sábado, 13 de dezembro de 2025


13 de Dezembro de 2025
COM A PALAVRA

Vanessa Soares Maurente - Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS

"A maioria das IAs que se usa hoje não tem reconhecimento científico"

A inteligência artificial (IA) está em diversas áreas e não é diferente na saúde mental. Isso pode trazer muitos riscos, conforme alerta a professora Vanessa Soares Maurente. Em entrevista a Zero Hora, ela explica como ferramentas de IA vêm sendo incorporadas na rotina de profissionais da psicologia e quais os potenciais impactos dessa prática.

Sofia Lungui - Como a tecnologia vem transformando os cuidados com a saúde mental?

A tecnologia vem produzindo subjetividade, formas de viver e pensar e políticas cognitivas. Elas não são só ferramentas que a gente usa no nosso cotidiano, são ferramentas que modificam a nossa forma de ser sujeito. E, nesse sentido, elas modificam a nossa forma de se relacionar com o mundo. Estamos vendo o surgimento de inúmeros aplicativos de saúde mental, assim como IAs terapeutas e de diagnóstico, por exemplo. 

A gente teve, após a pandemia, aumento de 400% nas consultas psicológicas online. A partir disso, o Conselho Federal de Psicologia precisou repensar as relações com as tecnologias. Na minha pesquisa, estudo as relações entre sujeitos e tecnologia, e como as tecnologias produzem subjetividade. A gente estuda como a tecnologia produz padrões e reproduz discursos hegemônicos, e como isso produz modos de viver e de sofrimento.

Como você estuda esses processos?

A gente tem trabalhado em dois projetos dentro do Núcleo de Ecologias e Políticas Cognitivas, Tecnopolíticas dos Afetos e Digitalização das Práticas Psis, que é justamente para entender esse uso de plataformas digitais, tanto pra consultas online com terapeutas humanos, quanto a multiplicação de aplicativos de saúde mental.

De que modo a IA vem sendo usada no que tange a saúde mental?

Podemos citar cinco tipos de IAs que se propõem a atuar no campo da saúde mental. Temos a IA de apoio no diagnóstico, por exemplo. Através de APIs (interfaces de programação de aplicações) associadas a aplicativos no celular, essas ferramentas fazem o rastreio de tom de voz, mudanças em padrões de mensagens, mudanças em publicações de redes sociais. 

Ela analisa se você diminui a frequência de ligações, se tem feito compras demais, se você tem ficado mais isolado, por exemplo, tudo pelo celular do paciente. E, a partir disso, pode identificar padrões e auxiliar no diagnóstico. E tem as IAs terapeutas, que é o uso mais frequente, por meio de chatbots que costumam ter como justificativa atender pacientes crônicos, que estão há muito tempo internados em um hospital e não têm acesso à psicoterapia. A principal delas era a Woebot, é a única que teve validação científica, mas foi descontinuada. Uma terceira forma seria o acompanhamento do paciente entre as sessões. 

Além de ser terapeuta, a IA pode acompanhar um paciente com alguma fobia, por exemplo. Tem também a questão da realidade virtual associada à IA. Nesse caso, a IA é usada para expor o paciente a situações e cenários controlados, como uma fobia específica, como pacientes com estresse pós-traumático, sempre acompanhado por um humano. E, por último, a IA pode ser usada em contextos corporativos como um benefício. Assim como tem plano odontológico, plano de saúde, algumas empresas dão acesso a IAs terapeutas para os colaboradores.

Como você enxerga esses usos das ferramentas de IA na saúde mental?

A maioria das pesquisas sobre isso demonstram que, em situações controladas, as IAs voltadas para a saúde mental têm resultados satisfatórios, mas em situações reais esse resultado não é tão satisfatório. Alguns artigos também falam na necessidade de validação desses instrumentos, porque são modelos que são feitos fora do nosso contexto, por pessoas brancas, privilegiadas, do norte global.

Por que fora de contexto?

Elas não são treinadas a partir do nosso contexto, e isso torna as ferramentas muito limitadas. Tem outro estudo que analisou 54 plataformas de IA focadas em saúde mental que mostra que 89% delas vendiam os dados de saúde mental dos usuários para outras empresas por até US$ 15. Outra pesquisa mostrou que apenas 23% das IAs usadas em saúde mental passaram por ensaio clínico randomizado. Então, a maioria das IAs que se usa hoje não tem reconhecimento científico. 

E oferecer isso como um benefício no ambiente corporativo demonstra que, no nosso tempo, a saúde mental virou um luxo, virou uma meta. É o ápice do individualismo e imediatismo. O sujeito pode comprar a saúde mental se quiser, e não custa caro. Os modelos de IA correspondem muito às expectativas do nosso tempo, de ter alguém disponível a qualquer momento, de poder levar o terapeuta no bolso, de não precisar entrar nessa relação terapêutica, que é muito mais difícil de se constituir do que conversar com um chatbot.

Quais riscos e impactos isso pode trazer à saúde mental das pessoas?

Existem muitos riscos em relação a isso. O primeiro deles é a simplificação e automatização da relação terapêutica. A relação do paciente com o terapeuta é uma relação de vínculo, de responsabilidades compartilhadas. O paciente precisa imaginar quem é esse terapeuta, ele precisa imaginar a vida do terapeuta, precisa decidir se vai ou não na terapia naquele dia. E o terapeuta precisa poder silenciar, que é algo que a IA não faz. O segundo risco é em relação ao uso de dados privados, dados sensíveis. Além disso, as IAs correm o risco de produzir uma sociedade individualista, com sujeitos que compreendam que a causa do sofrimento deles é individual.

Pode dar um exemplo?

Podemos pegar o exemplo do racismo. Muitas vezes, as IAs deixam de detectar depressão em homens negros, por exemplo, porque elas são treinadas com base em uma população branca privilegiada e colocam a causa da depressão em situações pessoais do sujeito, e não compreendem as razões do sofrimento psíquico de pessoas negras. A IA não identifica o sofrimento produzido por uma sociedade racista. Tivemos outras questões graves já conhecidas, como chatbots que contribuíram em casos de suicídio.

A tecnologia pode ser uma aliada? Como seria um uso responsável da IA nessa área?

Eu acredito que a tecnologia tem muito potencial, mas não da forma como está sendo produzida. O que eu acho complicado é a gente pensar que esses modelos estão preocupados com a nossa saúde mental. Eles estão preocupados com lucro, com extração de dados. Não podemos achar que a IA vai substituir um psicólogo, ou um psiquiatra, a IA não pode substituir as relações humanas. Podemos pensar em uma IA que seja treinada com diferentes saberes, como ferramentas que possam ajudar a contar outras histórias. Mas, para isso, teríamos que criar IAs com software livre, de código aberto, abordando conhecimentos locais. Teria que ter toda uma construção responsável, de modo a produzir relações menos violentas na nossa sociedade. 



13 de Dezembro de 2025AN
ANRESSA XAVIER

Quatro por dia

Você pode me achar repetitiva, e serei mesmo. Os casos de feminicídio têm me tirado a paz. Ver as imagens da covardia de homens batendo e matando mulheres é como levar um soco junto com a vítima. É como estar no elevador em que Alex Santos espancou a namorada, no Morumbi, em São Paulo e a levou até o décimo andar. De lá ele atirou a jovem de 25 anos. Ele também chorou agarrado ao caixão. Levou flores ao túmulo antes de ser descoberto e preso. Também em um elevador, dessa vez de um prédio na zona sul do Rio, um turista americano deu socos na namorada. Assim como naquele caso emblemático de meses atrás, no Rio Grande do Norte, em que um troglodita deu 60 murros na namorada.

As câmeras já não inibem. Eles já perderam o medo da punição. Apenas enxergam um pedaço de carne do qual pensam que são proprietários. Depois lamentam, choram, dizem que não queriam ter feito o que de pior fizeram. O Congresso, a cada caso rumoroso, discute mais medidas. A sociedade quer vê-los presos. Tudo isso é legítimo. Avançaremos, no entanto, quando conseguirmos evitar as mortes e não apenas chorar por elas.

Antes do tapa, vem uma série de sinais. O soco é o ato que vem após as ameaças e palavras de desdém. O aperto no braço é um passo além do xingamento e da humilhação. Envolvida, a mulher deixa de notar o que olhando de fora é óbvio. Não percebe que a amiga que ele disse que é invejosa na verdade já entendeu o jogo dele e tentou alertar. Deixa de ver que a família poderia ajudá-la, e que não deveria se afastar de quem ama nem de quem era antes dele aparecer. Acha que o ciúme dos amigos e da roupa é sinal de amor. Acredita quando ele diz que vai mudar. Isso tudo não é culpa dela, embora ele faça parecer que é.

Mudar esse ciclo exige atitudes e não hashtags. Dar oportunidades e salários iguais para as mesmas funções é um começo, mas trago mais sugestões aos homens. Não se calar quando receber comentários machistas no grupo de WhatsApp. Não rir da piada que deprecia mulheres. Fazer sua parte nas tarefas domésticas. Criar meninos que saibam que precisam respeitar as meninas. Dar um basta em amizades de homens que se gabam de enganar suas companheiras. Sei que não será fácil. Muitos dirão que o amigão só tem um jeito de ogro, mas na verdade é inofensivo. Que era só uma brincadeira. Que já são homens evoluídos. Que a mulher andar na rua no escuro e com roupa curta é que tem culpa. Ou que elas provocam a fúria do homem. Essas desculpas todas a gente já conhece.

Os feminicídios são a última e mais horrorosa etapa de um sofrimento que se estende por meses, anos, uma vida inteira. Pela vida dos filhos e dos pais das vítimas. Pela sociedade, que deveria gritar por socorro e não deixar que gritemos sozinhas. Não tem solução fácil e que não demande mudanças culturais. Uma mulher morre a cada seis horas no Brasil pelas mãos de alguém em quem ela confiou. _

ANDRESSA XAVIER


13 de Dezembro de 2025 
MARCELO RECH

Eu te blindo, tu me blindas

Pois é, então se rasgou a fantasia. Sem maiores escrúpulos ou pudores, o verbo da hora é blindar, mas conjugado com os pronomes de uma gramática bem brasileira: eu te blindo, tu me blindas, eles nos blindam, nós nos blindamos e por aí vai.

Primeiro, a blindagem do Executivo. A Lava-Jato e o interminável inquérito das fake news ensinaram aos presidentes que seus percalços se alojam no Supremo Tribunal Federal (STF), porque o baixo clero do Congresso se contenta em ser domesticado com emendas. Então, às favas com a nomeação de juristas renomados, como no passado, e com o critério da diversidade, como Joaquim Barbosa, algoz de Lula e do PT no Mensalão. O primeiro atributo do indicado é lealdade. Nada contra o ministro Cristiano Zanin, um dos que preservam a liturgia do cargo, por sinal, mas alguém imagina blindagem mais explícita do que nomear o próprio advogado para a Suprema Corte?

Em seguida, os parlamentos. Só a centelha de povo na rua impediu que fosse à frente a PEC da Blindagem, também conhecida como da Bandidagem, que exigia autorização prévia dos congressistas (em votação secreta!) para o STF processar um deputado.

Com o pântano das emendas começando a borbulhar, o centrão foi à luta. O PL bolsonarista era um entusiasta da ideia, relembre-se. Por quê? Não se sabe, como também não se sabe por que, com apoio de 14 dos 18 partidos, a Assembleia Legislativa do Rio revogou a prisão de seu presidente, Rodrigo Bacellar, aquele que instruiu um deputado ligado ao Comando Vermelho a deixar a picanha para trás e dar no pé antes de a Polícia Federal chegar. É uma blindagem validada pelo STF para deputados em todo o território nacional, com apoio de partidos de Norte a Sul.

Por fim, o próprio STF. A Corte vem metendo os pés pelas mãos desde que se embriagou com o título de última linha de defesa da democracia. Coube a Gilmar Mendes, adepto do matar a crítica no peito, decidir que apenas a Procuradoria-Geral da República (PGR) poderia pedir o impeachment de ministros do STF. Dias depois, recuou e fechou-se um acordão com o Senado.

Mas o que é tudo isso diante do contrato de R$ 3,6 milhões mensais do Banco Master com a banca da esposa e filhos de Alexandre de Moraes e do passeio de Dias Toffoli no jatinho com o advogado de um dos diretores do banco para ver seu Palmeiras no Peru? Em mais um dia normal na Blindolândia, Toffoli transferiu todo o caso - uma bomba que estava por explodir - para seus escaninhos no STF e decretou sigilo absoluto. Na prática, uma operação abafa para alívio geral ao centro, à esquerda e à direita.

E ninguém fica ruborizado. 

MARCELO RECH


13 de Dezembro de 2025
OPINIÃO RBS

A epidemia dos golpes

Foi em especial a partir de 2020, ano da eclosão da covid-19, que o Brasil viu a irrupção de outro mal: a epidemia dos golpes, em boa medida praticados de forma virtual. O perfil dos crimes contra o patrimônio mudou. Roubos e furtos passaram a cair, enquanto os estelionatos dispararam, trazendo novos desafios para a população e órgãos de segurança pública. Para quem é vítima, além do prejuízo financeiro, o abalo emocional também é profundo, como mostrou reportagem de Letícia Mendes publicada na sexta-feira em Zero Hora, com relatos dolorosos de quem foi iludido das mais diversas formas, com desfechos trágicos como a perda das economias de uma vida toda.

É verdade que as estatísticas mais recentes apontam para um recuo da quantidade de golpes no Rio Grande do Sul e no país, mas os números ainda são assustadores e acredita-se em alta subnotificação. A Secretaria de Segurança Pública do Estado registrou, em 2017, cerca de 20 mil casos de estelionatos. Em 2020, subiram para 67 mil, chegando ao pico, em 2022, com 95 mil. No ano passado, foram 80 mil.

As polícias passaram a dar mais atenção a esses crimes. Não há semana sem notícia de várias operações contra quadrilhas de estelionatários. Dotar as equipes de investigação de meios tecnológicos capazes de rastrear e chegar a esses bandidos é basilar. Mas não raro os envolvidos estão atrás das grades. Graças à facilidade que têm de acesso a celulares, seguem delinquindo. Passa da hora de os presídios do país terem sistemas eficientes de bloqueio de sinal de telefone e internet.

Ainda assim, o volume de tentativas de estelionatos é tão grande que talvez a maneira mais efetiva de evitá-los seja apostar na conscientização dos cidadãos. É preciso desconfiar sempre de ofertas tentadoras, dos contatos que pedem dados pessoais ou bancários, dos anúncios de prêmios ou de mensagens de alerta com solicitação para ligar para algum número ou clicar em links. Além de conhecimentos tecnológicos, os bandidos são cada vez mais persuasivos, o que é conhecido como engenharia social.

Apesar da queda recente nos boletins de ocorrência, as investidas insidiosas não param de crescer, indica um dado divulgado pela Serasa Experian em setembro. O Brasil registrou 6,9 milhões de tentativas de fraude no primeiro semestre, alta de 29,5% ante o mesmo período do ano passado. A média foi uma ocorrência a cada 2,3 segundos. A maior parte envolveu ataques a contas bancárias e cartões.

Para os criminosos, há uma série de vantagens. Não envolve risco de confronto com a polícia, é possível disparar uma quantidade enorme de tentativas em pouco tempo, os alvos podem estar a milhares de quilômetros e as penas são baixas, apesar da existência de propostas legislativas para elevar as punições.

Há ainda a leniência das plataformas digitais. Em novembro, a agência de notícias Reuters, com base em documentos internos da Meta, revelou que, em 2024, a dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp lucrou cerca de US$ 16 bilhões com anúncios de golpes e produtos proibidos, que veicula sem os devidos cuidados. Resta aos cidadãos aprenderem a se precaver. _

OPINIÃO RBS 



13 de Dezembro de 2025
ACERTO DAS TUAS CONTAS - Isadora Terra - Mariana Ribeiro

Analista de pesquisa do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec

"Se faz mal para a saúde, tem de ser regulamentado"

Consumidor verde

Mariana Ribeiro, analista de pesquisa do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) falou sobre o cenário da regulamentação de alimentos com alto teor de gordura saturada, sódio e açúcar no Brasil.

? Quais são os regramentos para propagandas de alimentos prejudiciais à saúde no Brasil?

Não temos nada específico sobre restrição da publicidade de ultraprocessados, por exemplo. Há regras para bebidas alcoólicas ou tabaco, mas, quando entramos no mundo da alimentação, não temos essa especificidade. Apesar do Guia Alimentar para a População Brasileira recomendar que sejam evitados e uma grande quantidade de evidências científicas associando a prejuízo à saúde, não há nada que proteja o consumidor deste tipo de propaganda.

E sobre promoções que incentivam a comprar alimentos de baixa qualidade nutricional em grandes quantidades?

Também não tem. O que a gente tem em específico é a questão da venda casada. Brindes, colecionáveis. Isso já não é mais permitido. Mas a propaganda, desconto de ultraprocessados, não tem nenhuma norma específica.

O que precisa ser feito?

Precisamos de uma lei que proíba a publicidade de ultraprocessados. Hoje, a maior parte das propagandas são desse tipo de alimento, uma vez que são produtos que precisam vender muito. Utilizam de diversas estratégias, como excesso de cores, vídeos chamativos, direcionamento para o público infantil com a utilização de linguagem e personagens que estão no universo infantil. Mesmo que isso seja proibido pela resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, ainda acontece muito.

Ainda há pouca discussão sobre isso no Brasil.

Sim, e foi por isso que criamos o Observatório de Publicidade de Alimentos, uma plataforma com informações sobre publicidade abusiva e enganosa onde também é possível fazer denúncias. Em alguns casos, o Idec encaminha para os órgãos competentes. O que sempre falamos é "se faz mal para a saúde, deve ser regulamentado". Seria muito importante ter normas mais robustas e mais fortes no nosso país quando se trata de produtos que fazem mal à saúde. _

Alívio no preço do tomate

Depois de ultrapassar os R$ 10 e rondar os R$ 8 nos últimos três meses, o preço médio do quilo do tomate atingiu, em novembro, o menor patamar desde fevereiro deste ano em Porto Alegre. A marca foi de R$ 6,39. É uma redução de 27,39% em relação ao mês anterior.

Foi a maior queda entre todos os alimentos da cesta básica na Capital, segundo o monitoramento mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Leite integral (-7,27%), arroz agulhinha (-6,50%) e manteiga (-3,51%) também registraram redução no preço médio na comparação com outubro. Por outro lado, óleo de soja (1,51%), pão francês (0,73%) e batata (0,72%) tiveram aumento.

Já no acumulado dos últimos 12 meses, café em pó (65,91%) e carne bovina de primeira (12,35%) atingiram as maiores altas. Batata (-41,59%) e a dupla arroz e feijão-preto (-29,76% e -38,77%, respectivamente) foram os que mais caíram nesse período. _

Ouça neste domingo, às 7h da manhã, a entrevista do programa "Acerto de Contas" com o professor de Economia da PUCRS Ely José de Mattos sobre o avanço do projeto que acaba com a escala 6x1 no Congresso Nacional. A votação foi simbólica, e a PEC seguirá para análise do plenário da Casa.

ACERTO DAS TUAS CONTAS

13 de Dezembro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Leite é cobrado a se apresentar como opção para o Planalto

Em meio ao impasse causado no centro pela candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) a presidente, renasceu entre adeptos da social- democracia um movimento para colocar o governador Eduardo Leite (PSD) no jogo. Nesse grupo estão pessoas ligadas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, líderes do movimento Derrubando Muros, empresários e até integrantes do PSD que não querem ficar sem alternativa se o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não for candidato.

No início da semana, quando esteve no Rio de Janeiro para uma palestra na Casa das Garças, a convite do Instituto de Estudos de Política Econômica, Leite foi instado a se apresentar como concorrente, para ocupar o vazio deixado pela falta de um nome sem ligação com o lulismo e o bolsonarismo. Na plateia, estavam figuras como Pérsio Arida, Armínio Fraga, Pedro Malan, Gustavo Franco, Edemar Bacha, Paulo Hartung e Elena Landau.

Depois do debate sobre desenvolvimento, Leite foi jantar na casa de Bacha com Hartung, Malan e o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha.

Arida foi o primeiro a se manifestar. Disse que Leite era o candidato que a maioria dos presentes queria ver viabilizado. Ex-governador do Espírito Santo e hoje companheiro de partido de Leite, Hartung foi um dos mais enfáticos, dizendo que o gaúcho não pode se encolher.

O governador disse que sempre esteve à disposição do PSD, mas conhece a posição de Gilberto Kassab, que ainda tem esperança de ver Tarcísio candidato. Kassab também já disse que, se Tarcísio não concorrer a presidente, a segunda cartada é o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Leite seria a terceira opção.

"Opção moderna"

Em outra frente, o deputado Roberto Freire (Cidadania-PE) tem usado as redes sociais para defender a candidatura de Leite como "uma opção moderna para o Brasil do século 21".

- Quando Kassab convidou o Cidadania para formar uma federação com o PSD, eu disse a ele que nossa única condição seria ter Eduardo Leite como candidato a presidente - contou Freire à coluna. _

Continuidade, a palavra-chave que transformou Medellín, na Colômbia

Acostumado a ciceronear comitivas de prefeitos brasileiros que vão a Medellín, na Colômbia, em busca de receita para a transformação de cidades, o cientista político Jean Tromme magnetizou a plateia do Granpal Summit, na sexta-feira, em Porto Alegre. Belga de nascimento, ele acompanhou a transformação de Medellín, de cidade mais violenta do mundo a exemplo de inovação urbana e social em três décadas.

Ao Gaúcha Atualidade, Jean disse que não há fórmula mágica, mas um trabalho contínuo que não sofre interrupção com as trocas de governo - lá não existe reeleição, mas o prefeito eleito não ousa mexer no que está dando certo.

- Para nós, os recursos públicos são sagrados. Cada centavo tem de ser investido na população. Não toleramos a corrupção - disse o cientista político, que é também administrador.

Em outro momento, explicou que as autoridades de Medellín foram buscar iniciativas bem-sucedidas em outros países e adaptaram-nas à realidade de uma cidade montanhosa, que não tem praia e afugentava turistas pela violência:

- Pegamos os bondinhos das estações de esqui e tropicalizamos para atender às necessidades de mobilidade das pessoas. Pusemos escadas rolantes ao ar livre para facilitar o deslocamento de quem vive nas periferias. Investimentos em educação, cultura e esporte, para capturar os jovens e fomentar a inovação. Não foi uma coisa isolada. _

Em Porto Alegre, Nikolas pede apoio dos empresários à direita

Convidado pela Fecomércio para uma palestra-almoço sobre comunicação na sexta-feira, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) começou dizendo que evitaria falar de política, mas acabou fazendo um apelo aos empresários gaúchos para que apoiem as candidaturas da direita em 2026.

Nikolas afirmou que o Brasil "está em uma guerra" e por isso sugere que os empresários façam "sacrifícios":

- Óbvio que vão te perseguir (se doar dinheiro para campanha). Você não entendeu que estamos numa guerra? Ou você quer ir para uma guerra sem sacrifício? Quem disse que você veio a este mundo para ser feliz? _

Mais uma derrota para a coleção de Eduardo Bolsonaro

Se pensasse com o cérebro, e não com o fígado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não estaria acumulando derrotas em seu sonho americano às avessas. Nos nove meses em que está nos EUA, Eduardo gestou fracasso atrás de fracasso. Mitômano, achou que o presidente da maior economia do mundo daria mais atenção às fantasias dele do que aos interesses dos americanos. Comemorou cedo demais o resultado de suas conspirações contra o Brasil e deu com os burros n?água.

A coleção de fracassos começou quando Trump disse na ONU que teve "uma química excelente" com Lula. Depois veio o encontro na Malásia, a revogação de parte das tarifas e, por fim, a exclusão de Alexandre de Moraes da Lei Magnitsky.

Como queimou as pontes, Eduardo agora não tem como voltar para o Brasil. Por excesso de faltas, vai perder o mandato. Não se sabe como vai se sustentar em solo americano. E ainda perdeu para o irmão mais velho a condição de candidato preferencial da família Bolsonaro. 

Bônus garantido

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu que juízes e juízas federais têm o direito de receber gratificação extra mesmo quando estiverem em licença-maternidade, paternidade ou por adoção. A Gratificação por Exercício Cumulativo de Jurisdição é paga aos magistrados que acumulam trabalho ou lidam com grande volume de processos. Até então, o pagamento ficava suspenso durante as licenças. _

A nova diretoria da Associação dos Procuradores do Estado (Apergs) tomará posse para o biênio 2026-2027 em solenidade na segunda-feira. A entidade será presidida pela procuradora Patricia Bernardi Dall?Acqua.

POLÍTICA E PODER

sábado, 6 de dezembro de 2025


06 de Dezembro de 2025
MARTHA MEDEIROS

Que dia da semana é hoje?

Pessoas muito idosas não têm essa bênção de apenas 20 segundos de desconexão. "Que dia é hoje?", perguntam a si mesmos ao acordar, e a angústia da desinformação se prolonga. O que tenho mesmo que fazer? Alguém chegará? É uma torturante sensação de abandono. O que vai ser de mim sem poder confiar em mim? Por isso, precisam estar sempre acompanhadas por familiares ou cuidadores que as devolvam ao seu eixo central, situando-as no tempo e espaço, mesmo que isso leve algumas horas. Dependendo do comprometimento neurológico, os ponteiros do relógio avançam e a segurança não vem. Sorte dos idosos que conseguem relaxar e entregar-se a quem zela por eles. Os ansiosos se desesperam.

Neste exato momento, são 9h30 de um sábado ensolarado, vou escrever mais um pouco e depois almoçar com minha mãe no restaurante preferido dela, onde ela pede sempre a mesma coisa e damos as mesmas risadas. À tarde tentarei terminar este texto, mas o mais provável é que eu o deixe pela metade e vá jogar conversa fora com minha filha, que não mora no Brasil e veio nos visitar. É sábado, como já disse. Posso terminar o texto amanhã. Não me importo de transformar o domingo em um valoroso dia útil.

Afinal, é bom ou é ruim desconsiderar o dia da semana em que se está?

Quando é minha vez de visitar esta filha, aterrisso no país em que ela mora e, automaticamente, as quintas-feiras, as sextas, as segundas deixam de existir. Todos os dias são sábados, e cada sábado é diferente do outro. O espírito do dia é que me conduz. Não há uma rotina ordenando o que devo ou não devo fazer, não existe a rigidez do horário em que devo sair da cama. Os compromissos são outros - um brunch com um amigo, visitar um museu, pedalar pela cidade. 

A urgência é pelo encantamento com a vida, e não com a sina da sobrevivência. Que diferença faz qual é o dia da semana para quem está flanando em Paris? Às vezes, os melhores fins de semana caem numa terça-feira, como já disse a escritora Leila Ferreira. Viagens: em contraponto à nossa rotina repetitiva, elas funcionam, metaforicamente, como os 20 segundos sagrados em que não pertencemos a nenhuma engrenagem, somente ao comando da alma.

Do que concluo: ando pensando demais. Hora de fazer as malas. 

MARTHA MEDEIROS


A Reuters é uma das agências de notícias mais respeitadas no mundo. Segundo o jornalista, "no final do ano passado documentos internos projetaram que 10% do faturamento anual se deve à divulgação de propagandas, de itens proibidos e de golpes". Esses 10% correspondem a estratosféricos US$ 16 bilhões.

Os documentos revisados pela Reuters mostraram que a Meta deixou de identificar e de apagar uma avalanche de anúncios fraudulentos que expõem bilhões de usuários a esquemas criminosos de investimentos financeiros, cassinos online ilegais e à venda de remédios falsos.

Em relação aos crimes contra a saúde pública brasileira cometidos em parceria com a Meta, quadrilhas de estelionatários se apropriaram de minha imagem com tanta facilidade que chegaram a colocar à venda um curso na internet para interessados em aprender a falsificar minha voz por inteligência artificial, com a finalidade de vender tratamentos falsos. Uma matéria publicada no Uol pela jornalista Isabela Aleixo mostrou que os vigaristas tinham mais de 600 alunos matriculados.

Como já expliquei nesta coluna, fiz uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo e pedi os préstimos do escritório de advocacia Bottini e Tamasauskas na tentativa de descobrir quem são esses meliantes. É tarefa inglória, porque a Meta se recusa a identificá-los e a legislação brasileira ainda não está preparada para enquadrá-la em nosso código penal.

Enquanto isso, milhares de pessoas ingênuas caem em golpes que as fazem comprar comprimidos de conteúdo desconhecido que apregoam curar diabetes, dor nas costas, neuropatias periféricas ou hipertensão, além de uma infinidade de suplementos alimentares inúteis e do abecedário completo de vitaminas.

A matéria da Reuters continua: "Muitas dessas fraudes partem de anunciantes suficientemente suspeitos para serem detectados pelos sistemas internos de segurança da Meta. Mas a companhia só os proíbe quando seus sistemas automatizados estimam em pelo menos 95%, o grau de certeza de que se trata de fraude".

E, mais grave: quando o usuário da rede clica numa dessas propagandas-golpe, passa a receber outras da mesma espécie, graças à aplicação dos algoritmos personalizados que se baseiam nos interesses do usuário. É um esquema armado para otimizar os lucros da empresa em sociedade com golpistas para tomar dinheiro de pessoas de boa fé.

O repórter entrevistou Sandeep Abraham, que trabalhou na Meta como investigador de segurança: "Se os legisladores não toleram que os bancos lucrem com fraudes, não deveriam tolerá-las na área da tecnologia".

Anos atrás, quando começaram a aparecer os vídeos fake usando minha imagem, tentei inúmeras vezes pedir que os tirassem do ar. Santa inocência, imaginei que tratava com gente honesta e bem intencionada. Nas raríssimas vezes em que se dignavam a responder, uma mensagem automática dizia que o vídeo obedecia às regras estabelecidas pela plataforma. Nunca derrubaram uma propaganda falsa sequer.

Na investigação da Reuters, Jeff Horowitz afirma que um documento de 2003 indica que a Meta estava ignorando a vasta maioria das queixas contra golpes: "Os funcionários da área de segurança da empresa estimavam que naquele ano os usuários do Instagram e do Facebook tenham documentado cerca de 100 mil propagandas falsas e tentativas de golpe, por semana. A Meta ignorou ou rejeitou incorretamente 96% deles".

Você poderá pensar: com tantos vídeos que chegam até eles todos os dias, deve ser impossível separar o joio do trigo. Há mais de 10 anos, tenho um canal com mais de 4 milhões de inscritos no YouTube. De acordo com o ChatGPT, as estimativas mais confiáveis são de que o YouTube publique de 2,5 milhões a 3 milhões de vídeos por dia. Nunca vi uma propaganda falsa em meu nome. Por duas ou três vezes nesses anos todos, comunicamos alguma incorreção que foi imediatamente retirada.

Se a tecnologia do YouTube consegue identificar e eliminar golpes com tamanha eficiência, por que o mesmo não acontece com o Instagram e o Facebook? A resposta está nos US$ 16 bilhões anuais que a plataforma fatura com eles. 

Drauzio Varella 


06 de Dezembro de 2025
J.J. CAMARGO

A credencial de permanência só será concedida aos que preservaram intacta a autocrítica e, desapegados de compromissos e obrigações, ainda sejam capazes de pensar por conta própria. Se o foco central do relato é a delação, a análise das características pessoais dos delatores exige uma independência de sentimentos que não existirá se o leitor estiver emocionalmente comprometido ou, pior ainda, na condição degradante de materialmente devedor.

A queixa habitual de que foram abandonados pelos seus superiores em um momento crítico de suas vidas deve ser ignorada, porque serve menos como justificativa e mais como evidência de fraqueza ou covardia. A traição deliberada dos antigos parceiros, que ingenuamente lhes confiaram segredos em nome de uma amizade superestimada, já seria desprezível, mesmo antes do descaramento de assumir a intenção explícita de salvar a própria pele.

A política brasileira, com a sua inesgotável capacidade de parir tipos nefastos, se excedeu ao produzir, nas últimas décadas, duas dessas tristes figuras, oriundas de facções diferentes, mas com a mesma pobreza de caráter. Nos dois casos, o estrago inicial foi devastador, ainda que os desfechos a longo prazo tenham sido diferentes, por conta dessa característica da justiça em países subdesenvolvidos: não há entre os nossos juízes o constrangimento de tratar a Carta Magna como uma extensão de sua própria vontade, adequando-a, monocraticamente, à conveniência momentânea.

O caso mais antigo envolveu o delator em um esquema de corrupção sem precedentes na bem ranqueada política brasileira, e, segundo seus adversários propagaram, tratou-se do maior escândalo envolvendo um governo ao longo da história. Provavelmente houve algum exagero, dada a nossa obsessão de sermos campeões mundiais em alguma coisa, especialmente depois que o orgulho pelo nosso futebol minguou.

De qualquer maneira, houve devolução dos milhões retidos, e recentemente foi replicada uma prática inusitada, introduzida no nosso país com grande sucesso: a descondenação, com anulação de todas as penas. E por quê? Porque sim. No caso mais recente, as acusações eram originais e sem denúncia de roubo, como já estávamos acostumados, não havia o que devolver. E a pena foi amenizada correspondendo ao prometido durante os interrogatórios plenos de humanismo e enriquecida por um item jocoso: o condenado não pode manter contato com os delatados! E a troco de quê manteria?

A semelhança nos dois casos fica por conta da verdadeira pena: o ostracismo, espontaneamente imposto pela vergonha da traição. E com seu algoz indefectível: o espelho. _

J.J. CAMARGO

06 de Dezembro de 2025
PARA VER - Ticiano Osório

O filme "Bugonia" (2025), em cartaz nos cinemas, reúne três nomes que já viraram figurinhas carimbadas no Oscar: a atriz Emma Stone e o ator Jesse Plemons, ambos estadunidenses de 37 anos, e o diretor grego Yorgos Lanthimos, 52

Aliens e teorias da conspiração

Três nomes que já se tornaram assíduos nas cerimônias do Oscar estão reunidos em Bugonia (2025). No filme em cartaz nos cinemas de Porto Alegre, Yorgos Lanthimos dirige a atriz Emma Stone e o ator Jesse Plemons.

O grego Lanthimos é o diretor de Dente Canino (2009), que disputou o Oscar internacional. Depois, ele concorreu ao prêmio de roteiro original, por O Lagosta (2016), e recebeu duas indicações nas categorias de melhor filme, como um dos produtores, e melhor direção, por A Favorita (2018) e Pobres Criaturas (2023).

Stone ganhou duas vezes o Oscar de melhor atriz, por La La Land (2016) e Pobres Criaturas, e foi indicada como coadjuvante por Birdman (2014) e A Favorita.

Plemons só concorreu uma vez, como coadjuvante em Ataque dos Cães (2021). Mas na última década atuou em sete indicados ao Oscar de melhor filme: Ponte dos Espiões (2015), The Post: A Guerra Secreta (2017), Vice (2018), O Irlandês (2019), Judas e o Messias Negro (2020), Ataque dos Cães e Assassinos da Lua das Flores (2023).

Os três já haviam trabalhado juntos em Tipos de Gentileza (2024), que deu a Jesse Plemons o prêmio de ator no Festival de Cannes, mas foi solenemente - e merecidamente - ignorado no Oscar. O mesmo não deve - e nem deveria - acontecer com Bugonia, comédia ácida baseada em Save the Green Planet! (2003), do sul-coreano Jang Joon-hwan.

Bugonia talvez seja a obra mais acessível de Yorgos Lanthimos, cineasta célebre por provocar desconforto, choque ou perplexidade. Mas continua sendo um filme de Lanthimos: tem um olhar misantropo e um pé no bizarro, combina senso de humor com pessimismo, crueldade e violência, examina e ridiculariza as dinâmicas e as figuras de poder.

Emma Stone encarna Michelle Feuer, CEO de uma grande farmacêutica. Capas de revistas mostram que Michelle é uma estrela do mundo dos executivos. Já no trabalho, é o pavor da área de RH. Na empresa, em nome do suposto bem-estar dos empregados, ela estabelece que todos podem ir embora às 17h30min - a não ser que estejam ocupados, tenham coisas a fazer, metas a cumprir etc. O horário de encerrar o expediente não é obrigatório: o funcionário "fica livre para decidir". O timing cômico da atriz deixa cada ponderação mais perversa.

Michelle é sequestrada pelo apicultor Teddy (Jesse Plemons) e seu primo autista, Don (vivido por Aidan Delbis, que tem autismo). Não há pedido de resgate.

Teddy acredita que Michelle é uma alienígena disfarçada, vinda do planeta Andromeda em missão maléfica. Os andromedanos estariam dizimando as abelhas, que, com seu trabalho de polinização, respondem por um terço da produção global de alimentos - "É como sexo, mas mais limpo", compara o personagem de Plemons. "Ninguém se machuca."

Os dois primos se prepararam fisicamente e "limparam o cache psíquico" para o sequestro. No cativeiro, eles cortam todo o cabelo de Michelle (Stone teve sua cabeça raspada de verdade) e besuntam seu corpo com um creme anti-histamínico, para impedi-la de enviar um sinal de socorro. Simultaneamente, Teddy exige que ela marque uma audiência com o imperador andromedano.

Não convém avançar na sinopse, mas vale dizer que há cenas perturbadoras, sobretudo quando combinadas à música de Jerskin Fendrix. Os diálogos refletem sobre o capitalismo, a polarização política e o comportamento humano - ou talvez a desumanização decorrente da ganância e do radicalismo. O enredo satiriza a tendência de nos escorarmos no chamado viés de confirmação, ou seja, buscamos e interpretamos informações que validam crenças já existentes, ignorando ou minimizando as evidências contrárias.

O filme vai ao encontro do que o pesquisador canadense Marc-André Argentino, especialista em terrorismo, extremismo violento e combate à radicalização, disse em entrevista à repórter Isabella Sander, de Zero Hora. Para ele, o movimento de extrema direita QAnon "criou uma população mais vulnerável a teorias conspiratórias" - que vão de "eleições roubadas" à associação entre o uso de Tylenol e o autismo. "É qualquer narrativa que reforce sua visão de mundo", resumiu.

Quando Don pergunta ao primo se ele tem certeza de que Michelle é uma E.T., Teddy responde: "Os sinais estão claros. Mas você só nota se estiver procurando". O apicultor também prefere achar um único culpado para os seus problemas e os do mundo, desconsiderando - de propósito ou por visão obtusa - que quase sempre as razões são multifatoriais. Não à toa, a certa altura Michelle dá-se por vencida em um debate natimorto como muitos que ocorrem nas redes sociais: "Não posso mudar sua opinião". 

PARA VER

06 de Dezembro de 2025
DIVERSÃO E ARTE

DIVERSÃO E ARTE

Música

Esteban apresenta carreira solo

Ex-baixista da banda Fresno (à dir.), Esteban faz show que une influências da música latina e do rock norte-americano, domingo, às 20h30min, no Bar Opinião. Ingressos via plataforma Sympla.

Literatura - Lançamento e contação de histórias

Beta Simon (à dir.) participa, sábado, às 12h30min, da ação BPE + Cultura, em frente à Biblioteca Pública do Estado. Na ocasião, ocorre o lançamento de seu novo livro. Entrada franca.

Adaptação - Releitura de clássico dos Irmãos Grimm

O Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher, recebe a peça João e Maria, sábado e domingo, às 18h. Os ingressos estão disponíveis em theatrosaopedro.rs.gov.br.

Família Ramil revisita clássicos

Show - Quando: domingo, às 20h

Onde: no Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), na Capital

Kleiton, Kledir, Vitor, Ian, Gutcha, Thiago e João Ramil retornam com o projeto Casa Ramil ao palco do Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, neste domingo, às 20h.

No repertório, interpretam suas próprias composições, como Deu pra ti, Estrela, Estrela, Artigo 5º, Amora, Vira Virou e Deixando o pago.

Os ingressos estão disponíveis a partir de R$ 120 (meia- entrada), R$ 130 (solidário) e R$ 240 (inteiro), via plataforma Sympla, com taxas. _

Teatro

Versão moderna de clássico infantil

? Está em cartaz no domingo, às 19h, o espetáculo Alice no País das Maravilhas no Teatro de Câmara Túlio Piva (Rua da República, 575), na Capital. A adaptação é do Ciaquê Centro de Sapateado, escola e produtora especializado em sapateado. Ingressos a R$ 70 (meia-entrada) e R$ 140 (inteiro), via plataforma Sympla, com taxas. _

Evento - Roda de samba ao pôr do sol

? A Fundação Iberê (Av. Padre Cacique, 2.000) e o Café Iberê, na Capital, celebram o fim de 2025 com uma roda de samba ao pôr do sol neste domingo, a partir das 17h30min. Quem comanda a apresentação é a cantora Rê Adegas, com um repertório dedicado a grandes nomes do samba, como Cartola, Dona Ivone Lara e Jorge Aragão. Entrada franca.