sábado, 28 de fevereiro de 2015


01 de março de 2015 | N° 18088
MARTHA MEDEIROS

Os charmosos do contra

Todos vão para Machu Picchu? Eu embarco para Porto Príncipe. Todos estão lendo o novo livro do Chico Buarque? Nem abro. Show do Paul McCartney de novo? Ele pode vir 46 vezes ao Brasil que não vou. Prefiro o Guri de Uruguaiana.

O que? O Guri de Uruguaiana está lotando teatros? Desisti, não vou mais.

E assim ele vai sedimentando seu caráter. Ele, o homem que se recusa a fazer o que todos fazem. Ou ela, a que se recusa a seguir o rebanho. Pode ser tanto ele como ela. Os que formatam sua personalidade protestando contra o senso comum.

Fico dividida diante dessas criaturas. Por um lado, reconheço sua autenticidade como virtude e os admiro pela perseverança em sempre buscar aquilo que quase ninguém viu, quase ninguém leu, quase ninguém escutou falar a respeito. Eles sustentam os mercados independentes e de quebra atraem para si o charme dos aventureiros e desbravadores. São homens e mulheres únicos. Não foram produzidos em série.

Como não se apaixonar por uma criatura dessas? Criei aqui uma figura hipotética e já estou quase o convidando para jantar.

Por outro lado, acho que deve ser meio cansativo buscar sempre aquilo que é estranho, diferente, inédito, escondido, inabitado, marginal, esquisito. Ainda mais nesses tempos de conexão tecnológica, em que praticamente não existem mais segredos. O novo permanece novo por muito pouco tempo. O Mr. Autêntico tem que ser rápido.

Tem outra questão: o autêntico não quer conhecer o Rio de Janeiro, seria uma viagem óbvia. Não foi assistir a Birdman porque ganhou o Oscar. Nunca leu um livro que tenha ganhado segunda edição. Odeia ceviche sem nunca ter experimentado. Perdeu grandes festas. Valerá mesmo a pena ser um anti-herói?

Outro dia conversava com um exemplar dessa espécie e, mesmo extasiada com sua biografia de outsider, arrisquei uma perguntinha miúda: não dá para transitar entre lá e cá? Se você quer ir até a Groenlândia, pega mal fazer um pit stop em Ibiza? Não dá para infiltrar alguma literatura norte-americana em meio a sua coleção de poesia indígena? Posso pedir um filé com fritas em vez de sopa de capivara? Se eu for conhecer uma pousada no meio do mato que não está no Booking.com, encontrarei um vaso sanitário no banheiro ou isso é um luxo pequeno burguês?

Transitar entre lá e cá. Ser um pouco da urbe e um pouco da selva, um pouco curioso e um pouco rendido, ter histórias alucinantes para contar e outras bem triviais, é possível?

Então o milagre se deu. Ele disse que estaria disposto a conhecer o Rio de Janeiro (desde que pudesse dar uma passada antes em algum lugarejo com menos de 50 habitantes, sem luz elétrica). O convidei para jantar na mesma hora. Não pedi filé com fritas para não provocar. E ele não pediu sopa de capivara porque não tinha.


Ser um pouco da urbe e um pouco da selva, um pouco curioso e um pouco rendido, é possível?

01 de março de 2015 | N° 18088
ANTONIO PRATA

Fábulas monterrosianas

O burro, a mula, o jegue e o jumento se reuniram numa assembleia para redigir um manifesto contra o cavalo. Era intolerável que eles trabalhassem tanto ou mais do que o nobre colega equino, mas só no nobre colega equino ficasse hypado. “Alguém aí já viu burro em propaganda de cigarro?”, “E mau aluno com chapéu de cavalo?”, “E por que nunca criam uma mula unicórnio?”. Redigiram um manifesto a oito cascos exigindo a imediata distribuição do sucesso cavalar para a totalidade da classe equestre e uma maior equanimidade (atenção: trocadilho) na divisão internacional do trabalho.

No dia seguinte, o burro, a mula, o jegue e o jumento foram ao pasto, entregar o manifesto. O cavalo os olhou, mal-humorado, mascando um capim, com sua pinta de Charles Bronson. “Que foi?”. “Nada, nada”, responderam, trêmulos, e desistiram de entregar o documento.

Voltando do encontro, o burro, a mula, o jegue e o jumento avistaram a zebra, bebendo água num lago. Correram até lá, a cercaram e lhe deram uma surra de coices e pinotes. “Zebra vagabunda!”. “Quem você pensa que é?!”, “Não trabalha! Não faz nada! Passa o dia de pijama!”, “Vergonha da classe equina!”.

Era uma vez um gato rajado, velho e gordo que fingia ser filhote de tigre. Ele chegava a uma cidade, entrava no primeiro bar e batia no balcão: “Barman, bourbon! Eu sou filhote de tigre! Se você não me der bourbon, eu volto aqui quando crescer e te como no café da manhã!”. Todo mundo caía na gargalhada. O poodle na mesa de sinuca tirava o cigarro da boca e provocava, “Eu sou filhote de urso!”, a mariposa do lustre gritava, “Eu sou um B-52!”, o macaco, jogando dardos, emendava, “Eu sou um bonsai de King Kong!”, e o gato rajado, velho e gordo seguia para a próxima cidade.

O vírus tinha inveja da bactéria, que tinha inveja do ácaro, que tinha inveja da pulga, que tinha inveja do besouro, que tinha inveja do rato, que tinha inveja do gato, que tinha inveja do puma, que tinha inveja do tigre, que tinha inveja do leão, que tinha inveja do leão mais jovem, que tinha inveja dos leões mais jovens de antigamente, que, dizem os leões mais velhos, eram muito mais fortes, mais livres e não tinham inveja de ninguém.

“Segundo a assessoria de imprensa do time dos macacos, o lateral direito Prego, 29, não descarta processar a torcida das hienas que, durante uma cobrança de escanteio, atirou relógios, óculos e escovas de dentes em sua direção”.

A cascavel entra a milhão no Pronto Socorro: “Mordi a língua! Mordi a língua!”.

Três lesmas muito machas se reunem pra brincar de roleta russa. No meio da roda, uma caixinha de Tic-Tac com seis balas dentro. Cinco, na verdade: a sexta, idêntica às outras, é uma pedra de sal.

Décadas atrás, era impensável um ouriço transgênero. Hoje, veja só, para todo lado que se olhe percebe-se – azuis, violetas, rosadas – a grande quantidade de anêmonas


ps. Estes textos são descaradamente inspirados no livro A Ovelha Negra e Outras Fábulas, de Augusto Monterroso, Cosac Naify, tradução de Millôr Fernandes.

01 de março de 2015 | N° 18088
FABRÍCIO CARPINEJAR

Superpoder

Todo mundo é super-herói. Todo mundo tem um poder especial. Uma característica que transforma a existência.

Pode ser uma virtude disfarçada de defeito. Pode ser algo de que você não gosta em si.

Quando conheço alguém, sei que estou desvendando um superpoder por detrás da aparência e da normalidade, uma vida multiplicada por um talento.

No jardim de infância, tinha a Bárbara, que odiava sua boca carnuda. Recebeu o apelido de flor carnívora. Mas foram justamente os lábios desenhados com volúpia que fizeram com que virasse modelo de sucesso. Recordo também de Daniel, na adolescência, com dificuldade de se expressar em público. Abominava sua timidez, gaguejava quando pressionado. Pois sua retração fascinava as mulheres, que o rodeavam e falavam por ele. Não existiu um garanhão igual na faculdade.

Conservamos um trejeito em particular que revela nossa personalidade. Já vi muita gente simples com o superpoder da esperança, capaz de enfrentar diagnósticos terríveis e a morte próxima. Ou com o superpoder da paciência, desarmando brigas com uma voz mansa e calma, sem jamais levar o desaforo para o lado pessoal. Ou com o superpoder da fé, cumprindo quilômetros de joelhos em nome de uma promessa.

Há feirantes com o superpoder do grito, atraindo compradores à distância. Há ambulantes com o superpoder do tempo, farejam pela cor da nuvem ou pela arruaça dos pássaros se choverá dentro de quinze minutos e se devem levantar a barraca. Há quem tenha o superpoder de localização, de tanto andar de ônibus, e palmilham a cidade de olhos vendados.

Minha empregada Cleonice, por exemplo, tem o superpoder da risada. A casa está tensa, acabrunhada, e ela aparece cortando a atmosfera com seu bom-dia risonho. Abre as janelas e as portas ao arejar os humores. O filho Vicente mantém o superpoder dos cílios enormes. Observa de um modo tão misterioso, com aquele olhar de árvore, que logo precipita a eloquência dos familiares – sempre está em vantagem na captura de segredos. Já Mariana guarda o dom da irreverência: dramática, passional, intensa, ela sente o mundo duas vezes mais do que a média. Dela, receberá as mais bonitas, sinceras e corajosas declarações.

O ideal é que seja amado pelo seu superpoder. Descobrir alguém que identifique sua fraqueza, e a reconheça como estimulante, apesar de ser um empecilho no entendimento da maioria.


Se bem que o amor torna qualquer um poderoso.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015


26 de fevereiro de 2015 | N° 18085
DAVID COIMBRA

Cuidado: o PT quer defender a Petrobras

Os petistas estão quase me convencendo de que a Petrobras tem de ser privatizada. Eu era figadal, intestinal e cerebralmente contra a privatização, mas eles estão me abrindo os olhos. Imagine você, estupefato leitor, que um grupo de petistas botou camisas vermelhas e saiu por aí, gritando “em defesa” da Petrobras. Mas como? Os petistas defendendo a Petrobras? Contra quem?

Juro que fiquei confuso e, quando fico confuso, apelo para a matemática. Faço uma espécie de teorema para tentar entender o assunto. Então, vamos lá. Temos um problema a resolver, resumido na seguinte pergunta: contra quem a Petrobras deve ser defendida? Os dados concretos:

1. A Petrobras está sendo mesmo roubada. Isso está provado de sobejo.

2. A revelação do roubo prejudicou a empresa, o valor de suas ações despencou e ela está sendo olhada com desconfiança por investidores. Isso também é fato.

3. Conclusão: a Petrobras precisa realmente de defesa.

Com o que, voltamos à questão original: quem são os responsáveis? Talvez o roubo venha desde a década de 50, quando Getúlio Vargas discursava no São Januário e dizia que o petróleo era nosso. Talvez tenha havido roubo quando Ernesto Geisel foi presidente da Petrobras, quando Shigeaki Ueki anunciou a descoberta de petróleo no mar do Rio de Janeiro, quando Sarney, Collor e Fernando Henrique foram presidentes da República. Talvez. Se esse roubo pretérito for comprovado, que sejam manchadas as memórias dos ditadores Vargas e Geisel e que sejam punidos os vivos.

Só que há mais de 12 anos a Petrobras está sendo controlada por governantes do PT. E são 12 anos de roubo comprovado. E as investigações apontam que, nesses 12 anos, o roubo foi sistematizado, tornou-se um roubo orgânico e metódico.

Doze anos... Transforme esse tempo em bilhões de dólares, tente imaginar o tamanho do que foi subtraído do país e se assombre.

Doze anos... Vamos acreditar que nenhum petista tenha posto a mão em qualquer centavo sujo nesse tempo todo. Vamos acreditar que a corrupção não serviu ao projeto de eternização no poder do PT. Sejamos crédulos: os outros roubaram; eles, não. Mas, em 12 anos, eles não viram nada? Eles estavam no comando da Petrobras, e não perceberam nem um único bilhãozinho sendo desviado? Neste caso, o PT foi de uma incompetência retumbante, coisa nunca vista na história da administração pública mundial.

Pensando nessa óbvia, clara e corrosiva incompetência, não em desonestidade ainda não julgada, concluo que os petistas não têm moral para sair à rua em defesa da Petrobras. Os petistas dizem que algo tem de ser feito com a Petrobras? Faça-se o contrário. Petistas gritam que a Petrobras não pode ser privatizada? Opa! Aí está uma forte indicação de que a Petrobras talvez tenha de ser privatizada. Porque a Petrobras tem de ser defendida, sim. Defendida de quem a rouba e de quem a comanda e não vê quem a rouba. Defendida do PT.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015


25 de fevereiro de 2015 | N° 18084
MARTHA MEDEIROS

Plano-sequência

Uma das peculiaridades de Birdman, ganhador do Oscar, é ter sido filmado num plano-sequência, com apenas alguns poucos subterfúgios para cortar o filme sem dar esta impressão, então o que vemos é uma ação ininterrupta, tal qual a vida real, que não tem corte também, não existe, por exemplo, uma corrupção que começou de repente, em determinado dia, com a entrada de determinado partido no poder.

A corrupção tem estado em cena persistentemente desde que o Brasil foi descoberto, ainda que ela tenha encontrado terreno fértil nos últimos anos, e o mesmo acontece com a questão do aborto, discussão que se ampara em um sentimentalismo barato, mulher nenhuma levará uma gestação adiante se ela não quiser, nenhuma jamais levou, nossas avós abortavam, nossas bisavós abortavam, e a mulher de amanhã também abortará, sendo crime ou não.

Ou seja, criminalizar é apenas uma forma de punir essa mulher, obrigá-la a procedimentos clandestinos, uma hipocrisia a mais num país que se recusa a deixar a religião de lado para pensar de forma menos passional e mais sintonizada com seu tempo, mas não adianta, é assim desde sempre, ato contínuo, somos os campeões do prolongamento do nosso atraso, e outra prova disso é a questão de adoção de crianças por casais homoafetivos, a cena se estende, considera-se absurdo alguém ser criado com amor por dois homens ou duas mulheres.

Muito melhor o orfanato, a desatenção, a moral empoeirada, melhor salvar os bons costumes e deixar a criança se ferrar em seu abandono, e lá vamos nós dar continuidade a um jeito mascarado de existir, faz de conta que as instituições são mais importantes que as pessoas, faz de conta que a figura etérea de Deus é mais importante que a felicidade de cada um, faz de conta que existe eternidade e que isso aqui é só um aperitivo, um unhappy hour antes de irmos todos para um lugar melhor, mas que ninguém sabe onde é, como é.

E assim, cultivando crendices, superstições e ignorâncias seguimos perpetuando uma vida surreal, seguimos tapando os olhos para o evidente em detrimento do que se supõe, seguimos enaltecendo as ilusões em detrimento da realidade, a vida é simples, a vida não precisa de tantos mandamentos, não precisa de tanto além, de tanto mistério, de tanta mentira, de tanto apego ao sobrenatural a fim de não enfrentar o que é natural – o desejo –, mas não, o mundo está caindo de podre e a câmera segue filmando.

É um plano-sequência, todos cultivando problemas a fim de valorizar sua trajetória, todos, como os personagens de Birdman, desesperados diante da própria desimportância, recusando-se a entender que só serão livres quando desapegarem do ego, não querendo enxergar que o poder é uma ilusão patética, que dogmas não são boias salva-vidas, que o mundo pode ser mais leve e alegre do que é, e que somos todos iguais nesta caminhada rumo a um final em aberto.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


24 de fevereiro de 2015 | N° 18083
FABRÍCIO CARPINEJAR

Todo cão é fiel

Tenho um irmão amado que mora em Faxinal do Soturno: Miguel, juiz, pai do Murilo e casado com Milena.

É o caçula de casa, o único que se dá bem com toda a família e o mais quieto e sábio, talvez porque foi o último a chegar nas brigas e descobriu que eram insolúveis e não valeria a pena perder tempo com elas.

Ele cuida de dois cachorros. O mais novo, um salsicha, o Mandi, foi atropelado na frente do Miguel. Escapou de um passeio vigiado na residência e se animou a atravessar a rua de repente.

Diante do estrondo das rodas, do rasgo do freio e do latido esganiçado, Miguel correu para socorrê-lo. Mesmo abatido, mesmo morrendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver seu dono.

Destroçado, encolhido na frieza das pedras, fez um esforço colossal de mexer o rabo para festejar as mãos de Miguel em sua cabeça. Apesar de ferido e sangrando, alheio a sua condição agonizante, mexeu o rabo, esta mão prodigiosa que o cachorro tem além das patas, esta antena do coração, esta risada do corpo.

Mesmo soltando seu último suspiro, mesmo desesperadamente doendo, o cachorro mexeu o rabo ao ver o Miguel próximo. Mesmo no pior momento de sua vida, ele encontrou um instante de felicidade e ternura, e acenou com o rabo, quis demonstrar para Miguel que o amava.

Mexeu o rabo de agradecimento. Mexeu o rabo de comoção. Mexeu o rabo, como sempre mexeu o rabo, quando Miguel chegava do trabalho e perguntava pelo seu nome pelos corredores. Nada mudaria seu hábito de mexer o rabo. Nada arrancaria dele o gesto puro e repetido dia a dia.

Nem o fim impediu sua declaração. Nem a falta de ar, o medo, a angústia de não estar mais entre nós para sempre. Ficou mais feliz de ver Miguel do que triste de morrer. Ele é um exemplo de como não ser tragado pela infelicidade.

O quanto não devemos nos afundar na angústia, seremos maiores do que as fatalidades e os reveses, pois poderemos agradecer o que somos e o que recebemos.

Ainda que nossa vida esteja perdida, temos uma chance de eternizá-la ao nos entregar para a amizade do outro.

Miguel mexeu os olhos em resposta. Sem ter certeza se estava rindo pelo carinho surpreendente de seu cão naquele momento ou chorando pelo acidente trágico.


As lágrimas escorriam, ao mesmo tempo, de contentamento envergonhado e de dor exagerada. Não conseguia separar os sentimentos. Isto é a grandeza do humano, a imprevisibilidade do amor, que também mora na alma dos cachorros.

sábado, 21 de fevereiro de 2015


22 de fevereiro de 2015 | N° 18081
FABRÍCIO CARPINEJAR

Meus filhos cresceram, e agora?

Jamais envelhecemos reparando em nossa idade.

O costume é nos perdoar, esticar as rugas com o riso, desprezar a falta de fôlego e os ossos estalando. Ainda guardamos dentro da gente a vitalidade do pensamento, mesmo que o corpo não acompanhe.

Relevamos as pontadas, o cansaço e a vontade de sentar logo ao entrar em uma sala. Não achamos que é sério. Costumamos explicar que é apenas uma indisposição temporária ou uma noite mal dormida ou o excesso do calor.

Não chamamos nunca a velhice pelo nome, está cheia de sinônimos.

O único jeito de encarar o peso dos anos é pela idade dos filhos. Eles nos denunciam. Eles nos entregam. São delatores de nossa data de nascimento. Representam um cartório sempre aberto dentro de casa.

Não tem como pintar o cabelo, estender pano de prato com calendário antigo ou fingir que não é conosco.

Meus pais esqueceram que já estão com 76 anos. Nem as cartelas vazias do remédio no café da manhã são alarmes de suas fragilidades. Mas lembrarão imediatamente do longo percurso se avisá-los que o caçula Miguel tem quarenta anos e que todos os seus filhos passaram das quatro décadas.

Eu me vejo como um guri, capaz de empreender indiadas e emendar noites trabalhando. Por mim, não sofreria abalo psicológico, não experimentaria crise de lobo, raposa, cachorro, hiena. Não me percebia velho. Nenhuma festa acentuava a passagem do tempo.

Até o momento em que comemorei o aniversário de 21 anos de minha filha. Mariana completou a maioridade. Sou pai de uma mulher de 21 anos. Minha menina é uma mulher.

Assim como o Vicente, que parecia um eterno bebê, acaba de pisar na adolescência com os dois pés. Fez 13 anos na última sexta. Meu piá tem 13 anos. A voz é de um homem, fala grosso e chiado, bate a porta do quarto com força exigindo privacidade.

Eu considerava que ambos demorariam séculos imaginários para alcançar a fase adulta. Não estou preparado para ter filhos adultos e abandonar o termo “minhas crianças”. Como se despedir da infância pela segunda vez?

É o medo de perder a paternidade mais pura, a confiança cega e incondicional de seus pequenos, e também o medo de não estar mais aqui para ver a sequência da família.

Recordo que os 13 anos do Vicente estavam ligados à quitação do imóvel de São Leopoldo. Era um longo financiamento, projetado para longe, numa realidade remota e absurda. O ano de 2015 soava, no contrato de 2002, como um filme de ficção científica.

Nem sonhava que esta data fosse existir. Pagava religiosamente todo mês como se fosse um dízimo perpétuo.

A ampulheta virou e perdi a contagem. Distraído com o mar, não enumerei os grãos de areia debaixo dos pés.


Pois aconteceu. Chegou esse dia que me diz que estou envelhecendo, que o futuro já é passado, onde o agradecimento e o pedido de desculpa estão soberanamente misturados.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015


17 de fevereiro de 2015 | N° 18076
FABRÍCIO CARPINEJAR

Futebolzinho inofensivo

A mulher não é contra o futebolzinho do namorado na semana. É uma lenda. É folclore. É oposição inventada.

Ela até apoia e gosta, tem um tempo livre para não ser incomodada e assistir a uma temporada inteira de The Good Wife, sem nenhuma interrupção.

O que a mulher se irrita é com a incoerência da atividade esportiva. O homem volta pior do que quando saiu. Mais demolido, mais desmoronado, desprovido de fôlego, precisando de uma injeção de glicose na veia.

Ele se despede sóbrio, de calção, regata e tênis e volta dois quilos a mais, não a menos, com a barriga proeminente, bafo de cerveja e arrotando costela e pão com alho. É uma antiginástica, uma desidratação alcoólica. Bate a porta como um touro e regressa como um porco, incapaz de enfiar a chave na fechadura.

Que futebol é este que incha e acaba com o cara? Atravessou por uma máquina de moer ogro? Abandonou o lar disposto e centrado e retorna bêbado, proferindo neologismos, enrolando a língua e derrubando objetos.

Como acreditar que foi fazer um esporte? Não está nem mais suado, e sim com rosto pálido de engov. A impressão é de que passou o rodo numa churrascaria, num boteco, num bordel, na Cidade Baixa.

Não há como imaginar depois romance, sexo, carinho, palavras de amor, nem dormir de conchinha. Homem pós-jogo é nulo e tóxico. O sujeito deve permanecer no outro lado da cama, distanciado por uma muralha de travesseiros.

Além de estar imprestável para o restante da madrugada, esqueça a companhia dele no dia seguinte, envolvido com azia, enxaqueca e gemidos involuntários.

Mas não desconfie apesar das aparências enganosas. Homem usa o jogo como pretexto para o exorcismo dos bons modos, para expulsar a educação materna e a etiqueta social. A bagunça é mais importante do que a partida, a arruaça é mais fundamental do que o condicionamento. É tão somente uma criança viking, inofensiva, brincando de se destruir um pouco, escapando do controle do colesterol e da bebida, fofocando com amigos e contando as mesmas piadas de sempre. Até correu em campo, nada de especial, meia hora de grito para que os colegas passassem a bola e muitos gols perdidos. Ele se dedicou com volúpia para a mesa e cervejada no fim da pelada – banca o atleta, mas tem alma aposentada de técnico.

Já quando está traindo, o marido chega limpo e cheiroso do banho do motel. Neste caso, pode comprar briga e vender a casa.


sábado, 14 de fevereiro de 2015


15 de fevereiro de 2015 | N° 18074
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Brigões da internet

Mário Corso, aqui na ZH, dia 27 de janeiro, enfrentou com grande êxito um tema que está na ordem do dia: por que há tanta agressividade nas redes sociais? E avança: já éramos desde antes tão agressivos, ou a internet é um meio propiciador forte?

Resumo, com algum molho pessoal, os argumentos, para tentar ir adiante. Um, somos os primeiros a usar este novo meio e não temos uma etiqueta estável para ele. Dois, não há o interlocutor físico diante de nós, o que libera a agressividade. Há também, três, a instantaneidade: não há tempo entre a reação, a escrita e o envio, que havia no tempo da carta.

Quatro, as redes proporcionam muita exposição mas pouco retorno, o que implica duas coisas – uma frustração da nossa carência de reconhecimento e uma tendência a emitir opiniões mais chocantes, mais extravagantes, mais bizarras, contra tudo e todos, para ganhar alguma visibilidade. Cinco, o gesto de escrever ali é uma caricatura de participação política, uma catarse, num tempo de intenso descrédito na representação – nem a religião, nem o partido, nem o emprego, nem o casamento, nem o sindicato, quase nada mais tem unanimidade ou duração capazes de nos dar sensação de permanência.

A síntese do Mário ajuda muito a entender. E me ocorre que há o reverso do item 5: a ascensão da esquerda, nas duas últimas gerações, foi um intenso, profundo, um quase irressitível movimento de incentivo e de incitação à tomada de consciência e à participação. E agora, que percebemos que tem cabimento participar e que todos temos que fazê-lo, a participação parece ter-se tornado irrelevante, ou é mesmo irrelevante. Por exemplo: eleição a cada quatro anos é um troço tardo demais para a velocidade da internet – aqui, aliás, outro fator, o contraste entre a velocidade da internet e a lentidão da vida.

Essa história pode ser lida em várias configurações. Numa face brasileira, temos por exemplo a figura de líderes das revoltas estudantis de 68 presos por corrupção; numa face europeia, Daniel Cohn-Bendit, que fez fama com a alcunha “Danny o vermelho” a partir de 68, expulso da universidade de Nanterre por sua ação política, ganhou um doutorado honoris-causa no fim do ano passado, na mesma universidade.

Segundo a revista Piauí, que relatou o caso, Cohn-Bendit fez alguma autocrítica (“Soubemos destruir, mas não construir”; “xingar o professor Grappin como ele havia feito de nazista foi uma besteira terrível, porque ele fora da Resistência francesa”), e apresentou como utopia forte, para agora, a construção dos Estados Unidos da Europa. Nada mais.

Na companhia histórica do Maio Francês, vieram ao mundo a Tropicália e o Seargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o Charlie agora atacado e o saudoso Pasquim brasileiro, já sepultado. A famosa Passeata dos Cem mil, um marco na história política brasileira, é descendente direta do espírito libertário do Maio (dos jovens líderes políticos de então, quantos destinos: Vladimir Palmeira, José Dirceu, Fernando Gabeira, vá fazendo a conta).

De 68 pra cá são já quase 50 anos, o tempo de duas gerações na roda geral da história. E o caso é que os sessenta-e-oitistas chegaram ao poder, em toda parte. Nem sempre os mais radicais, certo, mas todos chegaram lá. O PT no Brasil, com Lula e agora Dilma (há o imperdível livro de Airton Centeno, da Geração Editorial, Os Vencedores:

A Volta Por Cima da Geração Esmagada Pela Ditadura de 64). Há mulheres presidentes na Argentina e no Chile, o índio Evo Morales na Bolívia, o ex-guerrilheiro Mujica no Uruguai, o mulato Obama nos EUA, e assim, em versões moderadas, na Europa ocidental praticamente toda, incluindo França, Espanha, Itália, Portugal, Inglaterra, Alemanha. E na Grécia agora, talvez na Espanha do “Podemos”.


Essa conta pode ser nos levar até a ponta, ou a uma das pontas, do novelo atual, este novelo, esta novela do nosso mal-estar. Um fim de ciclo, eis o pano de fundo da coisa toda, me parece.

15 de fevereiro de 2015 | N° 18074
CLÁUDIA LAITANO

Martha Medeiros está em férias e retorna na edição do dia 1º de março

Espelho, espelho meu, quem sou eu?

Estamos chegando ao estágio em que rostos familiares desaparecem para dar lugar a uma máscara vagamente inspirada nos traços originais

Comparadas com os drones, a impressora 3D e as raquetes de matar mosquito, as técnicas que prometem rejuvenescimento ainda têm muito no que evoluir Donatella Versace e Mickey Rourke estão aí para provar.

Se você conhece uma pessoa que já passou dos 40 e parece muito mais nova do que realmente é, pode apostar que ela come bem, dorme oito horas toda noite e faz exercícios regularmente. Agora, se você encontrar uma pessoa que já passou dos 40 e parece uma versão alterada de si mesma – não necessariamente mais jovem ou mais bonita –, é provável que ela tenha recorrido a alguma intervenção estética que não deu muito certo.

Bocas inchadas, bochechas esticadas e olhares paralisados podem ser muito assustadores, mas de certa forma nos acostumamos a eles. Agora estamos chegando a um novo estágio, aquele em que rostos familiares simplesmente desaparecem para dar lugar a uma espécie de máscara vagamente inspirada nos traços originais. Foi o que aconteceu no ano passado com a atriz Renée Zellweger e parece ter se repetido agora com Uma Thurman. Ambas tornaram-se assunto na internet por terem ficado irreconhecíveis depois de algum tipo de procedimento exageradamente invasivo.

Sim, o povo gosta de fofocar, e o visual de mulheres famosas é aparentemente um manancial inesgotável para especulação, mas há algo perturbador nesse tipo de transformação abrupta e radical de um rosto conhecido. Deixando de lado qualquer discussão a respeito do tipo de pressão, interna ou externa, que leva uma mulher a alterar a própria fisionomia, o fato é que reagimos a essas modificações de forma visceral. O industrioso cérebro humano, treinado para reconhecer pessoas e detectar as mínimas variações de uma expressão facial, parece ter dificuldade para processar o significado dessa quebra de expectativa.

Não que nosso aspecto não mude o tempo todo. Se não fizermos nada a respeito, a natureza modificará nosso rosto como um cirurgião plástico diligente e meticuloso. Vai transformar a criança na adolescente, a mocinha na mulher, a mulher madura na mais madura ainda.

Todo dia, fará um retoque discreto, quase imperceptível, e já estará trabalhando há algum tempo quando olhamos no espelho e nos damos conta de que ela andou agindo enquanto estávamos distraídas fazendo outra coisa. Ainda assim, nenhuma mulher acorda aos 50 espantada por não ter mais o rosto que tinha aos 25. De alguma forma, a natureza nos dotou dessa mágica sensação de continuidade e identidade que muitos neurocientistas sugerem, hoje, que se trata apenas de uma ilusão.


Ilusória ou não, essa sensação de que a aparência reflete a nossa essência não está necessariamente ligada à beleza ou à idade, e portanto nem sempre poderá ser recuperada (ou descoberta) na mesa de um cirurgião plástico.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015


10 de fevereiro de 2015 | N° 18069
FABRÍCIO CARPINEJAR

Amizades definitivas

Amizade vai além do momento. É comum ser amigo de contextos idênticos e se distanciar com os hábitos diferentes.

Quando você está solteiro, o normal é fazer cumplicidade com quem frequenta festas e não se apega a uma relação. Quando está casado, o normal é criar laços com outros casais e privilegiar jantares e viagens. Quando está com filhos, o normal é sair com quem também está conhecendo as manhas e as longas manhãs dos bebês.

Amizade verdadeira ultrapassa a normalidade e o oportunismo do convívio.

Estas nem são amizades verdadeiras, mas afinidades circunstanciais. São colegas de uma época, de uma fase, de um estilo. Acabam unidos provisoriamente por um gosto, circunscritos a uma vizinhança etária. Desaparecem diante de nossa primeira mudança, de nossa primeira transformação de personalidade.

Permanecem quando há um interesse imediato, um arranjo benéfico do cotidiano, e somem quando não existe mais uma desculpa para se ver e se ouvir. Dependem de um pretexto para se manter próximos.

Os conhecidos da academia ficarão no passado dos halteres assim que cansarmos dos treinos. Os conhecidos da faculdade ficarão na lembrança do quadro-negro assim que nos formarmos. Os conhecidos dos cursos de idiomas ficarão nos livros de exercícios assim que dominarmos uma nova língua.

Amigo mesmo é o que não experimenta uma fase igual e permanece junto. Quebra o espelho e não se machuca com os cacos.

Amigo mesmo é o que não tem filho e vem brincar com nossas crianças, não reclama dos gritos e dos choros e não diz que “pela trabalheira, não pensa em ser mãe ou ser pai tão cedo”. Não se justifica, está lado a lado qualquer que seja o cenário.

É aquele que se separou e não amaldiçoa nossa paixão recente. É aquele que não tem emprego fixo e não inveja o nosso sucesso. É aquele que não tem nenhum problema grave e escuta com paciência e atenção as nossas lamúrias.

Não é o de empatia fácil, feita de experiências semelhantes: só porque atravessa a fossa entende a nossa fossa, só porque transborda de alegria festeja a nossa alegria.


Amigo não dá nem para contar nos dedos, pois sempre estará segurando nossa mão.

sábado, 7 de fevereiro de 2015


08 de fevereiro de 2015 | N° 18067
FABRÍCIO CARPINEJAR

Supermercado das paixões

Não reconheço como grande obstáculo mudar por alguém. É uma bobagem resistir, uma tolice se esconder no orgulho e encher a boca para dizer que precisa me aceitar como sou. A soberba é inimiga da evolução.

Ao se separar vai terminar mudando, então por que não mudar dentro da relação? O resultado será igual. Até porque, depois da distância, fará tudo o que ela queria por birra.

Casais desfeitos mergulham numa guerra de reformas e de lista de intenções. Tropas de carentes procurando chamar atenção a todo instante na web, obcecados em provar que estão melhores, sadios e irresistíveis e sinalizar o quanto o ex ainda se arrependerá da decisão.

Se ela reclamava de sua barriga e de sua flacidez, começará academia imediatamente e assumirá a condição de marombado. Se ela xingava sua pouca insistência com os livros, estará matriculado num curso de leitura dinâmica. Se ela zombava de seu inglês, entrará em aulas de conversação. Se ela morria de ciúme, passará a explicar a rotina aos amigos e evitará respostas genéricas e evasivas. Se ela reclamava de sua preguiça, acordará às 6h da manhã para correr.

Por vingança realizamos mais melhorias de nosso temperamento do que por amor. Só para jogar na cara. Só para provocar inveja e ressentimento.

Divorciados, acabamos nos tornando curiosamente o que o outro desejava, o que o outro tanto reivindicava. A ironia é que, tomando tal atitude durante a convivência, a separação não teria acontecido. A metamorfose surge quando não há laços para consertar. É o equivalente a aumentar o salário e promover quem já demitimos.

Ninguém é o mesmo por muito tempo, não vejo sentido em espernear no supermercado das paixões.

Eu sou influenciável, maleável, não permaneço com a personalidade imutável. Águas paradas não são profundas, apenas têm o maior risco de dengue.

Eu mudo com gosto, com vontade. Por curiosidade ou para oferecer uma nova chance ao casamento. Nem sempre alcanço resultados esperados ou atendo às expectativas, mas não nego a experiência de me aperfeiçoar e me aventurar em diferentes hábitos. Vá que funcione! E todo mundo ainda pode recuar e retomar velhas escolhas.

Não tentar que é difícil de explicar.



08 de fevereiro de 2015 | N° 18067
CLAUDIA LAITANO

Martha Medeiros está em férias e retorna na edição do dia 22 de fevereiro

Românticos

Quando foi mesmo que as comédias românticas começaram a ficar tão ruins? Não chucrute-ruim, bem entendido, mas algo-que-foi-bom-três-dias-atrás-mas-ainda-dá-pra-comer ruim? (Sim, porque eu ainda prefiro uma comédia romântica medíocre a um maaaaravilhoso filme de explosões e perseguição.)

Se comédia romântica é como pizza – até quando é mais ou menos, dá pra traçar –, de uns tempos para cá elas estão todas com o mesmo gosto de molho pronto de tomate: previsíveis, burocráticas, sem tempero. Mais para Katherine Heigl do que para Katharine Hepburn, digamos assim.

E não sou só eu que estou dizendo, viu? A perda de prestígio das comédias românticas já se reflete nas bilheterias. Depois de uma década garantindo bons resultados para a indústria cinematográfica, a chama do romance começou a enfraquecer em 2012, a ponto de a produtora Lynda Obst (de Sintonia de Amor e Como Perder um Homem em 10 Dias) admitir, em dezembro, que 2014 foi o pior ano, dos seus 30 de carreira, para o gênero.

Comédias românticas, para quem não gosta, são aqueles filmes bobinhos em que duas pessoas demoram duas horas para descobrir o que todo mundo no cinema já sabe – que, mesmo brigando, eles já estão apaixonados e foram feitos um para o outro. Antes do final feliz, porém, há alguns protocolos a seguir. O casal tem que começar às turras, lá pelo meio deve começar a superar suas diferenças (sociais, morais, intelectuais...) e depois dar mais uma brigadinha antes de voltar a se entender. Ah, e se por acaso um dos dois levou um fora antes de encontrar o verdadeiro amor, é absolutamente certo que aquela terceira pessoa, em algum momento, vai voltar arrependida, pedindo para voltar. Já notou?

Há várias teses para a crise das comédias românticas. Uma delas é que desde que o sexo antes do casamento deixou de ser tabu, foi preciso inventar motivos cada vez mais mirabolantes para que o casal protagonista não fique junto logo de uma vez – ela é prostituta, ele um grande empresário; ela é uma sereia, ele é o presidente dos Estados Unidos; ela é vendedora de enciclopédias, ele é um zumbi.... Além disso, é preciso levar em conta que boa parte da demanda por romance e histórias leves e divertidas tem sido abastecida por seriados de TV – cada vez mais ágeis em transpor o espírito da época para o contexto de histórias românticas (como Friends fez pela Geração X nos anos 1990, e How I Met Your Mother ou Girls estão fazendo pela Geração Y nos anos 2010).


Aparentemente, foram as comédias românticas do cinema que ficaram mais bobas e não o interesse do público que diminuiu. Pois enquanto o sonho do grande amor não virar ficção científica, sempre vai haver público para uma boa história romântica.