sábado, 7 de setembro de 2024


Tiro no pé

Após acompanhar incontáveis embates políticos, formei uma convicção: não há ataque a adversários mais eficaz do que a exposição crua dos atos do alvo das críticas, o popular tiro no pé. Quando esses atos saem do plano do razoável para serem regidos por uma escala que vai do exagero ao estrambólico, o desgaste de imagem pode ser devastador.

Hoje, ninguém sabota mais a imagem de Alexandre de Moraes do que ele próprio. Numa gradação que foi perdendo o senso de medida contra a ameaça de golpe já há quase dois anos, o ministro incorporou o messianismo de um salvador da pátria e se deixou levar para o poço onde se imolam reputações. Com seus limites borrados, Moraes passou a inventar ritos legais, como punir todos os acionistas da Starlink porque Elon Musk é um dos proprietários. No fim, acabou substituindo o bisturi pelo martelo em cirurgias jurídicas de um não declarado estado de emergência judicial.

Moraes pode ter, e tem, as bases legais para banir o X do Brasil, uma vez que a lei determina que todas as plataformas devem manter representante no país. O problema não está aí, mas na origem da espiral de abusos que se acumulam desde que ele passou a enfeixar os poderes da República. Não tivesse Moraes emitido decisões secretas, censurado um senador, por mais vil que seja, e a filha de um desafeto da democracia, provavelmente não teria dado palco para o ego infinito de Elon Musk, oxigenado as ventas da extrema direita e contribuído para engordar as manifestações deste sábado.

A questão pode parecer complicada mas no fundo se trata de uma lógica simples. Pela Constituição, não há - ou não poderia haver - censura prévia no Brasil. Em abusos da liberdade de expressão, a punição deve ser, portanto, a posteriori, como na incitação a crimes. A priori, a censura só existe neste infindável e enviesado inquérito das fake news. Agora, como ocorre em países autoritários, se cassa também o direito de 22 milhões de brasileiros se expressarem e obterem o conteúdo que lhes aprouver em uma rede social, por mais nauseabunda que tenha se tornado.

Elon Musk não merece crédito em sua defesa seletiva da liberdade de expressão. Mas, aos olhos do mundo, Moraes furou o teto do bizarro e, sacramentado por colegas de toga, escorregou no ridículo ao proibir que brasileiros acessem o X via VPNs. Se nem China nem Cuba conseguem conter os dribles no ferrolho estatal, não será no Brasil que surgirá uma manada disposta a cumprir sem piar a censura judicial.

E agora estamos assim: para salvar o Estado de direito plantam-se sementes de um Estado de exceção. Não precisamos dele, nem do redespertar do extremismo por quem se dispôs a enfrentá-lo. _

MARCELO RECH


07 DE SETEMBRO DE 2024
EDITORIAL

Repto aos brasileiros

O Brasil chega ao 7 de Setembro de 2024, nas celebrações de 202 anos de independência, com dois de seus mais importantes desafios mostrando-se de forma explícita nesta exata data. Resta claro que, a despeito da consciência de parcela da sociedade quanto aos malefícios presentes e riscos no futuro, pouco de efetivo é feito para verdadeiramente superá-los.

Um deles é a crise climática, que emerge em fúria, antecipando cenários previstos pela ciência para algumas décadas adiante. O país arde em chamas pelas queimadas. A proliferação do fogo, em alguns casos por mãos criminosas, é facilitada pela maior seca já registrada, conforme atesta o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). A fumaça cobre vários Estados e traz danos à saúde. O longo estio prenuncia dificuldades na produção de alimentos e de energia, com reflexos na economia e na inflação.

Ao mesmo tempo, o desfile cívico-militar, neste sábado, em Brasília, reverenciará os esforços em torno do apoio ao Rio Grande do Sul após a mais destruidora tragédia climática vivida pelo país, só que causada pelo outro extremo, o de excesso de chuva. O governador Eduardo Leite estará em Brasília para o evento. Helicópteros do Exército estarão ausentes da parada. Estarão em missão, combatendo incêndios.

Em outra dimensão, o país segue longe da pacificação, como ilustra a manifestação deste sábado convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e apoiadores em São Paulo, pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Protestos de rua ordeiros, excluindo-se eventuais incitações a rupturas, são parte da democracia. Mas o ato é sintoma a evidenciar que segue em brasas a polarização política, o mal-estar entre poderes e a desconfiança de camadas da sociedade com as instituições.

Os grandes desafios diante do Brasil, em nome do desenvolvimento sustentável e do apaziguamento, são superar a extrema cisão social e os danos no convívio civilizado entre os cidadãos e construir consensos e iniciativas práticas para melhor preparar o país na prevenção e no combate aos extremos do clima. Em ambos os aspectos está presente a constatação de que resignar-se com os fenômenos de mais alto grau de virulência é uma omissão que a geração atual não pode legar para as vindouras. É vital recuperar o respeito e a confiança entre os indivíduos e destes para com as instituições da República, que precisam ser fortalecidas para bem exercerem o papel de esteio da democracia, a serviço de todos os brasileiros.

Divisões ideológicas profundas, enxurradas e ondas de temperaturas escaldantes são uma realidade global, é verdade. Mas o país, pelo histórico de tolerância da população e pelos ativos ambientais únicos, tem condições plenas de converter-se em um farol a iluminar o caminho para um futuro de transigência em relação às diferenças de pensamento e de transição para uma economia mais verde, a fim de evitar que o planeta se torne um lugar tão hostil quanto se teme neste momento. Cabe à sociedade demonstrar, com genuíno patriotismo, disposição para responder a este repto e cumprir o destino assinalado em trecho do Hino da Independência que sentencia que "do universo entre as nações/resplandece a do Brasil". 


07 DE SETEMBRO DE 2024
MOBILIDADE URBANA - Gabriela Plentz

MOBILIDADE URBANA

Trensurb detalha como irá funcionar operação a partir do dia 20

A Trensurb detalhou nessa sexta-feira como será a retomada da operação até a Estação Farrapos. A partir do dia 20, os trens voltam a circular em Porto Alegre, entre as 5h e as 23h, com intervalos de 15 minutos.

A tarifa de R$ 4,50 permanecerá sendo cobrada, incluindo o transbordo até o centro de Porto Alegre. Os ônibus vão sair da parada ao lado da Estação Farrapos e parar apenas no terminal Júlio de Castilhos, no Centro Histórico.

A empresa que irá realizar esse serviço será definida em licitação. A previsão é que o edital seja publicado na próxima semana, com resultado ainda antes do dia 20. O documento estipula a contratação de 310 viagens por dia, podendo ser ampliada ou reduzida.

Com a mudança, o contrato vigente com a Transcal deve ser encerrado. A estimativa da Trensurb é que o número de pessoas que utilizam o ônibus diminua em comparação aos que precisam atualmente do transporte desde a Estação Mathias Velho, em Canoas.

Subestações de energia

Nesta sexta, a empresa também publicou um edital no valor de R$ 120 milhões para a recuperação das três subestações de energia - Farrapos, em Porto Alegre, e São Luís e Fátima, em Canoas. O objetivo é reconstruir as estruturas com cota elevada para garantir que os equipamentos não sejam afetados por novas inundações.

Apenas a subestação São Luís está funcionando, ainda com 50% da capacidade. A circulação dos trens até a Estação Mercado depende dessa recuperação da subestação de energia na Farrapos.

A meta da empresa é que o serviço seja restabelecido até 24 de dezembro. Entretanto, a diretoria da Trensurb reconhece que o cumprimento do prazo depende da contratação da empresa que irá recuperar as estruturas de energia.

- Nós temos três tarefas: recuperar a via permanente (os trilhos), recuperar as obras civis e recuperar, pelo menos, uma subestação de energia que vai nos dar combustível para a frota chegar até o Mercado. Não sabemos como vai ser o comportamento do mercado, mas queremos ter, no dia 27 de setembro, um vencedor do certame. Esse vencedor vai ter dois meses para recuperar a subestação Farrapos, em cota elevada - afirmou o presidente da Trensurb, Ernani Fagundes.

Antes da enchente, a Trensurb transportava cerca de 116 mil pessoas por dia, mas o público caiu para 60 mil. Com o retorno da Estação Farrapos, o número deve chegar a 100 mil. 


07 de Setembro de 2024
DADOS DO IBGE

DADOS DO IBGE

RS tem a maior taxa de moradores em asilos

Dados do IBGE

Estado é o único onde mais de 200 habitantes a cada grupo de 100 mil vivem nessas instituições. São 22,3 mil pessoas, segundo o censo. Maioria é de mulheres com idade acima de 80 anos

A cada 100 mil moradores do Rio Grande do Sul, 205,4 residem em asilos ou outras instituições de longa permanência para idosos. A média nacional é de 79,2. O Estado é o único em que a taxa passa dos 200.

Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que lançou na sexta-feira um novo panorama do Censo Demográfico 2022.

O levantamento traz número e perfil de moradores por tipo de domicílio particular improvisado e por tipo de domicílio coletivo, bem como o número de domicílios vagos e de uso ocasional. Conforme a definição adotada pelo órgão, os domicílios coletivos são instituições ou estabelecimentos onde a relação entre as pessoas que nele se encontravam, na data de referência, era regida por normas de subordinação administrativa.

O perfil

Os asilos e outras instituições de longa permanência se encaixam nesta categoria. Foram contabilizadas em 2022, no total, 22,3 mil pessoas vivendo nesses estabelecimentos no RS.

Dos gaúchos que residem nesses locais, 49,5% possuem 80 anos ou mais, sendo que a maioria é de mulheres. Das 22,3 mil pessoas, 66,7% são mulheres (14,9 mil).

- Esse dado é dentro do esperado, pelo fato de o RS ser um dos Estados mais envelhecidos do país, com o Rio de Janeiro. Estes são os únicos dois Estados em que o quantitativo de idosos com mais de 60 anos já é maior do que a população de jovens de zero a 14 anos, levando em consideração o censo de 2022 - explica o gerente substituto de planejamento e gestão técnica do IBGE, Luís Eduardo Puchalski.

Em todo o Brasil, são 161 mil pessoas vivendo em asilos ou instituições de longa permanência para idosos, o que equivale a 19,2% dos moradores de domicílios coletivos e 0,1% da população do país. _

Sofia Lungui Beatriz Coan

07 de Setembro de 2024
ACERTO DE CONTAS-Giane Guerr

acerto das (tuas) contas

O inferno das tentativas de golpe contra os MEIs

Uma avalanche de tentativas de golpe caiu sobre a colunista aqui após o registro de um CNPJ como microempreendedora individual (MEI). Vão desde torpedos de SMS a e-mails com links falsos para fazer pagamentos que, segundo dizem as mensagens, estariam atrasados. A primeira mensagem chegou exatos 15 minutos após a emissão do primeiro documento no sistema Gov.br, do governo federal. Nos três dias posteriores, foram mais de 30 - infernais - ligações. E não só de criminosos, mas também de empresas "sérias" oferecendo serviços por ser uma "nova empresária".

Como os golpistas têm acesso a esses dados? Vazamento do sistema ou de pessoas que trabalham internamente nos órgãos. A aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não é eficiente. Bom, resta ao pequeno empreendedor manter-se informado para não cair nas armadilhas. Ao lado, os seis golpes mais comuns contra MEIs. _

1 - Sites falsos para abertura de MEI

Parecidas com os portais oficiais do governo, páginas falsas cobram para criação do MEI. O processo, porém, é sempre gratuito, e feito pelo portal Gov.br.

2 - Golpe DAS-MEI

Criminosos enviam guias falsas de pagamento. O DAS verdadeiro não chega pelos Correios, SMS, WhatsApp ou e-mail. O usuário precisa emitir sua guia mensal no Portal do Empreendedor.

3 - E-mails para retificação

Desconfie de e-mails que pedem correções nas declarações. Ministério do Empreendedorismo e Receita Federal não enviam sem autorização da pessoa.

4 - Cobranças de taxas associativas

E-mails têm cobranças falsas de entidades, associações ou sindicatos. O MEI não precisa ser filiado a nada para atuar.

5 - Propostas de empréstimos

Não aceite empréstimos oferecidos em abordagens por WhatsApp, SMS e redes sociais. Se precisar, procure pelos canais oficiais de empresas consolidadas da área financeira.

6 - Boletos falsos

Não pague boletos enviados por e-mail, correio ou mensagens de celular. Pague somente a guia mensal emitida pelo portal Gov.br.

O alerta colorido e direto feito pelo BC

Às apostas - esportivas ou não -, a coluna ainda acrescentaria os títulos de capitalização e as frações de imóveis vendidos em multipropriedade.

A pessoa pode colocar seu dinheiro neles por lazer, entretenimento ou mesmo vício, mas jamais pode esperar retorno financeiro. _

Depósitos do FGTS

Voltará a ser depositado agora em setembro o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de trabalhadores de empresas atingidas pela enchente que suspenderam o recolhimento, uma das medidas do governo federal para desafogar o caixa dos negócios. Leitores estavam estranhando a falta de pagamento. A suspensão do recolhimento pegou de abril a julho, montante que será depositado em seis vezes a partir de outubro. Ou seja, por seis meses, o trabalhador receberá os 8% usuais do salário do mês, mais uma prestação. Entre os municípios da medida, está Porto Alegre. _

Natural e econômica

Consumidor verde

ACERTO DE CONTAS

07 de Setembro de 2024
POLITICA - Paulo Egídio

Política e poder

Onyx apoia adversários do PL e gera reação

Vivendo um período sabático na Europa desde o ano passado, o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) está em um périplo pelo Rio Grande do Sul para participar de atos de campanha e apoiar candidatos. Alguns desses movimentos provocaram irritação no PL, em razão do apoio do ex-ministro a adversários locais do partido.

O caso mais ruidoso ocorreu em Caxias do Sul, onde Onyx gravou vídeo em apoio a Edson Néspolo (União Brasil), que concorre a vice-prefeito de Adiló Didomenico (PSDB), em detrimento ao candidato à prefeitura pelo PL, Maurício Scalco. A atitude suscitou a ira dos liberais caxienses. Scalco, que além de candidato dirige o PL local, enviou ofício às direções estadual e nacional dizendo que o ato é "inaceitável" e provocou desgaste na imagem do partido, e pedindo a expulsão do ex-ministro do quadro de filiados por desrespeito à disciplina partidária.

Em Gravataí, Onyx também contrariou a opção formal da sigla ao participar de ato de campanha de Marco Alba (MDB). Na cidade, o PL está na coligação de Luiz Zaffalon (PSDB).

Outro foco de reação é Novo Hamburgo, onde a legenda apoia Gustavo Finck (PP), mas Onyx participaria na sexta-feira de jantar convocado por um movimento conservador no qual estaria a candidata Tânia da Silva (MDB). Em nota, o PL local diz que a ação configura infidelidade partidária e é passível de expulsão.

Em contraponto, Onyx afirma que está rodando o Estado para apoiar pessoas nas quais acredita e demonstrar gratidão a quem foi leal a ele - caso de Alba, que contrariou orientação do MDB ao apoiar o ex-ministro na campanha ao governo do Estado em 2022.

- Em Caxias, eu não conheço as pessoas (do PL), e não posso negar o pedido de um amigo de 20 anos, que tem grande potencial e é um grande gestor. As pessoas que hoje estão me criticando nunca conversaram comigo - afirma.

Gratidão e coerência

Minimizando os pedidos de expulsão, que têm chances remotas de ir adiante, Onyx lembrou que foi um dos fundadores do PL gaúcho em 1987 e um dos primeiros políticos a marchar ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, a partir de 2017.

- Nunca construí relações políticas de ocasião, e hoje tem muita gente surfando onda e caçando likes. Sou coerente com o que defendo e gosto de ver pessoas que, mesmo em partidos que não são o meu, levem adiante nossos princípios e valores. _

Aliás

Nas viagens que fez até agora pelo Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni já passou por cerca de 30 cidades, e pretende visitar outros 80 municípios até o dia da eleição. O plano do ex-ministro é retornar de "mala e cuia" ao Brasil no ano que vem, para preparar o caminho para a disputa eleitoral de 2026, na qual almeja concorrer novamente ao Palácio Piratini.

Sem dourar a pílula

A nota oficial que comunicou a demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos após denúncias de assédio a mulheres usou um tom surpreendentemente duro, incomum em episódios de queda de ministros.

Trecho do comunicado emitido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República diz que o presidente Lula "considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual".

A nota deixa claro que a demissão ocorreu por decisão de Lula e não faz qualquer menção de agradecimento ao trabalho de Almeida no ministério, que liderou por um ano e oito meses.

Leite oferece plataforma estadual para devolver IPI

O governador Eduardo Leite propôs ao governo federal o uso de plataforma do Estado para devolução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de móveis e eletrodomésticos da linha branca para famílias atingidas pela enchente.

A sugestão, que consta em ofício enviado ao Palácio do Planalto, é uma alternativa ao veto do presidente Lula ao projeto de lei que isenta o tributo federal dos gaúchos afetados pela calamidade.

No veto, Lula diz que o projeto criaria "renúncia de receita sem previsão na lei orçamentária" e a isenção poderia ser apropriada "sob a forma de aumento de margem de lucro dos produtores ou fornecedores".

A saída apontada por Leite seria a devolução do IPI via Pix, usando a ferramenta por onde já é feita atualmente a devolução do ICMS (tributo estadual) para compras do mesmo tipo de produtos, como geladeiras e fogões:

- O governo do Estado já está fazendo isso, e a gente quer que os impostos federais possam ser incluídos utilizando a nossa plataforma.

A sugestão foi anunciada em vídeo, gravado por Leite em São Paulo, durante participação em evento promovido pela Câmara de Comércio Americana, no qual palestrou a empresários sobre iniciativas de adaptação e resiliência climática (foto).

O ofício com a proposta foi encaminhado um dia antes do novo encontro entre Lula e Leite em Brasília, neste sábado, no desfile do Dia da Independência. _

Sem direito de resposta

A Justiça Eleitoral negou direito de resposta ao proprietário da Pousada Garoa, André Luís Kologeski da Silva, na propaganda de Maria do Rosário (PT). Kologeski alegou ter sido vítima de difamação em um programa no qual o ex-prefeito José Fortunati (PV) critica as condições da pousada que pegou fogo em abril e deixou 10 mortos.

Kologeski ainda pediu indenização de R$ 20 mil por danos morais, mas o juiz José Ricardo Sanhudo ponderou que o pleito não é de competência da Justiça Eleitoral. _

Retirada e multa

Em outra ação, o juiz José Ricardo Sanhudo determinou a remoção de postagens com propaganda negativa contra o prefeito e candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB) que haviam sido impulsionadas nas redes sociais.

As publicações foram feitas pela vereadora Karen Santos (PSOL), que também tenta se reeleger, e criticavam o transporte público municipal.

Os advogados de Melo ingressaram com ação alegando que a lei eleitoral proíbe o impulsionamento de propaganda negativa. O juiz mandou retirar os posts e impôs multa de R$ 5 mil a Karen. _

Juiz barra
Fábio Branco

Sentença do juiz eleitoral Fernando Aranalde indeferiu o registro de candidatura de Fábio Branco (MDB), prefeito e postulante à reeleição em Rio Grande.

A impugnação foi movida pelo Ministério Público Eleitoral visto que, em 2023, Branco foi condenado em segunda instância por improbidade administrativa e teve os direitos políticos cassados por oito anos.

A coligação de Branco vai recorrer aos tribunais superiores para reverter a decisão. "Assim como aconteceu em eleições anteriores, a tentativa local não irá prosperar", afirma nota. _

mirante

Integrantes do MDB de Santa Maria enviaram representação ao diretório estadual pedindo a expulsão do deputado federal Osmar Terra por infidelidade partidária. Um dos argumentos é o apoio de Terra à candidatura de Roberta Leitão (PL) a prefeita. Na cidade, o MDB indicou a vereadora Magali Rocha para concorrer a vice na chapa de Giuseppe Riesgo (Novo).

O Novo convocou atos pelo impeachment do ministro do Supremo Alexandre de Moraes em Porto Alegre e em outras cidades neste sábado. A atitude contraria pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro de concentrar o protesto em São Paulo.

A Câmara de Porto Alegre promulgou lei do vereador João Bosco Vaz (PDT) que proíbe uso exclusivo de cardápios digitais em bares e restaurantes.

POLITICA

07 de Setembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

As diferenças entre os casos envolvendo ministros

O relato de denúncias de assédio sexual envolvendo o ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, sofrido pela ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, é o terceiro caso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem de lidar com problemas de seus auxiliares na Esplanada dos Ministérios.

Os outros foram com a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e com o titular das Comunicações, Juscelino Filho. Mas ambos os fatos diferem do caso atual.

Daniela do Waguinho, que deixou o governo em junho de 2023, teve no começo daquele ano um vídeo publicado nas redes sociais que gerou polêmica. Nas imagens, ela recebia o apoio eleitoral de Márcio Pagniez, também conhecido como Marcinho Bombeiro, que é acusado de chefiar milícia da Baixada Fluminense (RJ). Ao mesmo tempo, desfiliou-se do União Brasil, partido ao qual pertencia, e a sigla reivindicou o cargo.

Juscelino Filho também apresentou episódios desde o início do mandato. Logo após assumir o ministério, ele utilizou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para cumprir agendas pessoais e recebeu quatro diárias e meia. Juscelino também foi acusado de ter embolsado parte de outras diárias de viagens nacionais e ao Exterior ao cumprir alguns compromissos oficiais.

Em fevereiro de 2023, foi divulgado que o ministro deixou de informar ao Tribunal Superior Eleitoral um patrimônio de R$ 2,2 milhões em cavalos. A mais recente denúncia é por suspeita de integrar organização criminosa que desviou verbas de obras de pavimentação de estradas com recursos estatais. Apesar dos casos, Juscelino segue no ministério.

O episódio envolvendo Almeida e Anielle difere dos demais. Isso porque o tema de assédio sexual é tido como "pauta cara" para o governo Lula. Por vezes, os discursos do presidente e do PT foram de ênfase contrária ao crime, repudiando o ato em qualquer esfera que fosse.

Logo após as denúncias se tornarem públicas, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto divulgou nota afirmando que elas são graves e que o caso será tratado com celeridade. Também, que Almeida prestasse esclarecimentos à Controladoria Geral da União (CGU). A Polícia Federal abriu investigação para apurar as suspeitas.

Na sexta-feira, Lula disse em entrevista que o governo tem "prioridade em fazer com que as mulheres se transformem numa parte importante da política".

- Não é possível a continuidade no governo, porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso, a defesa das mulheres, a defesa, inclusive, dos direitos humanos com alguém que esteja sendo acusado de assédio - acrescentou.

Almeida nega as acusações. Ele foi exonerado do cargo diante uma dura nota. O tema se torna, de novo, central na pauta do governo e deve ser apurado, como nas próprias palavras do Planalto, com celeridade. _

Donald Trump venceu a briga com Kamala Harris sobre as regras no debate da terça-feira. Quando um adversário estiver falando, o microfone do opositor será silenciado. A democrata queria os aparelhos sempre ligados.

Entrevista - Jorge Meza
Representante da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil

"O país está no caminho certo"

Em 2022, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Já em 2023, a insegurança alimentar severa caiu 85% no país. A coluna conversou com Jorge Meza, representante da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil, sobre como sair deste cenário.

O que levou ao Brasil a voltar para este cenário em 2022?

Choques simultâneos como a pandemia de covid-19, como as rupturas nas cadeias globais de valor, e conflitos como guerras, levaram a uma alta inflação e a um aumento da fome no mundo. No Brasil, que havia saído do Mapa da Fome em 2014, os reflexos foram observados em 2021. Importante lembrar que a fome não se dá por falta de produção de alimentos. Trata-se de uma contradição: o país é um grande produtor, mas nem sempre os produtos cheam ao prato da população de forma acessível. Nos últimos anos, as políticas públicas se estruturaram, contudo, frente aos choques, não deram conta.

Em 2023, a insegurança alimentar no país teve queda de 85% . O que mudou?

Os resultados do Brasil estão associados a uma série de políticas públicas. Hoje, o Programa Bolsa Família atinge cerca de 21 milhões de famílias. O Programa Nacional de Alimentação Escolar atende mais de 40 milhões de alunos. A integração desses programas, somados aos bancos de alimentos, aos restaurantes e às cozinhas solidárias, são exemplos que políticas públicas podem fazer a diferença. O Brasil está trabalhando em duas vias: ações imediatas para ajudar às pessoas a se alimentarem, e estruturais, estabelecendo geração de renda.

O que é necessário para o Brasil sair do Mapa da Fome?

As medidas implementadas até aqui mostram que o país está no caminho certo e que pode ser referência para outras regiões. Porém, ainda há desafios pela frente. Além de alcançar fome zero, é necessário melhorar a resiliência da população frente a choques externos. A fome não pode ser combatida apenas com o aumento da produção. É necessário garantir que esses alimentos sejam acessíveis e nutricionalmente adequados. 

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 4 de setembro de 2024


04 de Setembro de 2024
CARPINEJAR

Será o último capítulo?

Será o derradeiro capítulo de uma das maiores tragédias gaúchas? Onze anos depois, podemos finalmente ter justiça no caso da Boate Kiss, um incêndio em que 242 jovens, na maior parte universitários, morreram sufocados, sem chance de socorro, e 636 ficaram com sequelas devido à queima de espuma acústica por artefatos pirotécnicos lançados do palco.

Podemos finalmente ter paz. Paz e justiça é o que centenas de famílias, uma cidade inteira e o nosso Estado aguardavam ansiosamente.

Ninguém mais aguentava tanta impunidade. Uma omissão histórica vergonhosa, barulhenta e incômoda, cheia de reviravoltas e frustrações.

O Supremo Tribunal Federal (STF) não concordou com o Tribunal de Justiça (TJRS), que havia anulado o júri realizado em dezembro de 2021 sob a alegação de problemas técnicos - o julgamento mais longo da história do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul resultara na condenação dos quatro réus a penas de 18 a 22 anos de prisão.

O ministro Dias Toffoli reverteu, em despacho dessa segunda-feira, a nulidade do júri do caso da Boate Kiss, atendendo a recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e do Ministério Público Federal (MPF). Também determinou o retorno à prisão dos quatro réus.

Entre os próximos e hipotéticos passos, pode ocorrer eventual necessidade do posicionamento de Dias Toffoli em plenário, para aval da turma do STF. Em seguida, o processo regressa para as tratativas finais do TJRS.

A notícia coincide com a demolição do prédio onde funcionava a casa noturna em Santa Maria. Será transformado em memorial em homenagem às vítimas, com o objetivo de preservar a memória e conscientizar a população sobre prevenção. O espaço contará com um jardim circular ao centro, rodeado por 242 pilares de madeira, com suportes de flores, eternizando o nome de cada vítima.

Era a última pedra a ser derrubada do ignominioso passado.

- É um alívio, mesmo sabendo que foram dois anos absolutamente desnecessários, que somente apertaram ainda mais a nossa dor. Se a gente não corresse atrás, não gritasse, não cobrasse, nada seria feito. Foi uma pequena grande vitória de uma batalha que vem consumindo nossas sanidades e velhices - diz Flávio Silva, da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).

Aliás, pedras formam a simbologia da perda de Flávio. A filha Andrielle partiu quando ela comemorava 22 anos na Kiss, com as amigas. Foi um aniversário que se converteu em impactante velório.

A despedida de sua filha se desenrolou na véspera da tragédia, durante um almoço familiar no pátio de casa, numa pacata quinta-feira. Enquanto ele preparava e temperava os galetos, Andri cortava a grama e montava a churrasqueira. Ele se lembra da adolescente animada, colocando caprichosamente um tijolo sobre o outro. Parecia que ela construía o seu futuro, tinha recém sido aprovada no vestibular para Design Industrial. Com longos cabelos pretos caindo na testa, um piercing brilhando no lábio, ela ria. Flávio ainda chora com aquele riso. _

CARPINEJAR

04 de Setembro de 2024
MÁRIO CORSO

Reveses da demência

Existe um incremento de pedidos de tratamento psicológico por um motivo específico: como lidar com a demência dos pais. São filhos exaustos e confusos. Geralmente já peregrinaram por médicos, que pouco puderam fazer a respeito de seus pais. Quando há um remédio, é apenas para retardar o inevitável.

Essa condição é consequência de uma boa notícia: estamos vivendo mais. Porém, nem sempre corpo e cérebro andam no mesmo compasso. Enquanto houver equilíbrio é uma felicidade, os avós poderem acompanhar a vida de seus netos. O convívio entre gerações é história viva.

Para a maioria tudo termina bem, mas, para outros, chega uma conta pesada. Exige uma maturidade, que nem sempre temos, para assistir ao declínio físico dos nossos pais. Os gigantes que nos cuidaram, que nos erguiam nos braços, agora se seguram nos nossos. Mas é da vida, e é um prazer estarmos ali. Já, para o declínio cognitivo deles, é ainda mais difícil, não temos defesa.

O inimigo é desleal, impalpável, se esgueira pelos cantos das palavras. Parece que não entendemos bem o idoso, e deixamos por isso mesmo. Custamos a acreditar no lento desligamento deles. Apelamos ser estresse, um sentido vago que diz tudo e nada.

É comum que os declínios comecem por uma queixa repetida de estar sendo roubado. A reclamação é genérica, mas existe forte convicção que algo está lhe sendo subtraído, e que alguém seria o culpado. De certa forma, o idoso tem razão, a vida como ele conhece está indo embora. O tempo é um ladrão impiedoso.

Um dia chegamos em sua casa, para uma combinação, e o idoso está surpreso. Teima que não foi avisado. Tem certeza que ninguém lhe falou nada do assunto. Se nega a ver no telefone suas próprias mensagens sobre o evento.

Importante notar que, primeiro, ele não está mentindo; segundo, é bem provável que ele não esteja em condições de fazer uma reflexão sobre o acontecido. Por favor, não insista. Ele realmente não tem registro das conversas anteriores.

Aqui entra nossa maturidade. Saber lidar com alguém que não conserva memórias recentes. Sem meias palavras, é enlouquecedor, pois foge a tudo que é razoável. Enfrentamos a crueldade de assistir à perda de um ente querido em conta-gotas. _

MÁRIO CORSO

04 de Setembro de 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

Perspectivas positivas

O bom momento da economia nacional é um alento para o Rio Grande do Sul em sua luta para se recuperar dos prejuízos causados pela enchente de quatro meses atrás. Como virou rotina no pós-pandemia, a atividade no país surpreendeu e, no segundo trimestre de 2024, voltou a crescer acima do esperado. Conforme o IBGE, de abril a junho, o PIB do país avançou 1,4% ante o intervalo de janeiro a março. A mediana das expectativas era de 0,9%. No acumulado do ano, a alta chega a 2,9%. A despeito de uma possível desaceleração no segundo semestre, os resultados deflagraram novas rodadas de revisão para cima das projeções do PIB para o fechamento de 2024. Agora, situam-se ao redor de 3%.

Seria bem mais penoso para o Estado se reerguer se a atividade econômica no restante do país cambaleasse. O RS é um dos mais importantes produtores de alimentos, e o desemprego baixo e a renda em elevação impulsionaram o crescimento de 1,3% no consumo das famílias no segundo trimestre. A indústria avançou 1,8% e sabe-se que o Estado é um dos principais polos fabris do Brasil. Outra boa notícia veio da formação bruta de capital fixo, que mostra o ritmo dos investimentos produtivos. Subiu 2,1%. O Estado é um relevante fabricante de bens de capital. Sinaliza demanda aquecida.

Outros indicadores regionais, no mesmo sentido, apontam para uma retomada, embora o Estado siga distante de um reerguimento pleno e o ritmo de recuperação seja diferente entre os setores. O próprio IBGE mostrou que, em junho, a indústria gaúcha cresceu 34,9% ante maio. No mês da enchente, o tombo foi de 26,2%. Conforme a Fiergs, a produção também subiu em julho e as perspectivas são mais positivas para o restante do ano. Também em julho, o RS abriu 6,7 mil empregos com carteira, após perder 30,5 mil entre maio e junho. O desempenho da Expointer, com um novo recorde de comercialização, de R$ 8,1 bilhões, é outra evidência da volta da confiança. Assim como a expectativa de uma safra de grãos de verão de 35 milhões de toneladas.

Ainda assim, há fatores condicionantes que atrasam a reabilitação econômica e limitam a possibilidade de o Estado tirar melhor proveito do cenário nacional. Entre eles, as dificuldades para as empresas afetadas acessarem crédito para retomar operações. A infraestrutura ainda longe de ser completamente recuperada também atrapalha o escoamento e o recebimento de insumos e bens finais. Negócios ligados ao setor de serviços, como o turismo, dependem da reabertura do aeroporto Salgado Filho.

O efeito colateral de uma economia mais aquecida pode ser a volta do aumento do juro básico. O PIB robusto fortalece a aposta de que o Banco Central possa elevar a Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 17 e 18 deste mês. A taxa atual, de 10,5% ao ano, já é asfixiante. 

Elevá-la para esfriar a atividade e reverter expectativas de alta de preços pode ser prudente considerando-se a conjuntura nacional, mas não favoreceria o Estado no momento em que os gaúchos reúnem forças para se reerguer. Ajudaria se o governo federal indicasse maior convicção em racionalizar gastos para arrefecer as pressões inflacionárias que levam ao aperto monetário. 



04 de Setembro de 2024
DANO AMBIENTAL - Jhully CostaE 

DANO AMBIENTAL

Como a seca em diferentes regiões do país afeta o Estado. Fenômeno climático dificulta o controle das queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. Consequências têm sido observadas em cidades gaúchas e especialistas alertam para degradação da qualidade do ar. Fumaça é observada no RS desde agosto, e sua presença deve se intensificar hoje.

O período de seca que afeta diferentes Estados e dificulta o controle das queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal vem gerando impactos em áreas não atingidas diretamente por esses problemas. Um exemplo é a fumaça que tem sido vista no RS desde agosto. As situações podem ter reflexos futuros, ainda difíceis de prever.

Além do grave dano ambiental que as queimadas causam, o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), comenta que a situação também gera riscos à saúde, já que a qualidade do ar está "imensamente degradada em algumas regiões" - o que pode agravar condições respiratórias, conforme pneumologistas consultados por Zero Hora.

Assim como o RS, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Amazonas, Rondônia e Acre registraram a fumaça pelo menos uma vez ao longo de agosto. O fenômeno decorrente dos incêndios pelo Brasil e em países vizinhos, como Paraguai, Argentina e Bolívia, retornou ao território gaúcho ontem, e sua presença deve se intensificar hoje.

- A fumaça vai ser mais grave ou mais notável quando tivermos frentes frias sobre o Uruguai, Rio da Prata e Argentina, porque aí o vento de Norte e Noroeste vai carregar a fumaça da Amazônia e da Bolívia para o RS - diz Seluchi.

Conforme o meteorologista, a vantagem do RS é a alternância no tempo, o que não ocorre nos Estados que estão dentro da área mais seca do Brasil. Seluchi destaca que a situação da fumaça está estabilizada, com pouca previsão de mudança, uma vez que setembro deve ser um mês seco, e o que poderia apagar os focos de incêndio, melhorando a qualidade do ar, seria a chuva.

Os especialistas consideram improvável que haja outros impactos a curto prazo no Rio Grande do Sul. Na visão de Pedro Maria de Abreu Ferreira, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, a probabilidade de focos de incêndio migrarem do Centro-Oeste para o território gaúcho é praticamente nula, devido a distância.

Outros riscos

Ferreira ressalta que a época de seca no norte do Brasil ocorre agora, durante o inverno - período que costuma ser bastante chuvoso no Sul. Já a estiagem, chega ao território gaúcho no decorrer da primavera e do verão, causando problemas como falta de água e quebra de safra, mas sem relação direta com incêndios.

Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS, Valério Pillar acrescenta que o RS passou por um período chuvoso, então vegetação e solo ainda estão muito úmidos. Isso torna o cenário diferente do restante do país, onde uma seca histórica atinge mais da metade dos Estados.

Nas condições atuais, não há risco dessas queimadas se estenderem para cá - destaca.

Entretanto, não há como saber quais os possíveis efeitos futuros da manutenção dessas queimadas e da entrada de fumaça na atmosfera para o RS, pondera Ferreira. _


04 de Setembro de 2024
ELEIÇÕES MUNICIPAIS  Marcelo Gonzatto

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Aos 90, Eva é a candidata mais velha do RS em 2024

Nascida em 1934, pouco depois da conquista do voto feminino, ela concorre pela primeira vez. Filiada de longa data e ativa socialmente, tentará uma vaga na Câmara de Vereadores de Santiago

Quando Eva do Amaral Facim nasceu, em abril de 1934, as mulheres recém haviam conquistado o direito de votar no Brasil, graças a meio século de mobilização de movimentos sociais.

Passados 90 anos, a idosa é uma das quase 10 mil candidatas do gênero feminino em busca de um cargo público no Rio Grande do Sul nesta eleição - e a mais velha entre todos os concorrentes registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo Estado. Ela disputa, pela primeira vez, uma vaga na política, para vereadora em Santiago, na Região Central, pelo PDT.

No distante 20 de abril de 1934, quando Eva veio ao mundo, Getúlio Vargas vivia as últimas semanas de seu governo provisório, antes de ser reempossado em eleição indireta e dar seguimento à chamada Era Vargas.

Na Alemanha, Adolf Hitler se preparava para assumir o comando do país ao unir as funções de presidente e chanceler. A população gaúcha mal contava 3 milhões de pessoas, e a expectativa média de vida no país era inferior a 40 anos. Natural de São Francisco de Assis, logo aos 16 anos Eva começaria a trabalhar como professora ensinando não apenas crianças a ler e a escrever, mas também adultos analfabetos.

Lecionava na escola Vista Alegre. Sempre amei trabalhar. Dava carinho e conhecimento aos meus alunos pra que se tornassem pessoas maravilhosas. Hoje, tem professores da Universidade Federal de Santa Maria que fui eu que alfabetizei - vangloria-se a candidata nonagenária.

Eva se aposentou do magistério, mas não da missão de seguir ensinando - embora tenha trocado as letras pelos temperos:

- Agora sou professora de culinária. Fiz vários cursos. Minhas amigas vêm aqui em casa, faço muita compota e ensino a elas. Então, considero que continuo sendo professora.

Pecuária e árvores

A candidata concilia o trabalho como criadora de gado, em uma fazenda que ainda supervisiona pessoalmente, com outras paixões, como plantar árvores e ceder mudas a outras pessoas interessadas em deixar o planeta mais verde. O hábito remonta a uma antiga tradição familiar.

- Meu finado pai tinha um sistema: quando a minha mãe engravidava, ele escolhia uma muda. Quando o filho nascia, ele plantava. Eu fui uma muda de cedro, que é uma madeira dura, forte. Então, amo árvores, tenho um viveiro e faço mudas pra dar para as pessoas. Agora mesmo tenho 60 mudas de pessegueiro para os vizinhos - conta a professora aposentada.

No outro extremo do ranking etário, a Justiça Eleitoral contabiliza 21 candidatos de 18 anos na disputa pelo voto dos gaúchos nestas eleições. Essa é a idade mínima estipulada legalmente para tentar uma vaga como vereador. _

Ambição é apresentar projetos de proteção à população idosa

Eva conta que a decisão de entrar para a vida política na terceira idade, quando muitas pessoas estão mais interessadas em uma rotina sossegada, veio a partir de um convite do diretório municipal da sigla.

Dona Eva é filiada ao partido há muito tempo, participa das discussões municipais, já integrou comissões do Sindicato Rural de Santiago. É uma pessoa que pega no batente - avalia o advogado e companheiro de legenda Paulo Cesar Garcia Rosado.

Segundo ela, a candidatura também é uma forma de homenagear o marido, Ivo, já falecido, simpatizante do trabalhismo.

- Ele amava o partido, mas nunca chegou a se candidatar. Então, resolvi fazer isso também por respeito a ele - revela a produtora rural, que não teve filhos.

A idosa se desloca sem grandes dificuldades, fala de modo acelerado e, até pouco tempo atrás, ainda dirigia pelas estradas do município. Agora, prefere andar na carona.

Diz que vai fazer campanha apenas divulgando seu nome, sem bater de porta em porta, para receber os votos por merecimento e não por pedi-los.

Entre suas ambições, caso consiga se eleger, está elaborar projetos que aumentem a proteção aos idosos. Garante que não faltará disposição.

- Amo a vida, amo as pessoas, amo trabalhar. Não tenho empregada, eu mesma cozinho. Agora mesmo estou com uns 40 vidros de doce de laranja prontos - conta a candidata, que na sequência se despede:

- Agora preciso ir, estou com a caminhonete carregada de sal e de medicamentos para o gado. 


04 de Setembro de 2024
EM FOCO - Anderson Aires

EM FOCO

Desempenho brasileiro foi puxado por indústria e serviços. Pela ótica da demanda, destaques foram os consumos das famílias e do governo, além do aumento dos investimentos. A alta abre espaço para que a economia suba até 3% em 2024

PIB do segundo trimestre cresce 1,4%, acima das expectativas

Com desempenho que superou expectativas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024 ante o acumulado dos três meses anteriores. O dado foi divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi puxado por altas nos serviços e na indústria. No lado da demanda, os destaques foram os consumos das famílias e do governo, além da reação dos investimentos.

Em valores correntes, o PIB, que representa a soma dos bens e serviços produzidos no país, totalizou R$ 2,9 trilhões no segundo trimestre. O mercado financeiro projetava alta de 0,9% a 1%. O resultado de 1,4% é o maior desde o quarto trimestre de 2020.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirma que, "com o fim do protagonismo da agropecuária, a indústria se destacou nesse trimestre, em especial na eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e na construção". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o resultado.

Segundo Lula, foi "mais uma notícia boa para a economia". "Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravata e mentiras. É isso que importa", escreveu em rede social.

Fatores

No entendimento do IBGE, condições do mercado de trabalho, juros mais baixos e crédito disponível estão entre os principais fatores que incentivaram a expansão no segundo trimestre.

O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal avalia que parte da alta acima do esperado pode ser explicada por fatores pontuais, como aumento das transferências do governo e queda do juro. Mas aponta que essa subida não é algo isolado e deve ser analisada de maneira mais alongada. Faz parte de um movimento observado desde meados de 2020 e início de 2021, diz.

Mesmo com variabilidade entre os trimestres, o país apresenta crescimento acelerado desde a saída da pandemia. Esse processo ocorre diante de fatores ligados à oferta, como o aumento de produtividade das empresas após a crise, mas principalmente ligada ao consumo, segundo Portugal:

- Quem puxou o PIB para cima foi o consumo das famílias. E o consumo das famílias foi puxado para cima em parte porque melhorou o mercado de trabalho, em parte porque o governo está se endividando para trazer receita futura para o presente, para gastar mais.

Ele diz que o fato de o avanço da economia estar muito mais ligado ao consumo pode prejudicar um crescimento mais estrutural nos próximos anos. Sobre o efeito da inundação no RS no PIB nacional, o professor avalia que a rápida recuperação em alguns setores e regiões menos afetadas pelo evento climático acaba mitigando esse impacto.

Movimento espalhado

O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, destaca que o resultado positivo foi espraiado, pegando a maior parte dos setores, com exceção da agropecuária, que sofre com entressafra. Agostini afirma que o movimento espalhado é resultado da consolidação da melhora no acesso ao crédito, do juro mais baixo, de programas de renegociação de dívidas e da ampliação de emprego e renda.

Ele faz uma ressalva em relação à parte do aumento do consumo do governo, que acende alerta no ambiente fiscal. _

Nos próximos meses, avanços e desafios

Com o Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado no segundo trimestre, cresce a aposta do mercado em economia fechando 2024 com crescimento próximo dos 3%. Mesmo com desaceleração projetada para os próximos trimestres, economistas ouvidos por Zero Hora afirmam que os resultados registrados até agora abrem espaço para esse cenário.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que parte do ritmo da atividade atual é transmitido para o próximo período, permitindo estimativas mais otimistas. A agência de classificação de risco ajustou a projeção de PIB de 2024 de 1,9% para 2,8%.

A professora de Economia do Insper Juliana Inhasz também afirma que o desempenho do segundo trimestre coloca as projeções de PIB mais próximas dos 3% ao ano. No entanto, alerta para perigos que seguem no radar, como estiagem e custo da energia elétrica no país. Isso somado à perda de força em ações de transferência de renda cria ambiente para desaceleração da economia no segundo semestre.

Juro básico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado do segundo trimestre deve fazer com que o governo promova nova estimativa de arrecadação de receitas e projetou PIB acima de 2,8% no ano.

O avanço do PIB acima do esperado também eleva a expectativa de aumento do juro básico, diz Juliana:

- Acho que o mercado já está muito pacificado com duas coisas. A primeira é que o juro não cai mais este ano e a segunda é que ele tem probabilidade muito grande de alta. 

sábado, 31 de agosto de 2024



31 de Agosto de 2024
MARTHA

Em desenvolvimento

Ha. Ha. Ha. Deu tudo errado.

"Em desenvolvimento" era uma falácia daqueles tempos em que se torturava jovens nos porões, era o que os generais garganteavam enquanto batiam continência para os patrocinadores. Enrolation para inglês ver e as criancinhas se iludirem. Encerrada a ditadura, veio um período de esperança, até que testemunhei o impensável: o Brasil tirou a bermuda e vestiu terno de missa, colocou uma Bíblia embaixo do braço e varreu os poetas de suas cabeceiras. 

Menos samba no morro, nem pensar topless na praia, bye bye irreverência. Já não percebo em nós, como nação, um caráter solar, apenas devoção à poeira do passado e apego à escravidão. Éramos tão apaixonados pela vida, mas a hipnose tecnológica acabou com nossos olhos nos olhos e, como se tudo não passasse de um game, extraímos das telas digitais um país ainda mais violento e que despreza a inteligência, só pontua na ignorância.

Talvez meus óculos estejam embaçados, talvez só tenha me restado o saudosismo do retrovisor. O que enxergo na minha frente, agora, é um país careta que se empolga com gente sem ética, um país que promove queimadas, um país apequenado pelo uso criminoso das redes, gigante que não honrou sua sina, perdeu-se do seu destino. Meio ambiente, arte, criatividade, faceirice, tudo engolido por Vossa Excelência o dinheiro, o poder, a indústria, o mercado, a internet, o escambau. Adeus, berimbau.

Não será o político A, B ou C que fará a mágica de tirar um país novo da cartola. Será, sim, o abc da sala de aula, caso levemos a sério, pra valer, o que lá se aprende e se discute, sem enganação ou censura, sem atraso ou mitificação. Eu já não terei a honra de viver no país que sonhei, então só me resta torcer para que todas as crianças recebam educação ampla, decente e prioritária, para que elas consigam, finalmente, ver o potencial extraordinário de sermos um país desenvolvido se cumprir. _

MARTHA

31 de Agosto de 2024
CARTA DA EDITORA - Donna Beauty Pompéia

As histórias das belezas

Mesmo de pijama, a energia da Alice Bastos Neves e da Kelly Costa segue lá em cima. Independentemente se o seu time é dos que aproveitam o fíndi para descansar, fazer festa ou os dois, a Pompéia está contigo em qualquer momento.

Um pijama confortável é algo essencial, além de ser uma peça que pode ser mais descontraída, tornando a hora de dormir mais divertida. A dica é se atentar na escolha do tamanho: a sugestão é optar por peças que sejam de um a dois números maiores do que aquelas que você costuma utilizar no dia a dia.

Essas e outras peças de pijama podem ser encontradas nas lojas, no site lojaspompeia.com.br e no aplicativo. Visite a loja no Shopping Iguatemi (Av. João Wallig, 1.800, 1º andar), de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 11h às 22h. _

Inspiradas no livro do historiador italiano Umberto Eco, A História da Beleza (Record, 440 páginas), aproveitamos a proximidade do aniversário de um ícone internacional para embarcar em uma viagem no tempo com muitas camadas sociais. No dia 19 de setembro, a modelo britânica Twiggy completa 75 anos de vida e, com um recorte a partir da década de 1960, quando ela tornou-se um dos símbolos do movimento dos sixties e da contracultura, revisitamos em três páginas a moda e os estereótipos que resultaram em muitas das pressões sofridas pelas mulheres, assim como posicionamos no espaço e no tempo conquistas que precisam ser relembradas, reforçadas e mantidas. 

Para esta edição, a repórter Letícia Paludo conversou com profissionais da área da sociologia, do direito e da saúde para debater a transformação pela qual passamos no nosso visual, muitas vezes como um espelho de mudanças na sociedade e na economia (mais espaço no mercado de trabalho, por exemplo). Mas, claro, que também reverberaram novas patrulhas - da popularização do biquíni à chegada das balanças aos banheiros das residências, com a tal independência cobrando seu preço.

Na passarela de Donna, saudaremos Twiggy com seus olhos expressivos e sua minissaia, os avanços na medicina, as leis aprovadas, a beleza da autoestima e mulheres que entraram para a história por abrir caminho para futuras linhas do tempo, que exaltarão a liberdade de ser quem se quer. _

Zero Grau

Collab - Tendências - Novidades

A influenciadora Malu Camargo fez uma parceria com a Youcom para uma coleção cápsula exclusiva, com 24 peças, entre jeans, blusas, e acessórios, em que propõe uma pegada urbana, romântica e sensual. A linha está disponível nas lojas físicas, no aplicativo e no site da marca youcom.com.br.

A próxima edição da feira Zero Grau já tem data confirmada. De 18 a 20 de novembro, as tendências e os lançamentos em calçados e acessórios para outono/inverno de 2025 poderão ser vistos no Serra Park (Viação Férrea, 100, em Gramado). O evento funcionará de segunda a terça das 9h às 19h, e na quarta, das 9h às 17h. Mais informações no perfil @feirazerograu.

Lançamento - feirinha Matilda - Moda

Neste domingo, o Brick de Desapegos estará no Workroom (Cristovão Colombo, 772), das 11h às 19h, reunindo mais de 40 expositores entre brechós, moda retrô e marcas autorais. O evento é pet friendly e com entrada franca.

A escritora e delegada da Polícia Civil Roberta Trevisan lança, neste sábado, o livro Matilda e o Mistério da Biblioteca, às 15h, em uma sessão de autógrafos na Livraria Leitura do BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300, Cristal). Na história, Matilda e seus amigos investigam os mistérios que assombram a cidade e ameaçam o famoso festival de inverno.

CARTA DA EDITORA

31 de Agosto de 2024
PSICOLOGIA

PSICOLOGIA

Essa porcentagem corresponde ao chamado "tripé do desenvolvimento pleno", que abrange aspectos físicos e motores, cognitivos e socioemocionais.

- No mundo adulto, nós também exigimos resiliência, possibilidade de resolver conflitos, espírito de inovação. Ou seja, habilidades mais comportamentais que são vinculadas a essa capacidade socioemocional, cuja base estrutural também é fundamentada na primeira infância, nos primeiros seis anos de vida - contextualiza Mariana.

No entanto, o ambiente em que a criança é criada determina se ela conseguirá atingir os 90% de desenvolvimento do cérebro ou não. A CEO da entidade comenta que esse entorno envolve muitos elementos, como se a gravidez foi desejada, se há histórico de violência, se os adultos responsáveis pelo bebê o cuidam com amor, afeto, estímulos e vínculos. O ambiente escolar e as mudanças climáticas também interferem nessa formação cerebral.

- A formação do vínculo é a coisa mais importante para o bebê. É como se fosse um escudo de proteção para a criança. Se a criança tem um vínculo forte com os adultos de referência, ela vai inclusive conseguir passar por momentos de adversidade de uma forma melhor no futuro - afirma.

Da mesma forma, uma criança que nasce em um ambiente de violência, abuso, sem brincadeiras e com alto nível de estresse tóxico acaba carregando esses traumas para o resto da vida, tendo altas possibilidades de enfrentar desafios de saúde mental, segundo Mariana.

Impacto do ambiente

Esses reflexos positivos e negativos também são observados por teóricos e especialistas da psicologia. A psicóloga Lisiana Saltiel cita a psicanalista austríaca Melanie Klein, que falava sobre o quanto as relações com os pais e cuidadores são fundamentais para a criança se sentir segura ou rejeitada, por exemplo.

- A forma como a sua criança interior leu essas relações vai ser a forma como vai lidar lá na frente - sintetiza.

Lisiana também faz referência a Donald Winnicott, um pediatra que contribuiu muito com o tema, por ressaltar o quanto um ambiente acolhedor e seguro na infância pode fazer com que a pessoa seja capaz de ser autêntica na vida adulta.

- Nesse contexto, entender como você se formou, quais são seus medos, como é sua maneira de ver e lidar com a realidade, como você ama, como odeia, como reprime ou se defende de angústias, tudo isso é fundamental para a saúde mental e harmonia de suas relações - enfatiza.

Personalidade e confiança

Joana Corrêa de Magalhães Narvaez, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), acrescenta que é a partir das relações originárias e do olhar do outro que o indivíduo se constitui e aprende a ler e a traduzir a si mesmo enquanto sujeito próprio. Por isso, considera que a infância tem grande importância na formação da personalidade e da confiança básica em si e no outro, sendo capaz de gerar uma base mais estável para o desenvolvimento integral e para ter um espaço interno para aprender e crescer:

- É na dinâmica das relações iniciais que nós nos estruturamos, que aprendemos, inclusive, a sermos amados, a desenvolver e internalizar um senso de preservação, a nos valorar enquanto um corpo e psiquismo singular. A infância remete a uma fase desenvolvimental de dependência do outro e, com ela, vem um natural estado de vulnerabilidade.

É por isso que situações traumáticas vividas nessa fase podem deixar marcas futuras. Joana explica que o trauma é justamente uma carga excessiva que o psiquismo não consegue processar. Assim, ambientes inseguros e com base afetiva imprevisível são mais suscetíveis a moldar pessoas com mais medos, mais inseguranças sobre si mesmas, mais baixa autoestima, maior defensividade e potencialmente mais vazios.

- É na infância que vamos criando um espaço psíquico para aprender a nomear e processar as necessidades e as emoções próprias em uma narrativa simbólica. Uma pessoa que teve uma infância preservada e integral tem campo mais fértil para desenvolver mais confiança em si e no outro. Nesse sentido, uma base segura de apego inicial confere continência psíquica, para melhor transitar pelos afetos e processar emocionalmente as vicissitudes da vida - comenta.

Repetições

Isso não significa, contudo, que uma pessoa que viveu situações potencialmente traumáticas não possa, ao longo da vida, revisar a forma relacional inicial para buscar estar em uma posição mais confortável em suas relações. Até porque, na fase adulta, é muito comum que o indivíduo repita lugares nas relações e configurações dinâmicas as quais foi apresentado inicialmente, mesmo de forma inconsciente.

Conforme a professora Joana, essa revisão pode ser feita por meio de novas configurações relacionais, da psicoterapia ou da análise, por exemplo:

- A criança que nos habita ou a criança que fomos é tão constitucional que é naturalmente explorada nos nossos processos. Há de poder se resgatar aspectos que em uma etapa de mais vulnerabilidade nos foram tão constituintes e marcaram a nossa base de funcionamento. Então, é muito importante nos apropriarmos de pontos que nos são mais primitivos ou para os quais regredimos quando sob pressão emocional.