sábado, 16 de setembro de 2023


16/09/2023 - 10h37min
BRUNA LOMBARDI

Querem que você mude?

Ninguém se sente seguro com nosso crescimento. E nem sempre por medo que você sofra, mas por medo de ser deixado pra trás. Transformação da borboleta não só quebra o seu casulo, mas deixa os outros casulos. Ela agora quer liberdade, flores e outras borboletas

Existem várias razões que impedem nossas mudanças. A maioria delas tem a raiz no medo. Não só o nosso, mas o medo dos outros que a gente mude e deixe de estar ao alcance deles, ou dentro da caixa segura que eles criaram pra nós. 

Quantas vezes você ouviu alguém te dizer: "você mudou"… Ou: "isso não é pra você"… Ou: "você não é isso". E centenas de outras frases que no fundo significam a mesma coisa: fique onde está.

Se eu não mudei, por que você quer mudar? Se você deixar de ser quem eu conheço, no que você pode se transformar? Se você sair do perímetro que eu tracei, para onde você é capaz de  ir?

Por que mudar é tão difícil? Não queremos abandonar amigos, família, nosso lugar. O voo pode ser solitário, e nada é garantido. A gente mesmo deixa uma segurança confortável já conhecida, onde podemos nos acomodar sem correr riscos.

Ninguém se sente seguro com nosso crescimento. E nem sempre por medo que você sofra, mas por medo de ser deixado pra trás. A transformação da borboleta não só quebra o seu casulo, mas deixa os outros casulos. Ela agora quer liberdade, flores e outras borboletas.

Por que mudar é tão difícil? Não queremos abandonar amigos, família, nosso lugar. O voo pode ser solitário, e nada é garantido. A gente mesmo deixa uma segurança confortável já conhecida, onde podemos nos acomodar sem correr riscos.

Mas a principal pergunta é se aquilo que estamos descobrindo dentro de nós ainda corresponde com o que estamos vivenciando. Uma parte nossa sempre vai ficar. O amor da família, o carinho de velhos amigos e nosso lugar, porque isso está sempre dentro de nós.

A mudança nem sempre significa deixar isso tudo. Você pode mudar continuando onde você está ou sempre esteve. Não é necessário sair, porque nem sempre muda o lugar. O que o que está se transformando são suas ideias, seus sentimentos, seus desejos.

Aquilo que você é vai tomando uma nova forma. E nós não somos apenas os papéis que temos na vida, filha, aluna, colega, amiga, mãe, profissional ou seja o que for que a vida nos traga. Existem coisas dentro de nós que nos são reveladas aos poucos e a gente sente que são fundamentais.

A gente não pensa mais do mesmo jeito. A gente não precisa querer mais as mesmas coisas. Vamos passando pelas fases da vida, e é tão natural a gente ir deixando coisas pelo caminho. Fazendo escolhas. Descobrindo novas maneiras de ser além das que nos foram impostas.

Você muda e tem tanta coisa que se torna lembrança, saudade, você pode voltar e rever, pode gostar novamente. Mas você é outra pessoa. Quando a gente reclama que um lugar do nosso afeto se transformou, é claro que a gente queria manter intactos certos sentimentos. 

Quem não gostaria de tomar aquele sorvete de milho que tomou na infância?  Deitar na grama de um parque que virou prédio? Reencontrar amigos que perdeu? Nossa memória emocional vai deixar essas sensações intactas. Mas o bom da vida é que vamos construindo outras novas na medida em que nos adaptamos a quem somos a cada etapa.

Sem medo de mudar vamos somar emoções. Descobrir um mundo dentro de nós. Vamos nos conhecendo e sendo tudo o que podemos ser. Só assim vamos saber cada vez mais, por isso quando olhar pra trás vai dizer: "ah se eu soubesse o que sei agora…". Isso significa crescimento.


Atualizada em 15/09/2023 - 09h32min
Martha Medeiros

Piração artificial: anda sem foco? Descubra por que

Não são nem 7h, quanta ansiedade. Aliás, o que não falta é postagem sobre ansiedade. Amanheceu. Diga ao menos bom dia para a pessoa que está deitada ao seu lado, antes de pegar o celular na cabeceira para ver as horas

Amanheceu. Diga ao menos bom dia para a pessoa que está deitada ao seu lado, antes de pegar o celular na cabeceira para ver as horas. Não são nem 7h, quanta ansiedade. Aliás, o que não falta é postagem sobre ansiedade. Já assistiu à live daquele especialista? Se prefere lives sobre menopausa, não encontrará nada a respeito nas redes. Hahahaha. Riso histérico. Você não está histérica? Look do dia: camisa de força. 

Jejum é perfeito para perder peso. Coma de três em três horas, recomendam os nutricionistas. Se quer perder barriga, comece hoje mesmo o pilates de parede. Açúcar mata. A salsicha leva 30 anos para sair do corpo, por causa dos níveis de nitrato e nitrito. Nunca mais um cachorro-quente. O importante é ser feliz. Dois litros de água por dia. Água demais faz mal à saúde. 

A dieta da banana é infalível. Perca 16 quilos em duas horas. Sophia Loren deve tudo ao macarrão. O que fazer, quem tem razão? Tire férias na melhor pousada da Bahia. Você já esteve na Puglia? Se nunca esteve na Puglia, para que continuar vivendo? Dicas para economizar em Paris. Vídeo revela os pickpockets no metrô de Paris. Emily in Paris é filha do Phil Collins, você sabia? 

Dicas imperdíveis para um bate e volta de Bali. Peregrinação em Santiago de Compostela: caminhe de costas para ativar os neurônios. Você já esteve em Santorini? Você já descobriu quem você é? Se não conhece a Puglia, você não é ninguém.

Velho é o novo jovem. Se não está velho, está fazendo o que no Instagram? Nunca reclame da velhice, a alternativa é pior. Os 50 são os novos 70. Caminhe 10 mil passos por dia. Sorria. Abaixo a ditadura da felicidade. 

Namore. Solidão é o novo casamento. Sexo tântrico, comece agora. Sexo com abacate, gengibre e ostras. Sexo antes de dormir ou ao acordar? “Parar de fazer sexo foi a minha libertação”. Onde encontro mais informação?

Os 10 melhores livros sobre crise de pânico. Os 10 melhores livros sobre tudo o que você precisa saber. Os 10 melhores poemas dos 10 melhores poetas americanos. Os 10 livros que não podem faltar na biblioteca de uma mulher de negócios. Os 10 livros que vão ensinar você a ficar longe do cartão de crédito. Dica para comprar e ler muitos livros: assalte um banco e garanta uma prisão perpétua.

Dê a volta ao mundo levando apenas uma mala de mão. Chegue aos 80 com a pele da garota de Ipanema. O show do ano: ingressos esgotados. O segredo mais bem guardado de Taylor Swift. Dez hábitos de casais que duram. Como sobrevivi a cinco separações. Posso pegar dois salgadinhos da bandeja do garçom ou é falta de educação? Os bastidores das férias da influencer de 30 milhões de seguidores que namora o DJ superstar de Ibiza. 

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16 DE SETEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Medicação criativa

Se você pensa que é sofrido e estressante aplicar remédio para bebê, com o receio de errar a dose, de exagerar ou moderar demais a diluição, de a criança cuspir ou vomitar, então experimente medicar seu cachorro.

O filho pequeno depende de você, uma hora acabará cansando da birra e entendendo. Chora, mas aceita ao final. É um teatro que abre e fecha as cortinas. Já o cachorro acredita que é você que depende dele, e nunca cede aos seus apelos. Propõe um jogo de esconde-esconde próprio de desenho animado. Em ambos os casos, penará tentando ser criativo. Mas unicamente não terá sucesso com o seu cachorro.

Ele sente que está sendo enganado com o falso petisco e se defende com a rapidez de seus reflexos.

Vai cuspir o remédio olhando para você. Encarando o seu fracasso, a sua reação nula de impotência, o seu olhar aflito diante do desperdício. Para você entender de uma vez por todas que ele não quer. Desinteressado inicialmente pelo cheiro, sempre se portará desinteressado. É uma rejeição à primeira cheirada, definitiva.

Não adianta fingir que está comendo algo e deixar cair o comprimido. Nossas encenações são péssimas para o mundo pet. Ele nem irá investigar a pílula dourada, despistado pela pantomima amadora.

Pode arriscar oferecer dentro da ração o que foi receitado pelo veterinário. Já aconteceu de o meu cão comer o conteúdo inteiro na tigela, menos a parte com a medicação, que sobrará babada com requintes de deboche.

Pode inserir o elixir medicamentoso no interior de uma salsicha, com a perícia de um açougueiro. Não sei como, porém ele arrodeia com os dentes o objeto intruso e o expele intacto.

Sua reincidência com outra salsicha será inútil, ele ficará cada vez mais esperto. Farejará o seu medo, a sua mentira, a sua necessidade. Até porque ele não se considera doente. Ao perceber a sua movimentação suspeita, dando muita atenção, mais do que o comum, vindo para cima com aquela voz infantil e piegas de dublagem, sairá correndo pela casa, abanando o rabo como hélice.

Carinhos serão compreendidos como ameaças. Recompensas serão vistas como chantagens. O cachorro é ainda mais inteligente na fragilidade. 

Estava prostrado e sonolento minutos atrás, com a feição casmurra em cima das patas, e, de repente, se enche de saúde para fugir do enfrentamento. Combate a sua apreensão com uma disposição fora de série. Parece que não existe mais nenhuma debilidade, que é paranoia da sua cabeça.

O inferno é redobrado com remédio líquido. Não é uma tarefa para principiantes. Cachorreiro de carteirinha já aprendeu a soprar o focinho como vela de aniversário. Com uma seringa, aproveita o breve vacilo da comichão. Só com cócegas mesmo, só com golpe baixo no maior dos afetos.

CARPINEJAR

16 DE SETEMBRO DE 2023
LEANDRO STAUDT

Vovô das gaitas

O italiano Túlio Veronese chegou menino ao Rio Grande do Sul. Em 1885, a família deixou a Europa para morar no interior de Alfredo Chaves, atualmente Veranópolis. Pioneiro na fabricação de acordeão, ficou conhecido como o "vovô das gaitas". A pequena produção na Serra deu origem a uma grande fábrica em Porto Alegre.

Inicialmente, Veronese fazia gaitas de forma artesanal. Ele foi morar na área urbana de Alfredo Chaves em 1900, ano considerado para a fundação da fábrica. Com técnicas industriais, passou a fazer gaitas de botão. Em propaganda de 1928, o nome era Túlio Veronese & Irmão Rissieri.

O pesquisador Sergio Rigo conta que, em 1930, dois filhos partiram para Porto Alegre. Fiorello e Ricardo abriram a Fábrica de Acordeões Irmãos Veronese. O pai partiria poucos anos depois para acompanhar os filhos na expansão dos negócios.

Em propaganda na década de 1960, a empresa destacava que o fundador, aos 88 anos, ainda trabalhava 365 dias por ano. Nos domingos e feridos, quando outros descansavam, ele aproveitava para arrematar a afinação das gaitas.

Mesmo concorrendo com marcas europeias, o acordeão Veronese ganhou fama. Os produtos eram enviados para outros Estados e exportados para vários países. Chegou a fabricar 1,2 mil instrumentos por mês na fábrica na Rua Barão do Cotegipe, no bairro São João.

A família Veronese fundou um clube de futebol, sediado em Canoas. Em 1959, o Grêmio Esportivo Veronese conseguiu o acesso e, em 1960, jogou a divisão principal do Gauchão. A empresa também mantinha uma banda para tocar em bailes.

Quase 10 anos depois de ser transformada em sociedade anônima, a Acordeões Veronese S.A encerrou as atividades em 1967. A fábrica também já fazia violões.

Túlio Veronese morreu em 1974. Na área da antiga fábrica, foi construído o ginásio esportivo da Sogipa.

LEANDRO STAUDT

16 DE SETEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

APRENDER NA TRAGÉDIA

Nas tragédias, como as de agora no Estado, é preciso ir às origens para não se repetirem. Aqui não se tratou de um "fenômeno natural", como o terremoto em Marrocos, devido ao deslocamento das placas tectônicas. Não busco substituir-me ao minucioso trabalho dos repórteres e fotógrafos deste jornal (que repercutiu pelo país), mas ir adiante com a explicação de especialistas.

Assim, dou a palavra ao geólogo Rualdo Menegat, professor da UFRGS e respeitado mundialmente por explicar a construção de Machu Picchu pelas antigas civilizações andinas.

Demonstra ele: "As grandes chuvas, por conta de um ciclone extratropical, foram a causa principal, pois o nível dos rios se eleva em até 10m. Mas há fatores agravantes, como a geomorfologia da bacia hidrográfica, o uso do solo nas cabeceiras, a ocupação de áreas ribeiras e o uso dos recursos hídricos". E frisa: "Não há tempo sequer para fuga dos habitantes, como nas enchentes do Taquari e do das Antas".

Aponta também para o "agravante geomorfológico" e diz: "Os cursos d´água que afluem ao Lago Guaíba e à parte final do Rio Jacuí (como Jacuí-Mirim, Antas, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí) nascem no Planalto Meridional e despencam até a Depressão Periférica em alta velocidade".

Tudo se agrava com o uso do solo e a ocupação das áreas ribeiras. O desmatamento contínuo junto a rios e arroios e a destruição dos banhados das cabeceiras aumentam o volume das águas e a velocidade do escoamento na superfície. A água da chuva não permanece nos banhados nem no solo das matas e pouco recarrega os aquíferos. Corre e se acumula nas zonas baixas.

A desenfreada ocupação urbana, "que não respeita limites", agrava tudo. Falta planejamento urbano e nem as barragens se adaptam a dar vazão às águas. Além de produzir energia, as barragens poderiam servir como contenção. Faltam planos de emergência em casos de ruptura.

A crise climática exige ações concretas sobre a gestão das águas e territórios.

Concluo eu: a inépcia dos governantes nos faz aprender com a desgraça.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

16 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

RETROCESSO ELEITORAL

Os deputados federais deram, na última semana, mais um exemplo de agilidade e coesão típicas da Casa sempre que está em análise um tema voltado a favorecê-los, junto com seus partidos. Aprovaram com celeridade dois projetos de lei de mais uma minirreforma eleitoral, já tradicional em anos que antecedem pleitos. As proposições agora em pauta, no entanto, contêm graves retrocessos. Diminuem a transparência na prestação de contas, afrouxam a Lei da Ficha Limpa e enfraquecem normas voltadas a fazer com que as características da população brasileira sejam mais bem representadas no parlamento. A matéria vai agora ao Senado, que tem o dever de analisar profundamente cada ponto e barrar abusos.

Como é regra quando legislam de acordo com os próprios interesses, os deputados fizeram a minirreforma tramitar rapidamente e asseguraram amplo apoio ao texto, do situacionista PT ao oposicionista PL. Apenas Novo e PSOL orientaram contra. À frente das articulações esteve a deputada Dani Cunha (MDB-RJ), filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, cassado em 2016, com o apoio do atual comandante da Casa e prócer do centrão, Arthur Lira.

O cardápio de mudanças, alvo de severas críticas de organizações voltadas à defesa da transparência no uso de recursos públicos, inclui o fim da necessidade de as campanhas realizarem uma prestação parcial de contas antes da eleição. Torna mais opaca a análise da arrecadação e dos gastos, portanto. Prevê ainda uma fórmula que, na prática, diminui o tempo de inelegibilidade de políticos que perdem mandatos. Abre brechas para dificultar a cassação por compra de votos. Também enfraquece as regras de cotas para as candidaturas femininas. A exigência de ao menos 30% deixa de ser para cada partido, de maneira individual, e passa a ser responsabilidade da eventual federação integrada pela sigla.

A disposição para aprovar o pacote a toque de caixa, evitando ao máximo repercussões na sociedade, também tem um sentido prático. Para as novas regras valerem para as eleições de 2024, precisam ser sancionadas até o próximo dia 6 de outubro.

Mas a farra não para por aí. Ao longo da próxima semana, deve ser analisado na comissão especial o texto da chamada PEC da Anistia. A proposta reduz os recursos que as campanhas têm de direcionar a candidatos negros. E livra as legendas de multas, suspensão do recebimento de verbas ou de terem de devolver dinheiro por irregularidades em prestações de contas. O perdão inclui a desobediência às regras de repasses mínimos por sexo ou raça na eleição de 2022.

No caso da minirreforma, o próximo passo é a análise pelo Senado. O presidente Rodrigo Pacheco assegurou na quinta-feira que não haverá açodamento na apreciação do tema. Ou seja, não haveria compromisso em levar à votação a tempo de as mudanças serem válidas para o pleito do próximo ano. É o que os eleitores e contribuintes esperam. Que a desfaçatez não ganhe eco no Senado e a Casa revisora da República avalie a matéria com a seriedade que ela merece, separando aperfeiçoamentos de retrocessos.



16 DE SETEMBRO DE 2023
ACAMPAMENTO FARROUPILHA

Terceira idade preserva tradição

O Acampamento Farroupilha, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, realizou na sexta-feira o primeiro baile da terceira idade na programação do evento. No piquete da GAM3 Parks, participantes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos voltado a idosos no Centro de Referência e Assistência Social (Cras) aguardavam ansiosos pelo início da festa.

O encontro foi uma oportunidade para a aposentada Elisabete Valenci Souza, 70 anos, se divertir com as amigas e retornar ao parque após nove anos.

- É um renascimento. Estou contente com a companhia das minhas amigas. Nunca fui muito pé de valsa, pois casei muito nova e não deu tempo de ser pé de valsa. Meu marido era uma pessoa maravilhosa, mas não era pé de valsa, embora gostasse de dança - afirma Elisabete.

A técnica Maria da Graça Furtado, da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), destaca que a Capital possui 22 Cras que atendem mais de mil idosos, e reforça a importância de atividades como essa para esse público.

- Eles adoram a tradição, adoram a cultura gaúcha, gostam muito de participar. Estar hoje aqui no Acampamento Farroupilha atende esse objetivo da circulação maior de idosos, que vêm de lugares bem distantes.

Mais de 100 mil são aguardados

Com previsão de sol e calor de 30ºC no fim de semana, a organização do Acampamento Farroupilha 2023 espera a presença de público superior a 100 mil pes­soas neste fim de semana.

Diversas atividades culturais e shows estão previstos para o palco principal. A presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas, Liliana Cardoso, destaca o clima para o fim de semana.

- Abriu o tempo e o sol está voltando - comemora.

FELIPE SAMUEL


16 DE SETEMBRO DE 2023
ACERTO DE CONTAS

Diárias a preço de custo para voluntários

Três pousadas de Vespasiano Corrêa, no Vale do Taquari, estão oferecendo diárias a preço de custo para voluntários, com valor até R$ 60. A iniciativa surgiu quando a Pousada JC, a Morada da Esperança e a Pousada Belvedere foram procuradas para hospedar 50 bombeiros do Paraná que vieram ajudar nas buscas.

- Não tenho muito espaço, poderia receber apenas 10, então procurei as outras e decidimos cobrar apenas o custo que temos - conta Thais Tomazzi, dona da Pousada JC.

- Montamos 31 camas na pousada e na casa do meu pai para recebê-los. Eles colocam em risco a saúde para socorrer a nossa população - diz Carmen Ehlers, dona da Morada da Esperança.

Já Adair Michelon, da Pousada Belvedere, se prepara para receber nos próximos dias um grupo de dentistas voluntários de Porto Alegre.

Um alívio a Roca Sales

Boa notícia que acaba com uma das apreensões de Roca Sales, a JBS manterá a indústria no município, onde a sua subsidiária Seara é a segunda maior empregadora, com 504 funcionários.

À coluna, a gigante da indústria de carnes, que responde por 11,42% da arrecadação de tributos da cidade, informou que retomará a produção na semana que vem. Será uma volta gradual, começando pela linha de produção de peito de peru.

A companhia destaca que o retorno se deve muito à força-tarefa dos próprios funcionários para limpar a fábrica e verificar equipamentos. A unidade foi bastante afetada pela enchente. Ela fica perto de onde "um rio cortou a cidade", como os moradores dizem. Em Bom Retiro do Sul, também no Vale do Taquari, o impacto foi menor, e a JBS já voltou a operar.

Ainda em Roca Sales, a empresa apoiará a reconstrução do posto de saúde central, atendendo a um pedido da prefeitura. Além disso, a JBS doou 10 toneladas de carne e mil cestas básicas às famílias atingidas pela tragédia. Em paralelo, a Flora, empresa de higiene e limpeza da J&F Investimentos, doou 2 mil kits de higiene.

GIANE GUERRA

16 DE SETEMBRO DE 2023
DADOS DO IBGE

Serviços lideram avanço entre setores da economia gaúcha

Alta registrada pelo segmento foi de de 7,2% no Estado entre janeiro e julho de 2023, mesmo após desaceleração recente

Com ambiente de juro alto e consumo limitado ainda contaminando parte das atividades produtivas e de varejo, o setor de serviços segue puxando o avanço da economia gaúcha em 2023. No acumulado do ano até julho, o segmento manteve patamar de alta ante o mesmo período do ano passado. O comércio também segue no azul, mas com desaceleração mais acentuada, e a indústria não conseguiu sair do vermelho.

Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cenário ainda marcado pela retomada após o choque da pandemia, renda prejudicada e falta de apetite do mercado externo são alguns dos fatores que explicam esses movimentos distintos, segundo especialistas.

Ramo mais representativo dentro da economia brasileira, o setor de serviços soma alta de 7,2% nos sete primeiros meses de 2023 no Estado. Mesmo com desaceleração no acumulado e queda de 0,6% em julho, o volume de serviços mantém o nível elevado ao longo do ano. A alta no agregado é puxada por segmentos como transporte e informação e comunicação.

A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que o setor de serviços apresentou queda maior no Estado em 2020, primeiro ano de pandemia, do que a média do país. A estiagem também afetou o RS naquele ano.

- Hoje, o que se observa no Brasil e no Rio Grande do Sul é uma desaceleração que mostra um setor ainda bastante resiliente, mas com taxas maiores aqui por essas questões ligadas aos efeitos da pandemia e da superestiagem de 2020, que afundaram as bases de comparação - analisa.

Varejo

O volume de vendas do comércio varejista também está no positivo em 2023 (1,3%), mas em nível ainda baixo e perdendo força no acumulado a cada mês que passa - apesar da alta de 2,1% em julho.

- A inflação elevada por muito tempo, as taxas de juros altas e a inadimplência que atingiu patamares relevantes acabaram reduzindo o impulso ao consumo que naturalmente seria dado por um mercado de trabalho potente como o que tivemos nos últimos dois anos - observa Patrícia.

ANDERSON AIRES


16 DE SETEMBRO DE 2023
CARTA DA EDITORA

Mais conteúdos de educação

Nesta segunda-feira, o site e o aplicativo de GZH inauguram uma nova seção exclusiva para temas de educação, reforçando a cobertura de uma área que sempre foi prioritária para os veículos da Redação Integrada. Para isso, ampliou-se também a equipe dedicada ao tema. Além da repórter especializada no setor Isabella Sander, foram contratados para o time o editor Cristiano Abreu e a repórter Sofia Lungui. Os três trabalharão sob a coordenação de Rosângela Monteiro, editora da área de Comportamento.

- Acredito que é por meio do conhecimento que as pessoas podem ampliar seus horizontes e transformar suas vidas, assim como aconteceu comigo. Por isso, estou tão feliz em comandar este projeto - destaca Rosângela.

A nova seção trará conteúdos como Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vestibulares, carreiras, Educação Básica e Ensino Superior. Também serão destacados os bons exemplos que são pensados nas instituições de ensino e podem ser replicados.

Segundo Rosângela, a nova editoria terá conteúdos especiais como web stories, vídeos e agenda relacionada a eventos da área. As reportagens produzidas serão valorizadas em Zero Hora, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho.

Desde o início de setembro, Zero Hora tem publicado uma série de conteúdos sobre as tradições gaúchas e acompanhado de perto a movimentação no Acampamento Farroupilha de Porto Alegre. Já esta edição traz encartado o caderno Especial Farroupilha, que apresenta histórias de famílias que cultivam as tradições do Rio Grande do Sul de geração em geração, os costumes gaúchos da Miss Brasil 2023, Maria Eduarda Brechane, e o significado da canção-tema dos festejos deste ano, Nos Tempos de 23.

DIONE KUHN

16 DE SETEMBRO DE 2023
MARCELO RECH

Boa viagem, Lula

Muita gente torce o nariz, mas a melhor coisa do terceiro mandato de Lula é sua sucessão frenética de viagens ao Exterior. É sério. Uma vez lá fora, Lula cumpre duas funções essenciais: vende no tom adequado as virtudes do Brasil e, ao mesmo tempo, se atravessa menos com quem de fato toca a gestão do dia a dia por aqui.

Em ambos os casos, Lula reproduz com vantagens fórmulas que deram certo no primeiro mandato. A imagem externa do Brasil foi tão devastada nos últimos anos que bastava alguém falar em respeito ao meio ambiente e harmonia com os vizinhos que já passaria de ano com louvor. Um dos líderes mundiais com mais tarimba em encontros multilaterais, Lula sabe como ir além. No Exterior, Brasil é sinônimo de Amazônia e alimentos. Até agora, na melhor tradição do Itamaraty, o governo leva com jeito os dois temas, como na posição de não se dobrar a novas exigências despropositadas da União Europeia para fechar um acordo com o Mercosul.

É fato que Lula derrapa na curva e detona os esforços da diplomacia sempre que se mete a falar de Venezuela, Nicarágua, Ucrânia e até do Tribunal de Haia, mas o mundo está tão polarizado entre EUA e China e tão ansioso por alimentos e pelo combate ao aquecimento global que ao Brasil quase tudo é perdoado ou ignorado. Se o governo não fizer muita bobagem, o país tem uma avenida de prosperidade internacional pela frente. Índia, Indonésia, Turquia, México e África do Sul, todos se equilibrando entre EUA e China, também estão no caminho de tirar proveito da disputa entre as duas superpotências. Mas só o Brasil pode ostentar a imagem de novo celeiro do mundo.

No front interno da economia, a área das quais todas as demais dependem, as ausências de Lula e suas atenções ao Exterior são um bálsamo para a estabilidade. No primeiro mandato, Lula tinha Antônio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central para tocar a economia. No segundo, Dilma Rousseff virou a gerente durona do governo enquanto Lula fazia política (e se embaralhava com os escândalos de corrupção). Agora, Geraldo Alckmin como vice, Fernando Haddad na Fazenda, Simone Tebet no Planejamento e Roberto Campos Neto no Banco Central (este sobretudo por não se dobrar a pressões de Lula) injetam a tranquilidade necessária para não produzir solavancos adicionais a um país traumatizado pela radicalização e por devaneios populistas.

O vice é um caso à parte. Quando Lula o escolheu, à boa parte da esquerda pareceu um gesto de demência, mas o então candidato estava certo. Não só o ex-governador de São Paulo abriu um leque de moderação à chapa como tem se mostrado um assessor leal e tão discreto quanto Marco Maciel o foi com Fernando Henrique Cardoso. FH viajava tranquilo. Lula pode ir também. Então, boa viagem, presidente. O Brasil só tem a ganhar.

MARCELO RECH

sábado, 9 de setembro de 2023


07/09/2023 - 09h48min
J. J. Camargo

Escassez de afeto

Em nome do futuro da humanidade, devemos estimular nas crianças a inteligência emocional. Quando uma criança ganha um cão, descobre o quão inspiradora é a tarefa de cuidar. "Vou cuidar só das crianças, porque nós, adultos, não temos mais solução." (Zilda Arns)

Quando ficou claro que o mundo se tornara mais hostil e sombrio, acendeu a luz amarela da solidariedade, alertando para a prioridade de nos tornarmos pessoas melhores, porque afinal só elas podem, no futuro, promover esta transformação. Como é pouco provável que os adultos mudem porque a couraça já enrijeceu com o gota a gota da indiferença, o foco da prevenção de iniquidades deve ser desviado para a infância, que, todos concordam, é quando forjamos a personalidade com a qual enfrentaremos a vida, cheia de alegrias, sobressaltos, decepções e alternativas de escolha. 

Com o livre-arbítrio, podemos ser generosos ou cínicos, mas é muito difícil que consigamos ludibriar alguém parecendo diferentes do que somos, só porque circunstancialmente percebemos que determinada atitude prejudicaria a nossa imagem na sociedade. 

Ainda mais agora que o politicamente correto furou os olhos da pureza e passou a desconsiderar a intenção e a valorizar o discurso, que foi se esvaziando na medida em que muitos adjetivos foram sendo banidos, cedendo espaço para a hipocrisia, esse estágio da relação humana que é tudo, menos o que aparenta. O politicamente correto furou os olhos da pureza e passou a desconsiderar a intenção e a valorizar o discurso.

Considerando o quanto é provável que seja verdadeiro o que se diz sobre da nossa herança genética, "o que Deus nos dá, dá lá atrás, e depois só conseguiremos ser o que sempre fomos", mais urgência devemos ter de trabalhar com as nossas crianças enquanto elas ainda são maleáveis e suscetíveis dê transformações. Não há nenhuma dúvida de que a maior ajuda que se possa dar à moldagem do caráter de uma criança será o estímulo à inteligência emocional, este atributo que nos separa dos outros animais e das máquinas. 

Quando um pirralho ganha, por exemplo, seu primeiro cãozinho, alguém lhe abriu a porta para o afeto, que envolve a descoberta do quanto é inspiradora a tarefa de cuidar. Como viver em sociedade, na maior parte do tempo, é um exercício pleno de egoísmo, se pretende justificar que este encanto vá perdendo força com idade, em nome da necessidade fajuta de "cuidar de coisas mais importante", como se existisse algo mais crucial do que cultuar a nobreza dos nossos melhores sentimentos. 

A depreciação desses valores explica, com sobras, as iniquidades que povoam a mídia, dando a sensação desconfortável de que a sociedade está em degeneração. Um dia desses, vi e revi várias vezes (e que mal que me fez!) um vídeo que mostra um carro parado na fila do pedágio, com um cãozinho sendo jogado pela janela, porque seu dono, obviamente, se fartara dele. 

Como o carro se deslocava lentamente, num arranca e para até a cabine de cobrança, o bichinho pulava e saltava na janela tentando ao menos entender a razão da expulsão. Quando o carro finalmente arrancou, ele ainda não tinha desistido, e correu e correu em desesperada perseguição. Até o fim do vídeo, com o carro sumindo no horizonte da câmera, ele seguia correndo. 

Doeu muito aquela crueldade, mas, de tanto doer, acabou por despertar em mim uma certeza: aquele brutamontes não teve um bichinho na infância, nunca estabeleceu um vínculo afetivo verdadeiro, e morrerá na tristeza da solidão que os rígidos constroem, diariamente, sem perceber que não farão falta à ninguém.


07/09/2023 - 10h04min
Monja coen

O poder do silêncio

Entre os dias 13 e 17, estarei em Porto Alegre, para uma palestra, e em São Leopoldo, para um retiro. No dia 13, no Teatro Bourbon Country, vou palestrar sobre o tema "Qual a sua pergunta verdadeira? Qual a grande questão de sua vida?"

É ilusão esforçar-se para acessar o despertar. O despertar ocorre quando silenciamos, quando nos afastamos dos ruídos do mundo e dos ruídos da própria espiritualidade. Sem intenção de ganho, sem intenção de algo obter. Sem apego e sem aversão, o caminho é livre.

Na verdadeira pobreza de nada ser e nada ter, somos levados por todos os fenômenos à Sabedoria Perfeita. A procura é necessária. Não pode nos ser dado por alguém nem podemos forçar para que aconteça. Mas é preciso deixar acesa a chama das grandes questões existenciais.

Correr atrás da sabedoria é perder a sabedoria. Permitir que a sabedoria se manifeste e a reconhecer em cada encontro, em cada ser, é o grande despertar.

Os que forçam seu despertar, que lutam por se tornar sábios iluminados, acabam sem jamais conhecer a verdadeira luz do caminho. Quando Budas se tornam Budas não é necessário que saibam que são Budas.

Somos feitas pelas pessoas que nos procuram, que encontramos. Somos reconhecidas apenas por pessoas que despertaram. Apenas um ser desperto reconhece outro ser desperto.

Os que forçam seu despertar, que lutam por se tornar sábios iluminados, acabam sem jamais conhecer a verdadeira luz do caminho. Quando Budas se tornam Budas não é necessário que saibam que são Budas. No sutra do Diamante, um dos ensinamentos do Buda histórico, ele afirma: "Se um ser desperto achar que é um ser desperto é porque ainda não despertou"

O verdadeiro despertar não nos torna especiais ou diferentes das outras pessoas. Pelo contrário, é uma comunhão com toda a vida do planeta. É leveza de ser intersendo, reconhecendo a trama da existência e que somos essa trama.

No dia 13 de setembro, quarta-feira próxima, estarei fazendo uma palestra no Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre, às 20h, com o tema: "Qual a sua pergunta verdadeira? Qual a grande questão de sua vida?". Todos temos uma questão ou várias questões que surgem e precisam ser resolvidas. Vida-morte, o que é? Quem somos nós? O que é a mente humana? Tempo de refletir.

Na tarde de 14 de setembro, irei ao Zen Vale dos Sinos, em São Leopoldo, abençoar o espaço de prática da Monja Kokai Sensei. De 15 a 17 de setembro, estarei em um retiro de silêncio em São Leopoldo, no Cecrei, Centro de Espiritualidade Cristo Rei. Um retiro de silêncio para facilitar o encontro com a sacralidade que nos habita e na qual habitamos. Afastarmo-nos dos ruídos do dia a dia e nos presentearmos com a prática milenar do Zen num ambiente propício, ambiente de jesuítas que também reconhecem a importância do silenciar para adentrar o mais íntimo do ser.

Todos são bem-vindos e bem-vindas. Podem se inscrever pelo Cecrei e venham comigo apreciar nossas vidas com respeito e dignidade. Penetrem a grande dúvida, a pergunta que não quer se calar. Observem em profundidade a si e a natureza perfeita assim como é. Despertemos. É tempo de silenciar. Tempo de afastar ruídos. Tempo de meditar. Tempo de questionar. Tempo de se libertar.

Mãos em prece


09/09/2023
Claudia Tajes

Dia do Patriota? Me inclua fora dessa

Agora que se sabe que basta uma ideia de jerico para criar uma data municipal em Porto Alegre, pensei em instituir algumas efemérides no calendário da cidade. Deve estar faltando o que fazer na Casa do Povo, bora contribuir com ideias cidadãs

Verdade que não sou vereadora, mas examinando a nominata dos nossos edis, acredito que conseguirei o apoio de um ou outro para os meus pleitos. São 365 dias – que passam voando, é fato –, juntos encontraremos uma vaguinha para louvar algo que não precisaria ser homenageado. Deve estar faltando o que fazer na Casa do Povo, bora contribuir com ideias cidadãs.

Porto Alegre, afinal, tem poucos problemas. O lixo talvez seja prosaico demais para merecer a atenção da Câmara. Já reparou no estado dos containers, vandalizados, estourando, imundos em volta? Faz tempo que a cidade e o lixo andam se estranhando, e o lixo está vencendo. Só não fotografo o container da minha rua para não estragar o apetite dos amigos.

Daria para citar muitas outras demandas com potencial para encher a agenda dos vereadores nos sete dias da semana, incluindo feriados e férias. Mas já que a educação, a saúde, a segurança, a moradia, o transporte e outras miudezas do tipo não parecem relevantes, venho por meio desta sugerir algumas datas comemorativas que podem colocar Porto Alegre, mais uma vez, nos principais jornais e noticiários do país. 

Ou você não ficou orgulhoso de ver o Dia do Patriota no Jornal Nacional, no Jornal da Band, no UOL Notícias, no ICL, no Reinaldo Azevedo, na CNN, nos canais de youtubers e até mesmo na Jovem Pan – na Jovem Pan! – todos ressaltando a inconstitucionalidade da medida, alguns estupefatos e outros tirando sarro da nossa cara?

Mais ainda por ter sido a proposta de um vereador cassado que, na ausência de desculpa melhor, tirou o corpo fora dizendo que apresentou o projeto sem ler. O que me consola é saber que os vereadores que eu sigo não votaram a favor, nem se abstiveram, mas deram o contra direto nesse despautério.

Sem mais delongas, vão aqui minhas sugestões de efemérides para o calendário de Porto Alegre.

Dia do Entrevero: churrasco tem em todo lugar, até na China. Proponho que se homenageie o Entrevero, esse prato único da nossa culinária, que além de tudo é melhor que o triturador da pia da cozinha para acabar com os restos. Aquela lente de contato que você não acha? Procurando bem, vai encontrar no meio do Entrevero. 

Dia do Sorvete Quente: não sei se é típico daqui, mas jamais encontrei aquela maria-mole com gosto de isopor dentro de uma casquinha murcha nos outros lugares por onde andei. É uma homenagem à infância de todos nós, da direita, da esquerda, do centro e de muito pelo contrário.

Dia da Bergamota: data a ser comemorada em um dia de sol de inverno, descascando a berga sem medo de ficar com cheiro na mão e fazendo campeonato de quem cospe a semente mais longe. Um clássico que merece seu lugar no calendário.

Dia do Eleitor Não-Arrependido: depois da promulgação do Dia do Patriota, muitos eleitores porto-alegrenses devem ter se arrependido do seu voto para vereador. Pelo menos, é isso que o bom senso recomendaria. O Dia do Eleitor Não-Arrependido não é fixo, efeméride que acompanha a data das eleições municipais. 

Tudo começa com o cidadão se informando sobre os candidatos à vereança e as propostas que eles têm para a cidade. Depois disso, é só colocar um voto certeiro na urna – independentemente do espectro político do escolhido. Depois é passar os quatro anos do mandato comemorando que não elegeu uma nulidade ou um desastre para a Câmara. No ano que vem já dá para fazer o teste. 

Cumpra-se.


09 DE SETEMBRO DE 2023
Carpinejar

Entrando numa fria

Na minha infância, temia-se a caderneta de fiado do armazém e as contas do telefone fixo, da água e da luz. Era o equivalente ao pânico de hoje no momento de receber a fatura do cartão de crédito.

Havia a data fatídica no início do mês, em que todos os excessos seriam descobertos. Os pais mudavam o seu comportamento, e passavam a se mostrar nervosos, aflitos, ansiosos, rabugentos. E teve um dia da chegada dos boletos em que pesou a minha culpa.

Não conseguia ler no quarto. Dormia com os dois irmãos nos beliches. Eles brigavam comigo quando acendia a luz do abajur.

Para evitar a frequente confusão, e não sofrer com o calor e a invasão dos mosquitos da sala, veio a ideia maravilhosa de ler diante da geladeira aberta. Desfrutaria da lâmpada interna e de refrigeração, um luxo numa residência que somente contava com pequenos ventiladores.

A geladeira redonda e branca, de sobrenome estrangeiro pomposo, Steigleder, me serviria de luminária e ar-condicionado, no melhor dos dois mundos. Colocava uma almofada no chão, e folheava tranquilamente meus livros durante uma hora ou duas, até chegar a dormência.

Alguns autores lidos quase morriam de hipotermia, não eu, nada que eu não resolvesse com minha cobertinha. Lembro claramente do cheiro da comida requentada nas prateleiras de metal, do odor forte do queijo e do salame. Rezava para que não tivesse nenhum alimento vencido e podre capaz de estragar o meu passatempo.

Tudo transcorreu perfeitamente por um mês. Até vir a conta astronômica da energia elétrica. Eu ouvi a minha mãe brigando ao telefone com funcionário da CEEE, alegando que o valor era um roubo, que houve erro na medição, que não justificava o salto vertiginoso dos números de um mês para o outro, já que não tinha ocorrido nada de diferente na nossa rotina.

Depois, eu ouvi a minha mãe discutindo com o meu pai, ambos se culpando pelo desperdício. Trancados no escritório, eles colocavam o disco de Maria Bethânia no máximo volume na vitrola para disfarçar e sufocar os berros.

Em seguida, eu vi a minha mãe controlando o tempo do nosso chuveiro, patrulhando as luzes sem ninguém no aposento, xingando qualquer abuso de nossa parte. Foi um inferno na época, um curto-circuito mental em todos a minha volta, desestabilizei a família com as minhas leituras.

Nunca disse que fui eu. Permaneci neutro como as verduras na gaveta de baixo da geladeira. Imaginava que o castigo seria implacável. Mas, pensando bem, deveria ter confessado. No máximo, eu ficaria trancado no quarto lendo à vontade, sem a importunação dos meus irmãos.

CARPINEJAR

09 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

CIVISMO E DEMOCRACIA

O Brasil acompanhou na última quinta-feira uma celebração discreta, mas repleta de simbolismos, da sua data oficial de Independência. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva presidiu o desfile cívico-militar de 7 de Setembro e posou para fotografias juntamente com o ministro José Múcio, da Defesa, e com os comandantes das Forças Armadas, Tomas Ribeiro Paiva, do Exército; Marcelo Kanitz Damasceno, da Aeronáutica; e Marcos Sampaio Olsen, da Marinha. A cerimônia teve pouco público, muito cuidado com a segurança das autoridades e praticamente nenhuma alusão à polarização política decorrente das últimas eleições presidenciais.

Ainda assim, o desfile da Capital Federal foi emblemático por vários motivos. O primeiro deles foi, sem dúvida, a demonstração de convivência respeitosa entre o chefe da nação e os comandantes militares, superando o estremecimento causado pelo envolvimento de oficiais e soldados com a política na administração anterior. Agora, como é desejável e republicano, as Forças Armadas parecem estar novamente concentradas no seu papel precípuo, que é defender a pátria, garantir os poderes constitucionais, a ordem e a lei - como é apropriado numa democracia.

Outra significativa mensagem simbólica do desfile de Brasília foi a presença do personagem Zé Gotinha num carro dos Bombeiros do Distrito Federal. O boneco estilizado, que contribui para a imunização de crianças, representa também a restauração da confiança na ciência médica, depois de um período caracterizado pelo negacionismo, que só contribuiu para agravar os danos da pandemia no país.

Igualmente representativa da nova visão de governo foi a manifestação feita por uma unidade militar formada por soldados indígenas das etnias tariano, kuripaco, baré, kubeo, yanomami e wanano, que saudaram o presidente da República em seus idiomas nativos, com um apelo em defesa da Amazônia. Representavam os povos originários, a diversidade da nossa população, a preservação do meio ambiente e a soberania nacional, valores caros para parcela expressiva do povo brasileiro.

Os quatro eixos temáticos escolhidos pelo governo para a celebração foram observados no desfile principal: paz e soberania, ciência e tecnologia, saúde e vacinação, e defesa da Amazônia. Mas a festa da Independência não se restringiu a Brasília. Nos demais Estados brasileiros, o desfile cívico-militar também transcorreu com absoluta normalidade. Houve, sim, as tradicionais manifestações de natureza política e social. 

Em algumas capitais, ativistas promoveram o Grito dos Excluídos, reivindicando moradia, combate à violência e repúdio ao marco temporal para demarcação de terras indígenas. Da mesma forma, opositores do atual governo e partidários da administração passada manifestaram-se fortemente pelas redes sociais, pedindo boicote aos desfiles, criticando a parcela das Forças Armadas que assumiu posicionamento mais profissional e até celebrando a pouca presença de público nos desfiles.

Nada que a democracia não comporte. O importante é que a celebração dos 201 anos da Independência do Brasil transcorreu de forma pacífica, sem ufanismos nacionalistas e em conformidade com o civismo democrático cultuado pela maioria dos brasileiros.


09 DE SETEMBRO DE 2023
ALERTA CIENTÍFICO

Cheias indicam que RS vive o "novo normal" climático Sinais apareceram há mais de uma década

Aumento da temperatura dos oceanos e da atmosfera tende a agravar supertempestades e exige adaptação a risco crescente

A violência no clima testemunhada pelos gaúchos nos últimos meses não caiu do céu como a chuva torrencial que devastou cidades ao longo das margens do Rio Taquari nos últimos dias. Há mais de uma década, já havia sinais claros de que o Rio Grande do Sul passaria a conviver com temperaturas cada vez mais altas, tempestades mais violentas e chuvas mais caudalosas. Os alertas da meteorologia, porém, não geraram ações capazes de evitar as tragédias atuais.

Em 2011, de forma semelhante ao que se viu agora, uma supertempestade deixou 12 vítimas durante o feriadão da Páscoa em áreas como os vales do Taquari (também afetado desta vez), do Sinos e do Paranhana e reforçou suspeitas de que havia algo diferente nos céus do Estado.

Uma série de estudos disponíveis à época, compilados em uma reportagem de Zero Hora, comprovava essa impressão: até aquele momento, a média de chuva nos últimos 30 anos havia aumentado 8,4% em comparação aos 30 anos anteriores, e os termômetros estavam 0,5ºC mais quentes do que meio século antes.

- Estamos vendo agora o que já vinha acontecendo naquela época - afirma o climatologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Francisco Eliseu Aquino.

Logo depois da tragédia daquele ano, Aquino, que figurava entre os autores de alguns dos trabalhos, já avisava: "Mais calor e mais umidade contribuem para um número maior de eventos severos como tempestades, já que funcionam como combustíveis para elas". E completava: "Se a pergunta é se o clima gaúcho está mudando, a resposta é sim".

Também já havia indícios claros de que os temporais vinham ganhando violência em ritmo acelerado: no período de 2000 a 2009, havia sido registrada uma disparada de 71% na ocorrência de trovoadas nas regiões do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e da Base Aérea de Canoas, em relação aos 10 anos anteriores.

Ainda não havia grande certeza sobre as razões para essas mudanças de cenário, mas o aquecimento percebido em nível global já era elencado como um dos fatores mais prováveis, além de outras hipóteses como variações na circulação dos ventos próximos à Antártica.

Perdas

O resultado da combinação explosiva de mais calor e umidade sobre o Estado, pouco mais de uma década atrás, já havia provocado consternação semelhante à atual em razão da morte de 12 gaúchos em um único evento - algo, até hoje, poucas vezes visto. Dessas vítimas, sete eram de Igrejinha, onde foram velados de forma coletiva no Parque da Oktoberfest. A expectativa de que o trauma resultasse em ações capazes de prevenir novas catástrofes, porém, ao contrário dos prognósticos meteorológicos, não se confirmou.


09 DE SETEMBRO DE 2023
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA A cobertura de uma tragédia

Não há nada mais difícil para um jornalista do que fazer a cobertura de uma tragédia. Ao mesmo tempo em que é necessário narrar os fatos, é preciso ter sensibilidade, porque do outro lado estão pessoas arrasadas emocionalmente. É um desafio conseguir retratar o drama e transmitir as informações.

A Carta da Editora dedica o espaço para os relatos de profissionais da Redação Integrada de Zero Hora, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho que estiveram presentes nas localidades atingidas pela enxurrada no Vale do Taquari.

André Malinoski, repórter - "Considero a cobertura realizada em Roca Sales como a mais difícil já feita na minha carreira de repórter. Ao chegar, ainda nas primeiras horas da manhã, as pessoas caminhavam como zumbis, pareciam anestesiadas, sem saber para onde ir ou a quem recorrer. O impacto visual do cenário, com casas destruídas, postes e árvores caídas, além de carros virados, foi estarrecedor. Muita gente chorava. Havia mortos sob os escombros. Roca Sales foi varrida pelo Rio Taquari. Foi muito difícil separar minha missão como testemunha ocular dessa tragédia. Fiquei muito emocionado pelas perdas das pessoas. Me coloquei no lugar delas o tempo inteiro."

Leandro Staudt, comunicador - "Foi uma enchente histórica, o rio praticamente dobrou de tamanho em 12 horas. Eram municípios sem energia elétrica, sem água, sem telefonia, sem internet. Áreas incomunicáveis, gerando aflição de familiares e parentes que estavam longe. Se falava que era a pior enchente desde 1941."

Yasmin Luz, repórter - "Uma moça, mãe de três filhos, ela e o marido estavam com água no pescoço, tentando tirar o que sobrou das coisas deles. Era muito triste. Ela chorava desolada, porque tinha perdido tudo."

Jefferson Botega, repórter fotográfico - "O Rio Taquari subiu muito, 25 metros, e foi levando tudo que vinha pela frente em Muçum. Tinha uma casa no meio da rua, que tinha sido arrastada, sofá em cima de muro, colchão em cima de árvore. As pessoas vagando pelas ruas, sem saber para onde ir. É uma cena que a gente vê em filme e que agora está aqui, muito próxima."

Paulo Germano, comunicador - "Lembro que o prefeito de Roca Sales chegou a dizer que durante um tempo a cidade era um grande grito de socorro. Se passava pela cidade de barco, porque estava submersa, e se ouvia muita gente gritando por socorro. Chegou um momento em que não conseguiam mais gritar, o frio era tamanho que as pessoas entraram em hipotermia e não conseguiam mais pedir ajuda. O resgate não conseguia chegar. É muito triste."

Lucas Abati, repórter - "Fui ao hospital de Roca Sales, que em dezembro passado completou 90 anos. Os relatos são de que nunca tinha entrado água lá dentro. A gente conseguiu ter uma dimensão maior ao ter acesso ao segundo andar. Materiais, prontuários e anotações que foram perdidos."

Mateus Bruxel, repórter fotográfico - "Uma família esperava por ajuda no segundo andar da casa. Eram oito crianças e seis adultos. O primeiro andar já estava submerso. Foram necessários dois barcos, com ajuda de bombeiros e policiais para remoção com segurança da família pelas ruas alagadas pelo Rio Jacuí."

Fábio Schaffner, repórter - "Os anos vão passando e o jornalismo nos ensina que o que a gente sabe da vida é nada. Jamais vou esquecer o olhar dos moradores de Muçum, a desolação de quem lutou pela própria sobrevivência. Mas, em meio ao caos da cidade arrasada, também vi a fraternidade das pessoas, ajudando na limpeza da casa do vizinho, entregando uma garrafa d?água ou simplesmente dando um abraço. É com a força dessas pessoas que Muçum será reconstruída."

Os depoimentos de parte da equipe com imagens dos locais podem ser acessados pelo link ao lado.

DIONE KUHN

09 DE SETEMBRO DE 2023
marcelo rech

Não basta o alerta

Quando um cataclismo ocorre, além da sua própria severidade, a gravidade é acentuada pelas capacidades de prevenção, previsão, mobilização e resposta. Nos quatro casos, registre-se que o Rio Grande do Sul evoluiu muito nos últimos anos, embora cada tragédia produza suas próprias lições.

Na prevenção, ainda há muito o que fazer sobre alertas às populações em risco, mesmo que nenhum sistema seja infalível. Examine-se o caso da Coreia do Sul. Em julho passado, durante uma visita à Zona Desmilitarizada com a Coreia do Norte, todos os cerca de 40 passageiros do ônibus em que eu estava foram sobressaltados ao mesmo tempo com um estridente plim coletivo nos celulares: era uma mensagem, escrita em diferentes línguas, sobre a aproximação de tempestades. 

O aviso sonoro e por texto é mandatório - ele prescinde de autorização prévia. No mesmo dia, recebi mais três ou quatro alertas com atualizações. As autoridades coreanas também não apenas recomendam a saída de pessoas de áreas críticas: retiram-nas à força, se preciso. Ainda assim, uma semana depois, outra tempestade deixou 40 mortos, 13 deles em automóveis aprisionados em um túnel subitamente inundado.

Na Holanda, onde quase um terço do território está abaixo do nível do mar e é protegido por um sistema de diques, a segurança é obsessiva. Todo mundo sabe que ao meio-dia da primeira segunda-feira de cada mês os alarmes, que cobrem o país inteiro, soarão para testar seu funcionamento. Um sistema de sirenes também passou a ser usado em 16 cidades da serra fluminense, depois de sucessivos aguaceiros deixarem mais de mil mortos. 

Muitos alarmes no Rio, porém, nem sempre funcionam na hora da emergência ou alcançam famílias em áreas remotas. Na Alemanha, registre-se, mesmo com toda a tecnologia e recursos de prevenção e previsão, 173 pessoas morreram na região da Renânia em 2021, quando, em um fenômeno similar ao do Vale do Taquari, os rios subiram em questão de horas e varreram o que havia pela frente.

Não basta prever com precisão e deixar clara a iminência do risco, seja pela imprensa, seja por redes sociais, sirenes ou celulares. As pessoas precisam tomar conhecimento, confiar na mensagem e ter condições ou apoio para deixar suas casas. Sabe-se desde sempre que, quando as advertências se multiplicam ou não se confirmam na intensidade anunciada, acabam caindo em descrédito. Nos EUA, diante do impacto humano e econômico das tragédias, esse é um fenômeno estudado: como tornar mais precisos e efetivos os alertas de tsunami, alagamentos relâmpago, tornados, incêndios florestais e furacões?

Com o aumento de eventos extremos pelas mudanças climáticas, é uma pergunta urgente para o mundo, o Brasil e, como tristemente se constata, também para o Rio Grande do Sul.

MARCELO RECH

sábado, 2 de setembro de 2023


02/09/2023 - 05h00min
Rosane Tremea

Um “pulinho” até a Bélgica

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, o país é um dos mais densamente povoados da Europa 

Castelo dos Condes, em Ghent

Talvez a Bélgica não esteja entre as suas viagens dos sonhos. Acho até que é um pouco negligenciada por quem visita a Europa (ou será que falo só por mim?) Demorei para incursionar por lá, da primeira vez indo só à capital, Bruxelas. Na segunda, há menos tempo, os destinos foram a surpreendente Ghent (ou Gent, ou Gand) e a mais popular, mas não menos interessante, Bruges. 

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes, população equivalente à do RS, a Bélgica é um dos países mais densamente povoados da Europa (363 hab/km² contra os 232,24 km² da Alemanha ou, se quiser uma comparação mais local, os 42,5 hab/km² do RS) e faz fronteira com França, Alemanha, Holanda e Luxemburgo. No país há três comunidades diferentes (flamenga, francesa e a germanófona) e três idiomas oficiais (holandês, francês e alemão), o que torna tudo mais diverso. 

Diversidade, aliás, também é a palavra quando se fala de turismo, lazer e cultura – dos passeios de bicicleta às visitas a castelos e pequenas vilas, de caminhadas em florestas a feiras de antiguidades, dos festivais de música aos eventos e exposições internacionais.

Este texto destaca duas cidades citadas lá no início, mas Bruxelas, uma das sedes do Parlamento Europeu, com um importante conjunto de arquitetura Art Nouveau, não deve ser deixada de lado. Das exposições temporárias às permanentes, não esqueça que a Bélgica é terra de artistas e pintores como Rene Magritte (a visita ao seu museu é indispensável) e criadores como Hergé, que deu vida a Tintim (conheci um pouco mais da história no Belgian Comic Strip Center). Sim, é a terra da cerveja, dos queijos, da batata frita e do chocolate, mas eu destacaria, pelo menos em Bruxelas, os doces árabes: as vitrines parecem de joalherias. Antes que eu me estenda mais, vamos aos recortes:

Ghent 

Minha base nesta viagem, a cidade surpreende pela vitalidade e pela iluminação cênica criada por designers. Como não está entre as principais opções turísticas da Bélgica, não à toa ela apela aos visitantes que permaneçam “mais de uma noite”. Sem saber do slogan, fiquei. Aqui não é preciso andar muito para dar de cara com o Castelo dos Condes, construído em 1180 e hoje bem no miolo de Ghent, ou para surpreender-se, não muito longe, com o moderno prédio da biblioteca universitária, erguida sobre um canal nos anos 2000. Por todo lado, grafites convivem com prédios medievais, sem agredi-los.

Essa mistura a deixa vibrante sem tirar-lhe o ar de tranquilidade. Além do já citado Castelo dos Condes, visita obrigatória, eu quis ver o painel (na verdade, um total de 18 painéis) conhecido como A Adoração do Cordeiro Místico, dos irmãos Van Eyck, de 1432, uma das maiores obras de arte já produzidas, na Catedral de São Bavão. Na mesma praça, subindo ao Campanário, no alto do qual fica o dragão símbolo de Ghent, vê-se a cidade quase inteira. Acho que não mencionei que a comida, na Bélgica, é celebrada de maneira especial – é um dos pontos onde há mais restaurantes com estrela Michelin por metro quadrado...

Mas você não precisa ir tão longe. Mesmo nos lugares mais simples come-se muito bem, dos cones de papel com batatas e legumes aos waffles. Ah, um presente ou lembrança especial pode ser um potinho de cerâmica com a celebrada mostarda produzida aqui. E ainda que possa torcer o nariz, literalmente, para eles, é preciso provar os “cuberdons”, balas de goma arábica em formato de nariz – a mais tradicional, arroxeada, vem no sabor framboesa.

Bruges 

O centro histórico inteiro foi tombado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2000, após vários prédios merecerem a distinção em anos anteriores – arquitetos costumam chamar a atenção para a unidade visual da cidade, sem ruídos ou deturpações. A peculiar rede de canais que faz sua ligação com o mar lhe deu o título de “Veneza do Norte”. Bruges é tão arrumadinha que parece de mentira. 

A primeira bolsa de valores (em frente à casa dos comerciantes “Van der Beurse”) nasceu aqui e ela chegou a ser um dos centros comerciais mais importantes da Europa. Apesar disso, a cidade foi abandonada e entrou em decadência, mas ressurgiu no século 19 e, mesmo tendo sido base para os nazistas na Segunda Guerra, acabou poupada da destruição. Para além do patrimônio arquitetônico, em Bruges é valorizado o patrimônio imaterial, como as procissões (desde 1304, um desses eventos transporta a relíquia do Sangue Sagrado pela cidade) e a arte flamenga. Outro espetáculo tradicional é ouvir os carrilhões do Campanário, na Praça do Mercado, também tombado. 

Por último, mas não menos importante, a cerveja é igualmente patrimônio imaterial (na cidade, há duas cervejarias e um museu da cerveja, e nos arredores há cervejeiros artesanais). Como eu passei um dia apenas, o que é sempre pouco, degustei cervejas no 2Be, na área conhecida como Rozenhoedkaai, que concentra a maioria dos bares e restaurantes e é um lugar lindo para se estar e fotografar.