quinta-feira, 29 de novembro de 2007



JOSÉ SIMÃO

Ueba! Corpo-a-corpo com Lula é briga!

A Mônica do Renan lançou o livro "O Poder que Seduz". Devia ser "A Pensão que Seduz"

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

E um amigo meu foi pro supermercado e pegou o caixa preferencial para idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais.

E a caixa: "O senhor tem alguma necessidade especial?". "Tenho, sim. Necessito de dinheiro." Rarará! E mais uma piada pronta: "Senado vai ter votações às sextas e segundas".

Por telefone ou por internet?! Rarará! E se a CPMF não passar, o Lula vai enviar outro imposto com o mesmo nome: Contribuição Pra Mim Ficar! Rarará!

E diz que o Lula vai fazer corpo-a-corpo! Corpo-a-corpo com o Lula é briga! Pode apartar que é briga!

E aquele náufrago, numa ilha com duas mulheres, na Austrália, que escreveu "help" na areia da ilha e foi salvo? Comentário do rapaduradehumor: "

Se eu ficasse sozinho numa ilha com duas mulheres, eu não iria escrever "help", iria escrever "não perturbem'". Rarará!

E mais uma piada pronta: "Aprovado texto que pede cassação de Renan". E eu vou ficar numa banheira de leite condensado até virar brigadeiro!

E essa da Bolívia: "Escândalo sexual derruba ministro". E o ministro é o ministro das Águas. Sujeira derruba o ministro das Águas. E o substituto do ministro se chama Valda.

É que depois de uma putaria nada como uma Valda. Rarará! Se fosse no Brasil, ele viraria presidente do Senado, e ela, capa da "Playboy"! Ou livro.

A Mônica do Renan lançou o livro ontem: "O Poder que Seduz". Errado. Devia ser "A Pensão que Seduz"! Aliás, o Renan é tão feio que não paga pensão, paga indenização! Uau!

É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês".

Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Manaus tem uma igreja chamada Igreja do Pobre Diabo. Rarará! Parece Dias Gomes.

Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Vácuo": companheiro viúvo da vaca que morreu de aftosa. Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês.

Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! Mais ética na demagogia!

simao@uol.com.br


29 de novembro de 2007
N° 15433 -Nilson Souza


Garranchite

De boas intenções, os cestos de lixo estão cheios. Outro dia, o governador de Brasília resolveu acabar com o gerúndio por decreto. Virou alvo de gozação nacional. Agora um dos nossos parlamentares apresentou um projeto para restringir os garranchos dos médicos nas receitas.

A intenção é nobre: evitar confusões na hora da compra dos remédios - reclamação antiga dos farmacêuticos, que atribuem muitos casos de intoxicação aos equívocos com os nomes dos medicamentos.

Com saúde não se brinca. Mas os médicos reagiram mal à proposta do ilustre deputado. Mesmo vivendo no mundo digital, querem continuar tendo (olha o gerundismo aí!) o direito de rabiscar letras cursivas nos seus receituários - alguns porque acham mais prático, outros porque atendem em locais precários, onde caneta e papel já é luxo.

Espero que não me acusem de charlatanismo, mas vou sugerir um remédio para este mal: o velho e eficiente caderno de caligrafia.

Senhores doutores, por favor, leiam a bula.

Nome genérico: Corretivol 500 ou 750 repetições. Composição: um caderno pedagógico com 40 folhas pautadas. Informação ao paciente: este tratamento é indicado aos portadores de garranchite, que sofrem de desleixo ortográfico (não confundir com dislexia). Informação técnica: o Corretivol só faz efeito quando praticado diariamente. Indicações:

tratamento de deformações de grafia presumidas ou causadas por bactérias insensíveis às conseqüências da ilegibilidade. Contra-indicações: hipersensibilidade nos dedos, calos no pai-de-todos e tendinites crônicas.

Advertência: não se recomenda o uso deste medicamento antes de cirurgias delicadas. Reações adversas: a maioria das reações adversas observadas foram de intensidade moderada, não exigindo interrupção do tratamento.

Posologia e modo de administração: pacientes graves devem usar o Corretivol cinco vezes ao dia, preenchendo no mínimo uma página por dose. A duração do tratamento depende da resposta clínica e emocional do paciente. Venda sem prescrição médica.

Apesar da má fama, médicos escrevem bem. Alguns podem não ter boa letra, mas muitos profissionais dessa área poderiam dar receitas de literatura (especialmente de crônica) a jornalistas e escritores.

Por isso, acredito que a maioria vai receber esta sugestão de tratamento com espírito esportivo. Se alguém se sentir ofendido, porém, por favor me escreva. De preferência, com letra de fôrma.

Uma ótima quinta-feira para todos nós ainda ensolarada por aqui.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007



28 de novembro de 2007
N° 15432 - Martha Medeiros


Entrelinhas

Quando se lança um novo livro, responde-se a entrevistas aqui e ali, e é normal que perguntem qual o aspecto mais positivo da profissão.

Se o assunto é relacionado à crônica, desfio logo minha lista de vantagens: são várias as alegrias de se escrever em jornal. Mas, quando me perguntam as desvantagens, empaco. São poucas. Pensando bem, uma só.

É quando as pessoas tentam adivinhar o que você está sentindo, o que você está vivendo, o que está acontecendo com você, afinal. Se o lado A dessa superexposição é o carinho que a gente recebe dos leitores, o lado B é quando interpretam coisas que não foram ditas.

De certa forma, faz parte do jogo. Eu também, ao ler um colunista, posso até intuir que ele está pensando em trocar de cidade, ou que brigou com a mulher, ou que está mal de dinheiro. Só que eu não mando e-mails para consolá-lo.

Outro dia recebi um e-mail enorme de uma leitora que me fez um diagnóstico preciso e indiscutível: eu estava com depressão. Respondi agradecendo a preocupação, mas que ela ficasse aliviada, estou vivendo a melhor fase da minha vida.

Ela me pediu então para enfrentar a realidade, não mascarar minha dor. Calei. Quem melhor do que ela pra saber?

Passou uma semana e recebi um e-mail de uma outra leitora que me perguntava se eu havia brigado com meu namorado. Não, não brigamos, está tudo ótimo. "Bem capaz! Admita. Brigaram, claro. Pode se abrir comigo." Melhor não contrariar, deixei por isso mesmo.

E um cara me veio com esta uma vez: "Por que você tem tanto ódio dos homens?" Fiquei chocada. Eu? Euzinha? Mas de onde tiram essas idéias?

Tiram das entrelinhas, este espaço onde nada está escrito, mas que todo mundo lê. O comentário implícito que nem sempre foi feito, mas que já está sendo estudado em salas de aula.

Esta zona nebulosa que atiça a imaginação dos mais criativos. O silêncio que fala o que o leitor escolheu ouvir. Um vazio que ninguém assina, e por isso mesmo não tem dono: qualquer um pode ser o autor das entrelinhas.

E não raro as entrelinhas do leitor anônimo são muito melhores do que as nossas linhas. A gente se esforça para dar uma opinião e o leitor, durante a leitura, já vai elaborando uma contra-argumentação bombástica.

Ao chegar ao final do texto, em quem ele vai acreditar, em nós ou nele mesmo? Que pergunta.

Pensando bem, escrever crônicas só tem vantagens, desde que a gente não se importe de concorrer com as entrelinhas que alguns leitores escrevem junto, mas pelas quais não se responsabilizam, ao contrário: tentam nos convencer de que é tudo coisa nossa.

Depois não querem que a gente entre em depressão.

Excelente Dia Internacional do sofá - esta quarta-feira, ainda ensolarada por aqui.


28 de novembro de 2007
N° 15432 - Martha Medeiros


Entrelinhas

Quando se lança um novo livro, responde-se a entrevistas aqui e ali, e é normal que perguntem qual o aspecto mais positivo da profissão.

Se o assunto é relacionado à crônica, desfio logo minha lista de vantagens: são várias as alegrias de se escrever em jornal. Mas, quando me perguntam as desvantagens, empaco. São poucas. Pensando bem, uma só.

É quando as pessoas tentam adivinhar o que você está sentindo, o que você está vivendo, o que está acontecendo com você, afinal. Se o lado A dessa superexposição é o carinho que a gente recebe dos leitores, o lado B é quando interpretam coisas que não foram ditas.

De certa forma, faz parte do jogo. Eu também, ao ler um colunista, posso até intuir que ele está pensando em trocar de cidade, ou que brigou com a mulher, ou que está mal de dinheiro. Só que eu não mando e-mails para consolá-lo.

Outro dia recebi um e-mail enorme de uma leitora que me fez um diagnóstico preciso e indiscutível: eu estava com depressão. Respondi agradecendo a preocupação, mas que ela ficasse aliviada, estou vivendo a melhor fase da minha vida.

Ela me pediu então para enfrentar a realidade, não mascarar minha dor. Calei. Quem melhor do que ela pra saber?

Passou uma semana e recebi um e-mail de uma outra leitora que me perguntava se eu havia brigado com meu namorado. Não, não brigamos, está tudo ótimo. "Bem capaz! Admita. Brigaram, claro. Pode se abrir comigo." Melhor não contrariar, deixei por isso mesmo.

E um cara me veio com esta uma vez: "Por que você tem tanto ódio dos homens?" Fiquei chocada. Eu? Euzinha? Mas de onde tiram essas idéias?

Tiram das entrelinhas, este espaço onde nada está escrito, mas que todo mundo lê. O comentário implícito que nem sempre foi feito, mas que já está sendo estudado em salas de aula.

Esta zona nebulosa que atiça a imaginação dos mais criativos. O silêncio que fala o que o leitor escolheu ouvir. Um vazio que ninguém assina, e por isso mesmo não tem dono: qualquer um pode ser o autor das entrelinhas.

E não raro as entrelinhas do leitor anônimo são muito melhores do que as nossas linhas. A gente se esforça para dar uma opinião e o leitor, durante a leitura, já vai elaborando uma contra-argumentação bombástica.

Ao chegar ao final do texto, em quem ele vai acreditar, em nós ou nele mesmo? Que pergunta.

Pensando bem, escrever crônicas só tem vantagens, desde que a gente não se importe de concorrer com as entrelinhas que alguns leitores escrevem junto, mas pelas quais não se responsabilizam, ao contrário: tentam nos convencer de que é tudo coisa nossa.

Depois não querem que a gente entre em depressão.

Excelente Dia Internacional do sofá - esta quarta-feira, ainda ensolarada por aqui.

terça-feira, 27 de novembro de 2007


CLÓVIS ROSSI

Com muito orgulho

SÃO PAULO - No jogo Brasil x Uruguai, no Morumbi, ouviu-se o velho cântico: "sou brasileiro, com muito orgulho". Orgulho de quê?

1 - Orgulho de saber que uma menina é colocada em cela com um bando de homens, violentada seguidamente e ninguém fez nada?

2 - Orgulho de saber que relatório de entidades de defesa da mulher, já em março, havia apontado abusos contra presas não só no Pará mas em outros quatro Estados e ninguém fez nada?

3 - Orgulho de saber que a governadora do Pará culpa o governo anterior, embora esteja no posto há 11 meses e não tenha feito nada?

4 - Orgulho de saber que o Ministério Público já tentara interditar o estádio da Fonte Nova no ano passado, por falta de segurança, e ninguém fez nada, deixando que morressem sete pessoas e outras 85 ficassem feridas?

Só falta agora o governador culpar o antecessor, embora também esteja há 11 meses no cargo.

5 - Orgulho de ouvir o ministro da Educação dizer que a escola pública "nunca" terá a mesma qualidade da escola particular, embora a imensa maioria das crianças brasileiras esteja condenada a estudar na escola pública e, por extensão, condenada a receber menos do que o aluno da escola privada?

É esse conformismo que perpetua a desigualdade obscena que prevalece há séculos na pátria. Educação de qualidade para a maioria é uma das poucas maneiras de ao menos reduzi-la.

6 - Orgulho de ver autoridades tentando provar que a menina presa com homens no Pará não tinha 15 anos, mas 19? Se tivesse 60 anos, deveriam então ser condecorados os responsáveis pela barbárie?

7 - Orgulho de ver, dia sim, outro também, cenas e frases como essa ou parecidas demonstrarem o quanto o país é primitivo? Cantemos, pois. É tudo o que resta aos bárbaros.

crossi@uol.com.br

ELIANE CANTANHÊDE

Ao Estado, às feras

BRASÍLIA - Sabe o que mais assusta na história da menina de 15 anos jogada às feras no Pará? É que a delegada, Flávia Pereira, e a juíza, Clarice de Andrade, são mulheres.

Sem contar a governadora, Ana Júlia Carepa. Eu adoraria saber se elas têm filhas, se têm cachorros ou gatos. E como os tratam.

Duas mulheres. Uma delegada que deve preservar a segurança e a ordem. Uma juíza responsável pelo cumprimento das leis e pela garantia dos direitos individuais.

E ambas conseguem olhar para aquela criança mirrada e infeliz, suspeita de um crime banal, e tratá-la pior do que a um bicho danado.

Quando rapazes de classe média ateiam fogo a um índio que dormia na rua em Brasília e quando outros esmurram uma empregada doméstica num ponto de ônibus no Rio, já é sinal de doença, mas da classe média, das famílias.

O que ocorre no Pará é pior: a doença é do próprio Estado, contaminando seus agentes e os cidadãos -por que calaram diante dos gritos desesperados?
A desculpa era que ela seria maior de idade. Ah, bem! Ou que se prostituía.

Ah, bem! Então pode? Não, não pode. Seria monstruoso de qualquer jeito. Ter 15 anos, ser pequena e frágil, só torna tudo pior. L., 15, foi largada pelos pais incapazes e pelo tio irresponsável. Vivia pelas ruas. Não é ré, é uma vítima da pobreza e da ignorância.

O Estado tinha o dever de salvá-la, mas foi seu pior algoz. Jogou-a às feras, numa cela cheia de homens. Aplicou-lhe queimaduras, fome e violência sexual. A quem recorrer?

Juízes e advogados "finos" de São Paulo e do Rio são ágeis para criticar a polícia por algemar presos grã-finos diante de câmeras de TV. Ou para inundar os jornais defendendo a "decisão técnica" do Supremo que liberou o banqueiro Cacciola para ter um vidão na Europa.

E agora, senhores, o que têm a dizer sobre delegadas e juízas capazes de tal atrocidade? Que tipo de punição "técnica" elas merecem?

elianec@uol.com.br

CARLOS HEITOR CONY

"O Aprendiz do Tempo"

RIO DE JANEIRO - A Nova Fronteira está lançando a nova obra de Ivo Pitanguy, "O Aprendiz do Tempo", histórias vivas e vividas pelo famoso cirurgião plástico, um dos cinco brasileiros conhecidos mundialmente pelo valor com que exercem a profissão.

Fui escolhido para fazer a apresentação do livro, na qualidade não de cliente, mas de amigo há mais de 30 anos e seu colega na Academia Brasileira de Letras.

Já o vi operando em sua clínica, mergulhando nas águas da baía de Angra dos Reis, atuando na presidência do Museu de Arte Moderna (Rio), onde organizou a exposição de Dufy, uma das melhores daquela entidade.

Mas, sobretudo, muito conversamos sobre literatura, principalmente a francesa, da qual é um conhecedor surpreendente, pois não fica apenas nos poetas, mas nos ensaístas.

O livro revela a intimidade com autores alemães, ingleses e espanhóis, e, no seu convívio diário, é sempre com prazer que ele cita um deles, sempre no original.

Bom conversador, viajado pelo mundo, com amigos em toda a parte, só se cala quando um incauto pergunta sobre os clientes que o procuraram e ainda procuram, uma lista que inclui celebridades mundiais do cinema, da política, dos negócios e dos esportes.

A leitura do seu livro pode parecer a biografia de um sucesso.

Um sucesso múltiplo, que atingiu todas as camadas de uma personalidade movida por duas motivações: a vontade de saber e a necessidade de atuar. Para atingir os dois objetivos -saber e atuar-, desde jovem ele fez sua opção básica: estudar e trabalhar.

Não foi escudado em relações e patrocínios. Trabalhou em ambulâncias, subiu morros, nunca recuou diante dos desafios do modesto meio técnico e científico que se apresentava à sua geração.

Fiquem com os anjinhos e que a quarta-feira seja excelente para todos nós.


27 de novembro de 2007
N° 15431 - Liberato Vieira da Cunha

Qualquer coisa chamada de vida

Como era o mundo antes da internet? Era estranho, as pessoas conversavam. Elas comunicavam umas às outras sonhos, desejos, sentimentos.

Havia uma instituição que as aproximava, mesmo nas cidades grandes. Chamava-se visita. Hoje você diz a um amigo ou a uma amiga: qualquer dia eu apareço lá. Trata-se de uma vaga promessa, de uma expressão de simpatia, de um ritual de vaga cordialidade.

Em outras épocas, não. Se você falasse que iria aparecer, aparecia mesmo. Não telefonava antes, não se anunciava na portaria do edifício, simplesmente pressionava a campainha do apartamento (ou da casa, o que era mais comum) e era recebido com uma alegria genuína e pura que o culto à privacidade matou.

A visita era mais do que a internet. Era a novela das oito daquele tempo. Quietão como sempre fui, me fascinava ficar em um canto da sala ouvindo anfitriões e inspecionantes. Conversavam sobre o quê? Sobre Deus, o Diabo e a Terra do Sol, o que significava que acerca de absolutamente tudo.

O acontecimento do dia, o clima, a política, a economia, algum ecoante caso policial, o escândalo mais recente, o custo de vida, namoros e desnamoros, livros, filmes, peças, nada escapava aos conversantes, com certa inclinação aos temas que propiciavam uma entonação de ironia ou de malícia.

Mencionei os inspecionantes. Era um grupo onipresente. Pois enquanto alguém comentava Um Certo Sorriso (a obra de Françoise Sagan) ou Désirée, o Amor de Napoleão (estrelando Marlon Brando e Jean Simmons), os inspecionistas inspecionavam.

Isso queria dizer que examinavam o rádio Telefunken, o vaso de cristal mais ou menos tcheco, as cortinas de tule, ou qualquer demais sinal de prosperidade ou decadência dos hospedeiros.

Faziam isso sem malquerença; faziam por puro hábito, já que observar era também um modo de visitar.

E eu quieto no meu canto, impressionado com aquele teatro que se desenrolava ao meu redor, rindo de alguma tirada humorística, seguindo o enredo de uma fita, acompanhando o final inesperado do romance de uma vizinha.

Pensando bem, tudo isso era melhor do que a internet. Pois se compunha de algo ausente da telinha. Qualquer coisa chamada de vida.

Uma ótima terça-feira ensolarada por aqui.

sábado, 24 de novembro de 2007



25 de novembro de 2007
N° 15429 - Martha Medeiros

Coisa de adolescente

Que insistência tola a nossa ao afirmar, cada vez que vivemos algo novo e excitante, que estamos em surto de adolescência. Isso sim é falta de maturidade

Uma amiga minha, separada, com três filhos para criar e que já não esperava mais nada da vida, me conta que está trocando e-mails com um empresário charmoso, uma surpresa que caiu do céu de uma hora pra outra. Ela me diz com todas as letras: "Estou me sentindo uma adolescente!"

Numa cena de novela, outro dia, o mesmo texto: mulher recém-separada, mais de 50 anos, declarando-se apaixonada feito... feito o quê? Feito uma advogada, feito uma manicure, feito uma professora? Não, feito uma adolescente.

Qualquer pessoa que já se considere carta fora do baralho do amor, quando cruza com alguém que seguiu à risca os conselhos do "personal paquera" e recebe uma cantada, logo fica nostálgica e pensa: "ah, se fosse nos velhos tempos".

Velhos tempos?? Mas que autoboicote! Certa está Bia Kuhn, psicanalista amiga minha, que diz que o inconsciente não usa calendário: os desejos de ontem seguem pulsando anarquicamente dentro da gente, com a mesma intensidade em qualquer época da vida.

Agimos como se apenas os adolescentes tivessem o direito de vibrar. Como se adrenalina correndo nas veias fosse um direito exclusivo deles.

Como se homens e mulheres maduros não pudessem se divertir, não pudessem azarar sem compromisso, não pudessem se presentear com instantes de total curtição. Quem declarou que isso é um desajuste?

Nós mesmos, quem mais.

Está na hora de reconhecermos que entusiasmo não é coisa de adolescente: é coisa de gente grande. Vou além: é coisa de gente velha, inclusive.

Coisa de adolescente é depender de ajuda financeira dos pais, passar a madrugada bebendo cerveja nas calçadas, andar sempre em turma. E até isso não é propriedade privada deles.

Mas entusiasmo, vibração, paixonite? Que insistência tola a nossa ao afirmar, cada vez que vivemos algo novo e excitante, que estamos em surto de adolescência. Isso sim é falta de maturidade.

Os maduros de verdade sabem que estão sujeitos a vibrações aos 30, aos 40, aos 60 anos. Alguém está morto aí? Se estiver, não responda que tenho medo de fantasma.

Sei que é difícil mudar um hábito, mas vou tentar nunca mais dizer que um entusiasmo é "coisa de adolescente". É desrespeito com os adolescentes, porque dá a entender que tudo o que lhes acontece é frugal e sem consistência.

E um desrespeito conosco: se a gente pensar que já viveu tudo o que tinha pra viver, que não há mais surpresas nem vertigens pela frente, que graça terá acordar amanhã de manhã?

Excelente domingo e um ótimo início de semana.


Diogo Mainardi

Somos todos chimpanzés

"Ter um QI acima da média pode ser útil na carreira de um engenheiro nuclear. Na carreira de um jornalista, por outro lado, com certeza só atrapalha.

Acabei de fazer dois testes de QI, um imediatamente depois do outro. Em menos de dez minutos, meu QI aumentou 11 pontos. Tornei-me um Nobel"

O QI dos negros é mediamente inferior ao dos brancos. O QI dos brancos é mediamente inferior ao dos amarelos. O QI dos judeus é mais alto que o dos góis.

As mulheres com ancas largas possuem um QI superior ao das mulheres com ancas estreitas. O leite materno faz aumentar o QI. O primeiro filho tem QI mais alto do que os demais. O desempenho intelectual de quem tem mais de 100 livros em casa é melhor do que o de quem tem menos de dez.

Isso é só uma amostra do que foi publicado recentemente sobre o assunto, em particular nos Estados Unidos. O debate costuma descambar para a pancadaria.

É de bom-tom imputar as disparidades de QI entre um grupo e outro unicamente a fatores ambientais, tais como renda, perfil familiar, acesso à cultura e qualidade do ensino. Mas a natureza insiste em desafiar esses modelos igualitários. Os estudos feitos nos últimos anos parecem indicar que a capacidade intelectual tem também um forte componente hereditário.

Em que medida? Que sei lá eu. Um dos pioneiros das pesquisas nesse campo, Arthur Jensen, chutou que 50% do QI era decorrente de fatores ambientais e os outros 50% de fatores genéticos.

À medida que seus estudos foram adiante, ele mudou o cálculo, atribuindo 20% do QI aos fatores ambientais e 80% à genética. James R. Flynn foi mais preciso. Num livro que acaba de ser publicado, ele estabeleceu que a inteligência é 36% genética e 64% um misto de genética e fatores ambientais.

A Slate fez um bom apanhado sobre as descobertas nessa área. Leia. Está na internet. Os dados sobre os negros incomodam tremendamente porque parecem fornecer argumentos à bestialidade racista.

Os dados sobre os latino-americanos também. Mas patrulhar o debate científico apenas porque ele destrói nossas fantasias acerca da realidade é outra forma de obscurantismo.

No fim das contas, o que os estudos sobre o QI acabam demonstrando é algo diametralmente oposto à supremacia racial: há tanta disparidade entre as pessoas de uma mesma etnia quanto entre os membros de uma mesma família.

Por isso o sistema de cotas é nefasto: ele trata todos os negros como uma coisa só, passando por cima de suas habilidades individuais. No Dia de Zumbi, Lula defendeu o Estatuto da Igualdade Racial, essa asnice totalitária que pretende ampliar o sistema de cotas. É um atalho para o racismo.

Quanto a mim, desconfio dos testes de QI. Ter um QI acima da média pode ser útil na carreira de um engenheiro nuclear. Na carreira de um jornalista, por outro lado, com certeza só atrapalha.

Acabei de fazer dois testes de QI, um imediatamente depois do outro. Em menos de dez minutos, meu QI aumentou 11 pontos. Tornei-me um Nobel.

Mais do que isso: um Nobel escurinho. Passei a semana lendo análises sobre a capacidade mental de orientais desnutridos e sobre o peso do cérebro de defuntos de todas as cores.

O resultado desse grande empenho foi que minha fantasia igualitária continuou de pé: somos todos uns chimpanzés.



Ponto de vista: Stephen Kanitz
Como combater a arrogância

"Precisamos de pessoas que usem sua privilegiada inteligência para ouvir aqueles que as cercam, e não para enunciar as teorias
que aprenderam na Sorbonne, Harvard ou Yale"

Ilustração Atômica Studio

Muitos leitores perguntaram ao longo deste mês qual era a minha agenda oculta.

Meus textos são normalmente transparentes, sou pró-família, pró-futura geração, pró-eficiência, pró-solidariedade humana e responsabilidade social. Mas, como todo escritor, tenho também uma agenda mais ou menos oculta.

Sempre que posso dou uma alfinetada nas pessoas e nos profissionais arrogantes e prepotentes. É a reclamação mais freqüente de quem já discutiu com esses tecnocratas. Uma vez no governo, parece que ninguém mais ouve. Eles confundem ser donos do poder com ser donos da verdade.

Fora do governo, continuam não ouvindo e, quando escrevem em revistas e jornais, é sempre o mesmo artigo: "Juro que eu nunca errei". Toda nossa educação "superior" é voltada para falar coisas "certas". Você só entra na faculdade se tiver as respostas "certas". Você só passa de ano se estiver "certo".

Aqueles com mestrado e Ph.D. acham equivocadamente que foram ungidos pela certeza infalível. Nosso sistema de ensino valoriza mais a certeza do que a dúvida.

Valoriza mais os arrogantes do que os cientificamente humildes. É fácil identificar essas pessoas, elas jamais colocam seus e-mails ou endereços nos artigos e livros que escrevem. Para quê, se vocês, leitores, nada têm a contribuir? Elas nunca leram Karl

Popper a mostrar que não existem verdades absolutas, somente hipóteses ainda não refutadas por alguém. Pessoalmente, não leio artigos de quem omite seu endereço ou e-mail. É perda de tempo. Se elas não ouvem ninguém, por que eu deveria ouvi-las ou lê-las?

Todos nós deveríamos solenemente ignorá-las, até elas se tornarem mais humildes e menos arrogantes. Como não divulgam seus e-mails, ninguém contesta a prepotência de certas coisas que escrevem, o que aumenta ainda mais a arrogância dessas pessoas.

O ensino inglês e o americano privilegiam o feedback, termo que ainda não criamos em nossa língua – a obrigação de reagir à arrogância e à prepotência dos outros. Alguém precisa traduzir bullshit, que é dito na lata, sempre que alguém fala uma grande asneira.

Recentemente, cinco famosos economistas brasileiros escreveram artigos diferentes, repetindo uma insolente frase de Keynes, afirmando que todos os empresários são "imbuídos de espírito animal". Se esse insulto fosse usado para caracterizar mulheres, todos estariam hoje execrados ou banidos.

"A proverbial arrogância de Larry Summers", escreveu na semana passada Claudio de Moura e Castro, "lhe custou a presidência de Harvard." Lá, os arrogantes são banidos, mas aqui ninguém nem sequer os contesta. Especialmente quando atacam o inimigo público número 1 deste país, o empreendedor e o pequeno empresário.

Minha mãe era inglesa, e dela aprendi a sempre dizer o que penso das pessoas com quem convivo, o que me causa enormes problemas sociais. Quantas vezes já fui repreendido por falar o que penso delas? "Não se faz isso no Brasil, você magoa as pessoas."

Existe uma cordialidade brasileira que supõe que preferimos nunca ser corrigidos de nossa ignorância por amigos e parentes, e continuar ignorantes para sempre. Constantemente recebo e-mails elogiando minha "coragem", quando, para mim, dizer a verdade era uma obrigação de cidadania, um ato de amor, e não de discórdia.

O que me convenceu a mudar e até a mentir polidamente foi uma frase que espelha bem nossa cultura: "Você prefere ter sempre a razão ou prefere ter sempre amigos?". Nem passa pela nossa cabeça que é possível criar uma sociedade em que se possa ter ambos.

Meu único consolo é que os arrogantes e prepotentes deste país, pelo jeito, não têm amigos. Amigos que tenham a coragem de dizer a verdade, em vez dos puxa-sacos e acólitos que os rodeiam.

Para melhorar este país, precisamos de pessoas que usem sua privilegiada inteligência para ouvir aqueles que as cercam, e não para enunciar as teorias que aprenderam na Sorbonne, Harvard ou Yale.

Se você conhece um arrogante e prepotente, volte a ser seu amigo. Diga simplesmente o que você pensa, sem medo da inevitável retaliação. Um dia ele vai lhe agradecer.

Stephen Kanitz é administrador www.kanitz.com.br



MARCELO YUKA
"Polícia que tortura e mata não tem saída"

Crítico das ações violentas em favelas, o músico e ativista diz que o Rio faz há 300 anos a política de responder a tiros com mais balas

Por FRANCISCO ALVES FILHO

Segurança pública é, para o músico e compositor Marcelo Yuka, um refrão recorrente em suas letras carregadas de crítica social - aliás, é um refrão em sua própria vida.

Em novembro de 2001, ao tentar socorrer uma mulher durante um assalto, ele levou seis tiros que o deixaram paralisado da cintura até os pés. Apesar de viver entrevado numa cadeira de rodas, ele conseguiu retomar a carreira. Apesar de ser vítima da violência, ele conseguiu manter o senso de legalidade e justiça que sempre o norteou.

Prova disso é que Yuka, fundador da banda O Rappa, mostra-se indignado também com a violência das ações da polícia do Rio de Janeiro, que, do início deste ano até o mês de setembro, já resultou na morte de 961 "suspeitos".

Ele se diz estarrecido com as declarações do governador Sérgio Cabral, que legitima essas operações defendendo até a legalização do aborto para as mulheres de áreas carentes como forma de diminuir a violência.

"Isso é muito grave, trata-se de eugenia", diz Yuka. O músico criou um movimento que congrega juristas, acadêmicos e artistas para denunciar essa situação e foi recebido pelo relator da ONU, que investiga os excessos da polícia carioca. Nesta entrevista, Yuka critica a criminalização da pobreza e lamenta um equivocado consenso da sociedade - o de que a violência urbana só pode ser resolvida pela força.

ISTOÉ - O que o levou a criar um movimento contra conceitos e políticas de segurança mais ostensivas ou violentas?

Marcelo Yuka - Quando o governador do Rio defendeu o aborto para a população pobre, como meio de combate à violência, eu achei um absurdo. Era o ventre pobre sendo tratado como gerador do crime.

ISTOÉ - Outras personalidades e políticos, não só no Brasil mas também em outros países, já defenderam teses semelhantes.

Yuka - Um secretário de Educação do ex-presidente americano Ronald Reagan, chamado Bill Bennett, foi à televisão e disse que para reduzir a violência seria necessário facilitar o aborto para a população negra. Isso causou uma enorme revolta e ele sofreu grande retaliação.

Aqui, um governador diz uma coisa dessas, como disse o governador Sérgio Cabral, e não há reação. Fale algo assim em Israel, na Alemanha e veja o que acontece. Essa idéia equivale a criminalizar o pobre, que é a maioria da população.

ISTOÉ - Considera-se o principal crítico dessas políticas de segurança?

Yuka - Eu não me sinto assim. Mas, se ninguém protesta, eu pego o telefone e começo a me articular. Estava em São Paulo, numa reunião da Associação de Juízes pela Democracia, quando comecei a ter essa reação.

Notei que, para cada pessoa que eu mandava um e-mail, ele se multiplicava por três. Não só entre pessoas físicas, mas também em instituições.

ISTOÉ - Há críticas suas à ação na Favela da Coréia, em que policiais atiraram de um helicóptero para matar dois rapazes. A polícia justifica dizendo que eles estavam armados.

Yuka - Juridicamente, o policial pode atirar em alguém se está em risco de morte. Ali, o atirador não queria se defender, estava caçando uma pessoa em fuga. Isso não pode ser uma coisa menor.

Assim como a proliferação dos autos de resistência (documento em que a polícia justifica a morte de alguém como legítima defesa). É preciso cumprir a lei. A idéia de que o traficante, por ser traficante, tem de morrer nas operações policiais é algo absurdo.

ISTOÉ - Na prática, como se dissemina essa idéia?

Yuka - Se um pai reclama que o filho morreu, logo perguntam: "Seu filho estava envolvido com o tráfico?" Se a resposta é positiva, respondem com desdém. "Ah, então...". Eu pergunto: então, o quê? Tenho um primo que está desaparecido há oito anos.

A mãe dele foi aos órgãos de segurança para registrar o sumiço e quando souberam que o rapaz tinha 19 anos e o fato aconteceu no subúrbio do Rio automaticamente concluíram que ele estava envolvido com drogas. Isso está virando senso comum.

Se mora no morro, na periferia, pode morrer, pode sumir. Se mora em área pobre, é traficante e, se é traficante, pode morrer. Agora piorou: se está no útero da mãe que mora em área pobre, pode morrer.

ISTOÉ - Imagina um mundo sem cadeia e polícia?

Yuka - Eu gostaria que aqueles que fizeram isso comigo estivessem na cadeia. Mas sei que não foi uma ação somente de um homem contra mim.

Foi uma ação do homem e também do sistema, foi isso tudo que desabou sobre mim naquele momento. Mas justiça não é vingança. O cara não tem de pagar nem menos nem mais do que a punição prevista na lei. Não quero o criminoso solto, não quero o traficante solto. Quero que estejam presos.

ISTOÉ - O que diria a quem afirma que sem confrontos não há solução para a criminalidade?

Yuka - Parece aquela frase gritada pelo Caveirão: "Saiam das ruas que eu vou roubar a sua alma." Isso não é trabalho de inteligência.

Outra constatação básica: é fácil falar que vai haver vítimas, uma vez que não é a filha do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, que pode morrer inocentemente porque estava em meio a um tiroteio.

ISTOÉ - E a proteção da população?
Yuka - Mas, se uma criança do local morre com uma bala na cabeça, que tipo de segurança é essa? As autoridades reconhecem que nessas ações vai haver baixas.

Mas baixas entre a sociedade civil que não tem nada a ver com isso? Para quem é essa proteção? Até quando teremos isso?

A tal bala perdida virou ente abstrato, um anjo que levou o filhinho da moradora do morro. Algo sem pai, sem autor, ninguém investiga.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007



JOSÉ SIMÃO

Ueba! Pra vaiar o Galvão, ligue 0800!

Eu sempre digo que no Brasil tem dois galvões: um é o santo, o outro é o bicho que dá no saco!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E diz que tem uma luz no fim do túnel. É o cabelo da Suzana Vieira. Rarará!

E a Disney descobriu por que a Selecinha Brasileira joga tão mal: o Dunga é mudo. Então troca de anão. Bota o Zangado. E o jogo não teve passe de bola, teve perda de bola. Brasileiro perde a bola pro uruguaio, uruguaio perde a bola pra brasileiro.

E a Selecinha, em vez de ataque cardíaco, tem defesa cardíaca! E a nova onda nos estádios é vaiar o Galvão. Onde o Galvão vai, a vaia vai atrás. Devia aparecer na tela da Globo: "Se você quiser vaiar o Galvão, ligue 0800-00000". Rarará!

E o Galvão Urubueno: "O Kaká está com ansiosidade". Inventou o galvanês. Agora temos o lulês e o galvanês. E mais essa: "Só sai gol quando se chuta no gol". Sensacional. Inédito!

É uma nova regra do futebol mundial: só é gol quando chuta no gol. Sei, quando chuta na cara do juiz não é gol?!

E aí entra o jogador Josué. E o Galvão: "o pequenino Josué". Ele tá transmitindo a Bíblia? Rarará.

Por isso que eu sempre digo que no Brasil tem dois galvões: um é o santo e o outro é aquele bichinho que dá no saco!

E adorei a charge do Jorge Braga com o Lula e o Chávez. Lula: "Deus é brasileiro". E o Chávez: "No, yo soy venezuelano". Rarará.

Manchete no Brasil: "Comissão da Câmara aprova entrada da Venezuela no Mercosul". Manchete na Venezuela: "Comissão da Câmara aprova entrada do Mercosul na Venezuela".

Rarará. É a Chavezuela! Rarará.

É mole? É mole, mas sobe. Ou, como diz o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês".

Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que no Maranhão tem uma rua chamada rua dos Veados. O que é um pleonasmo. Porque toda rua tem veado. Rarará.

Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio ulante. "Apóstrofo": companheiros amigos de Jesus que se juntaram naquela jantinha fotografada pelo companheiro Michelangelo. Rarará.

O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

simao@uol.com.br

quinta-feira, 22 de novembro de 2007



22 de novembro de 2007
N° 15426 - Nilson Souza


O dedo do rei

O incidente entre o rei da Espanha e o presidente da Venezuela dividiu o mundo novamente, como nos tempos do Muro de Berlim.

Ainda sob o eco do desabafo real, intelectuais, políticos e cidadãos de todos os hemisférios lançaram-se a um debate apaixonado, alguns tomando o partido do nobre europeu, outros cerrando fileira ao lado do índio sul-americano.

Virou uma disputa ideológica como há muito não se via. Outro dia, dois jovens se cruzaram na Redenção e um deles gritou para o outro:

- Estás com o rei ou com Chávez?

A pergunta envolve mais do que uma simples preferência pessoal e não deixa margem para neutralidade. Na Guerra Fria de rótulos ideológicos, o rei encarna o capitalismo, a opressão e o autoritarismo de direita, enquanto seu oponente é visto como representante do socialismo, da rebeldia e também do autoritarismo, só que de esquerda.

Não há como ficar na linha do Equador deste mundo redividido, até mesmo porque o fanatismo reduz o debate à frase bíblica: "Quem não está comigo está contra mim".

A propósito, Deus estará com o rei ou com Chávez? Ele não erra.

Outro dia li uma história exemplar sobre isso. Havia um rei que não acreditava na bondade de Deus, mas tinha um ajudante-de-ordens extremamente crente, que vivia a alertá-lo:

- Tudo o que Deus faz é perfeito, ele nunca erra.

Um dia, o rei e seu súdito foram caçar. Encontraram um urso feroz, que decepou o dedo mínimo da mão real antes de ser morto pelo fiel serviçal. Em vez de agradecer, o monarca ficou indignado e reclamou:

- E o seu Deus? Se ele fosse bom, eu não teria perdido o meu dedo.

Como o servo respondeu que Deus jamais cometia erros, o rei ficou mais irritado ainda e mandou colocá-lo na cadeia.

Passados alguns dias, o soberano saiu para caçar de novo, sozinho, e voltou a se dar mal. Foi capturado por índios adeptos de sacrifícios humanos. Quando a fogueira já estava pronta, o sacerdote indígena examinou o prisioneiro e exclamou:

- Este homem não pode ser sacrificado, pois é defeituoso. Falta-lhe um dedo. Soltem-no.

Feliz da vida, o rei voltou para o palácio, mandou libertar o súdito e recebeu-o com um abraço:

- Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Escapei da morte justamente porque não tinha um dos dedos. Mas ainda tenho uma grande dúvida: se Deus é tão bom, por que permitiu que você fosse preso da maneira como foi? Logo você, que tanto o defendeu?

O servo sorriu e disse:

- Meu rei, se eu estivesse junto contigo nessa caçada, certamente seria sacrificado em teu lugar, pois não me falta dedo algum!

A história termina aí. Sem analogias com o rei sem dedo, por favor, pois não quero começar outra polêmica apaixonada.

Uma excelente quinta-feira para todos nós.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007



21 de novembro de 2007
N° 15425 - martha medeiros


O momento da gaita

Estava ouvindo rádio no carro, iniciando uma viagem para o litoral, quando entrou uma música dos Engenheiros do Havaí gravada ao vivo em algum show. Humberto Gessinger cantava numa boa, quando, no meio da canção, ele começou a tocar gaita-de-boca. A platéia veio abaixo.

Ainda na freeway, entrou uma música do Nenhum de Nós. Mesma coisa: durante um show ao vivo, o Thedy puxou uma gaitinha e o povo delirou.

Alguns quilômetros depois, já na Estrada do Mar, foi a vez de Neil Young invadir meu carro pelo rádio numa gravação ao vivo de Hey, Hey, My, My: na hora da gaita, comoção, assovios, bateção de pés, urros.

Quando eu estava quase chegando ao meu destino, a rádio mal pegando, ainda deu pra escutar Stevie Wonder com sua eletrizante Isnt She Lovely num show ao vivo em Madri e, claro, levando a galera ao êxtase na hora da gaita.

Sei que não é uma questão existencial profunda, mas fiquei me perguntando: que diabo de fascínio tem essa gaita-de-boca?

Minha primeira teoria: o "momento da gaita" emociona porque ela nos remete à infância. Todos nós já tivemos um violãozinho de plástico, um pianinho de brinquedo, mas a gaita sempre foi de verdade. Eu, ao menos, tive uma. Não sabia tocar, mas tentava, e a tentativa me fazia sentir como uma estrela pop. Eu brincava de Bob Dylan.

Depois pensei que esse delírio na hora da gaita talvez tenha a ver com sexo. O cara põe os lábios na embocadura do instrumento, tapa com as mãos em concha e fica ali fazendo sabe-se lá o que escondido.

Por fim, cheguei a uma terceira teoria: a gaita libera nosso lado caipira. Eta, trem bão. Podemos estar escutando rock, blues, jazz, qualquer coisa assim sofisticada, mas em algum momento há uma homenagem ao folclore e à música country, e ambas nos remetem ao campo, a uma vida mais simples. Soprar uma gaita seria mais ou menos como mastigar um capim com um chapéu de palha na cabeça.

Pois domingo último, logo que retornei do litoral, mas ainda "viajando" nessas idéias, fui assistir ao Magic Slim no Abbey Road, em Porto Alegre. Durante todo o show eu pensava: quando será a hora da gaita? Pô, blues sem gaita, inconcebível.

Mas não teve gaita. E minha tese foi por água abaixo: o público veio abaixo foi com os solos de guitarra. Aplausos, urros, bateção de pés. Crianças, não éramos. Caipiras, tampouco. Com a guitarra gemendo, restou a teoria do sexo.

Uma ótima quarta-feira Dia Internacional do sofá para todos nós.

terça-feira, 20 de novembro de 2007



20 de novembro de 2007
N° 15424 - Liberato Vieira da Cunha


Preenchida de ausência

Como orbito no mesmo espaço de Porto Alegre desde que me mudei para cá há 50 anos, acho que tenho direito adquirido a alguns mergulhos nostálgicos.

Salvo pelos grandes edifícios, que se resumiam a três ou quatro e hoje são dezenas, a paisagem circundante não mudou muito: preencheu-se de ausências.

Guri, eu costumava contemplar um imenso sobrado que havia na Bento Martins, quase defronte à Farmácia Santa Catarina, e ficava ali imaginando como era possível reunir num único prédio tantas portas, janelas, porões e águas-furtadas.

Em matéria de variedade, contudo, imbatível era mesmo o Armazém Pimenta, ali perto, na esquina da Duque, onde se encontravam desde tachinhas a filtros dágua, desde agulhas a fogareiros a querosene.

Na linha transversal direita era o Bar Cristal, entregue aos cuidados e ao bom humor de Amílcar, um dos melhores produtos de exportação de Portugal, só igualado por seus primos António (assim com ó) e José, proprietários da (assim com z) Panificadora Luzitana.

Descendo-se a ladeira, ainda na Bento, quem queria cultivar as belas-artes estaria bem servido no Conservatório Musical do Professor Vito Favale.

Já a quem apetecia não mais do que cortar o cabelo, podia escolher entre dois salões, de mestres igualmente peninsulares. Italianos eram também dois sapateiros instalados perto do cruzamento da Riachuelo com a João Manoel.

Falei de alguns imigrantes. Eram muitos mais, de variadas nacionalidades, gente amável e rija, que vinha refazer a vida do lado de cá do Atlântico, depois da hecatombe da II Guerra. No meu edifício morava um inglês e havia outro que passeava o cão harrier pelas pedras azul e rosa da travessa.

A lista de chamada de minha aula era respondida por nomes checos, austríacos, uruguaios, escoceses e romenos. Se houve uma vez a Terra Prometida, tinha uma prima-irmã em Porto Alegre.

Depois, não sei. Veio abaixo o sobradão da Bento Martins. Fecharam a Farmácia Santa Catarina, o Armazém Pimenta (embora Seu Ivo, o proprietário, resista heróico na calçada oposta), o Bar Cristal, a Panificadora Luzitana, o Conservatório, barbearias e sapateiros.

Não me arrisco a dizer que nos civilizamos; suspeito que apenas nos transformamos. Pois de repente a paisagem preencheu-se de ausência.

Uma ótima terça-feira e um excelente feriado para aquelas capitais onde é feriado. Sexta, sábado, domingo, segunda e terça-feira...aja ócio para tantos dias..Enfim...

domingo, 18 de novembro de 2007


JOSÉ SIMÃO

Buemba! Fidel é o Coma Andante!

E aí o Lula se encontrou com o Evo Morales. Qual é o nome do filme? "Gases Indomáveis"!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E saiu a mulher-bomba portuguesa: botam um OB na boca, tampam os ouvidos e acendem o pavio. Rarará!

E o brasileiro é um feriado! Passamos o ano emendando! Feriadão da República! Ops, da RESpública. Porque depois das vacas do Renan e das vacas com água oxigenada, o Brasil não é mais uma República, mas uma RESpública. Respública Esculhambativa do Brasil.

Acho que o Brasil tá no Ano da Vaca. Não tem Ano do Dragão e Ano do Macaco no horóscopo chinês? Pois o Brasil tá no Ano da Vaca. Ou melhor, no ânus da vaca! Rarará!

E aí o Lula se encontrou com o Evo Morales. Como é o nome do filme? "Gases Indomáveis". E o Lula disse que seremos independentes em gás. Então ele vai lançar o Bolsa Repolho: pro povo soltar muitos gases!

E o rei Juan Carlos da Espanha mandou o Chávez calar a boca. Protesto. Se o Chávez calar a boca, quem vai falar mal do Bush? Se o Chávez calar a boca, quem vai falar bem do Fidel? Aliás, o Fidel não é mais El Comandante.

Agora o apelido dele é EL COMA ANDANTE! Rarará! Isso quando não é o el coma deitante. Os legistas fizeram a autópsia no Fidel e mandaram avisar que ele está ótimo!

E sabe por que proclamaram a República? Pra gente votar no Lula. Rarará. No Lula, no FHC, no Collor, no Maluf e no Clodovil!

E proclamaram a República, mas esqueceram de avisar o Fernando Henrique. Que tá sempre com cara de rei no exílio! E a Susana Vieira com aquela peruca de palha de milho?

Parece uma vassoura de cabeça pra baixo. Continua a minha enquete "Com quem a Susana Vieira tá parecida". 1) Mortadela Versace. 2) Cuca do "Sítio do Picapau Amarelo". 3) Mãe Loira do Funk. 4) Gandalf de "O Senhor dos Anéis". 4) O pai do Draco Malfoy, do Harry Potter!

E diz que se você pingar uma gota de limão no leite vira soda limonada. É mole? É mole, mas sobe. Ou, como diz aquele outro: é duro, mas desce!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.

É que, no Paraná, tem uma chácara chamada O Gemido da Cabrita. Pra quem quiser botar a cabrita pra gemer no feriadão. Rarará! Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Analfabeto": ânus de companheiro que não sabe nem ler nem escrever. Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

simao@uol.com.br

DANUZA LEÃO

Participações

Aconselho a participação da separação, sem precisar dar detalhes, tipo "porque ela descobriu que ele é gay"

UM CASAMENTO É UMA operação complicada. Além dos noivos, são duas sogras e várias irmãs e cunhadas, todas dando palpites sobre a igreja, o tipo de cerimônia, o número de convidados, e por aí vai.

Dizem que esses casamentos bem tradicionais, à moda antiga, começam a ser preparados com mais de um ano de antecedência.

Um ano é tempo suficiente para que os noivos briguem e casem com outros/as, mas, se não começarem a pensar tanto tempo antes, as igrejas não terão mais data, os costureiros não terão tempo para fazer o vestido da noiva, das damas de honra, das madrinhas; todos têm de ser pensados em conjunto para que as cores combinem e não haja duas iguais. Já pensou a confusão?

E na hora de escolher o vestido da noiva, engana-se quem pensa que é ela quem decide sozinha: já na primeira visita ao costureiro, a mãe e a sogra vão junto, e esse encontro nunca é pacífico.

Depois tem a decoração da igreja, o local da recepção, a quantidade de convidados, as comidas e bebidas (nacionais ou estrangeiras?), e tem os convites: se os pais da noiva são separados e cada um já é casado com outro/outra, esses outros/outras têm o direito a ficar no altar? Por mais civilizados que sejam todos, o perigo de uma baixaria é grande.

E quem paga a conta da festa? Teoricamente, o pai da noiva, mas, dependendo da situação financeira desse pobre mártir, esse detalhe pode ser negociado.

Sendo as famílias relativamente bem de vida, ainda tem o apartamento dos noivos que será o presente de casamento, que eles encontrarão já prontinho, até com a geladeira cheia. É um momento de tal frenesi que não se fala em outra coisa, e a última em que pensam é em como vai a relação entre os noivos.

Que pode ir bem e outras vezes mal, como tudo na vida.
Digamos que de tanto pensar na festa o amor pode passar para segundo plano, e quando chega a hora do sim já é quase o momento de se separar. Não estou sendo descrente do amor, mas quantos casamentos você já viu que não chegaram ao segundo ano? Eu, vários.

Isso cria um problema grave para os amigos. Se encontram a mãe da noiva e perguntam "e como vão Irene e Mario, bebê já à vista?", é uma saia justa, pois ter de explicar as separações dos filhos -sobretudo os de famílias tradicionais- é sempre embaraçoso. E quando se encontra o noivo e se pergunta pela mulher?

Difícil dizer que o casamento acabou. Por isso, os novos manuais de comportamento e elegância deveriam aconselhar a, quando a separação acontece, ir à mesma tipografia que fez os convites de casamento e participar a separação, dando os novos endereços de cada um.

Já que as modas e os comportamentos mudam o tempo todo, essa seria uma providência digna de aplausos. O texto seria simples: "Irene Couto e Mario Silva comunicam sua separação e seus novos endereços". Não haveria fofocas, e gafes seriam evitadas.

As regras do bom viver e da elegância não começaram com Adão e Eva; foram acontecendo, com o passar dos tempos e as modificações comportamentais.

Por isso, aconselho vivamente a participação da separação, sem precisar dar detalhes, tipo "porque ela descobriu que ele é gay" ou que ela estava tendo um caso com o padrinho do casamento.

Essa é a minha modesta contribuição para o próximo manual de etiqueta que surgir na praça -se possível, me dando o crédito.

sábado, 17 de novembro de 2007



18 de novembro de 2007
N° 15422 - Martha Medeiros


O capricho da simplicidade

Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez. Adotei a frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro

Eu estava numa grande loja, naquele esquema de "só estou dando uma olhada", quando vi uma senhora se apossar de uma bolsa como se tivesse encontrado o Santo Graal. Chamou a filha e mostrou: não é linda??

Agarrada à bolsa em frente ao espelho, ela virava de um lado, de outro, extasiada com a própria imagem carregando aquela bolsa de couro azul turquesa com umas 357 tachas pretas. Eu já vi bolsa feia nesta vida, mas como aquela, nem nos meus pesadelos mais tiranos.

Mas a tal senhora estava apaixonada pela bolsa. Mostrava a etiqueta com o preço para a filha e dizia: "E nem é tão cara!".

Nem é tão cara??? A loja deveria estender um tapete vermelho e chamar banda de música para quem levasse aquele troço por R$ 5.

E a senhora voltava pro espelho, se olhava, levo ou não levo? Eu tive vontade de cutucar o ombro dela e dizer pelamordedeus não faça essa loucura, olhe em volta, tem bolsa muito mais bonita, com mais classe, mais usável, deixe essa coisa medonha pra lá.

Claro que não me meti e saí da loja antes de ver a tragédia consumada.

E então fiquei pensando nessa história de bom gosto e mau gosto, classificação que os politicamente corretos rejeitam, dizendo que gosto cada um tem o seu e fim de papo.

Não é bem assim: a diferenciação existe. O que não impede que pessoas de bom gosto errem, e pessoas de mau gosto acertem - de vez em quando.

Cheguei em casa e fui reler um texto escrito por Celso Sagastume, em que ele defende que bom gosto se aprende. Que uma pessoa começa a gostar do que é bom quando adquire bagagem cultural (através de viagens e do acesso à arte) e quando tem humildade para observar pessoas e lugares reconhecidamente sofisticados e extrair deles a informação necessária para compor o seu próprio bom gosto.

Sofisticação, no entanto, tem variadas interpretações. Eu não troco uma charmosa bolsa de palha por uma Louis Vuitton e pode me chamar de maluca. Nunca duvidei de que menos é mais, e acho que estou me saindo razoavelmente bem, com uma porcentagem aceitável de deslizes.

Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, me disseram certa vez. Adotei a frase como minha, tanto concordo com ela. Aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro. Ninguém precisa de muito dinheiro quando tem capricho e noção.

Capricho para tornar sua casa confortável, alegre e preparada não para uma foto ou uma festa, mas para ter história. Capricho para escrever um e-mail mantendo certa diagramação e um português correto. Capricho ao se vestir, deixando de se monitorar por grifes e valorizando mais o estilo.

Capricho é cuidado e atenção. Flores frescas nos vasos, unhas limpas, música em volume adequado, educação ao falar, abajures em vez de luz direta, um toque personalizado e uma pitada de bom humor em tudo:

nas atitudes, no visual, até na bagunça do escritório, que uma baguncinha também tem seu charme.

Onde eu quero chegar com isso? Na bolsa azul turquesa com 357 tachas pretas que a gente carrega desnecessariamente por falta de treinar o olho para as coisas mais simples.

Excelente domingo e um ótimo início de semana.

Diogo Mainardi

Chávez, o Napoleão de circo

"Entre 1998 e 2006, a taxa de homicídios em Caracas subiu 68%. No estado de Táchira, no mesmo período, o aumento foi de 418%. Esse é o maior legado chavista, essa é a verdade. Sem que seja preciso mover céus e terras para prová-la. Basta consultar os números do governo venezuelano"

Mata-se tanto na Venezuela que Hugo Chávez já está matando até os fantasmas de 200 anos atrás. Simon Bolívar morreu de tuberculose. Hugo Chávez afirmou que isso é mentira.

Para ele, Simon Bolívar foi assassinado. Como um Marty McFly bolivariano, Hugo Chávez fez uma viagem no tempo, no carro cafajeste de um cientista aloprado, e passou a modificar o passado. Ele disse:

– Se for preciso mover céus e terras para provar a verdade, eu o farei.

A verdade é outra. Ninguém assassinou Simon Bolívar. Quem morre assassinado na Venezuela é a sua gente. Aquela mesma gente que, em grande parte, apóia Hugo Chávez.

Nos últimos anos, durante o regime chavista, Caracas tornou-se a cidade mais violenta da América Latina. Tem 107 assassinatos para cada 100.000 habitantes. Ganha do Recife. Ganha de Maceió.

Olha que é duro ganhar do Recife e de Maceió. O ano de 2006 foi o mais sangrento da história da Venezuela. E 2007 está sendo ainda pior. Nos nove primeiros meses do ano, houve 9 568 assassinatos no país, 852 a mais do que no mesmo período de 2006.

Pegue a calculadora. Regra de três. Resultado: ocorreu um aumento de 9,7% no número de assassinatos de um ano para o outro. Entre 1998 e 2006, a taxa de homicídios em Caracas subiu 68%. No estado de Táchira, o aumento foi de 418%.

Esse é o maior legado chavista, essa é a verdade. Sem que seja preciso mover céus e terras para prová-la. Sem que seja preciso viajar no tempo. Basta consultar os números do governo venezuelano.

Eu sei que é aborrecido basear argumentos em estatísticas. Mas é o único jeito de fugir da asnice cucaracha que está fazendo a América Latina retroagir ainda mais na história.

Quando o rei Juan Carlos mandou Hugo Chávez calar a boca, Fidel Castro classificou o embate como um "Waterloo ideológico". Nesse Waterloo ideológico, eu me sinto como um Fabrizio del Dongo bananeiro, perdido no campo de batalha, contando os milhares de mortos de cada lado.

Comigo é assim: de De Volta para o Futuro a um romance de Stendhal em menos de dois parágrafos. No caso da Venezuela, segundo os dados oficiais, houve 12.257 assassinatos em 2006. No caso do Brasil, houve 44.663 assassinatos. Praticamente o mesmo número de mortos que na batalha de Waterloo.

O Brasil tem um Waterloo por ano. No rastro do napoleonismo circense de Hugo Chávez e Lula, só há cadáveres. Na Venezuela chavista, assim como no Brasil lulista, as idéias mais regressivas insuflam a mortandade. Onde está Wellington?

Álvaro Vargas Llosa buscou a origem antropológica do atraso da América Latina. Ele a identificou no fanatismo absolutista das culturas pré-colombianas.

Para ele, a gente nunca conseguiu se libertar daquele germe asteca que nos empurra para o coletivismo, para a pilhagem, para o cativeiro, para o sacrifício humano, para a degola, para a barbárie.

A gente nunca conseguiu fazer nosso indiozinho internalizado calar a boca.

16/11/2007 - 22:25
Edição nº 496


Uma estrela com conteúdo

Natalie Portman, a engajada atriz de A Loja Mágica de Brinquedos, fala de nudez na internet, do culto às celebridades e se diz fã da música brasileira

Por conta de seu físico mignon e de traços delicados, que lhe conferem uma imagem de Audrey Hepburn contemporânea, metade dos 60 roteiros que Natalie Portman recebe por ano é para papel de princesa.

Os outros 50% têm a ver com o fato de a atriz ter nascido em Jerusalém e ser uma “judia ativista”. Dessa fatia, quase todos são convites de filmes sobre Holocausto, os quais ela polidamente recusa. Confiando em seu instinto – diz não consultar seu agente –, Natalie criou uma carreira diversificada.

Os detratores dizem que a atriz é cautelosa demais, e, por isso, uma série de bons papéis foi parar nas mãos de outras colegas de sua geração, como Scarlett Johansson e Kirsten Dunst. Mas Natalie não tem pressa.

Em vez de capitalizar em cima de sua juventude, fazendo filmes apelativos ou faturando com campanhas de cosméticos, ela dedica boa parte de seu tempo às causas sociais, ao desenvolvimento do roteiro de seu primeiro filme como diretora (uma adaptação do romance De Amor e Trevas, do escritor israelense Amos Oz) e se aproxima cada vez mais dos cineastas internacionais, tendo filmado com os renomados Amos Gitai, Wong Kar-wai, Tom Tykwer e Milos Forman.

‘‘O foco do processo criativo foi jogado em cima das trivialidades’’ Mesmo tardiamente, também vem cultivando um leve flerte com papéis sensuais.

Esses dois lados ficam comprovados agora com o longa A LOJA MÁGICA DE BRINQUEDOS, fábula infantil na qual interpreta a gerente irresponsável e insegura do estabelecimento-título, ou o curta Hotel Chevalier, aperitivo que acompanha o longa VIAGEM A DARJEELING (leia à pág. 138), no papel de uma jovem sexualmente desinibida e dominante.

As cenas do curta já garantiram a Natalie um constante tráfego no YouTube. Afinal de contas, não é sempre que uma princesinha de Hollywood expõe em cena o bumbum arrebitado com tamanha desenvoltura. Na manhã da terça-feira, usando um terninho preto, camisa branca de seda e botas pretas masculinas, Natalie conversou com ÉPOCA.

ÉPOCA – Há rumores na internet de que você se arrependeu de tirar a roupa no curta Hotel Chevalier, que precede o filme Viagem a Darjeeling...
Natalie Portman – Adoro o curta, foi uma experiência muito legal. Reclamei da apropriação ilegal das cenas de nudez, que foram parar em sites pornográficos. Nunca tive problemas com nu artístico.

ÉPOCA – Você tem alguma teoria para explicar a obsessão atual pelas celebridades?
Natalie – Tecnologia. Todo mundo tem acesso à internet, que abriu uma miríade de canais de comunicação. As pessoas querem escapar, e a internet oferece o mundo.

A massificação infelizmente interrompeu aquela sensação gostosa de comunidade pequena. Hoje em dia, qualquer pessoa na rua sabe que a Britney Spears raspou o cabelo e pode perder a guarda dos dois filhos.

ÉPOCA – O que mais costuma aborrecê-la na Hollywood 2.0?
Natalie – Fico possessa quando piso num carpete vermelho para divulgar meu novo filme, um trabalho que tomou meses de minha vida e ao qual emprestei minha alma e meu coração, e a primeira pessoa coloca um gravador na minha frente e pergunta: “Quem é que fez seu vestido?” (risos).

Talvez seja um exagero de minha parte, mas essa pergunta simboliza algo de errado com a indústria de entretenimento atualmente: o foco foi totalmente desvirtuado do processo criativo e jogado em cima das trivialidades.

ÉPOCA – Alguns artistas, como Angelina Jolie e Bono, parecem sérios a respeito do ativismo social, mas muitos parecem ter pegado carona apenas para promoção pessoal. O que acha disso?

Natalie – Tento olhar de maneira positiva e apreciar o que está sendo feito, sem ser cínica. Para mim, tem sido uma enorme oportunidade fazer parte da Finca (Fundação para Assistência de Comunidades Internacionais, com sede em Washington), que advoga a causa da microfinança. Originalmente, queria trabalhar com questões de integração entre Israel e Palestina.

Uma das pessoas que mais admiro é a rainha Rania, da Jordânia, uma mulher inteligente, compassiva e eloqüente. Ao contatá-la para saber se podíamos trabalhar juntas nesse sentido, ela me guiou para esse grupo de microfinança.

É uma maneira sustentável de aplacar a pobreza, pois você está dando a mulheres de baixa renda o acesso a um capital para elas montarem o próprio negócio.

Trata-se de um projeto com quase 30 anos, e o índice de retorno dos empréstimos bancários é de 97%. Incrível como o dinheiro é capaz de ser reciclável.

ÉPOCA – Sua dupla nacionalidade afeta sua vida?
Natalie – Como israelense e judia, presto mais atenção na política e nos eventos mundiais. Em termos profissionais, me sinto mais conectada com o cinema mundial, pois cresci vendo filmes legendados de todos os cantos.

Há uma leva de ótimos cineastas surgindo do México, da Coréia e do Brasil. Sou grande fã do trabalho de Fernando Meirelles e Walter Salles.

ÉPOCA – Você já declarou ser fã do músico brasileiro Seu Jorge.
Natalie – Sim, já vi vários shows dele. Escuto muita música brasileira. Minha fase atual é bem “Los Muchanches” (Natalie se refere aos Mutantes). Sei que é um som mais velha guarda, mas não consigo parar de ouvi-los.

Ao compilar recentemente um CD beneficente para a Finca, vieram parar em minhas mãos algumas gravações brasileiras. Adorei o Curumin (funkeiro carioca), e escolhi sua faixa “Tudo Bem, Malandro” para o CD que estamos vendendo na loja virtual da Apple.

ÉPOCA – Você tem uma pele de porcelana. Que cuidados toma com a aparência?
Natalie – Quando visito meu dermatologista, ele sempre diz: “O que é que há de errado com as mulheres?

Vocês tocam o rosto diariamente 50 vezes a mais que os homens. Tire suas mãos do rosto!”. Este é meu segredo: mãos no bolso (risos).


Foto: Mary Ellen Matthews/Corbis Outline/Latin Stock

Ponto de vista: Lya Luft

Sem retoque ou com retoque?

"Gosto de ser otimista, mas não posso perder

a visão da realidade, e nela não vejo nada deslumbrante"

Ilustração Atômica Studio

Detesto o pessimismo e as lamúrias. Mas, às vezes, eu me sinto assim, quando penso um pouco sobre as notícias nossas de todo dia, que apresentam uma realidade em parte coberta por uma pesada maquiagem.

Como agir nessa situação bipolar? De um lado, ficamos alucinados e eufóricos, porque a Copa é nossa, as Olimpíadas serão nossas, o petróleo é nosso, a cultura é nossa, a educação e a saúde idem. A Copa é nossa fica ótimo.

Desde que signifique atletas mais bem-cuidados, bem alimentados, tendo bons patrocínios e benefícios que durem e perdurem bem depois desse grande evento. Novos estádios e reforma dos já existentes, animação do turismo, hotéis lotados, dinheiro circulando, muitos novos empregos.

Tudo bem. Desde que não haja também dinheiro escoando para bolsos indevidos.

Temos, por outro lado, um olhar lúcido que percebe que somos atraídos por miragens habilmente construídas. Os cientistas entrevistados sobre a monstruosa jazida de petróleo – que já foi anunciada um ano atrás, sem nenhum alarde – são, no mínimo, discretos: é qua-se uma hipótese ainda a possibilidade de explorar o que fica a uma profundidade nunca antes explorada.

Precisaremos inventar novas tecnologias, preparar novos especialistas.

Meu velho pai dizia: "Não conte com o ovo antes de a galinha botá-lo". Eis uma verdade eterna. O imenso ovo da nova jazida ainda está no quentinho de sua mãe.

Parece que a economia vai bem. Mas o que significa o índice Bovespa para quem ganha salário? A saúde receberá não sei quantos bilhões: quando, como, onde, na realidade real?

O que vejo são hospitais pobres e podres, médicos desesperados ou demitidos, doentes atendidos em saguões (ou não atendidos), prateleiras de remédios vazias, consultas de casos graves marcadas para daqui a seis meses, um ano. Essa é a realidade real.

A notícia recente de que nosso PIB de 2005 foi maior do que disseram os resultados de então é, no mínimo, suspeita. O PIB era ou não era aquele? Se foi ruim, para nosso conforto, a gente manda recalcular e muda o resultado? Fazemos isso com a maior simplicidade, e meio mundo se regozija.

Viva, como estamos bem! Mas vejo escolas vazias por falta de professores (quem ainda quer lecionar ganhando menos do que uma empregada doméstica mediana?), sem luz, sem merenda, sem a menor condição.

Boa parte da juventude brasileira está fora da escola, pedindo esmola nas esquinas, servindo de avião para os traficantes, assaltando com armas poderosas na mão ainda infantil.

Temos um boom imobiliário. Nunca se anunciaram e construíram tantos edifícios. Vamos voltar ao assunto daqui a dez, vinte anos, quando – como ocorre agora nos Estados Unidos – os compradores não puderem mais pagar as prestações, pois hoje se vende apartamento a um prazo insano. Nada de mais: já nos endividamos por um ano inteiro na festa de Natal, e daí?

Gosto de ser otimista. O pessimismo radical merece uma bala na cabeça, fim, acabou-se a chatice. Mas não posso perder a visão da realidade, e nela não vejo nada deslumbrante.

É verdade que há coisas boas em curso. Nem todas as descobertas de corrupção foram definitivamente engavetadas, embora ainda não se possa dizer que a impunidade é rara.

A revelação de trambiques, trampas e roubalheiras assusta pelo inesperado e pelas dimensões, mas nos dá certo alento. Em boa hora, pois a gente anda cansado de usar o nariz de palhaço e o cenário de papelão.

Que os deuses permitam que as autoridades tenham autoridade moral, que os governantes governem para o bem, que o povo não seja usado para melhorar o jardim das delícias alheio.

Que, com ordem, se desfrute um progresso verdadeiro, generalizado, seguro e... sem retoques.

Lya Luft é escritora

sexta-feira, 16 de novembro de 2007



JOSÉ SIMÃO

Feriadão! BR é abreviatura de buraco!

Tem buraco esperando no acostamento a vez de entrar na pista. É fila de espera dos buracos! BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

Socuerro! Babado! O Kassab prendeu aquele chinês, rei da pirataria e do shopping da muamba. E sabe como é o nome do chinês? Law Kin Chong. O quê? Um chinês muambeiro chamado LAW? Isso é piada pronta. O nome certo seria OUTLAW!

E será que prenderam o chinês certo? Será que não pegaram o acupunturista? Já imaginou encontrar o chinês no Stand Center? "Law Kin Chong, você não tava preso?" "Que nada!

Eles prenderam a minha cópia pirata, tá afins de uns DVDs?" Todo chinês é cópia pirata de outro chinês. E adoro aqueles chineses que falam: "Paga no Bladesco, vem com batelia lecalegável". E sabe como é o apelido do chinês?

Rei da 25 de Março. Então o Kassab tava comemorando o Dia da República. Kassab proclama a República e prende o Rei da 25 de Março! Acabou com o Natal da 25! Rarará!

E o Kassab mandou lacrar o shopping do chinês. Mas a China não é um shopping de oportunidades?! Ele gosta de lacrar. Lacra puteiro e lacra shopping. Daqui a pouco vou apelidar ele de Lacraia. Rarará!

E o Lula diz que a base do Congresso parece um queijo suíço e que vai tapar os buracos. Queijo suíço é estrada brasileira. Tem que tapar buraco de estrada!

Já tem buraco no acostamento esperando a vez de entrar na pista. Fila de espera de buraco! A gente não desvia mais dos buracos, desvia das estradas.

E sabe o que quer dizer BR? Abreviatura de buraco! Rarará! E daria pra ele tapar os buracos das minhas oreia? Pra não ficar ouvindo o que ele fala? Rarará.

É mole? É mole, mas sobe. Ou, como diz o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que aqui em Natal, Rio Grande do Norte, tem a Bin Laden Material de Construção.

Não seria material de destruição? Rarará! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção. Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Curador": companheiro chinês da acupuntura. O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

simao@uol.com.br

Well, uma ótima sexta-feira, continue no seu feriadão e um excelente fim de semana para todos nós.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007



JOSÉ SIMÃO

Ueba! Hoje é Reclamação da República!

Vou reclamar: querem proclamar a CPMF, que é Contribuição Para se Manter na Fila!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E todo feriadão é a mesma coisa: "O trânsito na rodovia Ayrton Senna está parado. Rodovia Ayrton Senna está lenta".

Então, muda logo o nome da rodovia pra rodovia Rubinho Barrichello. Que injustiça com o Senna. Rarará! E saiu o novo lema do Bope: "Mate com moderação"! Rarará!

E hoje comemoramos a Proclamação da República! Feriadão da República! Sendo que, no Brasil, tudo é rei; rei Pelé, rei Roberto Carlos, rei da voz, Rei do Bacalhau, rainha do bumbum, rainha dos baixinhos e padaria Rainha da Traição!

E como disse um amigo meu: eu queria ser o rei das pererecas!

E monarquia mesmo é a monarquia britânica. Que caiu na gandaia e virou putarquia. Putarquia britânica. E o Palácio de Buckingham virou Fuckingham. Palácio de Fuckingham.

E o Lula parece o reizinho dos quadrinhos! E proclamaram a República e esqueceram de avisar o Fernando Henrique. Que tá sempre com aquela cara de rei no exílio. Rarará!

E sabe por que proclamaram a República no Brasil? Pra gente votar no Lula, no Collor, no FHC, no Maluf e no Clodovil. E agora, em vez de proclamar, vou reclamar: querem proclamar a CPMF!

CPMF é Continue Pagando Mesmo Ferrado! CPMF é Contribuição Para se Manter na Fila. Um amigo foi pra fila fazer operação de fimose; demorou tanto que acabou operando a próstata.

A CPMF era originalmente pra saúde. E continua sendo: você tem que ter saúde em dobro. Pra pagar a CPMF! E adorei o mendigo aqui da rua. Que botou o cartaz: "Não cobramos CPMF". Esmola, tá isento. Rarará.

É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.

Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.

É que em Maceió tem um forró para meninas da melhor idade chamado CHINELA ARRASTADA! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Analfabeto": ânus de companheiro que não sabe ler nem escrever. Rarará! O lulês é bem mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

simao@uol.com.br


NOVAS FORMAS DE INTELIGÊNCIAS
Juremir Machado

Os especialistas já provaram que existem diversos tipos de inteligência: intelectual, emocional, estratégica, espacial, artística, matemática e, entre outras, inteligência para casar com um jogador de futebol ou para ter um filho com Mick Jagger.

Houve um tempo em que falar muitas línguas ou lembrar os nomes de todos os imperadores romanos era um sinal de inteligência superior.

Depois, acabou-se por descobrir que as secretárias multilíngües eram, às vezes, incapazes de escrever um bilhete por conta própria. No último caso, confundia-se memória com inteligência. O Google sepultou os inteligentes memoriosos. Jogar xadrez também já foi considerado um símbolo de genialidade.

Georges Bernard Shaw destruiu essa ilusão ao explicar que a inteligência do jogador de xadrez só serve para jogar xadrez. Tem até campeão de xadrez idiota.

Todo esse enorme nariz-de-cera só para falar das novas inteligências políticas da América Latina. Nosso continente vive de ciclos. Já tivemos o ciclo populista militar, o ciclo populista civil, o ciclo das ditaduras, o ciclo da redemocratização, o ciclo da adesão canina à conversa fiada do FMI e o ciclo das (in)dependências.

Agora, estamos no ciclo das novas inteligências étnicas, de gênero ou de classe. O Brasil, grande nação de vanguarda, largou na frente elegendo o nosso melhor representante da inteligência sindical e operária. A Argentina custou a entender a mudança.

Mas, finalmente, deu um grande salto ao escolher uma legítima representante da inteligência feminina, neopopulista e neoperonista. A senhora Kirchner encarna também a inteligência conjugal numa época de nova divisão das tarefas domésticas.

A Bolívia já havia ingressado no presente com um exemplar fidedigno da inteligência nativa, indígena, autóctone e andina, cuja marca distintiva mais evidente é não usar gravata.

Por fim, a Venezuela é dirigida por uma anta genial, um caso escolar de inteligência militar à moda antiga com petróleo novo e alianças de ocasião.

Hugo Chávez é o produto mais puro da burrice das elites do seu país. Foi tanta corrupção e tanto descaso com a plebe que se abriu espaço para um fanfarrão teatral.

Eu nunca tinha visto um rei mandar publicamente um chefe de Estado calar a boca. Hugo Chávez conseguiu mais esse troféu para o seu currículo. É certamente o político mais inteligente do continente.

No Rio de Janeiro, já tivemos duas governadoras amparadas na inteligência de donas de casa. Não seria de duvidar que dona Letícia pudesse ser a sucessora do marido. Afinal, as modas cariocas sempre chegam ao resto do país.

Conclusão: governar uma nação exige um tipo muito especial de inteligência, a inteligência política, que pode ser definida de modo simples e direto como a capacidade de estar no lugar certo, na hora certa, com os apoios certos e com a possibilidade de obter os votos necessários.

Um presidente não é um cirurgião, detentor de uma técnica ou de um sabor específico, mas um símbolo. Qualquer um pode ser presidente. Minha avó teria feito um bom governo.

Reunia todas as condições: era excelente dona de casa, muito intuitiva, fizera apenas o curso primário, vinha do povo, falava mal dos ricos e sonhava com uma boa ditadura para arrumar a casa. Mas não era muito popular. Uma pena.

juremir@correiodopovo.com.br


15 de novembro de 2007
N° 15419 - Nilson Souza


O acordo

Um amigo me desafiou a escrever sobre a Morte justamente numa semana em que estive com seu cartão de visitas nas mãos. Na quarta-feira da semana passada, meu tio maranhense fez cem anos.

Dois dias depois, despediu-se suavemente do convívio de seus familiares, provavelmente para fazer a definitiva viagem de retorno à sua São Luís natal.

Estive na sua despedida, mais para testemunhar o encerramento de um profícuo século de existência do que propriamente para consolar meus queridos primos - todos eles conformados pela longevidade com que o pai fora agraciado.

Talvez tenha ido, também, movido pela jornalística e humana curiosidade de captar alguma informação sobre a fórmula mágica que transforma mortais comuns em enigmáticos centenários.

Nisso não tive sucesso.

Só ouvi o que já sabia: que meu tio fora na juventude um exímio nadador, tendo em seu currículo a façanha de ter permanecido horas ou dias sob um barco virado, em alto-mar, após um naufrágio.

Por aí já se percebe que esse homem deve ter visto a indesejável das gentes muitas vezes ao longo de sua passagem pelo planeta, sem jamais ceder-lhe aos encantos de sereia enganadora nem submeter-se ao seu jugo de bruxa das trevas. Todos sabemos o quanto ela é ardilosa para levar um pouco de nós a cada afeto que nos tira.

Mas meu tio tinha aquela resistência inflexível dos caboclos nordestinos. Já estávamos convencidos de que a havia derrotado pelo cansaço. Na última sexta-feira, porém, resolveu fazer um acordo com a Dama da Noite e partiu em sua companhia.

Não há muito para lamentar quando um homem empreende a derradeira viagem depois de sobreviver ao mar, atravessar o século, constituir família e conhecer os netos.

É evidente que ele cumpriu a sua missão por aqui. Por isso me lembrei dele quando meu amigo me desafiou a escrever sobre este tema, tão árido, que as pessoas preferem tratá-lo com eufemismos.

Eu também poderia dizer que meu tio voou para o firmamento, dormiu o sono eterno ou partiu desta para melhor, como é de costume nessas ocasiões.

Mas não quero saber para onde ele foi. O máximo que me permito é imaginar que deve ter ido para o lugar de onde veio. Prefiro lembrá-lo como o conheci, contando suas aventuras com o inconfundível sotaque maranhense e passando a impressão de que iria viver para sempre. Viverá, certamente, no coração daqueles que o amaram.

Talvez aí esteja a resposta para o desafio do meu amigo. Não dói nada escrever sobre a Morte quando ela aparece apenas como ponto final para uma bonita história de Vida.

Aproveite o feriado e se puder estique: descanse na sexta-feira, no sábado e no domingo. Afinal esse é um País rico, os bancos fundamentalmente, nunca ganharam tanto, e pode se dar ao luxo de tantos feriadões.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007



14 de novembro de 2007
N° 15418 - Martha Medeiros


Redenção, segunda-feira

Todos os dias, caminho pelas ruas da cidade e atravesso praças e parques, mas a Redenção sempre ficou fora do meu circuito. No entanto, como tinha algo a fazer lá por perto, na última segunda-feira caminhei às oito da manhã pelas alamedas desse que é considerado o pulmão verde da nossa cidade.

Bom, se a Redenção é o nosso pulmão, estamos fritos. Asfixia à vista.

O quadro era desolador. Eu cruzava com outros caminhantes e tinha vontade de perguntar: você também está sentindo esse cheiro?

O fedor era o de um lixão a céu aberto. Por cima da grama, garrafas vazias de vinho, pacotes de salgadinho, páginas de jornal, canudos, copos plásticos, baganas, latas de refrigerante, embalagens diversas, restos de tudo. Resolvi contar quantas lixeiras o parque dispõe.

Pois bem, são inúmeras. A cada 30 passos, há uma lixeira para material orgânico e outra para os inorgânicos. A cada 30 passos! Nem nos países europeus se vê tanta lixeira. Mas, por aqui, elas são apenas decorativas. Jogar lixo no chão é que é maneiro.

Dentro do espelho dágua, diante do Monumento ao Expedicionário, mais podridão, descaso e lixo poluindo a água e emporcalhando o visual.

Não é possível que sejam apenas os mendigos que ali dormem que promovem essa sujeirada - eles precisariam ser muito mais numerosos. Sem falar que é preconceito acreditar que são eles os mal-educados. Os mal-educados somos nós.

Fiquei tentando imaginar como funciona a cabeça de uma pessoa que devora um pacote de Doritos e abandona a embalagem na grama sem o menor constrangimento. Só pode ser um caso de "grosseria em série".

Quando alguém entra num banheiro público e encontra o vaso rodeado por papéis usados, jogados no chão, é comum que pense: um a mais, um a menos, que diferença fará?

E repete a negligência, dando sua contribuição para que a imundície continue. A Redenção está chegando a esse ponto: um detrito a mais, outro a menos, quem vai reparar?

Sei que escolhi o pior dia para caminhar pelo "pulmão" da cidade, justo no day after de um domingo de sol, de brique e de passeata, e com o pessoal do DMLU ainda na cama.

Mas o que fica dessa experiência é a desanimante constatação de que ainda há muita gente tosca e sem consciência ambiental e de que o cercamento da Redenção é mesmo urgente. Deixaria o parque não só mais seguro, como imporia um certo respeito - presume-se.

Enquanto isso não acontece, melhor respirar outros ares.

Uma ótima quarta-feira - Dia Internacional do Sofá e véspera de feriado da Proclamação da República do Brasil, então aproveite.

terça-feira, 13 de novembro de 2007


JOSÉ SIMÃO

Ueba! Lula e Evo em "Gases Indomáveis"!

E o Lula diz que seremos independentes em gás. Bolsa Repolho: pro povo soltar bastante gases

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

Uma amiga foi para um congresso de escritores em Bogotá e ficou sabendo que o apelido do Fidel não é mais El Comandante. Mas EL COMA ANDANTE! Rarará!

Assaltaram a gramática! Ladrões erram no português e acabam presos. Os ladrões pegaram uma van para imitar carro de entrega de cesta de Natal e colaram o adesivo: "IMPÓRIO Santa Maria!". IMPÓRIO?!

E eles foram presos por quê? Estudaram com o Lula?! Rarará! Ou são alunos da Carla Perez: I de IMPÓRIO e E de Esqueiro! E aí chegaram na delegacia: Dotô, IMPÓRIO cremência! Rarará!

E aqueles que clonaram placa em Santa Catarina e escreveram: FRORIANÓPOLIS! Como dizem os Irmãos Bacalhau: quem mandou não estudar? Se você quer se dar bem sem estudar, tenta a Presidência da República. Esse do impório vai acabar presidente. Do PCC! Rarará!

E o Lula devia lançar o BOLSA-LADRÃO. Ops, o BOLÇA-LADRÃO! Pra alfabetizar esses bandido anarfa!

E eu continuo com a gripe Evo Morales: te deixa totalmente sem gás. E o encontro do Lula com o Evo, como é o nome do filme? "Gases Indomáveis." Lula e Evo em "Gases Indomáveis"!

E diz que toda vez que o Evo solta um gás, o Lula suja as carça! E o Lula diz que seremos independentes em gás. O PUM É NOSSO! Bolsa Repolho: pro povo soltar bastante gases. E o PTróleo?

E adorei a charge do Liberati: "Eu era morena, tomei leite e virei loira, comprei um carro a gás e o gás evaporou, tomei anticoncepcional e fiquei grávida, aí quis fugir do país, comprei uma passagem e a companhia quebrou.

Mas diz que devo ficar contente porque agora sou membro da Opep". Rarará.

E diz que agora tem um novo tipo de loira: Blonde Parmalat! É mole? É mole, mas sobe. Ou, como diz o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês.

É que em Floresta do Araguaia, no Pará, tem o Bar da Explosão, o Peido da Doida! Parece Dias Gomes! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Petrópolis": cidade onde nasceu a Petrobras. Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

simao@uol.com.br


13 de novembro de 2007
N° 15417 - Liberato Vieira da Cunha


Onde fica o Brasil?

Segundo conta Veja, uma pesquisa do Instituto Ipsos submeteu mil pessoas de 70 municípios das nove regiões metropolitanas a uma pergunta simples: onde fica o Brasil? Mesmo auxiliados por um mapa-múndi aberto à sua frente, 50% não souberam localizar o país.

Dos restantes, 2% apontaram a Argentina, outros 2% se dividiram entre o Chade e a República Democrática do Congo, enquanto 29% nem tentaram responder. Quase 10% dos ouvidos que passaram por uma faculdade desconheciam que estamos localizados na América do Sul.

O desastre não foi menos espantoso em relação às demais nações que habitam a nave azul em que viajamos todos. Só 18% conseguiram identificar os Estados Unidos e 3% reconheceram o lugar da França.

O Japão foi colocado na Austrália por 7%, para 4% os States são a Rússia e 5% situaram a Argentina na Bolívia.

Tudo isso pode parecer engraçado, mas em verdade autoriza a supor que nossas escolas não têm um trivial equipamento que se chama globo terrestre, mesmo um daqueles montados com gomos de papelão.

Nove entre dez políticos costumam prometer que dotarão as salas de aula de computadores. A intenção é louvável, mas conviria que verificassem antes se dispõem de giz, quadro-negro ou um mapa.

Se uma criança ou um adolescente, ou mesmo um adulto, não faz remota noção de onde fica a própria terra, é altamente improvável que faça uma idéia precisa do planeta que habita. Na prática isso quer dizer que jamais chegará perto de compor uma cosmovisão.

Isso implica ignorar a diversidade de culturas entre os povos, a história de países diferentes ou elementos fundamentais de filosofia comparada. Lembra Veja que os brasileiros atribuem aos americanos uma grande ignorância em matéria de geografia.

O mais recente levantamento sobre o tema mostrou no entanto que 86% deles sabem onde ficam, 81% reconhecem o México, 54% a França e 47% a Argentina. São números respeitáveis, mas isso não é o mais impressionante.

Outras pesquisas no Brasil já comprovaram que dois em cada três alunos são incapazes de interpretar um simples texto claro e direto.

Mais, quatro a cada cinco universitários não lêem mais do que um livro por ano, descontados aqueles que são obrigados a percorrer pelo curso em que navegam.

Além de uma questão de geografia, estamos assim diante de um fenômeno mais inquietante. Nossas escolas não ensinam crianças e adolescentes a formular juízos críticos ou a conhecer a realidade que as cerca.

Pois isso, mais do que em mapas, deve ser lido em páginas impressas.

Uma excelente terça-feira com sol e temperaturas amenas, mas já com promessas de chuva para amanhã.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

12/11/2007 - 19h00
Daniella Sarahyba negocia com a MTV
Publicidade da Folha Online

A modelo Daniella Sarahyba, 23, está cotada para integrar o time de VJs da MTV. Ela foi vista na última semana nas dependências da emissora, em São Paulo.

A MTV e o empresário da modelo confirmam a informação, como havia antecipado a coluna "Olá!", do jornal "Agora".

Daniella Sarahyba pode se tornar VJ na MTV no verão

Segundo a MTV, Daniella pode se tornar VJ provavelmente no início de 2008, quando estréia sua programação de verão. No entanto, a assessoria não fornece detalhes sobre a negociação.

A MTV se limitou a informar que ela pode ter ido ao prédio da emissora para assinar um contrato, fazer um teste ou reunião.

Já a empresa que assessora a modelo informou que ela foi apenas "tomar um café" no prédio da MTV na última semana.

A modelo já passou pela Globo. Ela fez uma breve participação na novela "Belíssima" (2005).