
07 de novembro de 2007
N° 15411 - Martha Medeiros
Livros perdidos
Na onda do 1001 livros para ler antes de morrer, de Peter Boxall, está chegando no mercado o inusitado O Livro dos Livros Perdidos, que nada mais é do que uma grande reportagem sobre os livros que nunca chegaram nem chegarão a nossas mãos, desde obras de filósofos gregos até algumas produzidas no último século.
Literatura é aquilo que está escrito. A oralidade dificilmente preserva a criação, é preciso que o texto seja materializado.
Mas esse material é sempre vulnerável, é o que sustenta Stuart Kelly, autor desse inventário às avessas, que, com bom humor, nos conta sobre as mais diversas formas de perda, a começar pela destruição provocada pelo próprio autor, por razões também várias, desde perseguição política até excesso de autocrítica.
Há obras que desapareceram depois que seus autores morreram antes de concluí-las, obras que foram queimadas, obras que sumiram em terremotos, obras que foram roubadas de dentro de carros, obras que existiram apenas como uma idéia embrionária e que não chegaram a ser escritas. Uma consternação.
Mas para que ninguém fique totalmente triste com esse desperdício, existe a defesa de que um livro perdido, assim como um amor platônico, pode ser infinitamente mais atraente do que muita coisa que já lemos, pelo simples fato de serem perfeitos em nossa imaginação.
No entanto, dói saber que há obras de Cervantes, Shakespeare e Goethe que foram abortadas antes de nascer e que nunca foram editadas.
Um tal Paul Labarrière confessou que perdeu um caderno com 50 poemas inéditos do amigo Rimbaud enquanto mudava de casa. Kafka era rigorosíssimo e chegou a pedir em testamento que sua obra fosse destruída, e pra nossa sorte não foi obedecido. No entanto, ele mesmo, ainda com saúde, queimou cartas, contos e uma peça de teatro inteira.
Ezra Pound, também chegado a umas labaredas, queimou dois romances e cerca de 300 sonetos. Hemingway colocou quase tudo o que escreveu até os 23 anos num baú e mandou para a Suíça aos cuidados de sua primeira esposa.
O baú nunca chegou. Foi roubado. Dizem que Hemingway entrou em curto-circuito quando soube, mas dias depois ressuscitou feito um leão e passou a escrever com muito mais vigor.
E Sylvia Plath, coitada, passou pelo pior tipo de censura: o marido, Ted Hugues, de quem ela já estava em processo de separação quando se suicidou, ficou com os direitos literários da poeta e simplesmente queimou os diários dos meses finais da vida de Sylvia para que os filhos dela não lessem. Nem eles, nem nós.
Particularmente, não fico entristecida com esses desaparecimentos históricos. Todos esses autores tiveram seus maravilhosos escritos publicados, e se não deixaram ainda mais, paciência. Não há motivo para desesperar-se diante de um não-acontecimento, de algo que não vingou.
O Livro dos Livros Perdidos é apenas um apanhado de curiosidades, e que me faz pensar menos nas obras extraviadas e mais nas que estão aí nas estantes me chamando, me implorando leitura, me exigindo tempo para elas. Os 1001 livros que preciso ler antes de morrer, esses sim me exasperam.
Uma ótima quarta-feira, aproveite este Dia Interncional do Sofá e namore muito.
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