segunda-feira, 31 de dezembro de 2012



DESEJOS

O grande barato da vida é olhar pra trás e sentir orgulho da nossa história.

O grande lance , é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e AGORA! Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o bolo sola, o pneu fura, chove demais...

Mas pensa só: Tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia? Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?

Tá certo, eu sei, Polyanna é personagem de ficção, hiena come porcaria e ri, eu sei. Não quero ser cega, burra ou dissimulada. Quero viver bem. 2012 foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de probleminhas...

Normal. Às vezes se espera demais dos outros e da vida, mas...Normal.... A grana que é curta, o amigo que decepcionou, o amor que acabou...Normal.

2013 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio , o ano,  mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o que? Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que eu desejo pra todos nós é sabedoria, é que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado. Ele passou na sua vida.

Não pode ser responsável por um dia ruim. Entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passa ela pra categoria 3, a dos conhecidos. Ou muda de classe, vira colega. Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de uma frase que adoro: 'Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade'). Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso.

Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes...... Desejo pra todo mundo esse olhar especial......

2013 pode ser um ano especial se nosso olhar for diferente. Pode ser muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos, e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.

Eu desejo que 2013 seja o máximo para todos nós, maravilhoso, lindo, maneiro, especial... Depende de mim! De você!  De Nós!

"Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensar tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!"

UM FELIZ  ANO NOVO E OLHAR NOVO PARA TODOS NÓS!!!!!



31/12/2012 e 01/01/2013 | N° 17299
FABRÍCIO CARPINEJAR

Falo eu te amo fácil, fácil

Nada acontece por acaso.

Em tudo há um porquê.

Era para a gente se encontrar.

Apague essas frases, largue o curso preparatório de noivos.

Amor não é uma fatalidade, é algo que inventamos, é a responsabilidade de definir, de assinar, de honrar a letra.

Colocamos a culpa no destino para não assumirmos o controle, tampouco sustentarmos nossas experiências e explicarmos nossas falhas.

Amar é oferecer nossas decisões para o outro decidir junto, é alcançar o nosso passado para o outro lembrar junto, mas jamais significa se anular.

É vulnerabilidade consciente. É fraqueza avisada.

É entregar nossa solidão ciente de que é irreversível, podendo nos ferir feio, podendo nos machucar fundo.

Não existe nada mais horrível e mais lindo.

Ninguém nos mandou estar ali, ninguém nos obrigou a nos aproximar daquela pessoa, ninguém nos determinou a começar uma relação.

Não teve um chefão, um mafioso, um tirano, um ditador nos ordenando namorar.

Foi você que optou. Assuma até o fim que é sua obra, inclusive o fim. Assuma que sua companhia é resultado direto do seu gosto, sendo canalha ou santa. Não adianta se iludir e tirar o pé. Não vale fingir e mentir freios.

Amor não é hipnose, passe, incorporação. É você querendo o melhor ou pior para sua vida. É você roteirizando e dirigindo as cenas.

Aquele que tem receio de se declarar não se deu conta de que é o próprio diretor do filme, e que a tela vai mostrar o sucesso e o fracasso de sua imaginação.

Por isso, não tenho medo de dizer “eu te amo” desde o início. O amor aumenta para quem diz “eu te amo”.

Se vou errar, eu é que errei. Se vou acertar, sou eu que acertei. Se vou me danar, o inferno será meu.

Falo “eu te amo” já no segundo encontro. Já para assustar. Já para avisar quem manda. Já para estabelecer as regras do jogo.

Falo no calor da hora ou no moletom do entardecer. Amor não surge do além, amor se cria da insistência.

A precipitação é uma farsa. Não há como me adiantar e me atrasar em sentimento que eu mesmo realizo. É bobagem negacear prazos, esperar amadurecer limites.

Exponho minha paixão fácil, fácil. Nem precisa perguntar.

Aprendo a amar amando, para entender que a maior declaração ainda não é o “eu te amo”. É quando alguém confessa: “Não consigo mais viver sem você”.

Mas isso não é amor, é coragem.

sábado, 29 de dezembro de 2012



30 de dezembro de 2012 | N° 17298
MARTHA MEDEIROS

O fim e o começo

Como era de se esperar, não teve fim de mundo. Mas 2012 não foi um ano qualquer. Muitas pessoas a minha volta sentiram algo parecido com o que senti: que este foi um ano de intensidade única, com uma energia capaz de encerrar etapas. Um ano de despedidas, algumas concretas, outras mais sutis.

Houve quem tenha terminado casos mal resolvidos, quem tenha se conscientizado de um problema que não queria ver, quem se deu conta da fragilidade de uma situação, quem tenha aceitado um desafio que exigiu coragem, quem tenha enfrentado uma situação transformadora, quem tenha se jogado num estilo de vida diferente. Olho para os lados e vejo que 2012 não passou em branco para quase ninguém. Pelo menos não para mim, nem para pessoas próximas.

Meu microcosmo não revela o universo inteiro, lógico. Você talvez não tenha percebido nada de incomum no ano que passou, mas ainda assim seria interessante promover um fim categórico, encerrar o ano colocando uma pedra em algo que não lhe convém mais. 

Geralmente chegamos ao final de dezembro focados apenas no recomeço, na renovação, nos planos, sem nos darmos conta de que, para que nossas resoluções sejam cumpridas mais adiante, não basta pular sete ondas, comer lentilhas e outras mandingas. É preciso que haja, sim, o fim do mundo. O fim de um mundo seu, particular.

Qual o mundo que você precisa exterminar da sua vida?

Sugestão: o mundo do bullying cibernético. Ninguém é autêntico por esculhambar o trabalho dos outros, sendo agressivo e mal-educado só porque tem a seu favor o anonimato na internet. Perder horas na frente do computador demonstra sua total incapacidade de convívio. Bum! Fim desse mundo estreito.

O mundo da prepotência, aquele que faz você pensar que todos lhe estenderão um tapete vermelho sem você precisar dar nada em troca. Qualquer um pode ser profético quanto a seu futuro: passará o resto da vida achando que ninguém lhe dá o devido valor, isolado em sua torre de marfim.

O mundo obcecado do amor doentio, aquele amor que só persiste pelo medo da solidão, e que de frustração em frustração vai minando sua possibilidade de ser feliz de outro modo.

O mundo das coisas sem importância. Quanta dedicação ao sobrenome do fulano, à conta bancária do sicrano, à vida amorosa da beltrana, o quanto ela pagou, o quanto ele deveu, quem reatou. Por cinco minutos, vá lá. Os neurônios precisam descansar. Mas esse trelelé o dia inteiro, socorro.

O mundo do imobilismo. Do aguardar sem se mover. Da espera passiva pelo momento certo que nunca chega.

2012 prenunciou um cataclismo, só que não era global, e sim individual. Impôs que cada um desse um fim à vida como era antes e que promovesse uma mudança interna, profunda e renovadora. Feito?

Então que venha um 2013 do outro mundo para todos nós. 

RUTH DE AQUINO

50 previsões que darão errado

1. Lula dirá que sabia de alguma coisa.

2. Serra ganhará uma eleição. De Mister Simpatia. Fará um implante capilar com o hair stylist de Haddad, Celso Kamura.

3. Lula elogiará a imprensa brasileira e dará entrevista coletiva anunciando que não será mais candidato a nada.

4. Dilma viverá lua de mel com a base aliada, em especial com o PT. Será eleita musa dos sindicatos.

5. O PIB crescerá mais que o anunciado por Mantega.

6. Aécio Neves se recusará a ser candidato tucano à Presidência e passará a organizar concursos de misses.

7. O PSDB revelará, enfim, o projeto alternativo da oposição para o Brasil.

8. Fernando Henrique deixará outra pessoa falar pelo PSDB.

9. Rosemary Noronha procurará o cirurgião plástico de Dirceu e cairá na clandestinidade – mas, antes, mudará os óculos.

10. Dirceu será preso sem regalias. Jogará fora o celular e doará as bermudas chiques para Carlinhos Cachoeira.

11. Cachoeira assumirá as têmporas brancas a pedido da namoradinha do Brasil, Andressa.

12. O jogo do bicho acabará.

13. Nenhum policial achacará bicheiros ou traficantes nem armará autos de resistência em ações de extermínio.

14. Vazarão na internet fotos de Nicole Bahls vestida.

15. A gostosa do BBB não posará nua.

16. Clarice Lispector deixará de ser citada nas redes sociais.

17. Ninguém mais postará fotos de comida no Facebook.

18. Arnaldo Jabor acordará feliz.

19. Chico Buarque e Fernando Morais pedirão mais liberdade e democracia em Cuba.

20. Michel Teló desistirá de fazer música chiclete.

21. Acabarão os comerciais com Ivete Sangalo.

22. Luana Piovani não tuitará o marido surfista e ficará invisível.

23. O orçamento das obras para a Copa e a Olimpíada será revisto para baixo, porque sobrou dinheiro.

24. A CBF será uma confederação acima de qualquer suspeita.

25. Meu Botafogo será campeão brasileiro depois que o time aprender holandês com o Seedorf.

26. A reforma tributária sairá e pagaremos menos impostos.

27. Renan Calheiros fará história na presidência do Senado votando projetos importantes para o país. Em 2013, Lula dirá que sabia de algo, Serra ganhará uma eleição – e a gostosa do BBB não posará nua 

28. Sarney & Filha doarão parte de sua imensa fortuna ao “Maranhão-esperança”, projeto ambicioso para reduzir o analfabetis­mo, a prostituição infantil e a miséria do Estado.

29. O Congresso aprovará o fim do 14o e do 15o salários para os parlamentares e proibirá notas frias.

30. Deputados e senadores passarão a trabalhar na segunda e na sexta-feira para votar questões proteladas há 12 anos.

31. Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski concordarão.

32. Serão ressuscitados os rios Tietê e Pinheiros.

33. A Baía de Guanabara será enfim despoluída. Quem chega de carro ao Rio de Janeiro deixará de sentir cheiro de podre.

34. A Rocinha acabará com o esgoto a céu aberto, antes de ga­nhar teleférico turístico e obra póstuma de Niemeyer.

35. Os pobres poderão fazer cirurgias de emergência. Nenhuma criança ou velho morrerá por falta de assistência médica.

36. Desabrigados por tempestades e inundações terminarão o ano reassentados em áreas fora de risco.

37. Os celulares de traficantes presos em São Paulo serão bloquea­dos e eles não poderão mais dar ordens para tocar o terror.

38. Nenhum bueiro explodirá no Rio, e os cariocas finalmente saberão o motivo das explosões.

39. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, impedirá que a especulação imobiliária acabe com os parques e as reservas ambientais.

40. Não haverá arrastões nos restaurantes de São Paulo e nas praias do Rio.

41. Não haverá apagões.

42. Aeroportos funcionarão direito e acabarão com o táxi-bandalha.

43. Passagens aéreas no Brasil ficarão mais acessíveis, e uma competição saudável no setor beneficiará a população.

44. Operadoras de celular deixarão de extorquir os consumidores, e as contas passarão a ser inteligíveis.

45. Bancos reduzirão as taxas dos correntistas, contribuindo assim para a saúde financeira de quem os sustenta.

46. Empresas, privadas ou estatais, respeitarão o tempo máximo de espera ao telefone e deixarão de enlouquecer quem recorre a seus serviços de atendimento.

47. Não receberemos mais nenhuma chamada de telemarke­ting na hora do jantar e no fim de semana.

48. O lixo – coleta e reciclagem – passará a ser encarado com seriedade pelos governos.

49. Famílias brasileiras deixarão de emporcalhar as praias e os parques. Cada um levará seu saquinho de lixo, ensinando às crianças que quem ama cuida.

50. Feriadões deixarão de ser pretexto para exterminar famílias nas estradas, por culpa de direção irresponsável, ultrapassagens imprudentes e álcool.


29 de dezembro de 2012 | N° 17297
NILSON SOUZA

Saideira

Prezado Dois-Mil-e-Doze, sei que estás de saída, mas acho que ainda dá tempo prum mate de despedida. Já que o mundo não terminou, como previram os maias, vamos repassar os fatos dignos de aplausos e vaias. Pulemos janeiro e fevereiro – como sempre, teve verão, Carnaval, com homenagem especial ao saudoso Rei do Baião, mas o país só acordou no seu berço esplêndido, lépido e faceiro, depois que o cara da Fifa nos sentenciou um bom chute no traseiro.

Foi uma revolta geral, o ministro do Esporte chegou a vociferar um novo Independência ou Morte, mas logo caiu na real: não dá para brigar com quem comanda a torcida, então o melhor mesmo é liberar a bebida. Pelo menos a CBF trocou, finalmente, de chefe. Teixeira jogou a toalha e abriu espaço para o homem da medalha.

E a pátria mãe gentil ingressou célere pela Avenida Brasil. Paramos extasiados, na contramão da esperança, para ver Nina, Carminha e Tufão num enredo de vingança. Teve novela, eleição e o tal do mensalão – todo mundo grudado na televisão. Era um debate geral pela atenção do telespectador: de um lado o relator, do outro o revisor, parecia um Gre-Nal. Com farpa de todo lado e muito juridiquês, terminou com ex-ministro condenado ao xadrez. Teve poesia e prosa, teve fraude e peculato, mas quem dominou o fato foi mesmo Joaquim Barbosa.

E Lula, goste ou não goste, se exaspere e o peito estufe, se enredou com o Maluf e com a tal Rosemary, mas elegeu outro poste. Ainda assim faltou luz, de Brasília ao Maranhão, e de apagão em apagão, vamos carregando a cruz. Mudou a legislação: ficha limpa é obrigatória e o acesso à informação dá outro rumo à história. Mas não apaga da memória tanta gente que partiu para os chamados Campos Elísios: Millôr, Hebe, Niemeyer, dona Canô – e uma escolinha inteira de Chico Anysios.

Ninguém fica pra semente, seja justo ou pecador, nem passa impunemente pelo crivo acusador do mais implacável dos tribunais – a artilharia das redes sociais. Caiu, por exemplo, na Comissão da Verdade aquela moça que leiloou a virgindade. Cachoeira entrou calado e saiu mudo, mas acabou enjaulado e só então resolveu contar tudo. Demóstenes Torres falou, mas não convenceu nem evitou a cassação – perdeu, como Bruno e Macarrão.

Na questão ambiental, aconteceu o seguinte: nada na Rio+20 e, com mais vetos do que votos, o novo Código Florestal.

E o nosso herói nacional? Difícil essa eleição: tem juiz de tribunal, tem lutador de voz fina, tem seleção feminina, tem ginasta, tem judoca, todos pintados de ouro, tem goleiro de final, tem veterano e calouro, tem também o artilheiro que marca o gol salvador, tem o Mundial do Timão, tem uma nova Seleção, sem Mano e com Felipão.

Até mais, querido ano, obrigado pela emoção.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012



26 de dezembro de 2012 | N° 17294
MARTHA MEDEIROS

O que é que a baiana tinha?

Ontem faleceu, aos 105 anos (a mesma idade em que se foi o grande Niemeyer), dona Canô, cuja trajetória acompanhávamos como se fosse a avozinha do Brasil. De onde surgiu sua fama? Nem ela sabia explicar: “Apenas fiquei conhecida por causa de meus dois filhos que nunca se esqueceram de onde vieram nem da mãe que têm”. O curioso é que ninguém nunca ouviu falar sobre a mãe de Gilberto Gil ou de Gal Costa, pra citar os outros “doces bárbaros”. O que é que dona Canô tinha, afinal?

Sem possuir a exuberância dos filhos cantores, dona Canô era, ao contrário, fisicamente minguada, discreta, pequena em estatura. Porém exalava força moral, trabalhava por benfeitorias para sua Santo Amaro e era uma mulher posicionada politicamente, gostassem ou não de suas escolhas – foi íntima amiga do senador Antonio Carlos Magalhães e depois se rendeu a Lula, defendendo-o publicamente, como no episódio em que rebateu as críticas feitas por Caetano, quando esse declarou apoio a Marina Silva dizendo que ela sabia falar, ao contrário do líder petista, que era grosseiro. “Caetano é só um cantor, não precisa ofender nem procurar confusão”, declarou ela na época. Arretada, a velhinha.

Dona Canô era uma mulher de personalidade forte, mas de hábitos simples. Aliás, como Niemeyer. Lógico que o arquiteto está eternizado pela importância incomparável à da baiana que ficou conhecida apenas por ter dado à luz dois filhos talentosos, mas ele compartilhava com ela ao menos uma afinidade: a visão de mundo extremamente humanista e sem afetações.

Quem sabe não está aí o segredo da longevidade? Na surrada lista de atitudes para atingirmos os cem anos (a saber: não fumar, não beber, praticar exercícios, seguir uma dieta balanceada, manter um hobby, conviver mais com os amigos e demais resoluções que, aposto, você pautou para 2013), talvez esteja na hora de incluirmos os cuidados com nosso estado de espírito a fim de envelhecermos com juventude na alma.

Morrer aos 80, que não faz muito tempo parecia pra lá de razoável, está ganhando ares de infanticídio. Dona Canô, Niemeyer e mais uma penca de centenários anônimos têm mostrado que é possível esticar essa corda e seguir contribuindo para a sociedade. O segredo?

Nem tanto as regrinhas de manual, e sim a consciência de que gostar do que se faz, posicionar-se frente às questões cotidianas, enxergar a beleza das coisas prosaicas, se despreocupar diante do que não temos controle, investir nos afetos verdadeiros, cercar-se de gente do bem, amar sem restrições, deixar a vaidade de lado e valorizar aquilo que traz substância à nossa existência formam um conjunto de medidas tão eficaz quanto apagar o cigarro ou comer mais espinafre.

Em tempos de balanço e planos para o futuro, fica a dica da dona Canô, em frase dita por ela em seu último aniversário: “Viver é muito bom, mas saber viver é muito melhor”.

domingo, 23 de dezembro de 2012


DANUZA LEÃO

Estar só

Vivendo só, às vezes a pessoa está melhor do que jamais esteve, mas ninguém acredita

Do que mais se precisa na vida para ser feliz? De calor humano, dizem; por calor humano entenda-se, para começar, de alguém com quem se compartilha a vida, uma família bem estruturada e amigos, muitos amigos. Trocando em miúdos: para não correr o risco de ficar só -nunca.

Mas, quanto mais gente em volta, mais problemas. Houve um tempo em que se dizia que os casamentos seriam felizes para sempre; mais tarde, que durariam sete anos. Mas o mundo mudou, a ciência moderna constata que o amor dura no máximo dois anos e, como ninguém suporta ser infeliz por mais de um fim de semana, o divórcio está em alta.

E a família, como vai? Ninguém conta, mas raras são as que se dão bem e, quanto maiores elas são, mais brigas. Por ciúmes, inveja e, sobretudo, por dinheiro. Aliás, dinheiro é o grande responsável por quase tudo; ouso dizer (mas sem muita certeza) que existem mais brigas por dinheiro do que por amor.

Quando se vê um homem ou uma mulher (sobretudo) com mais de 50 vivendo só, tem sempre uma amiga que diz -com a melhor das intenções- "ah, você precisa encontrar alguém". Às vezes a pessoa está bem, melhor do que jamais esteve, mas, como existe essa certeza de que os seres humanos não podem viver sós, ninguém acredita -ou não quer acreditar ou não entende.

Todos devem estar namorando, casando, ou qualquer outro nome que se queira dar, e se estiverem com um parceiro, mesmo tristes, infelizes, sem assunto, à beira de cometer suicídio ou um assassinato, qual o problema? O importante é estar acompanhada, o que aliás nos tira a felicidade de sermos as donas absolutas do controle remoto e poder passar o fim de semana com a geladeira vazia e sem arrumar a cama.

Aliás, o que as pessoas fazem para que isso não aconteça? Elas se cercam de pessoas com quem não têm quase nada em comum, das quais frequentemente não gostam e até falam mal. Numa mesa de restaurante com seis, oito pessoas, ninguém ouve o que o outro está dizendo, ninguém consegue trocar uma ideia com quem está ao seu lado; mas essas são as pessoas que falam mais alto, que mais dão gargalhadas, que mais parecem estar felizes.

Quem está só parece -parece- ser a mais infeliz das criaturas, sem ter um amigo para jantar e, em datas tipo Natal ou Ano Novo, dá até vontade de chorar de pena.

Mas é curioso como nos relacionamos com nossos amigos -com a maioria deles, digamos- estamos sempre tentando contar uma boa novidade ou sendo inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. É bom ter um amigo animado, que entra em nossa casa falando alto, perguntando o que vamos beber e fazendo planos fantásticos para o próximo fim de semana

Mais curioso ainda é que não há amigo melhor neste mundo do que aquele em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar calado pois parece que está só. Vai entender.

E aproveitando -e sendo bem incoerente, como é preciso ser às vezes-, um Feliz Natal para todos.

sábado, 22 de dezembro de 2012


Martha Medeiros

NATAL EM FAMILIAS

O Zé tem 61 anos e casou recentemente pela terceira vez. Possui duas exmulheres, e um filho com cada. Já tem inclusive uma netinha de dois anos por quem é alucinado.  Além disso, o Zé tem mãe viva. E um pai também, que se divorciou da mãe dele há muitos anos e casou de novo. E o Zé tem dois irmãos. 

O Zé é afetivo e curte a família, que é grande. Inclui as ex-mulheres, os novos maridos delas, os filhos, as noras, a neta, a mãe, os irmãos, as cunhadas, os sobrinhos, o pai, a esposa do pai. Cada um no seu endereço. Então vai chegando o Natal e o Zé fica tenso, sem saber como dar conta de abraçar todo mundo.

A nova mulher do Zé tem família também: mãe, irmãos, primos, aquela coisa toda. Ela quer passar o Natal com eles, e quer que o Zé fique em casa. A mãe do Zé não abre mão de juntar os três filhos. O Zé não vai fazer essa desfeita, vai?O pai do Zé é pacífico, mas a mulher dele se sente rejeitada por qualquer ausência, e se o Zé não aparecer, será responsabilizado por mais um chilique da madrasta.  

A primeira ex-mulher monopoliza a netinha. O Zé não pode ficar sem ver aquela menina adorável, a única criança da família, e Natal sem criança, você sabe. O Zé sabe. A segunda ex-mulher passa o Natal com o outro filho do Zé e mais todo o grupo de amigos que eles tinham quando casados e de quem o Zé sente falta, já que os amigos ficaram na partilha dela.

Então esse é o Zé em trânsito no dia 24 de dezembro. Ele passa primeiro na casa da mãe. Chega tão cedo que não encontra um dos irmãos. Fica o Zé, a mãe e o outro irmão tomando uma cerveja e beliscando umas amêndoas meio velhas.

Aí o Zé se despede e vai ver a netinha. Não resiste quando pedem para ele se vestir de Papai Noel. Faz a encenação, morre de calor com a barba postiça, toma uma cerveja gelada, afana uma fatia do peru e corre pra sua própria casa, onde sua mulher está furiosa, isso são horas de chegar?

Ele faz uma social com a família dela, aí bebe vinho e participa da ceia já meio enjoado, não deveria ter misturado cerveja e vinho. Pede licença, tem que sair para dar um beijo no outro filho. “Vá num pé e volte no outro”, ela ordena.

No meio do caminho, dá uma paradinha na casa do pai, marca presença com a madrasta, ouve três músicas natalinas, toma mais uma cerveja e segue seu périplo. Então chega na festa da segunda ex, que está bombando. Assim que atravessa a porta alguém coloca uma taça de espumante em suas mãos.

Localiza o filho, dá um abraço nele, depois outro abraço no amigo Tomás, um abração no Ricardo que não vê faz tempo, e também no Goes, que está enlaçado numa loira que ele nunca viu. Quem é? Separei, Zé, essa é minha namorada. Zé dá dois tapinhas nas costas do Goes a título de condolências.

Volta pra casa, a mulher que estava dormindo no sofá acorda e exige que ele leve a família dela em casa. Eles ainda estão aqui? Estão, Zé. Dormindo no nosso quarto. O Zé chega a cogitar um novo divórcio, mas o que lhe resta de sobriedade avisa: melhor não. Aí virá outra mulher, outros parentes, como encaixar?  

E suspira lembrando de quando era criança, quando reuniam-se todos embaixo da mesma chaminé.


22 de dezembro de 2012 | N° 17291
NILSON SOUZA

A palavra mágica

Dia desses, caí na tentação de participar de um concurso literário típico dos novos tempos – reescrever em 140 caracteres (o limite raso da comunicação moderna) uma das mais belas histórias da literatura universal, As Mil e Uma Noites. Como sou um amante da síntese e da objetividade, não resisti.

Meu resumo da encantadora aventura de Sherazade não ficou nem entre os 20 microcontos selecionados pelo público, vários deles ornamentados pelo humor de seus autores e por outros recursos de maior apelo popular. Ainda assim, ouso compartilhá-lo com meus leitores sabatinos.

Escrevi: “Era uma vez uma mulher capaz de seduzir com seu encanto e com sua astúcia o mais poderoso dos homens. Essa história não teve e nem terá fim”. Depois, fiquei pensando: será esta a mais bela história de todos os tempos? Politicamente correta ela não é, pois seus personagens são esposas infiéis, monarcas assassinos e uma princesa pra lá de esperta.

Mas a coletânea de 291 histórias – e não 1001, como se poderia pensar – tem maravilhas do imaginário oriental e uma mensagem universal: as palavras transformam. Basta observar que, na noite interminável dos relatos interrompidos, o rancor se transformou em curiosidade e a curiosidade virou amor. Tudo por conta de contos bem contados.

Mas há outras narrativas mais belas, certamente. Para os cristãos, por exemplo, não existe história mais bonita do que a do Natal – embora a tenham transformado num espetáculo insano de consumo que faz lembrar um capítulo constrangedor da parábola sagrada, aquele que trata da expulsão dos vendilhões do templo.

Fiquemos, porém, com o extrato mais significativo do relato bíblico. Aí vai o meu resumo, em 140 caracteres, pois agora estou começando a gostar disso: “Dois mil anos depois, o menino que nasceu num estábulo e virou Deus ainda tenta plantar no coração dos homens a semente do amor ao próximo”.

É bem difícil isso, principalmente nesta época de correria desenfreada, trânsito caótico e vizinhos festeiros. Respeitar o próximo já seria uma grande conquista. E já que estamos falando em palavras que transformam, existe uma palavrinha mágica com poder para isso. Uma vez perguntaram ao sábio Confúcio se ele seria capaz de resumir todo o seu código de ética numa só palavra. Sua resposta, em forma de pergunta, é reveladora: “Não seria esta palavra ‘reciprocidade’?”.

Em outros termos, é o conteúdo da semente: Trata os outros como gostarias de ser tratado. E tenha um feliz Natal.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012



19 de dezembro de 2012 | N° 17288
MARTHA MEDEIROS

O mundo está encolhendo

O mundo não vai acabar, mas certamente está diminuindo de tamanho.

Antes, cada país preservava sua cultura e seus costumes. Hoje, todos possuem vários McDonald’s, Starbucks, Outback, Subway – nenhum viajante se sente longe de casa, o fast food da esquina impede a sensação de estrangeirismo. O mundo encolheu.

Antes, levávamos dias para chegar a um local, semanas para atravessar um país. Hoje, para estar em qualquer lugar basta uma teclada, uma câmera virtual, e assim economizamos tempo, dinheiro e romantismo. Eliminou-se o trajeto. O mundo encolheu.

Antes, cada lar era sagrado, a intimidade era assunto de poucos, havia uma sacralidade que, mesmo informal, preservava os pecados internos. Hoje, o que nosso pai diz está no Twitter, nossa mãe tem perfil no Face, nossa casa não tem mais paredes. O mundo encolheu.

Antes, o que se escrevia era de autoria particular, indevassável. Hoje, há vários autores caçando palavras alheias, várias fontes a quem é atribuído o mesmo texto, não há mais o dono da ideia, tudo o que se diz e escreve é de quem viu primeiro, basta adotar como seu. O mundo encolheu.

Antes, os amores eram secretos, as dores eram particulares, chorava-se em silêncio e em privacidade, ninguém sabia o que você sentia, a não ser que você fosse poeta. Hoje a dor de amor é produto externo bruto, fatura-se com o coração ferido. O mundo encolheu.

Antes, a amizade era confeccionada com o tempo, era preciso meses para confiar, anos para decretar que o vínculo seria eterno, havia uma trajetória a cumprir antes do abraço indissolúvel, os padrinhos de casamento eram escolhidos entre os irmãos. Hoje, o melhor amigo é aquele de segunda-feira, que te deu uma carona. O mundo encolheu.

Antes, o conteúdo dignificava, estabelecia uma triagem natural entre quem era consistente e quem não tinha substância para fazer diferença. Sabedoria e conhecimento tinham valor. Hoje, se o sujeito concorda contigo, basta para ser teu ídolo. O mundo encolheu.

Antes, a polidez não era um fricote, e sim uma atitude honrada. Ser respeitoso não merecia escárnio, e sim retribuição equivalente: bons tratos eram recorrentes entre cavalheiros e damas. Ampliava-se a civilidade. Hoje, respeitar está fora de moda, moderno é ser cruel. O mundo encolheu.

Antes, o prazer não tinha valor diante do desprazer do outro, nada valia ser feliz à custa das infelicidades alheias, havia uma corrente silenciosa e íntegra que avisava: ou todos, ou nenhum. Hoje, restritos em nossas individualidades, é comum passarmos por cima até dos nossos afetos. O mundo encolheu.

Estamos promiscuamente embolados, sem espaço para ampliar nossa existência. O mundo encolheu e alguns vão sobrar. Já estou com meio corpo pra fora.

Linda quarta-feira pra você - Aproveite

domingo, 16 de dezembro de 2012


FERREIRA GULLAR

A beleza é leve

Oscar Niemeyer foi o assunto principal do país, que se voltou inteiramente para essa perda inaceitável

AMANHECE O dia 6 de dezembro de 2012, mas o meu amigo Oscar Niemeyer já não está aqui para vivê-lo. Saio à rua a caminhar e sinto que o mundo não é mais o mesmo. É verdade que fazia algum tempo que não nos víamos nem nos falávamos, coisas da vida. Mas a minha admiração e meu afeto por ele se mantinham os mesmos que ao longo desses mais de 50 anos.

Desde o momento em que ele morreu, no Hospital Samaritano, aqui no Rio, todos os meios de comunicação se mobilizaram, e não apenas para noticiar o fato, mas também para colher o pronunciamento de pessoas que privaram com ele ou que estudaram sua obra.

E durante aquela noite e os dias seguintes, a morte de Oscar Niemeyer foi o assunto principal do país, que se voltou inteiramente para essa perda inaceitável.

De minha parte, não apenas me solicitaram a falar sobre ele, como me mantive diante da televisão a acompanhar esse acontecimento que foi transmitido, minuto a minuto, durante todo aquele primeiro dia, a noite e os dois dias seguintes.

Vi quando o caixão mortuário foi retirado do hospital, posto no carro funerário e transportado, ladeado de batedores, para o aeroporto Santos Dumont. Não pude evitar de pensar que ele, quando vivo, não queria saber de avião, mas agora, morto, voaria para Brasília. Os mortos se defendem mal. E foi. Chegado a Brasília, um carro do Corpo de Bombeiros o levou até o Palácio do Planalto, onde seria velado. E eu me dizia: ele jamais supôs que isso fosse acontecer após sua morte. E o imaginava dentro daquele caixão mortuário, sendo conduzido sob os olhos da nação inteira para o velório no palácio que ele mesmo concebera.

Tenho certeza de que, se lhe perguntassem se estava de acordo com tal procedimento ritual, diria que não, já que sempre foi pouco afeito a pompas e solenidades. Isso não tem nada a ver com ele, mas não importa; o que significou para todos nós excede sua modéstia e sua simplicidade.

E me lembrei de nossos encontros em diferentes momentos, desde quando o conheci, em 1955, ao entrevistá-lo para a revista "Manchete", ou de nosso convívio em Brasília, em 1961, quando dirigi a Fundação Cultural. Nessa ocasião, propus-lhe que projetasse um pequeno museu onde reuniríamos um acervo de arte popular brasileira. Ele o projetou, o museu foi construído: as paredes eram de tijolos de vidro e o teto de palha, uma mistura inusitada e bela. Ficava perto do antigo aeroporto, que foi abandonado. E o museu também.

Mas a vida prosseguiria, e o golpe militar de 1964 mudou nossas vidas. Ele foi para Paris e eu para Moscou. Mais tarde, eu já em Buenos Aires, ele me enviou um exemplar do livro sobre sua arquitetura que acabara de ser editado na França. Era fascinante ver cada uma de suas obras ali. E desse fascínio nasceu o poema "Lições da Arquitetura", que escrevi e lhe mandei pelo correio.

Permito-me citar alguns versos: "No ombro do planeta / (em Caracas) / Oscar depositou / para sempre / uma ave uma flor / (ele não faz de pedra / nossas casas: / faz de asa)".

É verdade, pois seus prédios, de tão leves, parecem flutuar. Essa é uma das inovações que ele introduziu na arquitetura moderna, que se caracterizava pela construção ortogonal e a linha reta, tendo a funcionalidade como princípio básico: a forma segue a função.

Le Corbusier era o mestre por excelência dessa nova arquitetura e foi nele que Oscar se inspirou, mas sempre dissentindo, como no caso do prédio do MEC, no Rio, hoje Palácio Gustavo Capanema. Mas a ruptura se dá mesmo é quando ele concebe o conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, e introduz a linha curva na linguagem dessa nova arquitetura. Muda-lhe o rumo e a história: agora é antes e depois de Oscar Niemeyer.

Brasília foi um passo a mais nessa reinvenção da arquitetura, pois, em seus palácios, a forma arquitetônica nasce da estrutura construtiva: as colunas do Palácio da Alvorada, por exemplo, são ao mesmo tempo sustentação e beleza. Oscar realizava a milagre de ser ao mesmo inovador e popular.

DANUZA LEÃO

Mais um

Não dá para entender porque as pessoas se desejam "Feliz Natal"; seria melhor receber um "feliz hoje" todos os dias

JÁ QUE estamos em pleno clima de Natal, como enfrentar os próximos dias que nos esperam? Eu tomei minhas resoluções e comecei a segui-las há uma semana.

Em primeiro lugar, sair de casa só por justíssima causa. Supermercado só aos domingos muito cedo, que é quando estão vazios, comprando o mínimo necessário para não morrer de fome. Pedir ao médico -se ele não estiver viajado e seu consultório ficar a não mais que um quarteirão de sua casa- várias receitas de vários tranquilizantes e também de um poderoso sonífero para uma eventualidade mais grave (noite de 24). E passar direto na farmácia, para não ter que sair de novo e poder voltar para casa correndo.

Se você faz parte da turma que se estressa no fim do ano -e quem não o faz?- peça a seu porteiro para não lhe entregar um só pacote com ares de presente de Natal. Que deixe tudo para depois de 6 de janeiro, quando todos os festejos estarão terminados.

Só então você vai telefonar para quem lembrou de você e agradecer, dizendo que foi passar as festas no Equador e que adorou o presente. A única maneira de se liberar das lembrancinhas de Natal é jamais retribuí-las; um dia as pessoas compreendem. Mas o grande perigo é o telefone.

Se você faz parte dos 99,9 % que usam celular, é mais fácil, pois sabe quem está ligando e pode simplesmente não atender. Mas, se pertence à turma dos que, como eu, só têm telefone fixo -e com fio-, aí é preciso uma estratégia mais cuidadosa.

Para aqueles dois ou três amigos com quem você se entende, é preciso combinar. Eles devem ligar, deixar o telefone tocar uma vez e ligar de novo -aí você atende. As pessoas que você mais adora na família (que não são todas) têm o direito de saber desse código, assim você se liberta de ouvir o eternamente igual "Feliz Natal", coisa que eu nunca entendi muito bem.

A não ser que seja uma pessoa verdadeiramente religiosa, que festeja com fervor o nascimento de Jesus -e eu não conheço ninguém assim-, não dá para entender porque as pessoas se desejam todas um feliz Natal. Eu entenderia melhor se todos os dias fosse cumprimentada pelo jornaleiro, pela vendedora da loja e por todos os meus amigos com um "feliz hoje"; não seria mais legal? E para se defender da programação natalina na TV, só o Animal Planet e o Canal Rural.

Como falta só uma semana, procure não se estressar: o Natal passa.

PS - Se nem os ministros do Supremo têm a mesma opinião sobre quem deve cassar os deputados condenados -se o STF ou a Câmara dos Deputados-, nós, simples mortais, muito menos.

Mas eu torço para que essa situação seja decidida ficando essa incumbência para o Supremo, porque não tenho a menor confiança em nossos nobres deputados -nem tenho razão de ter. Não vamos nos esquecer que foram eles, em 2005, que votaram em Severino Cavalcanti com o claro intuito de bagunçar mais ainda a situação política na época, e acho perfeitamente possível que eles, escudados pelo voto secreto, sejam capazes de votar pela não cassação dos deputados condenados, o que seria uma total vergonha para o país e que pode perfeitamente acontecer.

E não entendo como o ministro Celso de Mello se esqueceu de se vacinar contra a gripe.

sábado, 15 de dezembro de 2012



15 de dezembro de 2012 | N° 17284
NILSON SOUZA

A lenda da verdade

Em tempo de guerra – diz o velho deitado –, mentira é como terra. Desde que o julgamento do mensalão entrou na programação das tevês brasileiras, instaurou-se uma verdadeira guerra de versões e perversões no país, caracterizada pelo fogo cruzado entre representantes e simpatizantes do governo e dos diversos partidos políticos. Todos, evidentemente, acusam seus opositores dos piores crimes e reivindicam para si próprios o monopólio da moralidade. Na fumaceira desse entrevero, esconde-se a verdade – sempre a primeira vítima das escaramuças motivadas por paixões e ideologias.

Depois de séculos de impunidade, o povo brasileiro estava tão sedento de vingança contra os saqueadores da pátria, que passou a confundir justiça com justiçamento. O que mais se ouve por aí é que todos os acusados devem ir para a cadeia – sejam eles culpados ou apenas suspeitos.

A presunção popular é de que quem está sendo julgado deve ter alguma culpa em cartório. Se for político, então, já carrega o pecado original da atividade que escolheu. Esse sentimento é compreensível, mas perigoso, pois contém o germe do autoritarismo. Além disso, num clima de caça às bruxas, fica ainda mais difícil de encontrar esta senhora desejada e misteriosa chamada Verdade.

Gosto muito de uma lenda que expressa bem essa dificuldade. Conta que Deus enviou a Verdade à terra dos homens na forma de um enorme espelho. Ao ingressar na nossa atmosfera, porém, o espelhão partiu-se em milhares de pedaços, que caíram sobre todos os continentes.

As pessoas entenderam que o espelho significava a verdade, mas nunca souberam que estava partido. Então, aquele que encontrava um dos fragmentos pensava que tinha nas mãos a verdade absoluta, quando na realidade possuía apenas uma pequena parte dela.

Assim é a nossa visão de mundo. Nossa verdade sempre parece mais autêntica do que a do vizinho – especialmente quando ele tem aparência diferente da nossa, outra visão de mundo, quando fala outra língua ou professa outra religião. Nosso pequeno pedaço de verdade sempre brilha mais, e raramente nos vemos refletidos no espelho alheio.

Transpondo para a realidade política brasileira, pressinto que estamos vivendo um desses momentos de total irracionalidade. No vale-tudo para alcançar o poder ou para se manter nele, quem é flagrado em delito argumenta que todos fazem a mesma coisa. Quem é punido pela Justiça exige que seus rivais também o sejam, quando não levanta suspeita sobre as reais motivações dos julgadores.

Cada um olha apenas para o próprio espelho.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012



05 de dezembro de 2012 | N° 17274
MARTHA MEDEIROS

Otimizando a corrida

Tarde de sexta-feira, entro num táxi para me levar à oficina onde havia deixado meu carro para a revisão. Estávamos descendo a Rua Salvador França quando uma moça na calçada fez sinal – obviamente não viu que o táxi já estava ocupado. Mas o motorista parou mesmo assim, enquanto me comunicava: “Vou descobrir para onde ela vai, de repente é perto e levo as duas juntas”. Eu respondi: “Sinto muito, mas vamos em frente”.

O fominha pretendia recolher todos os passageiros que encontrasse e foi negociar justo comigo, que nunca fui fã de jeitinhos.

A explicação dele para sua atitude: “Dona, na Europa todos os taxistas fazem isso. Nós somos muito atrasados. Eles são mais inteligentes que nós, por isso são de Primeiro Mundo”.

Meu caro Anselmo, Renato, Valdir ou seja qual for o seu nome: eles não são mais inteligentes que nós – eles são mais organizados que nós, mais corretos que nós, mais respeitadores que nós. Existem vários tipos de transporte coletivo: lotações, ônibus, bondes, metrô. O táxi não é coletivo. Pode conduzir mais de uma pessoa, mas faz viagens individuais. É assim que os táxis funcionam no mundo todo: por corrida.

Em tese, você está certo, seria um favor ao trânsito caótico das cidades se os carros transportassem mais gente, e isso até pode acontecer de forma consensual: duas pessoas aguardam no ponto, começam a conversar e descobrem que estão indo para a mesma rua.

Podem decidir compartilhar o táxi, é uma atitude civilizada. O que não pode é isso ser decisão do motorista. Há regras que regulamentam cada atividade, e um passageiro que pega um táxi sozinho tem o direito de seguir sozinho até seu ponto de desembarque, sem ser coagido a rachar tarifas e negociar trajetos com uma pessoa estranha recolhida no meio do caminho.

Claro que cheguei em casa me sentindo a malvada da novela. Vá que a moça na calçada estivesse, numa coincidência pouco provável, indo para a mesma rua que eu, que economia faríamos. E eu poderia ter feito uma nova amiga. E o motorista de táxi teria feito uma boa ação para a cidade. E todos dormiríamos felizes.

O motorista estava com sua corrida garantida, mas quis emendar com outra: eu sairia do carro, a moça continuaria a viagem, aí ele poderia recolher outro passageiro, ela sairia no ponto desejado e esse outro passageiro seguiria adiante, e assim o motorista manteria seu táxi constantemente ocupado, num rodízio que otimizaria 100% do seu turno de trabalho.

Se essa ideia for boa mesmo, que seja autorizada por lei, implantada e divulgada pelos meios de comunicação, com segurança garantida aos usuários. A partir de então, todos poderiam acenar para táxis ocupados, a fim de saber se o trajeto que está sendo feito é o mesmo que eles pretendem fazer. Todo táxi viraria um táxi-lotação. Prevejo uma bagunça, mas, oficializando, me adapto.

Enquanto isso, sigo malvada.

Bem e complementando a cronica da Martha, ouço agora na Band News que eles querem andar de bandeira dois agora em Dezembro, pois imaginam que também merecem receber um décimo terceiro, pagos pela população. Se a moda pega, coitados dos cidadãos....

Linda quarta-feira pra você.

sábado, 1 de dezembro de 2012



02 de dezembro de 2012 | N° 17271
MARTHA MEDEIROS

O pensamento nas pernas

Sempre acreditei que, se eu quisesse transformar alguma coisa, teria antes que passar por uma racionalização profunda e, posteriormente, por uma compreensão dos fatos. Ou seja, primeiro, pensar bastante para, então, compreender.

Cumprindo essas duas etapas, atingiria a serenidade buscada, fosse nas questões amorosas, familiares, profissionais, existenciais. A compreensão, como num passe de mágica, soltaria os fios enovelados e só então eu poderia me modificar.

Acontece que pensar demais cansa. Afirmo com a experiência de uma maratonista cerebral: eu vivia sempre no módulo on, com o cérebro ligado na tomada, descansando só quando dormia, e ainda assim com um olho fechado e outro aberto. Se pensar conduzia à compreensão, bora pensar, para poder entender. Sem entender, acreditava que meu barco ficaria à deriva, noites e dias sob as intempéries, sem atracar em lugar algum.

Tanta coisa serve de cais: um casamento, uma promoção, uma cura, um projeto, uma bolada, um filho. Estamos sempre indo ao encontro de alguma coisa sensacional que ainda não sabemos o que é nem se iremos encontrar mesmo.

Pois, diante desse imenso ponto de interrogação que é o futuro de todos nós, reformulei minhas crenças: estou me dando o direito de não pensar tanto, de me cobrar menos ainda, e deixar para compreender depois. Desisti de atracar o barco e resolvi aproveitar a paisagem.

Primeiro mude, a compreensão virá depois. É mais ou menos o que a filosofia de Nietzche sugere. Ninguém muda apenas através do pensamento. A transformação meramente intelectual é uma presunção, não existe de fato. É preciso colocar o pensamento nas pernas e agir. O corpo é que nos leva para uma nova vida, e não a razão, diz o filósofo num texto chamado “A favor da crítica”.

Recentemente os integrantes do programa Saia Justa discutiram o que é drama e o que é tragédia, e chegaram à conclusão de que o drama te encarcera, enquanto a tragédia, por mais dolorosa que seja, te coloca em movimento: você sai dela diferente. Do drama você não sai: você fica remoendo, remoendo, remoendo. Excesso de racionalização engessa o sentimento e não te leva pra fora, pra frente.

De Nietzche a Saia Justa é um salto e tanto, reconheço, mas toda filosofia é bem-vinda, seja acadêmica ou de mesa de bar, de programa de tevê, de coluna de jornal. Estamos aqui para aquilo que os intelectuais rejeitam que se fale em público (mas falo baixinho: ser feliz). E a felicidade não é uma ilha paradisíaca onde nosso barco um dia atracará. A felicidade não é terra firme: ela é o próprio mar.

Passamos uma vida perseguindo a felicidade, sem reparar que ela está justamente na perseguição. O pensamento nas pernas. O movimento. A ação. Não há muito a compreender além disso.