
29
de março de 2015 | N° 18116
FABRÍCIO
CARPINEJAR
O perdão custa
caro
Qualquer
criança confessa. Ou pela pressão da verdade ou pela ameaça das informações
desencontradas.
A
confissão não expressa maturidade. Tem que ser adulto mesmo para arcar com as
consequências de seus atos e pagar a pena (que leva em conta a mentira e também
o tempo que manteve a mentira).
Diante
da quebra de lealdade no relacionamento, a sinceridade do arrependimento
depende da contundência da mudança e rápida e emocionada disponibilidade para a
retratação. Não pode haver vacilação e dúvida. Rompe-se radicalmente com o que
trazia dor e duplicidade, recusam-se barganha e atenuantes, é deixar uma vida
para trás e nascer de novo. Exige uma combinação enérgica de resistência
emocional e determinação, para provar que nada se repetirá.
Pois
se mostrar arrependido é diferente de cumprir o arrependimento.
O
primeiro é um estado provisório, que pode ser da boca para fora, provocado pelo
medo de perder alguém. Uma promessa, simplesmente, acalmando os ânimos
acirrados.
O
segundo é um processo de resiliência, definitivo, para resgatar a igualdade e
cicatrizar a confiança daquele que se magoou. É quando transformamos a dívida
em responsabilidade, quando transformamos o castigo em justiça, quando aceitamos
repor as perdas e recuperar o direito de falar. Alinha-se a consciência
novamente ao discurso.
Amadurecimento
é corrigir o que foi feito de errado pela dedicação, pelo trabalho, dar o
exemplo de integridade em sequência, sem jamais desistir. Com humildade,
aguentar a desconfiança e a suspeita de quem feriu. Não desfrutará de
meias-palavras, nem de um silêncio agradável: é o caso de se apresentar
transparente na intenção e didático nos pensamentos.
Por
um longo período, você que errou passará a ser o único a confiar em si, e não
conhecerá dias leves. Estará em desvantagem nas conversas, precisará prestar
satisfações e confirmar horários. A reincidência estará sorrindo à sua frente
quando chora e se contorce de culpa. Terá vontade de retornar ao que era, onde
mentia, fazia o que queria e não devia nada a ninguém.
Pedir
desculpa é fácil e indolor, diria que é um suspiro letrado, mas carregar “eu
errei” todo o dia nas costas que é árduo e tarefa para fortes.
Tudo
pode ser consertado. Tudo. Desde que se entenda que desculpa é para crianças, e
reabilitação é para adultos. Será obrigado a crescer.

É
um impulso natural: abrir-se para novas oportunidades, alargar o campo de visão
O médico britânico Richard Smith gerou polêmica,
recentemente, ao afirmar que o câncer é a melhor forma de morrer. Aos que já
perderam alguém para essa doença infeliz, a pergunta que fica no ar é: como
assim? Dr. Smith explica que, entre a morte súbita, a falência múltipla de
órgãos, a demência ou um câncer, este último estaria em vantagem por dar ao
paciente a oportunidade de se despedir dos seus afetos e prazeres, de refletir
sobre a vida, de visitar certos locais pela última vez e de se preparar para a
partida conforme suas crenças. 
Nunca
esquecerei minha professora de História. Seu maior desejo era conhecer Roma.
Era tão apaixonada por esse sonho que chegou a memorizar o mapa da cidade,
julgava-se capaz de caminhar por suas vias com mais desembaraço do que um
morador local. 



Adolescente, passei de ano. Por média.
