07
de janeiro de 2012 | N° 16939
NILSON SOUZA
Heróis invisíveis
Somos um povo carente de heróis. Por isso, rotulamos de
semideuses nossos ídolos esportivos, nossos artistas mais talentosos e até
mesmo figuras caricatas que, por algum motivo, alcançaram projeção. O heroísmo,
na sua origem, caracteriza-se por ser um ato moralmente justificável, mas este
aspecto nem sempre é levado em conta na avaliação popular. Na maioria das
vezes, o que conta é a visibilidade.
O primeiro herói de 2012 foi um pedreiro de
Belo Horizonte que encarou duas vezes a fúria da enchente na capital mineira
para tirar pessoas presas em carros arrastados pela água. Neste caso, o homem
mereceu a louvação, pois mostrou coragem e determinação para salvar a vida de
pessoas desconhecidas.
Ainda
assim, só recebeu reconhecimento porque alguém filmou o seu ato e as imagens
foram reproduzidas na televisão – ainda a principal vitrine das mais notáveis
aventuras humanas. A tevê consagra, mas também deforma. Basta lembrar Pedro
Bial chamando os participantes do Big Brother de “nossos heróis”.
Herói, diz a definição, é aquele que reúne
virtudes como fé, coragem, força de vontade, determinação e paciência – e as
utiliza por uma causa nobre. O pedreiro Charles, naquele momento de tensão do
aguaceiro de Belzonte, cumpriu alguns desses pré-requisitos. Também tiro o meu
chapéu simbólico para ele. Mas gostaria de lembrar que o país tem muitos outros
heróis invisíveis, que raramente recebem reconhecimento porque praticam suas
ações longe das câmeras e dos holofotes.
A lista é grande e poderia, sem qualquer
demagogia, começar pelos trabalhadores que ralam para ganhar a vida
honestamente, muitas vezes tendo que sustentar famílias numerosas. Mas não é a
eles que quero homenagear neste texto. Meus heróis anônimos são os casais que
adotam crianças doentes, muitas delas enjeitadas por serem portadoras de
deficiência.
Meus
heróis anônimos são os pais e mães que abdicam de suas próprias vidas para
cuidar de filhos que vieram ao mundo sem todas as ferramentas de sobrevivência.
Meus heróis anônimos são os médicos, enfermeiras e cuidadores que dedicam o
melhor de sua habilidade e muito do seu tempo para amenizar o sofrimento de
pacientes que sequer conhecem.
Meus
heróis anônimos são os professores e professoras que vão além da obrigação do
ofício, lançando sobre os alunos um olhar de humanidade para ajudá-los a se
tornarem pessoas dignas e íntegras. Meus heróis anônimos são todos os
brasileiros que se preocupam com os seus semelhantes, tanto ou mais do que
consigo mesmo, sem esperar reconhecimento.
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