esquerda americana encabeçada por Harvard fazia justamente o contrário. Criava uma escola de administração em 1908 para formar e apoiar o "administrador socialmente responsável". Incentivaram e deram prestígio àqueles que fariam a oposição ao empresariado capitalista da época.

Infelizmente, o Brasil seguiu a linha da esquerda soviética e não a da esquerda americana. Nossos intelectuais, em vez de apoiar, demonizam o administrador nos seus textos, na mídia, nas novelas, retratando-os como fordistas, desumanos e "lacaios do capitalismo".

Movimentos sociais que alijam administradores do seu seio estão fadados ao fracasso. Por incrível que pareça, nunca tivemos equipes de administradores elaborando programas de governo, em 500 anos de história.

A esquerda raramente coloca administradores de esquerda e centro-esquerda para ser ministros, para administrar este país. Algo que a esquerda brasileira, a mais moderna pelo menos, deveria seriamente repensar.

Stephen Kanitz é administrador - www.kanitz.com.br
"Quero fazer muito sexo”

Com esse anúncio, publicado num jornal, uma sexagenária atraiu 63 interessados – e realizou o desejo com quatro deles
Martha Mendonça

JANE

Hoje, com 75 anos, ela afirma que não precisa mais publicar anúncios para fazer sexo – mas diz ter se divertido muito com os parceiros que atenderam a seu apelo

A professora aposentada Jane Juska tinha 66 anos e um jejum sexual que durava três décadas quando decidiu publicar um anúncio incomum num jornal de literatura de Nova York: “Antes de completar 67 anos – no próximo mês de março –, eu gostaria de fazer muito sexo com um homem de quem eu goste”.

Jane, então divorciada e já com um filho adulto, imaginou que no máximo dois ou três homens dariam retorno. Mas sua caixa postal recebeu 63 respostas. Ela escolheu alguns dos candidatos e marcou encontros para conhecê-los pessoalmente.

Fez sexo com quatro deles (um de cada vez). O ato de coragem só não foi maior que, anos depois, contar suas aventuras no livro Uma Mulher de Vida Airada – Memórias de Amor e Sexo depois dos 60 (Editora Rocco), que chega ao Brasil nesta semana.

Jane afirma que antes de publicar o anúncio se perguntava se nunca mais teria um homem – e essa dúvida fez soar um alarme.

“A maioria das pessoas de idade, em especial as mulheres, têm medo de correr riscos”, diz. “Preferi agir a esperar que alguma coisa acontecesse”. Antes de publicar o anúncio, ela havia tentado outras formas de despertar o interesse em potenciais parceiros. Freqüentou bares e festas, em vão.

Quando percebeu que a idade não era sua aliada numa paquera, desistiu. Ela diz ter acreditado que era melhor o celibato que a humilhação. A ousadia de publicar o anúncio mudou sua vida.

Quando as respostas dos pretendentes começaram a chegar, Jane teve o luxo de poder escolher. Ela separou as cartas, como conta no livro, em montinhos de sim, não e talvez.

Escolheu os mais originais e equilibrados – já que sua caixa postal recebeu até mensagens pornográficas e fotografias de nu frontal.

Em pouco tempo, ela deixou de lado a educação vitoriana do Meio-Oeste americano, a dor dos fracassos amorosos, os problemas de excesso de peso e da queda pela bebida para seguir até o aeroporto onde esperaria o primeiro candidato.

“Foi o momento em que tive mais medo. Quase desmaiei quando vi que ele carregava uma caixa com objetos que faziam barulho. Pensei: ‘São brinquedos sadomasoquistas!’. Depois, descobri que eram garrafas de vinho”, diz.

O parceiro mais jovem que ela encontrou tinha 32 anos e era a cara de David Duchovny, de Arquivo X

Depois de Jonah, de 82 anos – o primeiro –, não parou mais com os encontros. Jane não mede palavras para relatá-los.

Um dos candidatos, mal se apresentaram, pegou em seu traseiro. Outro pediu que ela apoiasse seus seios na mesa do restaurante – e os apalpou. Houve até quem tenha roubado sua calcinha.

Ela também fala de masturbação e gosta de expor seu desejo pelo sexo masculino, fazendo referências ao corpo dos homens, em especial o traseiro.

A maioria deles beirava ou passava dos 60 anos. Mas houve Graham, de 32, segundo ela um sósia do galã David Duchovny, de Arquivo X, que depois se tornou um grande amigo.

“Eu me diverti muito”, afirma. No meio de tanta diversão, apaixonou-se. Robert, porém, tinha outro relacionamento – além de dores insuportáveis na coluna, o que tornava o sexo mais difícil.

Uma Mulher de Vida Airada não fala só dos encontros sexuais de Jane, mas de sua vida e escolhas.

Do relacionamento com os pais à paixão pela literatura, do divórcio às aulas de redação para presidiários, Jane dá o pano de fundo para a maior aventura de sua vida, mostrando que a terceira idade não precisa ser um tempo apenas de renúncias e lembranças.

Hoje, aos 75 anos e colhendo os frutos de seu livro, lançado no mundo inteiro, ela diz que continua em atividade. “Já não preciso mais de anúncios”, afirma.


ERROS CLÁSSICOS

Tenho espírito maligno. Adoro os erros dos outros. Especialmente os erros dos filósofos clássicos. Adoro lembrar detalhes sórdidos citados por um historiador secundário chamado Will Durant.

A humanidade, mesmo nos seus melhores momentos, foi terrível. Em Atenas, até hoje elogiada por sua democracia, de 400 mil habitantes, 250 mil eram escravos. Mulheres e estrangeiros também não contavam.

Aristóteles, o primeiro grande observador científico, achava que o homem possui oito costelas de cada lado. Já a mulher teria menos dentes que o homem. Talvez o homossexualismo dominante entre os gregos explique essas falhas de pesquisa de campo do gênio.

Spinoza, um dos filósofos mais em voga atualmente, via no medo e na esperança as explicações para as ações humanas. Era um determinista.

Apesar disso, considerava importante castigar os hereges, 'sem ódio', sendo importante, depois, perdoá-los por serem ignorantes. Meu filósofo predileto, o mal-humorado Schopenhauer, via as mulheres como seres de cabelos compridos e idéias curtas. O amor, segundo ele, é o resultado da ação dos instintos em busca do parceiro ideal para a reprodução.

Cada um procuraria no outro aquilo que não tem para legar ao rebento. As mulheres, tendo beleza, buscariam nos homens, mesmo feios, coragem, energia, determinação e atitude.

Schopenhauer não podia imaginar uma sociedade na qual o sexo, protegido por anticoncepcionais, não estivesse voltado para a reprodução.

Nos estudos sobre a metafísica do amor, o filósofo definiu que os homens preferem mulheres entre 18 e 28 anos, faixa ideal para ter filhos, com bom esqueleto, fundamental para carregar um filhote, mesmo com um rosto feio. Já as mulheres teriam predileção por homens de 35 anos, com uma boa situação financeira.

Pés pequenos e dentes fortes também contariam muito, pois os dentes, bem entendido, permitem uma boa alimentação.

Pobre filósofo, não podia prever a era das top models. Mulheres muito altas estavam para ele entre as menos admiradas pelos homens. Errou feio. Salvo se, como dizem as más línguas, a valorização das taquaras seja típica dos heterodoxos que mandam na moda.

Boa parte do que Schopenhauer escreveu não se aproveita. Basta pensar nesta pérola: 'Foi necessário que a inteligência do homem se achasse obscurecida pelo amor para que chamasse belo a esse sexo de pequena estatura, ombros estreitos, ancas largas e pernas curtas'.

Em contrapartida, afirmou que a vida de cada um oscila entre a dor e o tédio. O grande mal que tortura cada homem é o desejo. Só aquilo que não se tem alcança valor incontestável.

'Sentimos a dor, mas não a ausência da dor. Sentimos a inquietação, mas não a ausência da inquietação, o temor, mas não a segurança. Sentimos o desejo e o anelo como sentimos a fome e a sede.' Schopenhauer vai ao extremo: 'Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo me esfacelaria o coração'.

Garante que, se o criador fosse um demônio, não faltaria um acusador para dizer-lhe: 'Como ousaste interromper o repouso sagrado do nada para fazer surgir uma tal massa de desgraça e de angústias?'. Toda essa amargura é o resultado da falta de amor materno.

A mãe de Arthur só queria fazer festa. Schop não viu sereia alguma num doce balanço a caminho do mar. A simples vista de Gisele Bündchen teria mudado metade da sua filosofia. Mas acertou, como sabem os publicitários, no essencial: o ponto frágil da humanidade é o desejo.

juremir@correiodopovo.com.br

Um ótimo sábado e um excelente fm de semana - Gostei do texto endosso as palavras do Juremir


29 de novembro de 2008
N° 15804 - A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR


A história de um estigma

Porto Alegre sediou, nesta semana, um importante evento médico, o Congresso de Hansenologia. Congresso de quê? – estranharão vocês. Hansenologia é a parte da medicina que estuda a hanseníase, o termo científico para lepra.

Por disposição legal, no Brasil esta última palavra não pode ser usada em documentos oficiais. Isto reflete a existência de um dos mais antigos estigmas da história da humanidade.

O Antigo Testamento menciona uma doença conhecida como tzaraat, palavra em geral traduzida como lepra, ainda que outras doenças de pele pudessem estar incluídas neste rótulo.

O diagnóstico estava a cargo do sacerdote; médicos à época não eram figuras muito freqüentes e nem muito confiáveis. Além disso, o diagnóstico da lepra não era exatamente um procedimento médico; nenhum tratamento, mesmo tentativo, era instituído. O objetivo era rotular o paciente como “puro” ou “impuro”.

E, se se tratava de “impureza”, via-se nas lesões a evidência do castigo divino do qual a pele era um alvo habitual. Por que a pele? Em primeiro lugar, porque a pele é visível. Uma doença dos rins, por exemplo, dificilmente serviria como estigma. As lesões da hanseníase, às vezes deformantes, saltam aos olhos.

Além disso, trata-se de doença contagiosa (muito pouco contagiosa, mas contagiosa, de qualquer maneira) de modo que contrai-la levantava a suspeita de contato corporal – de sacanagem, em outras palavras.

Que o tabu funcionou, mostra-o o fato de que o cristianismo também o endossou.O modelo de diagnóstico era semelhante ao do Antigo Testamento, mas ficava a cargo de uma comissão, composta de um bispo, vários clérigos e também um leproso, considerado especialista na matéria.

Rotulado o examinando como leproso, procedia-se ao processo de exclusão: ele era envolto em uma mortalha, e rezava-se uma missa de réquiem; os presentes jogavam terra sobre o excluído que era conduzido a um dos muitos leprosários (quase 20 mil na Europa), administrados e cuidados por ordens religiosas.

O leprosário de Itapoã, aqui no RS, surgiu relativamente tarde, em 1940, e hoje está praticamente desativado.

Com o final da Idade Média, e por razões que não são bem claras, o problema da lepra diminuiu consideravelmente. No final do século 19 foi identificado, pelo cientista norueguês Gerhard Armaur Hansen (daí o nome hanseníase) o bacilo causador da doença; a partir daí desenvolveu-se um tratamento que, na imensa maioria dos casos, resulta em cura.

Mas o estigma persistiu por algum tempo e gerou a medida politicamente correta de evitar a palavra lepra. O que causou alguns problemas. Os pacientes não sabiam o que é hanseníase, e o médico tinha de traduzir: “É a antiga lepra”. Ou seja: de alguma forma a palavra era dita.

Estigmas vêm e vão, e disto temos vários exemplos. Num passado ainda recente, a palavra “colono” era depreciativa; hoje é motivo de orgulho. A eleição de Barack Obama pode ajudar a acabar com o tom pejorativo com o qual os racistas pronunciavam a palavra negro.

É uma lição que a história nos ensina: de alguma maneira, a humanidade avança. Avança graças à ciência, avança graças ao bom senso. Aos poucos, trocamos o estigma pela lógica. O que é um benefício para muita gente.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008



A PROFESSORA E A FAXINEIRA

Era uma vez um estado que se considerava culto, politizado e desenvolvido. Acima da média das demais unidades da Federação. Um dia, uma professora e uma faxineira encontraram-se numa parada de ônibus. A professora estava triste. Ganhava pouco.

Lamentava, com o cartão eletrônico, não poder mais vender as fichas de ônibus para arredondar o fim do mês. O governo não queria pagar o piso nacional fixado em lei para o magistério.

Ela havia seguido os colegas numa greve desesperada de final de ano. Por causa disso, estava prestes a perder 15 dias do seu parco salário. O governo fazia a chantagem de sempre e jogava a sociedade contra os professores, alegando prejuízo às crianças. A faxineira perguntou:

– Quem é mais importante para a sociedade, eu, que deixo uma casa como um brinco, passo, lavo e, muitas vezes, cozinho, ou quem ensina nossos filhos a ler e a escrever?

A professora hesitou. Não queria ofender a faxineira. Mas estava convencida de que o seu papel era mais importante. Afinal, estudara para exercer a sua profissão, da qual toda a estrutura social depende.

– Eu também passo, lavo, cozinho e deixo a minha casa como um brinco – disse a professora em tom conciliador. – Faço isso depois de ter ensinado um dia inteiro.

– Não seja por isso – emendou a faxineira. – Eu também tenho uma dupla jornada de trabalho. Passo, lavo e cozinho para a minha família depois de ter passado, lavado e cozinhado para a família dos outros.

– Não duvido disso – admitiu a professora. – Mas as coisas têm valores diferentes. Cada atividade tem a sua função social. Mas existem diferenças e hierarquias.

– Eu ganho R$ 80,00 por faxina, chego a fazer duas num dia, não dependo do Estado e não levo trabalho para casa – disparou a faxineira, que era meio neoliberal e completamente cética.

– Quanto você ganha por dia? A professora ficou vermelha. Gaguejou. Fez as contas. Finalmente, muito constrangida, confessou:
– Bem, com a complementação, ganho uns R$ 30,00 por dia.

– E você teve de estudar pra ganhar 30 pilas por dia? Não tem lógica esse negócio. Como pode ganhar menos quem se preparou mais? Por que não faz faxina? Tem vergonha?

Chocada, a professora teve um sobressalto de dignidade. Empertigou-se. Por fim, defendeu-se chorosa: – Eu amo o meu trabalho. Nasci para isso. É uma missão. – Enquanto pensar assim, vai ganhar menos.

– As duas coisas são verdadeiras. O magistério é profissão e missão. Mesmo que o salário seja baixo, continua sendo uma atividade especial, que exige amor.

A faxineira sorriu. Havia algum cinismo no seu sorriso. Não se pode confiar em faxineiras neoliberais.

– Vai ver que sou faxineira por isso. Não entendo essa história. Todo mundo diz que a educação é tudo, mas os professores ganham menos do que nós.

Nunca ouvi alguém falar que ser faxineira é um sacerdócio, uma missão ou atividade essencial. Ninguém nos dá valor em discursos. – É uma questão complexa. Somos muitos professores...

– Policiais e professores deviam demitir-se em massa – radicalizou a faxineira, que era também meio anarquista e de faca na bota. – Se não tiver professor e policial, os salários vão aumentar. A sociedade vai acordar.

Foi a vez de a professora rir com certo cinismo. Não disse coisa alguma por elegância. Limitou-se a pensar: – Como são ingênuas as faxineiras e cruéis os governantes.

juremir@correiodopovo.com.br

quarta-feira, 26 de novembro de 2008



26 de novembro de 2008
N° 15801 - MARTHA MEDEIROS


Saga Lusa

O que Chico Buarque, Vitor Ramil, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Thedy Correa, Duca Leindecker, Fernanda Takai, Gabriel o Pensador, Kledir Ramil e Nei Lisboa têm em comum? Acertou, são escritores. Todos eles lançaram livros, já que são familiarizados com a palavra desde que iniciaram aquela outra atividade, a música.

Há quem torça o nariz: agora qualquer um escreve! Sorte deles, porque não é qualquer escritor que pode fazer o caminho inverso: subir num palco e cantar direitinho.

Pois abram alas para mais uma forasteira no mundo das letras: Adriana Calcanhotto acaba de lançar Saga Lusa, uma viagem lisérgica que narra os dias em que saiu da casinha durante uma turnê em Portugal, tudo por causa de uma overdose de remédios que quase lhe custou a vida – mas que espertamente, ela “curou” com literatura da boa.

Quando eu digo por aí que escrever é terapêutico, sei que estou chafurdando num clichê mais que reprisado, mas o que é um clichê senão uma verdade mil vezes repetida? Escrever cura. Só que nem todo ser humano que se aventura nesse tipo de tratamento consegue um resultado acima da média.

Muitas vezes, o jorro de palavras deve ser mantido no anonimato, o que se quer apenas é que a catarse ajude a recuperar a saúde mental perdida. Mas quando vale a pena compartilhar, ave! Que a arte seja espalhada.

O livro de Adriana é uma viagem no melhor dos sentidos – ao menos para nós, leitores, porque para ela foi violento. Dias inteiros sem dormir, dificuldade de comunicação, o pânico de não conseguir “voltar”, pesadelos, delírios, shows cancelados e Lisboa vista por trás da janela de um hospital, sem poder ser desfrutada – perder a consciência nem sempre é um barato, pode ser um tremendo desconforto.

Mas Adriana tinha duas armas poderosas contra suas alucinações: bom humor e um laptop. E se pôs a escrever tudo o que estava lhe ocorrendo, de uma forma tão divertida, que a gente até pensa: essa guria está inventando. Não estava, mas se estivesse, maior ainda o seu mérito.

Adriana é elegante em suas composições e demonstra, com Saga Lusa, ser elegante também em suas decomposições.

Desestruturada, maluca, revoltada, não importa: consegue rir de si mesma e isso é a prova maior da grandeza de uma pessoa, qualquer pessoa. É nessas reações de humor e inteligência diante do desconhecido que se pode dizer: o mundo tem jeito.

Muita água, muita calma nessa hora, e tudo se resolve. Olha, Adriana, não chego a desejar outros surtos reais, mas os irreais podem ser provocados sem danos à sua integridade. Cante e escreva: esgote-se em seu incrível talento.

Nico Nicolaiewsky ainda não escreveu nenhum livro, mas enquanto não entra pra turma, aproveite que ele está de volta ao Theatro São Pedro com o show Onde Está o Amor?, no próximo sábado e domingo. Uma viagem, também.

Aproveite a quarta-feira - Um excelente dia para você.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008



24 de novembro de 2008
N° 15799 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


O colecionador de livros

Os escritores são alvo preferencial de perguntas indiscretas.

São as que me faz Y., uma leitora que quer saber como trato minha biblioteca, como a formei e se compro livros ou ganho. Y. pretende organizar sua própria biblioteca e acha que sou uma espécie de autoridade na matéria, por causa de uma crônica que escrevi aqui o outro dia.

Ledo engano, Y. Para começo de conversa, minha biblioteca é herdada. Tive um pai e uma mãe que amavam os livros, e uma das primeiras paisagens que guardo na memória são arranha-céus impressos ocupando todo um escritório da casa da Rua Sete, em Cachoeira.

Como muitas dessas obras eram de Direito, acabaram desterradas em sucessivas mudanças.

Mas por essa altura eu já tinha sido contaminado pelo vírus do colecionador. Tudo o que sobrava das mesadas, ou, mais tarde, dos primeiros salários, era gasto, em ataques de invencível prodigalidade, nos balcões das livrarias.

Cheguei a morar num apartamento em que peças inteiras, mais os corredores, eram tomados por fatias da literatura universal.

Ao me mudar para este em que vivo, tomei uma resolução heróica. Reservei um único lance para as prateleiras. Foram todas construídas a capricho – sem esquecer vidros protetores – por um emérito carpinteiro desta praça.

Aí sucedeu o drama. O número de meus livros era superior ao espaço disponível nas estantes, problema que resolvi da forma mais simples.

Elegi os volumes de que não queria me separar – uma das decisões mais difíceis de minha vida de leitor – e doei os restantes para escolas e para o Mensageiro da Caridade.

Hoje meus livros passam bem, obrigado, Y. São disciplinadamente divididos pelo país de origem, por gênero, por época e por autor.

Sei onde está cada um nas ordenadas fileiras que vão do chão ao teto. Ganho muitos de presente, mas não perdi o vício de comprar outros tantos. Faço novas doações de tempos em tempos.

Algum dia não haverá lugar para mais. Mas te prometo desde já, Y., que não faltará espaço para a tua primeira coletânea de poemas.

Ótima segunda-feira e uma excelente semana

sábado, 22 de novembro de 2008



23 de novembro de 2008
N° 15798 - MARTHA MEDEIROS


De biquíni no shopping

Lá nos idos de 1997, quando alguns dos meus leitores ainda eram crianças, eu escrevi uma crônica chamada Provação, uma palavra que significa sofrimento e infortúnio. E o assunto era era sobre isso mesmo. Sobre a provação (ato de provar) biquínis em lojas. Sofrimento. Infortúnio.

Se eu precisasse fazer uma lista das coisas que menos gosto na vida, ela não seria muito extensa, pois vim ao mundo com uma boa dose de benevolência, mas “experimentar roupa” certamente constaria desse rol.

Por exemplo, já me apaixonei por alguns vestidos expostos nas vitrines, porém não costumo levar o caso de amor adiante: só de imaginar o ritual de aproximação me dá uma preguiça oceânica.

Ter que entrar numa cabine, tirar os sapatos, a calça, a camiseta, o blusão (imagine que é inverno), colocar a peça nova sem poder retirar a etiqueta, a atendente esperando ansiosa do outro lado da cortina, a luz estourada do provador realçando todas as deficiências da sua epiderme, o espelho não sendo muito caridoso com seus quadris (engraçado, ontem eu não estava assim redonda) e seus pensamentos avisando: você não tem bolsa que combine com esse vestido, criatura!

Esqueça, não serviu. Tire tudo, recoloque seus muafos (suas roupas envelheceram 10 anos nos últimos 10 minutos), enfrente a cara de decepção da atendente e volte correndo pra casa. No trajeto você lembrará: que gênia eu sou, sigo sem um único trapo para usar hoje à noite, e a festa é lá em casa, pra que bolsa?

Tudo café pequeno diante da tarefa inglória de provar biquínis. Sei que você não quer falar sobre isso, mas é preciso, estamos em plena época do suplício, o verão está batendo à porta. Aposto 10 contra um que você passará o Réveillon em alguma praia. Vai ter que comprar pelo menos um biquíni novo. Unzinho só. Não dá pra escapar.

Então, ao trabalho: coloque um sorriso no rosto e finja que é a coisa mais normal do mundo ficar nua dentro de um provador minúsculo forrado de espelhos por todos os lados, mostrando você de frente, de costas e de lado em sua infinita brancura glacial. Sim, você ainda não está bronzeada.

Segue leitosa, o que não valoriza nada o biquíni que está provando, mas tudo bem, abstraia, pense que é final de fevereiro e que até sua alma já está torrada. Agora é só torcer para que a parte de cima sirva e a parte de baixo também, o que é praticamente um milagre.

Eu abençôo todas as lojas que vendem as partes do biquíni de forma avulsa, permitindo que a gente misture estampas e troque os tamanhos. P em cima, GG embaixo. Acertei? Claro que não, logo se vê que me falta silicone – inclusive no cérebro.

Quem não nasceu Ana Hickmann aqui faz, aqui paga e aqui se diverte, porque só rindo de certas provações femininas.

Um excelente domingo especialmente para você.