01 de Novembro de 2025
EDITORIAL
Feira do Livro, uma obra resiliente
Quem circula pela Feira do Livro de Porto Alegre e observa o movimento nota. A atmosfera da Praça da Alfândega, adornada pelos jacarandás floridos, é um espaço de pessoas com o semblante distensionado. Mesmo nas edições realizadas sob condições desafiadoras, como em 2021, na pandemia, ou no ano passado, quando o setor livreiro tentava se recuperar do impacto da enchente de maio, as expressões leves predominam assim que o toque da sineta dá o evento como aberto. É a força do livro e da cultura.
São dias de noticiário pesado sobre guerras, criminalidade, radicalismo político e intransigência. É uma era de um ritmo frenético de vida e hiperconexão. O livro, ao contrário, é convite à reflexão pausada, e a cultura, fator de agregação e de encontros. Motivos não faltam para prestigiar a maior mostra literária a céu aberto da América Latina. A 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, que se iniciou na sexta-feira e vai até o próximo dia 16, é promessa de um refrigério para a alma.
A edição de 2025, mais uma vez, tem uma série de novidades e de atrações culturais. A patrona é a escritora Martha Medeiros. São 79 bancas, onde é possível encontrar lançamentos e garimpar raridades e pechinchas. Mais de 350 autores estarão no Centro Histórico da Capital. Dezessete são internacionais. É uma oportunidade rara de conseguir um autógrafo ou de trocar ideias com alguns deles. São, aliás, 752 sessões de autógrafos previstas. A programação tem ainda debates, apresentações artísticas, oficinas e contação de histórias. Um dos destaques, sempre, é a área infantil, atração de especial importância por ajudar a forjar os leitores do futuro. A projeção dos organizadores é de receber cerca de 1,5 milhão de visitantes.
Personalidades também serão lembradas. O escritor Erico Verissimo, autor do clássico O Tempo e o Vento, será um dos homenageados, assim como seu filho, o cronista Luis Fernando Verissimo, que faleceu em agosto deste ano. Erico nasceu há 120 anos e morreu há 50. Pai e filho deixaram um legado marcante na literatura brasileira. Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da RBS, emprestará seu nome à Praça de Autógrafos. Neste sábado também ocorre o lançamento da biografia Maurício Sirotsky Sobrinho - O Som de uma Vida, escrita pelo jornalista Tulio Milman.
Poucos eventos simbolizam de forma tão apropriada a palavra resiliência. O fato de ser ininterrupto - mesmo que tenha sido realizado de forma virtual em 2020, primeiro ano da pandemia - é só um deles. Também sobrevive pela irresignação da Câmara Rio-Grandense do Livro e pelo aguerrimento dos livreiros. O setor sofre o abalo do comércio online e, no ano passado, vários comerciantes tiveram suas dependências arrasadas pela cheia. Ainda há a luta incansável, a cada ano, para obter o financiamento necessário para realizar e manter a grandiosidade da feira. Esse patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul merece o apoio da sociedade gaúcha. Visitá-lo e adquirir um livro que seja é a melhor forma de expressar esse reconhecimento. _

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