sábado, 12 de outubro de 2024



12 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O alerta do Nobel da Paz

O Nobel da Paz que distinguiu na sexta-feira a luta da organização japonesa Nihon Hidankyo contra a ameaça nuclear carrega, em si, a contradição do criador da mais importante láurea para o progresso humano. Alfred Nobel, ao mesmo tempo em que destinou sua fortuna a um prêmio que dignifica a paz, foi o inventor da dinamite - criação que mudou a forma da guerra, tornando-a mais mortífera.

A contradição do prêmio de 2024, de alertar para o abismo nuclear, reside no fato de a sociedade humana ter alcançado, nas últimas décadas, tamanho progresso: somos mais longevos do que nossos antepassados, estamos mais perto de descobrir a cura para doenças terminais e lidamos, não sem dilemas, com a inteligência para além do ser humano - supostamente "artificial".

Há, no entanto, reveses na globalização, restrições à liberdade de expressão e de imprensa, ao livre-comércio e à democracia. Ao mesmo tempo, estamos, como em poucas vezes ao longo da trajetória humana, tão próximos do abismo nuclear: testemunhamos duas guerras simultâneas - no Oriente Médio e na Europa -, nunca tantas nações detiveram arsenal atômico e os acordos que restringem ogivas nucleares foram rasgados ou estão moribundos.

Ao mesmo tempo, o multilateralismo, um freio ao homem como lobo do próprio homem, luta para se manter relevante. A ONU não consegue ser efetiva para garantir a segurança internacional, razão para a qual foi criada, e suas agências são, em geral, patroladas pelas próprias potências atômicas.

Parte do problema reside no fato de a organização não representar a balança de poder do atual sistema internacional. Passados 76 anos desde sua criação, o Conselho de Segurança, seu órgão máximo, é, ainda hoje, moldado à imagem e semelhança do cenário imediato pós-Segunda Guerra Mundial: os cinco grandes (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) têm arsenal nuclear, mas há outros países que detêm a tecnologia: Paquistão, Índia, Coreia do Norte e Israel (não declarado).

Todos eles, juntos, contabilizam 12.121 ogivas, 90% em poder dos EUA e Rússia, que travam uma velha nova Guerra Fria no Leste Europeu. Não dispõem da bomba, mas desempenham peso no tabuleiro geopolítico atual outros players, como Alemanha, África do Sul, Brasil e o próprio Japão, o único a sentir a ferro e fogo o poder devastador da bomba.

Olhar para o Oriente Médio

No momento em que o regime dos aiatolás trava uma guerra por procuração, por meio dos grupos terroristas Hamas, Hezbollah e os houthis do Iêmen, contra Israel e aliados, vale o alerta da ameaça que um Irã nuclear representa para a humanidade. Sabe-se que o país estaria muito perto de enriquecer urânio capaz de dispor de uma bomba.

Embora sempre valha a ressalva "ter a bomba é uma coisa e capacidade tecnológica para dispará-la outra", essa premissa é muito frágil para garantir que nós, nossos filhos e netos, estejamos vivendo em um mundo seguro. _

Furacão Milton: homem é resgatado boiando agarrado a freezer

Um homem que flutuava no mar agarrado a um freezer foi resgatado de helicóptero pela Guarda Costeira dos Estados Unidos na quinta-feira a 48 quilômetros da costa de Longboat Key, no sul da Flórida, região fortemente afetada pelo furacão Milton.

Ele era o capitão de um barco de pesca que havia ficado à deriva ainda na segunda e seu paradeiro era desconhecido desde quarta-feira. Ao voltar para tentar resgatar a embarcação, o homem acabou tendo problemas mecânicos que o impediram de navegar até um porto e foi atingido pela tempestade.

O presidente Joe Biden anunciou que visitará o Estado no domingo para supervisionar os trabalhos em áreas danificadas. Segundo dados das autoridades, ao menos 16 pessoas morreram. _

Força para abolir armas nucleares

Para o diretor da organização Nihon Hidankyo, o prêmio "será uma grande força para lembrar ao mundo que a abolição das armas nucleares pode ser alcançada". _

Brasil se abstém sobre violação de direitos humanos na Venezuela

Os países membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovaram na sexta-feira a renovação da missão de investigação de violações de direitos humanos na Venezuela por mais dois anos.

A decisão, que também dá continuidade ao trabalho do Alto-Comissariado da entidade no país, contou com 23 votos favoráveis, seis contra e 18 abstenções, entre elas a do Brasil.

A resolução solicita que a Missão Independente da ONU no país, criada em 2019, investigue a repressão ocorrida após a eleição presidencial de 2024. O documento foi apresentado por Canadá, Argentina, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai e Uruguai. Os seis votos contra foram da Argélia, China, Cuba, Eritreia, Sudão e Vietnã. A delegação venezuelana presente na sessão criticou o texto da resolução antes da votação. 

Resultados da cocriação holandesa

Está em fase de revisões finais um relatório com propostas obtidas na conferência de cocriação realizada entre o governo do Estado e a Holanda em agosto. O documento, que deve sair nos próximos dias, é um compilado dos resultado colhidos por 140 profissionais que trabalharam de forma prática durante três dias para reunir as melhores referências dos conhecimentos, tanto neerlandeses quanto brasileiros, para chegar a soluções contra enchentes nas áreas do Delta Metropolitano de Porto Alegre.

Entre as propostas, foram abordadas questões como monitoramento e sistemas de alerta, sistemas de proteção contra inundações e governança e financiamento.

Os estudos foram realizados também em parceria com a prefeitura de Porto Alegre e a Universidade Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS). _

No RS, 12 políticos religiosos eleitos

No primeiro turno das eleições de 2024, foram eleitos 37 candidatos com identidades religiosas no nome de urna em todo o Sul do Brasil. O número aumentou em relação a 2020, quando foram 28. No Rio Grande do Sul foram 12 políticos, contra 11 na eleição passada.

Os anos recordes foram 2012 e 2016, ambos com 13. O levantamento foi elaborado pela Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados. Para a pesquisa, foram aplicados filtros de religiões evangélicas, católicas e de matriz africana para identificar o vínculo.

As palavras foram: pai, mãe, pastor, pastora, pr., missionário, missionária, bispo, bispa, apóstolo, apóstola, reverendo, irmão, irmã, ir., padre, abençoado, abençoada, babalorixá, ialorixá, ministro, ministra, Ogum, Exú, Iansã, Yansã, Iemanjá, Obaluaê, Oxalá, Omulu, Oxóssi, Oxum, Oxumaré e Xangô. 

INFORME ESPECIAL

sábado, 5 de outubro de 2024


05 de Outubro de 2024
MARTHA

Vida: embarque imediato

Não vejo o mar há sete meses. Saudade de sua extravagância, da quantidade imensurável de água refletindo o azul do céu, do ruído que emerge de suas profundezas, produzindo ondas que dialogam com quem está sentado na areia. O mar, sustento de pescadores, desafio de remadores, caminho de navegadores, alegria de banhistas, modelo para fotógrafos, o rei dos cartões-postais, leito para pores do sol. 

O mar, além disso tudo, é túmulo de poetas suicidas, roteiro de filmes-catástrofe, vista panorâmica que encarece o preço dos apartamentos. O mar, despindo-se de sua grandeza, molha nossos pés nas caminhadas de final de tarde, é quem dá o match perfeito com a música que estamos escutando, ameniza nossa melancolia e serve como cenário para uma paixão recém iniciada. O mar é um aliado, se soubermos nos aproximar e nos mantermos serenos diante de sua superioridade.

Quando não é o mar, é a montanha, ela que também redimensiona nosso tamanho, nos coloca em nosso lugar. Alta, emergente, de uma imponência vertical, é uma onda gigante que não arrebenta, uma ameaça cinematográfica, um deslumbramento de pedra, forrado de verde. Obstinados, trilhamos por meio de suas florestas, esquiamos pela neve que ali repousa no inverno, buscamos seus picos, viramos alpinistas que competem por uma majestade que jamais abandonará sua dona. Cenário que também atende aos apelos dos fotógrafos, que encarece igualmente as vistas dos chalés, que nos acorda com a pureza do ar matinal e induz a sonos profundos, nenhum relevo consegue ser tão quieto. Montanhas guardam segredos eternos.

Distantes dos grandes ecossistemas terrestres e aquáticos, nos resta uma praça, um parque, um lago, pequenas recompensas em meio à urbanidade, prêmios de consolação. Mas é só junto ao mar e à montanha que nossa pulsação muda, que nossa respiração desintoxica, que nossos olhos se arregalam e que a vida encontra seu verdadeiro sentido. Não é no cimento, no asfalto, no trânsito.

Desculpe se abusei do romantismo, mas se você concordou com cada linha, se por pouco não chorou, toque aqui: como eu, também deve estar precisando urgentemente de férias.

MARTHA

05 de Outubro de 2024
CARTA DA EDITORA

Donna Beauty Pompéia

Colorimetria a seu favor

O que é ter sorte na vida para vocês?

As Gu te deixaram indecisa nas fotos abaixo? A Alice Bastos Neves e a Kelly Costa apostaram na coleção Primavera/Verão e fizeram bonito. É sempre assim: na Pompéia tem looks para todos os gostos. E ainda uma consultoria de moda para compor produções diferentes. Uma delas é apostar na colorimetria. A calça em tons terrosos, quando combinada com nuances de azul, compõe uma produção alegre e primaveril. Já a dupla colete e saia mídi em cores iguais traz a sofisticação do monocromático. Além disso, utilizar camisas como sobreposição de vestidos oferece um toque de modernidade. Quer um truque extra de styling? Se a peça for colorida, invista em uma cor que está presente no vestido, além de amarrações variadas.

Todos esses looks podem ser encontrados nas lojas, no site lojaspompeia.com.br e no App. Nos visite no Donna Beauty Pompéia, no Pontal Shopping (Av. Padre Cacique, 2.893), de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 12h às 20h. E não deixe de solicitar o nosso serviço de consultoria de moda gratuito, disponível em todas as unidades.

Não é novidade que o papo é sempre solto quando a entrevistada é uma das titulares do programa Saia Justa, do GNT. O elenco, sempre em ciclos e diverso, não abre mão de um ponto-comum: são mulheres com muito a nos dizer.

Quando a nova formação foi anunciada, nossas antenas foram direcionadas para esses nomes como desejo de capas futuras, e estreamos com a jornalista soteropolitana Rita Batista, que cumpriu o esperado e superou. Inteligente e espiritualizada, entrega na entrevista para a repórter Letícia Paludo um tutorial de generosidade - inclusive com ela mesma, algo tão difícil no universo feminino, território em que as cobranças chegam de fora, mas também partem de dentro.

O que lemos é uma lição de autoestima e uma positividade que fogem dos discursos vazios de redes sociais - aliás, nada nela é clichê. Rita vê abundância no saber, na educação, no trabalho e no autocuidado. Diz que não tinha a menor chance de não ter dado certo na vida sendo parte do "camarote da pirâmide", mas sabemos que não é bem assim. Rita nos ensina a querer dar certo como ela. Olhar a sorte quando temos uma família amorosa e potente. Aproveitar o acesso aos estudos. Uma aula de vida, direto dos nossos sofás. Isso também é um privilégio. _

moda exposição - Pompéia e Duda Galvani - Trinta anos de Herchcovitch

Tem novidade no mundo fashion. A coleção Duda Galvani para Pompéia será apresentada no dia 17 de outubro, durante o Pompéia Fashion Weekend, que será realizado no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre. A união das expertises das marcas foi celebrada pela CEO do Grupo Lins Ferrão, Carmen Ferrão: - Unir duas referências em moda, trazendo modelos da Duda Galvani para as clientes com um valor acessível, é uma oportunidade incrível. Acredito que será um sucesso. As peças apresentam uma fusão de cores vibrantes de forma elegante. O laço, elemento icônico e tão presente nas coleções da estilista, aparece em formatos e tecidos diversos. Com um brilho sutil que permeia cada modelo, os vestidos capturam a essência do Atelier Galvani, proporcionando um design de personalidade. Com preços de R$ 299 e R$ 399, a coleção limitada será vendida exclusivamente na Pompéia Iguatemi.

corrida - em Sapatos no foco

Só para elas

Será realizada até 13 de outubro a feira Loucura por Sapatos, nos pavilhões da Fenac, em Novo Hamburgo. Nos 25 mil m² de área de exposição e atrações, o público poderá conferir cerca de 200 expositores e 500 marcas de calçados, bolsas e acessórios, além de roupas e utensílios domésticos. De segunda a quarta-feira, das 14h às 21h, e de quinta-feira a domingo, das 10h às 21h.

Gosta de correr? Então se prepare, pois no dia 20 de outubro ocorrerá o Poa Ladies Run, corrida diurna com participação exclusiva do público feminino. A prova terá sua largada às 8h, no Golden Lake (Av. Diário de Notícias, 1.200), na Capital, nas modalidades de 3, 5 e 10 quilômetros. As inscrições podem ser feitas pelo site poaladiesrun.com.br.


05 de Outubro de 2024
DRAUZIO VARELLA

Queixava-se de febre e dor de garganta. Não tinha a gíria nem a entonação de voz ou os trejeitos da bandidagem. Fiquei com a impressão de que não fazia parte do mundo do crime.

Quando retornou na semana seguinte, contou que vivia com a mãe no Grajaú, extremo da zona sul de São Paulo. A vida não era fácil: além das obrigações domésticas, uma hora e meia para chegar no emprego, em Moema, duas horas para voltar. O transtorno maior, entretanto, era a desorientação da mãe:

- Anda muito esquecida. Não lembra se almoçou, tenho que vigiar o tempo todo, fechar o botijão de gás antes de ir para o trabalho. Quando sai de casa não acha o caminho de volta. Às vezes, uma vizinha acolhe, mas chego a passar horas atrás dela pela vila inteira.

Responsável pela manutenção da casa, a saída que Maria encontrou foi a de amarrar a perna da mãe com uma corda comprida, presa ao pé da mesa, de modo que ela pudesse se movimentar pelo quarto e sala em que moravam e chegar à porta, mas sem ir para a rua. Não deu certo:

- Uma vizinha me denunciou na delegacia. Vim presa.

Na cadeia, foi rejeitada pelas companheiras, que não aceitam maus tratos com os pais ou os filhos.

Conto essa história que se passou há cinco anos, cara leitora, para ilustrar o drama que as demências representam para as famílias, especialmente para as esposas, filhas e netas, porque é sobre uma mulher que quase sempre recai a obrigação de cuidar da pessoa doente, como mostramos na série que está no ar no Fantástico.

O Brasil envelhece. Segundo o IBGE, enquanto a população geral cresceu 6,5 % no período de 2010 a 2022, naqueles com mais de 65 anos o aumento foi de 57,4 %, quase nove vezes mais.

Os estudos sugerem que existam perto de 2 milhões de brasileiros com Alzheimer e outras demências. O Global Burden of Diseases calcula que seremos cerca de 7 milhões em 2050.

Essas estimativas são conservadoras. Doença de instalação insidiosa, costuma passar despercebida nas fases iniciais, especialmente porque parentes, amigos e a maioria dos médicos considera a perda da memória consequência inevitável do envelhecimento. Vários estudos mostram que entre nós os subdiagnósticos ultrapassam 70%. Nos Estados Unidos, são mais de 90%.

Cuidar de pessoas com demência é um dos maiores desafios que o SUS enfrenta. Um familiar que depende de cuidados permanentes sem contar com serviços públicos, obriga pelo menos uma mulher da família a sair do emprego para se dedicar a ele, em tempo integral. O estresse a que são submetidas essas mulheres só elas podem avaliar: noites insones, esforço físico para amparar o corpo enfraquecido incapaz de sair da cama, andar até o banheiro, trocar de roupa, comer sem ajuda e trocar as fraldas.

É uma tragédia que desestrutura a família inteira. Claro que é muito pior para os mais pobres, mas não se restringe a eles. Mesmo aqueles com recursos para contratar cuidadoras, vivem dias tormentosos. Precisam contratar quatro funcionárias: uma para cada jornada de oito horas e outra para cobrir as folgas. A casa vira uma pequena empresa que interfere com a dinâmica familiar, separa casais e gera conflitos.

As mulheres têm lutado para que as cidades abram creches para deixar as crianças enquanto trabalham. Está mais do que na hora de criarmos espaços ambulatoriais para deixar durante o dia os doentes que estão nas fases mais iniciais do quadro demencial, para que esposas, filhas e netas possam trabalhar ou fazer o que bem entenderem.

Nesses locais, eles vão se beneficiar do convívio social e receber estímulos cognitivos para retardar a evolução da doença. Numa enfermidade que leva à morte em sete a 10 anos, em média, quanto mais tempo os pacientes consigam manter alguma autonomia, melhor.

E o que fazer nas fases mais avançadas, quando a cognição já foi para o espaço e o corpo se tornou um fardo insuportável? Manter a qualquer preço um corpo inerte, trancado num mundo impenetrável, é o melhor que podemos fazer? Vamos discutir esse tema na próxima coluna. _

Drauzio Varella

05 de Outubro de 2024
J.J. CAMARGO

Claro que não falo da urgência, esse tipo especialíssimo de pressa, que não oferece escolha e na qual o lerdo é um trapalhão. Acontece que muitas vezes a pressa é apenas resultante de má administração do tempo disponível, como ocorre, por exemplo, com essas pessoas que sempre esticam o tempo e invariavelmente chegam atrasadas.

Esse comportamento explica as atitudes bizarras desses tipos que, para compensar, são agressivos no trânsito, forçam ultrapassagens perigosas, xingam os que andam em velocidade normal e, no máximo do destempero, buzinam em engarrafamentos.

Além disso, a pressa pode ser original em condições específicas. A atitude rápida e expedita, que é festejada no bombeiro e que o transforma num herói, levada para o sexo produz um paciente cujo tratamento tem a responsabilidade de salvar uma ameaçada relação amorosa.

Em cirurgia, em tempos de anestesia precária, a rapidez do cirurgião era considerada um fator de qualificação técnica. Atualmente, segue relevante a importância da destreza, mas com os recursos disponíveis para assegurar a estabilidade hemodinâmica durante todo o intraoperatório essa premência não só diminuiu, como permitiu observar que a pressa cirúrgica pode ser um elemento associado à maior frequência de sangramento.

Numa publicação recente do Colégio Americano dos Cirurgiões, alguns veteranos que marcaram a história da cirurgia nos últimos 50 anos, são categóricos ao afirmar que o cirurgião pode escolher seu ritmo, desde que pense rápido. O que é fundamental diante de achados imprevistos, que aliás tornam a prática cirúrgica tão desafiadora e estimulante.

Quando o Evaldo, um velho paciente que eu adoro, sugeriu que, a julgar pela pressa com que os médicos atendem nos nossos ambulatórios, parecia razoável a abertura de novas vagas nas Faculdades de Medicina, considerando que parecíamos estar sobrecarregados, fiquei constrangido de explicar que essa incapacidade de ouvir era muito mais séria e não se devia a escassez de profissionais, mas à falta de noção dos fundamentos básicos da arte do cuidar - decorrente, na maioria dos casos, de inversão das prioridades, que devem reger a atitude empática do médico verdadeiro, que humaniza a quem oferece e encanta a quem recebe.

Nas relações humanas, em geral, a pressa quase invariavelmente revela desconsideração. Isto pode ser constatado num simples encontro social com algum conhecido de quem pretensamente se tenha saudade. Se não houver uma explicação urgente e transparente para a evidência de tal pressa, o sentimento de desconsideração será inevitável e instantâneo.

E, claro, ninguém precisará ser muito intuitivo para prever a intensidade da aversão se o pano de fundo desse conflito de afetos for o encontro médico/paciente, em que o lado mais frágil da relação amargará essa desconsideração multiplicada pela sensação de abandono. Então, é melhor se acostumar com a ideia de que o paciente que se afastou com essa sensação não retornará. 

J.J. CAMARGO

05 de Outubro de 2024
CARPINEJAR

O amor tem três regrinhas de ouro: confiar, admirar, incentivar. Se você segui-las, a relação provavelmente não vai desandar. Porque ambos vão crescer tanto emocionalmente como profissionalmente.

Mas é curioso o quanto o homem acredita mais na admiração do que no amor. Ou seja, no resultado do amor que é admiração, em vez de aderir propriamente ao amor. Ele não entende o amor. O amor é muito subjetivo, abstrato, espontâneo, desvinculado de objetivos, impossível de se mensurar.

Ao ouvir "eu te amo", a mulher se pacifica. Não surgirá com mais nenhuma pergunta. A principal questão existencial para estar junto foi saciada. Ela se garante a partir daí. Não há neurose, ciúme, insegurança. A jura traz paz.

Já o homem, ao escutar "eu te amo", não compreende o que significa: "é muito?", "é pouco?", "é suficiente?". Não muda nada de seu semblante. Não se revela enfeitiçado, atingido, atraído. A frase desperta um otimismo manso como se fosse um cumprimento.

Verifica-se uma neutralidade na recepção masculina. A ausência de uma régua faz com que ele não valorize a entrega. Assim, pelo descaso, explica-se o motivo de ser tão bocó a ponto de retribuir com "que bom" ou com simplesmente "eu também" - o "eu também" foi criado por um homem, ninguém me tira isso da cabeça.

Acaba se esquecendo da natural reciprocidade, da necessidade de ser intenso de modo igual para não gerar suspeita e incredulidade. Mas agora invente de expressar para o homem: - Eu tenho orgulho de você.

Baterá diferente. Ele se encherá de confiança. Ficará desesperado de alegria, de gratidão. As palavras vão ecoar com extrema potência dentro dele. Porque o que ele mais deseja é ser validado. Ele depende de alguém que lhe sirva de espelho para reconhecer que se encontra no caminho certo.

Beijará, abraçará, carregará no colo como recompensa. Tudo o que ele não cumpre com o "eu te amo". Tudo o que se esperaria dele após o "eu te amo".

O orgulho é o verdadeiro amor para o homem. Ele não é capaz de visualizar um sentimento em separado - o amor em si -, precisa sempre se enxergar naquilo que vem sendo dito. Obtém a sua coerência pelo conjunto de suas ações, pelo seu histórico, pela prática, pelas suas histórias, pela concretude.

É uma questão de domínio da realidade. No orgulho, ele sabe o que fez para merecer tal elogio. No amor, ele não sabe o que fez para merecer tal declaração. Quando uma mulher confessa o "eu te amo", está falando do seu amor. Em contrapartida, quando uma mulher confessa "tenho orgulho de você", só está falando do homem.

O que ele quer é ocupar o centro da atenção. Mostrará correspondência quando incluído no discurso, num movimento de procurar ser visto como exemplo.

A comunicação afetiva do homem não tem conexão com a ideia tradicional de heroísmo ou de virilidade. É uma extensão da infância, um reflexo da filiação que ele leva para o casamento: todo o seu esforço para se adaptar às exigências e corresponder às expectativas.

Homem não se interessa em ser amado, mas em ser admirado. 
"Eu te amo" para o homem

CARPINEJAR


05 DE OUTUBRO DE 2024
INVESTIMENTO PÚBLICO - Mathias Boni - Beatriz Coan

INVESTIMENTO PÚBLICO

Recuperação de hospitais avança no RS após enchente. Governo federal já anunciou a destinação de cerca de R$ 638 milhões para o restabelecimento destas instituições, segundo levantamento do Painel da Reconstrução, do Grupo RBS. Catástrofe climática de maio atingiu gravemente estruturas de saúde em diversas regiões.

A tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio afetou gravemente diversos setores do Estado, incluindo as principais estruturas de saúde, como os hospitais. Nas últimas semanas, o investimento na recuperação destes estabelecimentos teve uma aceleração, exemplificada pelo retorno das operações do último hospital do Estado que ainda estava fechado após sofrer os impactos da enchente, o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC).

A plena reparação das estruturas dos hospitais é fundamental para a população. Por isso, essa é uma das áreas destacadas que são monitoradas pelo Painel da Reconstrução, ferramenta desenvolvida pelo Grupo RBS para acompanhar o processo de recuperação do Estado após a tragédia climática de maio.

Desde a enchente, os governos federal e estadual têm reunido recursos extraordinários para acelerar a recuperação dos hospitais afetados. Por ter maior capacidade de mobilização, a maior quantidade de investimentos feitos até o momento foi realizada pelo Planalto.

Conforme dados do Painel da Reconstrução, o governo federal já anunciou, até o momento, cerca de R$ 638 milhões para a recuperação dos hospitais gaúchos. Deste montante, aproximadamente R$ 447 milhões já foram despendidos pela União.

Destes recursos já disponibilizados, parcela significativa, de R$ 189 milhões, foi repassada ao Fundo Nacional de Saúde (FNS), que encaminha então aos municípios. Com este montante, foram financiadas ações e serviços públicos de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar em 213 cidades gaúchas.

GHC

Outro investimento robusto feito pela União foi o repasse de R$ 115 milhões ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC). De acordo com o GHC, cerca de R$ 53 milhões estão sendo utilizados para despesas de pessoal, pois 890 profissionais foram contratados em caráter temporário. Outros R$ 62 milhões foram utilizados para custear a demanda por mais leitos após a enchente - foram abertos 120 novos.

- Foi de fundamental importância a rápida destinação de recursos do governo federal e do Ministério da Saúde para que a instituição tivesse condições de organizar a contratação emergencial de equipes de assistência - reforça Gilberto Barichello, diretor-presidente do GHC.

O GHC afirma já ter recebido o total do valor informado, por isso a reportagem assim considera. Contudo, há divergências com o que é apresentado no Painel de Reconstrução, pois, até a quinta-feira, os valores não estavam incluídos na última atualização do Portal da Transparência, de 19 de setembro.

O ministério menciona outras iniciativas realizadas pela pasta no RS, destacando "vacinação em abrigos, apoio à saúde mental, fornecimento de leite materno para UTIs Neonatais e outras ações para garantir a qualidade da água e a reconstrução de unidades de saúde, totalizando repasse de cerca de R$ 2 bilhões". _

Em Canoas, repasses possibilitam retomada gradual de atendimentos

Outra instituição hospitalar que recebeu recursos federais para reestruturação foi o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC).

Após meses fechado em razão dos impactos da enchente, o estabelecimento, que era o último hospital do Estado ainda sem operação depois da tragédia climática, foi reaberto na última semana.

Conforme informações da prefeitura, o município solicitou ao governo federal R$ 30 milhões para compra de equipamentos, como tomógrafo, equipamento de ecografia e raio X, além de mobiliários. Destes, R$ 19 milhões foram enviados pelo Ministério da Saúde, recurso que já está sendo utilizado. Em complemento, foram solicitados R$ 37 milhões para reformas estruturais, com o envio de R$ 30 milhões. Os serviços de reparos já estão sendo realizados, com previsão de conclusão em dezembro deste ano. Estes dois repasses ocorreram na segunda quinzena de agosto.

- A retomada dos serviços de forma progressiva é fundamental para a reconstrução da saúde em Canoas. Neste primeiro momento, contamos com três consultórios médicos, sala de estabilização, 12 leitos de observação e 34 leitos de internação, além de laboratório e raio X. Estamos tomando todas as medidas necessárias para entregar o hospital à população - afirma Mauro Sparta, secretário de Saúde do município. _

Roca Sales recebe recursos

O município de Roca Sales, no Vale do Taquari, é um dos que sofreu danos severos tanto no evento climático de setembro de 2023 quanto na enchente de maio de 2024. O hospital Roque Gonzales, localizado na cidade, também foi impactado nestes dois anos.

Assim como ocorreu em 2023, em maio deste ano o hospital teve todo o seu primeiro piso alagado, com os atendimentos sendo transferidos de forma emergencial para o segundo andar - as operações do primeiro piso foram retomadas em 29 de julho. Os trabalhos de reparo do hospital foram iniciados com doações, até que, no início de setembro, um montante de R$ 1,7 milhão, provenientes do governo federal e do governo estadual, foi destinado.

- Ainda estamos com trabalhos de reforma, mas a situação dos atendimentos do hospital já está normalizada - afirma Raquel Oestreichc, secretária de Saúde de Roca Sales.

Por estar em uma área suscetível a inundações, o atual hospital de Roca Sales será futuramente desativado. A prefeitura deve apresentar nos próximos dias documentos apontando um terreno no município para a construção de uma nova unidade hospitalar para a cidade. 



05 de Outubro de 2024
MARCELO RECH

O Irã no alvo

"O Irã cometeu um grande erro", disse o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, horas depois do ataque com 180 mísseis, na terça-feira passada. Responsável pelo governo que não antecipou o maior atentado terrorista sofrido na história de Israel, Netanyahu entende de erros. No caso iraniano, acertou em cheio. Com o disparo dos mísseis, o regime dos aiatolás legitimou aquilo que Israel vinha retardando: uma resposta capaz de alterar o cenário militar e político do Oriente Médio.

Plataformas de mísseis - alvos prioritários. Serão visadas na primeira leva, bem como os centros de radares e de controle de lançamentos. Grande parte do sistema iraniano, contudo, está baseada no subsolo e em plataformas móveis. Uma porção significativa do arsenal poderá resistir e ser empregada em novo ataque a Israel.

Centrais nucleares - um alvo óbvio, de alto risco e complexidade. É o prêmio mais desejado por Israel e vizinhos que justificadamente rejeitam um Irã com arsenal atômico. No entanto, os centros de enriquecimento de urânio são subterrâneos e vazamentos nucleares poderiam criar muitas Chernobyls, atingindo toda a região. Podem ser alvo de sabotagens.

Seja a combinação que for, o Irã tem um enorme problema pela frente. O país está dividido entre fanáticos religiosos e aqueles que querem um Irã em paz com o Ocidente. O fim do regime dos aiatolás é uma das três condições para a paz no Oriente Médio - as outras são o reconhecimento generalizado de Israel e a criação de um Estado palestino. As duas últimas não existem sem a primeira. _

MARCELO RECH

05 de Outubro de 2024
EDITORIAL

Vida real e democracia na veia

Os 8,6 milhões de gaúchos aptos a votar têm neste domingo a oportunidade de se expressar nas urnas e ajudar a moldar o futuro a que aspiram para os seus municípios. O voto é a grande ferramenta à disposição dos cidadãos para influenciar o destino do lugar onde vivem. A decisão de sufragar cada candidato ou candidata à prefeitura ou à Câmara de Vereadores, portanto, precisa ser o resultado de uma profunda reflexão, lastreada em informações corretas, em que devem ser sopesados fatores como a qualidade das propostas e sua viabilidade, linhas de pensamento e trajetória pessoal dos postulantes aos cargos públicos.

O desfecho de uma eleição não define apenas os próximos quatro anos dos municípios. Bons gestores e legisladores qualificados, sintonizados com os desafios contemporâneos, têm o poder de deixar legados que, em um horizonte mais largo, permanecem contribuindo para o bem-estar da população e o desenvolvimento local. As questões relacionadas às mudanças climáticas e suas consequências são apenas um dos exemplos atuais mais eloquentes. Maus administradores e parlamentares, ao contrário, são capazes de provocar sequelas duradouras. Daí a relevância de uma decisão racional, consciente e livre neste 6 de outubro nos 497 municípios do Rio Grande do Sul.

Diz-se, de um lado, que os eleitores estão apáticos, desiludidos com a política e com os políticos. De outro, que o excesso de passionalidade de parcela da sociedade e o aferramento incondicional a lideranças carismáticas e ideologias prejudica o diálogo e a formação de consensos. Entre o desânimo e a emocionalidade demasiada, deve prevalecer a razão. No caso, um voto que resulte de uma análise baseada no cotejo de projetos, ideias, posturas e histórico, inclusive ético, dos concorrentes aos Executivos e Legislativos municipais.

O Brasil é ainda uma democracia imberbe. Apenas em 2025 o país chegará aos 40 anos da redemocratização. A marcha do amadurecimento do regime em que todo poder emana do povo, como está inscrito na Constituição, pode estar a transcorrer em um ritmo aquém do que a sociedade deseja. Mas não há caminho fora da perseverança para aperfeiçoá-lo. Para essa tarefa, a eleição é o instrumento legítimo e adequado, por meio da busca por escolher os representantes mais competentes e investidos de espírito público.

A democracia nunca é obra pronta, mas um edifício em constantes reformas empreendidas pelo esforço coletivo dos cidadãos. O voto é a contribuição individual de cada eleitor para esse processo com objetivos comuns, do reforço constante de valores basilares aos aprimoramentos que precisam acompanhar as novas demandas e as transformações da sociedade.

Não são meras teorizações. Os municípios são as menores unidades político-administrativas do país, onde o poder público - prefeitos e vereadores - é cobrado de forma mais direta pela população por serviços essenciais, do posto de saúde ao buraco de rua. É vida real e democracia na veia. Boas e más escolhas, portanto, fazem diferença. Cabe ao eleitor dar o devido valor a esse exercício de cidadania. 


05 de Outubro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Por que boa notícia virou polêmica

O principal motivo para a polêmica formada com a melhora da nota de crédito do Brasil pela Moody?s é o tamanho da dívida pública brasileira, considerado elevado para emergentes como o Brasil. Esse indicador sempre é avaliado em proporção ao PIB, que é a capacidade de gerar riqueza. O nacional é superior ao de China e Índia, por exemplo (veja gráfico abaixo).

Existem pesos de dívida sobre o PIB muito maiores, como os de Japão e Estados Unidos, mas em países desenvolvidos e com moedas fortes. Mesmo assim, foram origem da recente queda de 12% na bolsa japonesa e constantes riscos de shutdowns (fechamento de serviços federais) nos EUA, um dos quais agora, às vésperas da eleição.

Apenas para impedir que a dívida aumente, o Brasil precisa de superávit primário de 1% do PIB. O que a equipe econômica tenta é reduzir o déficit a 0,25% do PIB, no máximo. Seria um buraco de R$ 28,7 bilhões em todo 2024, mas só até agosto o rombo é de R$ 99,9 bilhões. Boa parte desse problema é comum a todos os governos, obrigados a gastar para enfrentar a pandemia. Agora, é preciso controlar as despesas, para que não ocorra shutdown no Brasil. Sem mudanças, até 2027 as despesas obrigatórias crescerão tanto que não sobrará receita para investir. _

Acelerar startups para reconstruir

Parte do RegeneraRS, fundo privado de apoio ao Estado, o Grupo Fleury (dono do Weinmann) vai acelerar startups com foco na reconstrução do RS. A empresa vai validar o modelo de negócio e ajudar a entrar no mercado. A seleção será feita pelo programa Impacta, realizado todos os anos pelo Fleury.

O grupo prevê abrir inscrições no início do próximo ano. Segundo Andrea Bocabello, diretora-executiva de Estratégia, Inovação e ESG do Grupo Fleury, o foco está nas áreas de saúde, construção e crédito. _

Marca de chocolate devastada por cheia abre loja na Capital

Em janeiro, a marca de doces saudáveis True Bites foi mostrada em telões da Times Square, em Nova York. Em maio, no entanto, a empreendedora Paula Moraes teve de adiar o início de seu negócio.

A unidade de produção, construída no bairro Anchieta a poucos dias da enchente, foi devastada pela água. Só sobraram 500 barras de chocolate vegano, sem glúten e açúcar refinado, que não estavam no local e serviram de alavanca para manter à tona a empresa quase destruída.

Em junho, a empreendedora começou a vendê-las, trocando True Bites por True Chocolate. A produção também teve de ser remontada na região central de Porto Alegre.

Agora, Moraes se prepara para abrir até dezembro uma loja só de chocolates, a Just Chocolate, na Galeria Casa Prado, no Moinhos de Vento.

A unidade vai vender barras de chocolate, trufas e confeitos de produção própria e de outras empresas parceiras. A True Chocolate oferece oito versões de chocolate, com preço médio de R$ 30 por barra. Segundo Moraes, a favorita dos clientes leva leite de aveia, castanha de caju, caramelo de açúcar de coco e flor de sal.

As cores da embalagem, diz a empreendedora, são inspiradas na Tony?s, marca que se propõe a combater a escravidão.

- Estamos vendendo muito bem. Já entrei em Canela, nem pensava. É uma superação ver a True (Bites e Chocolate) e a Just Chocolate tomando forma.

No próximo ano, a empreendedora vai abrir uma confeitaria saudável, sua primeira True Bites, também no bairro Moinhos de Vento. Ainda prevê expandir para São Paulo e Porto Belo (SC). Com a Just Chocolate, pretende crescer em franquias. _

faria lima de miami

Com operação em Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Cruz do Sul, a Origem Invest, assessoria de investimentos credenciada pelo Banco Safra, vai abrir em janeiro de 2025 unidade na região de Brickell, a "Faria Lima de Miami". Hoje, dos 1,7 mil clientes, 80 investem nos EUA. O CEO, Thiago Hoffmann, estuda instalar escritórios também em São Paulo, Blumenau e Florianópolis.

Joe Biden, presidente dos EUA, havia feito o petróleo saltar 5% na quinta, mas na sexta se corrigiu, dizendo que não está decidido que Israel vá atacar a infraestrutura de energia do Irã. O barril subiu 0,55% na sexta e 8,4% na semana.

GPS DA ECONOMIA

05 de Outubro de 2024
ACERTO DAS TUAS CONTAS

Atualização do valor do imóvel pagando menos IR

Salvo em algumas exceções (veja quais no final do texto), o contribuinte brasileiro desembolsa um bom dinheiro para pagar o imposto sobre o "ganho de capital", ou seja, o valor a mais cobrado na venda do imóvel em relação ao que pagou quando comprou, tirando alguns fatores de redução. Em geral, essa diferença é alta porque o valor do bem não é atualizado ao longo dos anos no Imposto de Renda, a não ser se acrescenta alguma obra ou outra benfeitoria. A própria falta de correção pela inflação já provoca uma grande diferença ao longo do tempo.

Agora, porém, foi aberta a possibilidade de fazer essa atualização do valor, mas precisa antecipar pagamento de imposto. O governo federal está buscando adiantar arrecadação, pois está rebolando para fechar as contas. A vantagem oferecida pela Receita Federal para pessoa física é reduzir a 4% a alíquota do IR para pagar agora e atualizar o valor do imóvel, contra as convencionais de 15% a 22,5%. Para pessoas jurídicas, ficam 6% de IR e 4% de CSLL, contra até 34% sem redução.

Mas tem "alguns poréns" (sempre tem!). O principal é que, para garantir a redução máxima do imposto, o dono não pode vender o imóvel por 15 anos. Se o fizer, terá que ajustar o valor do imposto, perdendo parte do desconto. O percentual começa em 0% para alienações ocorridas até 36 meses e aumenta gradualmente até 100% após 180 meses (15 anos).

Percebe-se que só é vantajoso quando se ficará com o imóvel por, no mínimo, alguns anos. Pelo cálculo básico do escritório Andrade Maia, só teria benefício se não for vendido antes de sete anos. Isso porque - aqui, outro "porém" - o desconto pequeno oferecido antes disso é anulado pelos próprios fatores de redução do ganho de capital (citados brevemente lá em cima do nosso texto) que o contribuinte precisa abrir mão para aderir ao benefício da antecipação do imposto, pondera o diretor do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis do Rio Grande do Sul (Sescon-RS), Célio Lewandowski.

Para fechar, mais um "porém". O imóvel provavelmente vai valorizar mais ainda nos próximos anos. Ou seja, há grande chance de o contribuinte ter um novo ganho de capital se vender mesmo depois dos 15 anos, sobre o qual incidirá as alíquotas normais do Imposto de Renda.

Antecipar imposto não costuma ser algo simples. É aquele tipo de coisa que, se for, "tem que ir na fé" que vai dar certo. Eu, neste caso, não anteciparia - brinca Lewandowski.

Se, ainda assim, for optar pela modalidade, a adesão precisa ser até 16 de dezembro, com a Declaração de Opção pela Atualização de Bens Imóveis (Dabim), no Centro Virtual de Atendimento (e-CAC) do site da Receita Federal. _

Aproveitando, a coluna relembra em quais (poucas) situações não é cobrado imposto sobre ganho de capital na venda do imóvel

Venda do único imóvel por valor igual ou inferior a R$ 440 mil, desde que não tenha vendido outro imóvel nos últimos cinco anos.

Imóveis comprados até 1969.

Venda de imóvel residencial para compra de outro em até 180 dias. Isenção total se for valor superior e proporcional para preço menor.

Quem paga as despesas da casa

Nas finanças da casa, não tem receita. Cada família adapta a sua, desde que, claro, não gaste mais do que ganha e tenha transparência no que foi acordado. Dou essa resposta quando perguntam como dividir despesas. Pode só um pagá-las? Até pode, desde que esteja bem para todos, especialmente para quem ficou com a responsabilidade. A divisão de gastos deve ser igual para todos ou proporcional à renda? Depende também do que a família acha justo. Abaixo, um recorte da pesquisa enviada à coluna pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL Porto Alegre), Irio Piva, que perguntou sobre a divisão dos gastos na família dos consumidores. A única opção que a coluna considera "errada" é a última, pela qual a pessoa diz não saber como funciona a divisão dos gastos. Dinheiro é, sim, assunto da mesa de jantar. Todos precisam saber, opinar e decidir juntos sobre ele. _

O que diz a pesquisa

Apenas um integrante da família 31,4%

Compartilhada de forma igual 25%

Compartilhada de forma proporcional à renda 23%

Compartilhada sem combinação rígida 15%

Não sabe como funciona 5,6%

Hortifruti online

Consumidor verde

Que tal fazer feira pela internet? Após recuperar as plantações destruídas pela cheia, o Chico Granjeiro voltou a vender suas frutas, verduras e legumes. O site é simples, os preços são bons e tem isenção de frete. Os alimentos são frescos e você ajuda um produtor local a se recuperar. Acesse em chicogranjeiro.eco.br. _

Chuva de queixas

Após a coluna publicar que os financiamentos imobiliários da Caixa Econômica Federal estão travados, choveram mais reclamações. A principal é seguir pagando aluguel enquanto espera, além do gasto para renovar documentos que perdem a validade. Há ainda receio de pagar multa para o dono do imóvel, pois houve aprovação e assinatura, mas o dinheiro não foi liberado pelo banco ao vendedor. _

ACERTO DAS TUAS CONTAS

05 de Outubro de 2024
RESILIÊNCIA

RESILIÊNCIA

Depois da enchente, as urnas

Cinco meses após a maior tragédia climática da história do Estado, 8,6 milhões de gaúchos vão escolher 497 prefeitos e 4,9 mil vereadores. Parte dos locais que receberão eleitores foi atingida pela cheia. Ao todo, 368 pontos de votação precisaram ser realocados devido aos impactos

Resiliência

Em cidades gaúchas como Porto Alegre, prestadores de serviço da Justiça Eleitoral começaram a distribuição, na sexta-feira, das urnas eletrônicas responsáveis por captar os atuais anseios da população por mudança ou continuidade política.

Boa parte do Estado organiza o processo de votação em locais que sofreram o impacto da pior tragédia climática da história, em mais uma demonstração de resistência. Quando o desastre aconteceu, a realização da eleição na data prevista chegou a ser colocada em xeque devido a esses impactos.

Um desses locais é o Pão dos Pobres, na Cidade Baixa, na Capital. Cinco meses depois do prédio da instituição, inaugurado em 1929, ficar inundado, a escola localizada naquele espaço recebeu oito urnas.

Restauração

Agora, as salas devidamente renovadas receberão uma parcela dos 8,6 milhões de eleitores registrados em todo o Rio Grande do Sul para indicar quem querem ver empossados nas 497 prefeituras e nas 4,9 mil cadeiras de vereador.

- É muito bom participar desse processo e testemunhar toda a organização feita para evitar qualquer tipo de fraude. Só podemos entregar as urnas para pessoas previamente determinadas - conta o prestador de serviço para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) Júnior Mazui.

No sábado, as seções de votação serão montadas. Em algumas áreas, escolas diferentes do habitual foram mobilizadas, já que 368 locais tiveram de ser alterados (a lista das seções transferidas pode ser conferida no site do TRE-RS).

O Rio Grande do Sul conta com 31 mil urnas eletrônicas, das quais 3.064 serão empregadas em Porto Alegre.

Em outra região da Capital bastante castigada pela água em maio, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Oscar Schmitt, na Ilha das Flores, receberá 801 eleitores sob um cenário diferente.

Diversos ambientes, a exemplo das paredes do primeiro piso, da pracinha e do portão, que ficaram abaixo d?água, estão de cara nova após restauração. A vice-diretora, Isadora Silveira, relembra do mês de maio com a voz embargada:

- A água nunca tinha atingido todo o primeiro piso, porque esse prédio é alto. Já foi construído pensando nas enchentes, visto que a Região das Ilhas é uma área sujeita a inundações frequentes. Perdemos todas as coisas do primeiro piso, foi tudo para o lixo. Agora ficamos muito felizes de ver como a escola está. Dá um novo ânimo ver que as crianças estão retornando.

Transferências

Ao todo, 19 locais de votação e 134 seções de Porto Alegre precisaram ser realocados. Vários deles, como as escolas das Ilhas, por causa da enchente.

Outro município entre os mais afetados pela catástrofe, Eldorado do Sul enfrenta um risco significativo de aumento na abstenção - a estimativa é de que possa chegar a 40%. Ao menos 5,4 mil moradores ainda não retornaram para suas casas, e a prefeitura da vizinha Guaíba estima que 10 mil eldoradenses estejam morando na cidade.

Como o prazo para alterar o local de votação se encerrou no início de maio, não houve tempo hábil para os afetados se adaptarem às mudanças. Apesar das projeções, o TRE-RS orienta a população a comparecer ao local de votação mesmo que esteja vivendo em outro município. _

Grupo RBS prepara ampla cobertura para o domingo de eleições

- Neste fim de semana, chegamos ao ápice da cobertura eleitoral de primeiro turno, com nossos veículos totalmente mobilizados para levar informação de qualidade para a população, contribuindo para que cada cidadão tome decisões conscientes, de acordo com suas convicções. Nosso objetivo é garantir uma cobertura ampla, transparente, responsável e equilibrada, oferecendo espaços para o debate de ideias e o esclarecimento de temas relevantes - diz Marta Gleich, diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS.

No dia da eleição, a cobertura se inicia antes da abertura das seções eleitorais. A partir das 5h, começa a transmissão ao vivo em vídeo no site e no aplicativo de GZH, com a programação da Rádio Gaúcha. A partir das 6h, também serão veiculadas atualizações minuto a minuto em vídeo, áudio e texto.

A partir do final da votação, haverá atualizações em tempo real sobre a apuração e publicação de reportagens em GZH com resultados de todos os municípios do RS e de outros Estados, além de matérias com o perfil dos eleitos e análises formuladas por colunistas.

Para os ouvintes da Gaúcha, a mobilização começa à 0h de domingo e vai até as 5h da segunda-feira. Haverá repórteres a postos para garantir uma cobertura ágil e qualificada nos maiores municípios do Estado, em cidades da Região Metropolitana e do Vale do Taquari, na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.

Edição impressa

O conteúdo produzido ao longo do dia será consolidado na edição impressa de Zero Hora de segunda-feira. Nela, o leitor encontrará o detalhamento dos resultados nas maiores cidades gaúchas e nas capitais brasileiras. Também haverá reportagens sobre o perfil da nova Câmara da Capital e os campeões de votos para os Executivos e Legislativos, além de análises dos colunistas.

Na RBS TV, a cobertura começa a esquentar ainda no sábado, quando o RBS Notícias mostra os resultados da terceira pesquisa de intenção de voto contratada para Porto Alegre.

No domingo, haverá flashes durante todo o dia. À noite, depois do Fantástico, Elói Zorzetto comanda o programa que resume os resultados.

Em paralelo, o g1 RS exibirá informações em tempo real e os resultados nas 497 cidades gaúchas. A partir das 17h, Simone Lazzari apresenta um programa especial. _


05 de Outubro de 2024
PERFIL

PERFIL

A herança familiar da militante que quer levar adiante o legado do trabalhismo

Juliana Brizola (PDT) morou no Uruguai e no Rio de Janeiro antes de retornar ao Estado para iniciar a caminhada na política. Sob a bandeira da educação em tempo integral e apoiada pelo centro, aposta no voto útil para ser a primeira mulher a sentar na cadeira já ocupada pelo avô em Porto Alegre

Paulo Egídio

Corria o ano de 1993 quando o governador Leonel Brizola mandou chamar Juliana a seu apartamento, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Queria cumprimentá-la pelo aniversário de 18 anos. Enquanto o elevador do edifício São Carlos do Pinhal a levava até o sétimo andar, a jovem de cabelos castanhos e sorriso largo que acabara de chegar à maioridade suspirava: finalmente poderia tirar a carteira de habilitação.

Sabedor da urgência da neta, Brizola não perdeu tempo:

- Olha Juliana, o mais importante de completar 18 anos não é tirar a carteira, é que agora tu vais te filiar no partido - celebrou, puxando uma ficha de filiação e abonando ali mesmo o registro da mais nova militante do seu PDT.

A moça ainda não sabia, mas ali começava a ser traçado o destino de levar adiante o legado do ícone trabalhista. Ou, como os netos o chamavam, o Tata.

Viver sob os desígnios da política nunca foi uma opção para Juliana Brizola. Fazê-loem sua cidade natal, sim. Juliana nasceu em 3 de agosto de 1975 no hospital Beneficência Portuguesa, junto do gêmeo Leonel. Era tempo de exílio para a família e a mãe veio do Uruguai somente para dar a luz aos filhos em solo brasileiro.

O pai, José Vicente, foi o primogênito de Leonel Brizola e transitou entre a música e a política. A mãe, Nereida, é jornalista e filha do capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, um dos militares responsáveis por sabotar a ordem de bombardeio ao Palácio Piratini que partiria da Base Aérea de Canoas em 1961, durante o movimento da Legalidade, liderado por Brizola.

Com os dois lados da árvore genealógica perseguidos pela ditadura instalada em 1964, Juliana foi levada ainda menina para viver no Uruguai. Retornaria ao Brasil pouco antes do avô se eleger governador do Rio de Janeiro, em 1982, e seria carregada no colo por ele no ato de posse.

Passou a infância e a adolescência no Rio, onde aprendeu a surfar e a frequentar o clube do Fluminense. Virou torcedora do time de Laranjeiras, dessas de ir ao Maracanã e assistir ao gol de barriga de Renato Portaluppi que decidiu o campeonato carioca de 1995.

Juliana é Fluminense, mas nunca quis ser fluminense. No seu íntimo, aflorava a origem gaúcha. Desde menina, adorava passar as férias de julho e o verão em Porto Alegre com os avós maternos.

Na juventude, decidiu se mudar de mala, cuia e prancha de surfe para viver na Capital. Ainda voltaria ao Rio para a faculdade de Direito na Universidade Santa Úrsula.

Depois, passaria um tempo vivendo em Florianópolis, mas seu destino estaria mesmo traçado em Porto Alegre.

Mais de três décadas depois de se tornar militante por livre e espontânea vontade do avô, Juliana agora quer ocupar a cadeira que já foi dele. Aos 49 anos, mãe de dois filhos, ex-vereadora e ex-deputada, a advogada mestre em ciências criminais almeja se tornar a primeira mulher prefeita de Porto Alegre.

A expectativa da renovação

No Rio ou em Porto Alegre, Juliana sempre foi ativa no PDT. Na capital gaúcha, foi assessora jurídica do diretório estadual e, em meados de 2006, começou a militar na ala jovem. No ano seguinte, foi alçada à presidência estadual do movimento e tornou-se secretária da Juventude da prefeitura na gestão José Fogaça (MDB).

Em 2008, aos 33 anos, apareceu na urna pela primeira vez e se elegeu vereadora com quase 10 mil votos, sendo a mulher mais votada naquela eleição.

Dois anos depois, conquistaria o primeiro dos três mandatos de deputada estadual, nos quais se destacou por sustentar as bandeiras trabalhistas, como a escola de tempo integral e o fortalecimento do serviço público.

Tentaria chegar duas vezes à prefeitura de Porto Alegre. Em 2016, como vice de Sebastião Melo (MDB), perdeu no segundo turno. Em 2020, encabeçando chapa, fez 6,4% e terminou em quarto lugar. Sofreria novo revés em 2022, quando disputou vaga na Câmara dos Deputados e ficou na primeira suplência do partido. Faltaram 1,4 mil votos para a cadeira.

Com o trabalhismo em declínio e sem apoios à esquerda, precisou dar um passo ao centro para construir uma candidatura competitiva neste ano. Seu principal aliado é o União Brasil, que cedeu o vice, o deputado estadual Thiago Duarte, médico que fez carreira e ganhou popularidade atendendo na periferia. Por fim, conseguiu o apoio pouco empolgado do PSDB de Eduardo Leite, a quem fez oposição na Assembleia.

Após um início hesitante, os números promissores galgados nas pesquisas de intenção de voto animam os correligionários, especialmente os mais antigos, que sonham com renovação no trabalhismo.

O jornalista Carlos Bastos, 90 anos, que foi amigo de Brizola e cobriu a Legalidade de dentro do Piratini, é ainda mais ousado:

- Não é que renova. Ressuscita!

"Baixou o Brizola"

No âmbito familiar, Juliana se dedica aos cuidados com os filhos José Inácio, 14 anos, e Angelina, 10, e com a avó materna Dóris Daudt, de 98 anos, que a acolheu na Capital durante a juventude. Após se divorciar em 2022, começou a namorar o advogado João Guilherme Desenzi, 30 anos, mineiro radicado em São Paulo e presidente da ala jovem do PDT paulista.

Nos momentos em que não está se dedicando aos seus ou fazendo política, o hobby predileto é a prática de exercícios físicos. É parceira de academia de José Inácio e costuma frequentar a Sogipa, clube que fica próximo à residência, no bairro São João.

Além do legado político, herdou do avô traços do temperamento, como a resistência em mudar de opinião e a facilidade em subir o tom quando acha que deve. Entre assessores, a brincadeira nesses momentos é de que "baixou o Brizola" na chefe.

- Quando ela fica braba, não tem quem segure - confirma o filho adolescente, ponderando que a mãe cobra bastante, mas sabe dialogar.

Juliana até endurece, mas sem perder a ternura. Seus assessores são longevos e amizades duradouras.

- Ela cresce na adversidade. Se um debate for morno, ela não vai ir bem. Ela vai bem quando fica mais pegado - conta o amigo Jonatas Ouriques, que trabalha com Juliana há quase 20 anos e coordena a campanha.

O irmão mais novo, Carlos Daudt Brizola, o Carlito, concorda:

- Ela reage muito bem à pressão. E se sai melhor nos momentos em que é pressionada, inclusive nos debates.

Um dos raros momentos em que a candidata do PDT desliga da política é o final de ano, quando parte para o veraneio com a família em Garopaba (SC). Por lá, costuma praticar o esporte que aprendeu na adolescência e que tenta mimetizar nesta eleição, surfando a onda do voto útil que pode levá-la ao segundo turno. _

Ela cresce na adversidade. Se um debate for morno, ela não vai ir bem. Ela vai bem quando fica mais pegado.

Jonatas Ouriques - Amigo e coordenador da campanha


05 de Outubro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Direto de Tel Aviv

A mesa posta

Se há um símbolo universal, acima das rivalidades religiosas, políticas e culturais, este é a mesa. A mesa posta pelos pais à espera dos filhos que irão chegar de viagem. A mesa onde saboreamos a comida feita com carinho. A mesa sobre a qual oferecemos o melhor vinho aos amigos. Sim, a mesa é mais que um amontoado de tábuas, comida e bebida, copos e pratos. Nela construímos memórias.

Em Tel Aviv, a mesa está posta, com toalha branca, louça requintada, taças bonitas, para os cerca de 250 reféns tomados pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023. Construída no largo em frente ao Museu de Arte, a obra impacta, entretanto, pelo vazio. Está tudo pronto. Mas falta o principal: as pessoas.

Ao caminhar pela praça gerenciada pelo coletivo Fórum dos Reféns, criado um dia depois do massacre, levamos um soco no estômago a cada olhar: além da ausência como cerne da mostra artística na mesa vazia, há um grande coração em vermelho pulsante acorrentado. Tem também um bebê prisioneiro em seu próprio berço. E há um túnel, que busca reproduzir as catacumbas do Hamas, em Gaza. À medida que se adentra no espaço, uma confusão de sentimentos afloram: claustrofobia, umidade, medo da escuridão. O som dos nossos passos se mistura com a música que vem de um piano, mas logo é suplantado pelo barulho de tiros e explosões nos alto-falantes.

Depois de fazer a curva no túnel, quando vi a claridade lá fora, pensei no inevitável clichê: apesar de tudo, há luz no fim do túnel. Senti o prazer da liberdade - e me senti culpado por isso. Saí, na verdade, com o coração acorrentado. _

Impacto psicológico

Um ex-militar que a coluna conversou, este com experiência em Gaza, faz uma avaliação sobre as mortes dos oito soldados no Líbano, no primeiro dia de ações terrestres no país vizinho para neutralizar combatentes do Hezbollah:

- Israel está desacostumado a perder soldados. Estará preparado para quando começarem a morrer outros jovens? - ponderou.

Diferentemente da ação na Faixa de Gaza, após o massacre de 2008, quando foi empregado grande efetivo, dessa vez, Israel adota ações com pequenas unidades, que ficam cara a cara com a força de elite do grupo terrorista Hezbollah, a chamada Força Radwan:

- Todos se orgulham do Domo de Ferro (o eficiente sistema antiaéreo israelense). No Líbano, para soldado, não tem (sistema de defesa). É disparo de morteiro a toda hora. _

O dilema do druso

A coluna também conversou com um druso que integra as forças israelenses na fronteira Norte.

Ele é oriundo do vilarejo de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, onde um foguete caiu, em julho, matando 12 pessoas, entre elas crianças. O governo israelense responsabiliza o Hezbollah pelo ataque.

Dispersos por vários países do Oriente Médio, como Síria e Líbano, os drusos que vivem em Israel podem optar por servir ou não ao Exército. O soldado conta que não veste o uniforme em sua vila e tinha receio de que os pais o vissem como traidor. Outro dilema: um druso israelense pode acabar enfrentando um druso sírio ou libanês, e, por força da missão, acabar matando alguém do mesmo grupo. 

Em menos de 12 horas, brasileiros que vivem no Líbano foram da esperança à frustração diante do adiamento do voo da FAB, que pousaria no aeroporto de Beirute nesta sexta-feira para retirar os cidadãos da guerra.

Nessryn Khalaf foi acordada pela irmã, Amanda, às 4h da madrugada. A embaixada brasileira em Beirute enviou uma mensagem convocando os inscritos a estarem em frente ao prédio diplomático ao meio-dia desta sexta-feira. Nessryn, Amanda e a mãe, Nádia Gomes Jebai, deixaram a capital libanesa no fim de semana, em uma fuga desesperada diante dos bombardeios israelenses à capital. Se refugiaram em Faraiya, nas montanhas, 46 quilômetros ao norte de Beirute.

Quando chegou a mensagem da embaixada, Nessryn viveu um sentimento ambíguo. O pai, Ayman Khalaf, não poderá embarcar. Pretende ficar no Líbano para cuidar de sua mãe, Dibe Achour, que tem câncer.

- É um sentimento muito estranho, complexo, porque meu pai vai ter de ficar para trás. Não está indo para o Brasil com a gente. Minha vó está doente, é libanesa, tem câncer, não caminha, não tem nem passaporte. Não teríamos como tirá-la daqui. Meu pai vai ter de ficar para trás para cuidar dela - contou.

Nessryn continua:

- Estamos felizes em poder voltar para o Brasil, mas é muito difícil deixar meu pai para trás, porque não sabemos se ele vai conseguir sobreviver.

Nesta sexta-feira, a família voltou para Beirute.

- Agora, estamos em uma região bombardeada anteontem. É bem perigoso, mas estamos aguardando, porque meio-dia temos de estar em frente à embaixada - contou, ainda sem saber do adiamento do voo.

Notificada, a família decidiu voltar para as montanhas - são 45 minutos de carro entre Farayia e Beirute. Agora, elas esperam a repetição da cena da madrugada passada, quando uma mensagem de celular significou, por algumas horas, o alívio. _

Relato de um combatente

A coluna conversou com um militar israelense que atuou por dois meses nas operações contra o Hezbollah na fronteira com o Líbano. Antes, ele havia participado das missões na Faixa de Gaza no ano passado. Por questões de segurança, pediu para não ser identificado.

"Ficamos dois meses em uma base de artilharia. No Norte foi muito mais perigoso do que na Faixa de Gaza. Era míssil toda hora caindo, tínhamos de ficar em bunker. Foi uma temporada bem ruim. Caíam drones em cima da gente. Certo dia, um submajor viu os drones voando, saiu correndo, tropeçou e caiu. Os drones caíram em cima dele, mas não explodiram. Foi um milagre ter saído vivo. 

Naquele final de semana, eu estava em casa. Quando voltei para a base, como no caminho o sinal de celular é fraco, mandei uma mensagem para um amigo: ?Vai me avisando, caso houver algo (outro ataque), eu paro na estrada e espero passar?. Enquanto íamos, ele falou: ?Parem, estão vindo mísseis, estamos indo para os bunkers?. Depois de meia hora, ele disse que estava tudo ok. 

Quando estávamos chegando, ocorreu outro ataque. Ele correu para o bunker, só que, dessa vez, não conseguiu me enviar mensagem. O que eu temia aconteceu: cheguei na base, abriram o portão, e só deu tempo de o soldado falar: ?Corram para o bunker que está tendo ataque aéreo?. No horizonte, eu ouvia barulho dos mísseis caindo e se aproximando da base. Um míssil caiu 40 metros de mim. A sorte é que, atrás, havia uma grande cobertura de terra. Saí correndo para entrar no bunker. Foi a pior experiência. O que não passei em Gaza, sofri no Norte. 

A pior temporada da minha vida. Eles (o Hezbollah) atiraram mais de 40 mísseis de pequeno porte sobre a minha base. E caíram ao norte. Ou seja, erraram. Se tivessem acertado, minha base teria sido destruída. O Norte foi uma experiência horrível. A Faixa de Gaza é perigosa dentro, mas o Norte é uma fronteira mais ampla, tem muito mais área com civis. É muito drone caindo, mísseis do tamanho de um ônibus caíram na frente da minha base." 

INFORME ESPECIAL