sábado, 10 de fevereiro de 2024



10 DE FEVEREIRO DE 2024
+ ECONOMIA

Procura expande consultoria gaúcha

Consultoria especializada em gestão ambiental e ESG, a Ecovalor, fundada em Taquara, iniciou uma operação no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Completando 11 anos de mercado em fevereiro, e atuação em 15 Estados, esta será a quinta unidade da empresa, que também tem representações em Caxias do Sul, Gramado e Fortaleza (CE), além da matriz em sua cidade de fundação.

Conforme destaca a Ecovalor, a presença em Porto Alegre visa uma maior aproximação com os clientes da Região Metropolitana, para atender a crescente demanda por soluções ESG das empresas nesta área.

- As empresas estão buscando estar alinhadas com as melhores práticas de sustentabilidade e ESG. Estamos há uma década no mercado e, nos últimos três anos, é impressionante o quanto o tema passou a ser valorizado pelas empresas. Este é um movimento sem volta e urgente, de adaptação das organizações a pressões como as mudanças climáticas, novas gerações e regulações socioambientais - destaca o CEO Elias Neto.

A empresa iniciou sua atuação no setor calçadista, em parcerias com Abicalçados e Assintecal. Hoje, tem clientes como Arezzo, Soprano, Calçados Beira Rio, Copag, Vicunha e Dauper Biscoitos.

Na Serra, atua em projetos como o W Hotel, bandeira de luxo da Rede Marriot, e o ClubMed, renomada rede de resorts francesa, ambos em Gramado. No centro do país, o foco é o agronegócio. Atende o Grupo Conceito, um dos maiores de Goiás, nas áreas de estratégia ESG, inventário e créditos de carbono.

Falta de consciência afasta clientes

Cerca de 56% dos consumidores afirmam que já deixaram de consumir produtos ou serviços de uma empresa que não se preocupa com temas ambientais e sociais. O dado é do Índice do Setor de Sustentabilidade 2023, do Kantar Ibope Media. A pesquisa sobre ESG (governança corporativa, social e ambiental) ouviu 26 mil pessoas, de 33 países. O recado às empresas é que investir em sustentabilidade e inclusão social é essencial.

- O estudo revela mudança significativa no comportamento do consumidor. Ter responsabilidade socioambiental não é mais opção, é essencial para a continuidade de negócios - diz Ricardo Fragoso, vice-presidente de ESG da Associação Brasileira de Avaliação da Conformidade (Abrac).

A Abrac reforça que a norma ISO 14001 - Sistema de Gestão Ambiental - é uma aliada para implementar práticas ambientais sustentáveis, como reciclagem, consumo consciente de energia e redução das emissões de gases de efeito estufa.

MARTA SFREDO

10 DE FEVEREIRO DE 2024
MARCELO RECH

Sujeito oculto

As 135 páginas da decisão do ministro Alexandre de Moraes que autorizou a operação da Polícia Federal no coração do bolsonarismo podem ser lidas como um enredo de conspirações, futricas, acusações de traição e muquiranagens do baixo clero que gravitava em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Centrada na delação e no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, a trama vale ser interpretada também pelo sujeito oculto do script costurado por Moraes: como a ação deletéria de um ex-capitão punido por indisciplina envenenou a harmonia e a hierarquia nas Forças Armadas, deixando-as à beira de um embate fratricida.

O ponto de inflexão para tentar dobrar as Forças aos caprichos políticos do ex-presidente tem data e local: 29 de março de 2021, em Brasília. Nesse dia, num gesto repentino, Bolsonaro substituiu o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, pelo general Walter Braga Netto, que desponta no material apreendido pela PF como um dos cabeças do plano de sublevação. 

No dia seguinte, Braga Netto trocou os comandos de Exército, Marinha e Aeronáutica, que rejeitavam a invasão da caserna pela política. A partir dali, o bolsonarismo radical se sentiu liberado para atrair militares para uma conspiração que passava pelo descrédito do sistema eleitoral e pela omissão diante de massas de manobra fanatizadas que se acantonavam, imperturbadas, junto aos muros de quartéis até a eclosão do 8 de Janeiro.

A decisão que desencadeou a Tempus Veritatis indica como foi maquinado o ataque aos oficiais-generais que se recusavam a embarcar na aventura golpista. Como não tem relação com a denúncia, deixou de ser tratado, na decisão, um capítulo essencial da história recente do Brasil: como esses generais, vilipendiados por fanáticos que expunham até suas famílias, resistiram ao canto da sereia e foram decisivos na preservação da democracia e da estabilidade institucional. Mas é possível um vislumbre. 

Numa troca de mensagens com Mauro Cid sobre uma possível carta de oficiais da ativa, um coronel golpista vaza a orientação do então comandante Militar do Sul (o general Fernando Soares) a seus comandados no sentido de que uma eventual adesão ao documento seria "inconcebível" e tratada, "no âmbito do CMS, na forma da lei, sem contemporizações". A carta se limitou a oficiais da reserva.

A quebra de hierarquia e a sedução do poder político são vírus que corroem forças militares e que, não raro, conduzem a fraturas internas, ditaduras e mais corrupção. É o que aconteceu na Venezuela, por exemplo. Apesar dos aloprados, o legalismo se impôs no meio militar. A Tempus Veritatis atirou no que viu, mas acabou por desencobrir também que, como instituições, Exército, Marinha e Aeronáutica lograram preservar a disciplina e o respeito ao jogo democrático.

MARCELO RECH


10 DE FEVEREIRO DE 2024
INFORME ESPECIAL

Carnavais de antigamente

A moda, agora, é o Carnaval retrô. Aquele mesmo, das antigas, com um toque moderninho. É a nostalgia vestida de Colombina, abrindo os braços e falando bem alto:

- Vem! Vem pular comigo! Eu voltei! Eu voltei!

Também pudera. Quem viveu (e até quem só ouviu falar) dos Carnavais de outrora entende os motivos por trás do desejo de (re)viver o passado - aqueles blocos cheios de purpurina, o samba cadenciado arrastando as chinelas nos paralelepípedos, os tradicionais bailes nas agremiações sociais.

Muito confete e serpentina joguei no salão do antigo Clube União, em Santa Cruz do Sul, onde hoje funciona uma loja de departamentos.

Foi lá, naquele piso de madeira e de tantas histórias, que aprendi todas as marchinhas que você e eu sabemos de cor - sim, porque todo mundo conhece aquelas canções de versos fáceis e espirituosos. Algumas acabaram "canceladas" por destilar preconceitos, é verdade, mas outras seguem firmes, fortes e atuais. Tenho para mim que, enquanto houver quem cante, não vão morrer. Jamais.

Ô, abre-alas, que eu quero passar? assim, fantasiada de havaiana, com duas chuquinhas na cabeça e estrelinhas coladas nas bochechas, eu adentrava o clube de mãos dadas com a minha mãe. Fecho os olhos e posso sentir a sensação de ver pela primeira vez aquele salão. Para uma guria de cinco anos, o lugar parecia gigantesco: todo enfeitado com bandeirolas, máscaras e paetês, era a promessa de uma tarde de regozijo.

No palco, a banda animava a matinê infantil, e a criançada corria, pulava, gritava e se atirava no piso polvilhado de papel picado. Minha mãe, hoje parceira de muitas outras festas, levava saquinhos com confetes na bolsa e me entregava. Era a melhor parte.

Allah-lá-ô, ôuôôuôôô? e assim a coisa ia até o entardecer, naquele "balancê, balancê" pueril, ingênuo e todo meu. Nosso.

A identificação com as festas de Momo é tanta, que muitos brasileiros têm certeza de que o Carnaval nasceu aqui. Onde mais haveria de ser? Quando descobrem que não é bem assim, ficam surpresos.

A celebração ancestral ganhou o mundo na carona da fé católica, desde a Roma antiga. É a festança que antecede o período de resguardo - a Quaresma, a 40 dias da Páscoa, quando os devotos se abstêm de comer carne. A palavra Carnaval vem do latim "carnelevarium", algo como "eliminar a carne". É, portanto, o excesso antes da penitência. O exagero.

Por aqui, a tradição carnavalesca chegou a bordo das caravelas portuguesas, desembarcou e se instalou de vez. Você pode até detestar a muvuca, mas há de admitir: o furdunço tornou-se tão popular entre nós que o ano só começa, mesmo, depois da Quarta-Feira de Cinzas (melhor nome, impossível).

Neste Carnaval, aquela menina de chuquinhas e de confetes nas mãos vai renascer nos velhos novos bloquinhos de rua, que irão ocupar Porto Alegre e cidades do Interior, com ares de antigamente. Colombina, dando gargalhada, vai cair na gandaia e gritar, cheia de animação:

- Daqui não saio, daqui ninguém me tira!

frases da semana

O Orçamento da União pertence a todos e todas e não apenas ao Executivo, porque, se assim fosse, a Constituição não determinaria a necessária participação do Legislativo em sua confecção e final aprovação.

ARTHUR LIRA

Presidente da Câmara, na abertura do ano legislativo, dando recado ao governo federal em meio à disputa pela liberação de emendas.

Nunca na história da CEEE houve tantas mortes com o mesmo padrão na mesma terceirizada. Mostra que há falhas reais na capacitação das equipes.

OTÁVIO RODRIGUES

Coordenador de Análises de Acidente de Trabalho do Ministério do Trabalho, sobre acidentes fatais que vitimaram três homens contratados por empresa que presta serviço à distribuidora de energia.

Saí do governo há mais de um ano e sigo sofrendo uma perseguição implacável.

JAIR BOLSONARO

Ex-presidente da República, em declaração ao jornal Folha de S.Paulo, após operação da Polícia Federal que teve ele e ex-colaboradores de seu governo como alvo.

Ficaremos mobilizados para que saia um resultado positivo. No sentido desse decreto ser totalmente anulado ou pelo menos parte dele.

LUIZ CARLOS BOHN

Presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado, sobre pressão do setor empresarial para que o governo gaúcho revogue o corte de benefício fiscais.

É altamente exitosa a modelagem que o Estado fez. E será especialmente exitosa quando a gente naturalmente ver as obras acontecendo.

EDUARDO LEITE

Governador do RS, após leilão com lance único para a concessão do Cais Mauá à iniciativa privada.

De nada adianta se a população não cuidar de sua casa.

ARITA BERGMANN

Secretária da Saúde do RS, ressaltando o papel dos cidadãos para evitar o aparecimento de focos do mosquito transmissor da dengue em suas residências.

Agora é a hora de todo o Brasil se unir contra a dengue.

NÍSIA TRINDADE

Ministra da Saúde, em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, apelando por um esforço nacional conjunto para combater o surto da doença no Brasil.

arte - Arlequim e Pierrô

Já que o clima é dos "carnavais de antigamente", selecionei para esta edição uma obra clássica do pintor francês André Derain (1880-1954): Arlequim e Pierrô. A tela de 1924, do acervo do Musée de l?Orangerie, em Paris, retrata os dois personagens nascidos no teatro italiano conhecido como Commedia dell?Arte. Eles também inspiraram - e ainda inspiram - as fantasias mais tradicionais das festas de Momo, junto de Colombina. No pincel de Derain, ganham ar melancólico. Seria o fim da festa?

INFORME ESPECIAL

sábado, 3 de fevereiro de 2024


planetários de todas as tribos unidos pela música

Segundo dia de Planeta Atlântida recebe na Saba mais shows marcados pela diversidade de estilos para uma festa completa

Do trap ao sertanejo, do rock ao balancinho do pagode, a diversidade musical vai seguir imperando no Planeta Atlântida 2024 neste sábado. O segundo dia de festival, que ocorre na Saba, em Atlântida, reserva ao público mais uma leva de shows memoráveis.

Os dois palcos receberão nomes de diferentes estilos musicais, contemplando novos e antigos planetários. A banda Paralamas do Sucesso, por exemplo, é uma das atrações mais esperadas pela velha guarda do Planeta Atlântida neste sábado. Eles, que também são veteranos no festival, almejam fisgar o público mais jovem com hits como Lanterna dos Afogados, Meu Erro e Óculos. Certamente não será difícil de conseguir o feito.

- Imagino que muita gente que estará no Planeta nunca tenha visto um show dos Paralamas - constatou Bi, baixista do grupo, em entrevista a Zero Hora. - É um desafio que é instigante, e a gente gosta. Chegar ali para convencer as pessoas.

É certo dizer que boa parte dos planetários mais jovens vão ao festival na intenção de curtir shows de artistas de trap, vertente do rap que virou um fenômeno na música brasileira e é queridinho da gurizada. São muitos os representantes do estilo no Planeta Atlântida 2024. Neste sábado, mais quatro "trappers" subirão aos palcos do festival.

Três deles, Matuê, Teto e WIU, dividem a responsabilidade de fechar o segundo dia de Planeta Atlântida 2024. Eles, que são colegas na gravadora 30PRAUM, estarão juntos no palco principal para o último show da edição.

- A gente sempre quis ocupar essa posição. Ter este destaque em um festival como o Planeta Atlântida me deixa sem palavras - afirmou Matuê durante conversa com a reportagem de Zero Hora.

Conexões

O pagode também estará em alta nos dois dias. Neste sábado, Thiaguinho vai matar a saudade do Planeta Atlântida e convocar os planetários a mostrar o samba no pé. O músico celebra a presença cada vez maior do gênero nos festivais de música.

- Que felicidade poder viver esse momento - disse Thiaguinho a ZH - Ver o pagode ganhando espaço nos grandes festivais e acompanhar esse reconhecimento é algo realmente maravilhoso. Sinto muito orgulho de poder contribuir desta forma com a música brasileira e representar o pagode nesses eventos - refletiu o pagodeiro, afirmando ter um "caso de amor" com o Rio Grande do Sul.

Quem também tem uma relação próxima com o Estado é Gusttavo Lima. O sertanejo perde as contas de quantas apresentações já realizou em solo gaúcho. No ano passado, levou uma verdadeira multidão ao Estádio Beira-Rio, na Capital, com a edição do seu festival Buteco.

Ele também já esteve no Planeta Atlântida, mas promete um show totalmente renovado para a edição deste ano.

- Sempre procuro fazer algo diferenciado em cada apresentação, e o que posso adiantar, em termos de repertório, é que estou preparando uma apresentação bem especial e repleta de sucessos - revelou o sertanejo em entrevista - Não vão faltar hits que a galera gaúcha gosta e sempre canta comigo e levarei também algumas novidades do meu novo DVD, Paraíso Particular, para agitar o Planeta Atlântida. Podem aguardar, pois será mais um show inesquecível e feito com muito carinho.

No sábado, ainda passam pelo palco principal Fresno, Armandinho e Luísa Sonza, em show com participação de Duda Beat. Já no palco Atlântida, o público poderá conferir shows de Gabriel O Pensador, Veigh, Diogo Defante e as bandas Papas da Língua e Braza, entre outras atrações.

Atrações deste sábado

Os portões estarão abertos a partir das 15h, e os primeiros shows começam às 16h30min, no Palco Atlântida, e às 17h, no Palco Planeta.

Palco Atlântida

16h30min - Ondastral

18h - Diogo Defante

19h30min - Braza

21h - Papas da Língua

22h30min - Gabriel O Pensador

00h - Veigh

1h30min - Ariel B

2h20min - ATL DJ

Palco Planeta

17h - Fresno

18h30min - Armandinho

20h - Os Paralamas do Sucesso

21h30min - Thiaguinho

23h - Gusttavo Lima

00h45min - Luísa Sonza convida Duda Beat

2h15min - 30praum com Matuê, Teto & Wiu

Como assistir de casa

Pela primeira vez, a TV Globo irá exibir em rede nacional os melhores momentos do festival no domingo, após o Big Brother Brasil 24. Além disso, o Estúdio Atlântida no Planeta, que realiza a transmissão oficial do evento na Rádio Atlântida e no YouTube, exibirá o evento pela primeira vez na RBS TV e irá mostrar tudo o que está rolando no festival. Neste sábado será após o BBB 24.

A Rádio Atlântida inicia com programação direto da Saba a partir das 7h da manhã no primeiro dia do festival. A partir das 16h30min, a transmissão em vídeo do evento pode ser acompanhada pelo YouTube. A cobertura do Palco Planeta, entrevistas com artistas e tudo mais que rola na Saba terão transmissão no canal Lives Atlântida, e os shows do Palco Atlântida, no canal Atlântida Fora do Ar.

Ilhas de hidratação

Assegurando o bem-estar dos planetários, e seguindo as normas estabelecidas pela portaria Nº 35 do GAB-Senacon/MJSP, que prevê proteção à saúde dos consumidores em grandes eventos, o Planeta contará com quatro pontos de hidratação oferecidos pela Corsan. Serão três na Arena e um no camarote (ginásio).

Cada ponto de hidratação é composto por uma ilha de bebedouros, com três saídas de água. O planetário poderá se abastecer a hora que quiser e sem nenhum custo adicional.

Ingressos

À venda na bilheteria do evento, a partir de R$ 348.

A 27ª edição do festival é uma realização do Grupo RBS e da DC Set Group e tem patrocínio de Renner, Ulbra, Banrisul, Coca Cola e Budweiser.


03 DE FEVEREIRO DE 2024
LEANDRO KARNAL

Viajante do meu Brasil, estive em uma cidade de Santa Catarina, para palestrar. O motorista nos pegou no aeroporto de Chapecó. Fomos a um município mais ao Oeste. Na volta, reclamou dos buracos e problemas em uma estrada. Comentou: Só asfaltam bem até Chapecó. Depois, abandonam. Só existem coisas boas entre Chapecó e o litoral....

O ressentimento é o que Espinosa e outros chamariam de "paixão triste". Meu corpo e minha alma (no sentido do filósofo holandês) possuem conatus, ou seja, um esforço para continuar vivos. A potência para existir está na nossa essência. Quando o corpo revela seu conatus, chama-o de apetite. Quando é a alma, mostra-se como desejo. Apetites e desejos são expressões vitais. Enquanto os temos, a vida percorre nosso ser.

Nossa capacidade de existir dialoga com desejo, alegria e tristeza. Ao meu redor, eu, um pedaço finito do universo, sou confrontado por muitas coisas maiores e mais fortes. Quando aumenta minha potência de agir, sou alegre; quando ela escasseia, sou triste. Aqui, a teoria de Espinosa servirá muito à tradição clínica sobre a potência do sujeito.

A (potência) de existir do outro parece maior. Ao meu redor, há pessoas, famílias, cidades e países mais fortes, mais harmônicos, mais bonitos, mais ricos. Isso leva ao duplo diálogo entre inveja e ressentimento. Recebi menos do que eu gostaria. Outros, e parece que isso é aleatório, receberam mais. O mundo brilha além de Chapecó. Infelizmente, nasci aquém, menos, menor. Isso é uma paixão triste e cáustica que me fará rancoroso com o mundo imaginado além das fronteiras de Chapecó.

Inimigas da potência de criar, ferrugem lenta e inexorável do projeto de seguir adiante, as paixões tristes são um verdadeiro mal do século da vida pública. Inveja e ressentimento constroem posts, multiplicam protestos, elaboram teorias e continuam corroendo o que poderia ser bom.

Você é invejoso e ressentido. Eu sou invejoso e ressentido. O Papa é. Elon Musk é. Impossível não ser. O mais importante - umas se conhecem mais do que outras. Por medo ou virtude, algumas se controlam de forma distinta. Outros se deixam dominar. Os que sorriem quando gostariam de esmurrar são chamados de calmos. Variam a intensidade e o grau de controle e de autoconhecimento. O que é constante? A lava quente corre sob toda a crosta terrestre, sob cada pessoa. Há terrenos com vulcões e terremotos; há os muito estáveis. Sob todos, a pressão poderosa da nossa natureza agressiva. Não é Hobbes ressuscitado. É experiência de vida. Aprendi a temer gente tranquila tanto quanto aprendi a acudir quando houver silêncio de um grupo de crianças na sala ao lado.

"Conhece a ti mesmo" brilhou no templo de Delfos e na calva socrática. Como usar o conhecimento contra a paixão triste ressentida?

O primeiro passo é pensar que alguns dados tão somente escondem minha dor. Será mesmo que todas as estradas são perfeitas do outro lado? Minha dor escondeu-se em uma convicção de dados confusos? Trazer a luz do conhecimento para iluminar cada ponto som­breado da minha consciência pode ser um bom começo.

Segundo: se há mais felicidade daquele lado, por que eu permaneço neste? Melhor - o que me impede de transformar a aldeia que habito em vez de invejar a do lado?

Terceiro: o que explica o brilho maior do vizinho é apenas a sorte? O acaso genético e social? Haverá algo na rotina dele que me ajude a compreender de outra forma? Como paixões "envergonhadas", inveja e ressentimento costumam mascarar-se sob outros conceitos, geralmente mais elevados. Injustiça existe. Apesar disso, nem sempre explica tudo.

Como paixões tristes, inveja e ressentimento esvaziam a potência do indivíduo. Trata-se de refazer protagonismo não para pensar o absurdo de que tudo depende de você ou que seu desejo muda o universo, todavia para reinserir força e energia no seu projeto biográfico. O mundo se apresenta assim, injusto inclusive. O que eu faço a partir do dado real que percebo ao meu redor? Como me incluo? De que forma abandono a posição de observador amargurado e entro no jogo?

O mais dramático da tristeza ressentida é que ela se construiu como uma zona de conforto fabulosa. É uma sala VIP da inatividade. "O jogo é de cartas marcadas e nada pode ser feito" esconde muita coisa. Sim, o jogo tem alguns aspectos bons e outros completamente equivocados. Se é um jogo ruim, não fique chorando ao lado dos jogadores. Afaste-se, crie o seu próprio, mude aquele: qualquer coisa, mas faça.

O ano de 2024 chegará ao seu segundo mês. As promessas de Ano-novo já mostram ferrugem precoce. Daqui a pouco, o Carnaval, a Páscoa... Em seguida, o meio do ano e, em um piscar de olhos, Natal e Ano-novo. Este texto vai para um motorista, no desejo de que ele não se aposente daqui a 30 anos, dizendo que os buracos eram intensos do lado dele, mas o Paraíso, algumas cidades além.

O primeiro conselho de um coach foi quando Deus disse a Adão, na pior hora deste: "Você vai ganhar o pão com o suor do seu rosto". Coach honesto, o Criador não prometeu mudança de mentalidade - sugeriu trabalho duro. Esperança com suor tapa buracos da paixão ressentida.

LEANDRO KARNAL

03 DE FEVEREIRO DE 2024
BRUNA LOMBARDI

ENCONTRO

Outro dia encontrei por acaso uma colega de escola que eu não via desde criança. Décadas se passaram e lá estava, diante de mim, uma mulher madura com sua história, rugas, preocupações, alegrias, fotos da família, filhos crescidos, toda uma vida. E no entanto eu olhava essa mulher e só conseguia ver a menina que ela foi, a risada que eu lembro que ela dava.

Naquela época, tudo era mais simples. A gente ainda não tinha emaranhado os fios da existência, não tinha tantas camadas complexas depositadas em cima de nós. A alegria era uma coisa instantânea, o sentir era espontâneo, o chorar era genuíno. Não tínhamos ainda criado máscaras, papéis sociais, intencionalidade, subterfúgios, objetivos. Tudo brotava de verdade, era exposto, frontalmente sincero e pronto.

Com o tempo, crescemos, nos machucamos, nos escondemos. Pequenas e grandes dores se acumularam, aprendemos como enfrentar cenas de decepções, frustrações, raivas, vergonhas e constrangimentos no nosso filme particular. Aprendemos a ler pessoas, almas, sentimentos. Compreendemos que precisamos entender o que há por trás da coisa dita, as manobras, as manipulações.

Descobrimos o amor, a paixão, o tesão, a liberdade. Mudamos modas e cabelos, testamos personas e personalidades e o refúgio das confidências das amigas íntimas.

Tanto tempo, tanta vida.

E agora olho essa menina amadurecida pelo tempo e só consigo enxergar a criança que conheci. Ainda vejo lá no fundo aquela garota divertida, contando casos, descobrindo suas opiniões, formando aos poucos seu jeito de ser, sua personalidade. Dentro de nós, a criança fica, mesmo contida, em algum lugar que já não visitamos. Foi ficando esquecida por causa do nosso trabalho cotidiano de viver. Mesmo assim, ela está lá. E permanece com a mesma inocência e perplexidade diante de coisas que continua tentando entender.

Senti um amor enorme por aquela menina que se disfarçou de adulta. Era quase como quando a gente mal conseguia andar dentro dos enormes sapatos de salto da mãe. Dentro de um adulto, existe a criança que ainda tenta se equilibrar. E continua lá, mesmo que a gente se desconecte dela.

Continua com os sustos que levou estampados em sua alma. Continua com as expectativas, os medos, os sonhos impressos, mesmo que todos esses sentimentos tenham aos poucos se transformado, como tudo se transformou. Mesmo que tanta coisa pareça ter mudado, a criança dentro de nós ainda precisa ser cuidada. Precisa continuar curando tudo que

a machucou. Rever coisas que disseram e ela acreditou. Amarras que a prenderam e ela deixou. Cobranças que a desgastam, rótulos que a diminuem. Papéis nem sempre fáceis de vivenciar.

É tempo de descartar o que não serve mais. Tenho vontade de dizer tudo isso pra ela, mas não nos vemos faz décadas e perdemos aquela intimidade imediata, que passava por cima de todas as cancelas e papéis sociais.

Minha memória dela está intacta e eu a abraço amorosamente. Queria ter as palavras certas e saber como resgatar nessa mulher aquela criança feliz.

BRUNA LOMBARDI

03 DE FEVEREIRO DE 2024
? NUTRIÇÃO

EMAGRECER É MAIS DIFÍCIL AO ENVELHECER

DESPROPORÇÃO ENTRE CÉLULAS DE GORDURA E MUSCULARES FACILITA O GANHO DE PESO

Com o envelhecimento, as mudanças são muitas e perceptíveis não só na aparência - a composição corporal também fica diferente. A alteração na proporção entre músculos e gordura gera um impacto direto: fica bem mais difícil emagrecer, para quem quer ou precisa. Vale também dizer o contrário: se torna mais fácil engordar.

Trata-se de um processo involuntário, salienta a endocrinologista Sylka Rodovalho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo (Sbem-SP). Não é possível contê-lo.

- Criamos muito mais tecido de gordura do que músculos. Há uma desproporção entre células de gordura e células musculares - afirma Sylka. Músculo é onde se gasta energia, e gordura, onde se retém. Com menos músculos e mais gordura, o armazenamento de energia é facilitado.

- Também ganhamos mais gordura na parede do abdômen. Esse aumento abdominal não é de um tecido de gordura tão saudável, inflama mais, aumenta a incidência de algumas doenças - complementa a médica da Sbem-SP.

Torna-se mais difícil perder peso, mas não impossível, ressalta a endocrinologista Mônica de Aguiar Medeiros, do Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.  - Às vezes, o paciente já chega derrotado ou desesperado ao consultório - relata Mônica. - Dá para perder peso, mas vai ser um pouco mais lento do que em uma pessoa mais jovem.

A perda progressiva de massa muscular se chama sarcopenia. É um processo que faz parte do envelhecimento, a exemplo de outros, tão característicos, como a queda e a mudança de coloração do cabelo e a perda de elasticidade da pele. Como contraponto a esse fluxo de mudanças que não pode ser totalmente contido ou revertido, a atividade física é a melhor opção.

- O exercício virou um elixir. É o que ainda tem a melhor e maior comprovação de eficácia - diz Sylka, pontuando a importância de se manter uma rotina que as modalidades aeróbicas e também resistidas.

Um plano alimentar para quem passou dos 60 anos deve focar, segundo Mônica, no consumo de proteínas e fibras:

- O idoso, no geral, diminui o consumo de proteína porque ela tem digestão mais lenta, e a mastigação dele já não é adequada. Ocorre um aumento do consumo de carboidrato, e isso já favorece a piora da distribuição de gordura. Também se deve evitar os excessos de gordura e doces.

Recomenda-se, ainda, prestar atenção à ingestão de água. - A sensação de sede pode ser confundida com a de fome - alerta Mônica.


03 DE FEVEREIRO DE 2024
J.J. CAMARGO

O DIREITO DE MORRER

"A versão contemporânea do inferno é a perda do direito de morrer." 
(Luiz Felipe Pondé)

Como sempre, o mais fascinante do relacionamento humano é o imprevisível das nossas reações, atribuível à decantada originalidade das pessoas, o que torna a profissão médica tão rica e deslumbrante.

Essa diversidade de atitudes se revela muitas vezes em situações dramáticas de risco e ameaças de morte. Isso pode ser comprovado pela multiplicidade de significados da resposta diante de uma pergunta rotineira na entrevista usual com um paciente gravemente enfermo: "Como o senhor está hoje?". Quando o paciente responde "Um pouco melhor, doutor!", quatro hipóteses podem estar por trás dessa resposta.

1) Ele pode estar exercendo o sagrado direito à negação que, mesmo sendo um antídoto precário, adia temporariamente o desagradável, e vamos convir que só os masoquistas têm pressa de sofrer.

2) Percebendo a morte iminente, não quer se expor ao discurso falacioso de um profissional, geralmente condicionado à omissão.

3) Ele está poupando o médico do desafio de discutir o irreparável.

4) O paciente ainda não confia que o médico seja capaz de ajudá-lo, e então não há razão para transformá-lo em confidente inútil.

Aqueles poucos que, antevendo o desfecho, no estágio da revolta resolvem discutir a tragédia de estar morrendo impõem um desafio incomparável para a maturidade médica, ao exigir uma atitude realista e solidária, poupando o paciente terminal da maior forma de sofrimento: a da solidão na doença. 

Essa que foi magistralmente descrita por Liev Tolstói no seu A Morte de Ivan Ilitch, em que ele relata a experiência inexcedível em sofrimento, na qual um paciente inteligente e lúcido acompanhava a dia a dia sua decomposição física (a descrição do choque que Ivan tem, ao mirar-se no espelho, é comovente) e a família e, os médicos só faziam mentir, como se fosse possível ele não perceber a morte se avizinhando.

O retardo do reconhecimento da medicina paliativa como área de atuação médica no Brasil (2011) na comparação com o Reino Unido (1985) atesta a nossa dificuldade de admitir a naturalidade da morte, negligenciando os cuidados que merecerão milhares de brasileiros que morrerão de morte anunciada em 2024 - aos quais deveríamos, idealmente, garantir um final livre de dor, de culpa e de falta de ar, e rodeados das pessoas que realmente sentirão a sua falta.

A representação mais adequada para o fim da vida é a de um beco sem saída. Essa imagem metafórica representa bem essa contingência que, associada à morte do futuro, anuncia o único movimento possível: o da retrospecção, onde prevalece sempre a necessidade do perdão.

Quando o médico se oferece para ser o parceiro nesta intermediação, ele está alçando voo em direção ao ápice que essa maravilhosa profissão pode atingir: a disponibilidade total para o cuidado máximo do ser humano no seu limite de carência e vulnerabilidade.

J.J. CAMARGO

03 DE FEVEREIRO DE 2024
CARPINEJAR

Na minha época de formação, no fim dos anos 70 e início dos 80, havia três turmas: aqueles que usavam o Kichute, os adeptos do Conga e os aficionados do Bamba. Todos feitos de lona, inteiramente fechados, excessivamente transpirantes. Não havia como não acabar com chulé, não havia furinhos no tecido para arejar o suor. Vinha a ser um pesadelo dormir com o par debaixo da cama, cheirava a bicho morto.

Não adiantava que as sacras mães o lavassem semanalmente no tanque com sabão de coco, jamais ressuscitavam o perfume de brim original da fábrica. Os três tampouco contavam com amortecedores. Você pulava e sentia o joelho estalar.

O Conga era o povão, a base da pirâmide. Resumia-se a um tênis esportivo, simples, acessível. As crianças que recorriam a ele não apresentavam condições financeiras privilegiadas. Não deixava de ser uma maneira disfarçada de andar descalço.

O solado se caracterizava por ser fininho, sem aderência. Fazia qualquer um deslizar no chão molhado, patinar nas calçadas. No inverno, com as lajes sebosas do orvalho e das folhas caídas, equilibrar-se virava uma proeza.

Devido à sua superfície quase inexistente para proteger a planta dos pés, havia a lenda de que, se você pisasse numa moeda, descobriria se estava virada na cara ou na coroa. Já o Kichute, um pouco mais caro do que o Conga, popularizou-se por imitar as travas de uma chuteira. Com a sua natureza dois em um, vendeu 9 milhões de pares entre 1978 e 1985.

A gurizada que sonhava em ser jogador de futebol já acordava fardada para entrar em campo. Com intuito de aumentar a segurança da passada, amarravam-se os cadarços nas canelas. Kichute não combinava com nenhuma roupa, só com Kichute.

Seu maior problema consistia no rápido desgaste dos seus cravos de borracha, na erosão de suas garras, o que gerava desnível nos passos. Com o tempo, o andar mancava, pesando para um lado. Era bem possível ter um Kichute para aula e um Conga para passeio, situação ideal para não concentrar os danos num único calçado e não surgir estropiado nas festividades familiares.

Ambos constavam como itens obrigatórios no material escolar para as aulas de educação física.

O Bamba, por sua vez, lembrava um All Star de cano baixo. Simbolizava o topo da pirâmide, destinando-se à elite escolar. Você pisava nas nuvens com ele, arrebatava as alturas da influência popular, destacava-se nas excursões e se sobressaía nas coreografias de Thriller, de Michael Jackson, nas reuniões dançantes.

Oferecido no clássico branco, costumava ser cobiçado por permitir o "batismo", aquela pisadinha de leve para estrear o calçado. Esse gesto de interação, de orgulho de tênis novo, não tinha como ser praticado com o Kichute, de cor preta, ou com o Conga no tradicional azul-marinho.

Eu fui da patota do Kichute. Ele morria em mim sem nunca ter sido batizado. 

CARPINEJAR

03 DE FEVEREIRO DE 2024
ALMANAQUE GAÚCHO

Meu Universo A colônia italiana da Vila Nova

Daqui a 15 dias, começa mais uma edição da Festa da Uva, tradicional evento que celebra a cultura dos imigrantes italianos em Caxias do Sul. O que pouca gente sabe é que a primeira Festa da Uva do Estado não aconteceu na Serra, e sim na zona sul de Porto Alegre. Calma, vou explicar isso direitinho. Não por acaso, a região onde se localiza hoje o bairro Vila Nova, na Capital, originalmente, era conhecida como Vila Nova d?Itália. Fazia sentido, afinal, aquelas terras foram ocupadas, a partir de 1894, por famílias oriundas de comunas italianas, como Trento, Mântua e Cremona. Assim que chegaram, elas começaram a plantar pessegueiros, pereiras, ameixeiras e, principalmente, videiras.

Como não é difícil imaginar, naquele tempo, os arredores de Porto Alegre eram tomados por uma densa mata virgem. Paulatinamente, os imigrantes abriram espaço no mato - em 1897, construíram uma escola (atual Escola Estadual Alberto Torres) e, em 1906, uma capela (transformada, em 1927, na Paróquia São José da Vila Nova). 

Os dois prédios foram erguidos na propriedade de Vicente Monteggia, que havia vendido suas terras em Alfredo Chaves (hoje município de Veranópolis) para se assentar por aquelas bandas. Monteggia era um grande empreendedor: em 1898, ele represou as águas do Arroio Cavalhada e, com essa força motriz, fundou um moinho movido por uma turbina importada dos Estados Unidos.

Segundo o cronista italiano Vittorio Buccelli (citado por Sérgio da Costa Franco, no Guia Histórico de Porto Alegre), que visitou o Rio Grande do Sul no início do século 20, em apenas 10 anos, a colônia havia prosperado de forma admirável e passara a fornecer toda espécie de frutas ao mercado da Capital. Em 1912, já contava com 82 construções e 436 habitantes, atendidos por uma central telefônica municipal. 

Naquele ano, devido ao progresso da região, teve início o tráfego de trens pela Estrada de Belém Velho, que passava pela Vila Nova. E, em 1926, ali chegaram os trilhos de um ramal da Estrada do Riacho, o que acelerou o desenvolvimento do arraial. De um lado, a ligação ferroviária facilitava o transporte dos produtos coloniais comercializados no Mercado Público. De outra parte, trazia as pedras para o calçamento da Vila Nova.

Chegamos, então, ao ponto de partida da nossa conversa: em 26 de janeiro de 1913 (20 anos antes da primeira Festa da Uva "oficial" de Caxias do Sul), foi realizada a Festa da Uva da Vila Nova d?Itália, apontada pelos historiadores como a primeira do Estado.

Só que ela não aconteceu na Vila Nova, e sim no arrabalde de Teresópolis, mais precisamente na Praça Dona Maria Luiza (atual Praça Guia Lopes), conforme a pesquisadora Ana Maria Monteggia Mallmann. A festa pioneira foi organizada pelos moradores da Vila Nova (daí o nome que recebeu), com a ajuda dos vizinhos de Teresópolis, e contou com uma premiação às melhores uvas expostas, além de apresentação de bandas, parque de diversões e sorteio de bandejas de frutas, tortas e animais, como leitões e galinhas, gentilmente doados pelos habitantes da região.

Ah! Quem dera se eu fosse o sol,

para iluminar cada mente,

a lua, fugindo ao arrebol,

despertando um sonho cadente.

Ou, quem sabe aquele jardim,

pra florir todo pensamento,

o pensar colhendo jasmim,

e do mal ter libertamento.

Águas da cascata para a alma,

limpando qualquer incerteza,

pondo lá no fundo algum trauma,

para o bem fluir na correnteza.

Porém, sei que sou universo,

com ares puros de utopia,

e que fui transformado em verso,

para ser lido em poesia.

Este espaço é destinado ao poema do leitor. Envie sua colaboração para o e-mail do Almanaque Gaúcho.

PIADA

- Joãozinho, você precisa parar de mentir! - Mãe, eu não minto, eu só sou criativo com a verdade!

DIA 3 É

Dia da Navegação do Rio São Francisco santos do dia 3 Brás, Oscar

DIA 4 É

Dia Mundial do Câncer

SANTOS DO DIA 4

João de Brito, Joana de Valois, Catarina de Ricci, Gilberto, André Corsini

PAULO VARGAS

03 DE FEVEREIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

NAVEGAR É PRECISO

A festa de Nossa Senhora dos Navegantes na sexta-feira me leva a lembrar os navegadores portugueses e espanhóis que, nos séculos 15 e 16, ao sulcar os mares, literalmente abriram portas ao mundo.

Camões os imortalizou num poema inesquecível, Os Lusíadas, tornando a língua portuguesa um dos idiomas do Ocidente. Desapareceram os diferentes dialetos e o poeta ainda ironizou a velha visão de que a Terra terminava num abismo?

É impossível saber hoje como aqueles pequenos barcos a vela, sem qualquer motor, sem bússola nem telégrafo, se moviam de um ponto a outro em viagens de longos meses, guiando-se pelas constelações. As estrelas são visíveis apenas à noite, tornando impossível saber como se guiavam durante o dia. Mais ainda: como se abasteciam de água potável e alimentos?

Já não indago sobre como se banhavam, algo que naquela época era pouco usual, mesmo sendo necessário? Atualmente, não damos um passo sem consultar o telefone celular, avisando onde estamos e em quanto tempo vamos chegar.

Já pensaram como seria se Pedro Álvares Cabral tivesse um celular? Poderia avisar aos indígenas (que, na certa, também teriam celular) a data de chegada e dizer que levava algo milagroso que reproduzia a imagem de quem o olhasse. Nem precisava dizer que se chamava "espelho", bastava o objeto em si para o deslumbramento e, depois, a dominação?

É possível que o único alfabetizado fosse o escrivão da esquadra, Pero Vaz Caminha, que, ao aqui chegar, deslumbrou-se com a nova terra que "em se plantando tudo dá", como escreveu a El Rey de Portugal.

A Escola de Sagres, que formava os navegantes, não exigia que fossem alfabetizados, ainda que se compare ao que hoje é a Nasa nos EUA. Não sei se os yanomami ou outros indígenas têm celular. É brutal, porém, o trato que recebem dos garimpeiros que poluem com mercúrio os rios e águas de onde se alimentam e cozinham.

Ao aqui chegar, Cabral mandou celebrar uma missa como as de agora festejando os navegantes.

Por isso, navegar é preciso, já dizia o poeta Fernando Pessoa. Atualmente, não damos um passo sem consultar o telefone celular

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

03 DE FEVEREIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

CONCESSÕES EQUILIBRADAS

O grande desafio das concessões de sete trechos de rodovias federais no Rio Grande do Sul, confirmadas na quarta-feira pelo governo federal, será encontrar o ponto de equilíbrio entre os interesses da União, do Estado, dos usuários e das empresas que venham a explorar as vias. Deve ser buscado um modelo que concilie remuneração aos investidores, aportes para a melhoria nas estradas e tarifa em patamares razoáveis. Tudo para que os motoristas percebam uma boa relação custo-benefício da gestão privada.

Os trechos gaúchos incluídos no Plano Nacional de Desestatização (PND) incluem pontos na Região Metropolitana, como a nova ponte sobre o Guaíba, e segmentos das BRs 290, 158 e 392, no centro do Estado. No caso da 290, é uma parte após a extensão que está sendo duplicada com recursos do governo federal, entre Eldorado do Sul e Pantano Grande. As BRs 158 e 392, por sua vez, têm grande relevância para o agronegócio gaúcho. É por onde é escoada boa parte da safra de soja do Noroeste até o porto de Rio Grande. No sentido contrário, é significativo o movimento de fertilizantes importados até as lavouras.

São pontos de tráfego intenso e pesado. No caso da área da nova travessia sobre o Guaíba, ainda falta a conclusão de quatro das sete alças de acesso. Espera-se que a solução para este impasse, também dependente da remoção de famílias que vivem nos locais onde as obras precisam ser feitas, seja contemplada. Já nas estradas da Região Central, os motoristas notam que a manutenção do pavimento, também devido ao trânsito de muitos caminhões, deixa a desejar. Questionado por Zero Hora, o Ministério dos Transportes assegurou que serão evitados pontos de cobranças em trechos urbanos. É um bom começo para evitar maiores resistências.

Os motoristas do Rio Grande do Sul têm na lembrança os problemas originados do programa de concessões da década de 1990. Ainda hoje persistem pontos no sul do Estado, explorados pela Ecovias, com tarifas exorbitantes sem contrapartida em investimentos. Ao longo do tempo, porém, novas modelagens e experiências foram desenvolvidas no país, permitindo conciliar melhor os interesses de usuários, com justiça tarifária, e das concessionárias. 

Os concedentes, União e Estados, assim, também podem dispor de mais recursos para atender a áreas básicas, nas quais não podem abrir mão de atuar. Aguarda-se que esta nova rodada de concessões utilize conceitos que garantam esse equilíbrio e adote novas tecnologias que reduzam custos e tragam mais facilidades, como o free flow.

Mesmo que ainda exista resistência em relação aos pedágios, está mais do que evidente que o poder público não conta com recursos orçamentários suficientes ou gestão adequada para entregar aos motoristas estradas com maior capacidade e boas condições de trafegabilidade. Rodovias de maior qualidade significam mais segurança no trânsito e ganhos econômicos. 

O Rio Grande do Sul, bastante dependente do modal rodoviário, precisa de uma malha adequada para ser mais competitivo nas exportações e compensar a desvantagem logística de estar distante dos grandes centros consumidores do país. Novas modelagens e experiências foram desenvolvidas no país, permitindo conciliar melhor os interesses de usuários e das concessionárias

OPINIÃO DA RBS


03 DE FEVEREIRO DE 2024
+ ECONOMIA

Professor diz que governo Lula reverte melhoria nas contas

Depois que a coluna publicou uma análise do déficit primário de R$ 230,5 bilhões em 2023, o professor Marcelo Portugal, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) da UFRGS, enviou um longo e-mail em que afirma discordar da avaliação.

Sempre em nome da democracia e do debate de alto nível, a coluna publica as ponderações de Portugal, que ajudou a formar várias gerações de economistas do Estado. O principal ponto da discordância é o tamanho real do déficit do ano passado, descontadas as contas que haviam ficado pendentes de 2021 e 2022.

A principal é o pagamento dos precatórios, que foram "pedalados" com álibi legal de uma proposta de emenda constitucional aprovada em 2021. Escreve Portugal:

"Dos R$ 92,4 bi de precatórios, cerca de dois terços realmente têm como origem a PEC do Calote para pagamentos em 2021 e 2022. Mas tem outra parte, cerca de um terço, que é precatório de 2023, ou seja, pagamentos que realmente deveriam mesmo estar contabilizados em 2023. Na minha conta pessoal, o tamanho do déficit foi de 1,55% do PIB em 2023. O que representa os 2,12% menos o calote do Guedes só em 2021 e 2022".

Na opinião de Portugal, "o novo governo tomou uma decisão política de reverter um processo de melhoria das contas públicas que vinha sendo implementado desde o governo Temer".

Mercado da saudade

No mercado desde 1996, a Bom Princípio Alimentos conseguiu em 2024 dar um importante passo em seu processo de expansão internacional. Neste ano, a empresa passará a exportar seus produtos para os Estados Unidos.

A entrada no mercado norte-americano foi marcada pelo registro da Bom Princípio no FDA (Food and Drug Administration), órgão federal responsável pelo controle de alimentos, medicamentos, cosméticos e outros produtos nos Estados Unidos - e conhecido por seu algo grau de exigência. O registro obtido no órgão é essencial para poder atuar nesse mercado. No início das operações nos Estados Unidos, a empresa irá focar no "mercado da saudade", buscando atender aos brasileiros que residem no país. Vai oferecer produtos como doce de leite, recheios de frutas, goiabada cremosa e geleias de brilho para uso na confeitaria. Aos poucos, a Bom Princípio espera conquistar, além de brasileiros com paladar saudoso, também os americanos.

A estratégia de expansão passa por consolidar a empresa no cenário nacional e ampliar a presença no mercado externo. A empresa já exporta seus produtos para Guiana, Chile, Curaçao, Paraguai e Uruguai.

Além disso, no final de 2023, a Bom Princípio exportou seu primeiro contêiner para Angola. Os produtos serão vendidos em uma rede de supermercados local, que tem cerca de cem lojas parceiras. O mix de produtos exportados para o país africano inclui a tradicional chimia, creme de avelã e chocolate cremoso para comer de colher.

MARTA SFREDO




03 DE FEVEREIRO DE 2024
DADOS DO CENSO

Mais templos do que escolas e hospitais

O Brasil tem mais templos ou outros tipos de estabelecimentos religiosos do que a soma de instituições de ensino e unidades de saúde. É o que mostra levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado na sexta-feira, com base no Censo 2022. De acordo com a análise dos números, o país possuía 579,8 mil estabelecimentos religiosos em 2022, enquanto havia 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde. 

No Amazonas e em Rondônia, a proporção de estabelecimentos religiosos é o dobro da soma dos de ensino e saúde. São Paulo, Piauí e os Estados da Região Sul são as únicas Unidades da Federação cuja soma entre os estabelecimentos de ensino e de saúde superam os religiosos.

O levantamento foi feito a partir das coordenadas geográficas das espécies de endereços do Censo 2022, e que agora integram o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) do IBGE.

Segundo o instituto, o Brasil possuía 90,6 milhões de domicílios particulares e 104,5 mil de domicílios coletivos. Havia ainda 4,05 milhões de estabelecimentos agropecuários e 11,7 milhões com outras finalidades - como lojas, por exemplo. Em alguns casos, o mesmo endereço apresentava duas finalidades, podendo abrigar uma moradia e um estabelecimento comercial.

O Censo 2022 foi divulgado em junho do ano passado, e apontou que o país ultrapassou a marca de 203 milhões de habitantes. Apesar disso, o levantamento registrou o menor ritmo de crescimento de todo o período de análise, que data do fim do século 19.

Comparado à pesquisa anterior, de 2010, o Brasil teve taxa média de crescimento anual da população de 0,52% - a primeira abaixo de 1% e a menor registrada desde o primeiro levantamento feito no país, em 1872. 


03 DE FEVEREIRO DE 2024
SETOR AUTOMOTIVO

Montadora alemã anuncia R$ 16 bi em investimentos

O CEO da Volkswagen no Brasil, Ciro Possobom, anunciou na sexta-feira que a empresa investirá R$ 16 bilhões e lançará 16 novos carros no mercado até 2028. Ele deu as declarações na fábrica da montadora em São Bernardo do Campo, em cerimônia com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- Aos R$ 7 bilhões já anunciados até 2026, vamos adicionar R$ 9 bilhões aqui no Brasil - declarou o executivo. - É o maior investimento pós-pandemia de uma montadora no país - disse.

Segundo Possobom, a marca é a que mais "cresce, acredita e investe no Brasil". De acordo com ele, os novos carros lançados serão flex, híbridos e 100% elétricos. Conforme o executivo, o investimento anunciado "reforça a confiança da nossa marca no Brasil, o respeito pelos nossos colaboradores, e a nossa excelente relação com os sindicatos, que fecharam o acordo no final de 2023 fundamental para a concretização desses nossos investimentos".

Sindicalismo

Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin desfilaram em um carro aberto da Volkswagen dentro da fábrica. São Bernardo do Campo é o berço político de Lula, que emergiu para o cenário nacional como dirigente do sindicato dos metalúrgicos.

Em sua manifestação, o presidente pediu apoio internacional para países investirem no Brasil e auxiliarem na produção de hidrogênio, etanol e biodiesel. Na fala, o chefe do Executivo afirmou que nunca viu a Alemanha com tanto interesse em investir no país como está agora.

- Fui em 2023 para Dubai, Arábia Saudita, Catar e nunca vi tanto interesse em fazer investimento no Brasil. Venham, venham ajudar a gente produzir hidrogênio verde, etanol e biodiesel - disse.

Estratégia

O presidente da Volkswagen na América Latina, Alexander Seitz, afirmou que o investimento mostra a "confiança institucional" que a companhia tem no país.

- Estamos dando sinais claros da nossa confiança institucional nesse país e, mais do que isso, no potencial de crescimento da indústria (brasileira) - declarou.

De acordo com Seitz, o investimento está alinhado à estratégia global do grupo em se tornar uma empresa neutra em carbono até 2050.


03 DE FEVEREIRO DE 2024
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA As faces de Porto Alegre

A manchete desta edição revela mais uma face de Porto Alegre, que nos últimos anos tem se tornado referência em projetos e investimentos nas áreas de tecnologia e inovação. Prestes a sediar pelo terceiro ano seguido o South Summit - um dos maiores eventos globais de empreendedorismo -, a cidade aposta em novos mercados de trabalho, que vão além dos tradicionais.

Há uma semana, mostramos que o 4º Distrito (região que abrange os bairros São Geraldo, Navegantes, Floresta, Humaitá e Farrapos e se transformou em um centro de novos investimentos) vem se consolidando como um polo cervejeiro. Atualmente, Porto Alegre é a segunda cidade no país em número de microcervejarias artesanais.

Já a reportagem desta edição traz um outro perfil de negócios: os data centers. Como conta o repórter Marcelo Gonzatto, além de ser uma nova vocação econômica, esses centros de distribuição de informações digitais também estão ocupando espaços urbanos subaproveitados desde que as antigas fábricas deixaram de operar em bairros industriais da cidade, a exemplo das microcervejarias.

O jornalista Tércio Saccol, que apresenta o podcast Radar de Inovação, junto com o colega Eduardo Rosa, diz que acompanhar o tema da inovação com lupa é uma forma de apresentar a transformação da cidade e da sociedade, seja com soluções ambientais, educacionais ou tecnológicas.

- É nosso papel compreender como inovar em práticas e produtos impacta nossa realidade e molda o futuro - afirma Tércio.

O conteúdo sobre os data centers está no caderno DOC.

DIONE KUHN

sábado, 27 de janeiro de 2024



Atualizada em 25/01/2024 - 12h18min
MONJA COEN

A razão de viver

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que estimula você para a vida? Quem ou o que desperta sua alegria? Para quem ou para que se curva em reverência e respeito?

O portão de Shureimon, em Okinawa (Japão), onde a população é uma das mais longevas do mundo.

Há uma expressão japonesa, título inclusive de alguns livros e artigos em jornais e revistas, que significa dar vida à sua vida. Ikigai é essa expressão, composta de três caracteres japoneses ou kanjis, e pode ser traduzida como razão de viver, prazer na existência, força para sair da inércia.   

O que faz você se levantar todas as manhãs? O que faz você sair da cama, do sofá, da poltrona, da cadeira? O que anima, estimula você para a vida? Para quem ou para que você se levanta com alegria? Para quem ou para que você se curva em reverência e respeito?

Pesquisadores descobriram que a população de Okinawa, ao sul do Japão, é uma das mais longevas do mundo. Entre várias causas e condições, perceberam que em Okinawa as pessoas caminham bastante, ao invés de andar só de carros ou por transporte coletivo. Também se alimentam de produtos naturais, comem muitas verduras, arroz branco e peixes. Respeitam sua ancestralidade. 

Oram diariamente em seus altares familiares. Sentem gratidão e prazer na existência. Sentem vontade de viver, dar continuidade à vida que receberam de seus pais, e assim encontram razões para suas vidas nas coisas simples da rotina de trabalhar, cuidar da natureza, manter relações de amizade, encontrar tempo para o lazer e para os encontros familiares. 

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Você já procurou alguma razão especial para a sua vida? Algum propósito? Algo estimulante? Você sente energia vital ao despertar? Vontade de descobrir o que poderá aprender hoje ou o que poderá fazer de benéfico este dia?  

Entre várias sugestões sobre desenvolver Ikigai, está a de ser útil ao mundo, escolher um trabalho, uma atividade para estar com outras pessoas, atender ao público, quer seja na saúde, na educação, na prestação de serviços, na segurança, no afeto, no cuidado. Auxiliar outras pessoas em sua busca por sentido, por propósito. Envolver-se com pessoas que criam ideias para melhorar o mundo e cuidar do planeta. Podem ser grupos pequenos, com ações locais e simples de hortas comunitárias e reciclagem, por exemplo.

No Zen Budismo, dizemos que quem desperta se torna um militante pelas causas da equidade social e respeito ambiental. Mestre Dogen Zenji Sama, fundador da ordem Zen Soto no Japão, nasceu no dia 26 de janeiro de 1200. Sua procura incessante pelo despertar da mente, pela iluminação, pela sabedoria, procurando mestres e filósofos em outros países, fez com que se empenhasse nas práticas severas do Zen. 

Já no século 13 ensinava seus discípulos a respeitar a natureza. Certa vez, à beira de um riacho límpido, retirou uma concha de água e bebeu a metade. A outra metade devolveu ao riacho como exemplo de respeito a água.

Construiu mosteiros, criou uma ordem religiosa no Japão que continua viva até hoje, com milhões de seguidores no mundo todo. Mestre Dogen considerava o Zazen, sentar-se em Zen, em meditação, como a forma mais eficaz de autoconhecimento. Como fazer com que todos pratiquem Zazen? Como fazer com que todos despertem e se tornem senhores e senhoras de si?

Ikigai não significa ter posições sociais elevadas, reconhecimento público, comidas raras, lucro, fama, seguidores, lauréis. É estar presente no agora e apreciar o aqui.

Uma grande pianista argentina, Martha Argerich, com mais de 80 anos, foi entrevistada por sua filha, recentemente: "Mãe, por que você nunca se importou em aceitar prêmios pelos seu trabalho?". Martha respondeu: "Prêmios se referem ao passado, ao que já foi e não sou mais. Vida é viver o presente".

Lembrei-me de um amigo que conheci em Los Angeles há mais de 40 anos. Quando perguntavam a ele qual a razão e sentido de viver, Walter Sheetz, de 86 anos, singelamente respondia: "O sentido da vida é viver".

Mãos em prece