quarta-feira, 30 de junho de 2010



30 de junho de 2010 | N° 16382
MARTHA MEDEIROS


Lady Gagá

Existe uma cantora com visual bizarro que, com apenas 24 anos, já vendeu 10 milhões de CDs e alcançou a marca impressionante de 180 milhões de visitas aos seus clipes no YouTube. Você sabe de quem estou falando, Lady Gaga, a original.

O que eu e ela temos em comum? Também ando ligeiramente bizarra, tanto que poderia adotar para mim o mesmo nome artístico, só que com acento agudo no último a. Lady Gagá.

Não saio por aí com uma lagosta na cabeça, como a referida popstar: minha única excentricidade é não saber mais quem é quem. Outro dia estava no súper, prosaicamente empurrando meu carrinho de compras, quando uma moça simpática passou por mim em sentido contrário e disse: “Bom dia, vizinha”.

Respondi com o melhor bom-dia que já ofereci a uma estranha, e não caí em prantos por uma questão de adequação, já que não convém chorar em supermercados, nem mesmo quando você não consegue mais ler os prazos de validade sem óculos. E tampouco com óculos.

Então ela morava no mesmo prédio que eu? Maravilha. Já devo tê-la encontrado uma dúzia de vezes no elevador, na garagem, na portaria, na reunião de condomínio, e não a reconheci. E ainda tenho a pretensão de que me julguem uma pessoa simpática.

Minhas amigas dizem que tenho que aceitar a realidade: sou considerada blasé por muitas pessoas, pois não as cumprimento na rua. E não adianta alegar que sou a pior fisionomista do globo terrestre, meus oponentes não querem saber de esclarecimentos. Só quem me conhece intimamente sabe que nasci com esse defeito de fabricação e me perdoa.

E quem me conhece superficialmente não percebe nada e por isso não me acusa – até que me encontre pela segunda vez e eu não o cumprimente.

Sim, já me sugeriram a mesma solução que você talvez tenha pensado agora: então por que essa criatura não cumprimenta todo mundo? Se eu estivesse interessada em me candidatar a presidente, quem sabe.

Já escrevi sobre esse assunto e volto a ele para tentar um habeas corpus, qualquer coisa que amplie meu prazo de soltura, antes que a Interpol me capture e me extradite para meu planeta de origem.

A verdade, nada além da verdade, é que eu tenho deficiência para reconhecer pessoas fora do ambiente em que as conheci, então se jantei num restaurante com um casal pela primeira vez, só irei lembrar deles no mesmo restaurante, e nunca na saída do Beira-Rio, e se fui apresentada a algum editor durante um evento literário, a chance de eu reconhecê-lo num ponto de táxi é menos que zero, e, querida vizinha, fora do nosso elevador social, eu estava em franca desvantagem, compreenda.

Sabedores disso, sigam confiando na minha educação e simpatia, mesmo que eu aparente ser uma ratazana insensível.

Tenham piedade dessa lady que já mal reconhece a si própria no espelho.

Lindo dia para vc. Aproveite a quarta-feira

terça-feira, 29 de junho de 2010



29 de junho de 2010 | N° 16381
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Receita de inverno

Neste inverno que está começando, não gostaria de desejar a mulher do próximo, por mais sedutora que ela me parecesse.

Não gostaria de invejar os amores felizes, por mais secretos que eles se mantivessem.

Não me agradaria cometer o pecado do arrependimento, porque no fundo sou um homem absolvido.

Não ousaria pedir um olhar da deusa que amo em silêncio.

Não projetaria nenhum grande plano, porque me servem os minúsculos com que se distrai meu coração.

Não abandonaria a leitura dos muitos livros que percorro, pois todos eles têm segredos a contar-me.

Não calaria a música que escuto ao entardecer, já que ela é a protofonia dos sonhos que virão com a noite.

Não deixaria de assistir ao filme em que se resumem todos os caminhos da imaginação.

Não esqueceria de telefonar à amiga que autossentenciou-se à solidão em seu branco apartamento indevassável.

Não me isentaria de escutar o concerto de todos os pássaros a cada manhã.

Não me cansaria de contemplar a magia plástica deste quadro que me dá a honra de sua companhia.

Não faltaria à peça de teatro em que o enredo e os personagens espelham a própria vida.

Não perderia a noção de que a existência é um caminho oculto, de que só nós temos a chave.

Não esqueceria os amigos, pois eles são a senha de nossa trajetória sobre a Terra.

Não olvidaria o passado, já que é o prumo de tudo o que somos e do que seremos.

Não desdenharia o presente, posto que é a singradura do que vivemos.

Não me inquietaria o futuro, porto seguro do amanhã que construo hoje.

Não me dariam saudades os idos amores, eis que se completaram em si mesmos em seus círculos perfeitos.

Não me inquietariam os amores de agora, ecos de sua suave irrealidade.

Não me preocupariam os amores de amanhã, reflexos de momentos ainda por desvendar.

Assim gostaria que fosse este inverno que está começando, íntegro e perfeito tanto quanto pode a circunstância humana.


9 de junho de 2010 | N° 16381
CLÁUDIO MORENO


Moral e civismo

Um juramento – Na Grécia antiga, a passagem para a idade adulta era marcada por várias cerimônias formais. Para se tornar cidadão, todo ateniense que completasse dezoito anos se obrigava, entre outras coisas, a fazer um juramento solene, diante dos deuses e dos homens.

Este belíssimo texto, do qual nos chegaram várias versões, rezava mais ou menos o seguinte: “Não desonrarei as armas de meus antepassados, nem abandonarei meu companheiro na batalha. Lutarei na defesa de nossos deuses e de nosso povo, até mesmo sozinho, se necessário.

Transmitirei a meus filhos uma pátria melhor e mais próspera que esta que agora recebo. Respeitarei as ordens dos magistrados e as leis que o povo decidir de comum acordo; se alguém ameaçar essas leis ou a elas desobedecer, eu as defenderei...” – e por aí afora. Sempre que leio essas linhas, sinto ao longe o raro perfume de flores já quase extintas.

Função dos governantes – Quando Demétrio conquistou a Macedônia, ninguém gostava dele. O povo não se queixava de suas roupas extravagantes nem do luxo supérfluo que mantinha no palácio, mas sim da extrema dificuldade em ter acesso ao novo rei para, como era o costume, apresentar-lhe seus pedidos de justiça. Certa feita, andando pelas ruas com sua comitiva, deixou-se cercar por populares entusiasmados, que aproveitaram a ocasião para lhe entregar suas petições.

Com ar alegre, o rei ia recolhendo todos aqueles pergaminhos na aba levantada de seu manto, e a multidão, encantada com a mudança, começou a segui-lo, entre risos e aplausos – até que ele chegou à ponte sobre o rio Axius e ostensivamente jogou todos aqueles rolos na correnteza.

Um dia, porém, teve o passo atalhado, na rua, por uma resoluta mãe de família que se pôs a implorar, insistentemente, que ele a ouvisse. “Não tenho tempo para isso”, declarou, desdenhoso – ao que ela retrucou, furiosa: “Pois então não seja rei!”. Essas palavras tocaram Demétrio de tal maneira que passou vários dias a receber, no palácio, todo cidadão que desejasse falar com ele – a começar, é claro, pela indignada cidadã que soube reivindicar seu direito.

O nome na lista – Alexis de Tocqueville, nas suas Recordações da Revolução de 1848, fez questão de incluir um incidente menor, mas extremamente significativo para quem estuda o caráter dos homens:

em meio àquela grande confusão social, os revolucionários, para anunciar ao povo a lista dos cidadãos que comporiam o Governo Provisório, foram pedir a um dos líderes, Lamartine, que lesse os nomes em voz alta, do topo da escadaria.

“Não posso”, disse ele. “Meu nome consta nela”. Procuraram então um tal Crémieux, a quem fizeram o mesmo pedido. “Vocês estão malucos”, respondeu, “se pensam que eu vou ler uma lista em que não aparece meu nome!”.

quarta-feira, 23 de junho de 2010



23 de junho de 2010 | N° 16375
MARTHA MEDEIROS


Parece, mas não é

Creio que já contei essa história umas sete vezes, mas vamos para a oitava: quando guria, participei de uma gincana escolar em que uma das tarefas era levar ao colégio um jogador de futebol de seleção.

Não me pergunte como, mas quando vi estava na casa do Figueroa, zagueiro do Inter, que na época defendia a seleção do seu país, o Chile. Ele combinou comigo que dali a uma hora estaria no Bom Conselho assinando sua presença para minha equipe.

Dei umas voltas e, quando cheguei ao colégio, soube que ele já havia estado lá e ido embora, mas garantiram que havia assinado para a equipe da Martha Medeiros – foi quando eu descobri que havia outra Martha Medeiros no colégio, que ficou com os pontos que eram nossos.

Minha primeira homônima não me deixou boas lembranças, mas agora tenho uma outra que rende histórias divertidas. Aliás, o verbo render está bem empregado aqui, pois ela é uma estilista de Maceió que usa renda na maioria das suas belas roupas, e ela está cada dia mais famosa, tem loja em São Paulo e suas criações já estamparam editoriais da Elle, Vogue e outras revistas de moda. Se eu a conheço? Ainda não pessoalmente.

É uma frase que nunca imaginei escrever: eu só conheço a Martha Medeiros por telefone. E a gente ri muito com as confusões que são geradas por termos o mesmo nome. Eu não possuo site oficial, ela sim: www.marthamedeiros.com.br. Já cansei de receber e-mails de leitores que entram no site e, distraídos, se surpreendem por eu, além de escrever, ser uma stylish reconhecida e prestigiada. Logo eu, que mal sei pregar um botão.

Por outro lado, ela me contou que uma vez se hospedou num hotel em Brasília. Chegou à recepção e teve uma surpresa: o gerente havia trocado o apartamento standard que ela reservara por uma suíte master. Ao entrar no quarto, flores e uma cesta de frutas a aguardavam, com um singelo cartão: “Seja bem-vinda ao nosso hotel. Gostamos muito do que a senhora escreve”.

Ela, educadíssima, desfez a confusão, e o gerente do hotel, igualmente educado, a manteve na suíte master, óbvio. Quando ela me contou, às gargalhadas, sobre as mordomias que estava desfrutando em meu nome, não acreditei: “Já estive em tudo quanto é hotel do Brasil e nunca me transferiram para uma suíte master, é injusto!”. E ela tripudia: “Comigo já aconteceu duas vezes por sua causa”.

Ela está no extremo norte e eu no extremo sul do país, eu costurando minha carreira de escritora, ela escrevendo sua história como estilista. Um programa de TV já tentou nos reunir para uma entrevista, mas acabou não rolando. Pena. Será que tenho afinidades com a Martha Medeiros?

Quase todas as pessoas com nomes simples possuem homônimos espalhados pelo Brasil. Não duvido que haja quem pense que foi nosso vice-presidente quem escreveu Iracema.

Isso pode ser divertido e pode ser um incômodo, no caso de seu homônimo ser um assassino procurado pela polícia. No caso da Martha e do meu, é apenas uma graça que a vida nos concedeu. Mas ai dela se fizer alguma besteira. E ai de mim. Agora temos um nome a zelar por nós duas.

terça-feira, 22 de junho de 2010



22 de junho de 2010 | N° 16374
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Muito mais amadas

Amar tem algo a ver com o tom da pele, a cor dos olhos, a textura dos cabelos? Mais uma vez me convenci que não, no último domingo.

Eu estava num dos restaurantes mais frequentados de Porto Alegre quando de repente notei que diante de mim se desenrolavam duas cenas de puro afeto.

À minha frente, na mesa da esquerda, um menino interrompia o que quer que estivesse fazendo para abraçar e beijar, sem motivo ou razão, seus pais adotivos. Na mesa da direita, uma menina fazia a mãe sorrir com seus modos serelepes.

Como sei que eram filhos de adoção? Ora, isso se nota. O menino era de um moreno acentuado, e seus pais muito louros. A menina era negra, e sua mãe muito clara.

Mas havia algo que os irmanava, pouco importam todos os matizes do universo. Era o amor. Era o modo com que o menino abraçava e beijava seus pais. Era a maneira com que a menina exorcizava todos os fantasmas íntimos de sua mãe, provocando-lhe um sorriso.

Sei que há um enorme debate sobre a adoção, e que as posições em torno do tema são não raro radicais. Não sou ninguém para pôr a minha colher em uma discussão em que estão envolvidas altas autoridades na matéria.

Ainda assim, como um simples cronista, gostaria de dizer duas ou três palavras sobre um embate ao qual não fui chamado.

A primeira delas é que os casais sem filhos têm, mais que o direito, o dever de adotar crianças largadas ao mundo.

Mais do que isso, que esses casais têm uma missão. Mais do que proporcionar uma vida confortável a seus filhos, livre da fome, da penúria e das humilhações, de garantir-lhes algo além do conforto. Falo do amor que não exige resposta.

Mas ainda há algo além do além. Quando não tiverem olhos azuis e cabelos claros, seus filhos devem sentir-se à mesma altura de seus amigos e colegas, pois todos são seres humanos.

E não é só. Jamais, em momento algum, os filhos adotivos devem se dar por inferiores àqueles que nasceram de uma gestação há muito projetada.

E por fim, mas não menos relevante, as crianças escolhidas não porque foram planejadas, mas porque foram desde sempre queridas, devem ter consciência de que são muito mais amadas.

Neste segundo dia de inverno um lindo dia para você e para quem está de aniversário hoje, os Parabéns com carinho.

sábado, 19 de junho de 2010



20 de junho de 2010 | N° 16372
MARTHA MEDEIROS


A vida sem rodinhas

Quando é que sabemos que estamos aptos a andar por nossa conta?

Lembro que nos momentos importantes da infância, e também nos desimportantes, meu pai estava sempre a postos empunhando uma máquina fotográfica. A consequência disso? A cada gaveta que eu abro aqui em casa, jorram fotos diversas, sem contar as que estão confinadas em álbuns e porta-retratos. Dessas tantas, há uma pela qual tenho um carinho especial: é uma foto em que estou andando de bicicleta, aos 5 ou 6 anos de idade.

Naquele dia eu andei sem rodinhas pela primeira vez. Dei várias voltas sem cair, até que meu pai clicou o flagrante: a pirralha com a maior cara de vencedora, dona do campinho, se achando. Eu realmente estava degustando aquela vitória. Se a foto tivesse legenda, seria: Viu?.

As rodinhas são uma base protetora para iniciantes, uma segurança para quem ainda não tem domínio da coisa. Que coisa? Qualquer coisa. Me corrija se eu estiver errada: a gente usa rodinhas até hoje.

Quando se escreve um livro, por exemplo, as rodinhas são a parte não ficional, o sentimento de verdade, vivido, com o qual a gente ampara a ficção.

Quando se tem um filho, as rodinhas são a herança da educação que nossos pais nos deram, a parte hereditária que, mesmo questionada, sustenta nossas primeiras decisões.

Quando nos apaixonamos, as rodinhas são a repetição de certos clichês, a apresentação dos nossos ideais e certezas, mesmo sabendo que em breve entraremos em terreno movediço, desconhecido.

Quando se aceita um emprego, as rodinhas são a nossa experiência anterior, o que facilita a arrancada, mas depois é preciso andar sozinho.

Sempre chega a hora de tirar as rodinhas. Medo e êxtase.

Viver sem elas torna tudo mais perigoso, vulnerável, e ao mesmo tempo, emocionante. Nos faz voltar a ser crianças: será que estou agindo certo, será que não estou indo rápido demais, ou lento demais? Atenção: lento demais, cai.

É preciso saber viver sem um suporte contínuo, para que se possa firmar o próprio caráter. Quem não sai da barra da saia da mãe, nunca consegue se equilibrar sozinho. Quem não solta a mão do pai, não vira homem.

Não se trata de dispensar amor. Estamos falando de rodinhas, lembre. Apoio.

Quando é que sabemos que estamos aptos a andar por nossa conta? Se o assunto é bicicleta, aos 5, aos 6, aos 7, até aos 10 anos, dependendo do ritmo e da estabilidade de cada um.

Quando se trata da vida, também depende. Mas usá-las para sempre te impedem de sentir o gostinho de conseguir, de vencer, de atingir suas metas por si só.

Te impedem de perguntar: “Viu?”.

Permita que os outros vejam o quanto você pode.


O pássaro que ruge

O locutor esportivo mais conhecido do Brasil foi alvo da campanha "Cala boca Galvão" no Twitter, que mostrou até onde a rede de 140 caracteres pode levar um assunto: o mundo

Jadyr Pavão Júnior e Rafael Sbarai - Joel Silva/Folhapress
"SALVEM O GALVÃO"



Imagem do vídeo que se seguiu à frase do Twitter: grandes jornais e sites de notícias se interessaram pelo assunto

Ferir com palavras, pondo para circular histórias falsas com o objetivo de irritar ou destruir alguém, é uma prática tão antiga quanto a história humana. A humanidade viajava ainda à velocidade de 16 quilômetros por hora das carroças, mas as notícias ruins e fofocas já pareciam ter asas. As línguas de trapo mal esperavam o conquistador romano Júlio César, talvez o mais celebrado general e estadista de todos os tempos, sair de Roma para começar seu trabalho de intriga e destruição.

Conforme registrou o historiador Gaius Suetonius Tranquillus, morto por volta do ano 122 da era cristã, o patriciado "punha para circular histórias" dando conta de que César arrancava todos os pelos do corpo com pinças e era chamado de "marido de todas as esposas e esposa de todos os maridos". Foi assim antes com gregos, macedônios e egípcios. As maledicências continuaram viajando mais rápido na Idade Média, durante e depois da Revolução Industrial. O que há de novo nesse campo?

A internet. Se já voavam de ouvido em ouvido, as fofocas e falsidades ganharam o dom da instantaneidade com os milhões de computadores, celulares e tablets de todo o planeta interconectados por uma rede em que, pela primeira vez na história, todas as máquinas se comunicam na mesma linguagem, sem incompatibilidades nem fronteiras.

A fofoca digital pode criar verdadeiros tsunamis que chicoteiam o globo jogando as opiniões de milhões de pessoas de um lado para o outro. Antes que alguém possa verificar a verdade de um fato, sua versão ou versões já se tornaram o fenômeno. O caso que engolfou o locutor Galvão Bueno, a voz oficial das Copas do Mundo e das Olimpíadas nas transmissões da Rede Globo, é uma amostra do poder dessas novas correntes de pensamento criadas na internet. "Cala a boca, Galvão" era uma tirada que já circulava por aí fazia anos. Há pouco mais de uma semana, contudo, ela ganhou o mundo.

Postada por usuários no Twitter, a rede social de troca de mensagens de até 140 caracteres, a frase CALA BOCA GALVAO - assim mesmo, em letras maiúsculas, sem vírgula e sem acento - virou hit e se manteve entre os dez assuntos mais comentados do serviço da internet durante toda a semana. Os brasileiros aumentaram a fervura, atribuindo sentidos absurdos à frase: segundo uma das versões, em português, cala boca significaria salve, e galvão, o nome de um pássaro em extinção. Alguns dos maiores sites e jornais do mundo, como o The New York Times, tentaram decifrar a brincadeira, e assim a difundiram ainda mais.

Justin Sullivan/Getty Images
O CONCORRENTE


Mark Zuckerberg, do Facebook: empate com o Twitter no Brasil em número de visitantes únicos

Nascido em 2006 como ferramenta para facilitar a troca de mensagens de trabalho via celular, o Twitter teve uma vida discreta por aproximadamente um ano, até que, durante um festival de música americano, percebeu-se que ele não precisava ficar restrito às empresas. Durante o evento, o número de posts diários saltou de 20 000, em média, para 60 000. Uma luz se acendeu na cabeça de seus criadores - jovens empreendedores do Vale do Silício, na Califórnia, com o programador Biz Stone à frente.

A ideia das mensagens curtas não era propriamente uma novidade: os torpedos de celular (SMS) já permitiam apenas 160 caracteres. Mas ao adotar o slogan "O que você está fazendo?" o Twitter se apresentou como uma ferramenta que oferecia algo diferente: um canal para as pessoas dizerem ao mundo o que sentem, pensam ou fazem no exato momento em que teclam.

A outra característica crucial do Twitter era permitir que aqueles que de outra forma jamais se aproximariam se ligassem numa rede de seguidos e seguidores. Inicialmente, o esforço para acumular seguidores tinha ares de brincadeira. Ostentar um grande número de fãs era um galardão vazio.

Mas, no começo de 2009, quando o ator Ashton Kutcher e a rede de TV CNN disputaram tweet a tweet quem atingiria antes a marca de 1 milhão de seguidores (ele venceu), já estava claro que o Twitter não precisava ser apenas um amplificador de vaidades e irrelevâncias.

Atualmente, há 105 milhões de usuários do Twitter espalhados pelo mundo. Todos os dias, 600 milhões de buscas e 65 milhões de mensagens movimentam a rede. Por mês, são 190 milhões de visitas únicas. Esses números fazem do Twitter a segunda maior rede social do planeta, atrás do Facebook, com mais de 400 milhões de pessoas (a rede Qzone tem 310 milhões de usuários, mas só na China, em mandarim). No Brasil, a ferramenta é vice-campeã em número de acessos, ao lado do Facebook, com 10,7 milhões de visitantes únicos ao mês, atrás do Orkut, com 26,9 milhões.

A sede do Twitter, em São Francisco, reúne um pequeno corpo de funcionários: 175. Como tantas iniciativas revolucionárias da internet, o modelo de negócio da empresa ainda não está claro. Gigantes da web já tentaram "abocanhar o passarinho", símbolo do Twitter. Em 2008, o Facebook teria posto sobre a mesa de seus donos uma oferta de meio bilhão de dólares. Um ano depois, foi a vez do Google.

Biz Stone explicou por que as ofertas foram recusadas: "O Twitter está focado em desenvolver novas funcionalidades e em permanecer independente". Em 2009, a empresa fechou as contas no azul graças a uma parceria com Microsoft e Google. Pelo acordo, avaliado em 25 milhões de dólares, as gigantes passaram a incluir tweets nos seus resultados de buscas na web.
AFP

DESAFIO AOS AIATOLÁS

A iraniana Neda Agha-Soltan é baleada durante protesto em Teerã: o Twitter ajudou os manifestantes a expor a repressão


Em quatro anos, o Twitter já provocou impactos na política, nos negócios, na cultura do entretenimento. O exemplo mais extraordinário de suas potencialidades deu-se há um ano, nas eleições iranianas. Em repúdio à reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, alinhado com o regime ditatorial dos aiatolás, uma fatia da população recorreu à rede para denunciar fraudes na apuração, organizar protestos nas ruas de Teerã e divulgar imagens da repressão policial.

O movimento chegou a ser saudado como "revolução do Twitter". "Numa rede como essa, a voz das pessoas comuns ganha enfim dimensão pública", diz Tim Hwang, do Web Ecology Project, centro de estudos sobre a internet da Universidade Harvard.

O Twitter também se mostrou eficaz num contexto político democrático. Nas eleições americanas de 2008, o então candidato democrata Barack Obama fez uso da ferramenta para mobilizar a militância, arrecadar fundos e conquistar novos eleitores. No Brasil, os três principais candidados à Presidência - José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva - tuítam.

"Todos os políticos brasileiros vão querer ser o Obama da eleição deste ano", vaticina Alex Primo, pesquisador de redes sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com base nos dados do IBGE e do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o consultor em marketing digital Cláudio Torres calcula que 18% do eleitorado é formado por jovens entre 18 e 24 anos com acesso à internet - e, portanto, expostos às campanhas on-line.

O mundo empresarial já abraça o Twitter, uma ferramenta poderosa para anunciar e interagir com os consumidores. Uma pesquisa realizada em fevereiro com companhias americanas reflete a tendência. Segundo a Society for New Communications Research, mais de um terço das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune usa o Twitter de forma consistente.

Companhias de diversos segmentos utilizam a rede para se relacionar com o seu público de forma mais íntima e instantânea, além de oferecer promoções exclusivas aos seus seguidores. O ator Ashton Kutcher, que, antes de bater a CNN, era mais conhecido como o namorado bonitão da atriz Demi Moore, foi outro que aprendeu a fazer negócios no Twitter. Ele dominou tão bem a arte de falar com seguidores em 140 caracteres que se tornou uma espécie de guru. Abriu uma consultoria, a Katalyst, voltada às novas mídias.

No campo do entretenimento, o Twitter transforma anônimos em famosos e abre novos horizontes para os célebres. No Brasil, quem despontou graças aos microposts foi Tessália Serighelli de Castro, que até adotou o apelido Twittess em homenagem à mãozinha recebida do Twitter.

Colecionadora de 60 000 fãs quando ainda era anônima, ela foi convidada pela Globo para participar do Big Brother Brasil 10. O âncora do Jornal Nacional, William Bonner, está no segundo time, dos usuários que, já célebres, abriram uma nova seara na rede.

Ele aumentou sua claque de seguidores à base de comentários fortuitos sobre o noticiário, recados para a mulher, Fátima Bernardes, e consultas como: "Que gravata usar na próxima edição do Jornal Nacional?". As mensagens curtas se mostraram propícias a bate-bocas inusitados.

Na semana passada, em um de seus monólogos radiofônicos, o ditador venezuelano Hugo Chávez jurou que Ricky Martin era um chavista. O cantor acionou imediatamente seu 1,2 milhão de seguidores para desmentir o coronel. O ex-menudo ainda emendou, usando uma hashtag, marcação típica do Twitter: "# free Venezuela". ("Libertem a Venezuela").

Em boa parte do tempo, o Twitter é uma espécie de vuvuzela da internet, que apenas amplifica o nada. Mas, por sua velocidade, mobilidade e alcance, é uma plataforma que, em certas circunstâncias, parece "dar poder ao homem comum", como gostam de dizer alguns teóricos. "É como se cada indivíduo tivesse seu próprio meio de comunicação", diz o sociólogo francês Michel Maffesoli. Empresas e celebridades já se viram em apuros por causa do Twitter. Formou-se um certo conhecimento sobre como agir nessas situações.

No episódio do CALA BOCA, a Globo mobilizou artistas de seu elenco acostumados a usar a rede para que defendessem Galvão Bueno. Na terça-feira, dia da estreia do Brasil na Copa, a emissora fez com que Galvão falasse do episódio numa entrevista. Ele disse aceitar tudo como brincadeira, e isso minimizou os danos à sua imagem. Mas o passarinho do Twitter deixou sua marca no ombro do locutor.

Bem, amigos...
Divulgação
A VOZ DO BRASIL

Com façanhas marcantes e gafes inesquecíveis, Galvão Bueno é, há mais de trinta anos, o narrador esportivo número 1 do país

Desde 1978, quase todas as glórias e tristezas do esporte brasileiro chegaram aos olhos, ouvidos e corações dos telespectadores pela narração rascante, emocionada e ufanista do locutor carioca Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, que está às vésperas de completar 60 anos.

Fosse a conquista do pentacampeonato mundial de futebol de 2002 - quando transmitia os gols de Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo multiplicando os erres até não poder mais, uma de suas marcas registradas -, a morte na pista, em 1994, de seu amigo Ayrton Senna, cujos 41 triunfos ele anunciava ao som do Tema da Vitória, ou as medalhas olímpicas do vôlei, lá estava no ar a voz mais ouvida do país.

Dono de uma audiência cativa, Galvão Bueno é tão admirado que em qualquer estádio em que esteja presente são desfraldadas faixas nas arquibancadas com seu nome. E ao mesmo tempo tão achincalhado - nos jogos, na imprensa, nos programas humorísticos, na internet - que teria todos os motivos do mundo para andar de mau humor. Ele acha graça de tudo, sempre sorridente, falando sem parar, cheio de si, dono da verdade, a começar pelo episódio da campanha "Cala boca Galvão".

Capaz de narrar com precisão qualquer esporte, dono de timbre impecável e raciocínio rápido, Galvão é autor de façanhas como a de pedir aos telespectadores que piscassem as luzes de casa durante os jogos que passavam de madrugada na Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão.

O país inteiro virava um vaga-lume. Só um personagem com seu poder, em uma emissora como a Globo, poderia provocar uma reação desse tamanho. Mas, da mesma forma que se orgulha disso, ele lamenta alguns momentos constrangedores que protagonizou.

Dois ficaram para a história. Um foi seu grito esganiçado, quase histérico, "é tetra, é tetra!" em 1994, ao lado de Pelé e do comentarista de arbitragem Arnaldo Cézar Coelho. O outro aconteceu na Copa de 1974, quando narrou por um pool de três emissoras paulistas, diretamente de um estúdio brasileiro, a partida entre Alemanha Oriental e Austrália pensando que estivessem jogando Bulgária e Sué-cia.

Só percebeu o desastre depois que as imagens transmitidas da Alemanha mostraram no placar do estádio quais seleções de fato estavam em campo. Apreciador de vinhos de qualidade, lançará em agosto um tinto e um espumante gaúchos com seu nome.

Com um salário estimado em 1 milhão de reais por mês, Galvão mora a maior parte do tempo em Mônaco, mas tem também endereços no Rio de Janeiro e em Londrina (PR), cidade de sua segunda mulher. Acusado de ufanismo, tira a referência de letra, como fez no caso do Twitter. "Sou um torcedor-narrador, e daí?", responde. "Meu trabalho é passar emoção a quem está em casa." Bem, amigos, o homem é mesmo um prodígio.

Lya Luft

Separação, o drama de todos

"Se a separação dos pais pode resultar em crescimento e multiplicação de afetos, com boas lições de vida, pode também causar muita desagregação e infelicidade, muita solidão"

Sempre fui favorável a não se curtir sofrimento inútil em longos casamentos nos quais em lugar de carinho e parceria imperam frieza e hostilidade – e se acumula o rancor que envenena sobretudo os filhos. Nem em nome deles, pensei muitas vezes, casais assim deveriam ficar juntos, pelo mal que causam. De certa forma continuo pensando isso, tanto tempo depois de minhas primeiras e precoces reflexões sobre o assunto, eu que vivi numa família de cuidados, afeto e alegria, apesar das naturais diferenças.

Porém, a realidade da vida, numa sociedade em que as separações se banalizaram como se as emoções humanas tivessem deixado de vigorar, me ensinou que toda separação abre em pais e filhos feridas que podem não se fechar nunca mais, e que não precisaria ser assim.

Já disse e escrevi que, quando é uma solução inevitável e melhor em conflitos graves, a separação dos pais – com todas as mudanças impostas na vida dos filhos, que não estão se separando, não querem se separar de nenhum dos pais nem mudar de casa, quem sabe de cidade – pode não ser unicamente um mal.

Propicia um exercício de novos afetos, de compreensão e tolerância, também de parte dos filhos de qualquer idade com relação aos adultos. Costumamos bater na tecla de cuidar dos filhos, mas raramente nos lembramos de que há uma parte nessa relação, nem sempre fácil, que cabe aos filhos diante de seus pais. Já na pré-adolescência podemos exercitar nosso amor, respeito e tentativa de entender alguns dramas adultos, se não formos criados como pequenos príncipes mimados e birrentos, que batem pé diante do sofrimento alheio e não se importam com os outros.
Ilustração Atômica Studio

É verdade que aceitar que os pais já não moram juntos, que temos de nos separar de um deles, a quem veremos, talvez, em dias marcados e enfrentando, cara a cara ou de maneira surda e insidiosa, a raiva e os rancores do casal que se separa, há de ser muito duro. Há de ser triste, e marcante na alma dos filhos, sobretudo se a separação for acompanhada de violência, perseguição, desejo de vingança.

Existem os casos brandos, eu sei, e conheço vários, esses em que apesar das dificuldades o casal procura se separar com civilidade e compreensão, não fechando para os filhos, pequenos ou adolescentes, a porta do amor ao pai ou à mãe. Ensinando a aceitar e respeitar o novo parceiro ou parceira deles: essa parte talvez mais difícil de todas em qualquer separação.

Pois as escolhas são sempre dos pais, não dos filhos: separar-se, assumir novo parceiro ou parceira, que possivelmente trazem seus próprios filhos, tentando criar um novo tipo de relacionamento e forçado convívio, há de ser uma difícil e dolorosa gangorra emocional. Se pode resultar em crescimento e multiplicação de afetos, com boas lições de vida, pode também causar muita desagregação e infelicidade, muita solidão.

Como agir para não prejudicar os mais importantes laços de qualquer pessoa, no caso de separação e novos casamentos? Não há receita nem espaço para julgamento. Mas lembro a velha fórmula das estradas de ferro: parar, olhar, escutar... a alma do outro também.

Novas pessoas estarão envolvidas, novos feixes de emoção, novas tendências genéticas e conflitos psíquicos por vezes antigos, velhos costumes que agora se envolvem ou enfrentam estreitamente. É preciso conviver, e não machucar pessoas amadas.

Culpas infundadas crescem como cogumelos, buracos traiçoeiros podem se abrir no chão fundamental sobre o qual caminhamos: o convívio natural, a família. As responsabilidades são enormes, e as tempestades do momento podem nos fazer esquecer isso, em casos que envolvem tantos problemas e dilemas.

Tudo é um tatear no escuro da floresta das humanas necessidades e aflições. Num contexto de convívio e ruptura, no meio dessa tempestade por vezes longa, esperam-se posturas evidentes, mas nada fáceis: bom senso, bondade, capacidade de entender e observar, e desejo real de, apesar dos fatais desacertos, buscar para si e para os outros envolvidos o sofrimento menor.

Lya Luft é escritora


IBGE: setor de construção ocupou 1,8 milhão de pessoas em 2008

Programas de financiamento e apoio a projetos de infraestrutura nas áreas de energia elétrica, energia renovável, petróleo e gás natural, logística e telecomunicações são os principais responsáveis pelo aumento
REDAÇÃO ÉPOCA

Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) divulgada nesta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que aumentou o número de pessoas empregadas no setor de construção. Segundo o IBGE, 56,6 mil empresas ativas do setor da construção ocuparam aproximadamente 1,8 milhão de pessoas em 2008; em 2007, cerca de 52 mil empresas ocuparam aproximadamente 1,6 milhão de pessoas.

O gasto total com o pessoal em 2008 foi R$ 38,2 bilhões, dos quais R$ 25,5 bilhões foram em salários, retiradas e outras remunerações, o que significou uma média mensal de 2,6 salários mínimos. Em 2007, o gasto total com o pessoal foi 29,3 bilhões; desse valor, 19,6 bilhões foram em salários, retiradas e outras remunerações.

A pesquisa ainda aponta que houve crescimento em todos os grupos de produtos e serviços da construção nas empresas com 30 ou mais pessoas ocupadas em 2008. Em relação a 2007, obras de infraestrutura cresceram 27,1%, edificações industriais, comerciais e outras edificações não residenciais, 28,8% e o grupo de serviços especializados para construção, 21,1%. O valor do segmento de edificações residenciais avançou 20,7%, principalmente por causa do aumento observado em edifícios residenciais (21,2%).

Em 2008, o valor das incorporações, obras e serviços foi de R$ 159 bilhões, o que representa um aumento de 12,3% em termos reais em relação a 2007. A receita líquida das empresas foi de R$ 149,6 bilhões, um crescimento nominal de 19,8% em relação ao valor de 2007, R$ 124,9 bilhões.

As empresas realizaram obras e serviços no valor de R$ 154,1 bilhões, dos quais R$ 67,6 bilhões foram construções para entidades públicas, que representaram 43,9% do total das construções, participação maior do que a observada em 2007 (40,3%).

Vários fatores atuaram a favor do avanço da Indústria de Construção no período entre 2007 e 2008. De acordo com o IBGE, os programas de financiamento e apoio a projetos de infraestrutura nas áreas de energia elétrica, energia renovável, petróleo e gás natural, logística e telecomunicações são os principais responsáveis pelo aumento.

Outros pontos favoráveis foram: crescimento da renda familiar e do emprego; aumento nas operações de crédito direcionadas à habitação; a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados de diversos insumos da construção, entre outros. Além disso, a economia cresceu mais de 5% ao ano pela segunda vez consecutiva.
Don Quixote vai à faculdade

Jorge Lavat, O estudante, Roberto Girault

Chano é um homem de 70 anos que decide voltar a estudar.

Alguns membros de sua família apóiam a decisão, outros não concordam…

Mas ele acaba entrando em uma faculdade. A adaptação não é fácil – afinal, os estudantes têm, em média, 20 anos, e estranham o senhor sentado entre eles.

Aos poucos, ele vai conquistando a amizade de um jovem viciado em cocaína, uma garota que se envolve com um professor casado e outros estudantes, cada um deles com seus problemas particulares.

Essa é a história de O estudante, filme mexicano produzido em 2009 pelo estreante diretor Roberto Girault.

Jorge Lavat, que interpreta Chano, está ótimo em seu papel. As cenas em que pouco a pouco vai ganhando a confiança dos jovens são ótimas: o choque de idades gera momentos muito divertidos.

A história também é tocante. Chano é como Don Quixote: idealista, sai em busca de seu sonho, não importa o que digam contra.

A obra de Miguel de Cervantes, inclusive, possui um papel central na educação dos jovens e no modo como eles interagem com o idoso estudante.

Uma produção simples, mas extremamente tocante e divertida. Vale a pena conferir.


19 de junho de 2010 | N° 16371
NILSON SOUZA


O som da África

Como gosta de brincar o Scliar, a batalha final nesta Copa africana não será entre alemães e holandeses, que estão confirmando o favoritismo, nem entre brasileiros e argentinos, que sonham com um tira-teima continental na vitrine planetária do Mundial, mas, sim, entre os tocadores de vuvuzelas e os que não suportam o barulho das cornetas. Estou, decididamente, no segundo time.

Sempre que inventarem alguma coisa capaz de perturbar o sossego alheio, me incluam fora disso. Jamais sopraria um berrante daqueles. O futebol virou outra coisa com aquela zoeira incessante, que lembra a aproximação de um enxame de abelhas furiosas.

Nas primeiras vezes que fui a um estádio de futebol, menino ainda, levado por um tio ao antigo Passo D’Areia, assim mesmo, com apóstrofo, a coisa que mais me impressionou foi o barulho dos chutes.

A gente nem precisava ficar perto da tela para ouvir a batida da chuteira na bola, especialmente quando um zagueiro mais vigoroso dava uma rebatida ou quando um jogador cobrava tiro de meta ou falta. O ruído da número 5 explodindo na trave é uma de minhas lembranças sonoras inesquecíveis da infância.

Em outros estádios que frequentei, também tive a oportunidade de ouvir outros sons do futebol, sendo o mais impressionante deles o silêncio das arquibancadas – no momento de uma cobrança de pênalti ou quando o time da casa leva um gol. Há ocasiões em que se pode ouvir as batidas dos corações.

Um estádio de futebol lotado é um organismo vivo, com voz, com movimento e com sentimentos. Poucas coisas são tão belas e emocionantes quanto o canto alucinado de uma torcida, milhares de vozes na mesma canção, no mesmo ritmo, no mesmo desejo. E o que dizer daquele pequeno coro que começa lento e vai crescendo até se transformar num grito de guerra mobilizador?

As vuvuzelas, com todo o respeito aos costumes africanos, inviabilizam esta parte bonita do espetáculo.

Mas acho que a Fifa tem razão em não proibir agora. Seria como tirar o brinquedo das mãos das crianças no dia seguinte ao Natal. Os sul-africanos suaram sangue para organizar a Copa, para construir e reformar estádios, para deixar suas cidades em condições de receber visitantes de todo o mundo – inclusive os descendentes dos povos que escravizaram seus antepassados.

É mais do que justo que façam a festa à sua maneira. Se lhes dá prazer soprar sem parar naquelas trombetas coloridas, que o façam. Os incomodados que usem tampões de ouvido, como estão fazendo muitos torcedores.

Depois da Copa, a gente volta a falar no assunto. Até mesmo porque, em 31 dos países participantes, ninguém terá vontade de soprar vuvuzela por algum tempo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010



16 de junho de 2010 | N° 16368
MARTHA MEDEIROS


Onde fica o gol?

Em função da mobilização com a Copa do Mundo, andei me lembrando de uma conversa que tive com um amigo, anos atrás. Ele liderava uma equipe numa agência de publicidade e trabalhava em ritmo alucinado. No decorrer do papo, ele desabafou dizendo que era difícil conviver com colegas que não sabiam para que lado ir, o que fazer, como agir, e que por causa dessas incertezas perdiam tempo e faziam os outros perderem também.

E exemplificou: “Sabe por que eu sempre gostei do Pelé? Porque o Pelé pegava a bola em qualquer lugar do gramado e ia com ela reto para o gol. Ele sabia exatamente para onde tinha que chutar”.

– Isso que você nem é muito fã do esporte – comentei.

– Pois é, não jogo futebol, mas tenho alma de artilheiro: entro em campo e já saio perguntando onde é que é o gol. É pra lá? Então é pra lá que eu vou, sem desperdiçar meu tempo, sem ficar enfeitando.

Taí o que a gente precisa se perguntar todo dia quando acorda: onde é que é o gol?

Muitas pessoas vivem suas vidas como se dopadas, chutando para todos os lados, sem nenhuma estratégia, contando apenas com a sorte. Elas acreditam que, uma hora dessas, de repente, quem sabe, a bola entrará. E, até que isso aconteça, esbanjam energia à toa.

“Goal”, em inglês, significa objetivo. Você deve ter um. Conquistar um cliente, ser o padeiro mais conceituado do bairro, melhorar a aparência, sair de uma depressão, ganhar mais dinheiro, se aproximar dos seus pais.

Pode até ser algo mais simples: comprar as entradas para um show, visitar um amigo doente, trocar o óleo do carro, levar flores para sua mulher. Ou você faz sua parte para colocar a bola dentro da rede, ou seguirá chutando para as laterais, catimbando, sem atingir nenhum resultado.

Quase invejo quem tem tempo a perder: sinal de que é alguém irritantemente jovem, que ainda não se deu conta da ligeireza da vida. Já os veteranos não podem se dar ao luxo de acordar tarde, e, no caso, “acordar tarde” não significa dormir até o meio-dia: significa dormir no ponto, comer mosca. Não dá. Depois de uma certa idade, é preciso ser mais atento e proativo.

Parece um jogo estafante, nervoso, mas não precisa ser. O gol que você quer marcar talvez seja justamente aprender a ter um dia a dia mais calmo, mais focado em seus reais prazeres e afetos, sem estresse. É uma meta tão valiosa quanto qualquer outra. Só que não pode ser um “quem sabe”, tem que ser um gol feito.

Essa é a diferença entre aqueles que realizam as coisas e os que ficam só empatando.

Lindo dia para você. Aproveite o Dia Internacional do sofá e namore bastante.

sábado, 12 de junho de 2010



13 de junho de 2010 | N° 16365
L. F. VERISSIMO


O tempo do telex

Quando quero impressionar alguém com a minha veteranice em matéria de Copa do Mundo (esta é a minha sétima), não digo que sou do tempo da seleção com Zico e Falcão de 86, ou a do Lazaroni de 90. Digo que sou do tempo do telex. O futebol mudou bastante desde então, mas nada mudou tanto quanto os instrumentos para cobrir uma copa.

O telex era uma máquina de escrever infernal na qual se picotava uma fita, que depois passava por outra máquina, que a transmitia. Lembro que na Copa de 90, na Itália, nem telex eu tinha à mão. Datilografava as matérias e depois as levava para o centro de imprensa, de onde elas eram mandadas ao jornal por fax. Hoje, claro, até o fax, aquela coisa milagrosa, é relíquia pré-histórica.

Hoje você digita sua matéria no próprio estádio, se quiser, e a manda com um único toque no teclado. Com o dedo mindinho, se preferir.

Quanto às mudanças no futebol, não foram tão radicais. Algumas coisas que se discutiam em 86, por exemplo, continuam sendo discutidas agora, talvez com outro vocabulário. O “cabeça de área” execrado ganhou o nome mais elegante de “volante de contenção”, mas futebol mais ou menos defensivo, mais ou menos gente no meio do campo, mais arte e menos força ou mais força e menos arte, ainda dividem opiniões do mesmo jeito.

Uma diferença grande entre a Seleção Brasileira de 86 – escolhida aqui só porque foi a primeira que vi ao vivo numa Copa – e a de hoje é que então eram poucos os jogadores que atuavam no Exterior. Hoje a maioria joga fora do país. A internacionalização do futebol foi um dos fenômenos que cresceram desde o tempo do telex e do cabeça de área.

As seleções atuais podem mesmo – simplificando-se um pouco – serem divididas entre importadoras e exportadoras, aquelas cujos jogadores jogam quase todos no seu próprio país, como a italiana, a alemã e a inglesa, e aquelas cujos jogadores precisam ser repatriados para formar um time. Não tenho a menor ideia de como isso influi nas suas atuações em Copas. Importadoras e exportadoras têm tido resultados parecidos.

Do que mais eu me lembro da minha primeira Copa, no México? O jogo Brasil e França que perdemos nos pênaltis, um dos melhores que já vi. E as dores de barriga. Tinham nos avisado que comer a comida mexicana era um perigo. Não era verdade. Respirar, no México, era um perigo. Tive as primeiras cólicas descendo do avião.

As seleções de hoje podem ser divididas entre importadoras e exportadoras de craques.

Brasil

Horror no Maranhão

A história do pai que abusou sexualmente da filha por dezessete anos, teve sete filhos com ela e é acusado de estuprar uma filha-neta de 5 anos

Júlia de Medeiros, de Pinheiro
Fotos Manoel Marques - Pais e filhos



Sandra Monteiro teve o primeiro filho com seu pai, José Agostinho Pereira (ao lado), com 17 anos.

A pedofilia é quase endêmica em regiões do Norte e Nordeste do país. Ainda assim, o drama vivido por Sandra Maria Monteiro, de 29 anos, assombrou a cidade maranhense de Pinheiro, a 340 quilômetros de São Luís. Aos 12 anos, Sandra começou a ser abusada sexualmente por seu pai, o lavrador e pescador José Agostinho Bispo Pereira, de 54 anos.

Aos 17, engravidou dele pela primeira vez. Ao todo, teve sete filhos com Pereira. O mais novo nasceu há dois meses. Todos foram registrados apenas com o nome da mãe. Os médicos constataram que a quarta filha, de 5 anos, foi molestada. O hímen da garota foi rompido parcialmente e há ferimentos e inflamações no interior de sua vagina – indicadores de que ela sofreu um ataque recente. Os legistas acreditam que as lesões podem ter sido causadas pela introdução de dedos ou objetos.

Arredia, a menina chora muito e nega as agressões, uma reação comum em crianças vítimas de crimes sexuais. Sua irmã mais velha, de 8 anos, contou à polícia que o pai/avô também "mexia" nela própria. Como essa menina continua virgem, a polícia concluiu que ela era bolinada por Pereira. Sandra, irmã e mãe das crianças, diz que não sabia que suas filhas também eram atacadas.

Os abusos ocorriam em um casebre de pau a pique onde a família vivia isolada, a uma hora e meia de viagem da cidade de Pinheiro. Com o vizinho mais próximo a 1 quilômetro de distância, Pereira perpetrava suas monstruosidades com liberdade absoluta, desde que sua mulher o deixou só com os quatro filhos, para se juntar a outro homem, em São Luís. Sandra saía pouco de casa e só o fazia quando o pai autorizava.

A cada nova gestação, inventava um namorado fictício, que dizia aos dois irmãos e à irmã mais velha ser o pai do bebê. Seis anos mais novo que Sandra, José Inácio Monteiro desconfiava das mentiras, mas nada fez.

A primogênita, Maria Sandra Monteiro, de 31 anos, disse que tem um filho de 14 anos com o pai e que foi violentada até fugir de casa. O outro irmão ainda não foi identificado pela polícia e, por isso, não forneceu o seu depoimento.
AP
Monstro austríaco

Josef Fritzl prendeu a filha aos 18 anos e teve sete filhos com ela

O horror foi revelado depois que um dos vizinhos mais próximos denunciou a um político local as condições em que os Pereira viviam. Ele suspeitava não só de abuso sexual, como também de que Sandra e seus filhos viviam presos. As crianças foram encontradas seminuas e desnutridas – alimentavam-se apenas de peixe e farinha de mandioca.

Nunca haviam escovado os dentes. Mudo, o segundo filho, de 8 anos, jamais recebeu tratamento. Depois de quinze dias de investigação, Pereira foi preso em flagrante por abandono, maus-tratos e cárcere privado. Sandra e seus filhos foram levados para o Conselho Tutelar de Pinheiro.

No início, ela negou ter sido forçada pelo pai a fazer sexo. Depois, admitiu o incesto. Pereira confirmou as relações com a filha e que é pai das crianças, à exceção da mais velha. De acordo com Sandra, porém, o primogênito também é do pai. Pereira alegou que foi seduzido pela filha ainda menina. "Ela vinha deitar na rede comigo", diz o monstro. Ela nega. "Eu não queria, mas ele ficava bravo", afirma Sandra.

Quando é questionada sobre seus sentimentos em relação a Pereira, ela responde que o perdoa e o ama como pai. "Esse tipo de comportamento é comum em casos como o de Sandra, porque ela viveu em um ambiente no qual a pedofilia e o abuso não são tidos como condenáveis", diz Claudio Cohen, coordenador do Centro de Estudos e Atendimentos Relativos ao Abuso Sexual da Universidade de São Paulo.

As agressões a que Sandra foi submetida são semelhantes às sofridas pela austríaca Elizabeth Fritzl. Em 2008, aos 42 anos, ela foi resgatada pela polícia de um porão onde foi presa pelo pai quando contava somente 18 anos.

Desde os 11 anos, Elizabeth foi estuprada seguidamente pelo pai e teve sete filhos de seu carrasco. No ano passado, Fritzl foi condenado à prisão perpétua por incesto, estupro, cárcere privado e homicídio. Pereira também deve receber uma punição dura.

Os delegados estimam que os estupros possam lhe render uma pena de quarenta anos de prisão. A pesquisadora Maíra de Paula Barreto relata que é costume em comunidades ribeirinhas do norte do Brasil que o pai desvirgine suas filhas. Segundo ela, o mito do boto amazônico, que em noites de lua se transformaria em homem para engravidar virgens, pode ter sido criado para encobrir casos de incesto e pedofilia paternos. Está longe de ser um conto de fadas.

Com reportagem de Leonardo Coutinh

Claudio de Moura Castro

O judeu de Bethesda

"Se livro fosse cultura, os cupins seriam os seres mais cultos do globo. Só livro lido é cultura"

Último dia de aula na escola Walt Whitman. Situada em Bethesda, um bairro intelectualmente sofisticado da região de Washington (DC), é uma das melhores dos Estados Unidos. O pimpolho volta para casa. Poderia estar sonhando com três meses de vadiagem, longe dos livros.

Mas o sonho duraria pouco. Ao fim da tarde, chega o pai judeu, carregando uma sacola de livros recém-comprados. Chama o filho, esparrama os livros na mesa da sala e começa a montar o cronograma de leituras, incluindo a cobrança periódica do que terá sido lido. Ignoro quantos pais judeus passaram também nas livrarias. Mas imagino que não foram poucos.

Ilustração Atômica Studio

Ler livros, glorificar livros, eis uma tradição judaica milenar. Vem de longe e não se buscam muitas explicações científicas para ela. Não obstante, Karl Alexander, da Universidade Johns Hopkins, somando aos 39 estudos sobre o assunto, completou uma pesquisa com alunos do ensino fundamental.

Concluiu que, das vantagens acadêmicas acumuladas pelos alunos mais ricos até a 9ª série, dois terços advêm de atividades de leitura mais intensas durante as férias. Segundo a Secretaria de Educação americana, as perdas dos mais pobres nas férias são "devastadoras". Um pai judeu provavelmente diria: ora bolas, é o que sempre pensei. Mas, para a maioria das pessoas, os resultados são surpreendentes.

Em matemática, foi possível comprovar que, durante as férias, os alunos esqueceram o equivalente a 2,6 meses de aula. Em outras palavras, somente 2,6 meses depois de recomeçarem as aulas os alunos atingem o nível de competência que tinham no último dia de aula da série anterior. Ou seja, férias são um horror para o aprendizado.

Trata-se de resultados valiosos para países que lutam bravamente para melhorar seu claudicante ensino. É simples, se for possível estancar a sangria do "desaprendizado" – que põe a perder 2,6 meses de estudos –, os ganhos serão enormes. Da ordem de 25%? Que outras intervenções seriam tão poderosas?

Tais ideias abrem caminho para muitas linhas de atividade. Pais interessados e comprometidos com a educação dos seus filhos podem fazer o mesmo que os judeus de Bethesda. Mas, vamos nos lembrar, se livro fosse cultura, os cupins seriam os seres mais cultos do globo. Só livro lido é cultura. Portanto, cobranças sem dó nem piedade.

Mas seria só empurrar livros e mais livros goela abaixo dos filhos? Jamais! É preciso desenvolver o prazer da leitura, e o bom exemplo é essencial. À força, pode sair o tiro pela culatra.

Que livros? Não adianta comprar Hegel, Spinoza ou Camões, se as leituras favoritas ainda não passaram muito da Turma da Mônica. É fracasso garantido. Os livros devem andar muito próximo do interesse e da capacidade de compreensão dos leitores, sempre puxando um pouco para cima.

Desviando parcialmente do assunto, quero sugerir aos pais que façam manifestações, que acampem em frente à casa dos prefeitos, até que se mude uma situação vergonhosa. Uma pesquisa recente com as bibliotecas públicas brasileiras pôs a descoberto que (além de fecharem às 6 da tarde) apenas 20% delas abrem aos sábados e só 1% aos domingos.

Como é possível que, nas horas e dias de folga das escolas, as bibliotecas permaneçam fechadas? No caso das leituras de férias, são os únicos dias em que muitos pais poderiam ir à biblioteca para escolher livros com os filhos.

Para aqueles que cuidam da educação como ofício, as implicações da pesquisa da Johns Hopkins não são menos revolucionárias. Mostram ser preciso fazer alguma coisa, somente para conseguir não andar para trás nas férias. Por exemplo, programas públicos de leitura. Não são programas caros nem complicados, basta criar monitorias para garantir que as leituras sejam feitas.

Em um nível mais ambicioso, sobretudo para alunos mais vulneráveis, poderiam ser criados cursos de férias. Não se trata de fazer a mesma coisa que no período letivo, pois seria repetir um ensino aborrecido e pouco produtivo. Precisamos de projetos intelectualmente desafiadores, atividades que estimulem os miolos, jogos e muitas outras coisas.

O que precisa ser aprendido não é muito diferente, mas viria vestido com roupas mais alegres. E, como sabemos que cabeça vazia é oficina do diabo, essas atividades podem até mesmo ter outras consequências benéficas, por evitar rumos pouco recomendáveis em que se deságuam as amplas energias desses jovens.

Claudio de Moura Castro é economist


Sandy: "Acho errado as pessoas rotularem"

A cantora diz que continua a preservar sua vida pessoal e que ninguém pode julgá-la como “filha, esposa, amiga ou irmã”
REDAÇÃO ÉPOCA

Sandy acaba de lançar seu primeiro CD solo, Manuscrito. Com 13 canções de sua autoria, o disco vendeu 40 mil cópias em dez dias. O álbum foi produzido pelo irmão, Junior, e pelo marido, o músico Lucas Lima.

A cantora de 27 anos falou sobre a carreira e a vida pessoal respondendo a perguntas de leitores de ÉPOCA. Sandy diz que fica irritada com os boatos que surgem na mídia. “Minha conduta como filha, esposa, amiga, irmã pouca gente sabe como é. Ninguém pode julgar ou ‘achar’ qualquer coisa”, diz. Ela afirma que encontrou no Twitter a ferramenta para se comunicar de forma direta com seu público.
ENTREVISTA - SANDY

Marisa Cauduro



QUEM É
Sandy Leah Lima nasceu em Campinas, interior de São Paulo, em 28 de janeiro de 1983

O QUE FEZ
Acaba de lançar seu primeiro CD solo, Manuscrito, após uma parceria de quase duas décadas com o irmão, Junior Lima

CARREIRA
Vendeu 17 milhões de discos. Já se apresentou com astros como Caetano Veloso, Roberto Carlos, Andrea Boccelli e Laura Pausini

Como artista solo, você tenta desvincular sua imagem do universo pop teen e se encaixar no universo cult, fazendo referências a Clarice Lispector, dizendo que é melancólica. O que pretende com a nova imagem?
Péricles Costa Stuhr, Porto Alegre, RS

Sandy – Quando falo em melancolia e deixo clara minha admiração por Clarice Lispector e outros autores, meu objetivo é dar um panorama de quais são minhas referências na literatura, o que me inspira artisticamente. Meu trabalho em carreira solo é resultado daquilo que vivo e já vivi e, consequentemente, das coisas que gosto de ler, de ouvir etc. Minha imagem é apenas um reflexo disso.

Não tenho a pretensão de escolher e/ou direcionar meu público. É o público quem nos escolhe. Minha intenção é continuar fazendo música, minha grande realização, e levar algo de positivo às pessoas.

Você teme que os fãs rejeitem esse projeto, já que pode ficar subentendido que o trabalho é voltado para outro público?
José Riglênio Guimarães, Aracaju, SE

Sandy – Vivi algo parecido na dupla com meu irmão. Como tivemos quase duas décadas de carreira, nosso público modificou-se. Alguns fãs se foram, outros chegaram. É um ciclo natural. Sei que isso acontecerá na fase solo. Fico feliz porque vejo alguns fãs “antigos” dando muito apoio; da mesma forma que também tenho notado gente nova se identificando.

No novo CD, todas as músicas foram compostas por você e soam bastante intimistas. Como lida com a exposição de seus sentimentos nas canções?
Elizandra Magalhães, Rio de Janeiro, RJ

Sandy – Este é o projeto em que mais me permiti exprimir meus sentimentos. As composições de Manuscrito não são necessariamente autobiográficas, mas falam muito de mim.

No projeto há muitas coisas implícitas, subentendidas, mas que revelam até um limite que controlo. Continuo, sim, reservada no quesito vida pessoal. Mas aprendi a lidar muito melhor com tudo isso ao longo dos anos.

Se sua carreira solo e a do Junior não forem tão bem como esperam, já pensaram em voltar a cantar juntos?
Regiane Cortes, Muritis, MG

Sandy – Quando optamos por encerrar o projeto juntos, nem sabia o que seria da minha vida profissional. Passaram-se dois anos e meio até eu retornar com este projeto solo. Acabei de voltar e nem parei para pensar nisso. Mas posso adiantar que um “hipotético retorno da dupla” teria de estar atrelado a uma vontade nossa, e não por algo não ter “dado certo”.

"Não serei hipócrita a ponto de dizer que não mexe com meu ego entrar nessas listas de mulheres mais sexy do Brasil"

Artistas que seguiram solo, como Paula Toller, Toni Garrido e Ivete Sangalo, continuam cantando músicas de suas “ex-bandas”. O receio de incluir músicas antigas nos shows é por não querer misturar as coisas ou insegurança de estar sem seu irmão?
Kelly Silva, Nova Iguaçu, RJ

Sandy – Ainda estou formatando meu show. Não defini o que vai entrar no repertório, além das 13 faixas do CD. Não excluo a possibilidade de cantar algumas músicas da fase mais recente da dupla. Músicas como “Abri os olhos” e “Estranho jeito de amar” combinam com a fase atual. E não considero “receio”. Só quero estar com um set list coerente e condizente com o projeto novo.


12 de junho de 2010 | N° 16364
NILSON SOUZA


Força estranha

Um homem de cabelos grisalhos vai cantar e encantar esta noite no Gigantinho, em Porto Alegre. E atrairá tanta gente, tantos admiradores e admiradoras, que os cronistas do futuro haverão de relatar:

De todos os lugares vinham aos milhares. E em pouco tempo eram milhões. Invadindo ruas, campos e cidades. Espalhando amor aos corações.

É fácil de prever que ele vai encarar a multidão com um sorriso tímido entre as rugas do tempo e assim se apresentará:

Eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores. Aquele que no peito ainda abriga recordações de seus grandes amores.

Então, ele olhará nos olhos de todas as mulheres como se elas fossem uma só, e fará uma proposta absolutamente ousada, mas adequada para este sábado especial:

Eu te proponho nós nos amarmos, nos entregarmos, neste momento, tudo lá fora deixar ficar. Eu te proponho te dar meu corpo, depois do amor, o meu conforto, e além de tudo, depois de tudo, te dar a minha paz.

Claro que haverá um grande suspiro coletivo no ginásio. Implacável, ele adotará um tom respeitoso para lançar flechas docemente envenenadas:

Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você...

Quando elas recuperarem o fôlego e enxugarem as lágrimas, ele aproximará os lábios do microfone e começará a sussurrar melodiosamente:

Este amor demais antigo, este amor demais amigo que de tanto amor viveu, que manteve acesa a chama da verdade de quem ama, antes e depois do amor. E você amada amante faz da vida um instante ser demais para nós dois.

Então, antes de arremessar botões de rosa para a plateia suplicante, ele plantará nas almas femininas o significado do gesto.

As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudade de você.

Espalhará, porém, o perfume da esperança e deixará no ar uma visão do paraíso de todos os enamorados.

Além do horizonte, deve ter um lugar bonito pra viver em paz. Além do horizonte, existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar.

Diante dos olhares brilhantes que se acenderão, ele individualizará a promessa:

Eu te darei o céu, meu bem. E o meu amor também.

Só então ele começará a se despedir suavemente, com a mesma ternura com que se despediu outro dia de Lady Laura, misturando canção e pranto:

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, um soluço e a vontade de ficar mais um instante.

Porto Alegre recebe hoje com muito orgulho esse homem extraordinário, cujo nome nem é preciso mencionar nesta crônica porque todos o identificam por seus versos. Ele realmente possui uma força estranha.

O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece.

quarta-feira, 9 de junho de 2010



09 de junho de 2010 | N° 16361
MARTHA MEDEIROS


Figurinhas

Entrei numa tabacaria para comprar uma revista. Na hora de pagar, havia uma família na minha frente: pai, mãe e um garoto de uns cinco anos. O menino deu uma puxadinha no casaco do pai e disse: “Não esquece as figurinhas”. O pai pediu ao atendente: “Me vê dois pacotes de figurinhas”.

O rosto do menino murchou como se tivesse acabado de descobrir que Papai Noel não existe. “Dois?” O pai nem olhou pra ele. O menino: “Só?”. O pai olhou pra esposa e disse: “Um ou dois, mãe?”. Ela respondeu: “Dois, vai”. O pai foi enfático com o atendente: “Dois pacotes”.

Eu estava com minha carteira na mão e a vontade que tive era de comprar todas as figurinhas da loja para aquele menino que assistiria em breve a sua primeira Copa do Mundo, já que na anterior ele era pouco mais que um bebê.

Mas eu não podia me intrometer na dinâmica daquela família, não podia desautorizar aquele pai, minha gentileza poderia ser considerada uma humilhação para ele, então engoli em seco e fiquei lembrando da minha infância.

Todos os sábados à noite, eu e meu irmão dormíamos na casa de uma das avós. Um sábado na vó Iby, outro sábado na vó Zaíra. Sempre antes de nos deixar lá, o pai nos levava numa tabacaria que ficava na esquina da Coronel Bordini com a Avenida América e permitia que a gente escolhesse um gibi, além de comprar 10 pacotes de figurinha para o álbum que estivéssemos colecionando.

Existia de tudo: álbum com fotos de bichos, de carros, de artistas de novela e muito álbum com jogador de futebol. Dez pacotes. Ah, e Mentex. Uma caixinha de Mentex para cada um. Era o grande momento da semana.

Minhas avós já faleceram, o que é triste, mas não é uma surpresa, ou teriam hoje mais de cem anos. Surpresa é ver que os álbuns de figurinha seguem vivos e com o mesmo prestígio. Uma das poucas tradições que se mantiveram inalteradas.

Existem álbuns virtuais, claro, mas não são esses que empolgam, e sim os feitos de papel, comprados em bancas, com figuras vindas em pacotinhos, tudo igual como antes, e gerando a mesma ansiedade infantil, capaz de mobilizar meninos e meninas a se relacionarem de verdade, olho no olho, para promoverem as trocas.

Aliás, ansiedade não só infantil, como tenho acompanhado aqui em casa. Sábado passado recebi a visita do meu afilhado, de cinco anos, que veio trocar figuras com a prima dele, minha filhinha de 19, que já está na faculdade. Vê-los os dois, sentados no sofá, trocando Nilmar por Robinho, e se excomungando pela falta de um Elano, me fez sorrir e pensar que o mundo tem salvação.

Tanto tem, que aquela história da família na tabacaria não terminou. Aos 45 do segundo tempo, o pai fez um cafuné na cabeça do filho e disse: “Tô brincando. Moço, me dá 10 pacotinhos”.

Não teria como descrever aqui o sorriso do menino, ainda que, por dentro, suspeito que ele quisesse matar o pai – no que eu apoiaria, porque não entendo quem gosta de torturar crianças a título de “brincadeira”. Mas vá lá, foi um final feliz. Ainda bem que não me meti.

Uma ótima quarta-feira. Aproveite o dia


09 de junho de 2010 | N° 16361
MARTHA MEDEIROS


Figurinhas

Entrei numa tabacaria para comprar uma revista. Na hora de pagar, havia uma família na minha frente: pai, mãe e um garoto de uns cinco anos. O menino deu uma puxadinha no casaco do pai e disse: “Não esquece as figurinhas”. O pai pediu ao atendente: “Me vê dois pacotes de figurinhas”.

O rosto do menino murchou como se tivesse acabado de descobrir que Papai Noel não existe. “Dois?” O pai nem olhou pra ele. O menino: “Só?”. O pai olhou pra esposa e disse: “Um ou dois, mãe?”. Ela respondeu: “Dois, vai”. O pai foi enfático com o atendente: “Dois pacotes”.

Eu estava com minha carteira na mão e a vontade que tive era de comprar todas as figurinhas da loja para aquele menino que assistiria em breve a sua primeira Copa do Mundo, já que na anterior ele era pouco mais que um bebê.

Mas eu não podia me intrometer na dinâmica daquela família, não podia desautorizar aquele pai, minha gentileza poderia ser considerada uma humilhação para ele, então engoli em seco e fiquei lembrando da minha infância.

Todos os sábados à noite, eu e meu irmão dormíamos na casa de uma das avós. Um sábado na vó Iby, outro sábado na vó Zaíra. Sempre antes de nos deixar lá, o pai nos levava numa tabacaria que ficava na esquina da Coronel Bordini com a Avenida América e permitia que a gente escolhesse um gibi, além de comprar 10 pacotes de figurinha para o álbum que estivéssemos colecionando.

Existia de tudo: álbum com fotos de bichos, de carros, de artistas de novela e muito álbum com jogador de futebol. Dez pacotes. Ah, e Mentex. Uma caixinha de Mentex para cada um. Era o grande momento da semana.

Minhas avós já faleceram, o que é triste, mas não é uma surpresa, ou teriam hoje mais de cem anos. Surpresa é ver que os álbuns de figurinha seguem vivos e com o mesmo prestígio. Uma das poucas tradições que se mantiveram inalteradas.

Existem álbuns virtuais, claro, mas não são esses que empolgam, e sim os feitos de papel, comprados em bancas, com figuras vindas em pacotinhos, tudo igual como antes, e gerando a mesma ansiedade infantil, capaz de mobilizar meninos e meninas a se relacionarem de verdade, olho no olho, para promoverem as trocas.

Aliás, ansiedade não só infantil, como tenho acompanhado aqui em casa. Sábado passado recebi a visita do meu afilhado, de cinco anos, que veio trocar figuras com a prima dele, minha filhinha de 19, que já está na faculdade. Vê-los os dois, sentados no sofá, trocando Nilmar por Robinho, e se excomungando pela falta de um Elano, me fez sorrir e pensar que o mundo tem salvação.

Tanto tem, que aquela história da família na tabacaria não terminou. Aos 45 do segundo tempo, o pai fez um cafuné na cabeça do filho e disse: “Tô brincando. Moço, me dá 10 pacotinhos”.

Não teria como descrever aqui o sorriso do menino, ainda que, por dentro, suspeito que ele quisesse matar o pai – no que eu apoiaria, porque não entendo quem gosta de torturar crianças a título de “brincadeira”. Mas vá lá, foi um final feliz. Ainda bem que não me meti.

Uma ótima quarta-feira. Aproveite o dia

terça-feira, 8 de junho de 2010



08 de junho de 2010 | N° 16360
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


A Casa da Aldeia

Ela não é nenhum palácio, nenhuma mansão, nenhum shopping center de luxo. Em sua humildade, jaz esquecida, humilhada e ofendida, numa esquina de Cachoeira, não longe das águas do Jacuí. Sem a mínima pompa ou circunstância, atende pelo nome de Casa da Aldeia e ameaça desabar. Erguida há 161 anos, é hoje o imóvel mais antigo da cidade, fora a Igreja Matriz, e se ninguém fizer nada por ela só restarão os escombros de sua memória.

Mais do que isso, permanecerão nada além de sombras exaustas das vidas, das infâncias, dos romances que transcorreram em seu interior ancestral. Quando foi construída, recém terminava a maior guerra que já sacudiu o Rio Grande. Os lanceiros farrapos ainda guardavam as armas dos embates, certos de que haviam obtido uma paz com honra.

Longe estavam ainda as questões platinas, a Guerra do Paraguai, a abolição da escravatura e a proclamação da República. A todos esses episódios a Casa da Aldeia assistiu, como uma testemunha da História navegando no tempo.

Mas depois soçobrou. Mais de um centenar de invernos quase a puseram a pique. O que restou está precariamente preservado por tapumes e uma lona, que buscam conter sua deterioração. Segundo leio no Jornal do Povo, em 2007 a promotora de Justiça Giani Saadi obteve liminarmente a garantia de que a prefeitura desviaria o trânsito das ruas próximas, evitando assim a trepidação que poderia prejudicar sua estrutura.

Agora é outra mulher de igual coragem, a juíza Lílian Astrid Ritter, que determinou ao Município a elaboração e execução de um plano de restauração e proteção para o prédio.

A Oscip Defender delineou um plano que prevê a transformação do espaço em um ponto sociocultural, com o desenvolvimento de projetos de memória, artes, comunicação, turismo e educação patrimonial, contando com uma biblioteca comunitária e ambiente de inclusão digital. Ótimo. Em iniciativas dessa natureza, é preciso ser ousado. Mas se nem tudo for alcançado, que se crie na Casa da Aldeia pelo menos um museu, à altura do passado de Cachoeira.

Então os habitantes e visitantes de hoje poderão transitar pelos caminhos e esquinas do que já foi uma aldeia à beira do rio plantada. Conhecemos, em Cachoeira, épocas melhores. Já fomos a segunda praça financeira do Estado, já detivemos o mais moderno hospital das três Américas, já plasmamos uma ponte-barragem que não conhecia rival no mundo, já fomos a Capital do Arroz do continente.

Não custa resgatarmos um símbolo de nossa ida grandeza.

Lindo dia para você. Aproveite a terça-feira

sábado, 5 de junho de 2010



06 de junho de 2010 | N° 16358
MARTHA MEDEIROS


Sons que confortam

O choro na sala de parto, o primeiro “eu te amo”, o barulho forte da chuva quando você está no quentinho da sua cama...

Eram quatro da manhã quando seu pai sofreu um colapso cardíaco. Só estavam os três na casa: o pai, a mãe e ele, um garoto de 13 anos. Chamaram o médico da família. E aguardaram. E aguardaram.

E aguardaram. Até que o garoto escutou um barulho lá fora. É ele que conta, hoje, adulto: Nunca na vida ouvira um som mais lindo, mais calmante, do que os pneus daquele carro amassando as folhas de outono empilhadas junto ao meio-fio.

Inesquecível, para o menino, foi ouvir o som do carro do médico se aproximando, o homem que salvaria seu pai. Na mesma hora em que li esse relato, imaginei um sem-número de sons que nos confortam. A começar pelo choro na sala de parto. Seu filho nasceu. E o mais aliviante para pais que possuem adolescentes baladeiros: o barulho da chave abrindo a fechadura da porta. Seu filho voltou.

E pode parecer mórbido para uns, masoquismo para outros, mas há quem mate a saudade assim: ouvindo pela enésima vez o recado na secretária eletrônica de alguém que já morreu.

Deixando a categoria dos sons magnânimos para a dos sons cotidianos: a voz no alto-falante do aeroporto dizendo que a aeronave já se encontra em solo e o embarque será feito dentro de poucos minutos.

O sinal, dentro do teatro, avisando que as luzes serão apagadas e o espetáculo irá começar.

O telefone tocando exatamente no horário que se espera, conforme o combinado. Até a musiquinha que antecede a chamada a cobrar pode ser bem-vinda, se for grande a ansiedade para se falar com alguém distante.

O barulho da chuva forte no meio da madrugada, quando você está no quentinho da sua cama.

Uma conversa em outro idioma na mesa ao lado da sua, provocando a falsa sensação de que você está viajando, de férias em algum lugar estrangeiro. E estando em algum lugar estrangeiro, ouvir o seu idioma natal sendo falado por alguém que passou, fazendo você lembrar que o mundo não é tão vasto assim.

O toque do interfone quando se aguarda ansiosamente a chegada do namorado. Ou mesmo a chegada da pizza.

O aviso sonoro de que entrou um torpedo no seu celular.

A sirene da fábrica anunciando o fim de mais um dia de trabalho.

O sinal da hora do recreio.

A música que você mais gosta tocando no rádio do carro. Aumente o volume.

O aplauso depois que você, nervoso, falou em público para dezenas de desconhecidos.

O primeiro eu te amo dito por quem você também começou a amar.

E o mais raro de todos: o silêncio absoluto.

Lya Luft

Os enigmas da adição

"Qualquer adição a drogas, para ser superada, exige um esforço sobre-humano, às vezes pelo resto da vida"

Já escrevi sobre esse assunto. Escreverei mais vezes. Observadores, vítimas ou especialistas nesse humano drama, rodeiam na ponta dos pés o enigma de tanto sofrimento.

Os viciados em qualquer droga (incluo aí a droga lícita chamada álcool), suas famílias, testemunhas da dor e decadência de pessoas amadas, as vítimas de violência no trânsito ou em casa, todos são matéria de reflexão e perplexidade. Livros, seminários, teses e teorias em abundância são elaborados em cima da primeira pergunta: por que nos drogamos? E a outra grande indagação: como nos salvamos – se nos salvamos – e por que isso é tão difícil?

Nem para uma questão nem para a outra há muita explicação ou lógica. Não é errado dizer que nos drogamos para anestesiar angústia, tristeza e frustração; por onipotência juvenil, do tipo "eu sei me cuidar"; por achar que ficamos mais fortes, mais falantes, mais interessantes.

A droga cega para os fatos reais, pois bêbados ou impregnados de outra substância somos importunos, chatos, patéticos. Mas não é só isso: existe um componente imponderável, que chamo voz do vórtice sombrio embaixo dessa escada da vida que tantas vezes subimos pelo lado que desce – ele chama para a autodestruição sem freios. A razão de qualquer vício não está na superfície, não é visível. Muitas vezes mesmo para o mais dedicado terapeuta permanece um enigma, que nem o viciado entende.

Uma vez instalada a adição, o amor da família ou pela família, a ruína financeira, vergonha ou isolamento, pouco adiantam: foi-se o instinto de sobrevivência, último a nos abandonar. Algumas drogas, como o crack (objeto de excelentes campanhas), viciam quase imediatamente.

Outras, como o álcool, gozam de criminosa tolerância numa cultura que acha graça dos seus efeitos, ignora seus males e considera natural a propaganda de bebidas, às vezes ligada a esporte ou esportistas.

Drogas sintéticas, agora em voga, poriam fim ao poder do traficante, o que não creio. Somos uma geração medicada: remédio para animar, para acalmar, para transar, para sofrer menos, para não sofrer. Para não pensar, talvez: observem mulheres de qualquer classe e idade com aquele típico olhar vazio da "medicada".

Há quem veja no inocente ritual familiar uma das raízes da tragédia: todo mundo bebe, todo mundo brinda; vinho com água para crianças, champanhe na chupeta do que acaba de ser batizado. Não é tão simples assim. Para os mais ignorantes, o primeiro porre na adolescência é um passo iniciático; um pai divide o cigarrinho de maconha com o filho, achando-se liberal; a mãe finge ignorar os olhos injetados, o fracasso na escola.

Nem todos entendem que adição, seja de que substância for, não é falta de vergonha ou caráter: é doença grave e sem cura, embora passível de controle. Isso provoca hostilidade, incompreensão e afastamento na família. Além do mais, a maioria dos que bebem ou usam drogas (exceto o crack, que cria dependência quase de imediato) não se vicia, o que torna a questão mais complexa ainda: por que uns sim e outros não?

E como nos salvamos? Qualquer adição, para ser superada, exige um esforço sobre-humano, às vezes pelo resto da existência. A família nem sempre consegue ajudar: o viciado torna-se um estranho, os envolvidos se afastam.

Grupos de alcoólicos anônimos e outros são os mais bem-sucedidos, acompanhados de remédios, terapias, quando necessário um período de internação. O medo da morte pode despertar (nem sempre) para a crua realidade; algum novo relacionamento serve de alavanca, se deixar claro: com vício, nada feito.

Os casos de vitória sobre a adição são heroicos; inspiram respeito e admiração; provam que a vida pode superar a morte. Nessa tumultuada arena, a vontade de sair do inferno, o arcaico desejo de sobrevivência, de significado, respeito e reconstrução, às vezes vencem. Ilumina-se o que parecia uma noite definitiva: alguém com alguma ajuda conseguiu abrir a pesada porta para fora dessa prisão, sinal de que outros podem fazer o mesmo.

Lya Luft é escritora


Unidos pelo futebol......e pelo DNA

Os estudos genéticos iluminam a rota migratória da humanidade. Os ancestrais de Luis Fabiano e de Charles Miller, introdutor do futebol no Brasil, saíram juntos da África, agora palco
da grande festa do esporte


Fábio Altman, de Johannesburgo
Montagem com fotos de Paulo Vitale e Elsar/Shutterstock/RF
LUIS FABIANO
O craque da seleção brasileira: ele vai brilhar no continente onde nasceu o Homo sapiens, ancestral de toda a humanidade



Charles William Miller, filho de um escocês que chegou ao Brasil para ajudar a administrar a estrada de ferro Santos-Jundiaí e de uma brasileira de família inglesa, retornou de uma viagem de estudos a Southampton, na Inglaterra, no fim de 1894, com peças curiosas na mala.

Segundo relato do escritor e historiador John Mills, Miller trouxe na bagagem um livro de regras do Association Football, duas bolas de capotão, um par de chuteiras e uma bomba de ar. Em 14 de abril de 1895, no campo da Várzea do Carmo, em São Paulo, ele organizaria a primeira partida de futebol oficial do Brasil, entre as equipes The GasWorks Team e The São Paulo Railway Team.

Luis Fabiano Clemente tinha 13 anos de idade quando foi levado para treinar em seu primeiro clube, o Guarani de Campinas. Ele era um dos grandes destaques de um campinho lindamente apelidado de Buracanã. Criado pela mãe e pelo avô materno, Benedito, o Ditão, dava trabalho na escola e logo se empregou em uma oficina mecânica. O adolescente inquieto que se tornaria cen-troa-vante da seleção de Dunga na África do Sul se alegrava mesmo era no Buracanã praticando o jogo que Charles Miller, falecido em 1953, apresentara ao Brasil 100 anos antes e que foi aqui adotado não apenas como esporte, mas como religião nacional.

Milhões de brasileiros de seis gerações devem ao filho de escocês as emoções insubstituíveis proporcionadas pelo futebol. Centenas de craques saíram dos Buracanãs para a glória, a riqueza e a fama mundial. Para celebrar o encontro, na verdade, o reencontro de Luis Fabiano com Charles Miller e a África, de onde saíram os antepassados comuns deles – e de toda a humanidade –, VEJA decidiu valer-se dos mais modernos métodos da genética para traçar as rotas migratórias das correntes humanas que produziram o artilheiro e o pioneiro do futebol.

VEJA pediu a dois descendentes do pioneiro – Charles Rudge Miller, seu neto, e Angela Susan Fox Rule, sobrinha-bisneta – e a Luis Fabiano que colhessem material genético e permitissem que ele fosse estudado em laboratório. Todos concordaram, e as células (raspadas da parte interna da bochecha) foram submetidas ao teste conhecido como DNA de ancestralidade pelo laboratório Gene, de Belo Horizonte, um dos mais reputados do mundo.

Os avanços desses testes de DNA – os kits podem ser encomendados pela internet – fizeram da antropologia genética um dos métodos mais precisos e rápidos de investigação da evolução e das rotas migratórias da humanidade a partir de seu berço africano.

A Copa do Mundo da África do Sul, a primeira no continente negro, está eivada de simbolismos – a começar pelo fascínio de ser realizada em um país que, até vinte anos atrás, abrigava uma das mais violentas atrocidades do século XX, o regime racista do apartheid, derrotado pela liderança de um personagem mítico, Nelson Mandela. É fascinante também imaginar que jogadores e torcedores das 32 seleções estejam com a atenção voltada para o continente onde o Homo sapiens surgiu.

Ao esmiuçar a jornada genética de Charles Miller e Luis Fabiano – um branco, genuinamente europeu, outro mulato, descendente de escravos africanos –, esta reportagem demonstra a estupidez da "ciência das raças" que, no século XX, embasou o mal absoluto do Holocausto com seus 5 milhões de vítimas "biologicamente inferiores" e deu sustentação ao apartheid sul-africano.

Hoje, a melhor ciência informa que as raças são variações cosméticas do núcleo genético humano, incapazes sozinhas de determinar a superioridade de um indivíduo ou grupo sobre outros. Diz Sérgio Pena, médico fundador do laboratório Gene: "Não somos todos iguais, somos igualmente diferentes".

Para desenhar o mapa que ilustra esta reportagem, foram usados os resultados dos exames de ancestralidade paterna dos personagens. VEJA encomendou também exames que permitem traçar a rota das linhagens maternas de Luis Fabiano e Charles Miller. A linhagem materna é obtida pelo estudo das mutações no DNA mitocondrial que cada pessoa herda apenas da mãe. Ela é menos precisa que as marcas deixadas pelo caminho evolutivo no cromossomo Y, definidor do sexo masculino.

A ancestralidade materna mostra que Luis Fabiano teve uma tataravó da etnia banto, que é predominante na maior parte do continente africano. A linha materna de Charles Miller remonta ao que parece ser a origem comum de quase 100% do DNA mitocondrial, uma Eva mitocondrial africana que viveu entre 11 000 e 15 000 anos atrás.

Em 1972, o biólogo americano Richard Lewontin demonstrou experimentalmente que 85,4% da diversidade dos genes humanos ocorriam entre indivíduos de uma mesma população. Ou seja, quando se examina o núcleo genético, um sueco pode ser mais diferente de outro sueco do que de um indivíduo negro de origem africana. Sérgio Pena faz um curioso raciocínio: "Imagine que um cataclismo nuclear destruísse toda a população da Terra, deixando ilesa apenas a população africana.

O que nos sobraria em termos de riqueza genética? Quase tudo, porque as populações africanas, vistas muitas vezes como homogêneas, são bastante diversificadas. No exemplo catastrófico que estamos utilizando aqui, 93% da diversidade total da humanidade seria preservada. Se apenas a população zulu da África do Sul sobrevivesse, mesmo assim 85% da variabilidade da raça humana estaria presente nos genes dos indivíduos".

O italiano Luigi Cavalli-Sforza, geneticista que primeiro organizou uma árvore genealógica da espécie humana e a relacionou com a evolução das línguas, acredita que sempre fomos induzidos pela aparência a considerar que "as raças são puras (isto é, homogêneas) e muito diferentes entre si".

Escreve ele em Genes, Povos e Línguas: "É difícil encontrar outro motivo para explicar o entusiasmo dos filósofos e cientistas políticos do século XIX, como Gobineau e seus seguidores, pela preservação da pureza racial. Como só podiam estudar os traços visíveis na época, não era absurdo imaginar que raças puras existissem.

Hoje, porém, sabemos que as coisas não são bem assim e que seria praticamente impossível criar uma raça pura. Para obter com efeito uma ‘pureza’ parcial (ou seja, uma homogeneidade genética que nunca ocorre espontaneamente em populações de animais superiores), precisaríamos de, no mínimo, vinte gerações de endogamia".

Charles Miller e Luis Fabiano são diferentes na aparência, mas não no seu coração genético. O estudo comparativo do DNA de ambos mostra que os ancestrais deles começaram juntos a grande aventura migratória da humanidade há cerca de 50 000 anos. Quase 5 000 anos depois, já fora da África, o último ancestral comum de ambos deu origem a descendentes que escolheram rumos diferentes na vida. Eles começaram a carreira-solo com absolutamente a mesma bagagem genética. Como é sabido, o DNA é uma molécula capaz de se duplicar – ou seja, fazer uma cópia de si mesma.

Como toda reação bioquímica, a duplicação do DNA não produz cópias absolutamente perfeitas. O processo sofre influên-cias externas de origem química, da radiação solar e de outras fontes radioativas. Essas pequenas imperfeições tendem a ocorrer seguindo determinado padrão. Elas vão se acumulando com o tempo e tornam-se variações passadas como herança genética para os descendentes, criando uma linhagem.

O isolamento entre as populações que escolheram rotas migratórias diferentes impede que as variações acumuladas por um grupo sejam compartilhadas com o outro – o que, a longo prazo, eliminaria as maiores diferenças pela miscigenação e as duas linhagens se fundiriam em uma só.

As diferenças entre grupos isolados geograficamente tendem a se acentuar também pelas razões expostas por Charles Darwin e seus sucessores no estudo da Teoria da Evolução. As variações genéticas ocorrem ao acaso e, com o tempo, algumas se tornam predominantes em uma população porque elas se mostraram vantajosas para aquela espécie naquele determinado ambiente. Tome-se o exemplo das peles claras e escuras.

O Homo sapiens tinha uma população inteiramente formada por indivíduos de pele escura quando saiu da África. As variações genéticas que tendem a produzir pele clara certamente ocorreram indistintamente em todos os contingentes humanos.

Mas elas só se firmaram como mutações vantajosas para os grupos humanos que foram povoar as latitudes mais baixas do globo terrestre, onde o efeito protetor da melanina, o pigmento que dá cor escura à pele, é desnecessário – e até prejudicial por filtrar a fraca insolação das regiões frias, impedindo a absorção da vitamina D garantida pelos raios ultravioleta da luz solar.

"Os resultados dos exames de ancestralidade de Charles Miller e Luis Fabiano são bonitos porque confirmam, cientificamente, o que imaginávamos encontrar", diz Sérgio Pena. É uma beleza, do ponto de vista da antropologia genética, e demonstra a utilidade de entendê-la e esperar que, um dia, ela ajude a desvendar o enigma clássico da condição humana que é a eterna desconfiança do outro, do diferente, do estrangeiro com sua aparência, cultura e religião estranhas.

O DNA nada sabe desse sentimento. No seu coração genético, a espécie humana é tão mais forte e sadia quanto mais variações apresenta. Se para a humanidade o inferno sempre foram os outros, para o DNA o inferno é o fim das diferenças.
Ipon-Boness/Sipa Press



“Lena, te amamos!”

A Europa festeja a cantora alemã Lena Meyer-Landrut que venceu o festival da canção do continente
Paulo Nogueira, de Oslo

Jörg Carstensen
INOVAÇÃO ALEMÃ
Lena, a diva adolescente. Sorriso fácil, boa voz e uma canção americana

Ela não se veste como Lady Gaga, não bebe como Amy Winehouse, não tem os decotes nem as curvas de Beyoncé, não dança como Madonna, não é bizarra como Susan Boyle. Mas nos últimos dias todas essas cantoras têm parecido pequenas diante da adolescente alemã Lena Meyer-Landrut.

Aos 19 anos, completados no final de maio, Lena é a sensação musical da primavera no Hemisfério Norte.

Com seu estilo original – roupas simples, maquiagem discreta, voz sem berros, mas intensa na hora certa, passos graciosos e um ar de menina doce e simples –, Lena conquistou para a Alemanha o Eurovision, o maior festival de música da Europa. “Satellite”, a canção que ela interpretou em Oslo, a capital da Noruega, sede neste ano do Eurovision, se tornou uma espécie de hino jovem europeu.

“Satellite” é aquele tipo de música que você ouve e depois, sem se dar conta, está cantando.

A grande final da competição, na moderna Telenon Arena de Oslo, foi acompanhada por um público calculado em 100 milhões de pessoas, um dos maiores na história da televisão na Europa. A decisão é fruto de um sistema que mistura o voto popular (por telefone ou SMS) à voz de jurados especializados.

Cerca de 40 países disputaram o Eurovision em 2010. Na primeira etapa, cada um deles fez, por uma rede de TV local, sua escolha. Definidas as músicas, Oslo entrou em cena em meados de maio. Durante duas semanas ensolaradas, a bela e alegre cidade de quase 350 lagos presenciou múltiplos ensaios e duas semifinais antes da grande noite em que a favorita Lena sairia coroada.

Como em todas as competições, houve júbilo e houve lágrimas. A mídia britânica tentava entender e explicar, depois de anunciados os resultados, como o Reino Unido conseguira terminar na última colocação, atrás de países como Albânia, Chipre e Sérvia. O Eurovision fez com que, pelo menos por alguns momentos, os europeus tirassem a cabeça da enorme crise econômica que coloca em risco a sobrevivência do euro como moeda comum de vários países.

A vitória foi festejada como uma Copa do Mundo pelos alemães. Lena foi recebida em sua cidade natal, Hannover, onde está terminando o equivalente ao ensino médio, como uma heroína. Quarenta mil pessoas enfrentaram uma chuva para vê-la chegar ao aeroporto. Com seu sorriso fácil, uma de suas marcas, ela tratou de recomendar à multidão que se protegesse da chuva.

A chanceler Angela Merkel disse que ela é um exemplo e uma inspiração para os jovens alemães. “Lena, amamos você!”, exclamou o jornal sensacionalista Bild. Até a vitória, o Bild ignorou Lena porque ela se recusara a conceder entrevista a seus jornalistas.
‘‘Quando eu canto, não penso em nada. Simplesmente canto’’ LENA MEYER-LANDRUT, vencedora do Eurovision

O Eurovision surgiu em 1956. A intenção era ajudar a reintegrar um continente que saíra destruído e dividido da Segunda Guerra Mundial. Foi uma competição modesta nos primeiros anos. Na década de 70, quando tinha já um tamanho médio, o Eurovision revelou os suecos brilhantemente cafonas do Abba com “Waterloo”, a música vencedora de 1974.
Daniel Sannum Lauten

TALENTO

Lena canta em Oslo, na noite que a consagrou. Ela ainda não terminou

O festival começou a tomar vulto mesmo com a globalização, nos anos 90. Hoje, é uma superprodução que mobiliza dezenas de milhões de pessoas e em torno da qual gira uma indústria vigorosa e em expansão.

O país vencedor ganha o direito de ser a sede no ano seguinte. Já existe uma discussão animada entre os alemães sobre as cidades que merecem abrigar o Eurovision em 2011.

A Alemanha foi recompensada pelas inovações. Pela primeira vez em mais de meio século de competição os alemães inscreveram uma música em inglês.

Outro passo fora da caixa é o fato de que “Satellite” não foi obra de um compositor local: foi comprada num estúdio americano especializado em fazer hits, o Redzone, de Atlanta. “Umbrella”, de Rihanna, foi criada pelo Redzone. “Satellite” não foi sequer composta especialmente para o Eurovision.

Foi escrita há três anos por uma dupla de compositores e estava na prateleira do estúdio à espera de uma oferta.

As ousadias alemãs receberam a contribuição milionária do talento natural, despojado e promissor de Lena. Numa entrevista em Oslo, durante as duas semanas de competição, perguntaram a ela no que pensava ao cantar. “Quando eu canto, não penso em nada”, disse Lena. “Simplesmente canto.”

Ela tem o maior atributo de uma diva: quando canta, o mundo ouve. A Europa está apaixonada por ela: “Satellite” é número um em downloads em vários países do continente.

Lena é a namoradinha dos europeus – e esse é um caso de amor que tem tudo para ser longo e feliz.