sábado, 19 de novembro de 2022


19 DE NOVEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A RECUPERAÇÃO DO EMPREGO CONTINUA

Alenta constatar que o desemprego segue em queda no Rio Grande do Sul e no país. No Estado, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa encerrou o terceiro trimestre de 2022 em 6%, uma retração de 0,3 ponto percentual ante o intervalo de três meses imediatamente anterior e 2,4 pontos abaixo de um ano atrás. É um sinal de que, a despeito das turbulências políticas internas resultantes das eleições e da instabilidade internacional, a economia segue se reorganizando após o período mais duro da pandemia.

A taxa gaúcha está abaixo da média nacional, de 8,7%. Anima ainda o dado mostrado pelo IBGE apontando que a informalidade no Estado segue sendo reduzida, indicador de uma ocupação mais qualificada dos trabalhadores, com carteira assinada ou sob um CNPJ. Um dos pontos interessantes a ser observado é o de que o desempenho ocorre a despeito da forte retração do PIB do Rio Grande do Sul no ano. O nível de atividade no Estado recuou 8,4% no primeiro semestre, conforme o apurado pelo Departamento de Economia e Estatística, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do governo gaúcho.

Era amplamente esperado que o resultado da economia gaúcha em 2022 seria afetado pela severa estiagem do último verão. Como a agropecuária tem grande peso no PIB do Rio Grande do Sul, as perdas elevadas nas lavouras, especialmente nas de soja, levaram a atividade para o campo negativo, como ocorre normalmente em anos de seca forte. Mesmo assim, os demais setores, felizmente, mostram resiliência e seguem avançando. Os números do emprego de julho a setembro, na comparação com abril a junho, são ilustrativos. Indústria de transformação (56 mil postos), construção civil (26 mil) e comércio (18 mil) seguiram abrindo vagas, mais do que compensando a retração dos postos no setor rural (-13 mil).

São indicadores que corroboram observações feitas neste espaço dois meses atrás, quando foi divulgado o PIB gaúcho até junho. Em síntese, apesar de o número final da economia ser ruim, as fábricas seguem produzindo e com demanda, mais serviços são prestados e o comércio permanece em sua trajetória de elevação das vendas, em linha com a recuperação da economia nacional.

Além da queda do desemprego e da redução da informalidade, são positivas as informações sobre os ganhos das pessoas ocupadas. O rendimento médio real no Estado chegou a R$ 3.117, uma alta de 6,7% ante um ano atrás e de 7,2% sobre o segundo trimestre deste ano. É preciso lembrar que, mesmo com os níveis de ocupação melhorando nos últimos meses, os ganhos dos trabalhadores estavam em queda, uma realidade altamente desafiadora para a população diante de um período de inflação persistente.

O fato é que o Rio Grande do Sul, com a taxa de 6%, teve o menor nível de desemprego desde 2015. Se o clima ajudar a colher uma boa safra de verão, há espaço para mais vagas serem abertas a partir do próximo ano. O Estado, no entanto, não é uma ilha e também depende do quadro da economia nacional. Assim, deseja-se que o novo governo federal acerte o passo, especialmente em relação à sustentabilidade das contas públicas, para injetar confiança nos consumidores, empresários e investidores, gerando reflexos positivos na atividade e no mercado de trabalho.

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19 DE NOVEMBRO DE 2022
ACERTO DE CONTAS

Pizzarias de volta

Após serem fechadas franquias da marca, foi aberta em Porto Alegre uma loja própria da Pizza Hut, rede de pizzarias norte-americana. O local escolhido foi a praça de alimentação do Bourbon Shopping Wallig, na Zona Norte. O investimento e o número de funcionários não foram informados.

No começo do ano, quatro unidades da pizzaria foram fechadas devido a desentendimentos entre os franqueados e a empresa quanto ao modelo de negócios. Chegou a gerar uma ação judicial com decisão para interromper o pagamento pelo direito ao uso da marca e verba para marketing. Restaram apenas as duas lojas no Aeroporto Salgado Filho, administradas por outro franqueado.

Diretor de Expansão, Rafael Racy afirma que há planos para mais lojas na Capital, porém não revelou os locais. A ideia é ter novos projetos já em 2023. Além de Porto Alegre, Canoas e Passo Fundo também possuem unidades da Pizza Hut.

Paraná ultrapassou o RS em 2020

Com 6,2% de participação, o RS caiu, em 2020, da quarta para a quinta posição no ranking nacional do PIB dos Estados. Com isso, perdeu o lugar para o PR (6,4%). Os líderes são SP (31,2%), RJ (9,9%) e MG (9%). Logo atrás do peso gaúcho, vem SC (4,6%). O ano foi o primeiro da pandemia, concentrando o auge do prejuízo econômico, que atingiu todos os Estados brasileiros. Além de fechamentos do comércio, a indústria teve um período sem poder funcionar.

Porém, a economia gaúcha sentiu o baque, também em 2020, de uma estiagem muito forte. Enquanto outros Estados se beneficiaram de safras boas com alta de preços de commodities agrícolas, agropecuária aqui teve um tombo de 29,6%, puxado por soja, cereais e fumo. Indústria e serviços também ficaram no negativo, mostra o dado do IBGE.

GIANE GUERRA

19 DE NOVEMBRO DE 2022
PARTIDOS

Em crise, PSDB faz de Leite esperança de renovação

A inédita conquista da reeleição ao governo do Rio Grande do Sul fez de Eduardo Leite uma unanimidade no PSDB. Pela primeira vez em 20 anos, os tucanos emergem das urnas unidos em torno de um nome para conduzir os rumos do partido e disputar a próxima corrida presidencial.

Embora insista que sua prioridade é a gestão do Estado, Leite vem sendo pressionado a assumir a presidência da legenda a partir de 2023. Ele deve responder aos apelos na próxima semana, quando retorna das férias após a desgastante campanha eleitoral.

Recluso e sem dar pistas da decisão, o governador eleito pondera prós e contras de se dedicar ao partido enquanto deflagra o segundo mandato. Leite teme gastar energia excessiva reconstruindo o PSDB e atrair críticas por uma suposta candidatura prematura ao Planalto.

Entre os tucanos, não há outro nome sendo cogitado além do gaúcho. O ambiente é tão favorável a Leite que ele terá carta branca para montar a executiva e liderar o processo de fusão com o Cidadania ou de ampliação da federação partidária com o aliado, atraindo o Podemos.

- O Eduardo é hoje a principal estrela do PSDB e tem a convergência do partido. Claro que tem responsabilidade imensa como governador, mas o partido funciona através de sua executiva e ele teria total liberdade para escolher os nomes. Ele seria nosso maestro, apontaria os caminhos - afirma o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).

Remontagem

O objetivo dos tucanos é aproveitar o surgimento de uma liderança jovem, promissora e respeitada no cenário nacional para remontar o partido após as sucessivas brigas que levaram ao fracasso nas urnas em 2022. Se antes o destino do PSDB era decidido numa mesa de quatro lugares nos restaurantes sofisticados de São Paulo, envolvendo em geral a cúpula paulistana formada por Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, nos últimos anos a sigla naufragou em crises produzidas pela rivalidade entre Serra e Aécio Neves e entre Alckmin e João Doria.

O saldo foi traumático. Sem identidade, programa e tampouco militância, o PSDB não teve candidato ao Planalto e colheu o pior resultado de sua história. Além de nem sequer passar ao segundo turno da disputa pelo governo de São Paulo, bastião tucano há 28 anos, o partido não elegeu nenhum senador e montou bancada de míseros 13 deputados (18 na federação como Cidadania), pouco acima dos 11 exigidos pela cláusula de barreira.

Com a velha guarda tucana rumando para a aposentadoria e os mais jovens flertando explicitamente com o bolsonarismo, Leite se tornou a esperança de reencarnação do ideário socialdemocrata que norteou a fundação do PSDB em 1988. Filiado desde os 16 anos, o gaúcho galgou essa posição não só pelo respeito às tradições partidárias, mas sobretudo pela expressiva vitória sobre Onyx Lorenzoni (PL) e pela postura de não aderir a Jair Bolsonaro (PL) nem a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial.

- O partido precisa de uma liderança como ele. Alguém vitorioso e que cria referência ao dar centralidade à educação no novo mandato. Eduardo hoje, em qualquer Estado que ele vá, terá multidão reunida para ouvi-lo, inclusive de outros partidos. Ele agrega não só o PSDB, mas todo o centro democrático - afirma o ex-deputado José Aníbal (SP).

A dependência por alguém que remodele a espinha programática do PSDB é tamanha que circula nos bastidores um entendimento tácito de que, caso recuse a presidência, Leite poderia indicar alguém de sua confiança para dirigir o partido. A única exigência é de que esse nome não seja de Minas Gerais nem de São Paulo, para não reacender rixas antigas, e que tenha a chancela dos outros dois governadores tucanos eleitos em 2022, Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS).

Fundador do PSDB e arguto observador das entranhas do partido, o ex-deputado Marcus Pestana (MG) é um entusiasta da renovação tucana. Pestana, todavia, é uma das poucas vozes contrárias à pressa para que Leite assuma a presidência da sigla.

Para ele, o gaúcho precisa focar primeiro nas entregas do segundo mandato e na consolidação de uma liderança no fórum dos governadores, com participação decisiva no debate das questões nacionais, como a reforma tributária e a compensação pelas perdas no ICMS. O ideal, diz Pestana, é Leite indicar um presidente agora e assumir o comando da executiva nacional em 2025, preparando o terreno para a campanha ao Planalto no ano seguinte.

Marinheiro

Segundo o ex-deputado, haverá uma renovação geracional em 2026, mas o petismo e o bolsonarismo continuarão lá, com capacidade de mobilização, engajamento nas redes sociais e um conjunto de ideias que unifica suas bases, atributos que hoje o PSDB não dispõe.

- Eduardo precisa apresentar resultados, fortalecer sua presença digital e ganhar visibilidade como liderança nacional. Não há questionamento de que ele é a bola da vez, mas hoje o PSDB não tem capacidade de ser plataforma densa para o lançamento de uma candidatura presidencial. Ele chega melhor em 2026 se conduzir esse processo de longe, sem os desgastes cotidianos. Como sei que gosta de samba, mandei para ele uma música do Paulinho da Viola que diz "faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar" - conta Pestana, fazendo justiça à tradicional paciência dos políticos mineiros.

FÁBIO SCHAFFNER

sábado, 12 de novembro de 2022


12 DE NOVEMBRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS

Pernas pra que te quero

Já quis ter olho claro, rosto largo, nariz menor, isso aos 13. Muitos aniversários depois, eu queria ter menos celulite, barriga chapada, nenhum sinal de expressão em torno da boca. E passaram-se outros tantos anos, até entender que, se eu não estava disposta a fazer nenhuma intervenção estética, que parasse de pirar. Passei a tratar do que importa: me alimentar direito, usar protetor solar, cuidar dos dentes, maneirar no vinho e continuar caminhando uns 10 mil passos por dia.

Caminhar é minha obsessão - ainda não diagnosticada como transtorno. Bastam 60 minutos, fones de ouvido e o par de pernas que me coube.

Compridas, bem torneadas, minhas pernas nunca entraram na lista das minhas insatisfações, sempre deram pro gasto, mas agora estão recebendo atenção plena. São meu investimento a longo prazo. É delas que precisarei até 2061 - nenhuma garantia de que eu chegue lá, mas andar com fé, eu vou.

Há um ano, venho fazendo treino de força com um profissional que já conseguiu tonificá-las; daqui para frente, é manutenção sem descanso. Nesta fase da vida, tudo o que preciso é de pernas firmes. Passadas sólidas. Agachar. Sentar. Levantar. Pedalar. Correr - não por esporte, mas para escapar dos motoristas que não desaceleram diante da faixa de pedestre.

Subir as ladeiras de Ouro Preto. Descer a escadaria da Sacre Coeur. Cruzar Roma de bicicleta. Ir do Leblon ao Arpoador pelo calçadão. E, na volta, desembarcar do avião no aeroporto Salgado Filho, até chegar à esteira de bagagens: só aí, dá uns dois quilômetros.

Desfilar numa escola de samba. Chutar uma bola que apareceu do nada. Nadar. Me equilibrar em cima de uma prancha de stand up paddle.

Dançar com ele. Dançar sozinha na sala como se estivesse no clipe de fim de ano da Globo. Saltitar durante a música escolhida para o bis do show, que nunca é lenta. Aplaudir de pé as peças que me arrebatam (e as que não arrebatam, por educação). Aplaudir de pé Fernanda Montenegro só de vê-la atravessar a rua.

Percorrer os corredores do supermercado. Aguardar na fila de autógrafos do meu autor favorito. Descer até a portaria do prédio para pegar a pizza. Passear com o cachorro.

Ficar na ponta dos pés para alcançar o livro na prateleira mais alta da estante. Sexo precisa de pernas? Lembrei, costumam ser úteis.

Tem uma garotada que se estressa com rugas inexistentes e surta diante do espelho por besteira, sem perceber que nada será mais valioso, ali na curva do tempo, do que a autonomia. Muitos cadeirantes são mais ativos que a turma dos sedentários. A geração millenium é rápida na digitação, mas está sempre sentada, deitada, cansada. Eles procuram acessar o futuro nas telas, quando bastaria abrir a porta de casa e sair.

MARTHA MEDEIROS

12 DE NOVEMBRO DE 2022
CARPINEJAR

Por que não temos nenhum Nobel?

Apesar da exuberância criativa e da representatividade internacional, o Brasil jamais recebeu um Nobel. Mais de 600 prêmios já foram dados a quase mil pessoas e instituições pela Academia Sueca de Letras, Comitê Nobel Norueguês, Academia Real das Ciências da Suécia e Instituto Karolinska desde 1901.

Nossos países vizinhos já contam com o galardão: Argentina tem cinco prêmios, sendo dois da Paz; Chile e Colômbia têm dois; Venezuela e Peru têm um. Na língua portuguesa, Portugal marcou presença com José Saramago.

Qual é o nosso complexo de vira-lata? Não é por falta de fortes candidatos ao longo dos anos. Na literatura, poderiam ter vencido Ferreira Gullar, Drummond, João Cabral, Jorge Amado, Erico Verissimo, Guimarães Rosa, Cecília Meireles e Jorge de Lima. Na medicina, houve descobridores de vacinas e de tratamentos como nunca na história: Carlos Chagas, Vital Brasil, Antônio Cardoso Fontes, Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e Manoel de Abreu. Na física, gênios passaram pelos nossos trópicos: César Lattes e Mário Schenberg. Na química, tampouco ficamos atrás: Otto Gottlieb e Johanna Döbereiner.

Na paz, desfrutamos de lideranças de fenômenos religiosos e sociais como marechal Rondon, Chico Xavier, irmã Dulce, dom Hélder Câmara e Herbert de Souza. Nesse caso, entende-se a exclusão, pois o Nobel da Paz prioriza quem é responsável pela pacificação de conflitos e mediação de guerras.

O que nos põe fora do mapa-múndi das grandes realizações da arte e da ciência não é resultado, portanto, de escassez de méritos, mas da ausência de unanimidade dentro do nosso país. Não vendemos o nosso peixe, devolvemos para as profundezas recônditas do oceano. Nossas mentes mais prodigiosas não são consensuais nem dentro do nosso território.

Somos uma população de caranguejos, puxando aquele que se sobressai para baixo. Colocamos a ideologia acima da bagagem cultural.

Se Chico Buarque fosse indicado ao Nobel de Literatura pelos seus romances, pelo seu conjunto cancioneiro, pelo valor lírico de suas letras de música (assim como Bob Dylan), metade do Brasil poderia ser contra, já que ele é petista. O governo seria capaz de contestar a escolha, avisando que ele não traduz a nossa intelectualidade. Nem para o Prêmio Camões - distinção literária conjunta entre Brasil, Portugal e África -, que Chico alcançou em 2019, houve apoio institucional. O Palácio do Planalto se negou a assinar o certificado ao músico e escritor.

O mesmo calvário de oposição interna sofreria o pedagogo e padre Júlio Lancellotti numa corrida para o Nobel da Paz. Ele realiza incansável e surpreendente trabalho assistencial para moradores de rua em São Paulo, é idealizador das Casas Vida I e II (criadas originalmente para acolher crianças portadoras do HIV), tornou-se um exemplo de caridade além-fronteiras, mas tem um probleminha: é vinculado à esquerda. Sequer um abaixo-assinado com milhões de apoiadores sufocaria o que dizem as vozes oficiais a respeito dele.

O boicote não se restringe à esquerda. Nossos cientistas, pensadores ou artistas conservadores e liberais também encontrariam igual resistência.

O fundador da Embraer, ex-presidente da Petrobras e Varig, Ozires Silva, 91 anos, jantou em Estocolmo com três membros do comitê que define os vencedores do Nobel anualmente e fez a pergunta sobre a inexistência da premiação a brasileiros. Um deles respondeu:

"Os brasileiros são destruidores de heróis. Vocês jogam pedras nos candidatos brasileiros que aparecem, diferentemente de outros países, em particular dos Estados Unidos. Não tem apoio da população. Parece que o brasileiro desconfia do outro ou tem ciúmes do outro".

Estamos sempre atrasados na hora de patentear para a humanidade os nossos talentos extraordinários.

Por isso, o padre Roberto Landell de Moura realizou a primeira transmissão radiofônica do mundo em 1893, e a criação do rádio foi atribuída ao sérvio Nikola Tesla. Por isso, em 1906, Santos Dumont conseguiu fazer com que o 14-Bis levantasse voo por meios próprios, e a invenção do avião foi creditada aos irmãos norte-americanos Wright, que dependeram de uma catapulta para impulsionar o seu aparelho.

Há brasileiro que acredita até hoje, por exemplo, que Pelé não foi o maior jogador de todos os tempos.

CARPINEJAR

12 DE NOVEMBRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

O ERRO NOS GUIA?

As patéticas advertências do secretário-geral da ONU, António Guterres, ao abrir a conferência sobre o clima, dias atrás no Egito, revelam algo impossível de se esquecer.

"O planeta está no limite máximo de sua resistência. É obsceno que os governos continuem a financiar a destruição dando subsídios e isenções à exploração dos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo", disse ele, em síntese.

Convidado pelo governo egípcio, o presidente eleito, Lula da Silva, deve assistir apenas às sessões finais da conferência climática. Se a assistisse por inteiro, teria ouvido os relatórios em que diferentes ramos de cientistas apontam 2025 como o limite para que a média anual das emissões de gases de efeito estufa atinja o ponto de inflexão e comece a cair.

"Não aprendemos com o passado e, por isso, temos pressa", resumiu o secretário-geral da ONU. Os números da ciência falam por si: de 2010 até 2019, a média das emissões de dióxido de carbono atingiu os níveis mais altos da história da humanidade. Se esses níveis não baixarem drasticamente, ocorrerão brutais ondas de calor, com secas, inundações e tempestades jamais vistas na História.

A cada 0,1ºC de aumento da temperatura, maior o número de mortos por estresses de calor, problemas pulmonares e cardíacos, doenças infecciosas, além das causadas por mosquitos e pela falta de alimentos e fome. Os plantios e colheitas agrícolas serão afetados ainda mais do que hoje.

Será, então, a catástrofe, construída por cada um de nós, enquanto os governantes se contentam com simples retórica, como se as mudanças climáticas fossem resolvidas com palavras, nunca por atos concretos, educando a população.

Basta um número apenas para dar uma ideia do horror. Tão só em 2021, o Brasil despejou na atmosfera 2,42 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono, ou gases de efeito estufa.

Esse número de terror, porém, foi praticamente desconhecido na disputa pelas eleições de 2022. A defesa do meio ambiente jamais foi tema dos candidatos. No governo Bolsonaro, o meio ambiente (ou a defesa da vida no planeta) sequer mereceu atenção. Agora, oxalá Lula aprenda algo essencial na reunião do clima no Egito para que a longa viagem não se resuma a breve turismo para ver as pirâmides. Os erros atuais não podem nos guiar.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

12 DE NOVEMBRO DE 2022
CONSELHO EDITORIAL

NOVAS ETAPAS

Com o fim do período eleitoral, modifica-se o enfoque da cobertura jornalística. Nossas redações passam à próxima etapa, de acompanhar o período de transição de governos, os compromissos assumidos pelos eleitos e a expectativa da população em relação a seus futuros governantes. Vejo nossa cobertura política, a partir do dia seguinte à eleição, dividida em três momentos: o primeiro, de compreensão dos resultados; o segundo, de preparação dos governos, com a escolha das equipes e a formatação das propostas; e o terceiro, o da execução dos mandatos.

Na primeira etapa de compreensão dos resultados, nos dedicamos a apresentar todos os dados sobre os eleitos e analisar em profundidade a reconfiguração do poder no Executivo e no Legislativo, suas interrelações e possíveis impactos, tanto no âmbito federal como no estadual. 

Neste primeiro momento, tivemos manifestações importantes de insatisfação, por parte do eleitorado, em relação ao resultado da eleição presidencial. A RBS tem, em seus valores, a defesa das leis e da Constituição. Nosso desafio editorial foi mostrar ao público o que eram atos ilegais e inconstitucionais e diferenciá-los de manifestações legítimas de insatisfação. Estamos vivendo agora o segundo momento, de preparação dos governos.

É nisso que focamos nossos esforços. O objetivo é contextualizar, analisar e trazer todos os dados para que o público acompanhe este novo momento. Seguiremos com nosso olhar profundo e diário na cobertura estadual e ampliaremos o enfoque nas questões nacionais, devido à relevante alternância que ocorreu em Brasília. Para reforçar nossa presença na Capital Federal, a partir desta semana, o jornalista Rodrigo Lopes passa a trabalhar de lá, trazendo para os veículos da RBS um olhar gaúcho sobre os fatos políticos e econômicos do país. 

Daremos atenção a temas importantes, cujas diretrizes ainda não estão claras ou preocupam de uma forma especial toda a população, como o equilíbrio das contas públicas e a economia, e a todos os temas nacionais com forte impacto no Rio Grande do Sul. 

Rodrigo Lopes junto com Samantha Klein passam a ser os correspondentes da RBS em Brasília. A partir de janeiro, com as posses, continuaremos exercendo nosso papel de acompanhar, sempre com o olhar atento e crítico, o desempenho dos Executivos e Legislativos. O papel da imprensa é, representando os seus públicos, verificar se promessas de campanha e plataformas de governo estão sendo cumpridas com sustentabilidade e responsabilidade a respeito de suas consequências. Seguiremos, nestas importantes etapas do Brasil e do Rio Grande do Sul, no exercício do jornalismo profissional, com independência, visão plural e compromisso com toda a sociedade. 

CEO da RBS Mídias e membro do Conselho Editorial da RBS - CONSELHO EDITORIAL CLAUDIO TOIGO FILHO

12 DE NOVEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

ELEIÇÕES SÃO ASSUNTO ENCERRADO

Se ainda existia mesmo em grupos minoritários uma mínima ilusão de intromissão indevida das Forças Armadas no resultado das eleições, essa espera mostrou-se na sexta-feira definitivamente vã. A pá de cal na miragem golpista veio da nota conjunta assinada pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Mesmo repleta de recados nas entrelinhas, a declaração dos chefes militares é clara ao condenar "eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública" e lembrar que "a solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do Estado democrático de direito".

Ora, excessos em manifestações, com a limitação do direito de ir e vir dos brasileiros, foi exatamente o que se viu nas tentativas de bloquear estradas país afora após a definição do pleito. A segurança pública também foi ameaçada nos protestos com episódios de violência direcionada a cidadãos, jornalistas e mesmo contra agentes da lei. Os comandantes também apenas reafirmaram o óbvio quanto à forma adequada de mediar conflitos sociais. Devem ser solucionados a partir das balizas legais existentes. Isso significa, ao fim e ao cabo, subserviência à Constituição, no que se inclui o respeito ao resultado das eleições.

Na nota, os militares ressaltam que defendem a liberdade de manifestação. Mas a mensagem principal, que aparece entremeada no texto, mesmo sem ser explícita, é a de que as Forças Armadas também consideram a eleição um assunto encerrado. Dessa forma, os grupos que ainda insistem em permanecer em frente aos quartéis, à espera de uma ação inconstitucional que não virá, devem definitivamente aceitar o resultado da eleição e voltar para as suas rotinas familiares e profissionais. O país viveu sobressaltos demais nos últimos anos. É tempo de armistício social.

A manifestação dos comandantes das três armas, assim, enterra definitivamente qualquer pretensão de manter acesa a tese estapafúrdia de fraude nas eleições. Não há qualquer contestação à escolha legítima dos brasileiros. O relatório entregue pelo Ministério da Defesa ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi cabal ao informar que, nas inspeções conduzidas no primeiro e no segundo turno, não foi encontrado qualquer indício de irregularidade ou inconsistência. 

Foi mais um atestado da seguranças das urnas eletrônicas. As ressalvas feitas no dia seguinte de que as conclusões não descartam eventuais fragilidades, sem que fosse apresentado qualquer indicativo concreto de burla, refletem apenas a infeliz submissão da pasta e de um grupo de militares aos interesses políticos e pessoais do presidente Jair Bolsonaro.

Mas os fatos são irretorquíveis. As equipes da Defesa não detectaram qualquer anormalidade nas eleições de 2022. O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que também fiscalizaram as urnas, tiveram entendimento igual. Desde o ano passado as urnas eletrônicas utilizadas no pleito de outubro passaram por uma série de testes e avaliações de entidades públicas e privadas. Sempre demonstraram ser seguras.

O Brasil tem problemas reais para resolver e permanecer preso a desatinos é inútil. Não há mais espaço para contestar o resultado da eleição presidencial e tumultuar o país. É hora de temperança.


12 DE NOVEMBRO DE 2022
RS QUE É EXEMPLO

Uma troca de carinho e de aprendizado

Clarice Almeida acolhe desde o início do ano dois irmãos - uma adolescente de 14 anos e um de 12. Antiga no programa ao lado de seu marido, Leandro Almeida, diz que se cadastrou em busca de ocupação. Descobriu que o Família Acolhedora era muito mais do que isso.

- Eu vi que mudou a minha família também, os meus filhos. É um amor, uma troca, sabe? Não são só eles (acolhidos) que estão ganhando. A gente está ganhando também. A gente aprende todo dia com eles e se torna uma pessoa melhor - analisa Clarice.

Antes de ir para a casa de Clarice, a adolescente e seu irmão moravam em um abrigo. A menina aprovou a mudança: - Lá, a gente não podia sair muito. Aqui saímos, passeamos com eles. Aqui, a gente pode conhecer mais pessoas na vizinhança.

No abrigo, a menina dividia um quarto com oito pessoas. Mais velha do grupo, conseguia estudar quando os menores iam para a sala de TV. Agora, tem onde se concentrar nos estudos.

Festa

No ano que vem, Clarice planeja organizar uma festa de 15 anos para a adolescente, com direito a salão, vestido e ensaio fotográfico. Para ela, um dos grandes aprendizados com a participação no programa é que, muitas vezes, coisas simples são vivências que aqueles meninos e meninas nunca tiveram.

- São coisinhas tão pouquinhas, sabe? A primeira vela que assopraram num aniversário, conhecer a praia, comprar material escolar. São coisas tão cotidianas, que tu não se dá conta de que talvez uma criança nunca tenha feito isso. Uma criança que nunca teve uma festa de aniversário até os 14 anos. Pra mim, isso é coisa que não podia existir, mas, infelizmente, existe, e a gente está fazendo a diferença na vida dessas crianças - relata, com lágrimas nos olhos.

 


12 DE NOVEMBRO DE 2022
CELEBRAÇÃO DOS 95 ANOS

Evento da Federasul fala sobre futuro

Debates destacam tecnologia, inovação e transformações no mundo

Quase centenária, a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) festeja os seus 95 anos olhando para a frente, bem à frente. Por Futuros Inovadores é o slogan do 18º Congresso da Federasul, que ocorre até este sábado e celebra os 95 anos da entidade. Na tarde de sexta-feira, o presidente, Anderson Trautman Cardoso, deu as boas-vindas à plateia do Hotel Master, em Gramado, e a quem acompanhava o evento pelo site ou pelas redes sociais da entidade.

Pedro Valério, CEO do Instituto Caldeira e diretor de Inovação da entidade, mediou o primeiro painel, Inovação e o Mundo do Futuro. A discussão sobre a escassez de talentos na área de tecnologia norteou parte do debate. Valério trouxe um dos dados que chamou a atenção da plateia: só para as empresas fundadoras do Instituto Caldeira (hub de inovação em Porto Alegre), a estimativa é que faltem 5 mil talentos na área de tecnologia. Camila Brasiliense, da IBM, lembra que a evasão de cérebros foi acelerada a partir da pandemia, que nos ensinou o quanto o trabalho online é viável.

Rafael Bechelin, empreendedor e membro da Divisão Jovem da Federasul, desacomodou os presentes questionando onde estão as empresas em que a plateia atua: na produção de óleo de baleia, do querosene, da lâmpada incandescente ou da carne cultivada, produzida em laboratório. Para provocar, usou diferentes exemplos de unicórnios - startups que nascem pequenas e crescem exponencialmente: como a MTailor, aplicativo que faz roupas sob medida em minutos; Dall-E, programa que cria imagens a partir de textos; a Sushi Singularity, que faz sushi em impressora 3D com nutriente, cor, ingrediente escolhido pelo usuário ou adequada ao biótipo se aceitar oferecer mapeamento genético.

- No futurismo, tudo o que puder ser melhor digitalizado, distribuído, personalizado e automatizado, será - arrematou Bechelin.

Os painelistas fizeram questão de lembrar que 80% da inovação ocorre dentro da empresa e que, para isso, é preciso ouvir as pessoas e criar o ambiente adequado para repensar a forma como as coisas são feitas. Camila, que tem formação em Meteorologia, aponta também para um caminho de inovação que pode vir de fora para dentro, seja por meio de hackathons (maratonas que geram soluções), ou de dentro das faculdades.

Otimismo

Ao responder a pergunta sobre o papel de protagonismo do Rio Grande do Sul, Bechelin deu o tom de otimismo que deve marcar o congresso:

- Há cinco anos atrás existia o Caldeira? O Cais do Porto? A gente estava ensimesmado e ficava vendo Santa Catarina e Paraná avançando. Mas hoje o Rio Grande do Sul conseguiu encontrar seu caminho e já é o número 1 em inovação no Brasil. Eu, particularmente, estou muito otimista com o Rio Grande do Sul e todos os atores, como o Instituto Caldeira, que fazem esta transformação.

A largada do evento da Federasul ocorreu ainda na quinta-feira, quando Gramado recebeu o Congresso da Mulher, até a manhã de sexta, quando deu lugar ao Encontro de Executivos.

Além das palestras e painéis, entidades filiadas à Federasul apresentam cases voltados para a inovação e para a sustentabilidade financeira. A programação se encerra neste sábado, com diversos conteúdos, com destaque para painéis de empresas que são exemplos não só no Estado ou no Brasil, mas no mundo, como Agibank e Nelogica. Também será abordado o futuro da economia e do país. E fecha com Jorge Gerdau e Maria Elena Johannpeter apresentando Um casal de Sucesso e Parceiros Voluntários.

ANDREIA FONTANA


12 DE NOVEMBRO DE 2022
CARTA DA EDITORA

Preparação para o verão

A cada verão que se aproxima, a Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho começa a pôr em prática as ações planejadas para o período de alta temporada. E a primeira delas, sempre por essa época, é mostrar ao público que se desloca em dezembro, janeiro e fevereiro para o litoral gaúcho as condições e as novidades das praias. É o que mostra a reportagem que ilustra a capa desta edição.

De terça a quinta-feira, uma equipe de Zero Hora percorreu algumas das mais conhecidas praias do litoral norte do Rio Grande do Sul. O repórter Vinícius Coimbra, o fotógrafo Jefferson Botega e o motorista Ricardo Figueiredo circularam por Pinhal, Capão da Canoa, Torres, Tramandaí e Imbé para contar como os veranistas vão encontrar estes locais na esperada temporada de verão. É tão aguardada porque será a primeira, depois de dois anos de pandemia, sem orientações sobre distanciamento social ou restrições de público.

- As cidades estão em obras para receber bem os veranistas. Em Torres, para melhoria do trânsito de veranistas à beira-mar e na Lagoa da Viola. Aquele lindo letreiro de Tramandaí foi renovado e a ponte que liga a cidade a Imbé recebeu melhorias. A reportagem detalha estas e outras novidades das praias, assim como a preparação das prefeituras para receber tanta gente na estação mais celebrada pela região - conta Rosângela Monteiro, editora da área de Comportamento.

A partir de agora, tanto o Litoral Norte quanto o Litoral Sul passam a receber uma atenção maior justamente pelo deslocamento intenso de veranistas para essas regiões. Já no Natal, teremos equipes se revezando até o final de fevereiro nas praias do Norte, onde há maior concentração de pessoas. Porém, como todos os anos, também deslocaremos repórteres e fotógrafos para o Sul, sempre com a missão de mostrar novidades, melhorias, eventuais problemas e dicas para quem gosta de buscar lugares ainda pouco explorados.

A reportagem sobre as condições do Litoral Norte está publicada nas páginas 22 e 23.

DIONE KUHN

sábado, 5 de novembro de 2022

05 DE NOVEMBRO DE 2022
CARPINEJAR

O tijolinho que faltava em nossa construção

Quando você sentir que o casamento anda morno, que já não se falam como antes, que já não se beijam como antes, que já não atravessam a madrugada com cálices de vinho ouvindo música como antes, que já não surte efeito a pimenta da coreografia sensual e das roupas íntimas novas como antes, que os treinos pesados na academia não melhoram o desejo como antes, que nem as viagens românticas garantem aquela cumplicidade como antes, que sequer terminam um filme no sofá como antes, que viram para lados opostos na cama sem um último olhar e aconchego, terá chegado a hora de usar o último recurso para evitar o divórcio: a reforma em sua casa.

Chame os pedreiros para salvar o relacionamento. Reforma é tão impactante quanto terapia de casal, só que muito mais cara. Invente algo para fazer em seu território. Um puxadinho. Uma ampliação. Derrube divisórias, transforme o quartinho em escritório, crie uma cozinha americana, suíça, holandesa, sonhe com uma varanda para pôr uma rede, levante um jardim aéreo na área de serviço.

Nenhuma discussão será pior do que negociar valores com engenheiro e com mão de obra. Nenhum problema será maior do que a planilha de materiais. Unidos em torno da construção, esquecerão as divergências por um bom tempo.

Ficarão obcecados com a oscilação dos preços nas ferragens. Abandonarão a raiva mútua ante os inimigos em comum - os prazos e a chuva -, transferindo o ódio para outro lugar. Terão assunto para comentar todo dia, picuinhas para reclamar toda hora. 

Começarão a se abraçar novamente, a se proteger das críticas alheias, a louvar os sacrifícios de ambas as partes diante do vaivém dos gastos. Encontrarão o inferno dos adiamentos, num parcelamento infinito do término do projeto.

O que mais vão querer é voltar à rotina. Sentirão saudades do ócio, da paz, da tranquilidade de outrora. Descobrirão que eram felizes e não sabiam. Reforma é uma outra noção da existência. Não tem espaço para desavenças particulares.

A obra que iria durar 30 dias acabará durando seis meses e não haverá como voltar atrás pelo caos, poeira e confusão de cimento nos aposentos. O livre trânsito se mostrará inviável com andaimes, caçambas, carrinhos de mão, escadas pelos corredores.

Só existe um caminho: seguir adiante, torrar as economias pela redenção, jamais interromper tudo o que foi feito até então. O orçamento que era para ser X será de três vezes X, e vocês precisarão somar as forças e os salários.

É uma lição de humildade. Perceberão o valor de cada lâmpada, de cada interruptor, de cada azulejo, de cada tijolo. Enxergarão a alma das paredes, por onde passam a água e os fios elétricos. Terão noção do esqueleto e da planta residencial - estarão como unha e carne contra os revezes das instalações.

Faça uma reforma para não brigar com o marido ou com a esposa. É um remédio tarja preta para o tédio. Um exorcismo dos aborrecimentos. Vida eterna para o material de construção.

CARPINEJAR


05 DE NOVEMBRO DE 2022
LEANDRO STAUDT

Mortos fotografados

Nunca na história tantas pessoas tiveram na mão um equipamento para fotografar. Com as redes sociais, nossa rotina diária tem mais registros do que a vida dos reis no passado. Um dos poucos momentos em que não temos smartphones apontados para todos os lados é na despedida dos mortos. Ninguém faz selfie ao lado do caixão ou foto do falecido.

Claro, seria deselegante ficar posando no velório ou enterro. Não combina com o luto, a tristeza de perder um amigo ou familiar. Curiosamente, nem sempre foi assim. Em outros tempos, quando as fotografias eram um privilégio de poucos, a imagem do morto poderia ser a única lembrança guardada pela família.

Desde a pré-história, o homo sapiens tenta guardar a imagem do falecido. Inicialmente, preservando a cabeça, que não era enterrada com o corpo e depois recebia preenchimento com barro. O avanço das técnicas de escultura e pintura permitiu o surgimento de máscaras, bustos e quadros.

O professor e historiador Miguel Soares, autor do livro Imagens da Morte: Fotografia e memória, afirma que a morte é a mãe da imagem, uma forma de manter presente o ausente. Com o surgimento da fotografia na primeira metade do século 19, famílias puderam guardar imagens detalhadas, registradas no velório. Se a captura levava minutos, o trabalho dos fotógrafos ficava mais fácil com os mortos, que não se mexem.

Os imigrantes europeus trouxeram essa tradição para o Rio Grande do Sul. Em muitas fotos preservadas aparecem os familiares ao lado do caixão aberto. Imagens de bebês e crianças mortos, que causam arrepios hoje, eram tratadas com naturalidade.

O escritor Felipe Kuhn Braun, autor do livro A Morte: Antigas tradições e suas representações no sul do Brasil (1858-1980), reuniu um acervo com muitas fotos guardadas pelas famílias. Ele relata que as imagens dos falecidos eram enviadas para parentes que moravam longe, como última lembrança.

Essas fotos antigas são vistas por nós como atitude mórbida, causam desconforto. Até os velórios estão mais rápidos hoje. Os nossos antepassados também sofriam com as perdas, mas lidavam de forma diferente com a morte. As fotos estão aí para provar.

LEANDRO STAUDT


05 DE NOVEMBRO DE 2022
EM DUAS HORAS

Ingressos de pré-venda do Planeta Atlântida se esgotam

A pré-venda para todos os cartões de crédito Banrisul, que estava disponível na manhã de sexta-feira, esgotou em tempo recorde: apenas duas horas. Na próxima segunda-feira, a partir das 10h, será aberta a venda de ingressos do Planeta Atlântida 2023 para o público em geral.

Os pontos de vendas são o site do Planeta Atlântida (planetaatlantida.com.br) e a unidade das Lojas Renner da Avenida Otávio Rocha, 184, em Porto Alegre, também a partir das 10h.

A 26ª edição do festival ocorre dias 3 e 4 de fevereiro, na sede campestre da Sociedade Amigos do Balneário Atlântida (Saba). Na última semana, em evento de lançamento para o mercado, Armandinho foi confirmado como atração.

O Planeta Atlântida é o maior festival de música do sul do país e ocorre desde 1996, na praia de Atlântida. Mais de 1,3 mil atrações nacionais e internacionais, de diferentes estilos, já passaram pelos palcos do evento, levando aos planetários mais de 800 horas de música. O festival é o evento mais aguardado do verão gaúcho e já reuniu mais de 2 milhões de pessoas em 25 edições.

Ao longo dos anos, a programação reuniu atrações como Gilberto Gil, Racionais MCs, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, O Rappa, Rita Lee, Men At Work, Flo Rida, Fat Boy Slim, Charly García e Fito Páez. Entre astros que marcaram presença e deixaram saudade estão Tim Maia, Mamonas Assassinas, Chorão e Champignon.

Sem falar das presenças gaúchas: Armandinho, Cachorro Grande, Chimarruts, Papas da Língua, Acústicos e Valvulados e Comunidade Nin-Jitsu.


05 DE NOVEMBRO DE 2022
MARCELO RECH

As lições do RS

Embora os olhares do Brasil estivessem pregados nas eleições presidenciais, o Rio Grande do Sul finalmente voltou a fazer jus a sua tradição política de ter algo a ensinar ao país. Eduardo Leite quebrou a escrita de que governadores não se reelegem no Rio Grande do Sul ao governar, pela primeira vez em décadas, como quem, de fato, não pretendia se candidatar à reeleição.

Não é segredo que, durante seu primeiro mandato, os olhares de Leite se voltavam para o Planalto. Por isso, diferentemente de todos os antecessores, enfrentou menos resistência na Assembleia, onde uma constelação de partidos se movimenta ao compasso das futuras pretensões do governador de turno. Com apoio parlamentar, Leite recusou-se a se tornar refém das corporações que aprisionavam há décadas as contas públicas e aprovou uma batelada de projetos reformadores, que foram da reforma da previdência à privatização da CEEE.

Leite desviou-se da máquina de moer governadores porque fez boa parte do que tinha de ser feito há muito tempo. Como não tinha planos de se reeleger, feriu interesses impregnados na máquina estatal e ressuscitou o erário, quitando dívidas históricas, pagando o funcionalismo em dia e voltando a investir em obras públicas. Ao remar contra a corrente populista, da qual jorram promessas fáceis e cofres raspados, colheu resultados que mexem na vida da maioria. O recado final das urnas? Contrariar corporações, e fazê-lo com diálogo e argumentos, dá voto.

A maturidade do eleitorado gaúcho também se consubstanciou em duas outras combinações surpreendentes no segundo turno. De um lado, houve a rejeição a um candidato que envergou o figurino de direita populista ao prometer distribuir dinheiro que não teria e a reverter privatizações já encaminhadas, como a da Corsan. De outro lado, houve o endosso da esquerda a um candidato que segue a agenda liberal, em um movimento no qual se sobressaiu uma nova liderança política, Edegar Pretto, que já tinha dado mostras de ponderação e diálogo na presidência da Assembleia.

Onyx Lorenzoni, como já amplamente analisado, fez uma campanha vazia de soluções e permeada de sandices, como a das vacinas, que ecoam nos convertidos, mas que assustaram o eleitorado indeciso. Ironicamente, o melhor momento da campanha de Onyx foi na sua derrota, quando ele, democrática e diferentemente de Jair Bolsonaro, reconheceu a vitória do adversário. Com mais representantes deste trio - esquerda, centro e direita divergentes mas civilizados -, quem sabe o Rio Grande do Sul não continua a dar lições ao Brasil de que o melhor caminho será sempre o de chegar a denominadores comuns a favor da democracia e da maioria da população?

MARCELO RECH

05 DE NOVEMBRO DE 2022
CHAMOU ATENÇÃO

Afinal, onde está a Mel?

Denunciar, discutir e dar visibilidade ao abandono de animais. A lista de propósitos integra um jogo criado por estudantes da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos: Onde Está Mel?, que simula situações enfrentadas por uma gata que foi dada de presente, ainda filhote, à filha de um casal. Quando cresce, a família perde o interesse no bichinho e ela acaba nas ruas, dentro de um saco preto, como se fosse um objeto descartável.

- A ideia é impactar, mostrar o que acontece com o bichinho da porta pra fora. Eu conheci gente que jogou e ficou triste. Mas tenho certeza de que nunca vai abandonar um animal - afirma Francisco Sampaio, 24 anos, programador do game.

O processo de desenvolvimento da plataforma ocorreu dentro do campus, no curso de Jogos Digitais. O jogador controla o pet em todas as situações, desde a convivência na casa onde estava acolhido, passando por dificuldades em busca de um abrigo, em busca de comida ou fugindo da carrocinha. Cenário 3D, gráficos e os movimentos de câmera, de fato, impactam, como previu a turma: a gata se espreguiça, dorme enrolada e tem os hábitos muito parecidos com os dos felinos de carne e osso.

- Na rua, ela tem dois filhotinhos, o que mostra ainda mais para quem adota a responsabilidade de não abandonar - complementa o programador.

Reconhecimento

O trabalho dos alunos chamou tamanha atenção que foi indicado ao SBGames 2022, evento nacional que premia as melhores iniciativas de entretenimento digital. Onde Está Mel? chegou à final da competição.

Desenvolver projetos que contribuam com a comunidade é uma das premissas do currículo, garante o professor Eduardo Müller, coordenador do curso.

- Acho importante mostrar o quanto nosso trabalho, como desenvolvedores de jogos criativos e contadores de história, consiga trabalhar com um projeto que possa ajudar outras pessoas e, por que não, os animais - explica.

O jogo contou ainda com arte gráfica de Wellington Moreira e desenvolvimento de Grégori Petry.

TIAGO BOFF

sábado, 29 de outubro de 2022



29 DE OUTUBRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS

Fim de uma etapa

Iniciei carreira como colunista de jornal em 1994, no finalzinho do governo Itamar Franco. Meu texto de estreia denunciava uma tendência retrô: a de que casar virgem estaria "voltando à moda". O segundo texto foi sobre mulheres que tomavam a iniciativa de chamar para sair. O terceiro, sobre o casamento não ser mais o único objetivo de nossas vidas. Virou um nicho: relacionamentos. Ciúmes, erotismo, religião, rock´n´roll, cinema, topless, homossexualidade, aventuras cotidianas. Escrevia sobre tudo, pois tudo envolve a relação entre as pessoas. Incluindo a política.

Sobre o governo FHC, palpitei três ou quatro vezes - em oito anos. No governo Lula, um pouco mais. Eram opiniões avulsas, não representavam meu trabalho como um todo. Isso até 2016, quando estarreci ao ver um deputado homenagear um torturador dentro do Congresso Nacional - me senti insultada. Não gosto de política e nunca demonizei ou santifiquei alguém: por mim, continuaria dando pitacos vez que outra, mas àquela altura eu tinha uma reputação de credibilidade e seria covardia não expor a minha indignação com o Brasil desaforado e perigoso que saía do armário. Passei a escrever, mais do que de costume, sobre os valores em que acredito, criticando quem ameaçava abertamente a democracia. Não estava em defesa específica de ninguém e de nada que não fosse a civilidade. Fiz o que achei que devia e aqui, por ora, encerro essa etapa.

Até que me sinta novamente horrorizada, não pretendo insistir neste assunto, mude o inquilino do Planalto ou não. Foi um processo doloroso e espero que tenhamos aprendido com ele. De minha parte, me sinto mais madura e mais íntegra como profissional. Arrisquei uma situação confortável para dar a cara à tapa - e me estapearam, mas não tanto quanto apanharam diversos outros colegas, a quem me solidarizo. Não foi fácil atravessar essa tormenta. Tentamos informar, conscientizar e combater fake news, mas não somos donos da verdade. A população é imensa e soberana.

É dela que virá o veredito.

Não virarei as costas para a política - a desinformação é uma arma letal que a gente aponta para nós mesmos - mas, daqui pra frente, voltarei a compartilhar reflexões sobre filmes, livros, dores, amores, descobertas, viagens, confidências. O universo entre quatro paredes, enquanto a vida corre lá fora. Sentimentos solares e o breu de cada um. As crônicas continuarão sendo um espelho do que sinto, vejo, temo e penso, mantendo a leveza da qual nunca me apartei. De resto, não são os eleitores que ganham ou perdem uma eleição, nem mesmo os candidatos. É o país. Sua história continuará sendo escrita. Que não venham páginas muito duras.

No próximo sábado (5), às 18h, autografarei Um Lugar Na Janela 3 na Feira do Livro de Porto Alegre, desta vez com direito a selfie e abraço, finalmente. Apareça.

MARTHA MEDEIROS

Seres humanos?


Para a frente é que se anda, diz o ditado. Pelo que a gente tem visto nos últimos tempos, só não se anda para a frente no que se refere aos humanos. 
Seres humanos, um tipo meio estranho de bicho, animais reprodutores de lixo, cantam Os The Darma Lóvers, banda de inspiração budista do eixo Porto Alegre-Três Coroas.

Nós somos seres estranhos. 

Quando um humano resolve que a cor da pele do outro é motivo para ofensa, foi-se a humanidade - se é que alguma vez ela existiu.

Sobra a vergonha. Que vergonha as cenas do Seu Jorge sendo xingado no clube que fez parte do crescimento de tantas crianças e de tantos atletas. O União era o pátio dos guris sem pátio, lugar em que os pais se sentiam seguros para deixar seus filhos, quando o meu era pequeno. Vergonha ver o clube na TV e nos jornais, as manchetes não deixando dúvida do que aconteceu ali.

Racismo. Podem dar qualquer desculpa, mas nenhum dos presentes imitaria o abjeto som de macacos se o cantor no palco fosse, por exemplo, o Fábio Jr. falando contra a redução da maioridade penal ao apresentar um jovem virtuose loiro de 15 anos. Também duvido que chamassem o Fábio Jr. de vagabundo e preguiçoso se ele fizesse alguma manifestação política - proibida por contrato, o que não justifica o racismo. Será que reparariam na roupa dele, se fosse o Fábio Jr.?

Nós somos seres intolerantes.

Quase ao mesmo tempo, revelou-se que uma aposentada e seu filho perseguiam e ofendiam o humorista negro Eddy Jr., vizinho dos dois em um condomínio de São Paulo. A vítima demorou a denunciar os agressores, convivendo com acusações e xingamentos racistas por muitos meses. No fim de semana, um menino preto de 10 anos, goleiro do seu time, sofria ofensas racistas por parte da torcida cada vez que fazia uma defesa. O caso é de Belo Horizonte, mas com certeza também aconteceu em um campinho perto de você. No estádio do seu time, no Brasil e no mundo inteiro. A repórter negra da televisão abriu a matéria assim: o que esse menino passou é o que eu e as pessoas pretas passamos todos os dias.

Nós somos seres cruéis.

Ninguém esqueceu do racismo sofrido pelo ex-árbitro Márcio Chagas em Bento Gonçalves, um dos episódios mais vergonhosos e criminosos da história do futebol. Em uma entrevista, Márcio falou sobre a preocupação do pai dele cada vez que os filhos saíam de casa: "Penso que a única preocupação dos pais de uma criança branca é se ela vai estudar ou não, se vai bem nos estudos ou não. Os pais pretos pensam em como ela vai sobreviver a determinadas situações. Lembro até hoje do meu pai, sempre que eu e meus irmãos saíamos, repetindo como se fosse um mantra: saiam bem arrumados, levem documentos, não corram na rua, se forem abordado pela polícia é ?sim, senhor?, ?não, senhor? e mais nada, porque eu quero que vocês voltem para casa".

Nós somos seres violentos.

A sociedade que não respeita as pessoas pretas no dia a dia também não tolera as pessoas pretas que se destacam. Só ver as ofensas dirigidas a Vinicius Júnior, Maju Coutinho, Titi Gagliasso, Beyoncé, a lista daria para encher páginas e páginas. Sobre outro caso escandaloso do final de semana passado, os policiais federais recebidos a tiros e granadas pelo ex-deputado e mentor de padre falso Roberto Jefferson, o país se perguntou: o que aconteceria se a polícia fosse recebida a tiros de fuzil por moradores pretos da favela? O país respondeu, sem nenhuma dúvida: mortes, mortes e mais mortes.

Se pareceu, ninguém aqui quer Bob Jeff morto, só preso mesmo.

Nós somos seres seletivos em nossa desumanidade, reservando nosso pior para os que julgamos diferentes. Nos chamam seres humanos. Mas isso nem sempre somos. Uma votação de paz e tranquilidade para você no domingo. Que seja um voto com esperança, alegria e humanidade.

CLAUDIA TAJES