
30 de março de 2011 | N° 16655AlertaVoltar para a edição de hoje
MARTHA MEDEIROS
A arte de perguntar
Parece simples entrevistar alguém: basta fazer algumas perguntas e torcer para que o entrevistado não seja uma gaveta emperrada. Só que de simples não tem nada. Acabo de passar por uma experiência devastadora e inédita em minha vida: com um gravador na mão e o coração na outra, fui entrevistar a atriz Patricia Pillar, a pedido de uma revista, que achou que uma escritora faria algo diferente. Ah, essa mania de inventar moda.
Uma mulher que já passou por um câncer de mama, que é casada com um presidenciável, que já protagonizou um filme que concorreu ao Oscar, que fez inúmeras novelas de sucesso e dirigiu um documentário sobre a carreira de um ídolo esquecido como Waldick Soriano, essa mulher – belíssima em seus 47 anos – deve ter muito para contar, presume-se.
Teria, claro, se ela duelasse com um jornalista de fato, um profissional astuto. Não é o meu caso. Jornalistas sabem fazer as perguntas certas, e fazem muitas. Já eu nasci acreditando que fazer muitas perguntas é bisbilhotice.
Não há nada mais contraproducente do que um entrevistador discreto, com receio de invadir a privacidade do entrevistado. Eu sabia que não estava em frente a uma mulher fruta: se estivesse, bastaria ligar o gravador e a intimidade me seria ofertada em doses generosas.
Mas Patricia não se entrega fácil e eu não seduzo o suficiente. Estávamos condenadas a comer biscoitinhos e falar trivialidades, como duas amigas de colégio. Foi o que fizemos e nos tornamos. Que tarde adorável. Que tarde perdida.
Patricia teve um câncer há 10 anos. Superou. Hoje esbanja saúde. Será que alguém tem vontade de lembrar maus momentos? Toquei no assunto muito rapidamente e ela rapidamente falou qualquer coisa, e logo estávamos comentando o dia lindo lá fora. Patricia vive há muitos anos com o deputado federal Ciro Gomes e jamais vi o casal no castelo de Caras.
Se eu não pergunto nem sobre o casamento das minhas amigas, como é que vou xeretar a relação preservadíssima de alguém que conheço há cinco minutos? Patricia queria ter tido filhos, mas o destino a fez adiar os planos até um ponto sem volta. Vou eu perguntar como ela se sente tendo desistido da maternidade? Eu? Eu que não pergunto pra namorado onde ele esteve sexta-feira à noite que não me ligou?
Passei duas horas na casa da Patricia Pillar e ainda ganhei uma carona de volta até o hotel. Atravessamos as ruas do Rio de Janeiro rindo à toa. Já estamos trocando e-mails. Amor à primeira vista.
Ganhei uma amiga e a revista ganhou uma matéria meia-boca. Que Patricia tenha mais sorte na próxima vez, que mereça a visita de um jornalista arrojado, que tenha desenvoltura, cara de pau, audácia. Pensei em sugerir o Luis Fernando Verissimo.
Well, São Paulo continua com temperatura de vinte graus, nesta manhã e nublado. Um lindo dia para você.


Se você é mulher, é bem provável que em algum momento da sua vida (lá pelos 10 anos de idade, no caso de neuróticas como eu), você tenha começado a pensar com quantos anos gostaria de ter um filho. Sim, porque a pergunta é com que idade e não SE você gostaria de ter um filho. É o que todo mundo, aparentemente, espera de você, mocinha de família que vai estudar, fazer faculdade, casar e engravidar. Tudo assim, necessariamente nessa ordem (porque a vida é assim, milimetricamente planejada, claro). Na época da minha avó, os planos eram lá pelos 19 ou 20 anos. Na da minha mãe, lá pelos 24 ou 25 anos.


A vida mundana, ela mesma, tem que ser uma farra diária
Qualquer um tem o direito de ser contra os EUA, mas não há nada mais ridículo que o ato anti-Obama
O que me desconcerta em hotel é a visita da camareira quando se está fora do quarto. É a evidência da nossa completa vulnerabilidade diante de uma desconhecida
Se tivéssemos de adivinhar qual fantasia faria mais sucesso nos blocos de rua neste ano, apostaríamos no cisne branco ou no cisne negro? Nenhum dos dois, provavelmente. O filme que deu o Oscar a Natalie Portman remete muito mais ao terror e à dor que à alegria e à leveza do Carnaval. 

Descobri que não sou apenas do sul, do pampa, do inverno. Possuo profunda identificação com o lado supertropical do Brasil

