sábado, 1 de novembro de 2025


01 de Novembro de 2025
CARPINEJAR

O que não serve mais

Para alguns nostálgicos, a casa da praia é a vida paralela dos objetos, especialmente em balneários menores, naquele imóvel conquistado com muito esforço e economia. Mesmo com a popularização do consumo, mesmo com a facilidade tecnológica, há pessoas que ainda fazem questão de conservar a simplicidade artesanal dos velhos tempos, numa postura vintage.

Tudo o que sobra, ou tem menos valor onde você mora, é levado para o litoral, numa arqueologia íntima. Você cai um patamar da sua faixa de poder aquisitivo de propósito. Desatualiza o seu Imposto de Renda. Esparrama a sua herança.

O sofá de segunda mão, manchado ou gasto, está lá. Os beliches estão lá. O liquidificador que mais espreme do que gira está lá. A televisão pequena está lá.

A louça da cozinha preserva o resto dos seus conjuntos: pratos que ficaram órfãos, copos de requeijão, talheres de cabos soltos. No armário, constam relíquias de pano: camisetas com propaganda política, maiôs e sungas desbotados, chinelo deformado com a tira arrebentada, bonés de empresas que já fecharam.

A pacata biblioteca lembra um sebo: revistas velhas de moda, fofoca ou turismo; guias de telefone; folhetins Sabrina, Julia e Bianca; palavras cruzadas iniciadas e nunca terminadas. É possível localizar um CD player ou até um videocassete na estante.

As gavetas guardam velas, fósforos e baralho de cartas. No armarinho do banheiro, destacam-se pomadas extintas, termômetro de mercúrio embrulhado em algodão e bronzeadores empedrados.

É como assistir, num passe de mágica, à sua rotina 20 anos antes. Aquele endereço é um túnel do tempo. É sua versão atrasada em duas décadas. Foi o jeito para mobiliar o espaço, remanejando bugigangas e eletrodomésticos que não combinavam com a sua nova decoração.

Em vez de jogar fora, joga para dentro do seu bunker praiano. Você realiza doações para si próprio. Os donativos são direcionados para uma estranha autocaridade.

Não deixa de ser um momento de fascinantes reencontros com o seu eu mais despojado. Há um susto saudoso. Você recorda o que um dia foi essencial depois de muito esquecer. É como esbarrar na rua com um namorado ou namorada da adolescência, demorando para reconhecer a paixão antiga.

Revê o ventilador barulhento, com a grade torta. Revê os lençóis do casamento. Revê a luminária do escritório desmontado. Regressa à pré-história de seus pertences, tornando-se retrô por necessidade.

Passa a usar aquilo que julgava ultrapassado: aerossol e incenso Boa Noite para matar mosquitos, espanador de pó, rodo de chuveiro. Volta, inclusive, a regar o jardim com mangueira, e a torneira mantém os elásticos coloridos das bexiguinhas.

Retoma a manufatura de outrora, o suor doméstico anterior aos êxitos profissionais. Varre sem robozinho ou aspirador de pó. Lava a louça sem máquina e enruga os dedos de frio na pia. Estende as roupas no varal sem secadora.

E jamais reclama do trabalho fabril, dá um desconto à existência operária pelo luxo de estar perto do mar. Não troca por nada o privilégio de sestear na rede com o marulhar das ondas. 

CARPINEJAR

Escritora, poeta e patrona da 71ª Feira do Livro de Porto Alegre  - "Hoje, há uma infantilização da sociedade. Tudo é ?não pode?"

Uma das maiores escritoras contemporâneas do Brasil, Martha Medeiros é a patrona da 71ª Feira do Livro de Porto Alegre. Em entrevista a ZH, a porto-alegrense de 64 anos relembra a relação com o evento e analisa o cenário atual da literatura no país.

Isabella Sander  -  Como é a experiência de ser a patrona da Feira do Livro? Demorou para vir o convite?

Sempre imaginei que fosse acontecer um dia. Todo mundo diz que demorou, mas foi no momento exato, porque é um ano muito especial para mim: completo 40 anos desde o lançamento do meu primeiro livro. Houve época em que a Feira elegia 10 candidatos e depois escolhia um. Cheguei a participar dessa seleção, mas não gostei, parecia competição entre colegas. Achei que não combinava com o espírito da feira. E, naquela época, estava muito envolvida com filhos e não teria como me dedicar da forma que um patrono precisa. Agora é outro momento. Tenho uma carreira mais sólida e me sinto mais preparada e merecedora. Então, veio na hora certa.

És a nona mulher a ocupar o papel de patrona da Feira do Livro. Ainda é difícil uma mulher chegar a esse posto?

Acho que isso está mudando. Não adianta chorar pelo atraso, porque claramente as coisas estão se transformando. Tenho a impressão de que, daqui para a frente, virão muitas outras mulheres, até porque há muitas escritoras excelentes, talentosas, representativas da literatura. O mercado editorial deve muito às mulheres. Há muita produção feminina hoje no país inteiro. É o momento de a mulher colocar sua voz depois de tanto de literatura feita por homens falando sobre mulheres. Isso mudou. Claro que ainda é preciso equalizar, mas não vou ficar lamentando o passado. Isso tem a ver com a velha estrutura patriarcal, mas está mudando.

Falaste que, quando foste convidada antes, estavas envolvida com a maternidade. E agora estás também nessa função de cuidadora.

É outro tipo de maternidade. Meus pais não são meus filhos, claro, mas o papel é esse de cuidado. Isso me surpreendeu, porque sempre imaginei que, depois dos 60, com as filhas criadas, seria a hora de botar a mochila nas costas e viajar. Eu adoro liberdade, adoro viajar. De repente vem esse susto, que nem deveria ser um susto, porque é natural que os pais envelheçam. Mas a gente entra na vida de roldão e acha que está tudo certo. Aí precisa puxar o freio de mão e voltar para dentro de casa, cuidar dos outros. Tem um lado bom nisso, de união familiar, mas é complicado, porque também estamos envelhecendo. Também estou envelhecendo e não tenho mais tantos anos de energia total. Então, a gente vai negociando com a própria vida. Este, para mim, foi um ano de dedicação total à família e ao trabalho. Isso também sou eu.

Qual foi a tua relação com a Feira do Livro ao longo da vida?

A Feira era o meu parque de diversões. Estudava no Bom Conselho, na Ramiro Barcelos, e lembro de sair a pé pela Independência até o Centro para ir à Feira. Economizava a mesada para comprar um livro escolhido com muito cuidado. Sempre foi um momento mágico, porque já gostava de ler e escrever. Era um evento que aguardava o ano inteiro. Depois, quando comecei a publicar poesia, virei autora da Feira. Lembro da minha primeira sessão de autógrafos, em que caiu um temporal e quase ninguém apareceu. De repente, surge o Ruy Carlos Ostermann, que pediu meu autógrafo. Fiquei emocionada, porque ele era uma figura admirada, e eu, uma jovem desconhecida. Foi um gesto generoso e, por isso, hoje quero fazer o caminho inverso: estimular quem está começando.

Quem te ajudou no início?

A Tânia Carvalho foi a primeira pessoa que me chamou para um programa de entrevistas, em 1985. Eu gaguejei do começo ao fim, mas nunca esqueci. Ela é uma grande jornalista, e me dar aquele espaço foi importante. O Luciano Alabarse também foi fundamental: ele deu um livro meu de presente para o Caio Fernando Abreu, que depois me procurou e escreveu a orelha de um livro meu. Era uma época sem internet, tudo acontecia no boca a boca. Um lia, indicava para outro, e assim eu fui crescendo devagar, com o olhar generoso de quem já era mais experiente.

Temos visto censura a obras literárias. O que pensas disso?

De fato, há uma onda de censura, especialmente de livros infantis, sob o pretexto de proteger. É absurdo. A história de O Avesso da Pele, do Jeferson Tenório, por exemplo, foi um absurdo. Escrevi uma crônica sobre isso. É reflexo da ascensão da extrema-direita. O mundo está mudando rápido, muita gente está ganhando voz: mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+. Antes, esses grupos ficavam em guetos. Agora estamos tentando incluir todo mundo, e isso é necessário, não é benevolência. É reparação. Mas há quem não suporte perder privilégios e reaja tentando manter o próprio posto. Daí vêm as tentativas de censura, de regressão. É uma reação careta a um momento mais democrático.

Vivemos uma época careta?

Sim, muito. E é curioso, porque já tivemos momentos mais libertários. O que se via na TV, como TV Pirata, Armação Ilimitada, tinha mais liberdade. Claro que havia piadas erradas, o que felizmente está mudando, mas nada era perseguido. Hoje, há infantilização da sociedade. Tudo é "não pode". Criança não pode ver isso, não pode ouvir aquilo. Cresci ouvindo o que meus pais ouviam: Beatles, Janis Joplin, e lendo os livros que havia em casa. Agora parece que se trata todo mundo como criança.

Mas há também patrulhas vindas da esquerda, não?

Existe patrulha, sim. Às vezes é chata, mas necessária. Claro que me policio, às vezes digo algo numa conversa e penso: "Não poderia dizer numa entrevista". Mas é assim que o mundo muda. É incômodo, mas precisamos nos habituar a não usar certos termos.

Alguns pesquisadores têm discutido a ideia de que estamos priorizando o conteúdo em detrimento da forma na literatura. O que pensas disso?

Acho pretensioso alguém determinar o que é ou não é literatura.

 O que é literatura para ti?

Escreveu e publicou, é literatura. Pode ser boa ou ruim. Literatura é intenção por escrito que pode ser bem ou malsucedida. O que define se deu certo ou não é a conexão com o leitor. Não existe literatura sem leitor. Se ninguém ler Grande Sertão: Veredas, não existiu. Literatura é o que conecta, o que provoca alguma reação, seja de encantamento ou de rejeição. Essa história de que Itamar Vieira Junior ou Elena Ferrante não seriam literatura é absurda. É apenas tentativa de polemizar. 



01 de Novembro de 2025
MARCELO RECH

As histórias de todos

Sou um leitor atento de obituários. Não, não tenho curiosidade mórbida, que provavelmente é até abaixo da média normal das pessoas. Minha relação com os obituários não tem a ver com a morte, mas - e é bom recordar isso nestes dias de Finados - com o reconhecimento à vida daqueles que se foram e, sobretudo, pela crença de que pessoas comuns sempre terão trajetórias e histórias únicas que merecem ser compartilhadas.

Um obituário é uma notícia. Por vezes, sobretudo quando informa o passamento de alguém de quem não se ouvia falar há tempos, pode até ser a mais marcante de uma edição. Mas essa não é uma notícia qualquer. Quando os obituários de ZH foram criados, há umas três décadas, advogou-se que a tarefa de redigi-los seria considerada um rito de passagem. O obituarista deve demonstrar uma combinação de obsessão com precisão absoluta e uma sensibilidade adicional para lidar com familiares e amigos enlutados. Quem escreve obituários com estas duas virtudes está, portanto, preparado para missões jornalísticas de larga envergadura.

Um obituário bem escrito segue padrões mínimos. Deve trazer a idade, local de nascimento, falar de eventuais mudanças de cidade, vida profissional, parentes próximos, incluir descrições sobre sua personalidade e, se a família concordar, a causa da morte, como parte da informação sobre aquela pessoa. Em personalidades públicas, passagens negativas não devem ser omitidas, mas o obituário não é uma peça crítica: é, antes de mais nada, uma homenagem ao retratado e um legado para a família, os amigos e a sociedade. No Rio Grande do Sul, previsivelmente, muitas vezes ficamos sabendo pelo obituário da fama de um churrasqueiro familiar e sua paixão futebolística.

Nenhum outro jornal elevou o obituário à condição de jornalismo de ponta como The New York Times. Há um bom número de livros que os compila e disseca seu estilo. Um deles é A Última Palavra, que reúne uma coletânea da seção, uma das mais lidas e prestigiadas do diário. "A história de pessoas comuns que levaram vidas incomuns", resume sua apresentação. No principal jornal dos EUA, o obituário ascendeu à categoria de arte jornalística exatamente porque extrai em textos memoráveis a riqueza da vida de pessoas como um vendedor de cachorro-quente que fez ponto por décadas numa esquina de Nova York.

Cada obituário é, no fundo, uma pequena biografia à espera de ampliação. Quando leio que alguém dedicou a vida à família, algo aparentemente tão banal, imagino a extraordinária vivência dessa pessoa e as histórias por serem contadas de alegrias, tristezas, frustrações e pequenas e grandes conquistas. São elas que fazem a vida de todos nós, afinal. 

MARCELO RECH


 

01 de Novembro de 2025
EDITORIAL

Feira do Livro, uma obra resiliente

Quem circula pela Feira do Livro de Porto Alegre e observa o movimento nota. A atmosfera da Praça da Alfândega, adornada pelos jacarandás floridos, é um espaço de pessoas com o semblante distensionado. Mesmo nas edições realizadas sob condições desafiadoras, como em 2021, na pandemia, ou no ano passado, quando o setor livreiro tentava se recuperar do impacto da enchente de maio, as expressões leves predominam assim que o toque da sineta dá o evento como aberto. É a força do livro e da cultura.

São dias de noticiário pesado sobre guerras, criminalidade, radicalismo político e intransigência. É uma era de um ritmo frenético de vida e hiperconexão. O livro, ao contrário, é convite à reflexão pausada, e a cultura, fator de agregação e de encontros. Motivos não faltam para prestigiar a maior mostra literária a céu aberto da América Latina. A 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, que se iniciou na sexta-feira e vai até o próximo dia 16, é promessa de um refrigério para a alma.

A edição de 2025, mais uma vez, tem uma série de novidades e de atrações culturais. A patrona é a escritora Martha Medeiros. São 79 bancas, onde é possível encontrar lançamentos e garimpar raridades e pechinchas. Mais de 350 autores estarão no Centro Histórico da Capital. Dezessete são internacionais. É uma oportunidade rara de conseguir um autógrafo ou de trocar ideias com alguns deles. São, aliás, 752 sessões de autógrafos previstas. A programação tem ainda debates, apresentações artísticas, oficinas e contação de histórias. Um dos destaques, sempre, é a área infantil, atração de especial importância por ajudar a forjar os leitores do futuro. A projeção dos organizadores é de receber cerca de 1,5 milhão de visitantes.

Personalidades também serão lembradas. O escritor Erico Verissimo, autor do clássico O Tempo e o Vento, será um dos homenageados, assim como seu filho, o cronista Luis Fernando Verissimo, que faleceu em agosto deste ano. Erico nasceu há 120 anos e morreu há 50. Pai e filho deixaram um legado marcante na literatura brasileira. Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da RBS, emprestará seu nome à Praça de Autógrafos. Neste sábado também ocorre o lançamento da biografia Maurício Sirotsky Sobrinho - O Som de uma Vida, escrita pelo jornalista Tulio Milman.

Poucos eventos simbolizam de forma tão apropriada a palavra resiliência. O fato de ser ininterrupto - mesmo que tenha sido realizado de forma virtual em 2020, primeiro ano da pandemia - é só um deles. Também sobrevive pela irresignação da Câmara Rio-Grandense do Livro e pelo aguerrimento dos livreiros. O setor sofre o abalo do comércio online e, no ano passado, vários comerciantes tiveram suas dependências arrasadas pela cheia. Ainda há a luta incansável, a cada ano, para obter o financiamento necessário para realizar e manter a grandiosidade da feira. Esse patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul merece o apoio da sociedade gaúcha. Visitá-lo e adquirir um livro que seja é a melhor forma de expressar esse reconhecimento. _

EDITORIAL

01 de Novembro de 2025
EDUCAÇÃO NO RS

Número de alunos que voltaram à escola mais que dobrou em 2025

Educação no RS - Isabella Sander

Uma atualização em um sistema de quase 30 anos utilizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) tem ajudado a reduzir a evasão escolar no Estado. Divulgado na quinta-feira, o número de registros de alunos infrequentes em 2025 é semelhante ao de 2024. A quantidade de arquivamentos de casos, contudo, mais do que dobrou - e o principal motivo foi a volta do estudante à escola.

Com dados atualizados em 28 de outubro em um sistema desenvolvido pela Procempa, a ferramenta, nomeada como Ficha de Comunicação de Aluno Infrequente (Ficai 4.0), registrou, em 2025, 56.680 casos de estudantes que haviam parado de ir às aulas. Destas fichas, 45.188 - quase 80% - foram arquivadas. O arquivamento se deveu, de seis em cada 10 situações, ao fato de que o estudante voltou a frequentar a escola.

- Só neste ano, conseguimos fazer com que 28 mil estudantes retornassem à sala de aula usando o Ficai. São 28 mil crianças que estão se educando e se qualificando para ingressar de maneira correta no mercado de trabalho - destacou Alexandre Saltz, procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, durante seminário sobre busca ativa escolar realizado no MPRS.

O número de 28.091 fichas de infrequência arquivadas porque crianças e adolescentes retornaram ao dia a dia escolar é mais do que o dobro do total de casos do gênero ocorridos em 2024, que ficou em 13.519.

- Passado um ano e meio da implementação do Ficai 4.0, o que nós podemos concluir é que, nesse tempo, os municípios entenderam melhor o que seria essa Rede de Apoio à Escola e, agora, em 2025, já está funcionando com esse novo fluxo - observa a promotora Cristiane Della Méa Corrales, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação, Infância e Juventude do MPRS.

De acordo com dados apresentados pela União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) durante o evento, 96,8% dos 399 municípios gaúchos que responderam à pesquisa disseram utilizar o Ficai 4.0, e 92,8% afirmaram possuir uma rede intersetorial articulada para fazer o trabalho de busca ativa dos estudantes com infrequência.

Antes da atualização, se o aluno não retornava, a escola acionava o Conselho Tutelar, que procurava a família e, se não conseguia resolver a situação, fazia o encaminhamento ao Ministério Público. Agora, antes de acionar o Conselho Tutelar, existe uma rede de apoio à escola, que pode ser composta por entes municipais e estaduais, escolas privadas, representantes da política de saúde, de assistência social, do Conselho Municipal de Educação, do Conselho do Direito da Criança e do Adolescente, entre outros parceiros municipais.

A composição dessa rede é definida por um plano da prefeitura. Se não obtiver sucesso, aciona-se o Conselho Tutelar e o MPRS. 



01 de Novembro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Decisão tomada sobre a Venezuela?

Maior jornal da Flórida e com grande penetração na comunidade hispânica, o Miami Herald informou na sexta-feira que o presidente Donald Trump teria tomado a decisão de atacar a Venezuela. Os bombardeios poderiam ocorrer, ainda conforme a publicação, a qualquer momento.

Os alvos do ataque seriam instalações militares supostamente utilizadas pelo cartel de Soles. O planejamento de uma ação armada também foi citado pelo The Wall Street Journal, de Nova York. Segundo a Casa Branca, Nicolás Maduro e membros importantes de seu regime comandariam o cartel, o que não é confirmado.

Fontes disseram ao Herald que os alvos - que podem ser atingidos por via aérea em questão de dias ou até mesmo horas - também visam desmantelar a hierarquia do cartel. Autoridades americanas acreditam que o grupo exporta cerca de 500 toneladas de cocaína por ano, divididas entre Europa e Estados Unidos. Embora as fontes tenham se recusado a dizer se o próprio Maduro é um alvo, uma delas afirmou que seu tempo está se esgotando. 

Maduro está prestes a se ver encurralado e poderá descobrir em breve que não pode fugir do país, mesmo que quisesse, afirmou a fonte. Haveria mais de um general disposto a capturá-lo e entregá-lo, plenamente conscientes de que uma coisa é falar sobre a morte, e outra é vê-la chegar.

Há vários dias, os Estados Unidos têm acumulado capacidades militares no Caribe, inclusive com o deslocamento do maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, para a região. Também um destróier, USS Gravely, deixou Trinidad e Tobago, a pouco mais de 10 quilômetros do litoral venezuelano, nas últimas horas. Não se sabe sua localização. Os Estados Unidos realizaram 15 ataques a embarcações no Caribe e no Pacífico como parte de suas operações antidrogas, com um balanço de pelo menos 62 mortes, sem apresentar provas sobre o vínculo dessas pessoas com o narcotráfico. Voos de aeronaves militares americanas têm sido recorrentes perto da costa do país.

Após a repercussão, questionado por repórteres se consideraria fazer incursões na Venezuela, Trump respondeu apenas: "Não". 

Halloween na Casa Branca

Seguindo a tradição, a Casa Branca celebrou o Halloween na quinta-feira. Donald Trump e a primeira-dama Melania receberam dezenas de crianças na residência, decorada em tons de preto e laranja, com várias abóboras como decoração.

O início da comemoração contou com uma atuação de música clássica com cerca de 10 músicos nas escadarias presidenciais. Entre as atrações, chamou atenção um drive-thru da rede McDonald?s utilizado para a entrega de guloseimas às crianças. Algumas delas estavam fantasiadas como o casal presidencial. 

Entrevista - Ranolfo Vieira Júnior - Presidente do BRDE

"Somos um banco da sustentabilidade"

Em entrevista à coluna, o ex-governador Ranolfo Vieira Júnior fez um balanço dos 16 meses à frente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Ele deixou a presidência na sexta-feira, passando o cargo rotativo ao representante do Paraná.

Que balanço o senhor faz da sua gestão?

O banco tem a maturidade de quem vai completar, em 2026, 65 anos. É também um banco enxuto: temos 500 colaboradores nos três Estados do Sul. Temos escritório em Campo Grande (MS), no Rio de Janeiro, pela proximidade com o BNDES, e em Brasília, onde abrimos este ano. É um banco que vem trazendo resultados positivos do ponto de vista econômico e financeiro. No ano passado, atingimos, pela primeira vez, quase R$ 6 bilhões em negócios. Foram 14,5 mil contratos. Além disso, este é um banco verde, da sustentabilidade. 

De todos os negócios que fizemos em 2024, 82% estavam ligados ao menos a um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Cinco anos atrás, nosso patrimônio líquido estava em R$ 3,4 bilhões, estamos fechando em R$ 5,4 bilhões. Desde a semana passada, estamos na Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Lá, são 27 comitês técnicos de estudo: reforma tributária, segurança cibernética, IA. É importante estar entre os grandes e com um pensamento voltado a essas questões.

Como foi após a maior enchente da história do RS?

O momento mais difícil foi enxergar a área produtiva do Estado ser severamente atingida. Nossa primeira preocupação foi de renegociar contratos. Imagina um cliente que foi severamente atingido pela catástrofe do seu negócio, e, no dia seguinte, bate à sua porta um boleto do BRDE cobrando uma conta. Buscamos uma forma de prorrogar esses vencimentos. Também criamos um programa denominado 

Em frente RS, que alavancou em torno de R$ 300 milhões, com juros fixos de 10% ao ano, com cinco anos para pagamento, primeiro ano de absoluta carência. Demos prioridade a alguns segmentos: as concessionárias do Mercado Público de Porto Alegre, da Ceasa, comerciantes do Quarto Distrito, bares e restaurantes, concessionárias da Estação Rodoviária. Foi uma forma de auxiliar o pequeno e o médio comerciante.

Como está a situação mais de um ano depois?

Os clientes voltaram a pagar. Ou seja, é um sinal de que a economia está se recuperando, apesar de toda dificuldade. Embora a gente tenha passado por isso, embora estejamos em um momento atípico, com taxa Selic de 15% ao ano, a nossa inadimplência é de 0,8%. Baixíssima. É um sinal de que nossas equipes são muito técnicas na avaliação de crédito.

Como foi mudar da segurança pública para um banco?

Foi desafiador, embora eu tenha de reconhecer: no momento em que tu chegas ao governo do Estado, ele te abre um leque que faz com que estejas, teoricamente, apto a comandar qualquer coisa. O gestor, o prefeito, o governador, são grandes generalistas. Eles têm de saber um pouco de cada coisa. Mas temos a equipe técnica, que auxilia na segurança, na educação, na Fazenda. Esse raciocínio serve para dirigir um banco e qualquer grande empresa. Você tem de estar bem assessorado, ter o equilíbrio e experiência, que vai tranquilo.

Vocês estão trabalhando na estruturação de parcerias entre entes públicos e concessionárias. Como está sendo este trabalho?

Essa é uma nova vertente. Nenhum Estado, e muito menos os municípios, tem capacidade técnica de fazer essa modelagem. Então o BRDE os auxilia. Por exemplo: fizemos a PPP de iluminação pública, em Santa Maria e em Sapiranga. Assinamos, há duas semanas, com a prefeitura de Santa Maria para fazer a modelagem da PPP de infraestrutura escolar. Dá uma garantia para o gestor.

Quais são seus planos agora?

Retorno ao cargo de diretor de operações. Sobre o futuro, tenho uma série de convites, depende muito da conversa que devo ter com o governador Eduardo Leite, e o futuro a Deus pertence. 

INFORME ESPECIAL