sábado, 26 de julho de 2025


26 de Julho de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Leite cobra de Lula o que está nas mãos de Trump

A linha de crédito especial do BRDE para os exportadores prejudicados pelo tarifaço de Donald Trump, anunciada na sexta-feira pelo governador Eduardo Leite, foi recebida com entusiasmo pelos representantes dos setores afetados, mas todos sabem que se trata de um paliativo.

O governo do Rio Grande do Sul fez o que estava ao seu alcance ao propor um empréstimo para evitar que o impacto imediato seja a demissão de trabalhadores. Com isso, dá fôlego às empresas, enquanto não se chega a um acordo para redução das tarifas.

Logo depois de anunciar o acordo, Leite voltou a dizer que a solução para o impasse está na negociação e que cabe ao presidente Lula dar o primeiro passo.

A sugestão seria óbvia, não fosse pública e notória a informação de que Trump não quer negociar com o Brasil e que a primeira condição por ele imposta não cabe em uma negociação legítima. É chantagem a exigência de livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro da ação penal por tentativa de golpe de Estado.

Leite contestou a opinião de que sua sugestão de Lula dar o primeiro passo oscilava entre a ingenuidade e o oportunismo político. O secretário de Comunicação, Caio Tomazeli, traduziu o pensamento do governador como "a defesa de um gesto político de boa vontade". A ideia não é Lula viajar para os EUA sem uma audiência marcada, mas dar um telefonema para Trump.

Entusiasmado com o reconhecimento de que é o único entre os potenciais candidatos a presidente que não tem ligação com Lula nem com Jair Bolsonaro, o governador aproveitou a reunião para condenar a polarização, discurso que adotou logo após o anúncio do tarifaço, como se a responsabilidade de cada um fosse de 50%.

Ignorou que o deputado Eduardo Bolsonaro está nos EUA há quatro meses, tentando convencer autoridades americanas de que seu pai é vítima de uma injustiça e pedindo sanções. Mesmo quando a sanção veio em forma de tarifaço, Eduardo comemorou como vitória, imaginando que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário se renderiam. _

Crise com os EUA reforça papel de Alckmin no governo

A crise do tarifaço colocou em evidência a figura serena do vice-presidente Geraldo Alckmin. É ele o interlocutor dos empresários e o homem escalado para conversar com o governo dos EUA, tarefa até aqui frustrada pela irredutibilidade de Donald Trump.

Na sexta-feira, em Osasco (SP), Lula ressaltou o papel de Alckmin na negociação:

- Esse cara é exímio negociador, não levanta a voz e não manda carta. Ele só quer conversar - discursou.

Na segunda-feira, os líderes dos setores mais prejudicados pelo tarifaço terão mais um encontro com Alckmin e com Lula em Brasília para discutir estratégias de reação e o programa do governo para socorrer as empresas afetadas. _

Avante quer o centro

Apontado como um dos partidos que negocia com o PL para 2026, o Avante nega qualquer conversa com Luciano Zucco ou Giovani Cherini, os dois principais líderes liberais no RS. Segundo o presidente estadual da legenda, Mário Cardoso, o Avante é um partido de centro e quer se afastar dos extremos.

Foi Cherini quem disse a jornalistas, antes do anúncio da coligação com o Novo, que tinha conversado com o Avante, o Solidariedade e o PSDB.

- Somos do diálogo, não tem problema falar com quem for, mas hoje o que buscamos é uma alternativa de centro - disse Mário.

As preferências do Avante são as pré-candidaturas de Marcelo Maranata (hoje no PDT, mas tem conversas com PSDB) e Juliana Brizola (PDT). Nomes da centro-direita, como Gabriel Souza (MDB) e Covatti Filho (PP), estão mais distantes. _

Eduardo Leite se prepara para tirar seis dias de férias na próxima semana. O governador vai aproveitar a última semana do recesso na Assembleia para descansar. Não há previsão de agendas que envolvam articulações para a eleição.

Definição do PL não deve apressar adversários

O lançamento antecipado dos principais nomes da futura coligação PL-Novo não deverá apressar o calendário de definições dos outros concorrentes que estão com as candidaturas alinhavadas.

Não é novidade para nenhum dos protagonistas da eleição que o MDB terá o vice-governador Gabriel Souza como candidato.

Quem estará com Gabriel? O PSD, por ser o partido do governador Eduardo Leite, mas não necessariamente como vice. O mais provável é que o próprio Leite seja candidato ao Senado, se não conseguir viabilizar a candidatura a presidente.

Gabriel gostaria de ter um nome do PP como vice, mas o deputado Covatti Filho está empolgado com a receptividade da pré-candidatura. A ala direita do PP resiste a Gabriel, porque no Interior o MDB é um adversário histórico. 

Esquerda vai se unir? A expectativa de união da centro-esquerda é o principal motivo para PT, PSOL, PCdoB e PSB evitarem nomes agora.

Para atrair o PDT, que tem Juliana Brizola como pré-candidata ao Piratini, líderes do PT adotaram o discurso de que quem busca uma aliança ampla não pode impor nomes.

O PSDB lançou a ex-prefeita de Pelotas Paula Mascarenhas, mas a direção nacional ainda não desistiu de filiar o prefeito de Guaíba, Marcelo Maranata, que quer concorrer a governador.

Nos bastidores, os petistas acreditam que a tendência é o PDT fechar com Gabriel Souza e Juliana concorrer a deputada federal. _

Manuela no radar

Edegar Pretto é o nome do PT para governador. Na improvável hipótese de uma aliança com o PDT, tendo Juliana como candidata, Pretto disputaria uma vaga na Câmara, já que para o Senado o nome do partido é Paulo Pimenta.

A segunda vaga ficaria para um partido aliado, provavelmente o PSB, que tenta atrair a ex-deputada Manuela D?Ávila, que deixou o PCdoB e é afinada com João Campos, presidente nacional do partido, que avalia decretar uma intervenção no diretório estadual do PSB e convidar Manuela para a presidência estadual.

O PSOL também tenta atrair Manuela, na esperança de ganhar um reforço para 2026. 

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