29
de janeiro de 2012 | N° 16962
MARTHA MEDEIROS
Fakebook
O Facebook tem rendido muitas risadas entre mim e minhas amigas. Temos
um grupo que se reúne com certa frequência (da maneira antiga: ao vivo), e
volta e meia surge o assunto. Claro que todas estão na rede social, com exceção
de duas. Duas mulheres de Neanderthal, entre as quais, eu.
Antes
não estávamos no Facebook porque não nos fazia a menor falta, masagora não
estamos porque virou questão de honra. Tem sido uma diversão resistir à insistência
de quem alega que estamos “fora do mundo”.
A Danuza Leão afirma, em seu último livro, que
é um mico a gente tornar público que não entende nada de rede social. É mais
moderno dizer que está por dentro, mesmo que não saiba ligar um computador. Ai,
Danuza, tarde demais. Já pendurei na parede meu diploma de pré-histórica. Tenho
mestrado e doutorado em alienação virtual.
O que não me impede de estar no Face. Não,
não estou me contradizendo, tenho uma meia-dúzia de perfis na rede. Se você procurar,
vai encontrar gente que extrai frases das minhas crônicas e faz uma gentil
colaboração, melhorando- as, e também gente que se faz passar por mim, trocando
ideias com seus adicionados como se fosse eu.
A
generosidade desse pessoal não tem limite. Antigamente, isso seria considerado
crime, agora está enquadrado como “homenagem”. Eu agradeço pra quem?
“É uma terrível calamidade, para uma época,
não saber mais a quem estimar.” Essa frase eu não tirei da internet, e sim de O
Eterno Marido, de Dostoievski, livro escrito em 1869, quando, por incrível que
pareça, eu ainda não era nascida. E você, está seguro de que seus estimados são
realmente quem dizem ser?
O Facebook é uma ferramenta dinâmica,
agregadora, mobilizadora e tornou o e-mail obsoleto. Pena que possua algumas
contraindicações, como, por exemplo, fazer com que não sejamos mais donos nem
da nossa memória. No último encontro com as amigas, fomos às gargalhadas por
causa de uma discussão a respeito de uma moça chamada (vou trocar o nome dela
para manter sua privacidade, espero que ela não me processe por isso) Zezé Velasques.
Segundo
minhas amigas que estão no Face, Zezé diz ter sido minha querida amiga do colégio.
Eu nunca fui colega de nenhuma Zezé Velasques, esse nome nunca constou da minha
agenda de telefones, nunca colei uma prova dessa menina, tenho certeza de que
nunca disse nem oi para qualquer Zezé Velasques, mas há quem diga que estou
delirando, que claro que fui colega dela no Anchieta, onde, segundo também
dizem, estudei a vida toda, mesmo que no meu histórico escolar conste que dos 6
aos 17 anos eu tenha sido aluna do Bom Conselho.
Em
quem acreditar? Não olhe pra mim, há muito que deixei de apitar na minha própria
história.
Aqui, de fora do mundo, meu beijo pra Zezé e
pra todos que ainda conseguem lembrar dos amigos sem a ajuda de aparelhos.
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