sábado, 8 de janeiro de 2022


08 DE JANEIRO DE 2022
LEANDRO KARNAL

O ano de 2022 marca o bicentenário do chamado Grito do Ipiranga. A memória foi construída para dar forma grandiosa a um acontecimento um pouco diferente daquilo que Pedro Américo retratou no quadro de 1888. Por algum tempo, a data da nossa Independência foi o 12 de outubro, quando o príncipe português D. Pedro foi aclamado Imperador. No instante em que você pesquisa jornais da época, não encontra referências às margens plácidas do riacho anabolizado do Hino Nacional. Porém, a aclamação de outubro, data do aniversário do novo governante, era percebida como a festa da emancipação.

Avancemos um século. Em fevereiro de 1922, um novo grito de ruptura. O Teatro Municipal de São Paulo via, em três noites, o impacto da Semana de Arte Moderna. Como todo evento histórico, a avaliação depende do que ocorreu naquele momento em diálogo com construções posteriores. Houve enorme esforço de intelectuais paulistas para concentrar na Semana de 22 a grande ruptura estética da República Velha. História é sempre um diálogo do passado com o presente.

Assim, o ano em curso traz outros dois 22 nas recordações: Independência do Brasil e Semana de Arte Moderna. Três vezes 22 é algo forte e simbólico. Percebendo o fato, a USP e a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin prepararam o portal 3 x 22. Lá, há publicações voltadas para escolas e para o público em geral. Por exemplo: quais os 200 livros que elaboram um amplo retrato do Brasil? É uma excelente iniciativa coordenada por Alexandre Macchione Saes e Janice Theodoro e pode ser acessada em 3x22.bbm.usp.br. Os profissionais das escolas podem baixar material sobre as representações da Independência, sobre mulheres no processo de emancipação nacional, a vida na periferia de São Paulo ou sobre os indígenas do território brasileiro.

Há uma pergunta provocativa na origem do projeto: "Nenhum Brasil existe. Acaso existirão os brasileiros?". Por absurda que pareça, fala-se da dificuldade em delimitar o que seria a sociedade brasileira e, por consequência, tipologias dos seus habitantes. Em artigo no Jornal da USP (8/11/2021), Janice Theodoro afirma sobre o papel da universidade no itinerário do debate: "Qual o desafio das universidades na atualidade?". Utilizar o conhecimento nela produzido para enfrentar os desafios contemporâneos. Utilizar seus computadores, criar condições para que seus pesquisadores, literatos, historiadores, cientistas sociais, comunicadores, artistas (entre outros) disponham de condições para formar redes capazes de compreender os algoritmos que podem levar a comportamentos que marcam nosso mundo.

Comemorações são, como indica a base latina da palavra, lembranças em conjunto. Comemorar indica trazer, coletivamente, ao plano da consciência algo ocorrido. Memórias são mutáveis, claro. O centenário da Independência exposto no Rio de Janeiro, em 1922, foi uma celebração de um tipo de Brasil afrancesado e eurocêntrico. Certamente, o bicentenário terá vozes mais variadas. Nós mudamos muito em cem anos.

Um ponto em comum aos dois momentos: o mundo acabava de passar por pandemias, e o medo ecoava na festa. A gripe espanhola estava um pouco afastada em 1922 e o malfadado coronavírus ainda ronda o ano novo que vivemos há pouco.

Como todo aniversário, 2022 traz avaliações. O que houve com o país nos últimos 200 anos? Onde está a cultura e para onde foram as vanguardas do século passado? Todo Parabéns a Você relembra, comemora, celebra, exorciza e renova o limiar do futuro como possibilidade. Lembro-me do sesquicentenário da Independência 1972 e os discursos nacionalistas e triunfais do governo Médici. 

Recordo-me de Tarcísio Meira a cavalo a partir do modelo canônico no filme Independência ou Morte. Como cantávamos no colégio São José, de São Leopoldo: "Sesquicentenário da Independência/ Potência de amor e paz/ Esse Brasil faz coisas/ Que ninguém imagina que faz/ É Dom Pedro I/ É Dom Pedro do Grito/ Esse grito de glória/ Que a cor da história à vitória nos traz/ Na mistura das raças/ Na esperança que uniu/ O imenso continente nossa gente, Brasil/ Sesquicentenário/ E vamos mais e mais/ Na festa, do amor e da paz".

Eu tinha nove anos e achava que tudo era paz e integração, um milagre harmonioso de 1972. Resta a pergunta: que imaginário passaremos para alunos neste ano? Que elementos identificaremos para orgulho ou debate? Bem, sei que eu não estarei aqui na festa dos 250 anos da Independência. Torço pelo Brasil. Tenho esperança na comemoração futura...

LEANDRO KARNAL

08 DE JANEIRO DE 2022
DRAUZIO VARELLA

EUFORIA SINTÉTICA

O mercado de drogas ilícitas está cada vez mais diversificado. Não param de sintetizar substâncias que mimetizam e potencializam os efeitos da maconha, cocaína ou heroína e escapam dos testes laboratoriais e dos órgãos de repressão.

Os fabricantes dessas drogas adotam a mesma estratégia da indústria farmacêutica: vasculham a literatura científica atrás de moléculas de interesse comercial. Só que, em vez de pesquisarem tratamentos para enfermidades que afligem seres humanos, procuram nas publicações especializadas os compostos abandonados por causar dependência química e alterações da percepção e do estado mental.

Moléculas com tais propriedades são sintetizadas em laboratórios clandestinos, instalados em fábricas antigas que produziam medicamentos e perfumes na Índia, China e Paquistão. O produto final é entregue aos traficantes em cápsulas, ampolas para injeção ou na forma de pó para ser aspirado ou fumado. O nome popular é escolhido de acordo com a cultura underground local: Miami Ice, MDPV Boliviano, Meow Meow, K2, Spice.

A Europa tem sido o mercado mais ativo. Somente no ano de 2012, o Centro Europeu de Monitoramento de Drogas de Adição detectou, nas ruas, 73 drogas psicoativas anteriormente desconhecidas.

No Reino Unido, o problema é tão grave que os serviços de repressão ao tráfico decidiram testar amostras de urina colhidas aleatoriamente. No decorrer de apenas seis meses de 2014, foram identificadas 13 novas substâncias psicoativas, na urina recolhida de banheiros portáteis do centro de Londres.

Nos últimos anos, um número crescente de drogas sintéticas invadiu o maior mercado consumidor do mundo, sem passar pelo Velho Continente. Desde 2009, o DEA, a agência dos Estados Unidos encarregada da repressão às drogas ilícitas, identificou mais de 300 substâncias sintéticas euforizantes apreendidas em cidades americanas.

A maior parte é derivada dos canabinoides, classe à qual pertencem o principio ativo da maconha e vários compostos de interesse medicinal.

Em segundo lugar, aparecem as catinonas sintéticas, obtidas a partir do alcaloide extraído da planta Catha edulis, cujas folhas são mascadas há centenas de anos por populações tradicionais da África Oriental e da Península Arábica, interessadas em seu efeito estimulante, similar ao das anfetaminas. Versões modernas e seguras das catinonas são encontradas em alguns medicamentos, como a bupropiona.

Na produção clandestina, os químicos modificam a molécula de catinona ou de canabinol introduzindo um radical metila em determinada posição, uma hidroxila em outra, um átomo de oxigênio ou de nitrogênio a mais, até obter substâncias causadoras de euforia, alucinações e dependência.

Algumas dessas drogas sintéticas já chegaram no Brasil, outras estão a caminho. São cada vez mais potentes, com efeitos colaterais mal conhecidos, eventualmente devastadores, que aumentam o risco de transtornos psiquiátricos irreversíveis e de mortes por overdose. Quando estiverem à disposição de grande número de usuários, sentiremos saudades dos tempos da maconha e da cocaína.

Se a equivocada política de guerra às drogas foi perdida contra a maconha, cocaína e heroína, com princípios ativos em plantas que exigem cultivo em áreas extensas localizáveis por satélites, laboratórios de refino e transporte em caminhões de carga, a polícia conseguirá impedir que entrem no país drogas sintéticas embaladas como medicamentos?

A cegueira dessa guerra de impacto desprezível no combate ao tráfico, que contribui para disseminar a violência urbana, superlotar cadeias, espalhar a corrupção e criar um Estado paralelo dominado pelo crime organizado, não tem a menor chance de enfrentar o desafio criado pelas drogas sintéticas do século 21.

Não sejamos ingênuos: a única estratégia de eficácia comprovada para reduzir os danos e combater o tráfico é diminuir as dimensões do mercado consumidor, tarefa árdua que exige recursos materiais, participação dos meios de comunicação em massa e empenho da sociedade na educação das crianças e no tratamento dos usuários crônicos.

DRAUZIO VARELLA

08 DE JANEIRO DE 2022
BRUNA LOMBARDI

RESOLUÇÕES DE ANO-NOVO

Quando um novo ano começa, além dos desejos manifestados de cada um, com velas, flores e orações, a gente sente simbolicamente uma renovação, uma esperança, uma possibilidade de transformação. Cada um faz do seu jeito listas, lembretes, resoluções.

A gente passa um pano para apagar as coisas que não fez, que não aconteceram ou não deram certo. Afinal, conta a partir de agora, esse é o começo. Cada um recorre a sua inspiração, curte sua superstição, busca uma nova página em branco, onde vai poder escrever como quiser sua própria história.

A cada início de ano somos protagonistas de uma série de propostas que este ano sim, nós vamos enfim realizar. Vamos nos cuidar, nos movimentar, fazer exercícios, comer saudável, dormir melhor, deixar para trás coisas que nos fazem mal.

Vamos cuidar da saúde, do equilíbrio emocional, parar de adiar coisas, parar de nos estressar. Controlar o humor, melhorar a concentração, praticar mindfulness.

Vamos deixar a preguiça de lado e organizar a casa, o computador, as fotos. Vamos ter mais tempo para nós mesmos. Ter tempo para os amigos, conhecer pessoas novas, lugares novos e, se não der para ir longe, ver o novo aqui perto, aqui ao lado, em frente, ver as coisas de um jeito novo, com um novo olhar, uma nova perspectiva.

Cuidar da autoestima, da autoconfiança, acreditar mais em si mesmo e sentir que é possível, um pouco de cada vez, mas é possível melhorar. Jogar fora a autocrítica, a voz negativa, os pensamentos que sufocam, a ansiedade, o excesso de julgamento com os outros e com nós mesmos.

Trocar a desesperança por novas experiências, novas vivências, tentar uma coisa que a gente sempre quis fazer, chegou a hora. Ser criativo, proativo, pensar em prosperar, fazer coisas que acrescentem valor, ajudem tanto a nós quanto ao coletivo.

Ter mais empatia, ser mais solidário, mais gentil no dia a dia, com as pessoas. Criar uma energia melhor em volta de nós. Quando fazemos o bem, nosso cérebro libera um hormônio chamado ocitocina, que colabora com a nossa felicidade.

Precisamos prestar atenção no tempo gasto nas redes sociais e fazer uma boa gestão do tempo, justamente para que sobre tempo de não fazer nada, ficar em silêncio. Brincar com os bichos, olhar as nuvens e o voo dos pássaros.

Ler mais, ler aquela pilha de livros que aumenta a cada dia e a gente não dá conta. Resgatar relações, conectar com amigos queridos, ter tempo para os amigos, dizer a eles que são importantes.

Limpar o peso das coisas que carregamos, sentimentos que não nos servem mais, desintoxicar. Limpar a mente, o espírito, o coração, perdoar. Perdoar e saber seguir. Acreditar no amor, mesmo com o coração machucado, deixar o peito aberto para o novo. Amar e jogar amor no mundo, sabendo que ele vem. Amor se renova, se repensa, se recria.

Um ano novo se descortina, tempo de recuperar o amor por nós mesmos e por quem nos faz bem. O amor sempre surpreende e aparece quando menos se espera. Um ano novo feliz e muito amor para todos vocês.

BRUNA LOMBARDI

08 DE JANEIRO DE 2022
J.J. CAMARGO

CUMPLICIDADE FRATERNA

Mesmo que esta impressão possa estar contaminada por algum ranço saudosista, acho que as festas de fim de ano ficaram muito chatas, porque foi diminuindo o calor do aconchego, dissipado por esse furor mercantilista que tenta compensar o afeto negligenciado por um bem material, como se houvesse uma moeda de troca na negociação espúria que pretenda substituir o carinho fraudado. Esse que não se reembolsa com nenhum Pix do mundo.

No fundo, o que essas datas fazem com a nossa velhice é hierarquizar o afeto que distribuímos sem pretensão assumida de ressarcimento, mas com uma expectativa meio ingênua, muito inocente, de que não nos esqueçam, sendo bom como é ser lembrado. Não pretendo polemizar o quanto é justa essa escala de distribuição de mimos que privilegia as crianças, que tem pais e avós a reverenciá-los, conforta os adultos, que presenteiam os filhos e são presenteados pelos pais, e isolam os velhos que têm que se contentar com o prazer unilateral de agraciar, buscando alguma sobra de felicidade que possa ter respingado do ato de ser generoso. 

Penso que esse sentimento explica, em grande medida, a saudade do tempo em estivemos no pelotão do meio, quando acima de nós estavam os pais, esses amados, que já não estão. Se não for assim, como explicar a falta que sentimos deles e essa aguda necessidade de recontar histórias que vivemos juntos em um tempo que dói só de lembrar?

Ou é pura coincidência que essas festas deixem um rastro de nostalgia nos velhinhos, que mesmo se sentindo menos importantes do que já foram precisam estar atentos para não contagiar de inconcebível tristeza, a quem só sabe estar feliz? Mas, como sempre, a sabedoria do bem viver se apressa em oferecer algum ganho, que ao menos atenue a sensação de perda, que induz alguns avós queixosos a repetirem que "no meu tempo a vida era muito melhor" sem se darem conta que, com esta declaração, além de chatearem os outros, eles estão se dando por acabados. Claro que não cabe a pretensão de ensinar a alguém o melhor jeito de envelhecer, porque essa tarefa, como poucas, tem o lacre da individualidade.

Mas, como um aprendiz autônomo, estou convencido de que esses tempos servem, como nenhum outro, para aproximar os irmãos, unidos pelas mesmas referências afetivas e habituados tanto a comemorações presenciais barulhentas quanto a distâncias silenciosas, mas cheias de saudade. Esse sentimento que dá a algumas pessoas, a milagrosa sensação de estarem juntas não estando.

Era tarde da noite quando o Décio mandou um WhatsApp, contando uma experiência recente: "Dia desses, meu irmão, fui visitar nosso Pai e a sua Xuxa, achei eles muito quietos, e fui embora, pensando: é muito chato morrer!". Demorei para dormir, querendo ter estado ao lado dele, e repartir, solidário, a cumplicidade daquele silêncio.

J.J. CAMARGO

08 DE JANEIRO DE 2022
ELÓI ZORZETTO

Falar e ouvir

Entre as infinitas características humanas, algumas tornam as pessoas particularmente especiais. Uma delas é a capacidade de se expressar. Muitos falam ou escrevem com uma facilidade incrível de ordenar ideias e conceitos. Na medida em que avançam as descobertas nos convencemos de que o cérebro é um admirável e complexo sistema criativo. O cérebro provou já ser quase perfeito antes mesmo do ser humano começar a se expressar através da fala. Ninguém sabe ao certo quando os humanos começaram a falar, mas todos sabemos da importância que esse modo de comunicação tem. O doutor em linguística Aldo Bizzocchi diz em seu livro O Universo da Linguagem que "a linguagem verbal articulada propiciou, sobretudo nos últimos 10 mil anos, um avanço cultural mais rápido do que o verificado nos vários milhões de anos anteriores" e que " a capacidade de nos expressarmos com palavras, de sermos compreendidos e de escrever, é o principal salto evolutivo da nossa espécie".

A transformação do cérebro é incontestável, e o fato de conseguir fazer com que as pessoas falem e escrevam torna nossa riqueza cultural um patrimônio propagador de conhecimento exponencial. Quanto mais armazenamos informações, mais nos capacitamos. Nosso cérebro avançou tanto que foi capaz de criar até inteligência artificial, um sonho científico não faz muito tempo. A compreensão verbal e a motricidade da fala nos dão competência comunicativa, permitem que expressemos o pensamento lógico e o planejamento de ações. Esse intrincado processo parece ser mais simples para uns do que para outros.

Quem já não passou pela experiência de perceber e entender determinadas situações e não conseguir traduzi-las como gostaria? Por alguma razão não encontramos meios para transformar em palavras o que sentimos. Nosso raciocínio não alcança o ordenamento que gostaríamos de manifestar e a comunicação falha. Se mesmo assim tentamos, o resultado pode não ser o esperado.

Quem fala ou escreve bem tem a sorte de unir várias características particulares. São pessoas que montam um complicado quebra-cabeça encaixando as peças como se conhecessem individualmente seus formatos em detalhes, sejam elas simples ou anatomicamente complicadas. O raciocínio e a fala são perfeitamente sincronizados. O problema é desenvolver tais aptidões.

Todas essas capacidades podem não resultar só em boas ações. As imperfeições também aparecem na eloquência das pessoas. Como o ser humano é criativo, tanto para o bem quanto para o mal, muitas vezes arquiteta e manipula o sentido das palavras com o objetivo de tentar mudar o rumo de um fato ou obter algum tipo de vantagem sem, aparentemente, ter dito o que disse. Claro que na outra ponta também existem os que ouvem o que querem e não exatamente o que foi dito.

Falar e escrever nos permite mergulhar num universo que de outra maneira seria praticamente impossível. Escritor e leitor, narrador e ouvinte, podem se conectar intelectualmente, mesmo que não sejam contemporâneos. De que outra maneira saberíamos que para Fernando Pessoa "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", ou que para Carlos Drummond de Andrade "ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade", ou ainda, que "a vida é uma sucessão contínua de oportunidades" na visão de Gabriel García Márquez?

O cérebro ainda deverá surpreender muito no futuro, especialmente no longo prazo. Mas hoje, no cotidiano, observamos que muitas pessoas que se expressam bem não são necessariamente intelectuais ou especialistas em oratória. Elas acumulam qualidades que as tornam indivíduos de alma plena. Qualquer coisa que digam é boa. Não é por acaso que são as que mais amamos. Têm bom coração, são coerentes, sintonizadas, engrandecedoras do nosso espírito. A fala carinhosa de alguém próximo, de quem gostamos, é norteadora, prazerosa, nos toca, é um remédio. 

Quanto bem nos faz ouvir nossos amigos, filhos, irmãos, pais, nossos queridos avós, mesmo em pensamentos. Como é bom compartilhar a experiência, as dores, os medos, os sonhos e as vitórias. Sempre nos sentimos muito bem ao ouvir os que nos acrescentam e, com seus sentimentos, nos acarinham, nos afagam, nos restabelecem, mesmo que, às vezes, digam o que não gostaríamos de ouvir. Bons argumentos sempre nos fazem bem, nos fazem evoluir, nos enriquecem e nos dão esperança. Como é bom falar e, principalmente, saber ouvir.

*O colunista David Coimbra está em férias - ELÓI ZORZETTO


08 DE JANEIRO DE 2022
MAGALI MORAES

Uma semana depois

Agora que passou a primeira semana de 2022, me conta o que você está achando desse novo ano. Muito recente pra ter uma opinião formada? A rotina já tomou conta da situação? Não deixa isso acontecer, não ainda. Antes que a vida engrene por completo, guarda mais um pouco dentro de você aquela sensação de encantamento dos fogos de artifício colorindo o céu. Lembra como foi bonito? Sempre é. A gente não vestiu branco por acaso. Rituais de passagem existem pra trazer esperança e inspirar novas atitudes.

As expectativas estão altas? Calma que o ano acabou de sair do forno, se fosse um pão ainda estaria quente. O que é uma semana pra quem aprende a dirigir? Pra quem volta pra casa com um bebê recém-nascido no colo? Quase nada, tem muito chão pela frente. Uma semana depois de iniciar um relacionamento, não dá pra saber se vai durar. Uma semana depois de perder alguém, a dor segue igual (beijos pra família da Lya Luft). Mudar de casa, de Estado ou país? Uma semana depois, seguimos em território desconhecido. É apenas um amostra, provinha, provação. Os novos hábitos demoram bem mais pra ser internalizados. Então segue acreditando no potencial de 2022. Por enquanto foi degustação.

Em quantos dias um buquê de flores perde seu frescor e perfume? Quanto tempo dura o cheirinho de carro zero-quilômetro? Depende de como a gente cuida deles. Eu vou fazer de tudo pra esticar a sensação de novidade desse ano que mal começou e já me surpreendeu. Falando nisso, um friozinho na barriga demora segundos ou horas? O que eu estou sentindo já dura uma semana: desde o momento em que descobri que estaria aqui conversando com você. Sou otimista de carteirinha, mas confesso que as minhas expectativas estavam nebulosas pro início do ano. Apenas joga pro universo que alguém lá em cima organiza tudo.

E já que estamos falando sobre essa coisa tão subjetiva chamada tempo, uma semana pode parecer uma eternidade pra quem espera uma notícia boa, o resultado de um exame, o sim de um processo seletivo de emprego. Nesse mundo instantâneo em que vivemos, o que seria se a gente normalizasse que em 2022 todas as mensagens de WhatsApp podem demorar uma semana pra ser respondidas? Seria o caos ou a paz na Terra? Não precisa responder, é pra refletir sobre urgências nada urgentes.

Uma semana depois da virada de ano, você ainda pensa na sua listinha de resoluções? Se escreveu em papel, amassa. Se foi no bloco de notas do celular, apaga. Se foi só de cabeça, esquece. A vida vai te surpreender de um jeito ou de outro.

Magali Moraes ocupará esse espaço nas edições de janeiro

INTERINA

08 DE JANEIRO DE 2022
LINDOLFO COLLOR

Medo e surpresa após caso de tortura de cão

No entorno da casa onde morava até o mês passado o adolescente de 17 anos investigado por torturar e matar um cão e por ameaçar via e-mail funcionários da Anvisa, o sentimento dos moradores é um misto de surpresa e indignação. Em Lindolfo Collor, município de 5,7 mil habitantes no Vale do Sinos, vizinhos do garoto, que foi apreendido, conversaram com a reportagem sem se identificar. Quase em coro, relatam tristeza pelo animal morto e se espantam com a crueldade.

- A gente não entende o que passa na cabeça de um adolescente para fazer isso. É difícil acreditar - afirma uma moradora.

O adolescente está internado desde o dia 28, no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), no Vale do Sinos. O caso começou a ser investigado depois que o jovem fez transmissão online torturando até a morte um cachorro. O cão, descrito como dócil e de idade avançada, era de um casal vizinho. O animal teria saído pelo portão da casa e foi pego na rua. O cadáver do cachorro, segundo o adolescente contou à polícia, foi jogado em um rio.

A transmissão ocorreu em 24 de dezembro e foi acompanhada por um grupo de cerca de 30 internautas, que incentivava o jovem a continuar as agressões. A maior parte dessas pessoas, algumas de fora do Estado, já foi identificada. Os que residem no RS foram chamados pela polícia, para esclarecimentos, mas permaneceram em silêncio. O inquérito do caso, sob responsabilidade da DP de Novo Hamburgo, foi remetido à Justiça, mas diligências seguem em andamento.

A Polícia Civil descobriu que o adolescente seria integrante de um grupo que defende ideias extremistas e se intitula "elite intelectual" na internet. Seriam cerca de 300 participantes espalhados pelo país, com um líder em Goiânia, segundo a apuração. Há investigações a esse grupo em pelo menos quatro municípios do RS - Lindolfo Collor, Tramandaí, Alvorada e Porto Alegre - e em Águas Claras (MS).

O adolescente gaúcho teria também feito ameaças a funcionários da Anvisa. Num e-mail assinado por ele - que contém o avatar dele na internet e também o seu CPF - são feitas declarações agressivas direcionadas ao comando da agência, com a promessa de que os diretores do órgão "pagarão caro" por aprovarem a vacinação contra a covid-19 para crianças no Brasil. O texto diz ainda que iria "purificar a terra onde a Anvisa está instalada usando combustível abençoado". Ele manda seus dados pessoais, diz que mora no RS e desafia "os parasitas da PF" a encontrá-lo. Por fim, se despede com uma saudação nazista. O caso é investigado pela Polícia Federal. ZH tentou contato com a PF para saber o andamento da apuração, mas não obteve retorno.

Ataque

Na troca de mensagens do grupo, obtida pela polícia gaúcha, o próximo passo seria atacar escolas e creches em Lindolfo Collor. A ação não se concretizou, mas a possibilidade assustou moradores:

- Agora ele foi apreendido, mas a gente não sabe se daqui a pouco não aparece de novo. Tenho criança pequena, que vai a creche. Temos cachorros também. A gente fica com medo.

ZH esteve em uma escola onde o adolescente estudou. Em 2020, durante o período remoto, ele evadiu. Duas integrantes da direção, que estavam na instituição na sexta-feira, preferiram não se manifestar. Uma delas ressaltou que famílias devem ficar atentas com o que crianças e adolescentes estão tendo contato:

- Que esse episódio fique como alerta geral. Há crianças e adolescentes que precisam de atendimento, que deve ser levado a sério. É preciso que pais e responsáveis fiquem atentos aos seus filhos, com quem conversam, o que acessam, onde frequentam.

Prefeito de Lindolfo Collor, Gaspar Behne diz que irá colaborar, se for necessário:

- Repudiamos a violência contra animais e esses ideais. Aguardamos o esclarecimento dos fatos.

Segundo a prefeitura, o adolescente é atendido, há alguns anos, pela rede de apoio do município, formada pela Secretaria Municipal de Saúde e Conselho Tutelar. Ele teria problemas psiquiátricos, como depressão, e faz uso de medicamentos. A reportagem conversou com o Conselho Tutelar, que afirmou que atendeu o adolescente em ocasiões anteriores, como durante o período de aulas no sistema remoto, mas não acompanhou os últimos acontecimentos. O nome do investigado não é divulgado por GZH em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

 BRUNA VIESSERI


08 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

PELA VERDADE, PELAS CRIANÇAS E PELA VIDA

No momento em que um tsunami de contágios de covid-19 e gripe atinge o país e na antevéspera do tardio início da vacinação de crianças entre cinco e 11 anos, uma nova manifestação do presidente da República provoca insegurança e indignação. Em entrevista à Rádio Nordeste, de Pernambuco, com grande repercussão nos demais meios de comunicação e nas redes sociais, o senhor Jair Bolsonaro afirmou que desconhece a incidência de óbitos de crianças por covid, lançou suspeitas sobre efeitos colaterais da imunização e sugeriu que os pais consultem o vizinho antes de vacinar seus filhos.

"Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?" - questionou com veemência, como se a comunidade humana, os organismos internacionais de saúde, cientistas e profissionais especializados, a Anvisa e integrantes de seu próprio governo fizessem parte de uma conspiração planetária para espetar braços infantis.

É, realmente, doloroso ver meninos e meninas sendo submetidos ao breve sacrifício da injeção. Porém, dói muito mais - e essa dor não passa nunca - ver crianças com sequelas permanentes de doenças que podem ser prevenidas ou tendo suas vidas abreviadas por doenças que podem ser evitadas e remediadas. Segundo o próprio Ministério da Saúde do atual governo, mais de 300 brasileirinhos morreram de covid entre 2020 e 2021, informação que o presidente não tem o direito de desconhecer.

Além disso, a não ser que o vizinho seja uma autoridade em virologia, o mais sensato é perguntar ao médico da criança quando os pais têm quaisquer dúvidas sobre efeitos colaterais da imunização. Consultado recentemente por GZH sobre o assunto, o infectologista Marcelo Otsuka, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), relatou que em 7 milhões de doses aplicadas em crianças nos Estados Unidos ocorreram apenas oito casos de miocardite, que é um dos raros efeitos possíveis, todos com cura completa, sem necessidade de internação. Já no Brasil, de acordo com o médico e considerando a população pediátrica infectada pelo coronavírus, mais de 1,2 mil crianças tiveram a síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P) e 80 foram a óbito. Ou seja: a infecção é que causa efeitos colaterais danosos e, em muitos casos, letais.

Nesse contexto, o interesse das pessoas que defendem a vacina para adultos e crianças, talvez com a exceção de algumas poucas que só pensam em lucrar com o processo de imunização, é unicamente o de preservar vidas humanas de um flagelo já por demais prolongado. Decididamente, não é uma tara. É, isto sim, uma atitude de proteção às crianças que se soma ao respeito à ciência e à esperança de que a pandemia seja controlada o mais breve possível.

A verdade é que, apesar de mais uma inoportuna manifestação presidencial com potencial para confundir cidadãos menos informados, o Brasil está prestes a iniciar o processo de imunização do público infantil - um passo importante para a vitória definitiva sobre o vírus assassino e seus cúmplices negacionistas.

 


08 DE JANEIRO DE 2022
MARCELO RECH

A alma de Porto Alegre

Já contei essa história algumas vezes. No final do século 10, o viking Eric, o Vermelho, foi banido e navegou para Oeste, onde topou com o que é hoje a Groenlândia, um amontoado de rochas e gelo, com tímidas e esporádicas vegetações rasteiras. Para atrair o restante de sua tribo, batizou o território de Groenland ou "Terra Verde". Há mil anos, portanto, a ilha ganhou um slogan bacana, mas nem por isso nasceu uma árvore nela.

As descobertas de Eric sobre o marketing são uma bela contribuição no momento em que Porto Alegre está para escolher sua logomarca. Com qualquer um dos três finalistas, os porto-alegrenses estarão bem representados. Só que não basta ter uma vitrine vistosa. É a loja que não pode frustrar os clientes.

O Pacto Alegre e o Instituto Caldeira, com seu fomento à inovação, estão entre os maiores avanços da história recente de Porto Alegre, mas a cidade ainda não encontrou sua alma mais recôndita para explorá-la como uma marca aos olhos do mundo e, assim, atrair investimentos, renda e empregos. Algumas capitais brasileiras já chegaram lá. O Rio é a cidade do turismo e da alegria e São Paulo, a da gastronomia e dos negócios. E, graças ao visionarismo de Jaime Lerner, a então insípida Curitiba foi transformada em símbolo mundial de cidade sustentável em países em desenvolvimento.

Em décadas idas, com os fóruns sociais mundiais, procurou-se fazer da capital dos gaúchos uma meca das esquerdas. Nenhuma iniciativa ancorada em ideologia, porém, resiste ao tempo e a trocas de governos. Porto Alegre tem já submarcas promissoras, de todo modo. O distrito cervejeiro, o Gre-Nal, a nova orla do Guaíba e o ambiente de startups são algumas delas, mas tenho para mim que a vocação natural de Porto Alegre - da qual derivam as demais - se assenta sobre o tripé educação, saúde e cultura. As universidades de ponta para padrões latino-americanos, a qualidade de alguns hospitais e médicos de referência (caso consigam se unir) e o entusiasmo com que os porto-alegrenses abraçam as manifestações culturais locais - da Feira do Livro ao Porto Alegre Em Cena - são um enorme e ainda pouco aproveitado manancial.

Ao fim de seu primeiro ano, a gestão de Sebastião Melo teve o condão de combinar a correta atuação como zeladoria da cidade com uma visão alargada para o futuro, como o projeto para o Centro. Agora, quando Porto Alegre está para celebrar 250 anos, a nova logomarca tem tudo para ser o ponto de partida para algo maior, como ambiciona o Pacto Alegre desde a origem. Desencavar e embalar as vocações da cidade, vencer os narizes torcidos e os derrotistas e superar as rivalidades são a base para uma marca verdadeira, densa, duradoura e, sobretudo, que gere muitos frutos por décadas à frente.

MARCELO RECH

08 DE JANEIRO DE 2022
J.R. GUZZO

Cinco anos sem aumento?

O movimento que os funcionários públicos federais estão fazendo para obter um aumento salarial em massa é mais uma dessas demonstrações perfeitas de por que, na prática, o Brasil é esta desgraça social que não muda nunca. O país não melhora, e nem pode melhorar, se o Estado continua engolindo, para o seu próprio sustento, uma parte cada vez maior de tudo o que a sociedade produz.  

O argumento central dos servidores é uma piada: dizem que há cinco anos estão sem um “aumento geral”. E os 200 milhões de brasileiros, ou mais ou menos isso, que não são funcionários públicos? Quando foi que tiveram o último “aumento”? Isso não existe, simplesmente: a população é remunerada por conta das realidades do mercado de trabalho, do mérito individual, do valor relativo das ocupações profissionais e assim por diante. O resto é a bolha do Estado. 

O Estado brasileiro saqueia sistematicamente os recursos de todo o país; na verdade, saqueia uma porção cada vez maior da riqueza nacional, numa espiral que não para nunca de crescer. É impossível, numa situação dessas, não haver concentração maciça de renda. É impossível não haver a produção constante de miséria. 

Como ser diferente num país que arrecadou acima de R$ 1,5 trilhão de impostos em 2021 e não tem dinheiro para nada? O Brasil não tem dinheiro para nada porque gasta o grosso disso consigo mesmo, com sua folha de pagamento, suas aposentadorias, seus benefícios, suas despesas de funcionamento. 

O mais extraordinário nessa aberração é que existe uma situação de injustiça extrema dentro da injustiça geral. A maioria dos funcionários públicos, na verdade, ganha mal; o dinheiro de verdade vai para a casta de mandarins que ocupam os cargos mais altos – as lideranças do movimento estão “entregando os cargos” que ocupam; não entregam os empregos, é claro – ou seja, é pura conversa.  

No presente movimento por salários maiores, por exemplo, um dos setores mais ativos é o dos auditores da Receita Federal. Só que o salário médio de um auditor da Receita é de R$ 30 mil por mês. Como justificar a urgência de aumento para o setor num país em que o salário mínimo é de R$ 1,2 mil? Não se discute a competência profissional dos auditores, nem a sua dedicação ao trabalho, nem a importância do que fazem para a sociedade. 

Nem se fale, aqui, do Judiciário, onde é comum magistrados arrancarem R$ 100 mil por mês do pagador de impostos, ou mais. Mesmo ficando fora dessa área de delírio, as exigências de aumento salarial por parte dos funcionários mais altos significam injustiça social direto na veia, ao transferir renda para o bolso da minoria.  

Não se trata apenas dos altos salários. Todos eles, além do contracheque mensal, têm benefícios com os quais o brasileiro comum não pode nem sonhar: estabilidade no emprego, aposentadoria com salário integral, aumentos por tempo de serviço, plano médico, benefícios de todos os tipos. 

Falar de “recuperação salarial” ou de “correção de injustiças”, nessas condições, é piada de mau gosto.

J.R. GUZZO

08 DE JANEIRO DE 2022
INFORME ESPECIAL

De Antônio Prado para o mundo

Construído aos poucos por um empresário da Serra obcecado por tudo de belo e instigante que a mente humana é capaz de criar, um acervo particular inédito, com mais de 400 obras, está prestes a ganhar o mundo. E o melhor: em um espaço público e gratuito.

No dia 22, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) abrirá as portas para a mostra Coleção Sartori - A Arte Contemporânea Habita Antônio Prado, com curadoria de Paulo Herkenhoff.

Morador do município de 13 mil habitantes que dá nome à exibição, Paulo Sartori, 45 anos, é designer e sócio de uma indústria de móveis, a Essenza Design - em operação desde 2001 no segmento da alta decoração. Por anos, a paixão pela arte esteve adormecida.

Foi em 2013, quando o empresário entrou quase sem querer em uma galeria de Caxias do Sul, que o colecionismo começou.

- Achei que seria legal ter quadros nas paredes brancas da casa nova. Minha mulher até ficou surpresa, porque a gente não tinha dinheiro sobrando, mas foi transformador. Dali em diante, não parei mais. Meus negócios me permitiram realizar um sonho, e é incrível poder compartilhá-lo - diz ele.

Ao longo de quase 10 anos, Sartori calcula ter investido R$ 9 milhões em trabalhos artísticos. A seleção é variada, com destaque aos gaúchos da "geração 80", que inaugurou nova fase da pintura no país.

- É uma baita exposição, e, para o Margs, museu público, é uma honra oportunizar acesso a essa coleção esplêndida - resume o diretor da casa, Francisco Dalcol.

JULIANA BUBLITZ

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022


Mães e filhas, o luto e o autoconhecimento
Athene, mãe de Suzanna Peacock, que viveu a década de sessenta, é o tema central do romance A loja dos sonhos (Editora Intrínseca, 416 pág, R$ 59,90, tradução de Adalgisa Campos da Silva), inédito no Brasil, é o terceiro livro publicado da aclamada escritora e jornalista inglesa Jojo Moyes. Ela é autora dos best-sellers A última carta de amor e Como eu era antes de você e já vendeu mais de 30 milhões de exemplares, publicados em vários países do mundo.
Athene viveu como poucos a agitada década de sessenta. Mimada, incontrolável e glamourosa, aceitou casar e seus pais respiraram aliviados, até que, apenas dois anos depois do casamento, os boatos de uma traição começaram a circular.
Trinta e cinco anos depois, Suzanna ainda tem dificuldades para se desvencilhar das famigeradas histórias da mãe. Para completar, ela não está feliz, seu casamento já não é mais o mesmo e, depois de ter voltado à cidadezinha em que cresceu, não tem dúvidas de por que fez questão de se afastar de lá e manter distância por quinze anos.
Suzanna só encontra sossego e paz em sua loja, uma mistura de cafeteria e brechó onde vende de tudo um pouco, de bijuterias de segunda mão a um bom espresso. Lá faz amigos de verdade pela primeira vez, como Jessie, uma jovem curiosa e criativa, e Alejandro, um argentino solitário que trabalha no hospital local, adora um espresso e tem histórias familiares complicadas para contar.
Embora os dias na loja a façam sentir feliz e protegida, o fantasma da mãe segue perseguindo Suzanna e, só depois de enfrentar a família e seus medos, ela encontrará a chave para entender sua própria história e ver sua vida mudar.
Com personagens complexos e inesquecíveis, na mistura de passado e de presente, no melhor estilo de Jojo Moyes, A loja dos sonhos mostra como é possível encontrar segurança e redenção nos lugares mais improváveis, além de indicar que o sucesso da autora em muitos países não é obra do acaso.

Lançamentos
Press Dinheiro (Athos Editora, 58 pág, R$ 10,00) - em sua primeira edição em formato de revista, publicada sob a direção do editor e jornalista Júlio Ribeiro, traz grande matéria de capa sobre como proteger o seu dinheiro, além de uma entrevista com Márcio Port e artigos sobre criptomoedas, pix, revolução Fintech e o uso de dinheiro físico.
O jeito Harvard de ser feliz (Benvirá, 216 pág, R$ 24,50) de Shawn Achor, um dos maiores especialistas mundiais em sucesso e felicidade, trata, em síntese, dos conteúdos do curso mais concorrido da melhor universidade do mundo. É preciso ser feliz para ter sucesso e não o contrario, ensina a obra, que também ressalta a importância de ser positivo.
Forever and ever (Bestiário/Class, 190 pág, R$ 38,00) traz poemas do médico André Campos, ginecologista e obstetra, e apresenta uma visão masculina falando do amor. André fala de homens, de mulheres, de amor, com palavras masculinas que cuidam dos recantos mais delicados do mundo atual. A obra mostra bem o que é o sentir de terno e gravata.2022 , o ano da esperança
O Mario Quintana, sempre ele, aquele que a Academia não mereceu, o eterno e verdadeiro imortal do povo, escreveu que a esperança é um urubu pintado de verde. Bom, aí você pode pensar ou sentir sobre isso , pensar se esperança é enganosa ou se é nossa eterna arte de pintar de verde um pássaro preto ou uma situação difícil.
Concordo com os relatores, com os redatores e, principalmente, com a voz do divino povo e também quero eleger a palavra esperança como o título para 2022. Numa pesquisa do Instituto Ideia, saúde e recomeçar ficaram em segundo e terceiro lugar na palavra para 2022.
Diz o povo que a esperança é a última que morre e que nada é mais comprido que esperança de pobre. Diz o povo também, sempre sábio como certos doutores e academias, que enquanto há vida existe esperança. É verdade, e vamos ter esperança neste 2022, depois do vacinado 2021.
Não por acaso, um dos espetáculos musicais mais marcantes de nossa pátria mãe gentil é Brasileiro, profissão: esperança, com textos de Paulo Pontes e canções de Dolores Duran e Antônio Maria. O espetáculo já teve versões com Maria Bethânia e Italo Rossi (1971), Clara Nunes e Paulo Gracindo (1973) e Bibi Ferreira e Gracindo Jr (1998) e, a partir de agosto de 2021, nova versão entrou em cartaz com Cláudia Netto e Claudio Botelho, em temporada presencial, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro.
Nesse momento de pós-pandemia nada mais simbólico que relembrar as crônicas do grande jornalista Antônio Maria e as lindas canções de Dolores Duran e pensar, mais uma vez e sempre, que um de nossos traços principais é justamente ter esperança e seguir adiante, apesar dos problemas éticos, políticos e econômicos que iniciaram lá por 1500 e seguem fazendo sucesso de bilheteria por aí, especialmente nos centros do poder.
Há os que não demonstram esperança diante dos poderes públicos, do desemprego gigante, das crises econômica, moral, política, ética e comportamental e das complicações para entender a política, os políticos e as futuras eleições. Não são poucos os desesperançosos e eles têm suas razões para desacreditar no futuro. É preciso ouví-los.
Há os milhões que não estão nem aí e que nem pensam em esperança ou desesperança.
Os esperançosos, apesar dos ventos e das marés e das nuvens escuras, aproveitam o clima de início de ano para botar fé na mega sena e em outras coisas e pensar que na vida é preciso acreditar em algo ou em alguém para conseguir levantar da cama pela manhã (ou pela tarde). Acreditar em certas pessoas ou até em pedras, pirâmides ou outros objetos de esperança faz parte da vida e isso é mais antigo do que as comissões que os empreiteiros devem ter faturado nas obras das pirâmides faraônicas do Egito.
Acredite, acredite em alguém ou em algo porque senão é o buraco, não custa repetir. Mas é bom pesquisar bem antes de escolher a crença, e fazer escolhas boas. Tem muito gato vestido de lebre e muito lero inconsistente na praça. Confere bem, lê a bula, vê quem tem ficha limpa e aí você pode se jogar com menos riscos. 

a propósito...
Enfim, é bom que tenhamos esperança e que essa qualidade bem brasileira continue conosco. Um pouco de pragmatismo norte-americano ou europeu pode nos ajudar. Não adianta ficar só esperando o Godot ou o Dom Sebastião e achar que é só esperar e tudo vai se resolver. É preciso agir, colocar a mão na massa e mostrar que quem sabe faz a hora, não espera acontecer, como disse Geraldo Vandré. Esperança ou esperançar, sim, mas passividade não. Como gostam de dizer os juristas: peço e espero que a Justiça seja feita. É isso, meus vinte e quatro amigos. Desejo boas esperanças e ótimas ações em 2022 e espero que, se for preciso, tenhamos muitas latas de tinta verde para pintar os urubus.

07 DE JANEIRO DE 2022
FÁBIO PRIKLADNICKI

Um livro sobre o seu dinheiro

Se você, assim como eu, teve o azar de não ganhar a Mega-Sena da Virada, é hora de pensar nas suas finanças para 2022. O início do ano é o melhor momento para isso, pois estamos tão otimistas quanto os especialistas que projetam a economia do país, com a expectativa de que algo grandioso possa acontecer com nossa conta bancária. E a estatística está do nosso lado: são 365 oportunidades.

Mas há algo que podemos fazer concretamente. É aí que entra um livro que foi uma das minhas leituras mais proveitosas de 2021. Embora cultuado internacionalmente entre as pessoas interessadas por investimentos, A Psicologia Financeira (HarperCollins Brasil), de Morgan Housel, merece ser lido mais amplamente. É um volume direcionado não a especialistas, mas a pessoas comuns, como você e eu, que procuramos fazer o melhor para guardar nosso dinheiro feito com suor.

Sócio do Collaborative Fund, empresa norte-americana que oportuniza financiamento para companhias, Housel não diz no livro onde você deve investir. Em vez disso, oferece reflexões sobre comportamentos que provavelmente vão mudar a forma como você pensa - e age - sobre dinheiro. Dos 20 capítulos de leitura leve, separei três ideias que me chamaram a atenção.

Talvez a mais interessante para nós, brasileiros - sempre preocupados em impressionar os outros com carros, roupas e procedimentos faciais -, é a seguinte máxima: fortuna é aquilo que você não vê. Quando as pessoas dizem que querem ser milionárias, argumenta Housel, pensam em poder gastar US$ 1 milhão. Mas isso é justamente o oposto de ser milionário. Embora os bens materiais sejam nossos parâmetros para julgar a vida dos outros (sem saber se tiveram que se endividar), na verdade fortuna é o dinheiro que não foi gasto.

Economizar é uma impossibilidade para a maioria dos brasileiros, que mal recebem o suficiente para seu sustento. Mas muitos que poderiam fazer algo sobrar no final do mês encontram dificuldade. Assim, é comum que se recomende ter um objetivo para guardar dinheiro - uma viagem de férias, por exemplo. Embora possa ser uma dica útil, Housel apresenta uma reflexão diferente: você não precisa de um motivo específico. É que o mundo não é previsível. Assim, economizar "é uma proteção contra o poder incontornável que a vida tem de nos surpreender nos piores momentos", escreve ele.

Por fim, um conselho que o autor diz ter levado anos para entender: cuidado com as dicas financeiras de pessoas que jogam um jogo diferente do seu. Você investe para a aposentadoria? Nesse caso, não faz sentido se comparar com o amigo que faz operações arriscadas de curto prazo na bolsa em busca de lucros extraordinários (ou perdas irrecuperáveis).

Pode ser que nada extraordinário aconteça com sua conta bancária em 2022, mas quem sabe não é o início de um planejamento para o futuro?

David Coimbra está em férias - FÁBIO PRIKLADNICKI


07 DE JANEIRO DE 2022
ARTIGOS

O QUE FAZ UMA CIDADE SER BOA?

Neste período difícil em que vivemos, alguns motivos vêm trazendo alento para a população de Porto Alegre. Nas redes sociais e mesmo nas conversas olho a olho, é perceptível uma recuperação da autoestima da cidade e de seus moradores. Esse movimento tem muitas razões, que vão desde a retomada das atividades presenciais ao sucesso da revitalização da orla do Guaíba - cujo Trecho 3 foi inaugurado recentemente.

O sentimento de que a vida está voltando a pulsar ajuda a responder ao título deste artigo. Afinal, o que faz uma cidade ser boa? Não basta um aglomerado urbano, com prédios, praças, ruas e equipamentos de qualidade. Tampouco é suficiente uma gama de serviços públicos eficientes, uma larga oferta cultural ou uma economia pujante. Da mesma forma, um conjunto de habitantes criativos, resilientes e trabalhadores, por si só, não vai gerar a percepção de que um determinado lugar é ótimo para se viver.

O segredo está na interação de todos esses elementos: pessoas, lugares e iniciativas se complementando de forma harmônica e coesa. E isso precisa ser levado cada vez mais em consideração no pós-pandemia - após o isolamento social ter provado que é possível levar a vida longe das cidades, trabalhando e consumindo de forma praticamente remota.

Em meados do século passado, o urbanismo americano já recebia influências de conceitos inovadores para a revitalização das cidades - que, à época, também sofriam com uma onda de "fuga aos subúrbios". Estudos apontavam condições essenciais para a qualidade de vida na urbe, como o uso misto dos prédios, a combinação de edifícios novos e antigos, a alta densidade, entre outros elementos.

Cada vez mais, vejo Porto Alegre se desenvolvendo a partir desse olhar. O reencontro com o Guaíba, os novos ares do Centro Histórico, a ressignificação do Quarto Distrito, os novos empreendimentos que estimulam a interação com as ruas: tudo isso faz parte da vida em comunidade. E são os elementos que tornam uma cidade boa. Ainda há muito a melhorar, é claro. Mas o caminho está sendo trilhado - e todos nós podemos contribuir na sua construção.

VALÉRIA LEOPOLDINO

07 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

TRANSPARÊNCIA RESTAURADA

Mais do que a revogação do reajuste da verba de gabinete dos parlamentares gaúchos, classificado de inoportuno e desproporcional até mesmo por integrantes da própria Assembleia Legislativa, o que o contribuinte tem a celebrar no recente episódio é o retorno da transparência a um tema que estava sendo tratado praticamente na surdina.

A resolução com o aumento de 117,03% na cota parlamentar foi publicada no dia 22 de dezembro do ano passado, véspera do recesso das atividades legislativas. Naquela ocasião, nenhum deputado manifestou qualquer desconforto com a medida. Porém, quando o assunto veio a público - primeiro pelo estranhamento da imprensa e, depois, pela crítica contundente dos cidadãos pelas redes sociais -, a Mesa Diretora da Casa fez uma reunião extraordinária e, rapidamente, revogou a decisão. Em ano eleitoral, a pressão popular sempre pesa mais.

Ainda que exista justificativa técnica para o reajuste de uma cota que está congelada desde 2008, a difícil situação financeira do Estado - que não recompõe o salário dos servidores há sete anos - deveria ser considerada pelos parlamentares no debate sobre a revisão. Até por ser historicamente o mais transparente e o mais fiscalizado dos poderes, o Legislativo tem o dever de prestar contas espontaneamente de seus gastos. Infelizmente, não era o que estava ocorrendo no caso referido. Menos mal que as lideranças da casa reconheceram o erro e tiveram sensibilidade para voltar atrás - atitudes, estas sim, compatíveis com a credibilidade conquistada pelo parlamento gaúcho ao longo de sua história.

Embora se trate de um caso pontual, é importante registrar igualmente o papel desempenhado pela imprensa independente como aliada da sociedade na fiscalização de seus governantes. Ao lançar luz sobre a questão e abrir espaços para todas as partes se manifestarem, o jornalismo oferece ao cidadão a tribuna pública adequada para que ele possa ver, ouvir e avaliar seus representantes políticos. É assim que a democracia se fortalece.

Evidentemente, não se trata de um assunto encerrado. A cota parlamentar existe para custear despesas necessárias ao exercício da representação, como viagens, correspondência, contatos com os cidadãos e divulgação das atividades do deputado. No caso da Assembleia Legislativa gaúcha, a rubrica mais dispendiosa tem sido a indenização pelo uso de veículo particular para atividade relacionada ao mandato - gasto crescente devido às constantes altas nos preços dos combustíveis.

Nesse contexto, é legítimo que os parlamentares pleiteiem a recomposição da chamada verba de gabinete, desde que em percentuais razoáveis e compatíveis com a realidade do Estado. Ao mesmo tempo, é impositivo que também cortem despesas supérfluas, racionalizem gastos, considerem o momento do país e, acima de tudo, que apresentem cálculos compreensíveis e justificativas transparentes, para que o verdadeiro responsável por pagar a conta - na sua condição de cidadão, contribuinte e eleitor - possa avaliar a necessidade e a legitimidade das demandas.

OPINIÃO DA RBS

07 DE JANEIRO DE 2022
EDUARDO BUENO

Memórias do cárcere

Já fui preso 11 vezes, em seis línguas diferentes. Fui preso em norueguês, em italiano, em chinês, em espanhol (duas vezes), em inglês (três) e em português. As menos interessantes foram as três no meu idioma nativo - essas, não conto nem sob tortura.

Em norueguês, fui preso em Flan, uma aldeia minúscula. Era novembro de 1978. Eu estava num albergue. Tinha um africâner lá. Em pleno café da manhã, ele zuniu que todos os negros deveriam ser varridos do mundo. Meu sangue enregelou-se como a neve, essa supremacista branca que recobria as montanhas. Urrei impropérios. Ele cuspiu na minha cara. Esmaguei-lhe a barriga com a mesa entre nós e a parede às costas dele: as tripas do miserável quase lhe saíram pela boca suja. Fomos conduzidos coercitivamente à delegacia, onde o escrivão ouviu o depoimento das testemunhas oculares da história. Saí aclamado da cadeia. O sujeito ficou lá. Tomara que ainda esteja.

Em italiano, fui preso em Veneza. Perdi o horário do albergue. Bati na campainha mil vezes, arranhei a madeira com as unhas, verti lágrimas de sangue ( ou seriam de tinto?). Após meia hora de silêncio, entendi que teria de dormir na rua. Era dezembro de 1978 ( eu recém deixara a cadeia em Flan). Encostei-me num muro roído pelo tempo, tiritando. Então, um camburão aquático com um farol do tamanho do bumbo da Geral do Grêmio iluminou minha cara. E a dos dois punguistas argelinos a uns três metros de mim. 

Deslizamos pelos canais da Recife italiana a bordo da bat-lancha, algemados. Os jihadistas amadores tentaram puxar conversa. Ignorei-os. Eu havia feito a cobertura da Copa de 1978 por Zero Hora. Tinha visto a Azurra jogar e ser garfada pela Argentina. Escalei o time todo e critiquei o juiz safado! Deixei a cadeia como qualificado cronista esportivo. Mas só ao raiar do dia seguinte, porque os gentis carabinieri não me deixaram dormir ao relento, nem partir sem um bom desjejum...

Em chinês, fui preso em Wenzhou. Foi em 2010. Eu pesquisava para a biografia de um admirável empresário sino-brasileiro. Meu irmão fez fotos do rio onde a família que eu biografava florescia desde o ano 1610. Mas era " zona de segurança". Um recruta quis tomar a máquina dele. Depois um cabo, um sargento, um pelotão; aí veio a polícia civil, depois os "membros do partido". Até que um carro rangiu as rodas e dele saltaram três homens de preto. The men in black, com reforço. Eles nos levaram.

Chegamos ao Dops de lá e já sabiam tuuuuudo sobre nós, talvez até que eu era o Peninha, do Pra Começo de Conversa. Da TVE. Os agentes secretos tiraram fotos comigo. Não me pareceram muito secretos para agentes, mas você sabe, chineses são todos iguais mesmo. Saí como um escritor consagrado da cadeia.

A banda Titãs já cantou com a sabedoria dos doidões: " Polícia para quem precisa de polícia". Os Titãs e eu não precisamos de polícia. O Brasil precisa. As outras prisões, conto outra hora.

*Eduardo Bueno está em férias. A coluna acima foi publicada originalmente em 5 de janeiro de 2018.

EDUARDO BUENO

07 DE JANEIRO DE 2022
INFORME ESPECIAL

Papagaio-verdadeiro, rei na Capital

Quem mora em bairros arborizados de Porto Alegre anda ouvindo "gargalhadas" nos finais de tarde. São bandos de pássaros de penas verdes fazendo a maior festa. Na imagem captada pelo fotógrafo Lauro Alves, a estrela é o papagaio-verdadeiro.

Segundo Paulo Fenalti, que divide com Fernando Jacobs a autoria do livro Aves do Rio Grande do Sul, esses animais são cada vez mais comuns na Capital. Originários de fugas e solturas, eles comem sementes e frutos de leguminosas, palmeiras e cinamomos e apreciam as flores de paineiras.

Para rir

Andam circulando nas redes sociais e nas brincadeiras dos veranistas trocadilhos bem-humorados a partir dos nomes das praias gaúchas. Imbé virou Imbeverly Hills, em referência à cidade da Califórnia. Arroio Teixeira, passou a ser Texas Beach, Curumim e Arroio do Sal se juntaram para formar Curaçau. Haja criatividade!