sábado, 6 de setembro de 2025



06 de Setembro de 2025
CARPINEJAR

Um novelo de terror e suspense

A vida de uma mulher poderia ter sido poupada.

Se não houvesse sempre a flexibilidade do Judiciário em abrandar sentenças de homicidas condenados. Se não houvesse a progressão das penas por bom comportamento, até porque todo psicopata de mente perturbada é capaz de dissimular retidão, fingir arrependimento e persuadir qualquer psicotécnico de sua conversão. Se não houvesse a prática institucional das saidinhas. Se não houvesse a desculpa eterna da superlotação dos presídios e da ausência de vagas.

O homem que deixou uma mala no guarda-volumes da rodoviária de Porto Alegre com um cadáver feminino deveria estar preso. Não era para estar circulando normalmente entre nós. Não era para ver a luz do sol tão cedo.

Foi condenado em 2018 por matar a mãe Vilma Jardim, 76 anos - por ironia, no Dia das Mães - e concretar o corpo dela dentro de um armário num apartamento no bairro Mont?Serrat, em 2015.

Como ocorreu a soltura antecipada de alguém que assassinou uma idosa com 13 golpes de faca, a figura materna que o colocou no mundo, durante data comemorativa, sem precedentes, e friamente a escondeu no armário, com cimento?

Uma reincidência não se fazia temerária? Não se avaliou essa hipótese?

O publicitário Ricardo Jardim, 66 anos, recebeu o veredito de 28 anos de prisão por esse crime hediondo, mas progrediu para o regime semiaberto no ano passado e aproveitou o relaxamento da vigilância para abraçar as ruas e não aparecer mais para o pernoite prisional.

Nem portava tornozeleira eletrônica, numa brincadeira macabra com a impunidade e com a segurança de nossas existências.

Só cumpriu nove anos da sua sentença, contando desde a prisão em 2015. Saiu cerca de seis meses antes dos 40% do período total - na época de sua condenação, vigorava ainda o início da remissão por conduta carcerária após 40%. Já com a mudança recente na legislação penal, de julho de 2025, atos violentos de natureza semelhante não teriam a mesma sorte: dependeriam de 80% da pena cumprida para a progressão de regime.

Ele circulava livre e imperceptível pelos supermercados e farmácias, tomava café pelos bairros, mantinha aparência inofensiva, interagia em chats de relacionamento, com perfil ativo procurando parceiras, como se fosse um simpático e educado aposentado de boné e barba grisalha em busca do amor eterno.

Não duvido que eu tenha passado por ele e o cumprimentado. Tudo é possível.

A questão paradoxal é que ele facilitou sua identificação. Tanto que largou o tronco humano de sua namorada na rodoviária, um dos pontos mais frequentados da Capital, com amplo monitoramento por câmeras.

Para aumentar a complexidade do tabuleiro de xadrez, a cabeça da vítima não foi localizada. O suspeito dividiu os restos mortais entre a bagagem aberta na segunda-feira e outras partes encontradas no bairro Santo Antônio, na Zona Leste, em 13 de agosto. Intriga também a perícia nos cortes, no esquartejamento de modo asséptico, que sugere experiência na área da saúde, na truculência meticulosamente estudada para não permitir as impressões digitais.

Porto Alegre se depara com um novelo de terror e suspense que parece não ter fim. O que merece fim é dar liberdade para quem é historicamente perigoso. Não é que nossas leis são suaves, jamais são executadas com rigor, ao pé da letra.

Os homicídios são negócios lucrativos. Recebe-se de castigo o equivalente a uma pena perpétua, cumpre-se apenas um sexto dela e se ganha o perdão muito antes da própria velhice. O morto tem sempre mais tempo debaixo da terra do que o assassino na cela. _

CARPINEJAR


06 DE SETEMBRO DE 2025
COM A PALAVRA - Peter Diamandis

Empreendedor e especialista em inteligência artificial, inovação e pensamento futurista

"Os próximos anos ofuscarão os últimos cem"

Norte-americano de origem grega, Peter Diamandis, 64 anos, esteve em Porto Alegre em agosto para ministrar palestra sobre desenvolvimento tecnológico e o futuro da humanidade. Ao longo de sua carreira, fundou dezenas de empresas ligadas a áreas como tecnologia espacial, saúde e educação, com destaque para a conhecida Singularity University, sediada na Califórnia.

Mathias Boni - 

O senhor e seu parceiro Ray Kurzweil têm dito que o mundo será um lugar "irreconhecível" até 2038. Pode desenvolver um pouco essa ideia?

Kurzweil e eu usamos "irreconhecível" porque a mudança exponencial não é linear - é enganosa e, por vezes, disruptiva. Até 2038, agentes de IA, energia limpa abundante, educação sob demanda, transporte totalmente autônomo e avanços em biotecnologia parecerão normais. Imagine tradução de idiomas em tempo real em seus óculos de realidade aumentada, tutores personalizados para cada criança, robôs tão comuns quanto smartphones e um custo marginal quase zero para conhecimento, mão de obra e energia. Teremos a capacidade de projetar vida sintética, reverter aspectos do envelhecimento e colonizar o espaço. A chave é a convergência: IA, robótica, biotecnologia, nanotecnologia e tecnologia espacial não estão apenas avançando, estão se amplificando mutuamente. É por isso que os próximos 15 anos ofuscarão os últimos cem em termos de transformação social.

Como o senhor avalia o estado atual do avanço no desenvolvimento da IA? Está surpreso com o uso diário generalizado de ferramentas de IA pela população?

Acabamos de cruzar um limiar. A IA deixou de responder perguntas e passou a executar tarefas multietapas de forma autônoma. O que mais me empolga é a capacidade de acelerar a própria ciência, pois, da descoberta de medicamentos à modelagem climática, a IA está reduzindo os prazos de décadas para meses. Contudo, ainda estamos na fase da "televisão em preto e branco", uma etapa primitiva em comparação com onde estaremos em uma década. O uso generalizado de IA no dia a dia da população não me surpreende, já era esperado. Da mesma forma que o smartphone se tornou uma extensão do nosso corpo, a IA está se tornando uma extensão da nossa mente.

O que o senhor acha que a IA será capaz de fazer, dentro de cinco ou 10 anos, que não consegue executar hoje ainda?

Dentro de uma década, a IA será uma verdadeira "parceira especializada". Ela administrará negócios de forma autônoma, projetará novos materiais, personalizará tratamentos médicos de acordo com o seu genoma e atuará como uma professora 24 horas por dia, sete dias por semana, fluente no seu estilo de aprendizagem. Ela gerenciará cadeias de suprimentos inteiras, conduzirá pesquisas científicas e até negociará acordos internacionais. O GPT-5 de hoje parece inteligente, mas é um triciclo comparado à nave espacial que está se construindo.

O que a população em geral deve fazer para se adaptar melhor a essas mudanças?

Primeiro, deve-se adotar uma mentalidade que priorize a IA, aprendendo a usar ferramentas de IA no trabalho e na sua vida pessoal. Segundo, as pessoas devem se tornar aprendizes constantes, se mantendo extremamente curiosos. Metade das habilidades profissionais atuais estará obsoleta em cinco anos. Terceiro, é importante otimizar sua saúde para ter energia e acuidade cognitiva para se adaptar. Quarto, construir uma rede forte é fundamental, pois em tempos de mudanças rápidas, quem você conhece é tão importante quanto o que você sabe. E, finalmente, deve-se desenvolver uma mentalidade de "moonshot", se concentrando em desafios e objetivos ousados e significativos, porque o pensamento pequeno não sobreviverá em um mundo de crescimento exponencial.

Muitas pessoas têm medo do avanço da inteligência artificial e da tecnologia como um todo, acreditando que os humanos podem perder o controle. O senhor tem alguma preocupação?

Estou mais preocupado com o uso indevido por humanos do que com a IA "decidindo" nos prejudicar. Os riscos são reais: desinformação em larga escala, concentração de poder, choques de automação na economia e sistemas frágeis na tomada de decisões críticas. Minha receita para dirimir esses riscos é transparência, auditorias independentes, ampla alfabetização em IA, concorrência aberta e padrões globais de segurança.

Como o senhor avalia os desafios regulatórios relacionados ao desenvolvimento da IA e da tecnologia nos EUA e no mundo?

O desafio é equilibrar inovação e segurança. O excesso de regulamentação corre o risco de retardar avanços benéficos. Por outro lado, a falta de regulamentação corre o risco de causar danos. Sou a favor da regulamentação de aplicações (como a IA é usada) em vez de algoritmos (como ela é construída). Sandboxes (prática de segurança cibernética em que você executa código, observa, analisa e codifica em um ambiente seguro e isolado) para experimentação segura, responsabilização por danos e cooperação internacional são fundamentais.

O senhor também sempre teve grande interesse pela exploração espacial. Como avalia esse processo globalmente hoje?

Estamos em uma nova corrida espacial, desta vez, impulsionada por foguetes reutilizáveis, capital privado e participação global. Missões governamentais à Lua, no período de 2028 a 2030, levarão a viagens comerciais à Lua provavelmente no início ou meados da década de 2030. Já missões tripuladas a Marte devem ocorrer em meados da década de 2030 e início da década de 2040. Uma colônia autossustentável em Marte? Seria necessário um esforço de várias décadas, mas é provável. Marte oferece independência, a Lua oferece proximidade, e ambos fazem parte da expansão da humanidade em direção ao sistema solar.

Como o avanço tecnológico também pode contribuir para o enfrentamento da crise climática e ajudar a preservar o planeta?

A tecnologia é a nossa maior alavanca para a proteção do clima. Redes otimizadas por IA, energias renováveis baratas, fusão, novos materiais para captura de carbono, agricultura de precisão e proteínas alternativas. O desafio da questão climática é urgente, mas o pensamento da abundância nos diz que podemos enfrentá-lo e, ao mesmo tempo, desenvolver melhorias para a saúde, a educação e a prosperidade. 

Como você avalia o ecossistema de inovação e desenvolvimento tecnológico do Brasil?

O potencial de inovação do Brasil é enorme. Fintechs e pagamentos instantâneos de classe mundial, talentos em IA e desenvolvimento, liderança em tecnologia agrícola, bioinovação a partir de biodiversidade incomparável, enorme potencial solar e eólico e geografia espacial estratégica, como Alcântara. Com regras estáveis e empreendedorismo ousado, o Brasil pode se tornar um polo global de abundância. Além disso, o Brasil é um país rico em energia, o que deve ser capaz de atrair data centers para serem construídos em áreas adjacentes a usinas de energia. 


06 de Setembro de 2025
MARCELO RECH

Um golpe na ética militar

O artigo 28 do Estatuto dos Militares determina que os integrantes das Forças Armadas devem "amar a verdade" e ter "a responsabilidade como fundamento da dignidade pessoal". Por mais custosos que sejam, estes são princípios básicos da carreira militar - e que deveriam ser levados inclusive para a reserva. Não é o que se ouviu até agora da quase totalidade dos oficiais acusados pela conspirata que já começaram a ser ou ainda serão julgados no STF.

Em maio de 2023, no texto "A Sina de Cid", esta coluna questionava o que aconteceria se e quando o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, então na prisão, começasse a falar a verdade. A colaboração premiada de Cid acabou se tornando o mais vívido relato dos bastidores da tentativa de quartelada que contagiou parte do alto escalão do governo Bolsonaro e se espraiou até por oficiais da ativa que, insubordinados, redigiram um manifesto pela intervenção militar.

Não amar a verdade e não assumir responsabilidades na insurreição abortada equivale a pisar no código de honra militar. O caso do general Walter Braga Netto é emblemático. A quebra de sigilo de seu celular mostrou, com todas as vogais e consoantes, como ele instruía um pau-mandado a desancar colegas do Alto Comando do Exército e o comandante da Aeronáutica, que resistiam a embarcar no golpe. Pois, sem corar, o general afirmou em seu depoimento que jamais ordenou ou coordenou ataques a antigos companheiros de farda, enquanto seu advogado cria a única versão de defesa possível, a de uma fraude nos prints.

Braga Netto, assim como outros próceres do Ancien Régime, é um réu acuado. Mas a postura não faz jus à biografia que o conduziu às suas quatro estrelas e ao código de ética que deve pautar a vida durante e depois da farda. Também seria salutar à verdade que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira desse detalhes sobre como tentava demover Bolsonaro de adotar "medidas de exceção", como admitiu seu advogado no julgamento.

A quebra de hierarquia, a indisciplina e a traição aos preceitos da caserna legados por Bolsonaro quase desencadearam uma luta fratricida entre comandos militares. A ordem e a estabilidade acabaram garantidas pela maioria dos generais de quatro estrelas de então, que, mesmo sem simpatias por Lula, se aferraram ao lado da legalidade democrática.

Alguns deles, junto com suas famílias, foram e ainda são atacados como "melancias" - verdes por fora e vermelhos por dentro. A baboseira só demonstra o grau de radicalismo que segue consumindo a razão e a capacidade de discernimento dos mais fanatizados. Que o julgamento no STF sirva ao menos para sepultar os resquícios de golpismo que sobrevivem em bolsões que deviam estar arquivados no passado. 

MARCELO RECH

Os demônios

Mentes perturbadas têm comportamentos semelhantes. No livro O Demônio da Cidade Branca, H. H. Holmes chama atenção do mundo pela frieza e método. Depois se entendeu que aquele seria o primeiro serial killer conhecido na história. Construiu em Chicago, durante a Feira Mundial de 1893, um hotel que era, na prática, um castelo da morte. Passagens secretas, câmaras de gás, mesas de dissecação e crematório estavam escondidos no prédio. Enquanto todos viam Chicago nascer e mostrar a modernidade ao mundo, Holmes arquitetava seus crimes e ao mesmo tempo aparecia como homem importante na sociedade norte-americana.

Poderia citar mais dezenas de casos de crimes e criminosos que ficaram conhecidos porque, não satisfeitos em matar, querem causar, chamar atenção, provocar as autoridades e a sociedade. Depois de começar o ano sob os holofotes do caso do bolo envenenado, o Rio Grande do Sul viu nos últimos dias outro caso macabro. O da mala. O primeiro saco com restos de um corpo encontrado na rua parecia mais um recado entre facções ou manchete de um jornal mexicano de cidades onde as pessoas são esquartejadas também no ciclo dos cartéis. O complemento seria ainda mais horroroso, com o cheiro forte chamando atenção para uma mala deixada na rodoviária de Porto Alegre e o encontro de outras partes de um cadáver feminino.

Os cortes precisos indicavam alguém experiente na área da saúde. Ou com uma mente diabólica que sabe usar a técnica para o mal. Os próximos detalhes são estarrecedores. A polícia seguiu as câmeras de segurança e chegou ao homem de boné, máscara cirúrgica e luvas que carregou a mala. Tudo cuidadosamente planejado.

Como se não fosse o bastante, o criminoso identificado tinha outro horror no currículo. Matou a própria mãe, mandou fazer um móvel e concretou o corpo no apartamento onde moravam. Foi condenado a 28 anos de prisão por isso. Se estivesse cumprindo a pena, não teria matado a mulher da mala. Mas teve brecha na lei, na interpretação, no bom comportamento e na falta de vaga no sistema carcerário. O assassino voltou para o convívio e para outra cena de crime que ele criaria.

O homem, Ricardo Jardim, um publicitário que circulava como bem entendia até ser novamente preso nesta semana pelo crime mais recente do qual temos notícia. Ele não é um personagem de novela, mas alguém que circulava entre nós, atravessando ruas, tomando cafés, ocupando o espaço da cidade como qualquer outro. Até fazer mais uma vítima. Até ser descoberto pela Polícia Civil.

Resta agora saber se dessa vez seguirá preso ou se pelo bom comportamento na cadeia poderá mais uma vez cometer crimes em liberdade. O demônio pode estar na próxima esquina. _

ANDRESSA XAVIER 


06 de Setembro de 2025
OPINIÃO RBS

Resultado da mobilização do campo

Logo após a virada do ano, no auge do verão, tornava-se nítido para os produtores gaúchos de grãos que a falta de chuva prejudicaria mais uma colheita. Um novo revés surgia no horizonte. Com ele, a impossibilidade de milhares de agricultores de honrar os compromissos financeiros que já se avolumavam pela sequência recente de frustrações de safras. Diante do risco de uma quebradeira no campo, foi deflagrada no Estado a movimentação por uma renegociação ampla das dívidas e ressurgiu o termo securitização, referência à grande repactuação de débitos rurais dos anos 1990.

Muitos meses depois, ainda que o fôlego oferecido pelo governo federal tenha ficado distante da demanda original dos produtores e da abrangência necessária, deve-se reconhecer que a mobilização gerou consequências. Na sexta-feira, na abertura oficial da Expointer, os agricultores gaúchos conheceram os termos da Medida Provisória do governo federal destinada a uma renegociação que, pelos cálculos do Planalto, deve alcançar até 100 mil produtores de todo o Brasil, mas notadamente do RS, Estado que de longe é o mais castigado pela fúria do clima. São R$ 12 bilhões em recursos, com prazos de até nove anos para pagar e carência de um ano e juro de 6% ao ano para pequenos agricultores, 8% para os médios e 10% para os grandes.

As condições oferecidas não são as desejadas pelo campo. Ficam muito aquém das duas iniciativas legislativas do Congresso. A ideia original da securitização, era nítido, não se viabilizaria pelo alto custo fiscal. A do uso do Fundo Social do Pré-Sal, aprovada na Câmara e em tramitação no Senado, tem forte oposição do governo. Em ambas a disponibilização de recursos era maior, o juro era mais módico e os prazos de pagamento mais largos. Ainda assim, foram instrumentos essenciais para sensibilizar sobre o drama do superendividamento do campo no Estado por fatores que os agricultores não podem controlar.

O governo Lula, desde o começo das mobilizações, demostrava pouco empenho em oferecer uma alternativa concreta para o problema. Ainda que os projetos de lei apoiados por agricultores, bancada gaúcha e entidades tivessem viabilidade questionável, tiveram o mérito de forçar o Planalto a vir para a mesa de negociações. A pressão dos produtores, portanto, foi decisiva para formatação do auxílio prometido, que chega nos termos possíveis, após avanço nas tratativas nos últimos dias.

As dificuldades, no entanto, ainda não podem ser consideradas sanadas. É preciso conhecer os detalhes da MP e ver como se dará o acesso dos agricultores que poderão sair da condição de inadimplentes e ter condições de se preparar para a nova safra.

Também é vital reconhecer que novas estiagens e enchentes virão. É preciso se preparar para uma maior recorrência de eventos climáticos extremos. É essencial, onde for possível, buscar a irrigação ou ao menos adotar práticas agronômicas que minimizem os efeitos da falta de chuva no solo. Deve-se evitar que, daqui a alguns anos, a agonia se repita. 


BC aperta a segurança após três ataques que envolvem Pix

Depois de três ataques envolvendo o Pix e o sistema financeiro nacional, o Banco Central (BC) anunciou na sexta-feira novas regras para evitar problemas desse tipo. Conforme o presidente do BC, Gabriel Galípolo, são medidas para dar mais segurança a todo o sistema, assim como para os clientes. E afirmou que é a forma de enfrentar a migração do crime organizado de furto de carteira e assalto a agências bancárias para roubo de senha e invasão de sistemas de tecnologia.

- Como houve associação de fintechs e da Faria Lima, é preciso dizer que ambas são vítimas do crime organizado. Tanto os bancos incumbentes (tradicionais) quanto os novos são responsáveis por uma inclusão fantástica (da população) ao sistema financeiro - afirmou Galípolo.

O aperto das normas do BC envolve, principalmente, limite de operações com TED e Pix a R$ 15 mil em instituições de pagamento não autorizadas e as que se conectam ao Sistema Financeiro Nacional via Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTI). Conforme Galípolo, está prevista revisão contínua das regras, na medida do avanço das tentativas de ataque.

O maior dos ataques foi em julho, à C&M Software, com estimativa de desvio de até R$ 1 bilhão. Em agosto, houve outro com foco na Sinqia, avaliado em R$ 420 milhões, e o mais recente ocorreu no banco digital gaúcho Monbank, envolvendo R$ 4,9 milhões.

Conforme o BC, as novas medidas não envolvem apenas supervisão posterior, também serão preventivas: as operações acima de R$ 15 mil não autorizadas, por exemplo, serão automaticamente travadas por sistemas de segurança.

Instituições de pagamento não autorizadas?

Para dar espaço à inovação que permitiu o surgimento de fintechs (financeiras que atuam com uso de tecnologia), o BC permitiu a existência de vários tipos de empresas para dar mais competitividade e inclusão ao mercado. O prazo para a regularização completa dessas empresas, que se encerraria em 2029, foi antecipado para maio de 2026, e não poderão se credenciar novas nesse modelo. As que já estiverem prestando serviços e tenham pedido de autorização indeferido terão de encerrar atividades em até 30 dias. A vigência da medida é imediata. _

A bolsa subiu mais de 1% e fechou acima dos 142 mil pontos pela primeira vez na história, quebrando novo recorde na sexta-feira. O dólar caiu 0,64%, para R$ 5,414. Tudo porque os EUA geraram menos empregos do que o previsto e devem ter corte no juro.

Exportando para os EUA mesmo com tarifa de 50%

Na contramão da maioria, uma multinacional com unidade no RS segue exportando normalmente para os EUA mesmo com tarifa de 50%. Trata-se da Stihl, indústria de máquinas de origem alemã que produz cilindros em sua fábrica de São Leopoldo que vão para 162 países, separados ou dentro de equipamentos. Essas peças essenciais para o funcionamento de máquinas e equipamentos são os únicos itens exportados diretamente aos EUA da unidade gaúcha.

- Embora seja uma peça importante, a alma do equipamento, no custo do produto final, lá nos EUA, tem impacto de 3% no preço final - diz Claudio Guenther, presidente da Stihl Brasil.

Além do baixo impacto no custo final dos equipamentos que vai compor, os cilindros da Stihl tiveram outra ajuda na continuidade dos embarques. A unidade do Brasil não exporta de forma direta a pontos de venda americanos, mas para a Stihl Inc., outro negócio na multinacional nos EUA. _

Crédito de R$ 30 bi a partir do dia 15

Depois da publicação da medida provisória que autoriza abertura de crédito extraordinário de R$ 30 bilhões no Diário Oficial da União de terça-feira, aprovações de financiamento devem começar a ocorrer até o dia 15, dentro de pouco mais de uma semana.

Os empréstimos são para exportadores em dificuldades com o tarifaço sobre o Brasil. A prioridade será para as que tenham no mínimo 5% das vendas ao Exterior impactadas pela alíquota de 50% no período de julho de 2024 a junho de 2025.

As taxas de juro já foram definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e vão de 1% a 5% ao ano, variando conforme o tipo de operação e do porte da empresa. O custo máximo é equivalente a um terço da Selic e pouco acima do juro básico americano (4,25%).

Como de hábito, é exigida situação regular na Receita Federal e na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). Não poderá se candidatar empresa em recuperação judicial ou extrajudicial, falência ou liquidação, a menos que exista plano de recuperação aprovado judicialmente. _

GPS DA ECONOMIA

06 de Setembro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Pacote de Lula ajuda a reduzir tensão

A presença do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, representando o governo federal ao lado do colega Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, na Expointer reduziu em parte a tensão entre os produtores rurais.

Na véspera, o clima era de indignação pela informação de que Fávaro estaria no Amapá, em vez de vir ao Rio Grande do Sul na sexta-feira. Alertado para o prejuízo que a ausência do ministro causaria, o presidente Lula chamou sua equipe para discutir o pacote de ajuda aos agricultores e determinou que os ministros viessem à Expointer.

Do palanque das autoridades, os ministros e demais convidados viram uma cena marcante: coroas de flores e balões pretos representando cada um dos agricultores que se suicidaram nos últimos meses. Os organizadores da manifestação atribuem as mortes à depressão provocada pelo endividamento e pela falta de perspectiva de pagar os financiamentos depois de sucessivos problemas de estiagem e de excesso de chuva.

Fávaro anunciou oficialmente as medidas que a coluna havia adiantado - linhas de crédito subsidiado, com juros de 6% para os pequenos, 8% para os médios e 10% para os grandes produtores, com um ano de carência e pagamento em nove anos.

Quantia extra

O valor é de R$ 12 bilhões, o que significa R$ 2 bilhões a mais do que o valor previsto na véspera por deputados que acompanharam as discussões sobre o conteúdo da medida provisória assinada pelo presidente Lula (leia mais na página 15).

Como na saúde, tudo o que se fizer na agricultura será considerado pouco. As medidas do governo foram consideradas insuficientes, até porque políticos ligados ao agronegócio venderam a ilusão de uma securitização mais ampla, com pagamento em até 20 anos. _

ALIÁS

Apesar das vaias aos ministros Carlos Fávaro e Paulo Teixeira, o governo federal acertou ao mandar os dois representantes à Expointer para anunciar a renegociação das dívidas. A falta de civilidade de uma minoria ruidosa não pode se sobrepor ao interesse público e servir de pretexto para boicotar uma exposição com a história e o peso da Expointer.

Reação de Leite às vaias foi firme, sem esconder a irritação

Acostumado desde o primeiro ano de mandato a surfar na Expointer sem ser incomodado, o governador Eduardo Leite viveu uma situação diferente nesta que deve ser a sua última feira no comando do Piratini - se for candidato em 2026, terá de renunciar no início de abril.

Leite foi vaiado durante todo o seu discurso de seis minutos na abertura da Expointer por produtores rurais - instrumentalizados por políticos de direita, que transformaram a arquibancada ao lado do palanque em arena política.

Em resposta às vaias, Leite falou mais alto do que costuma falar e nos gestos não conseguiu esconder a irritação.

A interlocutores, disse estar incomodado pois sempre ouviu as demandas dos agricultores, anunciou medidas de socorro dentro dos limites de recursos do Estado e apoiou a proposta de utilização de recursos do fundo social para a renegociação das dívidas. _

Julgamento de Bolsonaro foi um não assunto na Expointer

Na semana em que começou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, havia um temor latente entre os organizadores da Expointer: de que o evento fosse contaminado pela radicalização.

Mas, ao contrário dos anos em que foi candidato ou presidente, não se viram camisetas, bonés, cartazes ou faixas com o nome de Bolsonaro nos cinco dias anteriores à abertura oficial. Era como se em Brasília não estivesse ocorrendo o julgamento do ex-presidente.

Nas rodas de conversas, a política se fez presente, mas com o setor dando sinais de que já assimilou a inelegibilidade de Bolsonaro e que o nome da vez é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas - que foi convidado a vir por Eduardo Leite, mas preferiu concentrar-se em Brasília e trabalhar pelo projeto de anistia. _

Auditora do TCE é convidada para integrar conselho da ONU

A auditora Andréia de Oliveira dos Santos, do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), foi selecionada para integrar o Conselho de Auditores da ONU - organismo responsável por conduzir auditorias internas nas finanças das entidades das Nações Unidas, incluindo fundos, programas e missões de paz.

A seleção foi conduzida pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em parceria com a Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon).

- Sinto-me muito honrada. É a primeira vez que a gente vai ter essa representatividade no cenário internacional - celebra.

A auditora gaúcha estará acompanhada de Gabriela Flávia Ribeiro Mendes, auditora do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM-BA), que também foi selecionada.

O TCE-RS avalia que a participação no Conselho de Auditores da ONU representa um "marco de projeção internacional" para o tribunal, e reforça o "compromisso com a excelência no controle externo". _

Deputados formalizam o que já era prática na Assembleia

A pouco mais de um ano da eleição, sete parlamentares resolveram montar um "bloco de oposição de direita ao governo Eduardo Leite" na Assembleia Legislativa, formalizando o que na prática marca a atuação do grupo desde o início de 2023.

Integram o bloco os deputados Felipe Camozzato (Novo), Cláudio Branchieri (Podemos), Capitão Martim, Delegado Zucco e Gustavo Victorino (Republicanos) e Paparico Bacchi e Kelly Moraes (PL).

O Novo, que antes se declarava independente, virou um apêndice do PL. E o Republicanos se dividiu entre o governo e a oposição - o que não significa que nas futuras votações essa divisão se reproduza sem alteração.

- Não temos pretensão para ser do contra tudo e contra todos, pelo contrário, queremos oferecer uma visão alternativa - declara Camozzato, que vai liderar o grupo.

Batizado de O RS pode mais, o bloco é a materialização de uma aliança que está sendo encaminhada para a eleição de 2026. _

A direção do PSOL esclarece que não aderiu ao movimento liderado pelo ex-governador Tarso Genro para garantir a unidade da esquerda na eleição de 2026.

POLÍTICA E PODER 


INFORME ESPECIAL
informe especial - Vitor Netto

Anistia de 1979 vs anistia de 2025

Em 28 de agosto de 1979, o presidente João Baptista Figueiredo concedeu anistia aos perseguidos políticos da ditadura militar. Passados 46 anos, debate-se no Congresso a aplicação da mesma ferramenta aos participantes dos atos de 8 de janeiro de 2023. Apesar de, em ambas as ocasiões, os solicitantes pedirem a medida de forma "ampla, geral e irrestrita", há diferenças substanciais entre os dois contextos.

A anistia é um instrumento previsto no Direito brasileiro. O professor da FGV Direito Rio, Felipe Fonte, explica que a principal diferença é o contexto político em que cada projeto se insere:

- A de 1979 foi adotada e comandada pelo Congresso em um contexto de transição política do país. O Brasil tem uma tradição de transição por transação. Chega um momento em que os políticos se juntam e acabam negociando. A anistia, que começou com um projeto para que as pessoas que estivessem fora do país acusadas de crimes políticos durante a ditadura pudessem voltar, tornou-se algo maior, porque ela também anistiou pessoas do regime que tinham praticado crimes de tortura.

O professor lembra outra diferença: a anistia aplicada em 1979 não estava sujeita às vedações existentes em 2025, previstas na Constituição de 1988. O art. 5º, inciso XLIII, por exemplo, proíbe a concessão de anistia, graça ou indulto para crimes inafiançáveis, como tortura, tráfico de drogas, terrorismo e crimes hediondos.

- Antes não havia limite; portanto, poderia ser para qualquer crime, inclusive tortura, crime político etc. A Constituição atual, não. Ela já trouxe outros limites. Essa anistia (de 2025) não faz parte de um processo de transição por transação, não estamos falando de substituição de regime político. Há uma percepção de que os que foram condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 cometeram crimes que foram punidos com penas excessivas; acho que esse é o objeto dessa anistia, o que é muito diferente da outra hipótese. Acho que o Congresso está usando a sua prerrogativa para atuar sobre essa percepção de justiça. É um cenário muito diferente daquilo que aconteceu em 1979 - observa.

Análise de cada caso

O professor avalia que, textualmente, a Constituição não contempla vedação explícita à concessão de anistia aos autores dos crimes pelos quais os réus estão sendo julgados, e as pessoas envolvidas nos atos poderiam receber a anistia; porém, é necessário analisar cada caso individualmente.

- Não sei ao certo qual é a natureza dos crimes pelos quais elas foram individualmente condenadas; acho que é preciso olhar cada processo, para ter certeza. Mas o que eu posso dizer, na minha visão, e de modo geral, é que se os crimes pelos quais elas foram condenadas não estão abrangidos pelo rol explícito de vedações constitucionais, tecnicamente poderiam ser anistiados - declarou à coluna. _

Ajuda ao agro e o tarifaço

O Campo em Debate desta sexta-feira saiu da Casa RBS, na Expointer, em Esteio, e foi para o espaço do Banrisul para debater as Tendências Econômicas e Perspectivas para a Safra Gaúcha. Entre os assuntos tratados, a reorganização do Estado, a assinatura da Medida Provisória que libera R$ 12 bilhões para a repactuação das dívidas de até 100 mil produtores rurais gaúchos e o tarifaço do presidente americano, Donald Trump.

Estiveram presentes o presidente do Banrisul, Fernando Lemos, o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Velho Lopes, e o engenheiro agrônomo e sócio-diretor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros. _

Gaúchos na canonização do santo millennial

O papa Leão XIV vai canonizar o beato Carlo Acutis neste domingo. Conhecido como "o padroeiro da internet", ele se tornará o primeiro santo da geração millennial. Dois gaúchos da Minha Biblioteca Católica, uma editora de Dois Irmãos voltada ao público católico, já estão no Vaticano para acompanhar a celebração.

Waleska Camargo, criadora de conteúdo da Minha Biblioteca Católica, e Pedro Tiago Silva, videomaker, já chegaram à Itália. Em abril, quando a canonização seria realizada, mas foi cancelada devido à morte do papa Francisco, o grupo também estava no país.

Em maio, a editora também lançou uma biografia do santo millennial, intitulada Carlo Acutis: sua Vida, seu Exemplo e seus Milagres. Neste sábado será lançado um livro infantil, em formato de história em quadrinhos, sobre Acutis. _

Documentos perdidos de Nobel

Perdidas por quase 50 anos, diversas patentes pertencentes ao inventor e filantropo sueco Alfred Nobel foram recentemente encontradas na casa de veraneio de um casal sueco. Segundo informações da Fundação Nobel, o inventor, que descobriu a dinamite em 1867 e criou os prêmios Nobel em seu testamento de 1895, possuía centenas de patentes em vários países - a maioria delas relacionada a métodos de produção e usos de explosivos que utilizavam nitroglicerina.

Conforme a direção da Fundação, não se sabe como as patentes foram parar no local. _

Desfile de 7 de Setembro na Capital

O desfile de 7 de Setembro em Porto Alegre, neste domingo, contará com 4,6 mil participantes. O evento ocorrerá na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, em frente ao trecho 3 da orla do Guaíba.

Dos participantes, 1,2 mil são militares do Exército, da Força Aérea e da Marinha. Serão 314 viaturas, entre motocicletas, veículos motorizados e blindados, além da tropa hipomóvel, helicópteros e embarcações.

O evento terá início às 9h30min, quando o comandante do Comando Militar do Sul (CMS), general de Exército Luís Cláudio de Mattos Basto, e o governador Eduardo Leite farão a revista das tropas. A partir das 10h, inicia-se o desfile. 

Pesquisadora receberá prêmio da Fapergs

A jornalista, professora e pesquisadora Raquel Recuero, que também integra o Conselho Editorial do Grupo RBS, foi agraciada com a mais importante premiação de pesquisa do Estado: a de Pesquisador Gaúcho 2025.

Promovida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Fapergs), vinculada à Secretaria Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), a premiação teve como tema "Ciência para a Reconstrução e Resiliência". O objetivo é reconhecer pesquisadores e profissionais que se destacaram na academia e nos setores público, industrial, empresarial e de comunicação.

Raquel foi agraciada na categoria Pesquisador Destaque na Área de Ciências Humanas e Sociais. A cerimônia de entrega será em 21 de outubro, no Salão de Convenções da Fiergs. Outros 13 pesquisadores também receberão o prêmio. 

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