sábado, 26 de abril de 2025


25/04/2025 - 14h00min
Martha Medeiros

Essa reconexão pessoal promovida pelos finais de romance não deveria assustar

É triste perder alguém, mas a separação só será desesperadora se você estiver perdido de si mesmo, se já nem souber mais quem é.

A relação acabou de comum acordo, disseram. A gente sabe que não é bem assim, sempre tem um que lidera o desfecho e o outro concorda, mas, ainda assim, são finais civilizados. Decidida a separação, vem a fase do “quem fica com o quê”, que pode ser complicada quando se trata de um longo casamento, mas se era um namoro em casas separadas, é só cada um buscar suas roupas, livros e seguir a vida em frente. 

Seria menos sofrido, realmente, se a questão da devolução ficasse restringida apenas a coisas materiais. O problema é que muitas pessoas, ao saírem de um relacionamento, não se querem de volta. Não aceitam ser devolvidas para elas mesmas. Relacionamentos suprem carências. Casais não trazem apenas objetos para dentro da relação: trazem seus parentes, seus amigos, seu universo profissional.

Novos olhares e abraços. Infelizmente, na hora de separar, essa turma entra no inventário. Por mais que o afeto se mantenha, terminará a convivência. Você não será apenas a ex-mulher ou o ex-marido de alguém. Será também ex-cunhado, ex-genro, ex-nora, ex-madrasta, ex-padrasto. Mesmo tendo ampliado sua rede de contatos, precisará de equilíbrio emocional para voltar para si mesmo e ser bem recebido por aquele que você era antes da relação iniciar.

Nosso RG traz foto, assinatura e um número, mas essa é apenas a parte burocrática da nossa identidade. A matéria-prima que nos constitui vem de alegrias, traumas, aprendizados, bullying, conquistas e rejeições, enfim, tudo o que foi vivido antes de crescer e escolher alguém para compartilhar sua história. Não dá para iniciar uma relação esvaziado disso tudo. A pessoa que não consegue lidar com o adulto que se tornou, e que não preserva o lugar dentro dela que deveria chamar de “casa”, vira uma sem-teto hospedada na vida alheia.

Toda separação é uma devolução. Você é devolvido para si. Com mais bagagem e mais lembranças, mas tem que retornar ao seu eu essencial. Você é o seu próprio lar, diz a música. É triste perder alguém, mas a separação só será desesperadora se você estiver perdido de si mesmo, se já nem souber mais quem é. 

Machistas inseguros chegam a ponto de entrar em surto diante do rompimento e cometem feminicídio: no Rio Grande do Sul, seis mulheres foram assassinadas por seus ex-parceiros na última Sexta-Feira Santa. Tudo o que o criminoso consegue com essa violência é arranjar um novo lugar para morar: atrás das grades, onde aprenderá na marra a conviver consigo próprio.


26 de Abril de 2025
CARPINEJAR

O tempo de Tite -Tite deu um tempo para si:

- Antes de ser técnico, sou humano.

O ex-treinador da Seleção, campeão mundial pelo Corinthians, anunciou sua retirada por período indeterminado para cuidar da saúde mental e física. Aos 63 anos, tomou a surpreendente decisão de suspender a sua carreira.

O susto da arritmia cardíaca ao retornar de um confronto da Libertadores na Bolívia, em agosto de 2024, na época no Flamengo, contribuiu para a reviravolta profissional - quem enfrentou dilema semelhante ao de Tite foi o tetracampeão brasileiro Muricy Ramalho, que abreviou a sua carreira em abril de 2016, enquanto comandava o Flamengo, após sentir dores no peito.

Num esporte em que a resiliência atinge os extremos da autoviolência, em que não se desiste, tal exposição pública de um coliseu, o que Tite fez é uma atitude corajosa. É uma aula de civilidade terapêutica para o futebol, mostrando a importância da pausa.

Torna-se um ícone masculino, seguindo a lucidez de Simone Biles: reconhece suas fronteiras e opta por um intervalo, mesmo sob os holofotes, mesmo com convites irrecusáveis, para defender a sua privacidade e preservar os seus valores.

Essa resolução do Tite rompe com um padrão cultural entre os homens: o da resistência silenciosa a qualquer preço, da mania de "aguentar tudo" e jamais pedir ajuda, da negação da vulnerabilidade. Ele vinha dizendo que não suportava mais o ritmo. Se continuasse assim, subestimando os sinais de alerta, poderia morrer sentado numa casamata, ou sucumbir pela depressão ou ansiedade num quarto de hotel.

O sacrifício traz a ilusão da influência: você desfruta de fama nas ruas, mas, dentro de casa, não passa de um fantasma. Deixa de aproveitar os momentos preciosos ao lado de quem mais ama. Perde a fase dourada do crescimento dos filhos, que nunca terá estorno - adultos, eles não desejarão igual proximidade.

Como Biles na Olimpíada de Tóquio (2021), que abandonou as provas por sérias questões emocionais e foi duramente criticada por declinar de futuras medalhas de ouro, Tite assume o que parece uma fraqueza, mas é a força maior da franqueza: a valentia de parar simbolicamente o seu cargo para retomar a sua vida e reencontrar a sua inspiração.

Treinadores são tratados como máquinas, submetidos a experiências assustadoras, numa imprevisibilidade doméstica, sempre prestes a ser demitidos, sempre trocando de cidade e de clube, levando as famílias de roldão, numa condição provisória e ambulante, matriculando e rematriculando suas crianças no vaivém das escolas.

As glórias duram pouco. As vaias, essas sim, sufocam.

Ainda que carreguem rescisões polpudas e recebam salários astronômicos, acabam devorados pela crítica. A cada jogo, precisam lidar com uma coletiva para explicar o que funcionou ou o que não vingou nos seus esquemas táticos. Não devem falar mal dos atletas ou dos dirigentes. Protegem o vestiário. Permanecem à beira do campo se esgoelando, gesticulando enlouquecidos, raciocinando uma mímica para conter ou desarmar o adversário. É um estresse desumano, de implosões psicológicas e pressões externas.

Técnico já nasce com a Síndrome de Burnout. A tensão é a sua rotina: do treinamento para a concentração e daí para a partida, num labirinto interminável.

Também sofre de um agravante. Diferentemente dos jogadores, que possuem um ciclo definido de produtividade e penduram as chuteiras até os 40 anos, o técnico não tem um limite biológico, à mercê dos humores do mercado e da aceitação das torcidas. Pode se manter no posto de forma vitalícia, até o último suspiro. A data de validade é somente quando adoece.

Tite pensa que está se salvando, mas na verdade está salvando vários de seus colegas a partir de seu exemplo. 

CARPINEJAR

26 de Abril de 2025
COM A PALAVRA

Amauri Soares - Diretor-executivo da área de Afiliadas, dos Estúdios Globo e da TV Globo

"O compromisso da TV Globo com o Brasil não mudou e não mudará"

O homem por trás da engrenagem que movimenta a maior rede de televisão do Brasil, Amauri Soares fala com orgulho da trajetória construída pela Globo ao longo de suas seis décadas de existência. Em entrevista, projeta os desafios para o futuro.

Camila Bengo

A TV Globo chega aos 60 anos consolidada como a maior emissora de televisão do Brasil, também uma das maiores do mundo. No seu entendimento, o que levou a Globo a se tornar essa potência? Qual é o elemento X?

A determinação de andar sempre com a sociedade. A Globo é uma TV do Brasil para o Brasil. São 14 mil pessoas da TV Globo, mais 10 mil pessoas nas afiliadas, que saem de casa todos os dias para fazer uma televisão brasileira. Andar com a sociedade significa estar sempre aberta ao diálogo, propor temas para debate, abrir espaço para todos, valorizar o regional. Veja o exemplo do Rio Grande do Sul. A RBS TV é a Globo dos gaúchos. Uma das primeiras afiliadas da Globo, hoje com 12 emissoras em todo o Estado. Cada uma produzindo conteúdo regional, olhando de perto a realidade e contribuindo com a comunidade. Este conhecimento local, estas raízes profundas em cada região do país, como as que a RBS tem no Sul, formam o maior diferencial estratégico da Globo.

A celebração dos 60 anos contará com programação especial de 60 horas. Como foi o processo de planejamento?

Começamos a planejar esta celebração um ano e meio antes. Desde o início, algo ficou muito claro para nós: queríamos honrar nosso passado e celebrar as histórias e as pessoas que nos trouxeram até aqui. Além de apontar para o futuro, mostrar a nova Globo que começa a nascer, com a chegada da TV 3.0.

A partir da programação de 60 anos, que mensagem essa Globo deixará aos espectadores?

Que muita coisa mudou na televisão e no país, que o futuro começa agora, mas que o compromisso da Globo com o Brasil não mudou e não mudará. Somos contadores de histórias brasileiras. Somos 120 emissoras de televisão que conhecem profundamente suas regiões e suas comunidades. Esta é a base para construir os próximos 60 anos de Globo.

Como a emissora tem se adaptado às novas demandas do público e à evolução das plataformas digitais, especialmente em um cenário tão competitivo com o streaming?

Fazendo o dever de casa. Somos 100% digitais. Estamos na TV da sala, mas também no celular, nos computadores, nas distribuidoras de TV paga e nas distribuidoras de banda larga. A Globo está com as pessoas onde elas estiverem e quando elas quiserem.

Isso também inclui a implementação da TV 3.0? Como essa tecnologia vai impactar a produção dos conteúdos e a experiência do espectador?

TV 3.0 é a televisão que todos conhecemos, mas com a possibilidade da customização. Cada pessoa poderá acrescentar informações e recursos que fazem sentido para ela. Na hora do telejornal, por exemplo, a pessoa poderá ter mais informações da sua cidade ou a previsão do tempo local. Na hora do jogo, poderá ouvir só a torcida do seu time. Imagine assistir à novela em um grupo com familiares e amigos, podendo trocar impressões e comentários enquanto o capítulo está no ar. A TV 3.0 viabiliza todas essas possibilidades.

A TV Globo é a maior referência na produção de novelas no país, mas é inegável que a entrada das plataformas de streaming nesse formato tem sido bem-sucedida. Como a emissora observa esse cenário?

A estrutura da Globo para a produção de novelas não tem paralelo no país e no mundo. A chegada de novos criadores garante que essa estrutura seguirá produzindo grandes telenovelas brasileiras. A procura do formato por todos os streamings e redes de TV mostra que a telenovela permanece como o gênero brasileiro mais relevante do audiovisual.

Vale Tudo, uma das grandes apostas da emissora neste ano, tem uma forte crítica social. Como a reinterpretação dessa obra pode refletir os dilemas atuais da sociedade brasileira?

Uma condição básica para avaliar o remake de uma novela é se o tema continua atual na sociedade. A discussão proposta em Vale Tudo, sobre ética, é muito atual. Vale tudo para vencer na vida? Quais os limites? O grande mérito da dupla de criadores desta nova versão, Manuela Dias e Paulo Silvestrini, foi preservar as intenções da obra original num contexto todo novo, do Brasil de hoje. A reação do público tem sido a melhor possível.

A Globo é frequentemente citada nos debates ideológicos. Para a esquerda, a emissora é de direita. Para a direita, a Globo é de esquerda. Diante dessa divisão ideológica que se acirrou no país, em que lugar está a Globo?

No lugar da maior produtora de jornalismo profissional do país. O jornalismo profissional é alvo dos ataques de pequenos grupos mais polarizados, mais extremados, assim como a própria democracia e as suas instituições são alvos. Esses ataques acontecem de forma organizada nas redes sociais, mas não representam o sentimento do conjunto da sociedade. Pelo contrário: vemos a sociedade buscando cada vez mais o jornalismo profissional de qualidade para entender o que é fato e o que é fake. É um fenômeno novo, mas que não acontece só no Brasil. Estamos vendo isso acontecer no mundo todo e sabemos qual o nosso caminho: seguir investindo em jornalismo profissional isento e na construção de relações de respeito e afeto.

O que podemos esperar da TV Globo nos próximos anos?

Seguir sendo a televisão que busca surpreender, propor novos temas, contar novas histórias. Sempre a partir do Brasil como inspiração. E com a melhor qualidade possível, como tem sido desde 1965. Tudo isso, é bom sempre lembrar, numa oferta gratuita. A TV aberta é gratuita, monetizada pela publicidade e acessível a todos. A gratuidade da TV aberta é a base da sua essência.

E qual será o desafio?

O maior deles é andar com a sociedade. Representar a complexa e diversa sociedade brasileira na tela de maneira rica, positiva e inspiradora. 


26 de Abril de 2025
MARCELO RECH

É preciso olhar para Recife

Em geral associado ao frevo, a multidões em festa, praia e desigualdade social, Recife poderia ser apenas mais um desses estereótipos do nordeste brasileiro. A capital pernambucana, porém, tem lições a ensinar mesmo a metrópoles que se consideram na vanguarda do desenvolvimento.

A transformação de Recife começou há cerca de duas décadas e meia, com a criação do Porto Digital, um distrito de tecnologia e inovação que se espalha por 171 hectares do que era antes uma área degradada da cidade histórica. Desde lá, o parque tecnológico já estimulou a restauração de 138 mil metros quadrados de prédios antigos, convertidos em empresas inovadoras, restaurantes, hotéis e centros culturais.

O Porto Digital e sua cascata de benefícios sociais e econômicos é a melhor justificativa para que outras capitais, entre elas Porto Alegre, criem e consolidem parques tecnológicos capazes de reverter tendências de estagnação. Mas, por si só, eles não respondem por toda a transformação da cidade.

No caso de Recife, sobressai um fenômeno de popularidade, o jovem prefeito João Campos, do PSB, reeleito em 2024 com 78,11% dos votos, um recorde nas capitais. Filho do ex-governador Eduardo Campos, candidato a presidente morto num acidente aéreo, João Campos é descrito por adversários como um rei do marketing. De fato, o prefeito de 31 anos entende como poucos políticos a linguagem das redes. No Instagram, ele surfa em 3 milhões de seguidores, quase o dobro de seu congênere em São Paulo, Ricardo Nunes. João Campos usa nas redes uma linguagem informal, repleta de memes, e toma emprestada a popularidade de celebridades da periferia, como influenciadores do bregafunk.

A estratégia, contudo, está longe de explicar todo o alcance do sucesso do prefeito. Primeiro, ele governa a cidade com um arco ideológico que vai do PT ao União Brasil. Mais relevante é a máquina de obras municipais. Em um só programa, que doa projetos de engenharia e material, enquanto a comunidade entra com a mão de obra, são tocadas 1,6 mil pequenas obras que livram a população de tormentos que pareciam eternos. A cidade toda é um canteiro de obras públicas, somadas a investimentos privados que apostam no futuro de Recife como centro econômico.

A prefeitura é, ela própria, um centro de tecnologia, com plataformas que fazem quase de tudo, da intermediação de vagas de emprego à adoção de cães e gatos. Nas ruas, totens com 500 câmeras são armas para enfrentar a criminalidade, uma chaga exposta de Recife, e, na orla, banheiros bem cuidados surpreendem visitantes. Por todo lado, Recife expõe o potencial transformador de visões novas para um mundo novo. É bom prestar atenção. _

MARCELO RECH

26 de Abril de 2025
ANDRESSA XAVIER

Inimigo imaginário

O historiador britânico Laurence Rees, no livro Hitler e Stalin, mostra com fatos, documentos e relatos o horror criado por esses dois personagens diabólicos à frente do nazismo e do comunismo no período da Segunda Guerra Mundial. Antagônicos, viviam em dois projetos extremos, mas que eram ligados por um objetivo comum, de acabar com as liberdades individuais.

Vira e mexe a palavra comunista aparece hoje em dia. Isso acontece quando é conveniente para um debate. Sempre que é preciso ter um inimigo a ser combatido, o mal a ser evitado. Nem o papa Francisco escapou do xingamento doentio ao longo dos últimos anos.

A teóloga Maria Cristina Padilha refletia nesta semana, na Gaúcha, sobre esse rótulo equivocado que muitos deram ao Papa. O que ela disse foi que Francisco ajudou a retomar o que chama de igreja primitiva, a igreja pensada por Jesus, há mais de 2 mil anos, e não a construída e modificada pelos homens ao longo do tempo. Isso não é ser comunista e, sim, seguir o Evangelho de Cristo.

O fantasma da camisa vermelha, no entanto, segue assombrando quem insiste em chamar de comunista quem discorda de sua opinião mais conservadora. A história mostra que esse inimigo imaginário só existe no discurso inflamado de quem quer encobrir alguma inconsistência no que defende ou ganhar apoio de um grupo que tem horror do comunismo. De fato, precisamos ter horror dos regimes que mataram milhares, viveram sob os desmandos de malucos e que criaram capítulos tristes da humanidade, mas o que digo aqui é que o comunismo não vai tomar conta do Brasil e do mundo.

Historicamente, o comunismo como regime político ruiu há décadas, com o colapso da União Soviética, em 1991. A derrubada do Muro de Berlim e a derrocada da URSS permitiram que personagens contassem a Laurence Rees muitos dos depoimentos que ele utiliza em seus livros, porque devolveram a liberdade às pessoas que viveram aquele tempo.

Ainda há quem tente usar o comunismo como uma tática de medo, como se estivéssemos à beira de um levante popular marxista, o que não é verdade. É uma distorção que serve para silenciar vozes que apenas pedem justiça social, combate à pobreza e dignidade humana. A crítica ao sistema vigente não é automaticamente comunismo, é apenas crítica e, muitas vezes, necessária.

O que o Papa fez, com coragem, foi ecoar os valores centrais do cristianismo. Solidariedade, compaixão, atenção aos pobres e marginalizados. Não há nada de comunista em chamar atenção para o sofrimento humano causado por desigualdades obscenas. O Evangelho fala dos pobres, não dos mercados financeiros. A ideologia, no entanto, faz com que as interpretações tenham viés. A pobreza que enfrentamos não é só a miséria da falta de comida na mesa, mas também dos debates públicos. 

ANDRESSA XAVIER


26 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

OPINIÃO RBS

Tão logo a tragédia de maio de 2024 se materializou, ficou patente que o Estado precisaria de novas e grande obras de contenção de cheias. O primeiro desses projetos estruturantes, iniciado do zero, é o do dique de Eldorado do Sul. Na quinta-feira, ao apresentar o balanço do Plano Rio Grande, o governo gaúcho anunciou que estava prestes a lançar o edital para a atualização do anteprojeto. Trata-se de uma etapa preliminar, mas essencial.

Deve-se, a partir de agora, acompanhar pari passu o andamento de cada fase e dos prazos anunciados. Observar de forma atenta o cumprimento do cronograma e cobrar eventuais atrasos é essencial para elevar a garantia de que a construção não vai se arrastar por um tempo demasiado, além da demora usual de obras públicas no país. Por se localizar em uma área extremamente plana às margens do Rio Jacuí, Eldorado do Sul sofre periodicamente com inundações. 

No ano passado, foi o município mais afetado pela enchente. Cerca de 80% dos domicílios foram atingidos, 32 mil pessoas sofreram diretamente as consequências da cheia. O sistema de proteção é uma demanda antiga da comunidade local. Com os riscos de novos episódios de chuva extrema se repetirem com maior frequência no futuro, é obra urgente para proteger os cidadãos e a economia local, uma vez que o município tem recebido investimentos corporativos vultosos.

A previsão é de que a contratação da empresa responsável pelo anteprojeto ocorra até 20 de maio. A vencedora da concorrência terá o prazo de seis meses para finalizar o trabalho. Sem sobressaltos, portanto, seria concluído em novembro. A etapa seguinte teria novo certame para definir a empresa que fará o projeto executivo e executará a obra. No início de 2025, estimava-se que a construção poderia se iniciar em 2026 e levar 36 meses. O custo, antes estimado em R$ 530 milhões, pode chegar na verdade a um montante mais próximo de R$ 1 bilhão. A obra será custeada pelo fundo extraordinário de R$ 6,5 bilhões criado pelo governo federal.

Além de reconstruir o que foi destruído, o Estado está em uma corrida para que a infraestrutura e as cidades resistam a cheias semelhantes à de maio - que virão, só não se sabe quando. Isso faz com que se precise conciliar a elaboração de projetos consistentes que se transformem em obras robustas, o que leva mais tempo, com a celeridade necessária para minimizar riscos de novas tragédias e perdas financeiras e de vidas.

Às vésperas de o maior desastre climático da história gaúcha completar um ano, renova-se a lembrança da importância de a sociedade cobrar as promessas feitas. O Painel da Reconstrução, ferramenta do Grupo RBS que permite acompanhar o andamento de projetos e repasses, disponibiliza essas informações. Ali está, por exemplo, a situação atual dos projetos das demais obras de contenção de cheias, como a do Arroio Feijó, no limite entre Porto Alegre e Alvorada, e as das bacias dos rios dos Sinos e Gravataí. 

Aguarda-se que, em breve, também andem. Todas fazem parte do Plano Rio Grande, um planejamento consistente que, votado pela Assembleia, se tornou um programa de Estado, previsto para atravessar governos. Mas, por melhores atributos que tenha, não se concretizará sozinho. A execução plena dependerá da vigilância dos gaúchos. 


26 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

É preciso vigiar o trilhão da previdência

A coluna vem insistindo que o escândalo da fraude nos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não é "apenas" mais um - com todo o constrangimento que deveria ser para todos o uso da palavra entre aspas. As despesas com previdência social são as maiores entre todas as demais primárias - isso quer dizer que só perde para o desembolso com os custos da dívida, não contabilizados como gasto primário, os que importam para o cálculo da meta do equilíbrio fiscal.

Para este ano, o orçamento previsto para a área é de R$ 1,07 trilhão. Sim, tri, grandeza só comparável a PIB de países ou valor de mercado de big techs. E só nos últimos cinco anos, aumentou 35,2% - isso depois de aprovada uma reforma previdenciária que deixou milhões de brasileiros sem perspectiva de aposentadoria no curto prazo.

Para dar uma ideia mais precisa, neste ano o total do orçamento primário - sem contar o custo da dívida - é de R$ 2,2 trilhões. Isso significa que os gastos previdenciários previstos em R$ 1,07 trilhão correspondem a quase metade do total (48,6%). Isso significa que sobra metade para todas as demais áreas, incluído o custeio da máquina pública não diretamente relacionada.

E esse valor estratosférico ainda está sob escrutínio, porque nos últimos anos o valor desembolsado tem sido maior do que o previsto no orçamento. Além disso, no ano passado, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS, focado nos trabalhadores do setor privado) teve resultado negativo de R$ 297,389 bilhões, conforme dados da Secretaria do Tesouro Nacional.

Essa situação faz com que vários especialistas em previdência diagnostiquem que o Brasil vai precisar de uma nova reforma previdenciária, ainda mais severa do que a anterior. Por isso, escandaliza a gestão frouxa - para dizer o mínimo - dessa área com gastos tão estratosféricos e aplicação tão vital - a sobrevivência de dezenas de milhões de brasileiros depende dos benefícios.

O esquema de fraude vai custar bilhões extras. A estimativa dos descontos feitos de forma irregular varia de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões. Até agora, foram apreendidos bens avaliados em R$ 2 bilhões. Sem considerar eventual diferença entre avaliação e efetiva reposição, além de custos embutidos na venda, foi criado novo buraco de "poucos bilhões" (outro absurdo) em um rombo de muitos bilhões. _

Crédito rende vaga

No ano em que chegou perto de R$ 6 bilhões em financiamentos, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) ajudou a gerar 90.351 postos de trabalho nos quatro Estados onde atua - Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, que são acionistas da instituição, e Mato Grosso do Sul.

Conforme esse cálculo de impacto, o volume de investimentos com participação do BRDE no RS em 2024 (R$ 2,2 bilhões) gerou 36.348 empregos diretos e indiretos. A estimativa é feita com base na matriz insumo- produto para definir padrões de impactos diretos, indiretos e induzidos (efeito-renda).

Para o diretor-presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, os indicadores ilustram o efeito dos projetos estratégicos que passam pelo banco para o fortalecimento econômico da região.

No RS, os projetos apoiados pelo BRDE somaram R$ 287 milhões ao recolhimento de ICMS em 2024, alta nominal de 25% ante 2023. _

Entre trégua nas tarifas e perspectivas negativas

Com queda acumulada de cerca de 2% frente ao real na semana, o dólar fechou com oscilação para baixo de 0,08%, para R$ 5,687, na sexta-feira, a sexta baixa consecutiva.

Uma perspectiva de alívio na guerra comercial entre EUA e China fez a moeda americana perder força. Donald Trump havia declarado que pretendia reduzir "substancialmente" as tarifas aplicadas ao gigante asiático, que hoje chegam a 145%. A China chegou a negar negociações, mas admitiu isentar alguns produtos americanos.

Apesar de sinais dos dois lados de arrefecimento na guerra comercial, as informações ainda não foram oficializadas, e há perspectivas conflitantes, freando maior apetite ao risco - o que ajudaria uma maior valorização do real frente ao dólar.

Nos EUA, começou a temporada de apresentação de balanços do primeiro trimestre, e empresas como American Airlines e Procter & Gamble (Pampers, Ariel, Downy) estão dando más notícias - embora sejam as esperadas: queda na demanda e risco de aumento de preços. A crise aberta pelo tarifaço troca de epicentro: do mercado financeiro para os resultados corporativos. _

GPS DA ECONOMIA

26 de Abril de 2025
FRAUDE BILIONÁRIA

FRAUDE BILIONÁRIA

INSS vai devolver na folha de maio descontos em aposentadorias de abril

Fraude bilionária

O Ministério da Previdência informou que vai devolver, na folha de maio, os valores que foram descontados indevidamente de aposentadorias e pensões do INSS em abril.

O anúncio ocorreu após a operação da Polícia Federal (PF) e Controladoria-Geral da União (CGU) que revelou um esquema que pode ter desviado até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.

Os descontos referiam-se a mensalidades de associações e sindicatos, mas não haviam sido autorizados pelos beneficiários. A investigação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e ao afastamento de outros integrantes da cúpula do órgão.

Diante da operação, os descontos foram todos suspensos e o governo garantiu que as vítimas do esquema serão ressarcidas. Ainda não está definido, porém, como e quando serão devolvidos os valores descontados antes de abril.

"A devolução dos descontos associativos não reconhecidos pelos beneficiários - ocorridos antes de abril de 2025 - serão avaliados por grupo da Advocacia-Geral da União (AGU) que tratará do tema", afirmou o Ministério da Previdência.

Sem cancelamento

O órgão ainda alegou que, como os descontos estão suspensos, não há necessidade de os beneficiários solicitarem cancelamento ou procurarem agências do INSS para tratar do assunto. 



26 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Prisão de Collor expõe contrastes da Lava-Jato

Você não precisa gostar de Fernando Collor para sentir um estranhamento diante de sua prisão, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes depois de se esgotarem todos os recursos no Supremo Tribunal Federal (STF). Quem acompanhou o impeachment de Collor em 1992 achava que havia razões para prendê-lo à época, mas ele só perdeu o mandato e os direitos políticos por oito anos.

O que intriga quem não está acostumado às filigranas da Justiça é ver Collor sendo preso enquanto outros condenados na Operação Lava-Jato estão livres, leves e soltos.

O Brasil está cansado de saber dos motivos que levaram o Supremo a anular as condenações do presidente Lula, que amargou uma temporada na cadeia em Curitiba, foi libertado, retomou a vida política e se elegeu para o terceiro mandato. Mais do que o conluio entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, o que levou à anulação foi a interpretação de que ele deveria ter sido processado na Justiça Federal de Brasília, e não em Curitiba.

Mais difícil de entender é a libertação de Sérgio Cabral, condenado a mais de 400 anos de prisão. De sua cobertura num dos bairros mais caros do Rio de Janeiro, Cabral debocha dos brasileiros comendo e bebendo do bom e do melhor.

E nós ainda temos na memória as imagens das joias compradas com dinheiro da corrupção, dos abusos praticados com o dinheiro do povo, do esbanjamento de sua esposa, de quem hoje está separado.

E os outros corruptos e corruptores identificados na Lava-Jato? Antonio Palocci, o delator que espera pela liberação do dinheiro para curtir a vida na Itália? José Dirceu, atuando nos bastidores? Marcelo Odebrecht e seu pai, Emilio? Leo Pinheiro? Uma releitura do livro A Organização, de Malu Gaspar, seria interessante neste momento para completar o listão.

Tecnicamente, Collor foi preso porque seu processo correu no foro adequado, teve todas as oportunidades para se defender e foi condenado em última instância. As leis não foram feitas para ser entendidas pelos mortais. _

Leite ignora apelos e troca Bia por Loureiro na Cultura

Os apelos da comunidade cultural pela manutenção de Beatriz Araújo na Secretaria da Cultura não foram suficientes para evitar a sua substituição pelo deputado Eduardo Loureiro (PDT), ex-prefeito de Santo Ângelo. A troca, prevista há várias semanas, foi consumada na sexta-feira.

Em uma rede social, o governador Eduardo Leite afirmou que Beatriz "ajudou a liderar uma verdadeira virada na política cultural do Estado" e "seguirá contribuindo com a cultura gaúcha em uma nova importante missão que será anunciada em breve". Disse ainda que Loureiro "sempre teve uma forte ligação com a cultura, especialmente com a região das Missões".

Por fim, Leite afirma: "Daremos continuidade às políticas estruturantes da área e ampliaremos o diálogo com as regiões, as tradições e as expressões que fazem da cultura do Rio Grande do Sul uma das mais ricas do país. Agradeço profundamente à Bia pelo trabalho". _

Mudança abre caminho para PDT apoiar Gabriel no ano que vem

As negociações se arrastavam há alguns meses, mas a troca na Cultura era dada como certa desde o início de abril. Envolvem não apenas a participação maior do PDT no governo, mas um esboço de aliança para a eleição de 2026, que terá o vice-governador Gabriel Souza como candidato do governo. O PDT deverá fazer parte da aliança.

A indicação de Loureiro chegou a balançar quando o PDT realizou encontro em São Leopoldo e Juliana Brizola foi lançada candidata a governadora. Publicamente, Juliana afirma que será candidata ao Piratini.

Nos bastidores, líderes do PDT e PSDB dizem que a aliança está em debate e que Juliana concorrerá a deputada federal. 

BNDES financia revolução verde

Na entrevista que deu ao Gaúcha Atualidade na sexta-feira, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, que vem a Porto Alegre na segunda-feira, tocou em um dos pontos mais sensíveis para o futuro do planeta: a necessidade de financiar projetos de transição energética e de preservação ambiental.

O BNDES tem não só o dinheiro, com juros subsidiados para empresas interessadas em fazer uma revolução verde nos seus processos, mas técnicos que podem orientar os projetos. _

mirante

Buscando retomar o patamar pré-enchente do turismo gaúcho, o secretário Ronaldo Santini recebeu uma boa notícia: o Estado é o terceiro mais seguro para turistas, atrás do Distrito Federal e de Santa Catarina. A informação é da Polícia Civil, que apresentou os dados de segurança para representantes do setor na quinta-feira.

As convenções municipais do MDB ocorrem neste sábado em todo o Estado. Os presidentes que forem escolhidos terão a missão de conduzir o partido para as eleições de 2026.

Os três vereadores do PSDB de Porto Alegre - Moisés Barboza, Gilson Padeiro e Marcelo Bernardi - lançaram uma carta aberta ao governador Eduardo Leite, apelando para que permaneça no partido após a fusão com o Podemos. A reunião da executiva nacional do PSDB, quando deve ser formalizada a união, está marcada para terça-feira.

Caron rebate Lewandowski

O secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, reagiu à manifestação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que questionou a não utilização de R$ 4 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública.

De acordo com o secretário, dos R$ 4,5 milhões enviados para o plano de ação apresentado pelo Estado em 2024, R$ 3,3 milhões (73%) já foram empenhados.

"A secretaria está tocando o plano e em seis meses já executamos a maioria dos recursos", disse, em nota. 

POLÍTICA E PODER

26 de Abril de 2025
1NFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Por dentro do local mais privativo da Igreja Católica

Eram por volta das 18h30min, quando entrei na Casa Santa Marta, o local escolhido pelo papa Francisco para morar, onde morreu, e residência de passagem dos cardeais durante o conclave que elegerá o sucessor do trono de São Pedro.

As votações ocorrem na Capela Sistina, mas é na Casa Santa Marta que eles dormem, fazem as refeições e convivem no dia a dia do conclave, atrás dos muros do Vaticano, sem contato com o mundo exterior até que a fumaça branca anuncie que os católicos já têm um novo papa.

De antemão, é possível perceber que o prédio cinza-claro é bem diferente do tom sombrio apresentado no filme Conclave, que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Aliás, é motivo de piada entre os frequentadores uma das cenas do filme, em que um cardeal entra no elevador e pede ao ascensorista o oitavo andar. A Casa Santa Marta real tem cinco andares, e os elevadores não contam com ascensorista.

Feito o esclarecimento, vamos ao que vi: chama atenção que os aposentos de Francisco ficam bem em frente à entrada, no segundo andar. As quatro janelas estão fechadas: as duas centrais, onde na fachada está a bandeira do Vaticano à meio-mastro, era sala de reuniões. Ali que o Papa, após sair do Hospital Gemelli, recebeu o rei Charles do Reino Unido. À direita fica um escritório e, à esquerda, o quarto onde Francisco morreu. Todo o local foi lacrado após o falecimento, seguindo a tradição.

Interior do espaço

Entra-se na Santa Marta por uma porta automática de vidro, onde um segurança em trajes civis cumprimenta, de forma respeitosa e tom baixo, quem passa. No hall, à direita, há o busto do papa João Paulo II, em cujo pontificado a residência foi construída. À frente, uma estátua pequena de dois órfãos, presente dado por uma comunidade católica armênia. Pode-se descer para o saguão central por escadas em ambos os lados. Ali há uma pequena recepção.

Havia poucas pessoas na Casa porque, no horário em que visitei, a maioria estava envolvida com a cerimônia de fechamento do caixão de Francisco, ali ao lado, na Basílica de São Pedro.

No saguão, à direita, fica o refeitório. Aqui, mais uma diferença em relação ao filme: as mesas são redondas ou retangulares em ambiente acolhedor - nada como aquelas longas mesas do filme, que mais parecem de presídios. Todas estavam cobertas com toalhas brancas, impecavelmente limpas, pratos e talheres postos para refeição. Há uma garrafa de vinho em cada uma delas.

A mesa que era utilizada por Francisco fica na entrada e, ontem, estava sem pratos, talheres ou vinho. Até sem cadeiras. Desde que o Papa morreu, os moradores falam em um tom mais baixo do que o habitual nas refeições. A todo momento, cruzo por bispos e cardeais: o arcebispo de Quebec (Canadá), de Argel (Argélia) e o núncio apostólico da Síria, cardeal italiano Mário Zenari.

Duas curiosidades

É ao fundo do prédio, quase nos muros do Vaticano, que está a capela. Foi dali que Farrell anunciou ao mundo que o Papa "voltou para a Casa do Pai". Também foi ali que o corpo de Francisco foi exposto pela primeira vez - até ser trasladado para a Basílica de São Pedro. Em um primeiro momento, só moradores da Santa Marta puderam ir até ali, em um funeral privado, para se despedir.

Antes de ir embora, descubro curiosidades: Francisco foi o primeiro papa a morar na casa e muitos dizem que ele abrira mão do Palácio Apostólico para dar exemplo de simplicidade. Na verdade, não é só isso. O Papa não queria ficar só, gostava do convívio. A outra é que, como nos próximos dias os cardeais se mudarão para lá, os moradores, a maioria funcionários do Vaticano, terão de achar outro lugar para ficar até que a fumaça branca saia da chaminé da Capela Sistina. _

Alerta pelo celular

Às 13h10min, os celulares de quem estava em Roma na sexta-feira soaram um alerta que causa surpresa para quem não está acostumado. A mensagem do Departamento de Proteção Civil estoura na tela com um alarme, informando que o acesso à Praça de São Pedro será fechado às 17h. Simples e eficiente. Precisávamos de um desses no RS, para alertas climáticos. É impossível não parar e prestar atenção. _

Reflexões antes do conclave

Pela entrevista que dom Odilo Scherer nos concedeu (leia na página 5), informando que o colégio cardinalício já está em oração e refletindo sobre os desafios do mundo atual, nas reuniões gerais que vêm ocorrendo desde a morte de Francisco, pode-se dizer que as articulações para o futuro papa, informalmente, já começaram. Claro que as votações e escolhas se darão só após o início do conclave, em algumas semanas. _

"O mundo a Roma"

O Il Messagero trouxe como manchete de sua edição impressa de sexta-feira a expressão "Il mondo a Roma" (O mundo a Roma, em tradução livre). Era essa a sensação. À medida que o horário de fechamento do caixão do Papa se aproximava, uma multidão tomava as ruas nos arredores do Vaticano. Tem chamado atenção a grande quantidade de adolescentes, em grupos que vieram para a canonização de Carlo Acutis, o chamado "santo millennial", que acabou sendo cancelada em razão da morte de Francisco. Essas pessoas ficaram para o funeral, e agora se misturam a milhares de peregrinos de outras partes do mundo - e de todas as idades. _

Líderes mundiais no enterro

Mais de 160 delegações internacionais estarão presentes nas cerimônias fúnebres do papa Francisco.

Segundo informações exclusivas obtidas pela coluna junto a fontes do Vaticano, a lista prévia inclui chefes de Estado, primeiros-ministros e parlamentares de diversos países.

Entre as presenças confirmadas destacam-se os presidentes da Argentina, Javier Milei, dos Estados Unidos, Donald Trump, da Ucrânia, Volodimir Zelensky, da Comissão Europeia, Ursula Von der Layen, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Comitiva brasileira

A comitiva brasileira é formada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a primeira-dama Janja da Silva; o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta; do Senado, Davi Alcolumbre; do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso; ex-presidente e atual líder do Banco do Brics, Dilma Rousseff; e os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira; da Justiça, Ricardo Lewandowski, dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo; e o assessor especial da Presidência Celso Amorim. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 19 de abril de 2025

19/04/2025 - 12h00min
Martha Medeiros

“Eu poderia viver de entradas, por mim dispensaria os pratos principais”

Nem tinha terminado de digitar a frase e já havia percebido que era a metáfora da minha vida. Dispenso o prato de pedreiro, estou mais para um piquenique.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Tudo começou com uma troca de mensagens em um grupo de amigas no WhatsApp. Uma delas estava hospedando alguém de fora e queria levá-lo a um restaurante, mas como quase não saía, pediu uma indicação: levo onde? “Churrasco, claro”. 

Em segundos, foram sugeridas três opções de parrilla. Até que alguém recomendou um restaurante novo, “dizem que é sublime”, mas logo outra apresentou um senão: “já fui, tem entradas fabulosas, mas o menu de pratos principais não é lá essas coisas”.

Foi quando entrei na conversa: “Eu poderia viver de entradas, por mim dispensaria os pratos principais”. Nem tinha terminado de digitar a frase e já havia percebido que era a metáfora da minha vida.

Dali em diante, de restaurante passamos para o papo de botequim. Era meio da tarde, uma delas estava dando expediente em seu consultório, outra estava de férias em João Pessoa e várias, como eu, estavam diante da tela do computador, garantindo o salário no fim do mês, mas o mundo parou e cada uma encurvou-se sobre o seu celular a fim de palpitar sobre o assunto. É por isso que o Brasil não vai pra frente.

Pois bem, as entradas. Em churrascos, avanço no pão com alho e até flerto com o churrasqueiro se ele acertar o ponto do salsichão. Frequento uma cantina italiana só pela sua mesa de antepasto – me sirvo de um pouco de tudo, e tudo é tanto que, quando chega a hora de pedir a massa, acabo pedindo a conta. 

Em festa de casamento e aniversários, só me interessam os canapés. Uma pulsão pré-histórica de comer com as mãos. Tem até um nome chique pra isso: finger food. Ou: como ser fina sem usar o garfo e a faca.

O fato é que tudo é “principal” na minha vida (filhos, trabalho, viagens, amigos, amores, solitude), só que a sociedade não perdoa essa horizontalidade e nos induz a pensar que, se tudo é principal, nada é. Lamento, sociedade. Tudo me importa, tudo me é essencial, e, ao mesmo tempo, a tudo relativizo, pois somos efêmeros, provisórios. 

Um dia irei morrer de alguma coisa, então gargalho, danço, amo, me comovo, abraço a vida e a provo desse jeito, aos bocadinhos, com o que os meus dedos conseguem pegar. Dispenso o prato de pedreiro, estou mais para um piquenique, um bufê de frios e acordar leve na manhã seguinte (ok, delete a imagem do salsichão). 

O assunto aqui, na verdade, é estado de espírito e transcendência, essas coisas abstratas e pretensamente filosóficas que introduzi em um texto que finge estar falando de comida e que talvez faça o leitor se perguntar: mas o que foi que ela bebeu? Nada, deixe pra lá. Estou apenas divagando sobre a importância de facilitar a digestão neste mundo que tem me caído tão mal no estômago. 


19 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Trancando o problema no quarto

Há pessoas que têm paciência para ler bula de remédio e evitar efeitos colaterais, que têm calma para acompanhar manual de instruções e montar objetos e aparelhos, mas não são capazes de fazer terapia para saber como elas mesmas funcionam.

Eu não abro mão da terapia semanal. É por onde vou me conhecendo. Não porque resolvo os problemas nela, como é comum acreditar, mas porque aprendo a conviver com os problemas e não mais sou alienado das minhas emoções.

Talvez essa seja a minha maior descoberta. Nem tudo eu preciso consertar de imediato. Nem tudo eu preciso decidir na hora. Nem tudo eu preciso solucionar no momento. Nem tudo eu preciso perdoar ou culpabilizar, adotando um lado.

Let it be. Deixe estar. Existem apreensões e angústias de que não conto com o total discernimento para tomar uma atitude. A sucessão dos dias vai me ajudar a compreender. A maturidade vai me ajudar a ser sábio. Caminhadas vão me ajudar a determinar de onde vem o incômodo, o porquê de me sentir tão magoado com o fato.

Eu coloco aquele sofrimento num quarto e fecho a porta. Desfruto do restante da casa, habitando os demais aposentos. Quando estou preparado, volto e reinauguro o espaço para organizar a bagunça.

Agora não. Agora eu afasto a mente de perto da adversidade. Não me mostrarei obcecado e fixado nela, com olhos para mais nada.

Por enquanto, eu me despeço da ansiedade que me levaria ao descontrole. Não mais amargo a preocupação de ter que esclarecer o ocorrido para continuar com a rotina. Não fico empacado. Não estaciono no rancor.

Não me vejo apto a ser justo, tão influenciado pela temperatura alta dos meus sentimentos. Nosso impulso inicial é nos defendermos, e nos defendemos atacando. Então, suspendo o choque até digeri-lo.

Passei a me proteger de mim. Se você brigou com um amigo, ou com a esposa, ou com o marido, ou com um familiar, não corte as relações. Espere. Apesar de aborrecido, siga o contato para o desabrochar do desconforto. O decorrer das interações fornecerá novos elementos para definir se foi uma exceção ou uma regra.

Não se obrigue a preservar a frequência de conversa. Apenas dispense o desgaste do enfrentamento prematuro, oferecendo tempo para o outro se dar conta.

Vá de parto natural, não de cesárea do ódio. A moderação previne arrependimentos futuros.

Pode ser que tenha sido um mal-entendido, um ruído de comunicação, um trauma de sua parte, um medo revisitado, uma limitação do afeto. Ou ainda que tenha completa razão para, no fim, distanciar-se, desligar-se e mudar de rumo.

Mas não julgue no ato. Tranque o cômodo. Por não estar diante de um caso de vida ou morte, por combater o extremismo fulminante, por esse mínimo detalhe, você já está se curando. Você não delegou a ninguém o domínio da sua existência.

Puxe para si a lição de Sartre: "Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim". 

CARPINEJAR

19 de Abril de 2025
COM A PALAVRA -S ofia Lungui

Com a Palavra - Nicolas Villain

Neurologista, professor e pesquisador na Universidade de Paris-Sorbonne

"Vai mudar completamente o panorama do diagnóstico do Alzheimer"

O neurologista francês Nicolas Villain é referência global em estudos sobre a doença de Alzheimer. Em fevereiro, ele esteve em Porto Alegre para participar do Neuroscience Next, encontro promovido pela Alzheimers Association na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Em entrevista a ZH, aborda as novas propostas de diagnóstico e tratamento da doença, impactos e perspectivas para os próximos anos..

Quais novas perspectivas suas pesquisas vêm agregando para o diagnóstico do Alzheimer?

A doença de Alzheimer causa degeneração do cérebro, causando a perda da memória. Progressivamente, perdem-se células cerebrais. E também ocorre a acumulação de moléculas anormais no cérebro, que são proteínas, especificamente proteínas TAU e beta-amiloide. Por meio das pesquisas, desenvolvemos formas de identificar essas proteínas com biomarcadores. Portanto, temos várias opções de diagnóstico. Podemos usar o que chamamos de PET scan, que funciona como um scanner do cérebro. Outra opção é fazer punção na lombar, que permite analisar o líquido cefalorraquidiano, que pode conter níveis alterados de proteínas beta-amiloide e TAU. Assim, quando se combinam testes cognitivos, exame clínico e estes biomarcadores, é possível estabelecer um diagnóstico.

E em relação ao tratamento, o que deve impactar nesse sentido nos próximos anos?

Há boas notícias. Há décadas, usamos pequenas moléculas que podem melhorar uma parte dos sintomas da doença, que têm nomes diferentes, como rivastigmina, memantina, donezepil, galantamina. Elas funcionam um pouco, mas não alteram o histórico natural da doença. Agora, temos novos medicamentos que são muito mais complexos, que são anticorpos. Concebemos anticorpos que combatem estas moléculas que se acumulam no cérebro, especificamente a proteína beta-amiloide. É feita uma infusão uma ou duas vezes por mês, e depois temos estes anticorpos que limpam estas moléculas anormais do cérebro. A questão é: será que também funciona nos sintomas? O paciente nem sempre responde a isso. Sob a perspectiva clínica, nem sempre funciona. Portanto, é um começo, mas não é capaz de parar a doença. É um primeiro passo e é muito promissor.

No Brasil, esse tipo de tratamento ainda não é comum. Quais efeitos a popularização da terapia antiamiloide deve trazer?

A imunoterapia antiamiloide vai mudar completamente o panorama do diagnóstico da doença de Alzheimer, porque vamos ter de rastrear muito mais pessoas. Teremos de utilizar biomarcadores sanguíneos para facilitar o rastreio e teremos, finalmente, algo a propor aos pacientes com Alzheimer. Por exemplo, na França, temos um grande subdiagnóstico. Muitas pessoas não são diagnosticadas porque os clínicos gerais costumam dizer "o que muda se eu diagnosticar a doença de Alzheimer?". Agora que temos potencialmente alguns anticorpos que podem limpar estas proteínas do cérebro, temos um novo desafio. Temos de pensar "ok, se eu diagnosticar, posso ter um tratamento". Não é para todo mundo, mas já é alguma coisa. Por isso, muitas pessoas vão querer ter um diagnóstico agora. Haverá uma necessidade de diagnóstico. Portanto, vamos ter que nos adaptar a muito mais diagnósticos. Vamos precisar de mais médicos. Vamos precisar de mais formação e mais acesso a instalações para garantir que estes diagnósticos aconteçam.

Uma de suas descobertas foram os chamados mecanismos de desconexão na doença de Alzheimer. O que é isso?

Essa questão está mais ligada ao campo de pesquisa na neurociência sobre Alzheimer, e menos ao meu trabalho clínico. O Alzheimer é uma doença complexa. Precisamos acrescentar um pouco de matemática para misturar todos os dados e evitar ruídos. Foi nisso que trabalhei no início da minha carreira, na mistura de técnicas de diagnóstico. Mostramos, por exemplo, que o Alzheimer não atinge todo o cérebro ao mesmo tempo, e nem na mesma intensidade, mas sim partes do cérebro. Queríamos entender por que isso acontece. 

Constatamos que isso se deve a um mecanismo de desconexão, porque as células cerebrais têm conexões importantes. Quando as células morrem no hipocampo, perde-se o sinal que está no exterior, que está enviando uma ligação importante para o lobo parietal. É a isso que chamamos desconexão. Essa é uma das coisas que produzi no campo de neuroimagem multimodal, misturando e mostrando que há, de fato, uma relação entre os dois, e que isso se deve à desconexão.

Recentemente, foi aprovado nos Estados Unidos o donanemab (ou Kisunla), medicamento que retarda a progressão do Alzheimer. Quais outros estão em desenvolvimento e seus impactos?

Tem o Kisunla e o Leqembi, que contém a substância ativa lecanemab. São duas drogas gêmeas, digamos, têm quase o mesmo efeito, de limpar as proteínas anormais do cérebro. A diferença entre eles é que, para o Leqembi, é necessária uma infusão duas vezes por mês. Já o Kisunla é somente uma vez ao mês. Por isso, é um pouco mais conveniente, mas eles funcionam da mesma forma e têm os mesmos efeitos colaterais. Na Europa, os medicamentos já foram aprovados, mas ainda estão em andamento etapas burocráticas da aprovação na França, por exemplo. Ainda estamos em meio a esse processo.

Quais são as expectativas da comunidade científica em relação a essa possível cura?

Alzheimer é uma doença complexa, não podemos dar falsas esperanças às pessoas. Será uma longa luta. Vai durar décadas, mas, passo a passo, vamos encontrar a cura. Já começamos com a terapia antiamiloide. Não é perfeita, tem efeitos colaterais. Não é para todo mundo, mas é um primeiro passo. Depois, vamos melhorar esses tratamentos, e depois vamos combiná-los. Combinaremos tratamentos, antiamiloides com outros alvos, como TAU, inflamação, etc. 

Teremos múltiplos tratamentos e, pouco a pouco, veremos o prognóstico melhorar lentamente e, talvez, um dia possamos dizer que estabilizaremos completamente a doença. É isso que espero para o resto da minha carreira. Depois de mim, em futuras gerações, provavelmente, teremos a luta pela recuperação das funções cognitivas afetadas pelo Alzheimer. Essa será outra luta, porque regenerar o cérebro que está se degenerando é muito difícil. Mas, primeiro, vamos impedir que aconteça essa degeneração. _



19 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Governo Trump com embate "estilo Lula"

Um dia após Donald Trump ameaçar demitir o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, reforçou na sexta-feira que o republicano e sua equipe continuam considerando essa possibilidade.

O ataque parece um dos tantos blefes da segunda gestão do presidente dos EUA, mas mostra mais um flerte com o fim da independência de instituições americanas, além de certa semelhança com o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Logo após a posse, em 2023, Lula e seu primeiro escalão fizeram ataques coordenados ao então presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

No centro da ofensiva, estava o discurso de que a ausência de corte do juro básico prejudicava a economia do país e deveria ser revista.

Agora, Trump parece fazer o mesmo quando chama Powell de lento no processo de corte de juro, mas com um agravante institucional quando ameaça o mesmo de demissão - algo que não pode fazer de maneira monocrática. O chefe do Executivo dos EUA não tem o poder de demitir diretamente o presidente do Fed.

Para tentar esse pleito, teria de iniciar processo não tão simples e atestar que o chefe do Fed cometeu falha grave. O ataque de Trump a Powell acende novo alerta sobre os riscos institucionais e econômicos provocados pelo republicano em meio ao vaivém dos tarifaços.

Caso a interferência se confirme, é mais um ingrediente na salada de incertezas na economia global. Quebrar a autonomia do banco central americano pode abrir precedentes perigosos.

Próximos capítulos

No Brasil, Campos Neto rebateu algumas falas de Lula, argumentando que a atuação do BC era técnica. Agora, resta saber como será a postura de Powell diante dessa tentativa de fritura.

Antes das declarações de Trump e equipe, o chefe do Fed citou a tendência de aumento da inflação no país diante da política tarifária agressiva, o que obviamente não agradou o presidente americano. _

Vale observar como as bolsas e os Treasuries vão reagir ao embate entre o governo Trump e o Fed nos próximos dias, após o feriado: se esse ruído tem potencial para novas quedas nos mercados depois do caos do tarifaço.

Queda nas vendas de imóveis no primeiro trimestre

A venda de imóveis caiu 4,19% em Porto Alegre no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2024.

Foram vendidos 7.383 unidades residenciais e comerciais nos três primeiros meses deste ano - 323 imóveis a menos do que o registrado em igual intervalo de 2024. Os dados são do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis (Secovi-RS).

O presidente da entidade, Moacyr Schukster, afirma que a retração ocorre em um contexto onde as taxas aumentaram na esteira da Selic e a disponibilidade de funding se reduziu.

Com isso, o impacto nas vendas é iminente.

Apesar de queda nas unidades, o valor arrecadado com vendas atingiu R$ 84,7 milhões - alta de 4,97%.

Segundo Schukster, esse movimento pode confirmar que os imóveis de valor mais alto sofrem menos com a falta de financiamento, porque a média por transação aumentou. _

Mais pressão de dívidas

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência das Famílias (Peic-RS), da Fecomércio-RS, mostra que o percentual de lares inadimplentes caiu de 30%, em fevereiro, para 28,3% em março.

No entanto, a parcela da renda comprometida com dívidas subiu para 28,5% - maior valor desde fevereiro de 2020.

O presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, afirma que essa situação preocupa porque cria condições para mais pressão no orçamento das famílias e mais inadimplência. _

Demissões voluntárias

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostram que 46,3% das demissões em janeiro ocorreram por iniciativa dos próprios trabalhadores no Rio Grande do Sul.

O especialista Italo Rickes cita tendência crescente de profissionais que decidem deixar seus empregos em busca de melhores condições e novas perspectivas de carreira.

Ele integra o Gestão de Impacto, programa que reunirá cerca de cem empresários em Gramado, entre os dias 27 e 30 de abril. 

GPS DA ECONOMIA

19 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Correntes definem nomes para disputa no PT

A menos de três meses da eleição interna, as tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) estão definindo os nomes que disputarão a presidência da agremiação no Rio Grande do Sul. A votação entre os filiados está marcada para o dia 6 de julho e ao menos cinco nomes estão cotados para concorrer.

Além da organização interna do partido, a escolha terá reflexo direto nas eleições de 2026, tanto na definição das candidaturas quanto na busca por coligações. Hoje, os nomes postos para a disputa majoritária são os do deputado federal Paulo Pimenta e o do presidente da Conab, Edegar Pretto. Uma vitória de ambos na disputa interna consolidaria esse quadro, enquanto uma derrota pode embaralhar as cartas.

Atual comandante do partido, a corrente Socialismo em Construção, de Pimenta, apostará no deputado estadual Valdeci Oliveira para manter o controle do partido. Para isso, terá o apoio do grupo de Pretto, que deixou recentemente a Articulação de Esquerda (AE). A composição ainda conta com as tendências Construindo um Novo Brasil (CNB) e Avante.

A Articulação, que compôs com o grupo de Pimenta no pleito anterior, desta vez lançou o jornalista Júlio Quadros, que foi duas vezes presidente do PT na década de 1990. A corrente prega que o partido deve ter condições de "polarizar política e ideologicamente a sociedade gaúcha".

Com quatro deputados estaduais, a Democracia Socialista (DS), que já foi o maior grupo do PT gaúcho, aposta em Sofia Cavedon para disputar a presidência. A deputada sustenta que o partido deve ter mais aproximação com movimentos sociais e uma atuação mais à esquerda.

Na Resistência Socialista, desponta o nome da deputada estadual Stela Farias, enquanto o Movimento PT lançará Thiago Braga, que afirma a necessidade de aproximação programática com o centro.

Segundo turno

Caso nenhum candidato alcance 50% dos votos, os filiados voltarão às urnas dia 21 de julho para decidir um segundo turno. Nessa hipótese, há conversas em andamento para a união entre AE, DS e a Resistência para rivalizar com Valdeci.

Além da eleição estadual, os filiados votarão, no mesmo dia, para as direções municipais e para o comando nacional do PT, em que se desenha um embate entre o ex-ministro Edinho Silva e o deputado Rui Falcão. _

Leite pede liberação imediata de verbas

O governador Eduardo Leite enviou ofício ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, pedindo a liberação imediata de R$ 3 bilhões para os projetos de proteção contra cheias na Região Metropolitana.

Desse valor, R$ 2,5 bilhões são para intervenções na bacia do Arroio Feijó, em Alvorada e Porto Alegre, e R$ 531 milhões, para a contenção de cheias em Eldorado do Sul. Os recursos fazem parte dos R$ 6,5 bilhões disponíveis no fundo criado pela União depois da enchente de 2024 para intervenções nos sistemas de proteção.

No ofício, Leite indica que a liberação da verba é uma "etapa imprescindível" para o lançamento das licitações para a execução das obras. _

aliás

O governo Leite vinha sendo cobrado para aplicar os recursos depositados no fundo criado pela União, mas esperava as diretrizes para a aplicação das verbas. Elas foram publicadas na terça-feira, em resolução do Ministério da Casa Civil.

Perillo mantém esperanças

Apesar dos sinais da saída iminente de Eduardo Leite rumo ao PSD, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, nutre esperança de manter o governador no partido.

Perillo e Leite conversaram por telefone na quarta-feira. De acordo com o dirigente tucano, Leite reafirmou que só baterá o martelo sobre seu destino após a fusão do PSDB com o Podemos, no fim de abril.

- Tanto eu quanto a Renata Abreu, presidente do Podemos, garantimos todo o espaço, todas as condições para que ele possa ser candidato a presidente - disse Perillo.

A filiação de Leite ao PSD tende a ocorrer na primeira semana de maio, antes da viagem do governador a Nova York. _

Sumindo do mapa

Com a saída de Raquel Lyra (PE) e a provável partida de Eduardo Leite, o PSDB ficará com apenas um governador: Eduardo Riedel (MS).

E corre risco de ficar sem nenhum. Riedel já foi procurado pelo PSD e seu grupo político também tem convite para migrar ao PL. _

De chapéu de palha na procissão no Morro da Cruz

A despeito do público menor do que o esperado, o prefeito Sebastião Melo compareceu na sexta-feira na 66ª edição da

encenação da Paixão de Cristo no Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre.

De chapéu de palha e camisa laranja, Melo acompanhou a cerimônia que reuniu artistas profissionais e moradores da comunidade.

- Porto Alegre é uma cidade de fé, cultura e tradição. A encenação da Paixão de Cristo emociona porque é feita por quem vive o bairro, sente a comunidade e acredita na força dessa celebração - afirmou.

O evento tem como um dos protagonistas o vereador de oposição Aldacir Oliboni (PT), que há mais de 40 anos participa da celebração e interpreta Jesus Cristo (leia reportagem na página 11). _

Um ano da enchente

Para marcar um ano da enchente, o governo do Estado prepara programação para apresentar novos anúncios e o balanço da reconstrução.

O roteiro inclui atos em municípios atingidos pela catástrofe e um balanço das ações do Plano Rio Grande, no Palácio Piratini. Secretarias estaduais também apresentarão suas entregas, enquanto o governador Eduardo Leite será escalado para conceder entrevistas.

Ainda será lançado um documentário produzido pela Secretaria de Comunicação com depoimentos de pessoas que atuaram na linha de frente. _

Postura de vereador irrita governo Melo

A postura do vereador Gilvani Dall Oglio (Republicanos), conhecido como Gringo, causa irritação na prefeitura de Porto Alegre. Gringo aparece com frequência em "ações fiscalizatórias" em órgãos como postos de saúde e estações do Dmae. O tom de denuncismo e o desgaste gerado pelas postagens irritam secretários e vereadores aliados do prefeito Sebastião Melo.

A última altercação com os colegas ocorreu semana passada, quando um assessor tentou gravar o discurso de Gringo em uma reunião fechada.

No centro administrativo, há quem defenda abertamente a retirada do vereador da base aliada e a demissão dos sete detentores de cargos comissionados indicados por ele. _

Divergência construtiva

Em nota, o vereador Gilvani Dall Oglio diz que "fiscalizar incomoda" e que "democracia se faz com escuta e divergência construtiva":

"Quando o projeto for bom para Porto Alegre, votarei a favor. Quando houver risco à saúde ou ao meio ambiente, estarei firme na cobrança". _

O Tribunal Superior Eleitoral marcou para terça-feira o julgamento do processo do ex-vereador Pablo Melo (MDB), que tenta validar sua candidatura de 2024. Se conseguir, Pablo assume mandato na Câmara de Porto Alegre.

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