sábado, 27 de setembro de 2025


27 de Setembro de 2025
CARPINEJAR

Pessoas que despertam o seu pior. Há pessoas que despertam o nosso pior. Não há compatibilidade. Não há pontos em comum. Não há como nos adaptarmos ou cedermos.

Elas podem ser sociáveis, simpáticas, divertidas para os demais - não para nós. Com a convivência, vêm à tona comportamentos desagradáveis. Você não estará seguro com elas. Nem todas as pessoas são para nós. Precisamos ficar perto das figuras que nos garantem paz, tranquilidade, firmeza.

A confiança é uma construção. Como obtê-la com um duvidoso aliado, que anseia pelo aniquilamento do seu amor-próprio? Não tem lógica entrar numa relação para bater a cabeça na parede. Você vai se estressar acreditando que um dia será diferente.

Você nunca foi ciumento na vida, nunca padeceu de possessividade, nunca se mostrou tenso com o paradeiro de ninguém e, subitamente, envolve-se e é tomado de apreensão dos pés ao último fio dos cabelos. É que o seu par gera ciuminho de propósito, por qualquer coisa. Quer que você sofra. O prazer dele é ver você indo atrás, questionando, perguntando, cobrando, esmolando atenção.

Ele inventa ciladas, abusa de ambiguidades. Jamais diz com quem conversa. Ou para quem mandou mensagem de madrugada. Ou que contato é aquele com quem não para de rir.

Você vira uma companhia tóxica. Uma companhia paranoica. Uma companhia fantasma, temendo ameaças nas situações mais banais. O outro compreende a preocupação como prova de amor - e confunde o ciúme com importância. Percebe sua curiosidade e tira proveito, causando pânico gratuito e infundado.

De modo premeditado, planta boatos sobre si mesmo e depois alega que não há perigo algum. Em vez de acalmar e fechar as portas preventivamente, cria cenas e intrigas. Incentiva a desinformação para em seguida apontar o seu exagero, o seu delírio. O objetivo da sedução generalizada é que você perca a noção da realidade, e puxe as iscas da suspeita para morrer pela boca.

Com as pistas falsas, você fracassará na previsão. O jogo é este: você é induzido a fazer suposições equivocadas, só para ser deslegitimado, ridicularizado e diminuído: "Tá vendo? Você está louco!".

Seu parceiro não é franco, não é direto, provoca mistério e suspense sobre suas atividades. O ciúme acaba sendo uma arma de dominação, de exploração, de dependência. Se você sente ciúme, é porque tem medo. Se tem medo, fará tudo para agradar. Estará no fiado da existência, sempre acessível, disponível, gastando horas para fiscalizar e vigiar quem você ama.

Não resta nenhum bem-estar emocional. Não predominam clareza nas confidências, cuidado na amizade, didática na cumplicidade, sintonia na rotina. E o que adianta um romance que suga todas as suas energias, todas as suas forças - e não sobra nada para a família, para o trabalho, para o lazer?

Você está possuído por uma ideia fixa. Está sempre se achando traído. Você só se dedica ao relacionamento, a manter o relacionamento. Experimenta um desespero mental e uma agonia parasitária.

Não devemos permanecer ao lado de quem nos deixa mais ansiosos, mais nervosos, mais angustiados. É uma presença maligna que estimulará a sua versão mais triste, mais feia, mais desajeitada.

Você não se considerará bonito, nem atraente, nem inteligente junto dela. Concluirá que há muito tempo não se gosta mais. Sua carência será torturada, seus defeitos acentuados, seus monstros acordados. Se você já guarda antecedentes de engano, ou traumas de infidelidade, corre sérios riscos de adoecimento.

Amores extremados nos levam ao precipício. Não procure alguém que dê frio na barriga, mas alguém que o respeite e o aqueça. 

CARPINEJAR

27 de Setembro de 2025
MARTHA MEDEIROS

A incoerência como tática

Ano que vem teremos eleição para presidente e há um nó a desatar. Por um lado, simpatizantes da extrema direita, oponentes do atual governo, reivindicam liberdade de expressão e democracia, a fim de acabar com uma suposta "ditadura" que estaríamos vivendo. De outro, simpatizantes da centro-esquerda, em exercício, reivindicam liberdade de expressão e democracia, a fim de evitar que uma ditadura de fato se instale no país. Ué. Tem um furo aí.

É preciso apontar a contradição de quem defende democracia apoiando golpe de Estado, reivindica intervenção militar em nome da liberdade, sai às ruas de verde e amarelo agarrado à bandeira dos Estados Unidos. Quando tentam explicar essa incoerência, não conseguem juntar lé com cré.

Inverter a lógica é uma tática para confundir almas ingênuas, que ouvem Deus ser evocado repetidas vezes em palanques e acabam acreditando que estão do lado certo da história. Quem se rende ao sobrenatural vira presa fácil de tiranos. Por outro lado, parte da elite econômica, formada por pessoas inteligentes, bem-informadas, muitas delas ateias ou agnósticas, também defende o indefensável, em nome da preservação do status quo. Pode até ser um apego inconsciente, mas a verdade é que ninguém gosta de ter seu poder dividido com "estranhos".

Uma sociedade em que a vida de uma pessoa negra valha tanto quanto a de uma pessoa branca, em que um homossexual seja visto com a naturalização de um hétero, em que uma mulher esteja no mesmíssimo patamar que um homem: soa bonito, mas exige mais do que curtidas em postagens. Para equalizarmos de verdade, alguém terá que perder e alguém terá que ganhar. 

Por mais que se argumente que a igualdade apazigua o mundo, muitos preferem brigar a repartir assentos na faculdade, mesas em restaurantes e cargos na empresa com aqueles que estão ascendendo. Logo na minha vez, uma sociedade mais humana? Sem essa. E tratam de buscar um álibi para justificar a resistência. Lula! Vamos usar o petralha metido a santo como desculpa para nosso medo.

De santo ele não tem nada: erra e acerta. Mas, por enquanto, é a opção que se tem contra políticos sem um pingo de consciência social, sem noção de coletividade, sem apreço às artes e à ciência, que utilizam a fé dos crédulos para sustentar os privilégios de uma elite que tudo bem ser de direita, liberal, mas que não deveria apoiar a sociopatia arrasa-quarteirão que se expande assustadoramente.

Posto isso, prometo que voltarei a escrever sobre o que todo mundo gosta: amores, cinema, viagens, filosofices. Só voltei rapidinho à política para lembrar que sim, bem na nossa vez, calhou de precisarem da nossa coragem para termos uma sociedade mais humana. 

MARTHA MEDEIROS

Em Porto Alegre - Feijoada todos os sábados

É uma alegria ver de volta uma parte tão importante da cidade como o DC Navegantes. O espaço, fortemente afetado pela enchente do ano passado, aos poucos retoma sua atividade e traz, inclusive, novas e importantes operações de gastronomia.

Entre elas, a Feijoada no 4º Distrito do MuleBule Gastronomia, que acontece todos os sábados no Refeitório, dentro do DC.

São oferecidas cinco versões saborosas do prato - inclusive a opção completa, com todas as carnes preparadas juntas, minha preferência. O buffet oferece saladas, acompanhamentos clássicos como aipim frito, torresmo, bolinho de feijoada, caldinho de feijão e sobremesas variadas. A programação ainda conta com DJ e apresentação de samba.

O ambiente é bonito, amplo, ótimo para famílias e grupos menores, e tem capacidade para receber até 280 pessoas. O bacana é que vem com a proposta de realmente se fixar como opção durante todo o ano!

A Feijoada no 4º Distrito rola sempre aos sábados, das 11h30min às 15h30min, no DC Navegantes (Rua Frederico Mentz, 1.561, na Capital).

O valor é de R$ 89 por pessoa (crianças até 10 anos não pagam) e R$ 75 para colaboradores e empresas membros do Instituto Caldeira. A compra pode ser feita pelo telefone e Whatsapp (51) 99282-4306. _

Chopp em metro - Ainda é setembro, mas tem Oktober

Amo que algumas celebrações são tão esperadas que já entram no calendário antecipadas! É o caso da Oktoberfest da 4Beer, que acontece nesse sábado -ainda em setembro, mesmo que no finalzinho.

Já é a 10ª edição do evento que entrou para o calendário da cidade com muita música, cultura, gastronomia e, é claro, cerveja!

A programação começa às 11h30min e vai até as 23h15min. Terão shows muito bacanas: Izmália e Comunidade Nin Jitsu, além de uma animada bandinha alemã - o que não pode faltar em uma Oktober!

Um espaço kids foi pensado para as crianças, enquanto os adultos aproveitam o chopp em metro, as flash tattoos, a gastronomia típica e os combos promocionais.

O 4Beer 4º Distrito fica na Avenida Polônia, 200, em Porto Alegre. A entrada no evento é gratuita. _

Novidade - Burger De Rua

Dica delícia: os novos sabores de hambúrgueres do De Rua, do 20BARRA9. São três versões vegetarianas, com burguer feito de cogumelos; o Portenho (burger duplo com queijo provolone, molho da casa, tomate gaúcho e chimichurri); o Frango Empanado (peito de frango empanado, duplo cheddar, molho da casa, rúcula e picles de pepino); o Quarteirão (burger duplo, duplo cheddar, molho da casa, cebola roxa, picles de pepino, catchup e mostarda). No próximo dia 30 entra no cardápio o Acebolado, que leva duplo burger smashado com cebola roxa, duplo cheddar e molho da casa.

Fica no Parque Pontal (Rua Oswaldo de Lia Pires S/N). O funcionamento é de terça a quinta, das 16h às 20h, e de sexta a domingo (e feriados), das 8h às 20h. Fechado em dias de chuva. Confira opções de delivery no perfil @deruaburger. 

Comer e contemplar - 45 anos de delícias

Como me deixa feliz celebrar lugares como o restaurante Colina Verde, em Nova Petrópolis, que comemora 45 anos de uma tradição gastronômica e de acolhimento impecáveis!

Referência em culinária alemã, o Colina é uma festa em todos os sentidos. Além do paladar, com pratos salgados e sobremesas diversas, o espaço fica no alto de uma colina com uma vista incrível para vários pontos da cidade. A ideia é chegar com calma com tempo de contemplar. O restaurante, como a cidade, é para curtir sem pressa!

As comemorações começaram em janeiro e seguem até o fim de 2025. Foi lançada uma cerveja especial, que pode ser degustada por lá, um novo prato para o menu - que já é farto! -, e duas séries de vídeos no Instagram (@restaurantecolinaverde): o Memórias do Colina, que reúne depoimentos, e o Receitas da Marlene, em que a fundadora fala de suas criações.

Os filhos dos fundadores Ido e Marlene Schwantes cresceram dentro do restaurante e hoje seguem à frente da gestão.

Localizado na Rua Felippe Michaelsen, 160, em Nova Petrópolis, o restaurante funciona de terça a domingo, das 11h30min às 15h. O WhatsApp é o (54) 3281-1388 e o site restaurantecolinaverde.com.br. 

SARA BODOWSKY 


27 de Setembro de 2025
COM A PALAVRA - Fernanda Oliveira

Professora do programa de pós-graduação em História da UFRGS que assina o enredo da Portela para o Carnaval 2026

"A Portela quer dissipar a névoa que cobre as experiências negras no Sul"

O Rio Grande do Sul vai atravessar a Marquês de Sapucaí. Não com uma delegação de sambistas, mas com sua própria história contada pela Portela, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. Parte do que será visto vem dos saberes de uma gaúcha: a historiadora Fernanda Oliveira, que assina o enredo O Mistério do Príncipe Bará: A oração do Negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande.

Camila Bengo - Como ocorreu o convite para você assinar o enredo da Portela?

Eles já vinham com um projeto de descentralizar narrativas, fugindo dos eixos Sudeste e Nordeste. Nesse mapeamento, chegaram ao Rio Grande do Sul. A escola entrou em contato com o setor cultural do Estado, e fui convidada a participar do processo. A Portela organizou uma reunião com historiadores que pesquisam os diferentes grupos étnicos do RS para que cada um apresentasse a história e as características desses grupos à equipe do carnavalesco André Rodrigues. Foi uma conversa rápida. Dois dias depois, o André me mandou uma mensagem pedindo para aprofundar o assunto, pois havia gostado do que ouviu. Eu aceitei, mas imaginava que seria uma espécie de consultora histórica. Porém, (o André) me convidou para assinar o enredo com eles, o que foi uma grande e bonita surpresa.

Como tem sido equilibrar a pesquisa histórica com a ludicidade que o Carnaval permite e exige?

Tem sido um desafio. O meu trabalho tem sido esse exercício de negociação: eu apresento o que é próprio da ciência histórica, aquilo que tem compromisso com as fontes documentais e de memória, e vamos negociando o que é possível entre a história e a arte, que é o que comanda a narrativa carnavalesca. Porém, existem elementos que nós, historiadores, consideramos inegociáveis na narrativa. Um desses elementos é a singularidade do batuque gaúcho, muito diferente do candomblé, de onde vem a maior parte das referências da equipe da Portela.

O enredo tem no Príncipe Custódio um eixo importante. Poderia explicar quem ele foi?

Custódio é um africano que chega ao RS por volta de 1870 como um homem negro livre e jovem. Isso é especial, porque a maioria dos africanos que chegava aqui nessa época, além de serem escravizados, já tinham mais idade. Ele entra no Brasil por Salvador e depois chega ao RS, vindo se estabelecer em Porto Alegre. É provável que ele tenha recebido a alcunha de "príncipe" por conta do grande conhecimento que tinha sobre a cura de doenças, apesar de jovem. Outra possibilidade é a sua participação em irmandades religiosas como a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Negros, que tinha cargos de rei, rainha e príncipe.

De que forma as histórias do Príncipe Custódio e de outras figuras do Estado serão abordadas?

A ideia é pensar essas histórias como um ciclo que se reinicia na sociedade gaúcha atual, olhando para as possibilidades de vida da nossa juventude negra, que é potente e está produzindo coisas maravilhosas. A Portela quer dissipar a névoa que cobre as experiências negras no sul do Brasil.

Temos muitos personagens negros históricos que são pouco difundidos. Por que as contribuições negras são negligenciadas pela historiografia oficial do Estado?

A resposta mais direta é o racismo estrutural que atravessa o Brasil. O país nega a construção feita por grupos racializados, como indígenas e negros, e isso se reflete em todas as áreas, incluindo a produção de conhecimento. Historicamente, o poder de escrever a história esteve concentrado em mãos brancas.

Vocês projetam que, a partir do desfile, será construída uma nova versão do Estado?

Não tenho dúvidas. A Marquês de Sapucaí é o maior palco de enunciação que existe, pois o Carnaval é a maior festa do mundo. Nossa segurança vem do fato de que as fantasias e todos os elementos estão sendo construídos a partir de uma narrativa de presença negra no Rio Grande do Sul. O desfile vai comunicar visualmente uma história de protagonismo e resistência que o restante do país desconhece. Nossa expectativa é de que seja forte o suficiente para pluralizar a visão que se tem sobre o RS.

O Carnaval, além de festa, é uma manifestação identitária do povo negro. Como você percebe a relação do RS com essa expressão?

A relação é intensa. O Carnaval não nasce como uma festa negra, mas os negros foram se apropriando dele. A partir dos anos 1930, quando as grandes sociedades da elite branca se afastaram do Carnaval por conta de crises econômicas, os negros ocuparam as ruas com os seus cortejos. Desde então, o Carnaval ganhou essa identidade. Na década de 1940, com o surgimento das escolas de samba, se tornou uma festa negra por excelência. O RS tem uma tradição muito forte nesse sentido. O Carnaval de Pelotas, nos anos 1980, foi considerado o terceiro maior do país. Esse cenário mudou porque não houve investimento no Carnaval, que precisa de dinheiro para existir.

Houve recentemente uma polêmica em torno do apoio financeiro do governo do RS ao Carnaval da Portela. Como você enxerga esse episódio?

Para mim, o aporte seria natural, pois o Carnaval será uma grande vitrine para o Estado, poderia incentivar o turismo e a economia. Além disso, esse aporte possibilitaria que os gaúchos participassem do desfile da Portela, o que faria dele uma manifestação efetiva da presença negra no RS. Esse era o desejo da Portela: levar a população para o desfile, ter lideranças do batuque passando pela Sapucaí, ter os jovens negros gaúchos construindo junto esse Carnaval. 


O atrapalhador

Por vias tortas, o deputado Eduardo Bolsonaro entrou para a história. À frente de seus lugares-tenentes, ele lidera a orquestra que, em sua turnê pelos EUA, desafinou a pauta da direita brasileira. Tudo o que o deputado pretendia - forçar uma anistia a seu pai e parceiros de quartelada - se reverteu em trapalhadas que, com ou sem uma conversa promissora entre Lula e Donald Trump ali adiante, serão lembradas pela posteridade como um tiro de canhão no pé da direita.

Não há dúvida de que Eduardo Bolsonaro e companheiros refugiados nos EUA conseguiram atrapalhar, e muito, a relação de 200 anos entre Brasil e EUA. Ao alugar os ouvidos próximos a Donald Trump, eles tiveram pleno sucesso em atrair sanções à economia brasileira. Só que as tarifas não escolhem cor política: elas atingem tanto o produtor do Centro-Oeste bolsonarista que deixou de exportar para os EUA quanto o empregado demitido da processadora de peixes congelados do Nordeste lulista. Convenhamos: prejudicar o próprio país e seus eleitores e ser tachado de traidor da pátria não é a melhor forma de se conquistar adeptos para uma causa.

Em rompante de sinceridade chula, o pastor Silas Malafaia, conselheiro de Jair Bolsonaro, só faltou soletrar para o ex-presidente o que pensa do filho dele e suas manifestações emanadas dos EUA. "Babaca", definiu Malafaia para um pai que, sabe-se lá por quê, permaneceu calado diante da alcunha desairosa. O desabafo é resultado da bolha da bolha em que Eduardo Bolsonaro e turma passaram a viver. Em sua realidade paralela, o filho 03, que tinha como credencial fritar hambúrgueres nos EUA quando pediu ao pai a nomeação como embaixador em Washington, se declara agora o herdeiro político e, portanto, candidato a presidente pelo clã em 2026.

Se Eduardo puder pisar no Brasil novamente sem ser preso por obstrução de justiça, terá sorte. Ele esquece que governos e mandatos passam, mas o STF e o Judiciário ficam. É, no fundo, constrangedor se ver o deputado, prestes a perder o mandato e a fonte de renda, comemorar o fato de que o ministro Alexandre de Moraes e esposa não poderão usar cartões de crédito de empresas norte-americanas por conta da Lei Magnitsky, uma iniquidade que só serve para indignar a magistratura e fadada a cair no primeiro dia pós-trumpismo.

Por fim, mas não menos relevante: a movimentação atabalhoada de Eduardo Bolsonaro ameaça a PEC que pode soltar os baderneiros do 8 de Janeiro, tornou a vida legal do pai mais delicada, soprou um vento de cauda na esquerda enrolada na bandeira do Brasil e esfriou por ora a candidatura de Tarcísio de Freitas ao Planalto em 2026. Só falta Lula e Trump se entenderem. Será difícil superar o atrapalhador em quantidade e voltagem de mancadas políticas em tão pouco tempo. _

MARCELO RECH 


27 de Setembro de 2025
OPINIÃO DA RBS

O Supremo sob nova direção

O ministro Luiz Edson Fachin, 67 anos, gaúcho de Rondinha, no norte do Estado, assume na segunda-feira a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). Chega ao posto com o desafio de comandar a Corte ainda em uma fase conturbada do país, em meio ao prosseguimento dos julgamentos sobre a tentativa de golpe de Estado, mas também no início de um período que começa a requerer maior autocontenção do Supremo e de seus membros. É hora de um refluxo nos poderes excepcionais evocados em uma época de grave ameaça à democracia brasileira.

As características pessoais de Fachin e seu perfil de atuação no STF dão espaço à esperança de dias de maior sobriedade no órgão máximo do Poder Judiciário nacional, que desempenha o papel de guardião da Constituição do Brasil. Na Corte desde 2015, o ministro é modelo de discrição e de atuação técnica. Tem caráter mais reservado e tom institucional, distante de comportamentos personalistas. Não é dado a falatórios e pitacos políticos, muitas vezes desastrados, como outros proeminentes pares. Contrasta nesse aspecto, por exemplo, com o ministro Luís Roberto Barroso, a quem sucederá, cobrado por deslizes verbais que reforçaram em parcela da sociedade a percepção de que a Corte é parte da danosa polarização radical vigente.

Fachin, da mesma forma, não é frequentador de convescotes com políticos, empresários e advogados nem de eventos organizados no Exterior por brasileiros para discutir problemas brasileiros. A presença excessiva de ministros em encontros do gênero muitas vezes gera desgaste à Corte por dar margem a questionamentos sobre conflitos de interesse. Também é conhecido por não ser vezeiro em decisões monocráticas, prática alvo de críticas frequentes direcionadas à Corte, embora já restringidas por ação da presidência da ministra Rosa Weber, que se aposentou em 2023. Rosa Weber, aliás, foi prova de que uma condução firme do STF em meio a tempos turbulentos não exige exageros retóricos ou incursões para costuras de bastidores do mundo da política.

Em 2022, por seis meses Fachin exerceu o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também em um período de agitação social pela aproximação do pleito para a Presidência da República. Soube guiar a Corte eleitoral com a sabedoria e o pulso então necessários.

Fachin foi formalmente eleito para o posto máximo do STF no mês passado, mantendo-se a tradição de ser escolhido o ministro mais antigo que ainda não tenha exercido a presidência. Comprometeu-se a ter dois anos de mandato marcados pelo fortalecimento da colegialidade, da pluralidade e do diálogo. Automaticamente comandará o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Aguarda-se que, neste período, o órgão criado para aperfeiçoar o trabalho do Judiciário brasileiro consiga se desvencilhar da imagem de entidade que atua demasiadamente em busca de benefícios para a categoria.

Fará bem ao STF e ao país se a Corte assimilar a postura demonstrada até aqui por seu novo presidente, valorizando a atuação técnica, a discrição, a institucionalidade e a colegialidade. 


27 de Setembro de 2025
ACERTO DAS TUAS CONTAS - Giane Guerra

Financiamentos de imóveis em reformulação

Foi suspensa a linha de financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal (CEF) com juro vinculado à poupança. A diretora de Assuntos Habitacionais do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do Sul (Sindimóveis-RS), Simone Carvalho, informa que ela será reformulada e deve retornar em dezembro. A taxa era de 10,39%.

- Mas acabava sendo pouco usada porque o fato de incidir sobre prestações e saldo devedor elevava o juro a 12%. Quando ela voltar, deverá se chamar Poupança+ e ter um juro já definido entre 12% e 13% - complementou Simone.

A modalidade IPCA, com reajuste pela inflação, também deve ser reformulada. O foco agora tem sido oferecer o financiamento SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), com juro de 11,29%.

- Outra mudança foi que o valor mínimo de financiamento de R$ 50 mil subiu a R$ 100 mil para compra e R$ 150 mil para construção - acrescentou.

À espera

Simone diz ainda que o retorno das linhas após reformulação deve ser com verba disponível. Ela enfatiza isso pelo fato de que os recursos para empréstimo da casa própria estão escassos, porque os saques estão superando depósitos na poupança e no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Um novo programa habitacional vem sendo construído, com dificuldades, entre Ministério das Cidades, Banco Central e Caixa. O presidente Lula já cobrou os três publicamente pela demora, pois afirma que será o "maior programa habitacional da história do país" e "infinitamente maior" do que o Minha Casa, Minha Vida, que, aliás, foi ampliado em maio com teto maior de R$ 500 mil para imóveis e uma nova faixa para famílias com renda até R$ 12 mil. _

Gaúcho nunca deveu tanto

Em um recorde batido em agosto, os gaúchos estão devendo, em média, R$ 7.167 cada (em Porto Alegre, é ainda maior: R$ 7.645). Pelo monitoramento da Serasa Experian, em agosto de 2024, a soma era de R$ 5.491. Ou seja, um aumento de 30%, o que é seis vezes a inflação do período.

Isso elevou para R$ 26,38 bilhões a soma total das contas vencidas atualmente. Valores maiores deixam mais difícil o pagamento das dívidas, ainda mais que o juro segue elevado e espera-se uma redução inicial pelo Banco Central somente a partir do começo de 2026.

A taxa de inadimplência subiu para 41,49% da população adulta, perto do recorde, com 3,681 milhões de inadimplentes. 

Cogus por telentrega - Consumidor verde

Outra dica de alimento saudável e de produção local: a Bertotto Cogumelos. O ex-jogador de futebol Matheus Bertotto cultiva os "cogus" com o pai em Glorinha. Os produtos estão à venda em lojas, mas é possível encomendar direto pelo WhatsApp e receber em casa. A coluna sugere o kit degustação, que custa R$ 67. São cinco bandejas com cogumelos paris, portobello, portobello extra, shimeji e shitake. _

Os mais desejados

Na revolução industrial de hoje, profissionais extremamente especializados serão cada vez mais desejados. São qualificados para áreas da nova economia, como energias renováveis e inteligência artificial.

Já funções operacionais e repetitivas tendem a desaparecer, dando lugar ao que exige análise e criatividade. Estudo do Observatório Nacional da Indústria (ONI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), listou os 16 cargos que ganharão cada vez mais relevância na próxima década.

Em entrevista ao podcast Nossa Economia, de GZH, Marcello Jose Pio, especialista em Políticas e Indústria da CNI, ponderou que as instituições de ensino não estão preparadas para formar estes profissionais e ressaltou o quanto a indústria precisa se comunicar melhor com os jovens. Abaixo, as funções mais citadas pelas empresas entrevistadas na pesquisa. _

Nível técnico

Técnico em Microrredes e Energias Renováveis: 30% das empresas

Técnico em Cibersegurança Industrial: 25%

Técnico em Manufatura Aditiva (Impressão 3D): 25%

Nível superior

Gerente de Inovação Aberta e Colaborativa: 27% das empresas

Gestor de Sustentabilidade e Economia Circular: 20%

Especialista em Gêmeos Digitais e Modelagem Virtual: 15%

ACERTO DAS TUAS CONTAS


27 de Setembro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Sem Tarcísio, PSD deve lançar Ratinho ou Leite ao Planalto

O recuo do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), garantindo a aliados que será candidato à reeleição, movimentou o cenário político na sexta-feira. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, adicionou lenha na fogueira ao dizer que, neste caso, o partido apoiará a reeleição de Tarcísio e lançará candidato à Presidência.

Embora seja voz corrente que aposta no governador do Paraná, Ratinho Júnior, Kassab manteve o discurso de que o PSD tem duas opções, e que o governador Eduardo Leite é uma delas. Em São Paulo desde quinta-feira, para participar de um evento da Comunitas, Leite conversou com líderes de diferentes partidos e manteve a cautela que vem adotando nos últimos meses, mas sem jogar a toalha.

- O cenário ainda é muito movediço. Há 15 dias, a candidatura de Tarcísio era dada como certa. Hoje, ele está dizendo que disputará a reeleição, mas daqui a pouco pode mudar de novo. Eu seguirei sustentando que precisamos escapar da polarização entre o petismo e o bolsonarismo - disse Leite à coluna.

Ratinho teria a simpatia de Jair Bolsonaro, mas nada garante que não seja torpedeado por Eduardo Bolsonaro, que, dos Estados Unidos, vem detonando Tarcísio e todos os que tentam ocupar o lugar do pai. Outra possibilidade é Michelle Bolsonaro ser candidata, o que deixaria Ratinho em situação complicada.

Prioridade à sucessão estadual

Leite se apresenta como o único pré-candidato que não é ligado nem a Lula nem a Bolsonaro, mas está jogando parado. Oficialmente, diz que não vai ficar "cavando esse espaço" de candidato e que poderá concorrer ao Senado:

- Minha prioridade é a sucessão no Rio Grande do Sul. Tenho dito aos líderes dos partidos que é legítimo cada um ter seu candidato, mas que essa construção tem de ser feita entre os que estão no nosso governo e não com a oposição que combate tudo o que fizemos.

Apesar de seu candidato natural ser o vice-governador Gabriel Souza (MDB), Leite considera possível uma outra composição, liderada pelo PP ou pelo PDT. _

Danielle, a "prefeita" do CAFF, comemora façanha de Mineirinho

Quando o skatista Sandro Dias, o Mineirinho, realizou a manobra imaginada por milhares de gaúchos desde a construção do Centro Administrativo Fernando Ferrari, a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, chorou de emoção em meio aos funcionários que assistiam à cena.

A descida dos 70 metros da rampa do CAFF foram o desfecho de uma negociação que durou mais de dois anos com a Red Bull e sobre a qual Danielle precisou manter segredo.

- Me emocionei porque há pouco mais de um ano tudo isso aqui estava debaixo d?água. O CAFF ficou três meses totalmente interditado. Agora, o mesmo Guaíba apareceu nas imagens de drone com o Mineirinho descendo a rampa. Essas imagens correram o mundo e o mundo viu o Rio Grande do Sul de outra forma. Não deixa de ser um símbolo da nossa reconstrução - diz a secretária, espécie de prefeita do CAFF e que tem a imagem do prédio tatuada no braço. _

Semana do Cérebro reunirá especialistas em Porto Alegre

Um congresso de médicos que deve lotar a rede hoteleira de Porto Alegre na semana do feriado de Corpus Christi de 2026 foi apresentado ao prefeito Sebastião Melo na sexta-feira pelos organizadores Eduardo Corrêa e Alessandro Irigoyen da Costa.

Trata-se da tradicional Brain Week, de 1º a 7 de junho. O diretor científico do Brain, neurologista André Palmini, acompanhou a audiência e falou da importância do evento.

A intenção dos organizadores é realizar eventos abertos à comunidade, aproveitando a presença em Porto Alegre dos maiores especialistas do mundo sobre temas ligados ao cérebro, sejam doenças ou comportamentos. _

Leite faz bloqueio na coluna em SP

Em São Paulo, Eduardo Leite precisou ser submetido a um procedimento de bloqueio em duas vértebras da coluna (lombar e cervical), para enfrentar as dores insuportáveis provocadas por hérnias de disco que o incomodam há vários anos. O procedimento durou três horas e foi realizado no Hospital Vila Nova Star, na sexta-feira.

No final da tarde, já com a dor sob controle, Leite embarcou para Buenos Aires, onde passará o final de semana na Feira Internacional de Turismo da América Latina.

De Buenos Aires, o governador seguirá para Brasília, a fim de assistir à posse do ministro Edson Fachin na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira. _

Esposa de Covatti Filho confirma filiação ao PP

A vereadora Nicole Weber Covatti, de Santa Cruz do Sul, anunciou oficialmente a intenção de filiar-se ao Progressistas (PP) - partido presidido no RS por seu marido, deputado Covatti Filho.

A confirmação da filiação da esposa de Covatti agitou a cidade de Santa Cruz, porque são conhecidas as divergências entre ela e a ex-prefeita Helena Hermany (PP). _

mirante

Será em Soledade o encontro nacional das mulheres do Partido Liberal com a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O evento está marcado para o dia 25 de outubro, às 8h.

O prefeito Volmir Rodrigues, de Sapucaia do Sul, foi convidado pela federação União Progressista a concorrer a deputado estadual.

O governador de Minas, Romeu Zema, confirmou presença no encontro do Novo, dia 4 de outubro, em Porto Alegre.

POLÍTICA E PODER

27 de Setembro de 2025
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

Expectativa pela nova análise do Porto Meridional

A administração do Porto Meridional, investimento privado de R$ 6 bilhões em Arroio do Sal, espera que o resultado da nova análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) saia ainda em outubro.

A aprovação é necessária para o lançamento de editais, e a realização de audiências públicas é a última fase do licenciamento, que culminará com a emissão da Licença Prévia, depois da Licença de Instalação, que permitirá o início das obras.

Em sua primeira análise, o Ibama considerou que o estudo de impacto ambiental não atendeu a todas as exigências e solicitou reformulações. Dois pontos criticados pelo órgão foram a falta de medidas para evitar a contaminação da Lagoa Itapeva durante a construção da ponte que ligará o porto à BR-101 e a capacidade da Rota do Sol, que necessitaria de melhorias.

O diretor jurídico do Porto Meridional, André Busnello, explicou que a questão da Rota do Sol não integra o escopo do licenciamento do porto, uma vez que o projeto não prevê intervenções na rodovia. Quanto à Lagoa Itapeva, novas amostras de qualidade da água e de níveis de ruído foram coletadas e encaminhadas ao Ibama.

- A partir do momento em que formos autorizados a publicar os editais para convocar as audiências públicas, temos um prazo de antecedência de 45 dias. Considerando a organização e a viabilidade de agenda, estimamos, com otimismo, a realização das audiências até a primeira quinzena de dezembro e, de forma mais realista, para a primeira semana de fevereiro. Já temos os compromissos assumidos e o modelo de negócio desenhado. O que precisamos agora é concluir o processo de licenciamento - afirmou Busnello.

Calado mais profundo

Quando pronto, o Porto Meridional será um dos terminais de calado mais profundo do país. Com 17 metros de profundidade, estará à frente do Porto de Santos, em São Paulo, um dos principais do Brasil, cujo calado atual varia entre 13 e 15 metros. A administração do empreendimento avalia que essa profundidade permitirá receber embarcações de grande porte, capazes de transportar volumes maiores de carga em uma única viagem. _

Apresentando a culinária do RS em Buenos Aires

O governo do RS participa, entre este sábado e terça-feira, da Feira Internacional de Turismo da América Latina (FIT), em Buenos Aires. Um dos diferenciais será a participação do chef Rodrigo Bellora, que promoverá a gastronomia gaúcha no evento.

Porém, o maior diferencial é que Bellora promete fugir do tradicional e apresentar a culinária de outra forma: unindo produtos tradicionais a inovações gastronômicas.

Os dois pratos criados pelo chef e sua equipe utilizam ingredientes de diferentes regiões e biomas do Estado. O primeiro, por exemplo, terá, representando a Serra, o pinhão; o Litoral, pelo siri da Lagoa dos Patos; o Pampa, pelos queijos; as Missões, pelo butiá; e os Vales, pela erva-mate.

Já o segundo prato conta com abordagem contemporânea que conecta o tradicional a técnicas atuais. Entre os ingredientes, está o urtigão - uma planta alimentícia não convencional (Panc) -, uma carne bovina do Pampa e a batata-crem, um tubérculo nativo e raro que resgata a agrobiodiversidade local.

Segundo o chef, a ideia é "fugir" da culinária tradicional, como o churrasco e o carreteiro, e apresentar outras abordagens, utilizando ingredientes locais:

- É mostrar que o Rio Grande do Sul tem todo esse potencial gastronômico. Acho que isso representa todos esses chefs criativos que hoje vêm fazendo um trabalho diferente no Estado, apresentando ingredientes que costumamos consumir sempre da mesma forma. Na feira, conseguimos mostrar outras facetas desses ingredientes e apresentar o RS de forma diferente.

Sobre a feira

A delegação gaúcha na FIT será liderada pelo governador Eduardo Leite e pelo titular da Setur, Ronaldo Santini, numa ação estratégica para estreitar os laços com o principal mercado emissor de turistas para o Estado.

Durante o evento, o Estado lançará a campanha de verão, que destaca as atrações das diferentes regiões. 

TJRS participa de homenagem ao presidente do Supremo

O presidente do Tribunal de Justiça do RS, desembargador Alberto Delgado Neto, participou na quinta-feira, em Brasília, da homenagem promovida pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e o Conselho de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil ao presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministro Luís Roberto Barroso, em razão do término do seu mandato.

- O ministro Barroso, que considero um dos maiores constitucionalistas mundiais, fez uma grande administração, comandando o Judiciário brasileiro em momentos muito difíceis no nosso país, atuando com muito equilíbrio e defesa firme do Estado democrático de direito - afirmou o desembargador. 

Pela primeira vez, Porto Alegre alcançou a marca de 30.195 crianças matriculadas na educação infantil do município. Segundo a pasta, o número de alunos matriculados em 2015 era de 23.956. Dez anos depois, o aumento representa crescimento de 26%.

Curso promove independência financeira de mulheres

O Centro Renascer da Esperança, que atua com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade na Restinga, em Porto Alegre, ampliou sua atuação para promover a autonomia financeira de mulheres.

A instituição iniciou turmas de corte e costura para alunas com idade entre 18 e 60 anos.

Segundo a fundadora do Centro Renascer da Esperança, a ex-gari Rozeli da Silva, o objetivo é fazer com que as mulheres da comunidade tenham autonomia para gerar a própria renda. À frente das turmas, está Cátia Fernanda Pinto, filha de costureira, que desempenha o ofício desde os 10 anos. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 20 de setembro de 2025



20 de Setembro de 2025
EDUCAÇÃO

Biblioteca na palma da mão

Kindles, leitores de livros digitais portáteis, passaram a ser disponibilizados para o público na Biblioteca Municipal Rui Barbosa, em Esteio, por meio de um projeto da prefeitura. A ação busca incentivar o hábito da leitura dos moradores do município, que podem ficar até 10 dias com o dispositivo

Um único aparelho virou guardião de diversos títulos que antes eram encontrados apenas nas prateleiras da Biblioteca Municipal Rui Barbosa, em Esteio, na Região Metropolitana. A nova aquisição do município são os Kindles, leitores de livros digitais portáteis. O projeto chamado Biblioteca na Palma da Mão estreou na cidade na última semana de agosto.

Com o objetivo de aumentar a frequência e a participação de jovens na cultura e modernizar a disponibilidade de leitura para a comunidade, o projeto surgiu como uma meta de renovação da biblioteca. A ação é destinada a moradores do município, que podem ficar por 10 dias com os aparelhos (detalhes ao lado).

O secretário de Cultura, Brayon Marques, conta que havia uma movimentação para que fosse criada uma iniciativa tecnológica para o espaço e que, após muitas pesquisas, surgiu a ideia de incluir um dispositivo de leitura dentro do plano:

- Começamos disponibilizando computadores para pesquisas, fizemos uma área kids com televisões e essa modernização. Dialogamos e pensamos em disponibilizar leitores de livros digitais, mas, com essas pesquisas, acabamos não achando isso em outros lugares. Então, pensamos que seria uma ideia inovadora.

Tendência

Brayon destaca que, a partir da definição do aparelho, foi realizado processo licitatório, e a empresa selecionada ofertou o dispositivo da marca Kindle, da Amazon. Ele comenta que a tecnologia comanda as tendências atualmente e que sua inserção em espaços públicos pode reaproximar a comunidade jovem dos espaços culturais para além da biblioteca, que fica junto à Casa de Cultura Lufredina Araújo Gaya.

- A ideia de retorno é que possamos trazer um novo público para dentro da Casa de Cultura, que seja um incentivo e que isso traga uma cidade melhor para todos - relata o secretário. _

*Produção: Josyane Cardozo

Uma porta de entrada

No comando diário do espaço em Esteio, a bibliotecária Flávia Petterson, 46 anos, está se adaptando à nova fase de empréstimo de livros.

Ela encara a iniciativa como uma "porta de entrada" para que um novo público se torne frequentador do espaço. Flávia relembra que o leitor digital foi escolhido por possuir uma série de vantagens, sendo a principal delas a acessibilidade.

A bibliotecária destaca que o aparelho possui um sistema de personalização que permite que o usuário altere a forma da fonte das letras, a iluminação, além de ser um dispositivo leve e de fácil transporte. A biblioteca adquiriu 10 aparelhos.

No momento, diz Flávia, a novidade está sendo buscada por adolescentes que, segundo ela, possuem mais afinidade com a tecnologia.

O público mais velho ainda realiza um consumo mais conservador ao buscar por livros físicos, mantendo uma "resistência a entender como funciona".

Quanto à usabilidade do aparelho, a organização da biblioteca está buscando alternativas, como oficinas que promovam o incentivo do uso dos Kindles:

- O público ainda não tem esse costume de lidar com tecnologia. A gente vê o uso do telefone para tudo, mas ainda há limitações. No Kindle, é tudo novo. Ainda temos pessoas mais tímidas com a navegabilidade, e ensinar será uma forma de incentivo do serviço.

Ampliação do acervo

O próximo passo é ampliar o acervo, que atualmente possui 25 livros digitais, e trazer mais obras de interesse da comunidade. Os títulos no catálogo digital contam com autores de literatura e obras pedagógicas. Flávia afirma que o acervo continua em processo de curadoria e estudo para entender o gosto dos leitores. _

Nova leitora

O primeiro empréstimo do leitor digital ocorreu em 12 de setembro e foi feito pela estudante Luiza Coitinho Nunes, 16 anos. Acompanhada de sua mãe, a aluna do 2º ano do Ensino Médio foi até a biblioteca e usou pela primeira vez o dispositivo. Ela conta que soube que o espaço realizaria os empréstimos e ficou animada:

- É algo moderno, chama muito a atenção da nossa geração. Eu fiquei feliz em saber que fui a primeira a retirar, porque, de certa forma, representa exatamente o objetivo do projeto. Aproximar a leitura dos jovens e mostrar que ela pode, sim, ser algo prazeroso.

Luiza comenta que o lado positivo de usar o dispositivo é a praticidade. Quando descobriu quantos livros poderia carregar na palma de sua mão, descreveu o momento como "uma experiência totalmente diferente" e que ficou com vontade de poder explorar cada vez mais o aparelho.

Maior alcance

- Acredito que, quanto mais jovens tiverem acesso a esse tipo de oportunidade, mais leitores apaixona­dos vão surgir. E espero de verdade que esse projeto cresça cada vez mais e alcance muitas pessoas - descreve a estudante.

Para poder retirar o Kindle, Luiza precisou da ajuda da mãe, Maria Alice da Silva Coitinho, 68 anos. A aposentada gostou da ideia de a filha levar o aparelho para casa. Ela comenta que percebe que os jovens possuem muitas distrações e acabam se afastando da leitura.

- O projeto vem para despertar novamente esse gosto pelos livros. Eu vejo, pela minha filha, o quanto ela ficou empolgada em ter o Kindle nas mãos, parece que abre uma porta - diz a mãe.

"Transformar o futuro"

Um ponto que Maria Alice destaca é que muitos jovens têm a vontade de ler, porém, não têm recursos financeiros ou direcionamento para começar, e que a iniciativa traz a acessibilidade e o atrativo para atingir a comunidade adolescente. Para a aposentada, o projeto de Esteio "pode transformar o futuro de muitos, pois o hábito da leitura se leva para a vida toda". 



20 de Setembro de 2025
EDUCAÇÃO

Biblioteca na palma da mão

Kindles, leitores de livros digitais portáteis, passaram a ser disponibilizados para o público na Biblioteca Municipal Rui Barbosa, em Esteio, por meio de um projeto da prefeitura. A ação busca incentivar o hábito da leitura dos moradores do município, que podem ficar até 10 dias com o dispositivo

Um único aparelho virou guardião de diversos títulos que antes eram encontrados apenas nas prateleiras da Biblioteca Municipal Rui Barbosa, em Esteio, na Região Metropolitana. A nova aquisição do município são os Kindles, leitores de livros digitais portáteis. O projeto chamado Biblioteca na Palma da Mão estreou na cidade na última semana de agosto.

Com o objetivo de aumentar a frequência e a participação de jovens na cultura e modernizar a disponibilidade de leitura para a comunidade, o projeto surgiu como uma meta de renovação da biblioteca. A ação é destinada a moradores do município, que podem ficar por 10 dias com os aparelhos (detalhes ao lado).

O secretário de Cultura, Brayon Marques, conta que havia uma movimentação para que fosse criada uma iniciativa tecnológica para o espaço e que, após muitas pesquisas, surgiu a ideia de incluir um dispositivo de leitura dentro do plano:

- Começamos disponibilizando computadores para pesquisas, fizemos uma área kids com televisões e essa modernização. Dialogamos e pensamos em disponibilizar leitores de livros digitais, mas, com essas pesquisas, acabamos não achando isso em outros lugares. Então, pensamos que seria uma ideia inovadora.

Tendência

Brayon destaca que, a partir da definição do aparelho, foi realizado processo licitatório, e a empresa selecionada ofertou o dispositivo da marca Kindle, da Amazon. Ele comenta que a tecnologia comanda as tendências atualmente e que sua inserção em espaços públicos pode reaproximar a comunidade jovem dos espaços culturais para além da biblioteca, que fica junto à Casa de Cultura Lufredina Araújo Gaya.

- A ideia de retorno é que possamos trazer um novo público para dentro da Casa de Cultura, que seja um incentivo e que isso traga uma cidade melhor para todos - relata o secretário. _

*Produção: Josyane Cardozo

Uma porta de entrada

No comando diário do espaço em Esteio, a bibliotecária Flávia Petterson, 46 anos, está se adaptando à nova fase de empréstimo de livros.

Ela encara a iniciativa como uma "porta de entrada" para que um novo público se torne frequentador do espaço. Flávia relembra que o leitor digital foi escolhido por possuir uma série de vantagens, sendo a principal delas a acessibilidade.

A bibliotecária destaca que o aparelho possui um sistema de personalização que permite que o usuário altere a forma da fonte das letras, a iluminação, além de ser um dispositivo leve e de fácil transporte. A biblioteca adquiriu 10 aparelhos.

No momento, diz Flávia, a novidade está sendo buscada por adolescentes que, segundo ela, possuem mais afinidade com a tecnologia.

O público mais velho ainda realiza um consumo mais conservador ao buscar por livros físicos, mantendo uma "resistência a entender como funciona".

Quanto à usabilidade do aparelho, a organização da biblioteca está buscando alternativas, como oficinas que promovam o incentivo do uso dos Kindles:

- O público ainda não tem esse costume de lidar com tecnologia. A gente vê o uso do telefone para tudo, mas ainda há limitações. No Kindle, é tudo novo. Ainda temos pessoas mais tímidas com a navegabilidade, e ensinar será uma forma de incentivo do serviço.

Ampliação do acervo

O próximo passo é ampliar o acervo, que atualmente possui 25 livros digitais, e trazer mais obras de interesse da comunidade. Os títulos no catálogo digital contam com autores de literatura e obras pedagógicas. Flávia afirma que o acervo continua em processo de curadoria e estudo para entender o gosto dos leitores. _

Nova leitora

O primeiro empréstimo do leitor digital ocorreu em 12 de setembro e foi feito pela estudante Luiza Coitinho Nunes, 16 anos. Acompanhada de sua mãe, a aluna do 2º ano do Ensino Médio foi até a biblioteca e usou pela primeira vez o dispositivo. Ela conta que soube que o espaço realizaria os empréstimos e ficou animada:

- É algo moderno, chama muito a atenção da nossa geração. Eu fiquei feliz em saber que fui a primeira a retirar, porque, de certa forma, representa exatamente o objetivo do projeto. Aproximar a leitura dos jovens e mostrar que ela pode, sim, ser algo prazeroso.

Luiza comenta que o lado positivo de usar o dispositivo é a praticidade. Quando descobriu quantos livros poderia carregar na palma de sua mão, descreveu o momento como "uma experiência totalmente diferente" e que ficou com vontade de poder explorar cada vez mais o aparelho.

Maior alcance

- Acredito que, quanto mais jovens tiverem acesso a esse tipo de oportunidade, mais leitores apaixona­dos vão surgir. E espero de verdade que esse projeto cresça cada vez mais e alcance muitas pessoas - descreve a estudante.

Para poder retirar o Kindle, Luiza precisou da ajuda da mãe, Maria Alice da Silva Coitinho, 68 anos. A aposentada gostou da ideia de a filha levar o aparelho para casa. Ela comenta que percebe que os jovens possuem muitas distrações e acabam se afastando da leitura.

- O projeto vem para despertar novamente esse gosto pelos livros. Eu vejo, pela minha filha, o quanto ela ficou empolgada em ter o Kindle nas mãos, parece que abre uma porta - diz a mãe.

"Transformar o futuro"

Um ponto que Maria Alice destaca é que muitos jovens têm a vontade de ler, porém, não têm recursos financeiros ou direcionamento para começar, e que a iniciativa traz a acessibilidade e o atrativo para atingir a comunidade adolescente. Para a aposentada, o projeto de Esteio "pode transformar o futuro de muitos, pois o hábito da leitura se leva para a vida toda". 


20 de Setembro de 2025
A MÚSICA DO RIO GRANDE

A MÚSICA DO RIO GRANDE

A Música do Rio Grande

Membros do júri analisam o desfecho da votação

Ativistas da cultura gaúcha e comunicadores

destacam a importância das canções selecionadas. Para Lucas Negri, a maioria é praticamente uma declaração de amor ao pago e enaltece a força dos festivais nativistas. "É uma playlist obrigatória", define o jornalista Giovani Grizotti

William Mansque

Nos últimos 10 dias, o especial multimídia A Música do Rio Grande promoveu 10 clássicos absolutos do regionalismo. Para os votantes, o resultado mostra a riqueza do nosso cancioneiro e reforça a identidade local.

O comunicador e apresentador do Galpão da Gaúcha José Alberto Andrade ressalta que está bem desenhado o perfil do gaúcho nestas 10 músicas.

Segundo Zé Alberto, essas composições exaltam a terra, os costumes, as relações humanas e reafirmam imagens do homem do campo ou a agrura daqueles que um dia o abandonaram.

Ele sublinha a importância da música mais votada, Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, de Leonardo (1938-2010):

- Sem querer entrar em polêmicas, aqui está uma canção mais bela e mais significativa do que o próprio Hino Rio-Grandense. Leonardo criou uma verdadeira oração para quem tem amor pelo Rio Grande do Sul. Recentemente, a tragédia da enchente apenas ratificou esse hino gaúcho.

A potência dos eventos

O comunicador e autor na plataforma Linha Campeira Lucas Negri destaca que a maioria das músicas é praticamente uma declaração de amor ao pago.

- Outra coisa que me chama a atenção é a força dos festivais: seis das 10 músicas da lista são oriundas dos eventos nativistas - acrescenta Lucas. - Uma coisa interessante é que temos uma mescla de compositores de várias regiões do Estado, mas senti falta da região missioneira aqui no meio.

Que venham outros

O jornalista e autor da página Repórter Farroupilha Giovani Grizotti destaca que as finalistas formam uma playlist obrigatória para todos os gaúchos. Porém, ressalta o fato de a música mais recente do top 10 ter 28 anos - Batendo Água, composição de Gujo Teixeira e Luiz Marenco:

- Nosso desafio como ativistas da cultura gaúcha e comunicadores é tentar fazer com que outras músicas atinjam este patamar. E se eternizem.

Uma mexida na história

Por sua vez, Gujo celebra o reconhecimento de Batendo Água. Para o poeta e compositor, foi uma honra ter a sua arte lembrada em um grupo tão seleto de pessoas. Sobre o resultado, ele reflete:

- Acho que o especial deu uma mexida na história da música gaúcha, porque muitos talvez não lembrassem de certas canções e foram ouvir. Eu mesmo fazia muitos anos que não ouvia Negrinho do Pastoreio. Isso é um espetáculo. _


20 de Setembro de 2025
CARPINEJAR

Vermelho de vergonha no T2

O T2 é uma linha de transporte coletivo das mais longas de Porto Alegre, da Zona Norte à Zona Sul, fugindo do Centro, ligando Petrópolis a Navegantes. Veio a ser meu ônibus predileto para grandes percursos, pois eu só gastava uma passagem para atravessar a cidade. Embarcava na parada da Carlos Gomes.

Num domingo, eu me dirigia até a Barão do Amazonas. Visitaria um colega para fazer trabalho de geografia e montar as cartolinas (com moldes vazados de letras) da apresentação sobre savanas, que aconteceria na manhã seguinte.

Absolutamente distraído com o calendário esportivo do rival, eu me fardei com a camiseta do Internacional, que tinha vencido no dia anterior. Subi no ônibus vazio pela porta de trás - nos anos 1980, era assim. De repente, começou a entrar uma multidão de torcedores gremistas.

Suei frio, vermelho de vergonha. Cometi uma gafe indesculpável na sobrevivência Gre-Nal da capital gaúcha. Não percebi que o veículo passaria pela Azenha, onde se encontrava o Olímpico. Não me atentei para o horário do jogo do Tricolor.

A turba exibia dotes eufóricos de uma escola de samba, batucando o teto e batendo os pés com os hinos das arquibancadas. A cada curva, jurava que viraríamos. Uma trepidação terrível. Ouvia-se um "oh" de quem gostava da emoção do embalo.

Atravessei a catraca e sentei na janela. Busquei ser invisível, como se pudesse desaparecer por telepatia, fingindo que admirava a paisagem. Mas um engraçadinho logo apontou para mim:

- Olha um colorado cara de pau aqui. A massa desandou a gritar: - Tira, tira, tira! Achei que queriam me enxotar dali. Porém, o apelo se mostrava ainda mais constrangedor: exigia um striptease.

Criou-se uma roda ao meu redor, tornando-me alvo de xingamentos e brados intermináveis. Uma verdadeira chuva de perdigotos.

O líder me puxou pelo braço, eu me converti em cabo de guerra, empurrado de um lado para o outro, sem ter como me equilibrar ou me apoiar na barra. O povo enlouquecido agarrava a minha gola. Esticava o tecido. Tentava rasgá-lo no meu próprio corpo.

- Tira, tira, tira! Não sobrou alternativa senão tirar, e permanecer de peito nu na viagem. Houve uma comemoração de gol. Não esperava o sadismo do cobrador. Ele me observou, refém da situação, indefeso, e não sentiu pena de mim, nem um pouquinho de compaixão da tocaia, apenas ordenou:

- Não dá para ficar no ônibus sem camiseta. Desce!

Fui obrigado a obedecer, e realizar o resto do trajeto a pé. Saí cambaleando nos degraus, segurando com firmeza o meu manto com a mão, todo esfarrapado, evitando que os torcedores o arrancassem de mim - não duvidava que acenderiam uma fogueira com ele ali mesmo.

Eles cantavam, debochados: "Até a pé nós iremos para o que der e vier?". Com a minha saída forçada, houve a comoção do segundo gol. Já parecia ovação de título.

Na época, tinha a certeza de que aquele cobrador era gremista. Eu berrava para ele: - Sacana! Hoje, com o distanciamento da lembrança, penso que ele era colorado e inventou um artifício para me salvar. _

CARPINEJAR

20 de Setembro de 2025
COM A PALAVRA - Michael Rich

Professor associado na Harvard Medical School (EUA)

"Não devemos proibir totalmente os celulares nas escolas"

Professor associado na Harvard Medical School, Michael Rich é reconhecido por seu trabalho como pediatra e pesquisador de saúde infantil. O norte-americano é um dos convidados do 17º Congresso Brasileiro de Adolescência, que se encerra neste sábado, em Porto Alegre

Fernanda Polo

Você sustenta que o uso problemático de smartphones, tecnologia e internet por crianças e jovens é muito mais sintoma do que causa de condições como TDAH, ansiedade social, autismo ou depressão. Por quê?

A razão pela qual digo isso é porque já atendemos centenas de crianças na Clínica de Mídia Interativa e Distúrbios da Internet do Hospital Infantil de Boston. Todos eles chegaram com problemas com jogos, redes sociais, pornografia ou até mesmo o que chamamos de compulsão informativa, que são os vídeos intermináveis do YouTube, Reddit, Quora. E, curiosamente, ainda não encontramos nenhum que não tivesse um desses motivadores psicológicos para esses comportamentos. Concordo plenamente com Jonathan Haidt (autor de A Geração Ansiosa) que essas condições se exacerbam, aceleram e amplificam no ambiente digital. Mas não acho que o ambiente digital esteja causando isso. 

Eu também, francamente, concordo plenamente com a premissa de que as crianças não estão brincando o suficiente. Que elas estão substituindo as brincadeiras por celulares. A diferença é que não devemos ter medo de celulares. Quero trazer a responsabilidade do jovem ou da família que o cerca, para realmente ajudá-los a entender como usar essas ferramentas poderosas de maneiras eficazes, conscientes e saudáveis. E esta é uma das razões pelas quais acredito que não devemos proibir totalmente os celulares nas escolas. Mas as escolas deveriam ensinar as crianças a usar esses celulares de forma eficaz, assim como ensinamos a usar computadores ou até mesmo lápis e papel. Porque se não as ensinarmos, elas aprenderão sozinhas. E será uma anarquia completa, como está agora.

Quais são as maiores preocupações em relação ao uso da tecnologia por crianças e adolescentes hoje?

Estamos seguindo três alvos móveis: o desenvolvimento humano desde a infância até a idade adulta; o ecossistema digital em constante e rápida evolução que está afetando esse desenvolvimento e o refletindo; e a mudança de todo o nosso comportamento, porque temos smartphones em nossos bolsos ou wearables e estamos constantemente em contato. Uma das preocupações que tenho de forma bastante pontual agora é o surgimento da IA, em particular em que você pode criar um bot de bate-papo ou um avatar e fazê-lo interagir com você. A IA é muito, muito inteligente, mas não tem empatia, não tem senso de compaixão humana. 

O que ela substitui por isso é a bajulação, ela diz o quão inteligente você é, maravilhoso, bonito. E o que acontece é que os jovens se apaixonam pelos bots de bate- papo de sua própria criação. E isso ensina que relacionamentos são fáceis, que é apenas alguém que te adora, não importa o que aconteça. Temos que lembrar que os jovens ainda estão em transição da infância, do pensamento mágico de que a fantasia é tão poderosa como a realidade, mas eles ainda precisam desenvolver um conjunto completo de funções executivas, como controle de impulso e pensamento futuro, que eles não desenvolverão até meados ou final dos 20 anos.

Você não vê apenas pontos negativos nos celulares e na internet. Quais são os benefícios?

Uma das razões pelas quais estou preocupado em não proibirmos as crianças de usar a internet ou os celulares é que existem muitos subgrupos que são historicamente marginalizados. Crianças LGBT+, de diferentes raças, etnias, religiões, que não têm um grupo físico com o qual se identifiquem ou uma tribo, podem encontrar seu povo online, pessoas online que os veem, os ouvem, os afirmam e até os amam. E isso é algo que não queremos perder. Queremos poder apoiar isso, porque é uma das grandes coisas que a internet fez. A internet também ajudou na saúde física quando as pessoas a usam da maneira certa, com suas maneiras de organizar atividades físicas ao ar livre entre si. Mas precisamos ajudá-los a usar essas ferramentas como ferramentas, e não como um fim em si mesmo.

Você defende mínimos diários sem tela.

Com certeza. Acho que é muito mais fácil fazer isso intencionalmente do que contar o tempo de tela. Porque sim, existem aplicativos no seu celular que informam quanto tempo de tela você passa no seu celular, mas não quanto tempo você passa no seu laptop, no seu tablet, na televisão e nas telas que estão em todos os ambientes em que vivemos. Então, acho que precisamos passar tempo uns com os outros, cara a cara, na natureza, no ambiente em que vivemos.

Quais tratamentos são recomendados na Clínica para Transtornos de Mídia Interativa e Internet?

O mais importante é identificar com o jovem qual é a sua dor. Geralmente, quando ele chega, os pais o arrastam e dizem que ele está jogando videogame o tempo todo. E a criança diz: "Ah, todo mundo faz isso. Qual é o problema?" Muitas vezes pergunto às crianças qual é a sua dor e elas dizem que é a mãe ou o pai. Uma das coisas que eu faço é pedir aos pais que parem de policiar e comecem a apoiar o sucesso. Em outras palavras, pare de ficar dizendo para desligar o vídeo e isso e aquilo, e apoie o uso desses dispositivos para fazer a lição de casa, pesquisar, aprender sobre o mundo. O garoto chega e espera que eu basicamente passe uma receita ou me livre do Xbox ou do smartphone. 

E o que fazemos é ajudá-los a estruturar o dia e a estarem atentos sobre como eles usam seu tempo para reconhecer que não existe multitarefa, que nosso cérebro humano só funciona em um canal por vez e que estamos trocando rapidamente de tarefa quando achamos que estamos fazendo multitarefa. Nós os encorajamos a, conscientemente, se afastarem das telas por um tempo, mas não dizemos para pararem. Uma das coisas que as motiva não é apenas o medo de perder algo, que todos nós temos, mas o que eu chamo de medo de ser deixado de fora. Acho que, muitas vezes, é muito útil para as crianças se uma comunidade escolar ou qualquer outra puder se reunir e decidir: todos nós vamos ficar offline a partir de um certo momento. Embora eles não consigam imaginar desistir sozinhos, quando você faz isso em grupo, é bem possível.