sábado, 6 de agosto de 2022


06 DE AGOSTO DE 2022
LEANDRO KARNAL

Olá! Meu nome é Inácio e eu quero dizer aos colegas deste Conselho algumas coisas que aprendi. Podem ser úteis.

1) Nunca é tarde para começar. Eu já era adulto quando aprendi latim e um homem maduro quando fui estudar em Paris. Tomei decisões estratégicas na minha vida depois dos 35 anos. Sempre é tempo de estudar.

2) O desafio da educação é sair da norma burocrática e tornar cada valor algo pessoal. Quem educa deve encarar isso o tempo todo: como internalizar uma ideia para que surja uma experiência pessoal. Não basta decorar fórmulas: o aluno precisa entender o procedimento mental de cada área do conhecimento. Memória é fundamental e um atributo essencial do ser. Lembrem-se: memória é trampolim, a piscina está abaixo e implica nadar.

3) Aprendi que a concentração é fundamental. Se puder, prepare na noite anterior os pontos do estudo da manhã seguinte. Durma pensando neles. Acorde para a consciência deles. Viva o foco! Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear internamente as coisas.

4) Não existe estudo sem atitude. Formação intelectual é nula, sem base ética. Notamos um estudioso se as ações pessoais começam a se transformar. Se for de outra maneira, será um erudito estéril. A educação formal e a informal têm por objeto formar um ser humano, mas não uma máquina de dados.

5) Disciplina é o que usamos quando falta entusiasmo. Quem funciona só pelo desejo imediato se assemelha a uma criança pequena. Crescer é saber que o que deve ser feito será nos momentos em que gostamos muito e nos momentos nos quais não estamos tão "inspirados". Disciplina é fundamental, mas é meio, nunca fim. Horários e metas existem para produzir o conhecimento, não para louvar a ordem.

6) Educar envolve valores. A técnica muda, as circunstâncias históricas transformam-se e o meio é uma metamorfose incessante. Não se educa para uma técnica ou uma habilidade única. Educa-se para conservar valores centrais em meio a tantas coisas novas. Se o valor for bem trabalhado, não importará qual novo aparelho surja: o aluno estará pronto para se adaptar. O bom aluno pratica o discernimento em meio a coisas novas. A formação é para toda a vida e jamais para uma prova, avaliação ou processo seletivo.

7) Enquanto cada estudante não aprender a autorregulação, ele será infantil e despreparado. Autonomia, consciência, pensamento reflexivo e eleição daquilo que é o melhor, de acordo com os valores debatidos. O modelo de aluno é que ele não necessite mais dos professores e das normas. A escola é um estaleiro: quando o barco está apto, deve-se aventurar ao mar longe da segurança das docas. O grande objetivo educacional é a independência intelectual e de atitude de cada pessoa que passa pelo ambiente pedagógico.

8) Busca de excelência é fundamental. Ela deve ser a mola mestra das ações. A excelência é um projeto pessoal e do grupo educativo, não uma concorrência com o mundo externo. Se algo deve ser feito, necessitamos fazer bem. Se não demanda qualidade, nem deve ser realizado. Adotei uma expressão latina para me guiar: magis. Mais, melhor, além, avante. A perfeição está além do humano, a melhoria é uma luta diária. Melhor do que ontem, mais do que no ano passado, cada vez mais: magis! Magis! Magis!

9) O estudo precisa ser sistemático e um processo. O que é adequado a cada idade? Como se pode exigir mais dos mais velhos? Quais os planos para subir cada degrau do conhecimento? Como os diferentes conhecimentos se articulam? Sem um plano, cada professor falará coisas distintas e os alunos perderão tempo e energia. Os alunos devem perceber unidade filosófica em todos os professores e devem reconhecer que, sim, cada ser humano é único e que cada área do conhecimento tem uma especificidade.

10) A vitória mais bela de todas é sobre si. Devemos sempre tratar todos da mesma maneira, sem fazer acepção de pessoas. Devemos vencer resistências pessoais que mostram nossos limites, egoísmos, medos e limitações. Aquele que estuda, de fato, torna-se livre e sai da vaidade do mundo. No entanto, caros colegas, nunca nos enganemos: a vitória é sobre si e implica dedicados exames de consciência.

Inácio falou com forte sotaque. Parecia espanhol para alguns. Um professor disse que era basco, talvez. Era calvo e tranquilo, com um porte que parecia denunciar formação militar. Um amigo assegurava que ele vinha de família aristocrática, porém sua humildade era notável. Tinha falado com inspiração, porque se dizia que o dia do conselho, 31 de julho, era uma data importante para ele. Cada coisa que ele disse poderia ser debatida e até contestada, todavia eram conselhos incontornáveis 

Os mais antigos sabiam que ele já tinha fundado muitas escolas e que a influência dos princípios inacianos era crescente. Como eram metas elevadas e de longo prazo, perguntaram ao mestre Inácio se o mantenedor do projeto era sólido. Ele sorriu e disse que sim, que era poderoso, paciente e tinha todo o tempo do universo. Ele até poderia falar, o mantenedor continuaria buscando gente para a messe. Sorriu e levou a mão ao crucifixo que trazia ao peito. Eram tempos difíceis para a Educação, porém as metas de Inácio iam muito além do início do segundo semestre. Ele tinha esperança para a maior glória do mantenedor.

LEANDRO KARNAL

06 DE AGOSTO DE 2022
ELIANE MARQUES

ERINLÉ E A VERGONHA NOSSA DE CADA DIA

A morte é raramente obtida com a vergonha; mas, dificilmente, alguém deixou de morrer de vergonha. Sobre isso, Erinlé pode nos falar. Na coluna anterior, o abandonamos morrendo de vergonha porque lhe faltava dinheiro para suas dívidas; nesta coluna, ele morrerá de vergonha, ao que parece, porque foi acusado de crimes. Por sua generosidade e habilidade na caça de elefantes e de outros animais, Erinlé era admirado pelo povo de Ijebu. Mas havia os invejosos que um dia o acusaram de ter subtraído cabras e ovelhas do rei, de ter escondido suas peles e espalhado por aí que se tratava de carnes de animais selvagens. 

O rei então determinou que o acusado fizesse sua defesa. Afirmando que sua caça falaria por ele, o caçador trouxe ao rei as peles dos animais que havia caçado - presas de elefantes e de javalis, peles de antílopes, gamos e veados. Reconhecida a inocência do acusado, o rei ordenou que ninguém mais falasse no assunto. No entanto, a acusação seguia falando em Erinlé que, triste e inconformado, nunca mais caçou ou comeu com seu povo. Erinlé, em desespero, fustigava seu corpo com a chibata até que entrou em um rio e nunca mais foi visto, tornando-se o orixá do rio.

Ao trazer a vergonha como elemento mestre, o itán transcrito evidencia o corpo, a imagem e o olhar como constituintes do laço social, isso que nos une ou nos separa uns dos outros - o corpo fustigado do caçador, sua imagem íntegra rompida pelo crime e o olhar acusador do povo, do rei, mas também dele próprio. É pela imagem, pelo corpo e pelo olhar que a vergonha nos despe de algo até então caríssimo em nossa subjetividade. Como sujeitos habitados pela linguagem, a vergonha nos despe mesmo das palavras, falando ela mesma de algo que ainda não se simbolizou.

Erinlé fustiga sua pele, o invólucro do "eu", como se estivesse castigando as peles dos grandes animais que lhe deram fama ou dos pequenos animais que foram emaranhados na mentira contada ao rei por alguns do povo. Os animais integram a metáfora do fracasso erinleliano. As peles deles são a pele de Erinlé, dividida, recortada entre o herói do povo e o mentiroso.

Assim como em outro itán Iemanjá fala por Erinlé, que teve sua língua cortada por ela; neste, as peles falam por ele, quer a pretensa verdade ou a pretensa mentira. Por isso se diz que há correspondência entre sintoma e inconsciente, sendo um o avesso do outro. O sintoma revela como cada um organiza discursivamente o seu gozo. Todavia, se há alguma verdade com Erinlé é a de que sua vergonha nasce de um buraco, furo, falha, não como defeito, mas como algo que nos estrutura como sujeitos - não há como ser sempre o mesmo, ter sempre uma imagem íntegra (inteira) para si e para os outros de si, algo mancará.

Assim, a vergonha mostra o buraco que o pudor tenta encobrir com a virtude. Erinlé experimenta a vergonha ao se surpreender com a dissolução de sua identidade de grande caçador amado pelo povo. Nesse momento de ruptura com a imagem totalizante, ele se apronta para a morte.

ELIANE MARQUES

06 DE AGOSTO DE 2022
EUGÊNIO ESBER

TERRA DE ONGS

Em fevereiro de 2019, o recém-empossado ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deitou os olhos sobre números que o estarreceram. Dos R$ 1,4 bilhão destinados pelo ministério à saúde dos indígenas, cerca de R$ 650 milhões haviam sido encaminhados a ONGs. "Só uma ONG que é lá do meu Estado, no município de Dourados, leva R$ 490 milhões, e eu não posso questionar?", esperneou o deputado-ministro ao jornal Correio do Estado (MS). Sim, mesmo investido de autoridade, Mandetta sentiu que estava pisando em terreno proibido ao questionar o elevado custo e a falta de transparência de certas organizações que, embora "não governamentais", são aquinhoadas com torrentes de dinheiro público. Prometeu "reestruturações", e o resto é silêncio. Seu brado foi obsequiosamente ignorado pela imprensa. Os jornais tinham polêmicas mais importantes a tratar, presumivelmente.

Mas, então, três meses depois, eis que outro ministro, o do Meio Ambiente, retirou outra vez da penumbra o tema das ONGs. A equipe de Ricardo Salles examinou um quarto dos 103 contratos abastecidos com recursos do Fundo Amazônia e viu irregularidades em todos aqueles firmados com organizações não governamentais. Decidiu que a aplicação dos recursos deveria passar pelo controle soberano do governo brasileiro, e não das ONGs, parte delas meras sucursais de organizações com sede no exterior. A Noruega, principal apoiadora do Fundo Amazônia, reagiu manifestando confiança na governança "robusta" do Fundo e em seguida bloqueou novos repasses. Desta vez, o assunto foi parar nas manchetes, invariavelmente voltadas para vilanizar o então ministro do Meio Ambiente e o governo brasileiro, com base, como sempre, no ponto de vista de... ONGs.

Sobre as irregularidades encontradas nos contratos, outra vez silêncio.

Foi então que um senador amazonense resolveu propor a formação de uma CPI das ONGs que atuam na Amazônia - e elas são muitas. Plínio Valério (PSDB-AM) precisava de 27 assinaturas. Colheu 31. Tudo estava pronto para a instalação da comissão. Mas veio a pandemia e nada mais andou no Senado, a não ser a CPI da Covid, obra de uma intervenção do STF docilmente obedecida pelo presidente Rodrigo Pacheco, ao arrepio do regimento interno da casa. 

Desde 2019 na fila, Plínio Valério ainda terá de esperar o pós-eleição para puxar o fio do novelo em episódios como o apontado por Mandetta e outras denúncias que lhe têm chegado. Enquanto espera, junta elementos como a fiscalização feita no Fundo Amazônia pelo Tribunal de Contas da União, a pedido do Congresso. Nela, constata-se que as ONGs chegam a consumir 85% dos repasses com sua própria estrutura interna - diretoria e profissionais contratados, principalmente, além de pouca eficiência na aplicação dos recursos em benefício da atividade-fim.

"Sei que a CPI não terá divulgação pela mídia, mas isso não tem a menor importância para mim", diz Plínio. Autodefinido como um caboclo de beira de rio nascido em Eirunepé (a 1,2 mil quilômetros de Manaus, sem ligação por terra), ele sabe como cada peça é movimentada no tabuleiro das ONGs, por vivência, por convívio com indígenas e, também, pelo que leu no denso relato da jornalista e ex-ativista ambiental canadense Elaine Dewar no livro Uma Demão de Verde (Cloak of Green).

EUGÊNIO ESBER

06 DE AGOSTO DE 2022
DRAUZIO VARELLA

MIRO E A CRACOLÂNDIA

Não existe bala de prata para acabar com a cracolândia, em São Paulo. Vários prefeitos e governadores já prometeram extingui-la com o emprego de forças policiais e medidas de combate ao tráfico; em vão.

A tentativa mais bizarra foi a de colocar viaturas policiais atrás dos frequentadores, com o objetivo de fazê-los andar sem trégua pela cidade, para que se cansassem e aceitassem de bom grado a internação em clínicas para dependentes químicos. Outra, foi a de dispersá-los com jatos de água. e spray de pimenta. Outra, ainda, a de retirá-los do local duas vezes por dia, para a lavagem da sujeira nas calçadas, intervenção que os obrigava a sair e a voltar para a esquina das ruas Helvécia e Cleveland, nas proximidades da Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica, orgulho dos paulistanos.

Há anos, tenho o hábito de correr pelo centro da cidade, aos domingos. Não me canso de admirar os prédios das ruas Boa Vista, 15 de Novembro, Direita, São Bento, entre outras que me trazem imagens da infância, quando ia com meu pai pagar as contas de luz, água e telefone, num tempo em que os bancos nem cogitavam prestar esse serviço.

Da igreja do Largo São Bento, cruzo o Viaduto Santa Efigênia, percorro a rua do mesmo nome e atravesso a Cracolândia na direção do Largo Coração de Jesus.

Ao passar correndo pelo Fluxo, volta e meia acontece de alguém me chamar pelo nome. Geralmente, são homens que me conheceram numa das cadeias ou mulheres que tratei, nos 13 anos em que atendi na Penitenciária Feminina.

Nessas ocasiões, paro para conversar. Em pouco tempo se forma uma rodinha. Numa dessas, outro dia estava Miro, um negro de cabelos brancos que disse ter assistido à uma das palestras sobre aids que fiz no antigo Carandiru.

Nascido no sertão do Ceará, Miro chegou em São Paulo nos anos 1990, para morar com os tios em Parelheiros que lhe arranjaram emprego de carregador numa empresa de mudanças. Não se deu bem com a metrópole e seus habitantes, muito diferentes da cidadezinha acolhedora em que fora criado.

Contou que começou a beber para encontrar um pouco de alegria depois do trabalho pesado. Então, conheceu o crack. Entre experimentar e cair nas garras da cocaína, foram apenas três ou quatro meses. Em pouco tempo, estava na cracolândia, seu lar nos últimos 23 anos, interrompidos apenas por três prisões por furto.

Miro sobrevive com uma carrocinha para catar papelão pelas ruas do Bom Retiro. Trabalha duro de manhã ao fim da tarde, com o objetivo de ganhar R$ 50. Assim que coleta a quantidade de material suficiente, leva para o armazém, recebe o pagamento e volta para a cracolândia. Fuma quantas pedras consegue comprar e volta para o Bom Retiro com a carrocinha, atrás de tudo que puder ser reciclado.

"O Fluxo é a minha casa", ele conta. "Não é fácil: durmo em cima de um papelão, às vezes bebo a água que corre no meio fio, porque os comerciantes da redondeza não dão água da torneira pra nós, chego a catar comida velha, no lixo, já passei um ano inteiro sem tomar banho. Anos atrás, um primo me achou e me internou contra a minha vontade. Fiquei três meses, ganhei 10 quilos e fugi pra cracolândia, porque a clínica era uma prisão pior do que a da cadeia."

Dois anos atrás, uma moça que morava no Fluxo disse que tinha dado à luz um filho dele na Maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belenzinho. Ele respondeu que não lembrava de ter estado com ela, mas que não se importava de assumir a paternidade, para que o bebê não ficasse sem o nome do pai na carteira de identidade, como foi o caso dele. Não adiantou, a criança estava sob a guarda do Conselho Tutelar.

Miro é contra a dispersão dos usuários pela polícia: "De que adianta? A gente se espalha, mas volta assim que a repressão afrouxa. Eles dizem que vão acabar com os traficantes. Como, se o próprio usuário vende pra sustentar o vício? Antes, no Fluxo, os caras pesavam na balança, hoje com a repressão o usuário vende de punhado na palma da mão. Você não compra mais por peso, compra pelo número de pedras. Tem pedra a dois reais".

Quando perguntei o que ele achava das ações do governo para acabar com a cracolândia, sorriu: "Quando escuto uma autoridade falar isso, lembro das aulas de catecismo: Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que dizem".

DRAUZIO VARELLA

06 DE AGOSTO DE 2022
BRUNA LOMBARDI

BELEZA HOLÍSTICA

Nunca sonhei com a fama e nem me achei particularmente bonita. Cresci numa família de cinema, cercada de filmes e livros, não era meu propósito tamanho grau de exposição. No início até me escondia um pouco, mas com o tempo acostumei e virou decorrência do meu trabalho.

Quando me convidaram pra fazer fotos, o que não estava nos meus planos, minha vida mudou. Ganhei minha própria grana, ajudei a família, comprei carro zero km e paguei minhas faculdades.

Sempre escrevi com absoluta devoção. Eu lia sem parar, estudava com extraordinária curiosidade e sempre fui movida a paixão. A fama ajudou meus livros a ir pra lista dos mais vendidos e a conhecer muita gente interessante.

Em todas as fases da minha existência, batalhei pra ser e fazer o que tinha significado pra mim. E para não cair em ciladas, não acreditar em crenças limitantes e nem impor limites pra minha multiplicidade.

Tenho interesses em muitas coisas e sempre quis descobrir tudo o que sou. Nunca acreditei que uma escolha anula a outra, se não interferem e nem são opostas.

O fundamental para mim são valores como caráter e ética. E sigo o verso de Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena". Somos seres complexos, e eu tento desvendar minha complexidade e usar meu potencial para ampliar minha abrangência. Acredito que somos almas em expansão. Quero a liberdade de ser o que sou, um espírito livre.

Até hoje me associam à beleza e eu agradeço. É claro que, por trás da fachada, sempre existiu um forte desafio. Às vezes, pareceu impossível de superar. Fui entendendo como encarar dificuldades, obstáculos, adversidades presentes em tudo o que me envolvi. Minha intuição, a voz do coração é minha guia e me orienta no que faço.

Para retribuir tudo o que recebi, desenvolvi um método, o Curso Beleza Holística, que estou lançando. Quero mostrar que beleza é integrada, é um reflexo de muitas coisas. Envolve todas as camadas do nosso ser. E afeta todos os aspectos da nossa existência.

O curso fala de autoconhecimento, qualidade de vida, nos prepara para vencer o medo e fazer escolhas que nos deixem mais felizes.

Existe uma conexão entre nossa saúde mental, emocional, física, psíquica, espiritual e energética. Essa relação interfere em tudo o que fazemos, família, trabalho, êxito, relacionamento, na pessoa que queremos ser.

Beleza é equilíbrio e harmonia dentro e fora de nós. Esse balanço nos ensina como reagir ao que nos acontece. A detectar e aprender a descartar os sentimentos inúteis e tóxicos que prejudicam nossa vida.

O curso fala disso de uma forma simples e vai da teoria à prática, com exercícios transformadores. Existe um imenso potencial dentro de nós que precisa ser descoberto. Quando nos desconectamos do que é essencial pra nós, sentimos um vazio, ansiedade e até depressão.

Tudo começa na autoinvestigação, e o curso traz técnicas específicas para cada um descobrir e desenvolver o que pode ser (veja como participar em belezaholistica.com). O conceito de Beleza Holística é despertar e desenvolver a nossa melhor versão.

BRUNA LOMBARDI

06 DE AGOSTO DE 2022
J.J. CAMARGO

RESCALDO DE UM TEMPO PERDIDO

Durante tantos meses, fomos bombardeados pela ameaça real de morte por uma doença que tinha colocado de joelhos os humanos pretensiosos que subitamente se perceberam submetidos ao desespero coletivo, uma condição que tinha como única virtude o fato de eliminar disparidades, nivelando a todos pela humilhação do medo.

Os números não paravam de crescer, ninguém acertava nenhuma previsão, os otimistas foram desmoralizados, os pessimistas tiveram momentos de glória ao anunciar que tudo ia seguir muito mal e depois de meses reverberar um "eu não disse?" - que é a consagração dos catastrofistas. E os indiferentes, claro, se mantiveram neutros, porque não conseguem ser outra coisa, e tudo bem.

Muitas mortes incompreensíveis levaram pessoas do bem, e algumas sobrevivências injustificáveis pouparam tipos que, francamente.

Enxurradas de verbas foram derramadas, teoricamente direcionadas ao combate da pandemia, e o que se viu foi a mesma carência de leitos e um surpreendente ajuste de contas de Estados até então falidos, que milagrosamente se recuperavam, contrariando uma crise econômica que se desenhava implacável, com todos em casa seguindo as recomendações sanitárias e acompanhando os boletins catastróficos das TVs.

Apesar do desespero do vírus em se mutar para sobreviver, adquirindo sobrenomes diferentes a cada semestre para se fazer presente, atingiu-se, um dia, um patamar de mortes, o que foi visto como uma grande conquista da ciência, através da vacina e da responsabilidade social, com as medidas protetoras. A expressão "média móvel de óbitos" escasseou, o percentual de ocupação das UTIs deixou de ser manchete, e as grandes redes de TV tiveram que remanejar seu time de repórteres, justo quando já estavam habituados ao jargão médico, sem gaguejar.

Ninguém mais chorava ao se saber contaminado, o tempo de descontaminação foi encurtado, e um belo dia as máscaras caíram.

No meio de uma polarização política insuportável, em que apenas os radicais assumiam suas preferências partidárias sem encabular, dada a precariedade dos candidatos, a varíola dos macacos chegou a ser vista com um assunto substituto, uma espécie de carro-chefe de um novo momento, na medida em que diferentes países passaram a noticiar casos novos. Mas ninguém levou muito a sério uma epidemia que arde e coça, mas felizmente não mata.

Mesmo forçando a isenção de quem pretenda ter aprendido alguma coisa neste doloroso tempo perdido, o rescaldo dessa experiência só serviu para confirmar o que já foi observado em outras tragédias até maiores do que esta: o sofrimento prolongado gera mais amargura do que sabedoria e expõe mais mesquinhez do que empatia.

O relato de pais fanáticos, que à beira da morte pela peste exigiram que os filhos, em nome de sua memória amorosa (!), jurassem que jamais se vacinariam, mostra que o limite da radicalidade é a descerebração.

De qualquer forma, a pandemia parece ter ainda uma última missão, curiosa e desconhecida para a nossa geração: podemos fazer de conta que está tudo bem, porque ninguém aguenta sofrer indefinidamente, e por conta disso, passados 30 meses, a mídia e a sociedade alimentada por ela removeram da pauta as notícias da pandemia, mas não dá para ignorar que 250 brasileiros seguem morrendo regularmente todos os dias de uma doença que, por ação das vacinas, se transformou na gripe que se imaginou lá no início, pelo menos para aqueles que acreditam que ciência faz bem pra saúde.

Pela fadiga do sofrimento, desistimos da covid-19, mas ela aparentemente ainda não desistiu de nós.

J.J. CAMARGO

06 DE AGOSTO DE 2022
CARPINEJAR

Viva o gordo!

Na despedida de Chico Anysio, há 10 anos, perdemos um jeito de sorrir. Jamais recuperamos. Agora, com a morte de Jô Soares, assassinaram de vez a nossa gargalhada. Jô Soares não era somente engraçado, também nos fazia pensar.

Você ria de doer a barriga e queimar o cérebro. Participava de uma catarse estranha, da iluminação de uma verdade velada do próprio comportamento. Ficava estremecido da descoberta, já querendo pedir desculpa pelas suas atitudes. Ele efetuava flagrantes de nossas mentiras educadas. Produzia arrependimentos instantâneos.

Foi uma raridade na cena televisiva, teatral e literária brasileira: um intelectual humorista, um pensador debochado. Criava personagens para combater preconceitos. Quem não se lembra do Capitão Gay, do Reizinho, do Zé da Galera?

Escritor de entretenimento saboroso, elaborava charadas e enigmas a partir de tramas policiais com figuras históricas, misturando ficção e realidade, como em O Homem que Matou Getúlio Vargas.

Jô Soares representava uma orquestra inteira: era um showman, um aforista, um sátiro, um Oscar Wilde de óculos de aros coloridos, a televisão ligada nas nossas madrugadas. Queríamos dormir para trabalhar, e ele não nos deixava com a sua sagacidade. Permanecíamos acordados até tarde por culpa dele. Acumulávamos insônias por mérito dele, hipnotizador de multidões.

Durante décadas, conduziu o melhor programa de entrevistas. No seu talk show, demolia qualquer embuste com o seu sarcasmo ou reconhecia todo puro talento com a sua generosidade.

Possuía um raciocínio impressionante, veloz, surpreendente, assombroso de tanta lucidez. Seu pensamento corria com câmbio automático enquanto a maioria trocava suas ideias com marcha manual.

Só ele podia engolir a música com a mão. Só ele podia arrancar uma confissão com os olhos carentes. Só ele! Tendo ao fundo a cumplicidade do seu Sexteto, transformava memória em jazz, dançando datas e acontecimentos remotos com as últimas notícias.

Improvisava porque tinha cultura, uma enciclopédia de gravata-borboleta. Dominava cinco idiomas: português, inglês, francês, italiano e espanhol, além de conhecimentos de alemão. Mas, acima de tudo, falava a língua da rua, traduzindo a nossa indignação com causos e anedotas.

Ele, que nasceu em janeiro de 1938, era sempre o nosso Ano-Novo. Perdemos a graça do Réveillon, nosso brinde de caneca, nossa guinada de vida. Quem nos inspirava a transformar dificuldades em aprendizado. Perdemos o nosso exemplo de alegria. Perdemos a nossa festa da inteligência.

AAAAHHHH? Viva o Gordo, nossa alma transbordando.

CARPINEJAR

06 DE AGOSTO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

SER PREVIDENTE É SEMPRE MELHOR

A experiência recente com a pandemia trouxe lições e mostrou a importância de ser previdente quando uma doença viral começa a merecer atenção global. A preocupação agora é com a chamada varíola dos macacos. Não há razões para alarmismos, mas o aumento do número de casos no país faz com que seja recomendada cautela por parte das autoridades da área da saúde, dos médicos e da população. Os cuidados necessários incluem preparação do poder público para uma possível aceleração na quantidade de doentes e precauções individuais.

Neste sentido, faz o certo a Secretaria Estadual da Saúde (SES) ao mostrar que está vigilante e se preparando para um quadro de elevação da quantidade de casos e de transmissão comunitária no Rio Grande do Sul. A maior parte dos registros da monkeypox no Brasil ocorre em São Paulo e, como a circulação de pessoas no país está normal, provavelmente será inevitável o aumento de infecções, sem que seja mais possível detectar vínculo entre os casos.

A SES informa que destacou um grupo de profissionais para tratar de forma específica da varíola dos macacos e assegura ter capacidade para atender a uma elevação repentina da procura por testes para confirmar a enfermidade, caso ocorra, como até se espera, um crescimento expressivo na quantidade de doentes e a transmissão se acelere. Mesmo que não existam motivos para sobressaltos, preparação e conhecimento são fundamentais para fazer frente a situações como a que agora se apresenta. Assim, também é indispensável disseminar informações corretas para a população sobre a doença, como sintomas, grupos mais vulneráveis à contaminação e mais suscetíveis e como agir em caso de suspeita e resultado positivo.

Algumas recomendações até se assemelham com as medidas preconizadas para se proteger contra a covid-19. Entre elas, a higienização das mãos, evitar a proximidade com pessoas com sintomas e o compartilhamento de objetos. Para grávidas, puérperas e lactantes, aconselha-se a utilização de máscaras em ambientes fechados. Uso de preservativos e diminuição do número de parceiros sexuais também fazem parte dos cuidados listados pelas autoridades.

O Ministério da Saúde considera que há um surto no Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) trata o episódio como uma emergência global. Dos cerca de 25 mil casos no planeta, cerca de 1,7 mil são no Brasil, conforme os dados contabilizados até quinta-feira. Houve até agora uma morte no país. O governo federal negocia a aquisição de medicamentos e estuda a compra de vacinas. Por enquanto, é preciso ressaltar, a OMS não fala na necessidade de imunização em massa. Mesmo que a varíola dos macacos não tenha a mesma gravidade da covid-19, as informações existentes indicam que causa quadros dolorosos e desconforto significativo. A crise do novo coronavírus fez o país aprender, da pior forma, os riscos de desdenhar cuidados. Ser previdente é sempre melhor.

OPINIÃO DA RBS

06 DE AGOSTO DE 2022
ECONOMIA E COMPORTAMENTO

ECONOMIA E COMPORTAMENTO

economia e comportamento. Carinho pelos pets também é receita para bons negócios. Emissão de alvarás para veterinárias e lojas do ramo mais do que triplicou na comparação entre 2020 e 2022

A pandemia trouxe prejuízo e causou o fechamento de estabelecimentos de diferentes setores em Porto Alegre. No entanto, o mercado ligado aos animais de estimação segue colhendo resultados positivos. Dados da prefeitura da Capital apontam que o número de alvarás emitidos para clínicas veterinárias e pet shops mais do que triplicou na comparação entre 2020 e 2022.

Em 2020, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Smdet) registrou 31 alvarás emitidos para clínicas, consultórios e hospitais veterinários. Neste mesmo período, foram 32 alvarás concedidos para novas pet shops. No ano seguinte, já foi possível perceber uma evolução significativa nos números.

Em 2021, foram emitidos 80 alvarás para as clínicas veterinárias e 84 para pet shops - cerca de 160% de aumento nos dois setores em um ano. Agora, até julho de 2022, já foram 104 alvarás para clínicas de animais e, pelo menos, 107 para lojas do ramo.

Ainda conforme os dados da secretaria, em anos anteriores, a emissão de alvarás tanto para as clínicas quanto para pet shops apresentava um ritmo menor. Em 2019 e 2018, por exemplo, não passava de 23 documentos ao ano.

Legislação

A Smdet ressalta que estabelecimentos com uma pet shop são considerados de baixo risco e, por isso, não possuem a obrigatoriedade de ter um alvará. A lei, no entanto, não se aplica para as clínicas, consultórios e hospitais veterinários, que são considerados de médio a alto risco.

Essas determinações estão incluídas na lei municipal de liberdade econômica, que foi regulamentada em 2021. A lei também alterou processos da prefeitura para abertura de estabelecimentos, com a simplificação de etapas e redução da burocracia.

Outro ponto é que essas licenças são emitidas por ano para cada atividade, sendo que um local pode ter mais de uma atividade. Por exemplo, uma loja pode ter alvará também para ser clínica.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Vicente Perrone, destaca que estas mudanças têm papel importante para o aumento na emissão de alvarás. Segundo ele, atualmente o processo de regularização de uma empresa pode ocorrer em 24 horas na Capital.

O secretário ressalta ainda o papel da pandemia de covid-19 para o crescimento deste mercado em Porto Alegre.

- Aumentou muito o número de pets durante a pandemia, pois surgiu o home office, as pessoas ficaram mais tempo em casa e sentiram a necessidade de ter um animalzinho. Isso favoreceu muito o mercado. Ao mesmo tempo, houve um trabalho do município, de simplificar os processos e facilitar a abertura de empresas - afirma Perrone.

Tendência

O crescimento do mercado pet em Porto Alegre nos últimos anos acompanha um movimento observado em outras cidades gaúchas e até nos Estados do Sul.

Levantamento divulgado pela empresa de análise de dados DataHub aponta Porto Alegre como a segunda cidade da Região Sul do Brasil com maior aumento de estabelecimentos ligados ao mercado pet, com um crescimento de 76% na abertura de CNPJs entre 2019 e 2021. Apenas Curitiba apresentou índice maior, com elevação de 87% no mesmo período.

A expansão dos últimos anos também é observada pelo Instituto Pet Brasil (IPB), que busca estimular o desenvolvimento do mercado no país. Conforme o presidente do conselho consultivo da entidade, Nelo Marraccini, o setor nunca parou de crescer, mas, com a pandemia, passou a ter mais importância na vida da famílias.

- A pandemia mudou o comportamento das pessoas, a dinâmica das famílias. Temos, por exemplo, muitos casos de pessoas que começaram a trabalhar em casa e, agora, não pretendem voltar à rotina anterior. Essa alteração na rotina fez com que o cenário mudasse para nós. O projeto de ter um pet tornou-se possível, e aqueles que já tinham animais começaram a reparar mais nas necessidades do bichinho.

Ainda segundo Marraccini, o crescimento da população animal motivou a expansão de toda a cadeia ligada ao setor - das lojas do ramo, passando pelas clínicas veterinárias, até creches e hotéis para os bichos.

Creche com direito a festinha

Mesmo com o retorno de muitas atividades para o modelo presencial, o mercado pet não deixou de lucrar e novos espaços passaram a ter um aumento significativo de clientes. É o caso das creches que recebem, em sua maioria, cães.

Com duas unidades abertas e uma terceira prestes a começar a operar, a PetsGoPoa é um destes estabelecimentos que operam na Capital. Além do serviço de creche, o local oferece hotel, banho e tosa, atendimento veterinário e vende produtos para os cãezinhos.

O sistema de atendimento é semelhante às creches infantis. Os "alunos" podem vir com os tutores ou serem apanhados em casa. Cada um tem sua própria mochila, feita pela creche, com uma foto do cão.

A contratação é feita no modelo de planos, de acordo com a necessidade do tutor. Durante o período que permanecem no local, os animais ficam juntos de acordo com o porte de cada um, mas sem restrições por raça.

- Eles ficam o tempo todo soltos. Então, não aceitamos cães bravos. Não aceitamos machos que não sejam castrados e as fêmeas não podem vir para cá quando estão no cio. Precisamos manter a harmonia - conta o sócio-proprietário da empresa, Henrique Barbosa Arellano, 33 anos.

Crescimento

Quando criou o empreendimento com outro sócio, em 2021, Henrique não imaginava um crescimento tão rápido. Atualmente, atende até 90 cães diariamente em duas unidades. Com a abertura da terceira creche, a expectativa do empresário é de quase dobrar o número de "alunos".

- Temos muitos filhos da pandemia. São cachorrinhos entre um a dois anos, que nunca tinham visto outro cão, sempre com o tutor do lado. Agora, com as pessoas voltando a trabalhar, ganhamos muitos clientes nos últimos meses, pois o cão não pode ficar o dia inteiro trancado em um apartamento - afirma.

No dia em que GZH visitou o local, uma festa de aniversário ocorria. Toda a comida oferecida - bolo, sanduíches, cupcakes e brigadeiros - eram para o aniversariante, um border collie de dois anos chamado Bazuca, e os coleguinhas convidados.

Entre eles estava a husky Nala, três anos. Natural do Canadá, a cadela veio com o casal de empresários Paulo Cardoso e Melissa Pauli Cardoso, 33 e 29 anos. Eles pretendem permanecer por um ano no Brasil e não tinham como deixá-la na cidade onde residem.

Adaptação

Em Porto Alegre, Nala frequentou outras duas creches, mas não se adaptou. Paulo conta que precisava encontrar um local em que os profissionais falam inglês, já que a esposa é canadense.

- Nos primeiros 10 dias, ela estava um pouco confusa. Mas, depois, deu certo. Hoje, a Nala "pede" todo dia para vir para creche. Se alguém vai buscá-la, faz festa e corre para o carro. Quando eu vou levá-la, ela escuta a chave do carro, vai correndo para perto da mochilinha dela e fica esperando a hora de sair - conta Paulo.

Day care e muitos exercícios

Não são apenas os cães saudáveis que podem contar com um serviço de acolhimento. Animais com alguma dificuldade motora, obesos ou mesmo já com idade avançada podem permanecer sob os cuidados de uma equipe veterinária. Os serviços de spa e day care são oferecidos pela clínica VitalVet, que atua na reabilitação de cães e gatos.

O médico veterinário e proprietário do espaço, Ricardo de Bem Pacheco, ressalta que o day care é focado nos animais com necessidades especiais - que não caminham sozinhos, que são idosos ou ainda que têm problemas cognitivos.

- É feita uma programação de exercícios para este bichinho ao longo do tempo de permanência durante o dia na clínica, para que ele tenha esse estímulo de ter interações tanto com o ambiente quanto com outros animais - ressalta Pacheco.

Já o spa é destinado para o animal com obesidade, que tem condições plenas de saúde, mas, por algum motivo, não está conseguindo fazer esse gasto energético ou está comendo mais do que deveria. Vai desde orientação nutricional até a realização de exercícios. O animal caminha na esteira, faz circuitos funcionais e até nada na piscina.

- Infelizmente, nesse processo de humanização dos animais, eles acabam não tendo uma rotina de exercícios, passam o dia trancados em casa e, em muitos casos, com pisos que não são apropriados para o andar deles, o que prejudica as articulações. Essa união resulta ainda em ganho de peso e fraqueza muscular. A consequência disso é que muitos animais desenvolvem problemas ortopédicos e de coluna - explica o veterinário.

Assim como na creche, o serviço pode ser contratado por plano em que o tutor estabelece o número de dias que o animal irá para a clínica, aliado à orientação do médico veterinário.

Da acupuntura à técnica aplicada no craque Neymar

Acupuntura, fisioterapia, laserterapia. Estes são alguns dos tratamentos utilizados por muitas pessoas para a recuperação física e alívio da dor. Estas mesmas técnicas também já podem ser encontradas para cães e gatos em Porto Alegre.

E não é só isso. Atualmente, os animais de estimação também são atendidos por veterinários comportamentais - especialidade que pode ser comparada a um psiquiatra para os humanos - e utilizar equipamentos de saúde de última geração.

Atuando há 13 anos no setor, a médica veterinária Yumi Tanaka tem como base de trabalho a união das técnicas. Assim como para os humanos, a acupuntura tem como objetivo principal o alívio da dor, com propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. Já com a fisioterapia há o desenvolvimento de exercícios que auxiliam no movimento.

- Cada paciente é único. Temos pacientes que precisam de auxílio por algum trauma ou cirurgia e outros que já são geriatras. Estes enfrentam problemas semelhantes aos nossos quando ficamos velhos. Os bichinhos estão vivendo mais e, agora, temos mais condições de melhorar a qualidade de vida deles - destaca Yumi.

Já na clínica do médico veterinário Ricardo Pacheco, outra possibilidade de tratamento é um dispositivo chamado Sistema Super Indutivo (SIS). A máquina ganhou fama em 2018, quando o jogador Neymar utilizou a mesma técnica na recuperação de uma fissura no quinto metatarso do pé direito.

A tecnologia baseia-se na criação de um campo eletromagnético de alta intensidade que influencia positivamente o tecido humano - agora, também felino e canino.

Os principais efeitos terapêuticos incluem alívio da dor, consolidação de fraturas, relaxamento e estimulação muscular e mobilização articular.

Eficiência

Conforme Pacheco, a aquisição do SIS foi pensada para trazer mais eficiência nos resultados, aumentar o número de animais atendidos em um dia e garantir mais altas hospitalares.

- Por semana, atendemos, em média, 70 animais, entre cães e gatos - revela.

O valor cobrado é o mesmo que uma sessão de fisioterapia oferecida na clínica: R$ 190.

Atenção aos sentimentos

A medicina veterinária avançou também no tratamento psiquiátrico de cães e gatos. Assim como os seres humanos, os bichinhos já contam com profissionais que trabalham para entender seus sentimentos e comportamentos.

No entanto, em vez de em um divã, a consulta ocorre sobre um tatame rodeado de brinquedos e comidinhas. É neste espaço que a médica veterinária comportamental Joice Peruzzi faz a avaliação do paciente e dos motivos que levaram o tutor a procurá-la. Segundo ela, o principal desafio é entender o que motiva aquele comportamento do animal e garantir o sucesso dos responsáveis em lidar com a situação.

- Isso jamais é feito sem a presença do tutor, pois ele é o principal ator na mudança no comportamento do animal. Nós somos facilitadores do processo - destaca Joice.

LAURA BECKER

sexta-feira, 5 de agosto de 2022


05 DE AGOSTO DE 2022
CARPINEJAR

Mulheres faca na bota

Mulheres porto-alegrenses são faca na bota. Exigentes. Autônomas. Independentes. Não vão trocar a sua solitude por qualquer parceiro - ele, no mínimo, tem que ser melhor do que os prazeres individuais, ou ser capaz de não estragar o silêncio e a saudade.

Elas não vão substituir os amigos, os passeios sem dar satisfação, as viagens repentinas, o cálice de vinho, a maratona de séries, o espaço livre e o tempo soberano por um relacionamento pela metade, meia-boca, capenga.

Elas não vão ficar no casamento por comodismo. Não vão aceitar baixar os seus pré-requisitos por aparência, por desespero, para satisfazer a família ou a sociedade, para dizer que no final de semana têm uma companhia para chamar de sua enquanto toleram uma presença simbólica e fantasma durante a semana, que serve apenas para matar baratas e abrir potes de conservas.

O custo-benefício precisa valer a pena. Precisa valer sair da dieta, com a base da amizade, o recheio da cumplicidade e a cobertura da admiração, acrescidos do açúcar das gargalhadas e dos fios de ovos da paz de espírito.

Elas não querem ser babás ou uma segunda mãe de marmanjos, escolhendo por eles o que comer, o que vestir, o que fazer. Já chega ter criado os filhos.

Não gostam de desperdiçar madrugadas em discussões de relacionamento ou com manifestações de ciúme, como nas caricaturas românticas. A possessividade não interessa, o apego não é confiável; só trazem efeitos colaterais, adoecendo a convivência com controle e manipulação.

Não estão interessadas em combos, promoções, estepes, remendos nas estradas. Sequer exigem uma retaguarda financeira ou Caio Castro que pague a conta do restaurante. Mantêm os seus empregos, os seus orçamentos, os seus investimentos.

Nem sou eu que estou polemizando. São dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referentes a 2021. Das 168 mil unidades residenciais ocupadas por um único morador em Porto Alegre, 96 mil são habitadas por mulheres. Correspondem a 57%, uma eleição ganha no primeiro turno.

Se abarcarmos a Região Metropolitana, o índice se conserva majoritário, com 53% - das 353 mil unidades residenciais, 188 mil são da ala feminina. É a capital brasileira com a maior proporção de mulheres morando sozinhas.

Os homens daqui, por sua vez, logo emendam relações. Não suportam a solteirice, ou o luto, ou a separação, ou as quatro paredes. Demonstram uma necessidade de estar sempre com alguém, em completa simbiose. Tanto é que 75% dos domicílios do universo masculino são com mais pessoas.

Já as porto-alegrenses ostentam um maior amor-próprio. Aprenderam com o divórcio a não cometer o erro duas vezes. É uma estatística da qual devemos nos orgulhar. Ainda espero que seja esculpida uma Laçadora no pórtico da cidade. Quem está segurando a corda de couro são elas.

CARPINEJAR

05 DE AGOSTO DE 2022
EM DIA

A MÃO SOB A SAIA DA MONA LISA

No filme O Advogado do Diabo, há uma cena memorável em que Al Pacino, no papel de Lúcifer, explica quem é ao jovem Kevin (Keanu Reeves), dizendo: "Sou a mão sob a saia da Mona Lisa! Olhe para mim, Kevin! Sou uma surpresa? Eles não me enxergam chegando". É fato que poucas coisas geraram mais debates na história da arte quanto o sorriso enigmático de Mona Lisa. Não se sabe se é de ironia, desprezo, sedução, indignação ou até felicidade. Mas ele chega sutilmente, quase despercebido? E ganha proporções lendárias.

Ano passado fomos surpreendidos por um vilão sutil, desses que chegam sorrateiros e se instalam: a inflação, que andava apagada, chegou a mais de 25% segundo o IGP-M. E, de repente, nos vemos na obrigação de examinar a legislação do imposto de renda brasileiro, que faz de conta que nossa moeda não se desvaloriza.

Se você pretende vender sua casa, saiba que tudo o que receber do comprador vai ser considerado lucro e servirá de base para a cobrança de imposto de renda, com cega desconsideração dos efeitos corrosivos inflacionários.

Se você está feliz que aplicou seu rico dinheirinho a uma taxa Selic de dois dígitos, saiba que na hora que ele render, o Leão não vai querer saber se boa parte do que aparentava ser seu "rendimento" era meramente reposição do valor da moeda no tempo. E que o limite das deduções com dependentes e educação na declaração, historicamente, sempre foi corrigido abaixo da inflação, como se seus gastos não aumentassem. Quem é servidor público e está com seus vencimentos congelados sabe bem do que estou falando.

Na prática, a inflação converte o imposto de renda em um imposto sobre receita, uma base muito maior e distinta, que considera apenas o quanto ingressou no seu bolso sem se importar se isso é lucro ou não. E isso não poderia ser assim, afinal ele só pode recair sobre aquilo que, em sentido próprio e técnico, for considerado "renda". A mão sob a saia da Mona Lisa chega silenciosamente, sem avisar, mas desta vez provoca um sorriso bastante óbvio, de profunda indignação do contribuinte. Esperamos que este sorriso instale os mesmos acalorados debates; e que eles sirvam para limitarmos o imposto de renda aos seus contornos reais.

FABIO BRUN GOLDSCHMIDT

05 DE AGOSTO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

AINDA À ESPERA DE JUSTIÇA

Esperava-se que o desfecho do júri do caso Kiss, no final do ano passado, encerrasse a dolorosa espera das famílias das 242 vítimas fatais por justiça. Afinal, foram quase nove anos aguardando a responsabilização pela tragédia que chocou o país. No dia 10 de dezembro, foram condenados por homicídio com dolo eventual os réus Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Marcelo dos Santos e Luciano Bonilha Leão. Os quatro cumpriam as suas penas presos, até que na quarta-feira, por 2 votos a 1, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) acolheu os argumentos da defesa e decidiu pela anulação do maior e mais rumoroso júri da história do Estado.

Mesmo que apelações façam parte do arcabouço jurídico, como parte das garantias do direito ao devido processo legal, são lastimáveis especialmente as circunstâncias que levaram ao resultado. Não se trata aqui de analisar as minúcias das questões técnicas da decisão dos desembargadores, mas de lamentar brechas deixadas ao longo da extensa preparação para o júri e mesmo no transcurso do julgamento.

Os defensores questionaram aspectos relacionados à escolha dos jurados, à averiguação dos candidatos, a formar o colegiado por meio do sistema Consultas Integradas, a problemas de prazos, à falta de registro de atos e ao uso de maquete digital da boate sem acesso antecipado dos advogados dos réus. Mas não há nada a indicar que o desenlace do julgamento seria diferente devido à robustez das provas e testemunhos.

Os quatro réus, agora, aguardam em liberdade os novos lances. O MP já peticionou ao Supremo Tribunal Federal (STF) buscando revogar as solturas dos acusados. Tambén vai recorrer contra a decisão de quarta-feira no STF e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Aguarda-se, portanto, posicionamento das cortes superiores quanto à deliberação do TJRS que determinou a realização de um novo júri e a ida dos réus para casa.

O fato é que o sentimento de impunidade voltou a assaltar familiares de vítimas e sobreviventes do incêndio da Kiss. Foram anos de manobras protelatórias, até o julgamento de dezembro do ano passado. Para quem perdeu seu ente querido e padeceu por tanto tempo angustiado até a manifestação do Judiciário, a frustração é do tamanho da saudade. Não se pode pedir para essas pessoas condescendência com filigranas legais, embora possam ser tecnicamente justificáveis. Em respeito à memória dos jovens que perderam a vida na noite de janeiro de 2013 em Santa Maria, espera-se que os atores e as instituições responsáveis por zelar pela função jurisdicional do Estado deem uma resposta rápida às famílias e à sociedade para, enfim, a justiça ser feita.


05 DE AGOSTO DE 2022
EDUARDO BUENO

Canto a mim mesmo

Sou um poço de contradições. Sou uma poça sem fundo. Ouça o que digo, não faça o que eu faço - nem em versos nem na prosa. Sim, sou um poço de contradições: eu contenho multidões. Comprei essa estrofe por meia dúzia de tostões. Paguei com letras de câmbio e um dólar furado, porque se o perigo mora ao lado, estava distraído.

Sou todas as mulheres do mundo. Sou o crepúsculo do macho. Sou deus e o diabo na terra do sol. Sou pai, sou pá, sou Poe. Me chame Ismael, e eu trago o capitão Ahab. Sou a baleia branca, sou o corvo negro. Sou Pat Garret e sou Billy, the Kid. Sou iceberg, sou Titanic. Sou relâmpago em céu sem nuvem passageira. Sou tempestade em copo d´água que com o vento se vai e vem.

Sou preto no branco. Sou cinzas. Sou brasa dormida, sou incêndio florestal. Sou aguaceiro no deserto. Sou Pessoa -mas também campos e caieiros, e reis e rainhas concretas de campos e espaços. Sou incompatibilidade de gênios e estou de mau humor. Não farei meu poema enquanto estiver de mau amor...

Sou uma tautologia tatibitati. Sou um axioma, um teorema, uma premissa errada, uma promessa quebrada, um livro aberto, um enigma indecifrável. Sou esfinge: devora-me ou te decifro. Ser e não ser ao mesmo tempo agora - eis minha questão.

Sou duas caras da mesma moeda. Sou terno, sem gravata. Sou eterno, dado a bravatas Vou fundo, mas sou raso; sou ralo mas não vazo. Sou sexus, plexus e nexus; sou côncavo e convexo.

Sou eu versus eu. Sou um canto de mim mesmo, tão estreito quanto o canto em que me escondo, e quanto mais escuro, mais eu canto. Quem sabe aí esteja meu encanto. Não ando à minha cata, mas estou sempre me encontrando. Uma parte de mim é todo mundo, outra parte é ninguém. Viro meu pior inimigo na hora em que prego. Com o coração eu juro, com a boca, renego

Solto meu uivo composto nos porões, trepado nos telhados do mundo. Sou uma nuvem de calças, sólido como o vento. Me liquefaço, mas me refaço a cada passo. O que vier eu traço, sem régua nem compasso. Brilho de noite, me apago de dia, filho da mesma agonia.

Não sou brasileiro, não sou estrangeiro. Não tô nem aí, não tô nem aqui. Sou um gigolô de palavras, um agiota das letras. Empresto verbos a juros. Sem correção. Sou ladrão de versos, de vozes, às vezes, de reflexos. Não cito fontes, não dou créditos, não sou fiduciário. Só digo a verdade se juro em falso. Sou grave, sou agudo, sou circunflexo. Eu me contradigo? Sim, eu me contradigo. Pois cá comigo abrigo uma multidão dos meus próprios desamigos, na santa paz de meu jazigo.

Sou Diadorim, na noite da taverna. Traí Capitu, beijando Iracema com lábios de fel. Bocejo com Macunaíma e vivo a morte severina. Sou casmurro, sou machado. Sou póstumo. Eu postulo, eu presumo, eu postergo. Eu exumo, eu exijo, eu acuso, eu insisto.

Eu desisto.

EDUARDO BUENO

05 DE AGOSTO DE 2022
INFORME ESPECIAL

Casa Perini Day em 3D

Começa a ganhar forma o evento que promete transformar um dos locais mais charmosos da serra gaúcha - o Vale Trentino, em Farroupilha - no palco de uma experiência enogastronômica e musical inédita. Marcado para 11 de outubro, o Casa Perini Music Day terá uma megaestrutura montada em meio aos vinhedos, em uma área de cinco hectares (foto abaixo).

Com pistas, lounge e áreas vip, a projeção em 3D (veja a imagem acima) dá uma ideia do que vem pela frente: serão necessários 70 profissionais só para erguer toda a estrutura, trabalho que deve levar pelo menos quatro dias.

Promovido pela Vinícola Casa Perini, fundada em 1929, o evento terá show dos DJs Alok e Zeeba e pratos especiais dos chefs Vicente e Arthur Perini harmonizados com vinhos e espumantes pelo sommelier Pablo Perini.

Os ingressos estão à venda no site uhuu.com.

Essa é para quem é fã do Homem-Aranha: não se surpreenda se, no domingo à tarde, do nada, você deparar com um monte de "Peter Parkers" na Orla, em Porto Alegre.

Um grupo de apaixonados pelo super-herói - liderado pela Embaixada Aracnídea RS (formada por admiradores do garoto com poderes especiais criado pela Marvel Comics) - planeja se encontrar a partir das 14h na área próxima à Usina do Gasômetro, para uma reunião de cosplay (como é chamada a arte de se transformar em um personagem da forma mais precisa e realista possível).

A atividade é uma homenagem ao ícone dos quadrinhos, que surgiu há 60 anos, em 1º de agosto de 1962. Em caso de chuva, o encontro será no dia 14.

O Clínicas

Não custa lembrar: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre é uma instituição pública e universitária, vinculada à UFRGS. Desde 1971, presta serviço de excelência e contribui para a formação de alguns dos melhores médicos do Brasil.

Com decreto publicado nesta semana, o Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul - que se desvinculou da Brigada há cinco anos - passa a ter suas próprias medalhas para agraciar profissionais de destaque.

Entre as distinções criadas, duas condecorações de mérito intelectual (ao lado) receberam os nomes e os rostos dos bombeiros mortos no incêndio que destruiu a sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado, em julho de 2021: tenente Deroci Almeida e sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós. Justa homenagem.

JULIANA BUBLITZ