sábado, 24 de agosto de 2024


24 de Agosto de 2024
AGRONEGÓCIO - Bruna Oliveira

AGRONEGÓCIO

Expointer começa sob o desafio de reconstruir o campo após catástrofe. Evento, um dos mais importantes do segmento na América Latina, ocorre até o dia 1º de setembro no parque Assis Brasil, em Esteio. Organizadores evitam falar em estimativa de negócios, mas demonstram otimismo com a retomada pós-enchente. Acesso à exposição terá mudanças no trânsito.

Uma das mais importantes feiras agropecuárias da América Latina, a Expointer abre os seus portões neste sábado com o compromisso não só de ser casa para o que há de mais novo no agronegócio, mas também espaço de retomada para uma das atividades mais afetadas pela enchente. Até o dia 1º de setembro, o parque Assis Brasil, em Esteio, promete acolher todos os atores da produção primária em clima de reconstrução e ambiente de negócios.

Os números superlativos dão o tom da importância. Segundo o governador Eduardo Leite, ainda que seja cedo para apontar estimativas, a participação em peso de animais e expositores aponta o caminho para uma edição de sucesso em todas as áreas. Participam este ano 4,8 mil exemplares de diversas raças, ampliando o número do ano passado, que já havia sido expressivo, com 4,2 mil animais.

Também há recordes no Pavilhão da Agricultura familiar, com 413 empreendimentos participantes em 2024, além de muita expectativa no setor de máquinas, que busca aceleração. O segmento é o principal motor de comercialização da feira, mas esbarra na dificuldade financeira dos agricultores. Muitos produtores ficaram descapitalizados depois dos eventos climáticos que devastaram produções inteiras.

- A Expointer pode ser o primeiro grande passo para recuperar o nosso Estado - acredita o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas (Simers), Claudio Bier.

O espírito de reconstrução passa pela alma do próprio parque Assis Brasil. O espaço foi afetado pela enchente e precisou passar por reformas para receber a feira. As obras de infraestrutura incluíram desde reparos na pavimentação até a construção de banheiros novos.

Ainda como rescaldo da cheia, os acessos ao parque estão entre os desafios da edição. Pelo menos três opções de transporte alternativo levarão os visitantes ao parque, como forma de suprir a ausência do trensurb (confira ao lado).

Simbolismo

Em 2023, o parque Assis Brasil recebeu 822 mil visitantes e alcançou R$ 8 bilhões em negócios. Este ano, diante das dificuldades postas pelo cenário desafiador, as entidades copromotoras preferem não estimar cifras, mas apostam na força simbólica que a feira pode representar para os agricultores gaúchos.

Os ingressos para visitar a Expointer estão à venda na internet, pelo site expointer.eleventickets.com. O pagamento pode ser feito por cartão de crédito, boleto bancário ou pix. Também é possível adquirir as entradas presencialmente, nas bilheterias do parque. Os ingressos custam R$ 18, e a meia-entrada, R$ 9. O estacionamento custa R$ 46 por veículo e o valor não inclui a entrada do motorista, nem dos demais passageiros. _

Veja atrações para curtir no primeiro fim de semana da feira

O fim de semana de largada da Expointer, em Esteio, pode até não contar com previsão de sol a pleno, mas o passeio está garantido pela variedade de atrações no parque Assis Brasil. A seguir, veja dicas de passeio para curtir no fíndi. _

Arroz será tema de debate

Discussões atuais e relevantes movimentam a programação do Grupo RBS durante a Expointer. Serão 11 edições do Campo em Debate ao longo da semana, com transmissão em GZH, como parte da campanha Pra cima, Rio Grande. Na segunda-feira, o tema da conversa é "Cenários do arroz - Da lavoura ao consumidor". A apresentação é da jornalista Giane Guerra. _



24 de Agosto de 2024
REFORMA TRIBUTÁRIA

REFORMA TRIBUTÁRIA

Fazenda projeta que alíquota do IVA será de 28%, a maior do mundo

Estimativa leva em consideração alterações feitas na Câmara, como a inclusão da carne na cesta básica. Assunto ainda precisa do aval do Senado

Uma nota técnica divulgada pelo Ministério da Fazenda na sexta-feira aponta que as mudanças na regulamentação da reforma tributária promovidas pela Câmara vão elevar a alíquota de referência do novo Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) para 28%.

Até então, a equipe econômica estimava alíquota média de 26,5%. Os cálculos consideram 10 pontos do texto da regulamentação que foram alterados pelos deputados. "O balanço final do conjunto de medidas avaliado indica um incremento na alíquota de referência total da ordem de 1,47 ponto", diz a nota.

O maior peso veio com a inclusão das carnes no rol da cesta básica, com direito a alíquota zero, que elevou em 0,56 ponto na média. Fruto da pressão do setor de alimentos e da bancada do agronegócio, a medida foi defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da contrariedade da Fazenda.

Outra mudança que teve um peso expressivo foi a ampliação do desconto para o setor imobiliário (veja acima). Se confirmada, a alíquota de 28% vai superar a da Hungria (27%), que é a maior entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Quanto mais a legislação ampliar favorecimentos, maior será a alíquota cobrada sobre todos os bens e serviços não favorecidos", diz a nota. A regulamentação ainda precisa passar pelo Senado.

A confirmação das alíquotas só sairá após o fim do período de transição, em 2033. _



24 de Agosto de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

E as atas eleitorais da Venezuela, hein?

Lá se vão 27 dias da eleição de fachada venezuelana e nada das atas eleitorais. Aliás, alguém, além do presidente Lula, acreditava que Nicolás Maduro iria apresentar os comprovantes? Pois é, no próximo dia 28, completa-se um mês e, como opinou a coluna em 31 de julho, tudo ficará como está. Sem atas, sem novas cobranças e um silêncio sepulcral oriundo do Planalto sobre o tema.

Mais do que isso, o teatro de fantoches institucionais venezuelanos segue em marcha em busca de dar um verniz de transparência ao processo: depois que o Conselho Nacional Venezuelano, o órgão eleitoral deles, apressou-se em consagrar Maduro vencedor nas primeiras horas da madrugada do dia seguinte e após um apagão de dados, na quinta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ), a mais alta Corte do país, declarou reconhecer a reeleição do líder bolivariano na votação.

E para encerrar de vez a discussão: a Corte proibiu a divulgação das tais atas. Aliás, segundo o próprio TSJ, a decisão do tribunal é "inapelável".

Falta dizer que mude as letras e os órgãos, todos são apenas braços do chavismo-madurismo. Bem, com a decisão de tudo ficará como está, só falta Lula vir a público, por fim, com as condições dadas, dizer que não irá reconhecer a vitória de Maduro. Mas aí o furo é mais embaixo. _

Gaúchos envolvidos no 8 de Janeiro concorrem nas eleições

Apesar de estarem envolvidos em ações antidemocráticas, atacarem as sedes dos três poderes e considerarem o processo eleitoral fraudulento, políticos que participaram do 8 de Janeiro buscarão o voto dos eleitores em 6 de outubro na mesma urna eletrônica que tanto abominam.

No Rio Grande do Sul, ao menos quatro gaúchos envolvidos nos atentados em Brasília são candidatos a vereador.

Em São Martinho da Serra, Alice Costa (MDB) tem 53 anos e é candidata a vereadora. Ela ficou presa por dois meses na penitenciária da Colmeia, no Distrito Federal. Antes dos ataques, foi eleita suplente de vereador nas eleições de 2020 pelo antigo DEM (atualmente União Brasil), quando obteve 38 votos.

Em Caxias do Sul, na Serra, Kari Patriota (Podemos) tem 40 anos e é candidata a vereadora. No seu registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apresentou-se como almoxarife. Nunca concorreu a nenhum cargo público.

Já em Passo Fundo, o professor de Educação Física Ressoli de Mello (PL) tem 52 anos e é candidato a vereador. Foi eleito suplente de vereador em 2021 pelo PSC, quando fez 175 votos.

Por fim, em Santa Maria, Tatiane Marques Patriota (PL) tem 41 anos e é candidata a vereadora. Em 2018, concorreu ao cargo de deputada federal pelo PSL, ocasião em que fez 2.835 votos. Em 2020, concorreu ao cargo de vereador, já pelo PL, e fez 329 votos, mas não foi eleita. No registro do TSE ela se apresenta como empresária. A coluna tentou contato com os quatro citados, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição. _

TV lança episódio de desenho animado no qual Maduro exorciza Elon Musk

A VTV - televisão estatal da Venezuela - lançou um novo episódio do "Súper Bigote", série de desenho animado de Nicolás Maduro. O mais novo capítulo da série traz à tona a briga entre o ditador e o bilionário Elon Musk. No episódio, Maduro, que veste roupas de super herói, exorciza Musk, retratado como diabo, com chifres, unhas e roupa que faz associação a um uniforme nazista.

- Com todo o poder que tenho em tecnologia e a dominação que tenho em redes sociais, vou mudar a forma de pensar dos venezuelanos. Quero as riquezas naturais que tem esse país - afirma o personagem de Musk no começo do vídeo.

Diante da "ameaça" do bilionário, o Súper Bigote retruca:

- Eu neste tempo sou Davi e vou demonstrar ao povo venezuelano que sou Davi contra Golias - diz Maduro com um crucifixo e uma bíblia em mãos - Deus está conosco e quem se mete com Venezuela, se dá mal - completa.

O curta termina com Musk sendo "enviado" para o espaço, e Maduro sai como herói. _

A proibição das coligações

A doutora em Ciência Política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Silvana Krause lançou o seu mais novo livro: A proibição das coligações proporcionais no Brasil: dinâmicas e efeitos do local ao nacional.

Primeiro, a obra foi lançada em Lisboa e em agosto no Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, em Salvador. É a quarta publicação que a Fundação Konrad Adenauer faz sobre o assunto.

O livro tem a coordenação da professora Silvana, junto a Carlos Machado (UnB) e Lara Mesquita (FGV), e conta com 17 autores de universidades do país.

Conforme Silvana, entre os assuntos, o livro propõe analisar as últimas eleições municipais e como ocorreu a ação dos políticos diante da proibição das coligações proporcionais. _

Bombeiros do RS

Dois representantes do RS que atuaram nas catástrofes climáticas do Estado em setembro de 2023 e em maio de 2024 irão participar neste sábado e domingo do 1° Encontro Nacional de "Surge Capacity" do Programa Regional de Assistência aos Desastres no Brasil, em Brasília.

O chefe de Logística e Recursos Humanos do DCCI da Secretaria da Segurança Pública, coronel Romeu Neto, e a chefe do Departamento de Logística, Patrimônio e Finanças do 1º Comando do Corpo de Bombeiros Militar, capitão Janine da Luz, partilham experiências vividas durante a enchente. _

Os candidatos não foram julgados nem condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), não contam com restrições e podem disputar as eleições. A Lei da Ficha Limpa apenas torna inelegíveis candidatos condenados por crimes contra a administração pública em segunda instância.

INFORME ESPECIAL

sábado, 17 de agosto de 2024


17 de Agosto de 2024
ARTIGO

ARTIGO

O sofrimento acompanha o ser humano do nascimento à morte e tem, no mínimo, três origens, como escreveu Freud: o próprio corpo, pela doença, quando um só vírus ameaça a vida; o mundo exterior, pelas forças implacáveis da natureza, como foi a recente enchente; e, finalmente, as relações com os outros seres humanos, relações ambivalentes que oscilam entre o amor e o ódio, e aí se chega à crueldade que gera tanto sofrimento.

Um sofredor crônico, ao ser perguntado como andava, disse:

- Pior do que ontem, melhor do que amanhã.

Frase de quem, temporariamente, desistiu da alegria de viver, mas ao dizer percebia o quanto chocava seus ouvintes no velho bairro Bom Fim. Uma das perguntas de Freud foi por que as pessoas se viciam em sofrimentos. E ele só descobriu há exatos cem anos, quando escreveu que o masoquismo era anterior ao sadismo, e que todos são, em alguma medida, masocas. 

Portanto, quando estamos bem, podem-se buscar motivos para queixas sobre as imperfeições da vida. Sempre se tem motivo para reclamar, para se sentir vítima. A raiz persistente do masoquismo ocorre quando o sofredor, para evitar o desamparo, se submete ao poder autoritário de um familiar, ao fanatismo da fé, que brindam uma segurança imaginária, cobrando o preço da servidão voluntária.

Um mal deste século são as depressões, a vida pesada dos desanimados, dos que ameaçam desistir da vida. Os psicofármacos ajudam, mas são vendidos como as pílulas da felicidade, gerando uma existência artificial. As depressões provocam uma diminuição da autoestima; já a tristeza é uma reação pontual a alguma perda, um fracasso. A tristeza é tão essencial como a alegria, e a tristeza não tem fim, ensina a letra de um samba. A dificuldade do depressivo é a de construir um sentido de vida, pois essa construção é sentida como muito difícil, ou impossível.

A autoestima é essencial para enfrentar as frustrações e os sofrimentos da existência. A autoestima é como um estuário onde os rios que desembocam são a infância e a trama de relações essenciais. Outros rios são sua posição social, racial, sexual. Não é fácil suportar tanto as pressões sociais, entre estas, as familiares, quando são de exigências sem fim. 

Autoestima é um desafio e tanto, pois a vida em sociedade é difícil, e conquistar um lugar, um espaço nunca é fácil. Sendo que os mais apoiados, os que têm mais amparo, levam vantagem. Cada pessoa, à medida que se torna adulta, vai ter que aprender a ser seu próprio pai e sua própria mãe, na feliz expressão de Françoise Dolto. Só assim os grandes problemas podem diminuir, os pesos da vida ficarem mais leves e o espanto e o entusiasmo podem seguir abrindo o caminho das avenidas da alegria.

Para atravessar os sofrimentos é indispensável não se isolar na sociedade. Já Shakespeare, em Rei Lear, escreveu: "Quem sofre sozinho esquece suas raízes/ (...) Quando a dor tem irmãos, e a angústia, amigos/ A alma nem sente inúmeros castigos".

Ninguém pode manter o entusiasmo e o espanto sem ter alguma amizade. Uma pessoa, para atravessar o território desértico do desamparo, vai precisar de um amor para compartir a dor e o horror dessa travessia. Os vínculos atuais são essenciais para diminuir os sofrimentos, assim como amigos, livros, artes, natureza. Sofrem os viciados em mortificações, e aí que a psicanálise se pergunta os porquês. Há algo da desistência de viver, expressão da pulsão destrutiva.

Na arte de viver, o homem cria caminhos para se livrar do sofrimento, como o isolamento, a ingestão de drogas, diversos vícios. Felizmente há a via das sublimações, baseadas nas artes, no trabalho e na capacidade de conviver socialmente.

Não existem regras que se apliquem a todos: cada um tem de descobrir como diminuir seu desamparo, mas os capazes de humor diminuem os sofrimentos. _

Psicanalista e escritor - Abrão Slavutzky

17 de Agosto de 2024
J.J. CAMARGO

Vô, você sempre foi ruim ou piorou quando ficou velhinho?

A questão não é a suposta decrepitude do avô, que riu muito da pergunta, mas do quanto aquele esboço de cérebro, promissor, mas imaturo, isolado no mundo abstrato, possa estar sacrificando a sua inata inteligência emocional.

A neurociência tem revelado que o cérebro não é um órgão estático como se imaginava algumas décadas atrás. Pelo contrário, é um órgão dinâmico, sujeito às transformações decorrentes de estímulos, os mais variados. Toda a estimulação acelera o desenvolvimento de novas conexões (sinapses), o que explica o desenvolvimento exponencial de novas habilidades em crianças e adolescentes, que estão crescendo na fascinante era da tecnologia digital. 

Da mesma maneira, a tendência irrefreável à competição remete-os na busca de novos rivais, trazidos para a tela do computador com a presteza com que, no passado, se desafiava um vizinho de porta, mesmo que ele viva do outro lado do mundo e fale um idioma desconhecido.

A discussão que se impõe nesse momento de encantamento com a inteligência artificial (IA) é do quanto ela pode contribuir para moldar o funcionamento do cérebro em desenvolvimento, tornando-o adequado ao convívio social.

Isso devia ser, se ainda não é, uma preocupação contemporânea intransferível, se considerarmos que todas as pesquisas de identificação dos pré-requisitos da felicidade sugerem que ela é uma quase exclusividade das pessoas que mantenham boas relações pessoais, familiares ou comunitárias. É obrigatório que pensemos, friamente, sobre o quanto a identificação com a atividade robotizada da inteligência artificial contribuirá para a produção de modelos humanos aptos à felicidade. Parece temerária, para o futuro, a figura do adolescente recluso, exímio digitador, mas incapaz de redigir um texto simples que exprima emoção, ou de sustentar uma relação afetiva comum, dessas de carne e osso.

O novo sempre é fascinante, mas certamente não será o adolescente imaturo, envolvido no processo de perseguição a uma ideia sedutora, o árbitro mais adequado para estabelecer limites do que é saudável.

Não se trata de negar o que é óbvio: a IA veio para ficar, e nossa sobrevivência funcional dependerá da capacidade de adaptação de cada um, utilizando-a como uma parceira preciosa, mas sem a ameaça de substituição. Nos consultórios médicos, por exemplo, cada vez mais seremos três elementos interdependentes: um ser em sofrimento, um banco de dados inexcedível e silencioso e um especialista em sentimentos humanos. Competência profissional a partir deste estágio dependerá dessa interação.

Para que não pareça uma implicância negacionista, quando se consulta o ChatGPT, ele, prudentemente, adverte: "a IA pode ter dificuldade em entender nuances e contextos complexos, como ironia, sarcasmo ou emoções humanas profundas"; "embora a IA possa gerar conteúdo criativo, como textos, imagens e músicas, a originalidade e a profundidade das ideias muitas vezes não se igualam à criatividade humana"; "a IA pode analisar dados e fornecer recomendações, mas não possui o julgamento moral que os humanos têm, podendo falhar em situações que exigem empatia ou valores éticos".

Não podemos ser negligentes e oferecer às gerações futuras uma chance de felicidade menor do que a nossa geração pode desfrutar e que, se não alcançou, não foi por falta da fraternidade amorosa gerada pelo nosso cérebro original. Esse que, aparentemente atordoado pela complexidade dos sentimentos humanos, ainda não se sentiu capacitado a repassá-los aos inflexíveis algoritmos da máquina. Mas, com certeza, vai continuar tentando, porque é da sua natureza não desistir. _

J.J. CAMARGO

17 de Agosto de 2024
CARPINEJAR

Maldade na separação

Não sei se vocês já passaram por esse constrangimento. Existe uma maldade que é usada na hora da separação, uma desfeita pior do que a fuga do altar. A pessoa decide se separar na véspera de uma comemoração. Termina tudo perto do seu aniversário, ou perto do aniversário do namoro ou casamento, ou perto do Dia dos Namorados, ou perto do Natal, ou perto do Ano-Novo, ou perto de uma viagem acalentada há tempo.

Simplesmente rompe os laços numa data importante para você, no meio dos preparativos, com os convidados confirmados e despesas pagas. Há 366 dias no ano. Tantos dias sem atrativo, sem sol, sem anseios, tantos dias monótonos, por que não escolher um desses?

Porque não teria graça. Não haveria desgaste, tensão, discórdia, pendências, tristeza no adeus. O episódio não seria lembrado como um trauma. Representaria apenas o fim anônimo de um ciclo, a aceitação dos limites.

E a pessoa em questão não admite ser qualquer ex, ou mais uma ex. Carrega um desejo narcisista de se mostrar inesquecível e alcançar a eternidade da mágoa. Mesmo sem nenhum interesse em seguir com a relação, busca dificultar que o outro siga a sua vida e possa digerir a perda com rapidez.

O apego tem perversidades inimagináveis. O ponto que mais machuca é que ela fingiu normalidade nas semanas que antecederam o desfecho, até ajudando nos rituais e compras, até fazendo planos, até palpitando sobre como deveria ser o momento. E não dava para perceber a ruptura iminente, não dava para imaginar o término repentino.

Ela não emitiu sinais claros. Não ligou o alerta. Não começou uma briga. Não estabeleceu uma discussão. Não surgiram estremecimentos. Continuava a rir, continuava a namorar, continuava a conversar como se nada estivesse errado.

Tratava-se de completa e descarada dissimulação. Nada que viesse a ocorrer de ruim ou bom mudaria o seu propósito. Já tinha decorado as palavras derradeiras, não iria recuar, tal bomba-relógio em contagem regressiva.

O que me intriga no comportamento dela é isto: se disfarçou até ali, custava esperar mais um pouco?

Não é que ela não conseguiu aguentar, não é que ela foi honesta, não é que ela obedeceu a sua intuição: programou a data. É um projeto para você sofrer. Para você padecer de dolorida saudade. Para você se sentir mal.

É uma atitude pensada para criar culpa, para gerar falta, para estragar a sua festividade, para arruinar o seu equilíbrio psicológico. É um castigo por você não corresponder às expectativas, e agora não desfruta do direito de ser feliz longe dela.

É um espetáculo que o seu antigo par articula de propósito, porque sabe que todo mundo vai assistir à sua dor, perguntar o que aconteceu, forçar que repita o último capítulo da novela pela enésima vez.

Equivale a uma apropriação indébita de protagonismo, o roubo de sua alegria, manchando para sempre seu calendário afetivo. Uma pessoa que faz isso não só não ama mais você, como também nunca respeitou você. _

CARPINEJAR


17 de Agosto de 2024
OPINIÃO - Opinião

Só perguntas

O que deveria ter sido feito para que Kerollyn Souza Ferreira, de nove anos, estivesse viva hoje e se preparando para ir à escola na segunda-feira, como tantos milhões de brasileirinhos? Ninguém via que a menina dormia por vezes em um carro abandonado? Os representantes do conselho tutelar não perceberam algo de muito errado? Se notaram, por que não agiram antes que fosse tarde? 

Se não notaram, outros tantos meninos e meninas em condições similares não estão, eles também, à beira de uma fatalidade? Este é o procedimento-padrão estabelecido por leis e regramentos? Se o é, alguém acha que o modelo é eficiente? Se não é, por que é adotado? Está certa a crença dos conselhos tutelares de que devem tentar de tudo para que os filhos sejam mantidos na família? Qual o limite para essa crença? Estão conselhos e conselheiros preparados e conscientes para fazer as avaliações decisivas em questões tão subjetivas? 

É melhor prevenir do que remediar ou é melhor insistir em uma situação que pode fugir do controle? Como identificar com clareza as circunstâncias de alto risco quando elas não estão tão evidentes, como marcas de violência e agressão? Com tantos registros de ocorrências de pais e parentes, não era para desconfiar de que a ameaça a Kerollyn era real e iminente? Só a desconfiança basta para uma ação mais radical? Os demais parentes poderiam ter feito algo mais além de procurar o conselho tutelar? Toda a responsabilidade pelo descaso no episódio cabe ao conselho? Quem mais poderia ter intervindo pela menina antes que fosse tarde? 

Os vizinhos? A escola? O Ministério Público? A polícia? Os serviços sociais da prefeitura? Outros? A mãe teve acesso a métodos anticoncepcionais? Se não, por que não? Se sim, por que teve quatro filhos e os negligenciava? Tinha algum problema mental? Se tinha, o que deveria ter sido feito? Se não tinha, como pode ter se mostrado tão fria quando informada da morte da filha? É crueldade? Se é crueldade, alguém tão cruel pode ficar com a guarda de quatro crianças? Por que ela não pôs os filhos para adoção se não se dispunha a cuidar deles? 

Ela foi abordada sobre essa hipótese? Era possível, ou seria ético, induzi-la a encaminhar os filhos para outras famílias? Como isso deve ser feito, quando e por quem? Quais os limites da não intromissão nas decisões íntimas de uma família? Pode o Estado tirar os filhos de uma mulher sem provas contundentes de que eles correm risco? Depois desse episódio, não seria sensato rever todo o sistema de proteção à infância antes que novas tragédias se repitam? Aprendemos alguma coisa com o caso Bernardo? Vamos aprender algo com o caso Kerollyn? _

Andressa Xavier

Quando todos falham

Kerollyn, Bernardo, Mirella, Ana Pilar são alguns, e não são exceção. Em comum, crianças que sofreram nas mãos de quem deveria protegê-las e cuidá-las.

Hoje em dia se entende que não é aceitável maltratar uma mulher ou um idoso, para citar dois grupos vulneráveis. Para as crianças, muitos ainda acham que a violência é a solução. Na verdade, quem apanha cresce achando que é normal resolver as coisas com agressões e acaba se submetendo ao que vivenciou na infância. Isso quando sobrevivem e viram adultos, o que não aconteceu com essas quatro crianças. A primeira foi encontrada no lixo na semana passada. O caso Bernardo ficou conhecido em 2014. A Mirella foi morta em Alvorada, aos três aninhos de idade, pelo padrasto e com a mãe sabendo o que acontecia. A Ana Pilar foi esfaqueada pela mãe em Novo Hamburgo faz poucos dias.

Omissão, negligência, abandono. Quando alguém pede socorro, especialmente uma criança, o pedido não pode ser negado. Muitas vezes ela não vai conseguir gritar ou denunciar, como o Bernardo fez há mais de 10 anos quando, em vão, procurou ajuda. É preciso observar, entender sinais, enxergar que tem algo errado - e agir. A roupa malcuidada, a necessidade de cuidar dos irmãos por causa da ausência dos pais, as noites dormindo em um carro abandonado. A carência de uma menina de nove anos que pedia abraços. Uma família conhecida pelo conselho tutelar.

Desde que virei mãe evito saber detalhes de casos como o da Kerollyn Souza Ferreira. Quando o corpo dela foi encontrado no contêiner, houve dúvida se era uma criança ou uma boneca. Nesse caso, de nada adianta eu me fechar em uma redoma que não me mostre o que houve. Ao contrário, precisamos todos saber para poder cumprir com o nosso papel. 

Algo que quem foi eleito para isso não fez, embora tenha sido avisado pela vizinha ao menos 20 vezes. Cada detalhe choca mais. Como um conselheiro tutelar dorme depois de receber alertas de que uma criança está sofrendo? Nem falo no caso extremo, da morte, mas no dia a dia. Essa criança não precisava ter morrido para escancarar o descaso com a vida. Uma agressão já era motivo suficiente para o conselheiro fazer o que é sua obrigação: acionar polícia, Ministério Público, Justiça ou o que for.

Conselheiros: honrem seus cargos. Façam seu trabalho de forma transparente e responsável, senão a sociedade, diante de tantos relatos que surgem quando falamos do trabalho de vocês, vai sempre se questionar para que servem os conselhos. Aliás, talvez em vez de somente uma eleição sem grande apelo à população em geral, seja necessário repensar a escolha fazendo uma prova de conhecimento e de formas de agir em diferentes situações. Precisamos de profissionalismo em algo tão sério, e não de um cabide de cargos ligados a tudo, menos ao compromisso de cuidar das crianças e dos adolescentes. _

OPINIÃO

17 de Agosto de 2024
CONSELHO EDITORIAL

Rodrigo Lopes
Jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS

O que o público deseja e o que o jornalismo deve entregar

Analisado com lupa por editores, executivos e pesquisadores de mídia, o Digital News Report 2024, divulgado em junho, traz dados indispensáveis sobre o comportamento do consumidor de notícias. Em tempos de brutal disputa por atenção, equilibrar conteúdos relevantes e interessantes, dilema diário de todo jornalista, nunca foi tão fundamental. Um dos itens observados diz respeito ao fenômeno news avoidance (evitação de notícias, em tradução livre). Não apenas porque esse item afeta a indústria, mas principalmente porque o vazio informacional costuma ser terreno fértil para o germinar de autocracias.

O ponto de atenção é o número de brasileiros que dizem evitar o consumo de notícias: 47% da população em 2024. Como hipótese, analistas atribuem o índice à sobrecarga noticiosa sobre os ataques de 8 de janeiro e às informações sobre os conflitos no Oriente Médio e a Guerra da Ucrânia.

Olhando a metade cheia do copo: o documento traz, em si, parte do antídoto. Perguntados sobre qual tipo de conteúdo os "evitadores de notícia" se interessam, 55% afirmam que desejam informações positivas; 46% que os veículos tragam soluções para os problemas; 39% querem conteúdos explicativos; 38% aspiram por notícias sobre "pessoas como eu"; 37% reivindicam investigação; e 35% desejam saber sobre as "grandes manchetes do dia".

Trocando em miúdos: ainda que não transformemos o jornalismo em "armazém de secos e molhados", é possível apontar caminhos, não apenas evidenciar problemas. Em se tratando do Rio Grande do Sul, que viveu sua maior tragédia climática, isso é muito relevante. Os leitores/usuários desejam compreender os fatos: mais contexto e menos informações soltas; mais "gente" nos textos, imagens e voz, histórias com as quais se identifiquem. O público reconhece o papel de "cão de guarda" (watchdog) da imprensa em prol da sociedade. E aspira estar atualizado sobre a cidade, o país e o mundo para ter repertório para conversar com seu círculo de convívio.

Em resumo: o estudo da Reuters traz no problema a própria solução. Mesmo quem "evita" notícia, reconhece que precisa dela. Seja para formar opinião entre os amigos, seja para tomar posição. Sem abrir mão da qualidade. Em outras palavras, o público aspira por Jornalismo. Com criatividade e profissional. _

CONSELHO EDITORIAL

17 de Agosto de 2024
EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO

Educação do Amanhã

EAD no Ensino Superior é tema do painel Zero Hora Talks

Promovido pelo jornal em parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), evento ocorre na segunda-feira. O papel da modalidade será debatido durante o encontro gratuito

O jornal Zero Hora realiza, em parceria com a Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), o Zero Hora Talks - Especial Educação do Amanhã. Gratuito e aberto ao público, o debate será na segunda-feira, dia 19, e vai abordar as mudanças de paradigmas da educação superior. O evento começa às 19h30min no Teatro Unisinos, em Porto Alegre.

Quem tiver interesse em participar deve realizar a inscrição de forma gratuita pelo site da Unisinos. Com mediação da editora de Zero Hora Rosângela Monteiro, a iniciativa reúne especialistas da universidade para discutir o futuro da educação superior.

Será discutido o papel da Educação a Distância (EAD) no Ensino Superior, tendo em vista o crescimento da modalidade. No RS, a maior parte dos alunos matriculados nesta etapa está concentrada na EAD - são 55% dos alunos de graduação, conforme o Instituto Semesp, que representa faculdades particulares.

O Zero Hora Talks compõe o projeto editorial Educação do Amanhã, produzido pelo jornal com patrocínio da Unisinos. A iniciativa promove uma série de conteúdos multiplataforma que abordam diferentes perspectivas sobre os desafios e o futuro da educação.

Conheça os convidados

Artur Eugênio Jacobus é vice- reitor da Unisinos e professor na instituição de ensino há 26 anos. Doutor em Administração (Unisinos) com período de estágio na Holanda, o pesquisador atua no Mestrado Profissional em Gestão Educacional. Atualmente, seu foco de pesquisa são as fake news sobre temas científicos.

Paula Dal Bó Campagnolo é diretora de graduação da Unisinos. Nutricionista com doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a professora realiza estudos na linha de nutrição materno-infantil. Seu foco é na avaliação das políticas públicas do Ministério da Saúde relacionadas à nutrição infantil.

Guilherme Trez é pró-reitor acadêmico da Unisinos e docente nos programas de pós-graduação em Gestão e Negócios (programa profissional) e em Administração (acadêmico). Trez possui 22 anos de experiência em projetos de consultoria com análise de mercado e elaboração de planos estratégicos de marketing. O pesquisador é doutor em Administração com ênfase em Marketing pela UFRGS. _

O quê?

Zero Hora Talks - Edição Educação do Amanhã

Quando?

19 de agosto, às 19h30min

Onde?

Teatro Unisinos Porto Alegre (Av. Dr. Nilo Peçanha, 1.600) e em transmissão em GZH

Inscrições

gratuitas pelo site do evento: gzh.digital/inscricoestalks



17 de Agosto de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Política e poder

Lula entrega obras e reforça promessas

aliás

Depois de quatro visitas de promessas de socorro ao Rio Grande do Sul, o presidente Lula veio ao Estado pela quinta vez desde o início de maio, agora para fazer entregas de obras físicas. Parte das unidades do conjunto habitacional entregue na Lomba do Pinheiro será destinada a famílias afetadas pela cheia. O presidente também entregou as chaves das primeiras casas compradas pelo modelo batizado de "compra assistida". A visita ainda serviu para reafirmar compromissos e assinar documentos que podem acelerar a construção de moradias.

No Grupo Hospitalar Conceição, o presidente inaugurou uma obra que estava praticamente pronta quando assumiu, mas faltava "rechear" com móveis e equipamentos para tratamento do câncer. Entre eles, o acelerador linear que permitirá ao hospital fazer radioterapia. O equipamento está em fase de testes, mas os pacientes já estão sendo atendidos no novo prédio.

No pacote das inaugurações, a obra de maior impacto é o complexo da Scharlau, porque vai melhorar o trânsito na BR-116, um pesadelo para quem precisa se deslocar entre Porto Alegre e o Vale do Sinos ou para a Serra.

Em cada um dos eventos e antes, em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente reforçou as promessas de que não faltará dinheiro para a reconstrução do Rio Grande do Sul e que as moradias serão entregues conforme forem ficando prontas, "porque não se faz casas de papel", nem "do dia para a noite". Ao reafirmar a promessa de dinheiro para obras de contenção, Lula errou na dose ao culpar alguns prefeitos (e poupar outros) da responsabilidade pelos alagamentos.

Apoio à transparência nas emendas parlamentares

Na briga entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal por causa das emendas bilionárias que o governo é obrigado a liberar para os parlamentares, o presidente escolheu seu lado: é a favor das restrições.

Na entrevista, Lula disse que a fatia do orçamento a que os parlamentares têm direito para destinar a suas bases é exagerada. Lula reiterou que é contra as emendas secretas e disse não entender por que os parlamentares insistem em não dar transparência ao destino do dinheiro. _

A manifestação de Lula sobre a Venezuela, na Rádio Gaúcha, teve repercussão nacional e internacional. Embora tenha se recusado a carimbar o regime de Nicolás Maduro como ditadura, foi a primeira vez que usou a palavra "desagradável" e tratou o governo como autoritário. Um aliado interpretou a manifestação como sinal de que está preparando o terreno para romper com Maduro e com o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega.

Na Rádio Gaúcha, Lula disse que sente saudade do tempo em que a polarização no Brasil era entre o PT e o PSDB. Justificou que o PSDB era um adversário de alto nível e que o bolsonarismo é incivilizado e desrespeitoso.

Vamos fazer (a duplicação da BR-290). Eu quero que você ouça bem. Estou olhando nos seus olhos. Pode ficar certa de que, antes de eu deixar a Presidência, dia 31 de dezembro de 2026, nós vamos inaugurar essa rodovia. Você pode ficar certa.

Lula Presidente da República

Difícil de acreditar

Na relação com o governador, o "morde e assopra" do presidente

Acostumado a acompanhar o andamento das obras públicas, o jornalista Jocimar Farina não se empolgou com a promessa de Lula de concluir a duplicação dos lotes 1 e 2 da BR-290 até o fim do mandato, em 2026.

Pelos cálculos de especialistas, depois de iniciada a duplicação ainda vai demorar pelo menos três anos para ficar pronta. No caso do lote 1, mais próximo da BR-116, a empresa vencedora da licitação quebrou e será preciso resolver pendências jurídicas. _

Durante e logo depois da enchente, as relações entre o governador Eduardo Leite e o presidente Lula eram mais amistosas do que hoje. O clima de colaboração exigia que deixassem de lado as divergências políticas para atuar na mesma direção: o socorro às vítimas e a reconstrução do Estado.

Os primeiros ruídos ocorreram com a nomeação de Paulo Pimenta para ministro da Reconstrução. Leite não reclamou, mas no seu entorno logo começou o ti-ti-ti, com assessores afirmando que Lula estava fazendo intervenção disfarçada no Estado.

A relação azedou quando Leite passou a criticar o governo federal pela demora na liberação dos recursos prometidos e a fazer discursos mais ácidos em eventos de empresários.

Nessa sexta-feira, Lula começou reclamando de Leite no Gaúcha Atualidade, dizendo que ele deveria agradecer em vez de ficar reclamando.

Depois, nos eventos com a presença do governador, Lula pediu aos petistas que não vaiassem, cochichou em alguns momentos e "assoprou" as feridas das estocadas.

Em São Leopoldo, Leite foi representado pelo vice-governador Gabriel Souza (MDB), que deu seu recado:

- Por vezes, podemos ser mal compreendidos. Vamos fazer cobrança, sim. Mas vamos agradecer também. E hoje é dia de agradecer. _

POLÍTICA E PODER


17 de Agosto de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Malabarismo verbal

É constrangedor ouvir o presidente Lula fazer malabarismos verbais para evitar classificar o regime de Nicolás Maduro como ditadura. Em entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã de sexta-feira, ele adotou uma nova expressão ao tentar explicar o processo político venezuelano: "viés autoritário".

- A Venezuela vive um regime muito desagradável; não considero que seja uma ditadura no sentido clássico, como muitas outras que conhecemos pelo mundo. É um governo com viés autoritário, mas não se enquadra exatamente na definição de ditadura - disse.

Ora, governos com vieses autoritários, como o de Vladimir Putin na Rússia, de Xi Jinping na China, de Bashar al-Assad na Síria, de Daniel Ortega na Nicarágua, ou de Miguel Díaz-Canel em Cuba, - para ficarmos em exemplos tanto à direita quanto à esquerda - são ditaduras. Poderíamos também chamar de autocracias, regimes autoritários, mas o termo mais popular é... ditadura.

Como assim também o era o regime brasileiro que vigorou entre 1964 e 1985. Ou, para Lula, aqueles eram apenas governos militares de vieses autoritários?

O presidente perde, pela segunda vez no microfone da Rádio Gaúcha, a oportunidade de romper com a fidelidade corrosiva a Maduro. Pouco mais de um ano atrás, em junho de 2023, perguntei a Lula, também na Gaúcha, sobre a dificuldade de considerar a Venezuela uma ditadura. A resposta de que "democracia é um conceito relativo" repercutiu nacionalmente. A emenda saiu pior do que o soneto: na ocasião, o presidente acrescentou que, na Venezuela, haveria mais eleições do que no Brasil.

Estamos acompanhando, desde julho, o tipo de eleições que há por lá: fraudadas, sem transparência e cujos comprovantes estão guardados em algum cofre do Palácio de Miraflores - sem falar nos entraves que o regime impôs à oposição e nas prisões subsequentes.

Com a insistência ao passar pano a Maduro, Lula se isola entre os líderes americanos e evita aproximar-se de uma nova esquerda, representada, por exemplo, pelo presidente chileno, Gabriel Boric, mais conectada a temas contemporâneos e menos presa a ideologias que trazem embutidas o mofo da Guerra Fria. Mais do que isso, Lula erode, por si só, sua capacidade de se tornar líder do Sul Global em geral e da América Latina em particular. _

Mais moderno navio de pesquisas científicas do Atlântico Sul no RS

O mais moderno navio de pesquisas científicas do Atlântico Sul estará na costa do Rio Grande do Sul entre os dias 22 e 28 de agosto. Chamado de Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira, é operado pela Marinha do Brasil e tem 78 metros de comprimento, com tripulação de 90 militares e capacidade de receber até 40 pesquisadores.

Conforme a Marinha, o Vital de Oliveira prestará apoio à retomada da navegabilidade do Estado, afetado pela enchente. A embarcação conta com 28 equipamentos científicos capazes de mapear danos do leito marinho.

Entre os trabalhos, estão a análise da situação do balizamento, do contorno de costa, dos atracadouros, das estações maregráficas e a existência de possíveis perigos à navegação, informações necessárias ao planejamento da sondagem batimétrica, entre Rio Grande e Porto Alegre. _

Entrevista - Rafael Zimerman

Sobrevivente dos atentados de 7 de outubro em Israel

"Estava dançando e uma hora depois tentaram tirar minha vida"

O paulista Rafael Zimerman havia se mudado para Israel fazia cinco meses em 2023 quando, na madrugada do dia 7 de outubro, tornou-se alvo do terrorismo do Hamas. Um dos sobreviventes do ataque, o jovem está em Porto Alegre para palestras sobre a tragédia e o antissemitismo.

Onde você estava quando começou o massacre?

Na festa, um dos primeiros lugares atacados. Fui para lá com o gaúcho Ranani Glazer e a namorada dele à época, a Rafaela Treistman. Um detalhe: a organização só enviou a localização duas horas antes do evento, por questões de segurança. Quando recebi falando que era próximo da Faixa de Gaza, até questionei o Ranani: é seguro? Nunca havia chegado tão perto.

Como você percebeu que o ataque havia começado?

No momento, eu estava sozinho na frente do palco, dançando. Comecei a ouvir barulhos como se fossem fogos de artifício. Bem rápido me veio à cabeça: "Estamos numa festa aberta, e em Israel não é comum ter fogos de artifício, em uma rave também não". O DJ pegou o microfone e falou em hebraico: "código vermelho". Naquele momento me agachei, fiz posição de defesa e olhei para os lados e cada um estava com uma reação: gente correndo, filmando, chorando.

E o que você fez?

Fiquei um minuto agachado e saí correndo em direção à barraca na qual tínhamos deixado nossas coisas. Encontrei o Ranani e a Rafaela. A primeira coisa que ele falou foi: "Precisamos encontrar um bunker". Saímos correndo em direção à estrada e começamos a pedir carona. Por ser uma cidade próxima de Gaza, na estrada, em pontos de ônibus, há bunkers. Fomos os primeiros a chegar. Era muito pequeno. Confortavelmente cabiam 15 pessoas, no final tinha 40. Já não dava para respirar.

Em que momento os terroristas chegam?

Como só sabíamos que era um ataque aéreo, eu me senti seguro (no bunker). Depois de uns 20 minutos, eu estava encostado na parede e começo a sentir um tiro vindo nas minhas costas, depois outro, só que eles não atravessavam a parede. Depois, uma granada. Virou um desespero: pessoas pedindo para fazer silêncio. Comecei a ouvir vindo do lado de fora uma voz feminina, era uma policial: ela começou a falar no rádio que não conseguiria aguentar, depois de muita troca de tiro. Começo a ouvir vários tiros e o grito que eu não desejo a ninguém ouvir nunca na vida. Os terroristas gritando "Allahu Akbar" ("Deus é grande"), em árabe. Sabia que, quando os terroristas faziam atentados, eles gritavam isso. Você ouve aquele grito e sabe que já era. Eu tinha entendido que era a hora de morrer.

Eles entraram no bunker?

A primeira coisa que eles fazem é tacar um gás. E o pessoal lá dentro fica sem respirar e (busca) sair do bunker. Em 30 segundos, eu não conseguia respirar. Uma menina inclusive mordeu a minha costela, arrancou minha carne. Entrou em desespero. Logo depois, os terroristas começaram a jogar granadas que soltam estilhaços de vidro, pregos. Quando olhei para o lado, acabei vendo o Ranani sendo atingido e agonizando de dor. Vi o meu amigo morrer. Depois de várias granadas, eles jogaram coquetel molotov, e entraram atirando. Desmaiei e, quando acordei, já estava embaixo de vários corpos.

Como falar de paz diante de tanto ódio?

Se eu tiver ódio e querer vingança, vou ter uma vida infeliz. Saí de lá muito agradecido por estar vivo. Não vou mudar o mundo, mas se eu consigo inspirar as pessoas que estão ao meu lado, eu consigo mudar a mim mesmo e a quem está ao meu redor. No final, a vida é um sopro. Eu estava dançando e uma hora depois tentaram tirar a minha vida da pior forma possível. Sou uma pessoa que quer viver, alegre, feliz, que é amada, que ama. Eu não vou fazer a paz no Oriente Médio, mas eu vou espalhar que a paz é o caminho certo para a vida. 

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 12 de agosto de 2024


12 de Agosto de 2024
CARPINEJAR

Poderia ser eu, você, qualquer um

Um avião da companhia aérea Voepass com 62 pessoas caiu em um condomínio residencial em Vinhedo (SP), na sexta-feira, e ninguém sobreviveu. É o acidente que teve o maior número de vítimas desde a tragédia da TAM em 2007.

Num desastre aéreo, o primeiro pensamento que vem à tona é que poderia ser você. É uma morte coletiva que coloca todo mundo mentalmente dentro do avião. Você recorda a sua família, os seus amigos, imagina o que o seu círculo de afetos estaria sofrendo com o seu desaparecimento repentino.

Pois não tem como escapar. É, ao mesmo tempo, um infortúnio tão raro e tão inesperado que nos provoca a mais completa sensação de impotência, de imobilidade emocional. Ainda não se sabe o que causou a queda. Uma hipótese provável é que a asa tenha perdido completamente a sustentação pela formação de gelo, numa queda em parafuso de aproximadamente 4 mil metros, com velocidade de 440 km/h.

Eu vivo viajando, numa média de seis a oito voos por semana. Eu já embarquei várias vezes pela companhia Passaredo, eu já saí do aeroporto de Cascavel, eu já briguei no balcão para garantir meu horário, eu já palestrei em Vinhedo. O avião já havia operado em Caxias do Sul, minha cidade natal.

É uma colcha de casualidades inexplicáveis. Você se sente aliviado pela sua existência poupada e também mortificado por quem não contou com a mesma sorte. É o medo por não ter controle sobre a vida, e pesar porque alguém partiu simbolicamente em seu lugar. É o frio e o quente misturados - suor gélido pela sua sobrevivência e lágrimas quentes tributárias da fatalidade, com tanta gente inocente de seu fim.

Não há como não se ver preso ao "quase", ao roteiro incessante do "se". O avião fez três viagens no dia. Dez passageiros perderam a conexão. Quantas pessoas embarcaram perto da catástrofe, ou poderiam ter subido para nunca mais naquele modelo ATR-72?

Foi uma salvação por um triz, uma proteção que aconteceu no detalhe. Um táxi que se atrasou, um carro de aplicativo que cancelou a corrida, um alarme do celular que não tocou, um erro na compra do bilhete: um mero acaso decidiu destinos. E das 62 vítimas, quantas tiveram o pressentimento de não ir ou a chance de estar numa outra escala?

Isso mexe com as nossas piores fantasias. Todo falecido ali se torna nosso parente, porque leva consigo um pouco da nossa morte. Na aeronave, encontravam-se docentes, médicos, árbitro de judô, representantes comerciais, policiais rodoviários, fisiculturista, procurador, advogado, farmacêutico, veterinária, empresários, comissárias e pilotos jovens, entre tantas profissões e sonhos ceifados.

Não existe como não se desesperar ao descobrir que o servidor do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) Rafael, 41 anos, foi buscar a filha de três, Liz, para passar o Dia dos Pais em Florianópolis.

Nem os mais crentes em Deus são capazes de justificar tal desígnio. Como a véspera de uma data festiva se transforma repentinamente num pânico do tamanho de um país inteiro? Onde enterrar a saudade?

CARPINEJAR

12 de Agosto de 2024
CLÁUDIA LAITANO

De perto ninguém é

A música Vaca Profana fez muito sucesso no início dos anos 1980, mas nada que se compare ao seu verso mais famoso. Não é o melhor verso da música brasileira, não é sequer o melhor verso do Caetano, mas é tão conhecido que tem gente convencida de que a expressão "de perto ninguém é normal" é um ditado tão antigo quanto as igrejas de Salvador. Hoje nem todo mundo lembra da canção, mas a frase não só se instalou na linguagem cotidiana e na sabedoria popular como já foi usada como título de série (mais de uma), livro sobre amor e sexualidade, peça de teatro, filme e até como slogan de campanha contra os manicômios.

Não é normal nossa obsessão com o normal. Ou é, partindo do princípio de que o conceito de normalidade pula de galho em galho conforme o ponto de vista de quem o define: uma hora aqui, outra acolá. Podemos classificar o normal tanto como um estilo pessoal ("normcore", o jeito de vestir de quem não parece muito preocupado com o jeito de vestir) quanto como uma patologia a ser investigada ("normose", o comportamento de quem pira no esforço de nunca se distinguir da maioria). 

Durante a pandemia, antecipamos tanto o "novo normal" que a expressão perdeu a validade antes mesmo da chegada da vacina. (A ponto de a revista Vogue colocar Gisele Bündchen na capa de uma edição de 2020 sob o título: "O novo normal". Oi?). Nos últimos tempos, estamos normalizando o "não podemos normalizar", aplicando a expressão como escudo contra desgraças de todas as dimensões e naturezas: da crise climática às derrotas da dupla Gre-Nal, da violência policial à falta de boas maneiras.

Na campanha eleitoral norte-americana, o normal virou tema de disputa. Do lado republicano, o bilionário Donald Trump e o advogado J. D. Vance apresentam-se como legítimos representantes de todas as famílias e pessoas normais - seja lá o que isso signifique. Do lado democrata, Kamala Harris e Tim Walz apostam na estratégia de qualificar os dois oponentes como gente esquisita, que fala de um jeito que, olhando de perto (e mesmo de longe), não parece muito normal.

Alguns se sentem mais seguros imaginando um mundo dividido entre saudáveis e doentes, bons e maus, normais e anormais. Outros conseguem conviver com a noção de que fomos programados, como espécie, para agir, pensar e sentir de maneiras tão distintas quanto as circunstâncias que se nos apresentam - e a normalidade é mais uma estatística do que um atributo. Precisamos normalizar a ideia de que o normal, como quase tudo, também é político. _ claudia.laitano21@gmail.com

CLÁUDIA LAITANO

12 de Agosto de 2024
ARTIGOS - Jorge Audy - Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc

ARTIGOS

O Plano Brasileiro de IA e os desafios futuros

A soberania nacional está relacionada ao efetivo domínio dos ciclos científicos e tecnológicos

Vivemos um momento na história com um potencial de transformação de maior intensidade do que o registrado na década de 1970, quando novas tecnologias - como os computadores e a internet - mudaram o mundo, com impactos nos 50 anos seguintes. Esta década de 2020 é um período ainda mais transformador, com o desenvolvimento e uso da inteligência artificial (IA) em todas as áreas e com forte impacto nas relações de trabalho, nas nossas vidas pessoais e profissionais e na sociedade. Este novo ciclo levou muito menos tempo para gerar efeitos, em um mundo exponencial e interconectado.

Neste contexto desafiador, foi aprovado, pelo Conselho de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 (PBIA) - IA para o Bem de Todos. O documento reconhece a IA como uma revolução centrada em dados e nos processadores de alto desempenho, envolvida em uma corrida global com efeitos geopolíticos. O PBIA direciona ações estratégicas referentes aos impactos da IA sobre esferas como educação, trabalho, meio ambiente, sustentabilidade, integridade da informação e soberania nacional.

Mais do que nunca, a soberania nacional está relacionada ao efetivo domínio dos ciclos científicos e tecnológicos. Isso fica claro quando vemos países como China e Estados Unidos investindo recursos públicos da ordem de dezenas de bilhões de dólares em planos nacionais de IA.

O PBIA prevê investimentos da ordem de R$ 23 bilhões em cinco anos, um valor na escala de países como Alemanha, França e Reino Unido, gerando condições, mesmo que tardiamente, de nos posicionarmos em um contexto mundial.

O plano tem premissas fundamentais. Entre elas, destacam-se o foco no bem-estar social e a ética e responsabilidade no uso da IA.

Necessitamos de grandes projetos nacionais, como o PBIA, para gerarmos um novo ciclo de desenvolvimento, com soberania e inserção global, atentos aos impactos sociais. Este é o tamanho do desafio e da responsabilidade que temos com o nosso futuro. _

Onde tudo o que coopera cresce

Mario De Conto - Superintendente do Sistema Ocergs

O movimento Céu, Sol, Sul, Terra e Coop está mostrando a importância de apoiar as cooperativas

A primeira vez que os gaúchos ouviram que aqui "tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor" foi em 1978. Hoje, mais de 45 anos depois, a canção de Leonardo tem significado ainda maior. Com ela, enchemos o peito para cantar nossa reconstrução. E em uma retomada que passa essencialmente pela força do cooperativismo, o refrão foi uma escolha natural para representar a jornada das cooperativas neste caminho.

O movimento Céu, Sol, Sul, Terra e Coop está mostrando a importância de apoiar as cooperativas. Muitas vezes sem ser notado, nosso trabalho está no dia a dia. Do acender das luzes ao plano de saúde e, acima de tudo, na mesa das famílias. Comprar produtos do cooperativismo é auxiliar não apenas o produtor, mas a comunidade a sua volta. E o Rio Grande sabe disso.

Praticamente metade dos gaúchos, 47,7%, consome produtos e serviços de cooperativas. Em Ijuí, Uruguaiana e Passo Fundo, esse índice chega a mais de 60%. A pesquisa do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) aponta que, além de consumir, nosso povo sabe da importância das cooperativas, do cooperativismo e do Sistema Ocergs.

Segundo o estudo, seis em cada 10 gaúchos conhecem ou ouviram falar sobre cooperativismo. Destes, 95,1% o veem como importante. Quando o tema é o Sistema Ocergs, oito em cada 10 gaúchos que conhecem ou ouviram falar têm imagem positiva. As cooperativas em si têm os melhores resultados, sendo sete em cada 10 os que conhecem ou ouviram falar. Destes, 91,2% têm uma imagem positiva.

Os números coletados com mil entrevistas em oito regiões do Estado nos trazem a certeza do cooperativismo como um pilar do crescimento do Rio Grande. Contudo, também evidenciam a importância de movimentos como o que estamos protagonizando para que mais pessoas conheçam e entendam esses conceitos. O cooperativismo precisa ser cada vez mais conhecido e difundido e o nosso papel, enquanto Sistema Ocergs, é mostrar, para quem quiser ver, que, com o trabalho das cooperativas, plantamos e crescemos todos juntos. 


12 de Agosto de 2024
GPS DA ECONOMIA - Gustavo Estrella

GPS da Economia - Respostas capitais

CEO da CPFL Energia, controladora da RGE

"Precisamos discutir como preparar o Estado para situações como a de maio"

Controladora da RGE, a CPFL Energia divulgou balanço do segundo trimestre com lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, mas abaixo do resultado do ano passado. Apesar dos efeitos da crise climática, o CEO da companhia, Gustavo Estrella, vê com bons olhos a velocidade de recuperação no Estado.

Qual foi o impacto do RS nos resultados?

No nosso caso, o consumo da indústria era a maior preocupação, porque o Estado acabou sendo afetado não só nas bases da indústria, mas em toda a logística. Havia preocupação com o tempo que a indústria ia demorar para retomar. Mas isso está em ritmo positivo. Por exemplo, o mercado industrial caiu 14%, em maio, no auge da crise. 

Em junho, o consumo industrial caiu só 3%. Ou seja, de 14% para 3%. Mas, em julho, cresceu 7%, então é claro que existe um movimento de formação de estoque e recomposições. É um sinal muito claro de que a indústria está numa velocidade de recuperação, bem acima da nossa expectativa, o que é muito bom, não só para a CPFL, mas principalmente para o Estado de forma geral. 

Mas há uma discussão que a gente precisa fazer, de como é que a gente prepara o Estado para enfrentar situações como essa. E talvez uma das ações, uma das iniciativas, é exatamente essa, como é que a gente vai tratar o tema da arborização para realmente garantir e preservar, de novo, não só o fornecimento de energia, mas a infraestrutura do Estado de forma geral.

Vai ser preciso investir mais?

Antes, os indicadores de RGE e Equatorial já estavam abaixo dos de Santa Catarina e do Paraná, por exemplo. Por que isso acontece no RS?

É uma região muito rural. Quando comparo com as minhas outras concessões, é muito mais rural. É uma área mais espalhada do que as minhas outras áreas de concessão. Nós vamos nos dois extremos aqui. Tenho quase 8 mil clientes, em média, por município. Em uma das concessões de São Paulo, esse número é de 68 mil clientes por município. Só na Avenida Paulista tem 20 mil. Isso dá uma dimensão de que, numa zona mais rural, onde tenho clientes em uma região mais espalhada, naturalmente, o meu desafio de recomposição de rede é maior.

?Mesmo assim, as metas não são atingidas?

GPS DA ECONOMIA

12 de Agosto de 2024
EDITORIAL

Medalhistas e cidadãos

Mais produtivo do que comparar o desempenho do Brasil na Olimpíada de Paris em relação a edições anteriores é discutir como criar condições para o potencial dos atletas nacionais ser mais bem desenvolvido e isso se refletir em conquistas no futuro. O país terminou na 20ª posição, abaixo do 12º lugar de 2021, em Tóquio, o melhor desempenho obtido até hoje. Foram 20 medalhas, ante 21 no Japão, mas apenas três de ouro, contra sete há três anos.

Ao longo das Olimpíadas, o Brasil dependeu muitas vezes de atletas com talento excepcional ou de uma geração espetacular para subir ao pódio. Além dos adversários, superou barreiras como o baixo investimento em modalidades menos populares e a estrutura precária, a não ser em ilhas de excelência. Talentos esportivos de norte a sul seriam mais bem aproveitados e lapidados se existissem acesso, condições materiais e incentivo apropriados. Além disso, esporte não é só competição. É saúde física e mental e oportunidade para os jovens, em especial das periferias, evitarem maus caminhos. Por ensinar disciplina e respeito às regras, também forma cidadãos.

No investimento houve alguma evolução. Novas fontes foram criadas, como leis de incentivo, embora sigam aquém do necessário. É ainda possível discutir o emprego das verbas. O Portal da Transparência no Esporte, da Universidade de Brasília (UnB), dá pistas sobre repasses federais diretos e indiretos. Ou seja, dinheiro do orçamento da União, incentivos tributários e patrocínios de estatais.

Os investimentos foram significativos antes da Olimpíada do Rio, em 2016, mas caíram depois. Entre 2017 e 2021, ficaram abaixo dos R$ 2 bilhões anuais. Em 2022, subiram para R$ 2,31 bilhões e, no ano passado, para R$ 3 bilhões. Deste total, foram R$ 1,4 bilhão para esportes de alto rendimento, R$ 1,6 bilhão para educação, lazer e inclusão social e somente R$ 39,7 milhões para infraestrutura. Sem ginásios, pistas e equipamentos adequados e em quantidade, a formação é dificultada. Escolas públicas deveriam contar com melhores instalações. Ademais, deve ser uma política de longo prazo, sem interrupções ou quedas bruscas de aportes que ameacem a continuidade do trabalho.

É preciso ainda ampliar e qualificar o Bolsa Atleta, principal programa federal para ajudar diretamente atletas de alto rendimento. Um ano antes do Rio, foram distribuídos R$ 71 milhões. Em 2017 e 2018, apenas R$ 15,5 milhões e R$ 12,1 milhões, respectivamente. O orçamento de 2024 é de R$ 162 milhões, para mais de 9 mil atletas. Contempla desde as categorias de base até medalhistas como Rebeca Andrade.

Como o esporte nem sempre é considerado prioridade, está entre as primeiras áreas a sofrer cortes quando a situação fiscal se deteriora. Seria desejável encontrar mais formas de viabilizar e ampliar o programa, com mecanismos que possibilitem maior participação privada, por exemplo. Um apoio maior deveria também ser direcionado para elevar o número de atletas da base. Da quantidade é mais fácil tirar a qualidade capaz de levar o país a se tornar uma potência olímpica. _

Talentos esportivos seriam mais bem aproveitados e lapidados se existissem acesso, condições materiais e incentivo adequados