
Os demônios
Mentes perturbadas têm comportamentos semelhantes. No livro O Demônio da Cidade Branca, H. H. Holmes chama atenção do mundo pela frieza e método. Depois se entendeu que aquele seria o primeiro serial killer conhecido na história. Construiu em Chicago, durante a Feira Mundial de 1893, um hotel que era, na prática, um castelo da morte. Passagens secretas, câmaras de gás, mesas de dissecação e crematório estavam escondidos no prédio. Enquanto todos viam Chicago nascer e mostrar a modernidade ao mundo, Holmes arquitetava seus crimes e ao mesmo tempo aparecia como homem importante na sociedade norte-americana.
Poderia citar mais dezenas de casos de crimes e criminosos que ficaram conhecidos porque, não satisfeitos em matar, querem causar, chamar atenção, provocar as autoridades e a sociedade. Depois de começar o ano sob os holofotes do caso do bolo envenenado, o Rio Grande do Sul viu nos últimos dias outro caso macabro. O da mala. O primeiro saco com restos de um corpo encontrado na rua parecia mais um recado entre facções ou manchete de um jornal mexicano de cidades onde as pessoas são esquartejadas também no ciclo dos cartéis. O complemento seria ainda mais horroroso, com o cheiro forte chamando atenção para uma mala deixada na rodoviária de Porto Alegre e o encontro de outras partes de um cadáver feminino.
Os cortes precisos indicavam alguém experiente na área da saúde. Ou com uma mente diabólica que sabe usar a técnica para o mal. Os próximos detalhes são estarrecedores. A polícia seguiu as câmeras de segurança e chegou ao homem de boné, máscara cirúrgica e luvas que carregou a mala. Tudo cuidadosamente planejado.
Como se não fosse o bastante, o criminoso identificado tinha outro horror no currículo. Matou a própria mãe, mandou fazer um móvel e concretou o corpo no apartamento onde moravam. Foi condenado a 28 anos de prisão por isso. Se estivesse cumprindo a pena, não teria matado a mulher da mala. Mas teve brecha na lei, na interpretação, no bom comportamento e na falta de vaga no sistema carcerário. O assassino voltou para o convívio e para outra cena de crime que ele criaria.
O homem, Ricardo Jardim, um publicitário que circulava como bem entendia até ser novamente preso nesta semana pelo crime mais recente do qual temos notícia. Ele não é um personagem de novela, mas alguém que circulava entre nós, atravessando ruas, tomando cafés, ocupando o espaço da cidade como qualquer outro. Até fazer mais uma vítima. Até ser descoberto pela Polícia Civil.
Resta agora saber se dessa vez seguirá preso ou se pelo bom comportamento na cadeia poderá mais uma vez cometer crimes em liberdade. O demônio pode estar na próxima esquina. _
ANDRESSA XAVIER
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