sábado, 12 de junho de 2021


12 DE JUNHO DE 2021
J.R.GUZZO*

Um crime contra o país

O Supremo Tribunal Federal tem se mostrado cada vez mais como protetor do crime no Brasil. O ministro Edson Fachin proibiu os voos de helicóptero da polícia sobre as favelas do Rio de Janeiro; o único direito que ficou garantido, no caso, foi o dos criminosos, que agora estão protegidos de ações policiais capazes de revelar suas posições no território que ocupam. O ministro Marco Aurélio soltou um dos maiores traficantes de droga do país; o homem fugiu no ato, e nunca mais foi encontrado.

Agora é a vez da ministra Rosa Weber, que deu ao governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), um dos políticos brasileiros mais enrolados com suspeitas de corrupção no uso de verbas públicas no combate à covid-19, o privilégio de não ser interrogado nesse picadeiro de circo que “investiga” a pandemia no Brasil.

A ministra Weber deu um argumento espantoso para a sua decisão: o governador, segundo ela, não pode sofrer “constrangimentos” na CPI da Covid. Por que não? Só porque está metido na operação Sangria da Polícia Federal? Só porque precisa esconder as responsabilidades diretas do governo do Amazonas no sinistro colapso do fornecimento de oxigênio em Manaus?

Todos os inimigos do presidente da CPI, do seu relator e da bancada da esquerda que controla os chamados “trabalhos” têm sido insultados em público, das formas mais grosseiras que se possa imaginar, pelos inquisidores. Ninguém, no STF ou em qualquer outra entidade de oposição ao governo, se lembrou até agora de mexer uma palha em favor dos seus direitos. Por acaso eles não estão sendo constrangidos da maneira mais agressiva, cínica e desleal em seus interrogatórios? Por que o governador do Amazonas não pode ser constrangido, mas a dra. Mayra Pinheiro pode?

Há desculpas vagas de que ouvir o governador na CPI poderia ferir a “independência de poderes”. Como assim?

Alega-se, também, que o governador do Amazonas está sendo investigado pela polícia e, se fosse ouvido na CPI, poderia incriminar a si mesmo. Um administrador minimamente honesto não teria problema nenhum em responder a qualquer pergunta, na CPI ou onde for. Se não fez nada de errado, por que está se escondendo? 

Quanto à possibilidade de “incriminação”, estamos diante de uma piada vulgar. Não é exatamente esse o propósito declarado dos donos da CPI – incriminar os adversários?

Desde o seu primeiro dia, essa CPI tem sido um espetáculo inédito, mesmo para os padrões de safadeza da vida política brasileira, em matéria de hipocrisia, de desrespeito ao público e de desonestidade em estado bruto. Como definir esta aglomeração, quando o presidente da CPI é um político desse mesmíssimo Amazonas, envolvido nas piores denúncias de roubalheira na área da saúde?

É óbvio que o STF está agindo e vai agir como aliado vital dessa gente. Seu objetivo e seus interesses têm sido os mesmos – governar o país sem a necessidade de ganhar eleições.

J.R. GUZZO*

12 DE JUNHO DE 2021
CARTA DA EDITORA

Parceria com universidades

Aprendemos na profissão que expor os problemas que afetam uma comunidade é papel primordial do jornalista. E, de fato, é. Mas não basta.

Há pelo menos um ano que a Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho vem perseguindo o que chamamos de Jornalismo de Soluções. Nada mais é do que levar a prática da reportagem para além da apuração tradicional. Apresentar o problema, mas também focar na resolução, no enfrentamento da questão e, em última instância, no desenvolvimento da sociedade.

Com o objetivo de intensificar essa prática, recentemente fizemos parcerias com universidades públicas e privadas do RS, instituições que têm conhecimento acumulado e trabalhos extensos de pesquisa. Dessa união de esforços já resultaram reportagens como a que mostra o projeto de revitalização de trecho do Arroio Dilúvio, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e o Núcleo de Tecnologia Urbana (NTU) da UFRGS, a iniciativa da Universidade Federal de Santa Maria, que transforma produção de flores em fonte de renda adicional a famílias no Estado, e o trabalho da Universidade de Ijuí, que oferece sessões gratuitas de fisioterapia para quem passou por quadro grave da covid-19.

O editor Leandro Fontoura explica como lidamos no dia a dia com as pautas focadas em Jornalismo de Soluções:

- Costumamos discutir na Redação: "Identificamos um problema no Rio Grande do Sul? Vamos apurar! Mas será que em algum lugar do Brasil ou no Exterior alguém já conseguiu resolver dificuldade semelhante? Como foi feito? O que dizem os especialistas no assunto? Que saídas sugerem? Como poderiam ser aplicadas aqui?

A editora Rosângela Monteiro lembra que diversas iniciativas que ganham destaque nas páginas do jornal e em GZH depois têm seu alcance ampliado. Foi o caso da reportagem sobre o projeto de combate à pobreza menstrual, que reuniu mais de 3 mil absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade, liderado pela PUCRS. A professora Camila Henz, coordenadora docente da Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia da PUCRS (Ligo), notou um aumento no número de pessoas que entraram em contato querendo contribuir. Um exemplo foi uma associação de mulheres empreendedoras, que quer fazer uma doação de mil absorventes. Outro foi o de uma vereadora do Interior, que planeja fazer um projeto semelhante na cidade.

- O Jornalismo de Soluções é isso: foca em como contornar as dificuldades. Então, em vez de só apontar como a pandemia trouxe transtornos para a saúde mental da população, apresentamos serviços que podem auxiliar quem está sofrendo com isso. A parceria com as universidades tem sido muito produtiva - diz Rosângela.

Em GZH o assinante de Zero Hora pode ler todas as reportagens que temos feito com foco em Jornalismo de Soluções.
DIONE KUHN

sábado, 5 de junho de 2021


05 DE JUNHO DE 2021
MARTHA MEDEIROS

Bom-tom

No livro de ensaios de Ana Karla Dubiela, As cidades de Rubem Braga e W. Benjamin, encontrei uma crítica de Rubem Braga a uma reportagem da antiga revista Manchete que mostrava as "10 mais elegantes de 1967" e que assim foram analisadas por nosso cronista maior: "Que aura envenenada lhes tirou o encanto, e as deixou ali tão enfeitadas e tão banais, tão pateticamente sem graça, expostas naquelas páginas coloridas como risíveis manequins em uma vitrine de subúrbio?". Ana Karla complementa: aquelas mulheres que um dia representaram o símbolo de perfeição e encantamento burgueses, que romantizavam a riqueza e o desnível social, agora denunciavam, em seus rostos caricaturais, a decadência de um tempo.

Quase posso visualizar a foto das madames, idêntica a tantas outras que costumavam ser publicadas nas colunas sociais, na distante época em que ter "berço" ou um sobrenome de peso justificava o destaque. Mas a roda gira e esse tipo de jornalismo acabou. Foi substituído pela valorização de pessoas que alcançam prestígio por razões mais consistentes do que ter uma herança a caminho ou uma plástica bem-feita: ganha foco, hoje, os que contribuem para a sociedade através de suas habilidades, talentos, ideias. Nem é obrigatório um sobrenome; o apelido, às vezes, basta.

No vácuo, coube às redes sociais continuarem a dar uma forcinha para a vaidade sem motivo, com a vantagem de agora ninguém mais depender de um colunista social e de um fotógrafo para aparecer: é só tirar uma selfie, escrever a legenda e postar em sua própria página. Cada um de nós tem uma Ilha de Caras para chamar de sua.

A egotrip é uma tentação, eu sei. Por mais que se tente oferecer algum conteúdo aos seguidores, é difícil resistir e não postar aquela foto "de revista", em que você está segurando uma taça de champanhota ao lado de 15 amigas durante o entardecer, em um coquetel à beira do Mediterrâneo. É de bom-tom? Consultas com a especialista em etiqueta virtual Keila Mellman, personagem oportuníssima da atriz Ilana Kaplan, e com a blogueirinha do fim do mundo, personagem da perspicaz Maria Bopp que, com sua ironia crítica, atinge em cheio a turma dos sem noção.

Ter nascido rico e lindo não é crime, ninguém precisa se atirar do alto da pirâmide. Porém, estamos em 2021: ostentar é cafona, aglomerar é perigoso e a insensibilidade diante do momento presente não é de bom-tom. Em caso de dúvida, siga Ilana e Maria, gurus da inteligência e do humor em tempos de pandemia - sim, ainda estamos no meio de uma pandemia e o item mais elegante do vestuário deixou de ser a bolsa de grife e o blazer de cetim de seda com estampa de leopardo, e sim a boa e indispensável máscara. E uma camiseta regata para facilitar a aplicação da vacina. No aqui e agora, gente com tutano é que está entre as 10 mais.

MARTHA MEDEIROS

05 DE JUNHO DE 2021
LYA LUFT

Escolhas

Sempre nos ensinam que a vida depende em boa parte de escolhas nossas. Isso também "depende". Pois, se nasço branco e rico, negro e pobre, branco e doente, negro e saudável, oriental e talentoso, oriental e enfezado, se nasço no Norte mais pobre ou no Sul mais progressista, aqui no estranho Brasil ou em algum lugar muito carente da África mais remota, se meu pai é inuit num dos polos ou banqueiro em Nova York, e assim por diante, digamos que a minha escolha não há de pesar tanto.

Essa é a base. Mas depois, aí vem o dilema - porque a gente não gosta de dilemas, que provocam escolhas. Depois das condições, não escolhidas, em que nascemos, vem um longo trajeto em que podemos seguidamente tomar decisões: droga ou trabalho, estudo ou boa vida, honra ou malandragem, afeto ou futilidade... enfim. Nada é perfeito.

Escolhas são aflição. Ofereçam ao seu pet um biscoito e um naco de carne, e ele poderá hesitar, perplexo: animais de estimação têm expressões assustadoramente humanas. Para os humanos, as escolhas são as mais diferentes e até absurdas: que roupa usar, no meu closet do tamanho de um bom quarto normal? Que arma vou usar no próximo assalto? Quem vou assaltar? O que vou comprar com o dinheirinho que me resta: remédio ou comida? Para onde devo me mudar? Por que me mudar?

Ainda falando de gente: existe um número imenso de alunos e professores que preferem uma aula bem digerida, nada de provocações por parte do mestre, pois os alunos podem exercer sua perigosa inteligência, sua inquietante liberdade, e argumentar, discutir... Talvez sejamos simplesmente preguiçosos, comodistas, lerdos. Queremos boa vida, nada de caminho pedregoso ou esburacado, nada de pais que impõem limite, professores ou patrões exigentes.

Pode ser delicioso ser filhinho do papai ou da mamãe, e não me refiro só à casa paterna, mas à vida em geral, também à profissão, aos estudos. Escolher é muito chato. Mas a vida não dá colo: passa muita rasteira, exige humildade, personalidade e resistência. Por outro lado - isso me provaram muitos jovens e alunos -, que alegria descobrir o próprio poder de decisão.

Crescer dói, e não só nos ossos infantis com a dita "dor de crescimento". Dói na alma: "viver é lutar", disse o poeta brasileiro ao filho, e é, sim. Mas tem umas compensações, como perceber que não somos totalmente ignorantes, incapazes e dependentes. Descobrir que nosso trabalho, por mais simples que seja, tem importância, isto é, nós temos importância. Descobrir que somos necessários também para pessoas que nos amam, amigos, família, parceiros. 

Talvez essa seja a base de todo tipo de felicidade, que para mim é sentir-se bem na própria pele - mesmo fora dos grandes entusiasmos policromados: saber-se apreciado, profissional ou pessoalmente. E todos somos. Nem precisam ser coisas grandiosas, ao contrário: o bom, o positivo, pode ser muito pequeno, e ainda assim essencial, como permitir-se ser amado, ser estimado, ser escolhido, ser eficiente. Mesmo que apenas (apenas?) para limpar a rua, trocar a atadura, estimular alguém, fazer alguém pensar por si, e saber-se capaz de fazer suas próprias escolhas.

Crônica pulicada originalmente em 1º de abril de 2017

LYA LUFT

05 DE JUNHO DE 2021
CLAUDIA TAJES

Carta para mim no inverno passado

E aí, amizade, tudo magiclick? Pensei em começar esta missiva - por certo que estamos quase extintos, nós, os que chamamos cartas de "missivas" - com um caríssima, excelentíssima, digníssima, ilustríssima, mas tu, que te conhece tanto quanto eu, poderia achar o tratamento exagerado. "Amizade" nos cai melhor, ainda que, algumas vezes, olhando para a gente em retrospectiva, eu nem sei se seríamos amigas. Sendo bem sincera, não concordo com muita coisa que tu aprontou ao longo dos tempos. Mas deixa para lá, não quero que a mágoa manche esta epístola. Será que, fora da Bíblia, alguém chama carta de "epístola"?

Também te peço desculpas por não conjugar a segunda pessoa corretamente. Cada vez que tento escrever "fizeste" ou "conseguiste", sinto que estou traindo meu mais de meio século de porto-alegrês. Poderia facilitar tudo se te chamasse por "você", mas essa formalidade, entre nós duas, seria ainda mais inaceitável do que o meu português capenga. Sei que tu vai me entender.

Pensei em te escrever para contar as novidades desde o último inverno. Bem verdade que não tem novidade alguma, já que eu continuo dentro de casa, como tu em junho do ano passado. A diferença é que tu ainda achava que logo a coisa entraria nos eixos, e fazia planos de trabalho, de viagem, de vida. Já eu aceitei que, tão cedo, ninguém vai sair dessa. Não sem vacina e sem uma política de saúde decente. Invejo a tua esperança de junho passado. Sem ela, sinto que envelheci muito mais do que um ano, nesse longo ano.

O primeiro frio de 2021, adivinha, rengueou a cusca aqui. Saudade dos nossos últimos invernos no Rio de Janeiro. Casaco, só no metrô ou no cinema, para não sofrer uma hipotermia com o ar-condicionado que os cariocas mantêm em temperaturas patagônicas. Nas poucas vezes em que tu saiu de botas - só por vontade de usar botas -, botou o sarampo para fora. Já eu estive em Bagé e não lembro de me encarangar tanto.

Nosso filho diz que a mente humana esquece as friacas passadas, como se uma desmemória quentinha apagasse a sensação desagradável. Daí, quando o inverno volta, sempre parece a primeira vez. Mas sabe o que não dá para apagar? Esse tanto de gente que está morando na rua. Dói andar pelo centro de Porto Alegre e ver que os degraus viraram casa, as marquises mais disputadas do que nunca. São muitos os que perderam tudo nesse ano desgraçado de desemprego, crise e doença. Se não fossem as iniciativas particulares, pessoas e organizações que distribuem comida, cobertas, remédios, a população de rua teria ainda menos. Se tu achava que a situação já estava no limite no ano passado, te surpreenderia com o quanto esse limite ainda está longe. É o que temos, com esses desgovernantes que não dão a mínima para a vida.

Em todo caso, para não dizer que vim aqui só para falar de tristezas, queria te contar que comecei um livro novo. Não posso dizer que vem coisa boa por aí, a exemplo dos colegas que anunciam suas futuras glórias, mas alguma coisa vem. E mesmo que não seja boa, ao menos estou reagindo. Isso tu já falava, desde o ano passado: sem reagir, a gente cai. Seguimos na luta, companheira.

Quando esquentar, te mando uma nova missiva, espero que já vacinada, certamente reclamando do bafo de Porto Alegre.

Essas temos sido nós.

CLAUDIA TAJES

05 DE JUNHO DE 2021
DRAUZIO VARELLA

VÍRUS E HOMENS

Um prosaico espirro carrega 40 mil gotículas de secreção, numa velocidade que pode atingir 300 km/h. Dependendo da inclinação do jato em relação ao solo, o spray percorre mais de 10 metros.

Se você estiver resfriado, cada gotícula conterá 200 milhões de unidades do vírus. Se um nariz incauto for alcançado na trajetória de uma delas, os vírus penetrarão e se multiplicarão no interior das células das mucosas nasais, liberando trilhões de cópias de si mesmo que infectarão em cadeia as células da vizinhança.

Se você fosse um dos vírus do resfriado, seria capaz de engendrar estratégia de sobrevivência mais inteligente?

Essa estratégia não é a única que os vírus encontraram para sobreviver no corpo humano. Na fase aguda, o herpes simples provoca pequenas bolhas nos lábios, nos genitais ou na pele. Assim que o sistema imunológico consegue contê-lo, as lesões cicatrizam, mas o vírus persiste para sempre, refugiado no interior de estruturas existentes nos nervos periféricos, à espreita de condições propícias para contra-atacar.

O mesmo acontece com o vírus da varicela (catapora) adquirido na infância, que sobrevive no organismo durante décadas, para emergir sob a forma de herpes zóster ao 70 anos de idade.

Há, ainda, aqueles que permanecem à espera de uma debilidade do sistema imunológico para se manifestar. É o caso do vírus causador do sarcoma de Kaposi em pessoas com aids, e daqueles associados a diversos tipos de câncer (HPV, EBV e outros).

Quando um vírus invade o organismo humano, terá três destinos:

1) Provocará uma infecção tão grave que levará o hospedeiro à morte. Matar a galinha dos ovos de ouro não é boa ideia: gente morta não anda por aí espalhando vírus. É o caso do Ebola ou do vírus da gripe espanhola.

2) O organismo dispara uma resposta imunológica de alta eficácia, que consegue eliminá-lo definitivamente. É o que ocorre com os vírus do resfriado comum, da gripe ou da hepatite A.

3) O vírus e o hospedeiro entram em convivência pacífica por longos períodos, num processo de simbiose. Em certas condições, o DNA viral pode ser incorporado aos genes carregados pelos espermatozoides e óvulos, para ser transmitido às novas gerações.

Se considerarmos que o sentido da vida é o eterno crescei e multiplicai-vos, os vírus são imbatíveis. Incapazes de reproduzir-se por conta própria por lhes faltar organelas especializadas, conseguem apropriar-se da maquinaria responsável pela divisão celular de qualquer ser vivo, para fazer cópias piratas de seu material genético.

Conseguem infectar bactérias, fungos, todas as plantas e animais. Para ter uma ideia da ubiquidade, em um litro de água do mar existem cerca de 10 bilhões de bactérias e 100 bilhões de vírus.

A multiplicação rápida e o mecanismo que os vírus utilizam para incorporar seus genes aos das células infectadas modificam o genoma celular, ao mesmo tempo em que o genoma viral sofre mutações que vão ser submetidas à seleção natural - mecanismo que elimina as formas de vida menos aptas. Esse processo é conhecido como coevolução.

Quando os vírus desenvolvem mutações favoráveis à sobrevivência do hospedeiro, eles se encarregam de disseminá-las para outros membros da mesma espécie. É o que acontece quando uma cepa de bactérias adquire resistência à penicilina: em pouco tempo essa habilidade será transmitida às demais da espécie.

Vivem no corpo humano trilhões de vírus. Nosso organismo contém mais vírus do que bactérias e mais bactérias do que células. Eles podem ser encontrados na pele, intestinos, pulmões, boca e até na corrente sanguínea. Seus genes estão presentes não apenas em nossas células, mas no interior das bactérias que convivem em simbiose conosco.

Mal invadiram um organismo, eles se multiplicam na maior velocidade que o ambiente lhes permite. Antes que as defesas imunológicas consigam destruí-los, já pensam em ir atrás de outro hospedeiro. Nesse entra e sai sem fim, a composição do viroma dos seres vivos tem características personalizadas.

Cada um de nós, leitor, é um nicho ecológico único, formado por células humanas, bactérias e vírus, que interagem em mecanismos de altíssima complexidade.

DRAUZIO VARELLA

05 DE JUNHO DE 2021
MONJA COEN

O IMPOSSÍVEL DEMORA UM POUCO MAIS

Você se considera um qualquer? A história que vou narrar é de um personagem criado por uma médica cardiologista de São Paulo, Floriana Bertini. Eu a conheci em um evento sobre resiliência, há alguns anos, em Ouro Preto. A fala dala antecedeu à minha, e aprendi que nossas hemácias são um exemplo de resiliência. Ou seja, quando precisam passar pelos capilares, veias e artérias mais finas do corpo, elas se dobram, se enrolam, se fazem pequenas. Depois, ao transitar pelas artérias e veias maiores, se abrem, se expandem. Resiliência é essa capacidade de se transformar e não ser destruída, suportando e passando por situações difíceis e desabrochando novamente.

Tudo muda.

Aretha Duarte, a primeira brasileira preta a alcançar o cume do Everest, em 23 de maio, precisou de paciência, resiliência e muito treino. Aretha estava com um grupo também preparado e experiente de montanhistas. Para ter meios financeiros, ela catou latinhas, participou de programas de TV, recebeu doações. Já era formada em educação física e guia de montanhismo. 

Não foi uma aventura qualquer. Anos de preparo. Para subir ao pico do mundo, ou seja, acima de 8 mil metros de altura, precisou ir e voltar várias vezes. Adaptar o corpo a regiões com pouco oxigênio. Foram muitas subidas e descidas. Cada vez um pouco mais alto. Antes da subida final, desceu bem abaixo das plataformas anteriores para recuperar o nível de saturação de oxigênio no sangue necessário para chegar ao cume. A força da mente, o treinamento, a equipe e a fé a mantiveram firme.

Lembrei-me do personagem Qualquerum da Doutora Floriana. Ele representa qualquer um de nós no processo de mudança de hábitos e comportamentos. Podemos chegar onde quisermos, afirmou Aretha e afirma Qualquerum. Não se atinge o objetivo em linha reta, mas numa espiral. Com subidas e descidas, conforme o modelo transteórico de James Proschaska, professor de Psicologia de Rhode Island, nos EUA. Trans de transitar entre diferentes teorias e práticas psicológicas.

Quer aprender? Procure por Qualquerum e os Processos de Mudança (2020), da Ed. Loyola, ou Qualquerum em Tempos de Coronavírus (2021), da Ás Editorial.

Vamos transformar a pandemia através de mudanças dos nossos comportamentos? Há etapas: a primeira é negar que precisamos ou devemos mudar. A segunda é duvidar. A terceira é observar, contemplar. A quarta é iniciar a jornada.

Haverá derrapadas, escorregadas, necessidade de tomar um novo fôlego e voltar ao nível anterior. Até que conseguimos atingir nossos objetivos. Mas é bom lembrar que a vitória é como uma espada - ninguém se senta sobre ela. Para se manter em forma, Aretha continuará se exercitando, se alimentando de forma saudável e auxiliando outras pessoas em suas escaladas. Precisamos uns dos outros. E sempre há mais a aprender, mais a praticar, mais a fazer.

Tudo podemos. Basta iniciar e não desistir. Corrigindo erros e faltas, nos fortalecemos e vamos adiante.

Faça sua escolha e crie causas e condições favoráveis. Será fácil? Em alguns momentos sim, em outros não. Não desista. Pode precisar de um tempo, um fôlego, uma pausa, reavaliação. Continue. Resiliência é suportar sem desistir.

"Seja a transformação que quer no mundo", falava Gandhi. "O impossível demora um pouco mais", dizia Pena Branca, na redação do Jornal da Tarde, em SP, nos anos 1960.

Mãos em prece

MONJA COEN

05 DE JUNHO DE 2021
LEANDRO KARNAL

AS SEREIAS

Glauco fez um bom curso de Filosofia. Leu os clássicos, dominou inglês, francês e até, após muitos esforços, era capaz de explorar o texto do imperador Marco Aurélio em grego. Seu empenho no debate conceitual era bem recebido pelos professores. Era um bacharel e licenciado em Filosofia, com três letras mágicas no diploma: USP.

Afogado em livros e contando com apoio da família de classe média, ele nunca pensou no momento posterior. Sua paixão era o conhecimento. Como todos os seus colegas, ironizava autoajuda, coach e o tom dominante das frases que circulavam nas redes. Irritava-se com os recortes que se fazia, especialmente de Nietzsche, transformando o alemão em incentivador de carreiras: "Torna-te quem tu és".

Ele começou a dar aula e queria, realmente, ensinar a pensar. Elaborou provas simples. As respostas estavam, com frequência, no enunciado da questão. Mesmo assim, mais da metade da turma achava que "filosofar" era "dar a sua opinião" e tinham rendimento ruim. Como os alunos eram clientes antes de tudo, a escola concordou que o professor era complexo demais e não conseguia se comunicar com o grupo discente. Foi demitido no fim do primeiro semestre.

Sem a escola, por ironia do destino, conseguiu emprego na redação da mesma revista que ele atacara em sala de aula como exemplo de má divulgação. Envergonhava-se de estar nela. Tentava se consolar com exemplos de Voltaire simplificando coisas para Frederico ou Descartes para a rainha Cristina. A publicação era menos do que uma corte ilustrada da Europa moderna. A revista tinha de vender, e o que agrada ao grande público é uma tabela simples com cinco pontos centrais na obra de Tomás de Aquino ou boxes com detalhes picantes da vida de Michel Foucault. Menos de um ano após a formatura, nosso jovem estava escrevendo sobre a relação do francês com garotos de programa em saunas da Califórnia.

Glauco tivera dificuldades como professor, todavia, curiosamente, estava prosperando como um "fofoqueiro" filosófico. Gostaria de assinar com um pseudônimo. Tinha medo de que o professor Franklin Leopoldo Silva lesse um daqueles textos. A revista acrescentou a foto dele em uma coluna do tipo: "Tudo o que você queria saber sobre os filósofos e tinha medo de perguntar". A sífilis de Nietzsche passou a ter enorme importância. Marx e o filho ilegítimo com a empregada? 

Quem quer saber das ideias d?O Capital? Nada! Como era a criança e como a esposa reagiu era o interesse. Verdade que Engels sustentou a criança? Platão saía com outros homens? Detalhes da proverbial falta de higiene de Diógenes eram sucesso absoluto. Havia espaço para explicar um princípio como "a navalha de Ockham", desde que os exemplos envolvessem alguma relação com o Big Brother. Anacronismo? Desvio? Falácias? Ninguém que comprava a revista ou acessava o site tinha inclinações para tais sutilezas. O sucesso de Glauco crescia. Era grande, igualmente, a dor do nosso jovem filósofo.

Houve novidades. Surgiram os cursos do YouTube. Nosso professor, agora com 26 anos, poderia falar para muita gente. Gravou uma aula sobre ética em Kant. Comparou com outras concepções da área e analisou um parágrafo do autor por meia hora. Mostrou o peso de cada palavra e da argumentação. Identificou interpretações divergentes sobre o trecho e, por fim, usou termos como "hermenêutica", "imperativo categórico" etc. Finalmente, parecia, tinha dado uma aula de filosofia, ainda que de história da filosofia, mas uma experiência que ele poderia ter tido na USP. Vaidoso, achou sua exposição sobre ética kantiana muito bem estruturada e original. Postou o vídeo e recebeu enormes elogios. As 14 pessoas que o viram disseram que era muito bom e que aguardavam novos vídeos.

A escassez de público o abalou mais do que a demissão na primeira vez. Glauco habitava um limbo: era técnico demais para o grande público e raso demais para os acadêmicos que condenavam sua experiência na revista popular. E... havia contas, uma proximidade com a namorada que já indicava vida estável. As sereias do mundo imanente cantavam. Ele não poderia se amarrar ao mastro do navio como Ulisses. Teria de verificar o valor da passagem para chegar a Ítaca.

Glauco andava sobre dois mundos, sem cidadania fixa. Refletiu e fez um vídeo sobre Schopenhauer com boas frases e imitando sotaque de alemão. Duração? Quinze minutos, com piadas da relação do filósofo com Hegel. Pediu ajuda a um amigo designer digital e encheu o vídeo de imagens, efeitos e de música. Resultado? Oito mil visualizações. O segundo vídeo do novo modelo, agora sobre Erasmo de Roterdã, saltou para 40 mil visualizações. Frases costuradas aqui e ali, uma tirada cômica, câmera ágil e, de repente, o site monetizado estava pagando mais do que a escola que o demitira anos antes.

O sucesso era exponencial. Ele tinha descido do muro e aberto um delivery com as sereias do mercado. O vídeo sobre como cada filósofo encararia uma live chegou aos trending topics. Como você encerraria essa história? Haverá esperança?

LEANDRO KARNAL

05 DE JUNHO DE 2021
FRANCISCO MARSHALL

É PÚBLICO!

Es méson - para o centro, foi o mote que moldou a pólis, uma nova cidade e a base clássica do Estado. O centro primordial foi a ágora, local de encontros, conversas, trocas, vida cívica e religiosa, alma da cidade grega. No centro ergueram-se os templos, no topo de acrópoles, e tribunais, altares, ginásios, vias, galerias (stoas), fontes d?água e necrópoles; a partir do século V a.C., também teatros de Dioniso. Tudo no coração da comunidade, em áreas acessíveis a quem morava no campo (xhóra) ou na cidade (ásty), independentemente do grau de riqueza ou prestígio. Colocar no meio, para se tornar comum de todos - tá koiná, as coisas públicas, mais valiosas que as privadas. Eis quando e como que se constituiu, na pólis, o patrimônio público e o dever dos governantes de por ele zelarem.

Ora, se o Estado visa ao bem comum, um de seus fundamentos é defender os bens públicos e garantir sua finalidade social. Hoje vigora, todavia, grave moléstia moral, epidêmica, que faz governantes eleitos tornarem-se agentes privados, e tomarem como meta degradar e liquidar o patrimônio público; por quê? 

A sociedade de massas, a ignorância e as manipulações da propaganda e da imprensa marrom, a corrupção de homens e empresas interesseiras, tudo isso conta, mas conta especialmente a pavorosa ideologia que se difundiu desde os anos 1990, o neoliberalismo - fundamentalismo do mercado e ideologia pragmática do capital - e, com ele, o persistente cativeiro de políticos nada democráticos e muito incompetentes. O resultado dessa conjunção nefasta é a degradação das cidades, do Estado e da qualidade de vida da maioria da população, em benefício de poucos, privilegiados e suspeitos. Eis um dos piores males da era atual.

O abuso do patrimônio público sói conjugar políticos ineptos com maus empreendedores, aqueles que, sem qualidade técnica ou arrojo, preferem o aconchego de negócios facilitados, como concessões do patrimônio público sem licitação e a aquisição de empresas públicas bem constituídas e estrategicamente posicionadas, pelo valor mais vil possível. Isso ora ocorre em nossa cidade, em nosso Estado e neste país; são riscos que rondam o Cais do Porto, fazem cerco aos museus e institutos culturais, cobiçam hospitais e empresas públicas, e promovem a deturpação da natureza e finalidade de instituições públicas, em rapinagem sem limites. 

Tratam áreas nobres, inclusive parques e patrimônio tombado, como meros terrenos a serem loteados, para renda fácil e desavença dos deveres governamentais. Os culpados são políticos medíocres e suas equipes, que, incapazes de planejar e administrar, insensíveis ao bem social e cativos de ideologias, abandonam seu dever de cuidar do patrimônio público e o liquidam sem pudor, exibindo o orgulho do cão que busca o osso para o dono.

A cidade tem saudades da ágora, e dos bens comuns que dão graça à comunidade. Que vá junto com a vacina ora distribuída pelo SUS a noção e o clamor de que o Estado é bem público, e pode ser força da comunidade e garantia da vida.

FRANCISCO MARSHALL

05 DE JUNHO DE 2021
J.J. CAMARGO

O ARQUIVO ENCANTADO DO OLHAR HUMANO

A moderna neurofisiologia tem trazido informações preciosas sobre o funcionamento do cérebro, incluindo os mecanismos de estímulos prazerosos ou repulsivos. Mas ainda não sabemos quais instrumentos a memória utiliza para arquivar as imagens que guardamos como definitivas. É sabido que temos, como defesa emocional, a tendência de apagar as experiências desagradáveis, ainda que algumas, por terem sido tenebrosas, não só não conseguimos deletar, como periodicamente elas voltam, quase sempre na insônia de uma madrugada solitária.

Saramago, no Ensaio Sobre a Cegueira, comparando-a com a surdez, alertou que a cegueira afasta as pessoas das coisas, enquanto que a surdez afasta-as das outras pessoas. Mas se é verdade que, cegos, interrompemos o arquivamento de novas imagens, também é certo que a memória se encarregará de preservar aquelas que representem as pilastras da nossa construção sensorial.

Ocorreu-me então que talvez devêssemos fazer uma espécie de retrospectiva do que vimos e precisamos conservar, custe o que custar, antes que a ressonância comece a mostrar aqueles assustadores espaços vazios.

Neste inventário, para garantir a autenticidade, nenhuma imagem pode ser arquivada por recomendação de terceiros, mesmo que alguém se sinta íntimo o suficiente para palpitar.

A tônica desta seleção deverá ser a densidade emotiva de cada imagem, a partir da lembrança do quanto a passagem pela retina impactou no nosso sensório, e da repercussão das manifestações de intensidade usadas para o registro cerebral do comovente, tais como aperto no peito, taquicardia fora de controle ou lágrimas escorrendo sem nenhuma vontade de contê-las.

Cada um terá o seu elenco de imagens especiais. Passível, é claro, de crítica e subestimação dos que não provaram daquele encanto. Se não, como explicar ao colorado mais fraterno a magia encantada de aparar a bola com a direita e bater instantaneamente com a esquerda, deixando o goleiro imóvel? E com isso arrancar do peito um grito do tamanho do mundo conquistado?

Ou o deslumbramento de assistir a Miss Saigon na Broadway, com Lea Salonga cantando I?d Give my Life for You, e a emoção transbordando no teatro, de um tal jeito que, quando fecharam as cortinas, o povo saiu chorando. Foi quando, ao ver uma garota aos prantos encostada numa coluna, pensei: "Chore, minha filha, e aproveite o milagre gratuito da arte".

Ou a comoção que se espalhou pelo Teatro Lope de Vega, em Madri, quando Paloma San Basilio, a mais linda das Dulcineias que encontrei, cantou Impossible Dream no afã de acordar Don Quixote de la Mancha do seu leito de morte?

Ou ver a transformação rubra do sangue quando o primeiro pulmão transplantado começou a expandir, avisando ao Vilamir que seu sofrimento arroxeado chegara ao fim?

É possível que alguém, tendo chegado ao limite do estoque de emoções visuais, se permita cegar?

Não há resposta para essa pergunta, apenas a certeza de que viver assim é garantir ojeriza ao desperdício do tempo, esse que é o grande incinerador das lembranças menores.

J.J. CAMARGO

05 DE JUNHO DE 2021
DAVID COIMBRA

Meu superpoder

De que me adiantaria ter o martelo Mjolnir? Fiquei pensando muito nisso, depois de assistir à série norueguesa Ragnarok. É uma série sobre mitologia nórdica, Thor, Odin, Loki, todos aqueles deuses que foram consagrados pelos quadrinhos e pelo cinema. A diferença é que é produzida pelos próprios noruegueses, você depara com a maneira como eles veem esses personagens, bem como o estilo de vida da Noruega, a forma como eles encaram a existência, sobretudo os jovens - é uma série feita para jovens.

Ragnarok. Não vai torná-lo uma pessoa melhor, mas será uma boa diversão.

Eu falava do martelo Mjolnir, a mais poderosa arma do mundo antigo. Thor o empunhava e o atirava em algum inimigo. O martelo voava a jato, destruía tudo que atingia e voltava, obediente, para as mãos do dono. O que eu ia fazer com um troço desses? É verdade que às vezes tenho vontade de jogar um martelo na cabeça de algumas pessoas, mas não vou fazer isso, não é? Sou da paz. Então, o Mjolnir não resolveria os meus problemas.

Que superpoder eu quereria, se pudesse escolher um, apenas um? Você vai achar que estou vendo muitos filmes de super-heróis, mas não é bem assim. Cansei um pouco desses filmes. Meu filho é que volta e meia me questiona:

- Escolhe um superpoder, papai. Só um!

Então, fico pensando. Voar seria legal, mas as pessoas iam me ver lá em cima e aí eu não teria mais sossego. Ficariam me assediando, me aborrecendo. Não quero fama, com meu poder. Quero, apenas, ficar bem e me distrair um pouco.

Visão de raio X, quem sabe? Não vejo muita utilidade, a não ser que fosse trabalhar como radiologista. Daria o diagnóstico antes de as pessoas entrarem na máquina de tomografia. Mas aí teria de fazer curso de Medicina, não tenho mais idade, melhor desistir da visão de raio X.

Superforça? Seria interessante ter superforça, entortar barras de ferro, abrir compotas e enfrentar bandidos, se bem que não tenho a intenção de sair brigando por aí. Já disse: sou da paz.

Vou dizer qual é o superpoder que mais me encantaria: ficar invisível. Ter a possibilidade de, volta e meia, simples e literalmente desaparecer. Eu sairia pelas ruas e observaria despudoradamente as pessoas e a vida lá fora. Talvez investigasse a intimidade de alguns ou lhes pregasse peças. Entraria à sorrelfa em suas casas e mudaria os móveis de lugar só para ver a reação depois. Seria engraçado.

Ficar invisível também serve no enfrentamento com malfeitores. Eles querem me assaltar, por exemplo, e eu desapareço. Cadê ele? Ninguém sabe, ninguém viu.

Mas o melhor da invisibilidade talvez fosse apenas psicológico: a sensação de alheamento do mundo. Todas as discussões, todas as cobranças, todos os julgamentos, nada disso me afeta. Não sou a favor, nem contra, nem mesmo sou neutro. Não estou de lado nenhum, porque simplesmente não estou em parte alguma.

Alguém pode dizer que isso seria como estar morto. Não. Isso seria estar vivo em outra dimensão, um lugar em que as pessoas são o que são, sem que ninguém dê palpite ou opinião. Ah, você quer muito expressar sua opinião? Cuidado! Posso mudar de ideia e lhe atirar o Mjolnir na cabeça.

DAVID COIMBRA

05 DE JUNHO DE 2021
FLÁVIO TAVARES

IR ADIANTE

Toda desgraça é, sempre, uma oportunidade para raciocinar sobre erros anteriores, ainda que com eles tenha relação indireta. "A dor ensina a gemer", diz o velho refrão, pois o gemido leva a procurar a causa primeira da própria dor.

A pandemia, por exemplo, aguça o sentido profundo da vida ao mostrar a fragilidade humana e a necessidade de nos amarmos uns aos outros. Talvez pareça piegas falar de "amor ao próximo" em meio aos desvarios da sociedade de consumo, mas é a grande e profunda lição que rememoramos há pouco, no dia de Corpus Christi.

Mostra que podemos rever conceitos e buscar a verdade indo à origem dos fatos. Só pode ter sido assim que a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura do governo do Estado retirou das redes sociais uma suposta propaganda da bomba de chimarrão que, de fato, elogiava a mineração de carvão.

Quando a pesquisa científica aponta o carvão mineral como uma das terríveis causas do efeito estufa sobre a vida no planeta (e a ONU e o Papa reiteram a denúncia), nada é mais danoso do que o próprio governo propagar nossa extinção. O Comité contra a Megamineração no RS lançou o alerta ao lembrar as consequências desastrosas da exploração do carvão mineral, gerador de fibrose pulmonar, câncer e outras doenças. Voltar atrás por recuperar a lucidez, (como fez o governo estadual ao ser criticado nas próprias redes), porém, é dar um passo adiante.

Se persistisse no erro, ignoraria a própria condição humana que nos fez inteligentes.

Um depoimento minucioso e cru sobre o descaso governamental na pandemia, enfim ecoou na CPI do Senado sobre a covid-19. Por mais de seis horas, a infectologista Luana Araújo explicou por que usar cloroquina e similares é "aberração sem lógica científica".

Em maio, ela fora convidada a assumir a Secretaria de Combate à Covid no Ministério da Saúde, mas não foi nomeada por discordar do uso de cloroquina.

"Continuo a pensar que estamos na vanguarda da estupidez mundial ao discutir algo sem cabimento científico", frisou. Quando o senador gaúcho Luís Carlos Heinze lembrou que um médico francês recebeu "o prêmio Rusty Razor" por indicar o uso de cloroquina, a infectologista explicou que "o prêmio é uma sátira e é dado na Europa aos absurdos científicos".

Usar cloroquina (como quer Bolsonaro) é "delirante, esdrúxulo, anacrônico e contraproducente - disse a infectologista - e frisou: "É como se um terraplanista buscasse a borda da Terra para pular".

É regredir à caverna, sem nunca ir adiante.

FLÁVIO TAVARES

05 DE JUNHO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

FÔLEGO NAS FINANÇAS

Há décadas o Rio Grande do Sul e a população gaúcha sofrem com o desequilíbrio crônico das finanças públicas. É um mal construído por anos a fio de irresponsabilidades fiscais e concessão de inúmeras benesses, por sucessivos governos, a despeito de esforços pontuais para tentar o equilíbrio orçamentário. O resultado deste quadro se materializa em serviços precários e um índice baixíssimo de capacidade de investimento. Deve ser apoiada, portanto, toda tentativa de buscar emparelhar as colunas da receita e da despesa, algo que mais cedo ou mais tarde acaba se refletindo de forma positiva para a sociedade, sobretudo para aqueles que mais dependem de uma boa prestação em áreas como saúde, educação e segurança.

Neste contexto de dificuldades históricas, precisa ser saudada a notícia de que o Estado encerrou o primeiro quadrimestre de 2021 com um superávit orçamentário robusto, de R$ 1,96 bilhão. Um desempenho no azul no período não se via desde 2017, quando fatores não recorrentes, como a entrada de recursos extras pela venda da folha dos servidores, e a suspensão dos repasses relativos à dívida com a União, permitiram um quadrimestre fora do vermelho. Não se tratava, infelizmente, de uma performance sustentável e resultados negativos voltaram a ser observados nos meses seguintes.

Um auxílio decisivo para evitar que o ano passado fosse desastroso, é imperioso ressaltar, veio dos repasses do governo federal, feitos a todos os entes federados para compensar queda na arrecadação durante os meses mais críticos da pandemia. Espera-se que, agora, o Estado esteja no início de um período duradouro de contas superavitárias. Mas é uma meta, ressalte-se, que ainda depende de boa dose de austeridade, inteligência na área da Fazenda e, claro, dos bons ventos da economia, o que se reflete nos impostos arrecadados. 

Há esperanças porque, de janeiro a abril, o Estado conseguiu ampliar a receita e reduzir despesas. Pela parte dos gastos, consequência das reformas previdenciária e administrativa. A área de pessoal, não é segredo, é o calcanhar de aquiles das finanças. Há ainda contribuições positivas da sazonalidade, do recebimento do IPVA. A supersafra no Estado, o bom momento dos preços das commodities, a recuperação surpreendente da atividade no país e o avanço na vacinação se tornam fatores que permitem esperar a manutenção deste quadro benigno.

Se há motivos para certo otimismo, existem muitos outros para se advertir que a batalha em busca da saúde das contas públicas ainda está longe de ser vencida. É preciso persistir em racionalização dos gastos, privatizações, concessões e medidas estruturantes, como na área tributária, que podem consolidar um melhor ambiente de negócios no Rio Grande do Sul, fortalecer o caixa e assegurar um maior potencial de investimento do poder público em áreas carentes ou de pouca atratividade para o setor privado. A esmagadora maioria da sociedade se beneficia de um Estado enxuto, moderno e com finanças saneadas.


05 DE JUNHO DE 2021
HUMBERTO TREZZI

Generais da reserva apontam "subversão"

Dois importantes generais da reserva, ex-apoiadores de Jair Bolsonaro, usaram palavras fortes para criticar o Exército por não punir o general Eduardo Pazuello - que subiu ao palanque de um ato político de apoio ao presidente, no Rio, num showmício em 23 de maio. Falaram que essa blindagem constitui "subversão" e "desmoralização" da disciplina e hierarquia que devem imperar nos quartéis.

Os regulamentos das Forças Armadas vetam o engajamento de militares da ativa em manifestações político-partidárias. O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, arquivou o procedimento disciplinar aberto para investigar o comportamento de Pazuello. Ao fazer isso, prestigiou Bolsonaro, que pressionava para que não acontecesse nenhuma punição ao ex-ministro da Saúde (que ganhou um cargo no Palácio do Planalto, recentemente).

As palavras mais pesadas vieram do general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, hoje na reserva. Nas redes sociais, ele diz que a não punição "é mais um movimento coerente com a conduta do presidente da República e com seu projeto pessoal de poder". Santos Cruz, que foi ministro da Secretaria de Governo no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, afirma que o Exército não é do presidente, mas do povo brasileiro.

"O presidente procura desrespeitar, desmoralizar pessoas e enfraquecer instituições. Não se pode aceitar a SUBVERSÃO da ordem, da hierarquia e da disciplina no Exército", resumiu o general gaúcho. Há duas semanas, Santos Cruz foi chamado de "petista" por Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, embora tenha sido aliado do bolsonarismo na eleição em que este movimento político derrotou o PT.

Outro general da reserva que usou termos fortes ao criticar a falta de punição a Pazuello é Paulo Chagas, apoiador de primeira hora de Bolsonaro (antes de romper com o bolsonarismo) e ex-candidato a governador do Distrito Federal. "O presidente, o comandante e o general Pazuello estão contribuindo para a desmoralização e para a queda do prestígio conquistado pelo Exército Brasileiro", tuitou.

Mas é bom ressaltar que as críticas à ausência de punição a Pazuello não são unânimes. O general da reserva Girão Monteiro, deputado federal pelo PSL do Rio Grande do Norte, considera natural que militares participem de atos de apoio ao presidente, "já que ele é o chefe supremo as Forças Armadas".

O advogado e ex-militar Demétrius Teixeira, professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra-RS), que analisa questões militares, está convicto de que ocorreu clara abertura das portas dos quartéis para a política.

- Importante lembrar que o principal argumento sustentado pelos militares para o golpe de 64 foi que o governo Jango estava permitindo a politização dos quartéis. Os próprios militares sempre falam que naquela época ocorreu grave quebra da hierarquia e disciplina - diz Demétrius.

Dois generais da ativa ouvidos pelo colunista avaliam que a falta de punição afastará mais ainda as Forças Armadas de Bolsonaro. 

HUMBERTO TREZZI

05 DE JUNHO DE 2021
+ ECONOMIA

Onde os jovens não têm vez

Mato Queimado tem apenas 11,9% da população com idade entre 15 e 29 anos. É um percentual menor do que a média do Japão, onde há a mais baixa proporção de jovens no mundo (14,7%). E estão no Rio Grande do Sul 18 das 20 cidades com menos jovens em todo o país, aponta a pesquisa Jovens: Projeções Populacionais, Percepções e Políticas Públicas, da FGV Social.

Conforme Marcelo Neri, diretor da FGV Social, depois de manter por quase duas décadas cerca de 50 milhões de jovens, o Brasil verá essa faixa encolher a partir deste ano. Esse contingente pode cair à quase metade até o fim do século, diminuindo as possibilidades de crescimento. É o "fim do bônus demográfico" para o qual costuma alertar o ex-secretário da Fazenda do Estado Aod Cunha.

Na pesquisa, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro estão empatados com a menor proporção da população entre 15 e 29 anos: 22,1%. Impressionado com a concentração no Estado, Neri pontua que o Rio Grande do Sul e o Brasil não envelhecem sozinhos: até 2060, a projeção é de que percentual de jovens diminua em 95% dos 201 países. Além do Japão, com o menor percentual de jovens do mundo (14,7%), as menores proporções são de Itália (15%), Espanha (15,3%), Grécia (15,9%) e Portugal (15,9%).

Um condomínio-clube com vista para o campo de golfe

Um tapume diferentão (foto)desperta a curiosidade em quem passa na Avenida Nilo Peçanha, em Porto Alegre. Segundo Marcelo Guedes, diretor de incorporação da Melnick, será um condomínio-clube de "altíssimo padrão", com quadras de tênis, beach tennis e futebol, além de piscina com raia de 25 metros. Detalhe: todos os apartamentos terão vista para o campo de golfe do Porto Alegre Country Club. Não há detalhes disponíveis sobre preço e projeto do edifício que será construído na Avenida Nilo Peçanha, mas dá para fazer uma conta aproximada: serão apenas 36 unidades, com valor geral de vendas (VGV) estimado em R$ 150 milhões.

O resultado seria R$ 4 milhões cada, mas é preciso considerar que os apartamentos variam de 223 a 314 metros quadrados, com uma das coberturas chegando a 567 metros quadrados. Ou seja, a conta é só para dar uma ideia do valor.

R$ 5,036

foi o fechamento do dólar na sexta-feira. A expectativa da primeira cotação abaixo de R$ 5 desde 10 de junho de 2020 bateu na trave: faltaram cerca de três centavos e meio. Ainda há seis dias de prazo para a verdinha não completar um ano acima do valor que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o dólar alcançaria caso fosse feita "muita besteira".

MARTA SFREDO

05 DE JUNHO DE 2021
RECH

País de incoerências

Quanto maior o sucesso das manifestações de rua convocadas pela esquerda, mais pessoas se aglomerarão e mais se esvaziarão as críticas às concentrações promovidas por Jair Bolsonaro. A esquerda pode exibir os pretextos mais justos para reunir milhares de pessoas em pleno avanço da terceira onda da covid, mas a direita também acha que seus motivos são plenamente justificados. No fim, nenhum dos extremos tem razão - o vírus não quer saber de ideologia ou explicações.

O argumento de que, nas concentrações de esquerda, a maioria usa máscaras é de uma candura tocante. Fosse assim, não haveria necessidade de distanciamento social, vacinas e muito menos lockdowns. Bastaria obrigar o uso de máscaras e o mundo teria ficado livre da covid, inclusive para voltar a encher estádios, retomar o ensino na plenitude e lotar templos e casas noturnas. Lula, que para bobo não serve, flagrou a incoerência e ficou quieto antes, durante e depois das aglomerações.

Durante seu longo depoimento à CPI da Covid, o general Eduardo Pazuello recorreu inúmeras vezes ao cacoete de começar suas respostas com a expressão "é muito simples". Pois, parafraseando o militar, é muito simples por que ele não foi punido por descumprir o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE). O responsável máximo pela quebra da disciplina é o próprio comandante em chefe das Forças Armadas, o presidente da República, que chamou Pazuello para seu palanque no Rio. O general poderia ter apresentado uma desculpa e se esquivado do comício, mas parece picado pela mosca azul e a perspectiva de concorrer ao governo do Amazonas ou ao Senado com apoio presidencial.

A incoerência só não é maior porque Bolsonaro construiu sua carreira política a partir de transgressões militares e afrontas ao RDE. O "mau militar", na expressão do prussiano ex-presidente Geisel, tenta fazer da misturança partidária com Forças Armadas a sua versão verde-amarela do chavismo, que destroçou a hierarquia, a disciplina e a imagem dos militares venezuelanos.

Aos trancos e barrancos, contra negacionistas e fanáticos, o Ministério da Saúde se esforça para recuperar o tempo perdido nas vacinas e, assim, salvar vidas e religar a economia. Uma das principais armas do governo federal é a excelência da Fiocruz, que já produziu 50 milhões de doses contra a covid mas que até hoje não mereceu uma visita do presidente da República. O presidente, porém, tem agenda para inaugurar ponte de madeira nos confins da Amazônia. Questão de prioridade e, neste caso, de coerência com seu pensamento sobre as vacinas.

MARCELO RECH

05 DE JUNHO DE 2021
INFORME ESPECIAL

O que Bolsonaro aprendeu com Zé Dirceu

Após o fiasco ético e criminal do último governo petista, José Dirceu e outros próceres partidários analisaram os fatores que levaram à derrocada do projeto lulista. Entre os pontos analisados nas instâncias internas da sigla, estava a falta de capacidade de aparelhar as Forças Armadas. 

De fato, desde o final do regime militar, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica se mantiveram coesos e fieis ao seu papel constitucional. Mesmo que a maioria dos oficiais não simpatizasse com a esquerda, os quarteis se mantiveram em silêncio durante anos. Quando Dilma Rousseff já afundava na lama da corrupção e da roubalheira do PT e de seus aliados, algumas vozes se levantaram. Mas nunca institucionalmente.

Jair Bolsonaro aprendeu a lição. Os movimentos que tiveram o general Eduardo Pazuello como protagonista visível são parte de uma estratégia clara. Do ponto de vista do núcleo bolsonarista, está dando certo. Seus resultados de médio prazo, porém, são de altíssimo risco. Forças Armadas coesas e fies ao seu papel legal são mesmo um obstáculo a projetos totalitários de poder, tanto de esquerda quanto de direita. Forças Armadas rachadas explodem projetos de país.

Gerdau no Supersábado

Um dos maiores empresários gaúchos de todos os tempos, Jorge Gerdau Johannpeter será entrevistado neste sábado, ao vivo, na Rádio Gaúcha, pelo jornalista Paulo Rocha e por mim. Não falará sobre aço ou sobre negócios, mas sobre uma das suas grandes paixões: Iberê Camargo. O Dr. Jorge é responsável direto pelo construção do prédio que abriga a Fundação Iberê, um dos cartões postais da Capital, que completou 13 anos. A entrevista é por volta das 9h15min, mas o programa começa às 8h10min.

TULIO MILMAN

05 DE JUNHO DE 2021
GUZZO

O crescimento do PIB

Quase sempre é melhor, em matéria de economia, olhar para o que você vê diretamente a sua volta, com os seus próprios olhos, do que escutar o que ficam dizendo os economistas. Eles podem até acertar em alguma coisa; impossível não é. Mas em geral é mais prático medir as coisas pela observação da vida real. Está acontecendo de novo. As pessoas veem o motor dos negócios "pegar" outra vez, após meses seguidos em estado de coma - veem isso nas vendas, na atividade da indústria, na quantidade de gente na rua, no trânsito. Os "analistas", porém, continuam dizendo que estamos todos mortos e que, mesmo assim, o futuro vai ser pior ainda.

O crescimento da economia em abril de 2021, conforme os números oficiais que acabam de ser divulgados, é o melhor desde o início da epidemia de covid. Mesmo com boa parte das coisas ainda parada, fechada ou funcionando na base do meia-boca, o avanço sobre os resultados dos últimos meses e últimos trimestres mostra que o Brasil voltou a andar - junto com o mundo, aliás. Somando tudo, e fazendo o balanço entre os setores, as previsões, agora, são de que a economia cresça 5%, ou até mais, em 2021 - um resultado espetacular para quem estava ameaçado de continuar em recessão terminal pelos próximos cem anos. Isso não é índice de economia andando de lado, como tem sido nos últimos anos. É índice de produção bombando - por mais que a base de comparação, em cima dos números trágicos de 2020, seja muito baixa.

A agropecuária, mais uma vez, está na ponta do avanço, com demanda crescente no mercado mundial (segundo os economistas, essa demanda teria de cair com a pandemia, o que levaria o Brasil a uma crise mortal; está dando exatamente o contrário) e preços que interessam ao produtor. A indústria automobilística teve em abril seu melhor mês desde o começo da crise; a produção total do mês ficou em 190 mil veículos. (Nem dá para comparar com 2020; a produção estava a zero, então.) Foram emplacadas quase 9 mil unidades por dia em abril, o que levou o total do primeiro quadrimestre de 2021 a mais de 700 mil - quase 15% a mais do que no mesmo período do ano passado. Os imóveis retomam com força nas zonas mais disputadas das grandes cidades.

Se a economia brasileira cresce 5% neste ano, ou mais, quanto crescerá em 2022, o ano das eleições para presidente da República? Até dezembro de 2021 toda a população brasileira já estará vacinada; é um sinal que vai na direção oposta à da crise ou da estagnação. E agora? Não dá para desvacinar as pessoas, nem continuar produzindo o lixo tóxico da "CPI" - e nem fazer com que a economia pare por conta própria, ou porque a retomada prejudica a oposição. Nada disso estava nos cálculos dos cientistas políticos que aparecem nas mesas-redondas da televisão. Aguardem novas explicações, portanto - e deem a elas a atenção que merecem.

*Conteúdo distribuído por Gazeta do Povo Vozes - J.R. GUZZO*