sábado, 9 de dezembro de 2023


09 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

SEGURANÇA MUNICIPAL E PREVENÇÃO

Na antevéspera de eleições municipais, os atuais administradores que pretendem continuar nos seus cargos e os novos candidatos deveriam incluir em seus planos de gestão o estudo divulgado em agosto pelo Tribunal de Contas do Estado sobre segurança pública, prevenção e combate à violência urbana no âmbito dos municípios. 

Trata-se não apenas de um levantamento das estruturas existentes e das políticas públicas em andamento - escassas e precárias em sua maioria -, mas também de uma desmistificação da ideia de que segurança é responsabilidade exclusiva do Estado e cabe unicamente às forças policiais. O diagnóstico denominado "Mapeamento da segurança pública municipal: estruturas e políticas" aponta carências, mas também oferece subsídios aos gestores para a adoção de medidas preventivas de baixo custo e fácil implementação.

O levantamento feito em 482 dos 497 municípios rio-grandenses (96,9%) demonstra a precariedade das estruturas administrativas: apenas 59 possuem conselhos municipais de segurança, somente 46 contam com secretarias de segurança pública e 34 possuem guardas municipais. Além disso, apenas oito realizaram diagnósticos próprios de segurança pública e só 14 informaram possuir política própria de segurança pública.

No aspecto preventivo, o estudo até identificou projetos importantes, mas isolados e sem avaliação de resultados: 116 municípios informaram desenvolver alguma iniciativa de prevenção à violência doméstica, 58 atuam na prevenção do bullying escolar, 82 desenvolvem políticas de igualdade racial, 19 têm projetos de justiça restaurativa, 26 têm programas de apoio a egressos do sistema prisional e 14 possuem alguma política de prevenção à violência contra a população LGBTQIA+.

Como muitos administradores municipais não desenvolvem políticas preventivas por desconhecimento ou pela falsa premissa de que o único antídoto para a violência é a repressão, o TCE sugere que o mapeamento seja utilizado como uma espécie de guia, de modo que possam replicar as iniciativas exitosas de seus colegas e criar outras no âmbito local. Como sugere o coordenador técnico do estudo, o jornalista e sociólogo Marcos Rolim, combater a evasão escolar e manter as crianças por mais tempo na escola já se constituem em políticas públicas preventivas, com reflexos significativos na segurança.

Ainda que não disponham de recursos para grandes investimentos em segurança pública, como a instalação de equipamentos de vigilância ou a formação de contingentes mais numerosos de guardas municipais, os prefeitos têm maior possibilidade de identificar questões comunitárias com potencial para gerar violência. Até mesmo um simples trabalho de assistência social e orientação às famílias sobre educação na primeira infância pode ser decisivo para evitar que jovens reproduzam comportamentos agressivos no futuro.

Violência urbana e criminalidade, portanto, não são combatidas apenas com repressão, operações policiais e prisões. O estudo-sugestão do TCE revalida o consagrado e sábio ensinamento popular de que é sempre melhor prevenir do que remediar.

OPINIÃO DA RBS

09 DE DEZEMBRO DE 2023
DIÁRIOS DO PODER

O gaúcho que apresentou o Pampa a Lula O futuro é logo ali na COP28

A coluna deixou, na sexta-feira, a Blue Zone (Zona Azul), da COP28, onde ocorrem as negociações, e Mergulhou na Green Zone (Zona Verde), onde qualquer pessoa pode entrar.

É muito maior, muito mais divertida e com muito mais criatividade do que a área reservada aos debates sisudos sobre o futuro do planeta. Confira 10 destaques.

1) MINI-HELICÓPTERO - Minha imaginação voou com esse protótipo de um helicóptero que transporta uma pessoa. Na verdade, é um mini-helicóptero da FlyNow, que promete revolucionar a mobilidade urbana. Atinge até 50 quilômetros de autonomia e voa a 130 km/h.

2) HADDAD - A Polícia de Dubai, conhecida por sua abordagem de alta tecnologia, acaba de adicionar um novo membro a sua frota: o Haddad, um barco policial inteligente, apresentado no evento COP28. Sim, tem o mesmo sobrenome do ministro da Fazenda brasileiro. Aliás, Haddad é um sobrenome comum em árabe e significa ferreiro. A missão do barco é clara: contribuir para a iniciativa Força Policial Carbono Zero, que visa zerar as emissões até 2030.

3) ALTA TECNOLOGIA - Estão presentes várias startups, grandes empresas, como Microsoft, Siemens e IBM, que apresentam seus programas de energia e iniciativas para uma economia sem carbono.

4) NOVA GERAÇÃO - Acompanhados da professora de Física Daniela Camargo Fernandes, os estudantes Beatriz Peres Vasconcelos, 13 anos, e Otávio Pierre, 14, representam o Colégio Magno, de São Paulo, na COP28. Na escola, eles eliminaram o plástico, os alunos contribuem no processo de reciclagem de fraldas, transformando-as em matéria-prima que produz canetas, e ainda fabricam, na escola, sabonete vegetal a partir do grão de painço.

- Um jovem não consegue fazer parte do sistema de placas solares, mas nossa escola também tem como objetivo introduzir práticas sustentáveis no mundo dos jovens - explica Beatriz.

5) ONIPRESENTE - Está muito presente o poder chinês no Oriente Médio. O pavilhão do gigante oriental é um dos maiores, destacando tecnologia e tradição. Sem dúvida, é um dos novos atores geopolíticos com influência na região.

6) PODER SUAVE - Falando em soft power (o poder suave), a Arábia Saudita se destaca como potência regional. Seu estande ocupa um prédio inteiro, que exige identificação no ingresso e esbanja tecnologia no interior: uma viagem aos primórdios da Península Arábica em vídeos projetados em paredes. A despeito do sisudo reino, é possível uma brincadeira na entrada: fugir das cascatas que correm de uma pequena cachoeira.

7) PRIMEIROS SOCORROS - A fim de tornar a experiência muito mais real, nos momentos decisivos de um salvamento, as forças de segurança dos Emirados Árabes Unidos estão desenvolvendo um software de realidade virtual que substitui um boneco ou um ser humano na hora de exercitar primeiros socorros.

8) AOS SAUDOSISTAS - Quem pensa que veículos elétricos devem ter visual arrojado ou serem parecidos com carros com design espacial, a empresa Charge decidiu transformar modelos Mustang 1967 em protótipos completamente elétricos.

9) FAZENDAS DE PLACAS SOLARES - As placas solares são parte do processo de transição energética. Uma realidade em grande escala na COP28. Masdar City, a cidade do futuro, é abastecida com uma farm (fazenda) de 88 mil painéis solares. No pavilhão de energia, é possível ver como grandes prédios podem acomodar as placas de forma a receber energia e, ao mesmo tempo, terem períodos de sombra na cobertura.

10) CRIMES CIBERNÉTICOS - Toda essa tecnologia, é claro, teria um risco: os Emirados Árabes Unidos estão preocupados com os ataques cibernéticos. Por isso, exibem na COP28 um grande esquema de segurança digital, capaz de mapear tentativas de ataques em tempo real.

Coube a um gaúcho de Júlio de Castilhos, no Planalto Médio do Rio Grande do Sul, apresentar ao presidente Lula o Pampa como um bioma.

Você deve lembrar: no último dia 2, o presidente disse, durante a COP28, em Dubai, que "descobriu até que o Pampa é um bioma". Pois foi Rodrigo Dutra, 45 anos, zootecnista e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há 20 anos, quem o avisou.

Começou assim: antes de embarcar para Dubai, o presidente pediu à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que convocasse os representantes dos seis biomas brasileiros para uma conversa. Pelo bioma gaúcho, o representante seria da Coalizão pelo Pampa, conjunto de 22 organizações da sociedade civil que se uniram para a defesa do território.

Rodrigo estava em Brasília e foi destacado para a reunião no Planalto. Durante o encontro, ele explicou sobre a importância do bioma, que é basicamente campestre, apontou que o Pampa tem uma biodiversidade tão rica como a das florestas e alertou que a área está sendo substituída pela agricultura, com destruição dos campos para plantio de soja e eucalipto.

- Estima-se (a destruição) em mais de 100 mil hectares por ano, isso é um ritmo maior de supressão do que Amazônia e Cerrado. É o bioma que está perdendo mais vegetação nativa do Brasil hoje. Ao mesmo tempo, é o que tem menos unidades de conservação - destacou.

O alerta chamou a atenção de Lula e Marina. Ao final da reunião, o presidente admitiu não saber que o Pampa era um bioma. Marina, segundo Rodrigo, afirmou tê-lo avisado várias vezes. - Mas ele esqueceu - teria dito a ministra.

Rodrigo, na oportunidade que teve, frente a frente com o presidente, salientou a importância de apoiar as atividades sustentáveis no Pampa, como a pecuária.

- Frisei ao presidente que o Pampa sequestra carbono. Não é só floresta: nossos campos naturais sequestram carbono, mas o depositam nas suas raízes e no solo. Nossa floresta de carbono está embaixo do solo. À medida que vai se perdendo o Pampa, vamos emitindo CO2 para a atmosfera - advertiu, e acrescentou: - Vivemos um paradoxo, o Pampa, onde a pecuária é sustentável, é destruído para plantio de árvores (eucalipto), enquanto, na Amazônia, se destrói a floresta para colocar bois.

A reunião com Lula foi em 22 de novembro. Sobre a polêmica levantada em razão da fala do presidente, Rodrigo afirma:

- Não achei ruim ele dizer que não sabia, pois o Pampa é pouco conhecido e esquecido pelos brasileiros, e até pelos gaúchos. Achei importante o presidente citar o bioma na COP e que isso se transforme em futuras ações pela sua proteção.

RODRIGO LOPES

Mais idosos na informalidade no RS

Envelhecimento da população, renda insuficiente e reforma da Previdência estão entre os motivos, avaliam especialistas

Após anos atuando no serviço público, a aposentada Mari Ângela de Melo Martins, 64 anos, trabalha de seis a oito horas por dia como motorista de aplicativo em Porto Alegre. Essa é a maneira informal que ela achou para bancar os gastos além do essencial. Com os descontos na aposentadoria, hoje, só sobra praticamente o valor para pagar a parcela do financiamento veicular. Dessa forma, sem a atividade, a idosa teria dificuldades até para bancar o básico.

Mari Ângela é uma das 289 mil pessoas com 60 anos ou mais ocupadas em situação de informalidade no Rio Grande do Sul. De 2016 para cá, o número de idosos informais cresceu 15,6% no Estado e atingiu o maior patamar em números absolutos, olhando dados fechados do terceiro trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os grupos de idades pesquisados, esse é o que apresentou o maior salto no período. Crescimento da população idosa, mudanças na Previdência e necessidade de complementar renda diante de aposentadoria baixa ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que um dos fatores que explicam o avanço na quantidade de idosos no trabalho informal é a questão demográfica. Nos últimos anos, o Estado apresentou um avanço no número de pessoas nesse grupo de idade.

Dados recentes vão na linha da análise do pesquisador. O Censo demográfico 2022 apontou que a tendência de envelhecimento da população gaúcha segue acelerada. O Rio Grande do Sul tinha 2,19 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2022 - o que representa 20,15% da população. No censo de 2010, eram 1,46 milhão (13,65% do total). O dado mostra que o total de idosos no Estado aumentou 50,27% entre os dois levantamentos. Rodrigues cita que as características do mercado de trabalho também influenciam nesse cenário:

- Essas duas faixas, a que está ingressando e a que está saindo do mercado de trabalho, são as que costumam ter mais dificuldade de inserção. Tanto é que quando a gente vê aquela questão dos desalentados, alguns dos grupos que compõem são aqueles que acham que são muito novos ou muito velhos para conseguir trabalho.

No país, o avanço na população com 60 anos ou mais ocupada em situação de informalidade avança ainda mais, crescendo 38,07% entre 2016 e 2023.

Pode ser que muitas dessas pessoas com 60 anos ou mais já estejam aposentadas, mas precisam complementar a renda, que é insuficiente para conseguir sobreviver. Porque essa renda deve oscilar entre um e no máximo dois salários mínimos.

Marilane Oliveira Teixeira - Professora e pesquisadora da Unicamp

ANDERSON AIRES 

09 DE DEZEMBRO DE 2023
POLÍTICA +

Lula tem obrigação de conter ameaça de Maduro à Guiana

Com um amigo como Nicolás Maduro, o presidente Lula não precisa de inimigos na América do Sul. Como deu corda ao sucessor de Hugo Chávez e chegou ao absurdo de dizer que a Venezuela é uma democracia, Lula terá agora de embalar a criatura que resolveu anexar mais da metade do território da vizinha Guiana, uma região rica em petróleo e outros minerais.

Lula não pode nem usar a desculpa usada em outras ocasiões para não condenar os arroubos ditatoriais de Maduro, de que respeita a autonomia dos povos. O presidente brasileiro mesmo criou o precedente ao se meter numa guerra mais distante, a da Ucrânia, em que passou vergonha diante da comunidade internacional ao tentar equiparar as culpas em um conflito desigual. A Ucrânia foi invadida pela Rússia que, quase dois anos depois, segue matando inocentes (não é só em Gaza que morrem civis). A sugestão de Lula foi que cada um cedesse um pouco, o que significaria a rendição da Ucrânia diante do invasor.

No caso da ameaça de anexação de parte da Guiana, depois de um referendo com claros sinais de manipulação, Lula sugere que "as duas partes sentem para conversar". O presidente brasileiro tem é que sentar com Maduro e dizer a seu protegido que pare de brincar de War na América do Sul.

Sentindo que vai perder a eleição, porque a crise econômica aduba o terreno para a oposição, Maduro repete a fórmula que deu errado com o general Leopoldo Galtieri na Argentina, em 1982. Vendo que a ditadura caminhava para os estertores, Galtieri bradou "Las Malvinas son argentinas" e entrou em guerra com a Grã-Bretanha. Levou uma surra, a Argentina perdeu centenas de soldados, a ditadura ruiu, Galtieri foi condenado e passou parte dos seus últimos anos na prisão.

ROSANE DE OLIVEIRA COM BRUNO PANCOT | BRUNO.PANCOT@ZEROHORA.COM.BR

09 DE DEZEMBRO DE 2023
MARCELO RECH

Ditaduras fazem mal à saúde

Coincidência não é. Todas as crises de alcance global das últimas décadas com potencial de estremecer o planeta têm origem em ditaduras. A mais recente, a assombração chavista sobre a indefesa Guiana, é um caso exemplar dos caminhos tortuosos que regimes autocráticos percorrem para se manter no poder.

A Venezuela de Nicolás Maduro segue à risca o manual dos déspotas. Identifica um tema histórico que acenda o nacionalismo, inventa inimigos externos e manipula o fervor popular em apoio ao ditador. O chavismo repete tardiamente a receita da junta militar argentina, que há 41 anos galvanizou os argentinos com sua aventura nas Malvinas. Inebriada, a junta não supunha que os ingleses despachariam uma frota para o Atlântico Sul e que a cúpula do regime seria humilhada, derrubada, julgada, condenada e presa.

Nos anos 1990, foi o ditador Saddam Hussein que urdiu a falácia de que o Kuwait era um Estado iraquiano e invadiu o vizinho assentado sobre uma piscina de petróleo. Saddam acabou na ponta de uma corda em cima de um alçapão, mas a crise de então até hoje faz espocar guerras e atentados na região. Em outro bulliyng em estado bruto de uma ditadura sobre o vizinho mais fraco, a Rússia de Putin arquitetou uma interpretação para lá de criativa sobre a Ucrânia, meteu a Europa numa guerra e provocou milhões de refugiados e dezenas de milhares de mortos, além de isolar o próprio povo russo.

Mais ditaduras contratando crises? O regime teocrático do Irã e os terroristas que sustenta o Hamas fizeram desencadear um massacre medonho e uma nova e terrível guerra no Oriente Médio, que sustou os acordos de paz entre Israel e vizinhos. Para janeiro de 2024, há mais um abalo mundial à vista. Se, como tudo indica, o vice-presidente de Taiwan, William Lai, a favor de maior independência em relação à China, vencer as eleições, Pequim reforçará a possibilidade de invasão e domínio da ilha que produz a maior parte dos chips de alta sofisticação, usados, por exemplo, para inteligência artificial.

Ditaduras, como se vê, fazem mal à saúde do planeta. Não foram democracias que invadiram a Polônia em 1939 ou atacaram Pearl Harbor em 1941. Nos dois casos, as ditaduras alemã e japonesa despertaram a ira de aliados poderosos. Por isso, o melhor jeito de impedir ditaduras de se prevalecerem sobre os mais fracos não é passar a mão na cabeça delas, como Lula tem feito. Para o bem da humanidade, o ideal é estimular a substituição das autocracias por governos democráticos. Ou, como fazem EUA e Europa, dissuadir os belicosos pela ameaça das armas, a única e definitiva linguagem que ditaduras parecem entender.

MARCELO RECH

09 DE DEZEMBRO DE 2023
CHAMOU ATENÇÃO

Ondulações serão corrigidas

Dez anos depois da sua inauguração, a Rodovia do Parque terá um problema de origem corrigido. As ondulações identificadas em pontos da estrada serão atacados pela CCR ViaSul. O serviço começará a ser realizado a partir da primeira quinzena de janeiro.

Pela previsão inicial, os trabalhos serão realizados em até quatro meses, mas a ideia é buscar antecipar esse prazo para encaixar as intervenções dentro do período de férias, quando o movimento na BR-448 diminui.

Após um ano e meio de estudos, a concessionária que administra a rodovia identificou o que precisará ser feito. Será usado um tipo de brita sobre o asfalto e depois duas camadas de novo pavimento - com 14 centímetros de altura - para corrigir os adensamentos que a pista sofreu desde a construção.

Bloqueios

Quatro trechos da Rodovia do Parque foram identificados como os problemáticos, dentro dos quilômetros 3, 5, 9 e 11. Quando a correção for realizada, apenas uma faixa de tráfego estará liberada para uso, o que deverá causar lentidão. Os trechos serão atacados de forma separada, a fim de não impactar tanto o deslocamento.

Os bloqueios vão durar 24 horas por dia, o que necessitará o reforço da sinalização. O cronograma mais detalhado será divulgado em breve. Serão investidos R$ 7 milhões nas intervenções. Os serviços não fazem parte do contrato.

- A obra em si não é prevista em contrato. Mas será executada porque é uma preocupação da CCR, de dar mais conforto e segurança para o usuário - destaca o coordenador de engenharia da CCR ViaSul, Diego Guedes Madeira.

Os afundamentos surgiram desde a inauguração da BR-448, em 20 de dezembro de 2013, e ocorreram porque os aterros não tiveram o tempo suficiente de adensamento característico em banhados.

JOCIMAR FARINA

sábado, 2 de dezembro de 2023


02 DE DEZEMBRO DE 2023
CRISTINA BONORINO

A ÚLTIMA

Algumas coisas a gente enxerga melhor com a distância. Filmes, livros e documentários sobre a Segunda Guerra, por exemplo, mostram aspectos que certamente na época não eram reconhecidos claramente. Foi um momento de traumas profundos, pessoais ou mesmo nacionais. As decisões e posturas de líderes políticos, muitos deles pensadores importantes do seu tempo, basearam-se em convicções filosóficas e culturais diametralmente opostas, afetaram decisivamente os destinos de nações inteiras, gerando pela primeira vez políticas mundiais.

E esse talvez tenha sido o legado daquela geração. O interessante é que os acontecimentos daquela era geraram também toda a obsessão tecnológica que será, com certeza, o legado da era atual. Somos uma geração pautada pelo avanço científico constante. E os dilemas e desafios serão também tecnológicos. Mudança climática, poluição, energia, inteligência artificial - tudo, como observado recentemente num artigo do Financial Times (FT), revolve ao redor da ciência. Que sugere, portanto, que esta precisa ser a última geração de políticos ignorantes em ciência.

Acho fundamental essa conclusão. Todos nós, hoje, vivemos nossas vidas em função da tecnologia. Absolutamente tudo o que fazemos envolve uma série de recursos tecnológicos que evoluem rapidamente - às vezes, diariamente. Não poderemos mais ser liderados por pessoas que não entendem como funciona o pensamento científico. E isso vai além dos líderes de primeiro escalão. Não poderemos ter servidores públicos que não entendam a ciência empregada na própria área em que trabalham.

Na pandemia, isso ficou muito claro: líderes cientificamente ignorantes, ou com assessores ignorantes em ciência, responderam de maneira extremamente ineficiente ao desafio que se apresentou. Aquela era uma emergência de saúde pública, cuja solução dependia de conhecimento científico e produção de tecnologia. A solução tecnológica que foi encontrada parece hoje muito simples. Mas a principal dificuldade de articular isso foi, certamente, o gigantesco abismo existente entre o trabalho de cientistas e a compreensão destes, pelo publico e por governantes.

Precisamos ter políticas públicas que garantam a formação científica em todos os níveis escolares e do governo. Ciência não é uma coleção de fatos - mas algo em constante modificação, baseada em dados, com desapego a ideias que não se comprovam. Esse treinamento - entender como algo funciona e saber como reproduzir isso para resolver um problema - é útil para a vida. Como o é saber diferenciar cientistas que valem a pena ser ouvidos daqueles que usam técnicas de charlatanismo para convencer os mais incautos. O percentual de servidores hoje com formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática), segundo o FT, era 1% em 2018. Precisamos de ao menos 50% de servidores e administradores com isso. Que sejam treinados em análise e interpretação de dados ou ao menos saibam a quem recorrer para terceirizar isso.

CRISTINA BONORINO

02 DE DEZEMBRO DE 2023
FRANCISCO MARSHALL

BACO E LORENZO APÓS A PESTE

A grande peste do século XIV promoveu duas mudanças sociais decisivas rumo à aurora da modernidade, no Renascimento dos séculos XV e XVI. Por um lado, o desencanto com os poderes divinos, que falharam na oferta de cura e salvação; cerca de metade da população da Europa morreu entre 1345 e 1354, e entre os que sobreviveram cresceu um sentimento de amor à vida, inclinado a comportamentos emancipados, eventualmente céticos e mesmo pagãos.

Disso dão testemunho os poemas de Francesco Petrarca (1304-1374) e a prosa picaresca de Giovanni Boccaccio (1313-1375), no caminho de uma nova moralidade, que incluiu sexualidade menos reprimida e bastante curiosidade mística. A segunda grande consequência da peste foi o processo de reconstrução econômica, no qual despontou o ramo bancário, negócio do bisavô de Lorenzo, Giovanni de Medici (1360-1429), que se tornou um dos homens mais ricos do planeta. 

Giovanni educou seu filho Cosimo (1389-1464) para viver com relativa simplicidade e atuar em favor da comunidade, com filantropia humanista. Deste modo, em que pesem as contradições inerentes à concentração de riqueza, deu-se a conjunção fecunda entre fortaleza econômica e motivação ética e cultural, com a qual floresceu a cidade que já tem flor no nome, Firenze, e se renovou a humanidade.

Lorenzo de Medici (1449-1492) foi herdeiro não apenas do banco e demais negócios, e do prestígio político local e internacional, mas também de valores arte-humanísticos máximos, estimulados por seu avô Cosimo e cimentados com os conhecimentos e atitudes de seu tutor, Marsilio Ficino (1433-1499), um dos mais importantes intelectuais dos últimos séculos. 

Com a liderança de Ficino, os Medici ofereceram a jovens artistas em Firenze o alimento cultural, a confiança e as motivações para produzirem obras-primas que até hoje nos encantam. A leitura de Platão era tema predileto, sobretudo suas teses sobre o amor, apresentadas no diálogo O Banquete, em um contexto de redescoberta de obras fundamentais, de novas tecnologias do livro e de crescente entusiasmo pelo poder transformador da imagem, da leitura e da cultura clássica. 

Na biblioteca que então se formou, despontavam obras dos filósofos Aristóteles, Epicuro e Plotino, do arquiteto urbanista Vitrúvio, de Plínio o Velho e sua História Natural, de poetas gregos, como Homero, Safo e Píndaro, e latinos, como Horácio e Ovídio, e, especialmente, do poeta estoico latino Tito Lucrécio Caro, autor do célebre De Rerum Natura, cuja descoberta por Poggio Bracciolini (1380-1459), em 1417, bem apresentada por Stephen Greenblatt em A Virada (2011), decidiu o destino da modernidade.

Entre os feitos culturais de Lorenzo, esteve a promoção do culto de Baco em Firenze, inclusive com festas populares pelas ruas da cidade, regadas a bom vinho, ocasião em que criou os carros alegóricos, que hoje dão movimento à principal festa brasileira. Escreveu também muitos poemas carnavalescos (Canti Carnascialeschi), sendo o principal a Canção de Baco, uma ode embalada pelo estribilho epícureo "quem quiser ser feliz, que seja/ do amanhã não há certeza".

FRANCISCO MARSHALL

02 DE DEZEMBRO DE 2023
MONJA COEN

O DESPERTAR

Neste sábado, 2 de dezembro, no mundo todo, em mosteiros, templos e centros de prática Zen, há pessoas sentadas em meditação, honrando a memória do Buda histórico.

Foi durante sete dias e sete noites de meditação silenciosa, sentado nas raízes de uma grande figueira indiana, há 2,6 mil anos, que o príncipe andarilho despertou: tornou-se o Buda.

Nesses dias e noites, foi tentado por tudo que pode dividir, perturbar e afastar os seres humanos da verdade e do caminho. As primeiras provocações foram sobre sua família, seu reino. Sidharta Gautama havia abandonado o palácio, o trono de príncipe sucessor, sua esposa, seu filho recém nascido.

Abandonou o que é difícil de abandonar. Tinha questões existenciais e espirituais que não o deixavam sossegar. Precisava entender nascimento, velhice, doença e morte. Por que nascemos? O que significa a vida? O que é a morte? Qual o sentido da existência? Qual o papel das várias deidades hinduístas?

Por isso fugira do conforto palaciano. Precisava encontrar respostas a tantas perguntas.

Permaneceu seis anos com mestres do Yoga. Em seguida, praticou as grandes restrições físicas: sem beber, sem comer, sem dormir. Ficou muito magro e fraco. Certo dia, foi se levantar e caiu. Então, decidiu sentar-se sob uma grande árvore e meditar. Foi quando surgiu uma pastora que se apiedou do jovem magérrimo e ofereceu arroz doce. Durante vários dias ela o veio visitar e o fortaleceu com alimentos.

Revigorado, se banhou no rio e se sentou em Zazen, em meditação silenciosa, determinado a não se levantar até que houvesse compreendido a verdade.

Foi quando surgiram várias provocações para afastá-lo de seu propósito. A primeira foi a vontade de voltar ao reino, reencontrar familiares, amigos, esposa, filho. Mas ele logo afastou esses pensamentos. Só voltaria depois de entender o que é difícil de ser entendido.

Surgiram imagens de mulheres lindas dançando à sua frente. Era outra provocação. Sexo, alimentos, almofadas confortáveis, escravos abanando e afastando insetos, bebidas, festas, danças, amigos. Entretanto, o nosso jovem se manteve silencioso, firme e forte, respirando conscientemente, e essas imagens desapareceram.

Em seguida, a terceira provocação foi a de sentimentos prejudiciais como raiva, medo, angústia, tristeza. Mas ele permaneceu inabalável.

Finalmente, o chefe das dificuldades, das divisões, das dualidades, o grande diabo, surgiu e o provocou: "Você é o Buda dos budas. O mais iluminado, o grande ser desperto, o superior de todos os humanos".

O jovem colocou a ponta de seus dedos da mão direita sobre a terra, levantou a mão esquerda e mostrou a palma para o intruso, dizendo: "A Terra é minha testemunha". Nesse instante, o diabo desapareceu. Era o amanhecer do oitavo dia. O jovem olhou para o céu, viu a estrela da manhã e exclamou: "Eu e a grande terra e todos os seres, juntos, simultaneamente, nos tornamos o caminho".

Nada o separava do todo. Percebia-se interligado a tudo e a todos, sem orgulho, sem ambição. Era o despertar de um sábio. E assim foi chamado de Buda, ser desperto.

Na semana de 1º a 8 de dezembro, celebramos essa experiência mística, sentando-nos em zazen, meditação silenciosa durante sete dias e sete noites. Passamos por semelhantes provocações da mente e, se nos mantivermos firmes e fortes, inabaláveis em nossa proposta de apenas sentar, permitiremos que todas as oscilações cessem e seremos capazes de adentrar o grande Uno. Tudo que é, foi e será é a natureza Buda se manifestando em incessante fluir. Desperte!

Mãos em prece

MONJA COEN

02 DE DEZEMBRO DE 2023
ARTIGO

UM JEITO DE SER FLOR

SOBRE PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS E IMPERFEIÇÕES DO CORPO HUMANO

Atribui-se a Fernando Pessoa a citação "o valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem: por isso existem momentos inesquecíveis, fatos inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Na vida cotidiana, todos vivenciamos, em maior ou menor grau, algum destes eventos. Todos temos histórias especiais para contar. Entretanto, há aqueles tornados famosos justamente pela intensidade de suas vivências, além de seu caráter perene. Quando tais vivências trazem em si imperfeições do corpo humano, o significado transborda.

No filme Extraordinário (2017), um garotinho nascido com uma discrepância física na face passa por muitas intervenções cirúrgicas para uma composição mais harmoniosa. O desafio da criança é, com seu rosto cicatrizado, enfrentar a escola, lugar onde nunca esteve. Lá vai aprender, fazer amigos, ganhar e perder, desenvolver autonomia, interagir com diferentes pessoas - tudo aquilo que é treino para a vida. Ao final (spoiler!), é agraciado com uma espécie de láurea - não acadêmica, mas de virtudes. Recebe o prêmio por ter sido capaz de fazer aflorar nos outros o melhor que cada um traz em si, a despeito de (ou talvez, por isso mesmo) sua escancarada "deficiência".

Se há adjetivo que se serve de toda sua semântica para definir algo ou alguém é a palavra intensa, quando se fala de Frida Kahlo. A pintora de uma perna mais fina que a outra, sequela da poliomielite na criança, sofreu um trágico acidente durante um passeio de bonde pela Cidade do México. Incontáveis cirurgias sucederam-se, meses consecutivos acamada, uma readequação definitiva de planos. 

A dor, física e emocional, fez-se companhia inseparável dali em diante, ajudando a moldar tanto sua vida quanto sua arte. Frida não se escondia de sua dor: pincelava autorretratos com suas muletas e coletes ortopédicos desconfortáveis usando os matizes mais coloridos e vibrantes de que dispunha. Com a mesma eloquência de suas telas cuidava de suas vestes e adornos. Trazia cor às saias rodadas e flores nos cabelos, destacando o que, em seu corpo ora fragilizado, ainda podia ser perfeito.

Stephen Hawking, contra todas as expectativas e probabilidades, desdenhou a ciência do cosmos, pela qual trabalhou para decifrar. Ironizou de forma delicada e, por vezes, atrevida, as previsões de sobrevivência de sua doença. Em vez de um sentenciado à incapacidade permanente de falar, vestir-se e alimentar-se sozinho, escreveu seu nome no rol dos físicos brilhantes.

A escritora e ativista social Helen Keller perdeu visão e audição com menos de dois anos de idade, o que não a impediu de construir uma carreira notável em defesa do voto feminino, direitos dos trabalhadores e de pessoas com deficiência. Viajou a 35 países palestrando sobre suas ideias. Primeira mulher cega e surda a graduar-se no Ensino Superior, dizia que não se devia engatinhar se o impulso era voar.

Ludwig van Beethoven, gênio musical, dono de um ouvido absoluto, parou de escutar com cerca de 27 anos. Contudo, dado seu grande talento e persistência, seguiu compondo sinfonias magníficas até próximo de sua morte.

Segundo o dicionário, o termo ordinário conceitua-se por "comum, conforme ao costume, que se repete regularmente ou se faz presente a todo instante". O extra, portanto, lhe confere mais, lhe define como além. O anômalo condiciona o inusitado, comporta o singular e, por isso mesmo, transforma em original. Não deixa de ser deboche que a própria imperfeição construa o caminho para o raro, o especial.

Quiçá tivesse mesmo de ser assim: para ser destaque, há de ser intenso, diferente. Para gerar aprendizado, precisa ser marcante. Como as flores que, usando de sua beleza (e não é também uma excentricidade?), atraem os insetos que então, de beijo em beijo, disseminam o pólen contribuindo de forma decisiva para sua perpetuação. A beleza da flor, da mesma forma que uma imperfeição do corpo humano, desafia. Provoca. Encara. Coloca-se em entrega, aberta, explícita, e solicita o mesmo de quem lhe olha. E o que era desigual e inconforme acaba por fazer criar. Cria vida.


02 DE DEZEMBRO DE 2023
J.J. CAMARGO

VOCÊ ACREDITA EM QUÊ?

"Um homem com convicção pode superar uma centena que tem apenas opiniões." (Winston Churchill)

A definição de objetivos é essencial para qualquer conquista, profissional ou pessoal. Isso faz da convicção um elemento definitivo na nossa trajetória, porque ela é fundamental no alinhamento de ideias, no resgate da confiança, no recrutamento de parceiros para uma causa comum e na manutenção do entusiasmo.

Além de valiosa, essa virtude é, por definição, completamente transparente, mantendo-se inalcançável pela mentira ou dissimulação. Os incautos que se aventuram em tarefas para os quais não têm a menor vocação deveriam ser alertados de que, logo adiante, serão fatalmente desmascarados pela exposição pública, implacável como ela só.

Por outro lado, a busca do que se planeja com convicção gera uma energia que resiste ao desânimo do acomodado, ao desencanto dos que sempre acham que não valerá à pena e à pobreza espiritual dos invejosos.

Para a obtenção do sucesso, em qualquer área profissional, uma dose básica de ambição é indispensável para dar a partida. Depois, a convicção fará o resto.

Vista com isenção, é ingênua a tentativa de vender modelos que contribuam para a felicidade geral, apesar da insistência com que ela é usada como base da literatura de autoajuda. Por mais que seja bem-intencionada, ela foi concebida a partir de um equívoco conceitual: modelos estereotipados de conduta sempre entram em choque quando se atina para o quanto somos diferentes. A propósito, festejemos a diversidade, que nos protege da rotina tediosa que afugenta a criatividade que anima e a surpresa que energiza.

O mesmo cuidado deve ter o professor quando, seduzido pela comodidade, se vê tentado a oferecer lições pré-moldadas e repetidas à exaustão. Essa atitude consagra a inépcia, em que os envolvidos não se chateiam de entregar o prato pronto sem qualquer interesse pela individualidade do paladar.

O verdadeiro professor não desiste de alcançar a melhor estratégia pedagógica que, antes de tudo, estimule o sagrado direito que todos têm: o de pensar por conta própria.

A sociedade educada sob o prisma da autenticidade formará bons profissionais e ótimos políticos, forjados sob a inabalável certeza de que a imagem que se vende na campanha é definitiva. Da firmeza dessa atitude depende a conquista do respeito consagrador ou, na falta dela, o lacre da insignificância.

Imagine-se a maravilha que seria se não tivéssemos dúvida do que significa ter, por exemplo, maioria no Parlamento, eliminando a tristeza que toma conta do cidadão comum quando percebe que escolheu para representá-lo um tipo que não tem convicção. Essa frustração explica, em grande medida, porque um percentual expressivo da população não se lembra em quem votou para deputado.

O esquecimento parecerá mais digno do que assumir que apostamos no vazio.

J.J. CAMARGO

O sucesso da memória

Sucesso vem do exercício da memória. Quem tem memória vai longe na vida, conquista seu espaço, funda seu lugar no trabalho. Porque a maior parte dos nossos contatos é eventual, sem lastro, sem herança. Não exploramos os laços. Não investimos o nosso tempo para fixar amizades.

Conhecemos alguém e logo desconhecemos. Não questionamos seus valores para estabelecer afinidades. Nossa aproximação é funcional. Você tem um interesse, satisfaz e não aprofunda a curiosidade, não prolonga a conexão.

Somos atualmente cumpridores de tarefas. O interlocutor é um momento raso e superficial do nosso dia, jamais vira saudade ou posteridade. Uma vez atendidos, largamos de mão aquela existência.

Se estamos precisando de um apoio bancário, ligamos para uma agência, um gerente fornece as informações, salvamos seu número e somente voltamos a ele no próximo socorro. Não é assim?

Sem percebermos, nossa agenda no WhatsApp tornou-se um cemitério de anônimos, de quase conhecidos. Com quantos ali, entre centenas de nomes gravados no nosso telefone, estabelecemos uma conversa de verdade? Para realização pessoal, não basta sabermos somente o nome e o sobrenome daquele com quem estamos falando, também devemos guardar os nomes de seus familiares.

Posso cumprimentar o apresentador da Rádio Gaúcha Antonio (sem acento) Carlos Macedo, com o qual troco mensagens todas as manhãs, apenas perguntando como ele vai. É o básico. Ou posso ir além e cumprimentá-lo perguntando como está a dona Cristina, sua esposa, ou como estão seus filhos, Bibiana, Guilherme e Rafael.

Ao citar sua família, ele perceberá que eu me importo com ele. E realmente me importo. Ele me trata da mesma forma, preocupando-se com o bem-estar da minha esposa, Beatriz, ou dos meus filhos, Vicente e Mariana.

A questão é se dar o trabalho de fazer a lição de casa, entender quem é a pessoa, quais são seus afetos, qual a sua rede de prioridades.

Não deixar que seja um nome atalhado, digitado às pressas, uma ilha rodeada de neblina, que você não tem mais noção de onde encontrou, mais nenhuma referência para buscar com o espaçamento do convívio. É a confirmação na prática do famoso verso de Dante: "o amor move o sol e as mais altas estrelas". O amor familiar nos movimenta.

O meu sapateiro do bairro serve como exemplo. Ele se lembra de um por um de seus clientes e de exatamente o que cada um deixou para o conserto. Recorda o sapato e o que exigia de reparos. Dispensa os canhotos do recibo para localizar os pares nas estantes.

Chego à garagem de sua loja e ele já tem ciência do que fui buscar. Atento comigo e com quem eu amo, foi merecendo a minha confiança.

Antes que me esqueça, meu sapateiro é Ailton Braga, tem 66 anos, mas diz que está com 70, e seus filhos, já adultos, são Joyce e Guilherme. Intimidade é ir e voltar, ser conhecido e conhecer.

CARPINEJAR 


02 DE DEZEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

AS AMEAÇAS À VIDA

Não são só tiro de revólver e fuzil ou facada que podem nos levar à morte. Além de doenças, há outras ameaças, aparentemente inofensivas (ou tidas até como "positivas"), mas que de fato são um assassino furtivo, que pula a janela para nos matar enquanto dormimos. Sem ruído, aí está a "Lei do Veneno", aprovada no Senado e que facilita o uso de agrotóxicos proibidos até nos países em que foram desenvolvidos.

Ainda mais lamentável - o projeto de lei foi aprovado em forma simbólica, sem discussão, e uniu governistas e opositores.

O irônico e até brutal é que tudo foi decidido às vésperas da reunião de cúpula sobre as mudanças climáticas em Dubai, nos Emirados Árabes. O uso de agrotóxicos, como o terrível Paraquat, é tão pernicioso à saúde humana e ao planeta quanto a crise climática. O Paraquat é um poderoso herbicida, que extermina macegas e plantas daninhas, e nisto age bem. Mas ao espalhar-se pelo ar, atinge de forma negativa e perigosa também plantas ou árvores a preservar e, mais do que tudo, o próprio ser humano.

Assim, nos transforma em vítimas potenciais a cada minuto das nossas vidas. De agora em diante, o Ibama e o Ministério da Saúde (através da Anvisa) não mais analisarão os agrotóxicos para neles apontar eventuais perigos à saúde. A concessão de licença caberá apenas ao Ministério da Agricultura, em tramitação rápida.

Como informou este jornal, o senador gaúcho Luís Carlos Heinze qualificou de "inferno" a demora em conceder licenças por parte do Ibama e da Anvisa. Pergunto, porém: não seria mais sério e sensato exterminar a inútil burocracia que, para enviar os pedidos de licença de uma escrivaninha a outra, exige "pareceres" e carimbos?

Ou isto não é também um inferno?

O Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos em todo o mundo. Ser "campeão" nesse ramo, porém, não é nenhum galardão. Ao contrário, mostra nosso desdém pela produção de alimentos saudáveis e, mais ainda, o desinteresse pela proteção da vida no planeta.

Ameaçadoras também são (ou foram) as chuvas que desabaram sobre o sul do Brasil nos últimos tempos. Piores do que os alagamentos nas cidades, foram os danos à agricultura. Calcula-se que, tão só aqui no Estado, as chuvas afetaram perto de 70% da produção de mel, dizimando abelhas, que, além de produtoras, são polinizadoras imprescindíveis.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

02 DE DEZEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

FUSÃO IMPEDIDA NO MUNDO DO CRIME

O combate às facções criminosas é possivelmente o mais complexo desafio da segurança pública na atualidade. Impressiona a rápida reorganização destes grupos, a despeito das frequentes operações com numerosas prisões, apreensões e sequestros de capitais e bens. A própria necessidade de as forças policiais constantemente terem de deflagrar novas ofensivas contra os mesmos bandos parece ser um indício dessa capacidade. A constatação apenas reforça a importância de manter a pressão sobre seus líderes e braços que atuam em atividades auxiliares, como a lavagem de dinheiro.

Neste contexto, é obrigatório elevar os esforços para cada vez mais fechar o cerco sobre as facções. Enfraquecendo-as ou impedindo que se fortaleçam. Foi o que fez o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil gaúcha ao lançar na quinta-feira mais uma operação de grandes proporções contra dois grupos da Capital. As apurações descobriram que planejavam uma fusão. 

Até um estatuto já existiria. Se o movimento se concretizasse, certamente o novo conglomerado ganharia mais musculatura para expandir a atuação, aumentar o arsenal de armas, seguir praticando crimes com mais ousadia e enfrentar quadrilhas rivais. É um cenário que possivelmente se traduziria em novas ondas de violência e de assassinatos.

Os números da operação do Denarc dão a dimensão do poderio e da extensão dos grupos. Foram cerca de 500 ordens judiciais expedidas. Apenas de prisão foram 86, além das demais, para busca, apreensão e sequestro de recursos e bens. Mais de 700 agentes do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e Mato Grosso do Sul foram mobilizados para desferir esse novo golpe no crime organizado. De acordo com o delegado Gabriel Borges, da 3ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico, toda a cadeia hierárquica das facções foi alcançada pela operação.

A investigação, iniciada há um ano e meio, mostrou ainda que os dois grupos eram os maiores fornecedores de armas para criminosos na Capital. Tinham também conexões com associações criminosas baseadas em outros Estados. O contrabando de armamento e munições vem ganhando peso nos negócios das facções, além do tráfico de drogas. Ao longo do ano, foram várias apreensões de arsenais numerosos, em especial em propriedades rurais de municípios próximos da Capital. É basilar evitar que os criminosos aumentem o seu poder de fogo. As armas, afinal, são os instrumentos que os tornam mais audaciosos nos assaltos, nos conflitos entre rivais e no próprio enfrentamento às forças policias.

É indispensável manter o processo de asfixia contra as facções, capturando líderes, fazendo apreensões, bloqueando recursos e desmantelando negócios de fachada usados para lavagem de dinheiros, para sufocar essas organizações por meio da descapitalização. O trabalho de inteligência ganha um papel ainda mais central nessa ofensiva. É um esforço que, ao fim, se reflete nos índices de criminalidade nas ruas e na segurança dos gaúchos.


02 DE DEZEMBRO DE 2023
COLHEITA DA UVA

Vinícola Aurora divulga providências para melhorar condições de trabalho

Cooperativa destaca a construção de novos alojamentos e maior mecanização no carregamento e descarregamento das frutas

Os dirigentes da Cooperativa Vinícola Aurora, uma das maiores empresas de produção de uva do Brasil, asseguram que episódios de trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão (como o ocorrido no início de 2023) fazem parte do passado. Ao longo do ano, novos alojamentos foram construídos ou adaptados por 450 das 1,1 mil famílias de produtores cooperativados da empresa.

Pelo menos outras nove providências foram tomadas para melhorar as condições dos safristas que colhem uva no verão. Entre elas, o aumento na mecanização do carregamento e descarregamento das frutas (que já atinge 78% dos associados) e a implementação de regras rígidas para boas práticas, relações com os colaboradores e cuidados ambientais.

Renê Tonello, presidente da Aurora, apresentou um balanço das novas práticas introduzidas na vinícola, em Bento Gonçalves. Jornalistas visitaram propriedades de associados onde foram construídos alojamentos.

A colheita da uva mobiliza 40 mil pessoas na Serra a cada verão. Só na Aurora são 1,1 mil famílias associadas e cada uma delas utiliza, em média, quatro safristas, que trabalham menos de um mês.

A remuneração do safrista gira em torno de R$ 150 por dia. A jornada de trabalho é de 10 horas diárias e, via de regra, sob calor intenso. O problema é quando as condições são ruins, como o constatado em fevereiro. Na ocasião, 207 safristas da uva (em sua maioria, baianos) que atuavam para três vinícolas gaúchas em Bento Gonçalves (entre elas, a Aurora) foram resgatados por policiais e fiscais de uma pensão onde eram mantidos em condições análogas à escravidão.

Fomos pegos de surpresa pelas más condições daquele alojamento terceirizado, em fevereiro. Esse episódio triste nunca mais vai acontecer.

Renê Tonello - Presidente da Aurora

HUMBERTO TREZZI VITÓRIA LEITZKE

02 DE DEZEMBRO DE 2023
CAPITAL DOS PARQUES TEMÁTICOS

Com título, Canela quer atrair mais investidores

O título de Capital Nacional dos Parques Temáticos abre a possibilidade para Canela atrair mais investidores e expandir a economia. A lei federal que confere o título à cidade foi sancionada pelo presidente em exercício Geraldo Alckmin, após o projeto apresentado pelo deputado Bibo Nunes (PL-RS) passar por diferentes comissões da Câmara e do Senado - o regimento interno das duas Casas não prevê votação em plenário para esse tipo de matéria.

Publicada no Diário Oficial da União na quarta-feira, a lei foi proposta em 2020. Uma solenidade, agendada para o dia 8 de dezembro, vai marcar a entrega oficial do documento. A partir disso, a prefeitura vai começar a usar a distinção nas mídias oficiais de Canela. Além da visibilidade e do potencial de atrair mais visitantes, o principal ganho com a novidade é dar credibilidade para trazer investidores, na avaliação do poder público.

- Quando falamos em investidor, não é apenas no atrativo, mas em toda a rede imobiliária, de prédios e comércios. Temos muitos projetos tramitando no (setor de) ambiente, é um somatório, cria perspectiva - disse o secretário municipal de Turismo e Cultura, Gilmar Ferreira.

Belezas

A vocação para atrair turistas por meio de parques temáticos começou em Canela na década de 1970. Foram as belezas naturais do interior que deram o ponto de partida para que a cidade começasse a receber turistas com a fundação do Parque Estadual do Caracol.

Há atrações para todos os gostos. São locais que passam pela história da música, caso do Museu dos Beatles, pelo transporte, com os museus do automóvel e do caminhão e um dedicado exclusivamente ao trem a vapor. Dinossauros, história do Egito antigo e viagens espaciais também estão na lista dos entretenimentos instalados na cidade. Além dos 22 parques, a secretaria de Turismo calcula que o município tenha mais de 50 atrativos. Atualmente, 76% da matriz econômica de Canela vem do turismo.

PEDRO ZANROSSO

02 DE DEZEMBRO DE 2023
SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Argentina deve continuar atrativa para os turistas

Apesar das incertezas que cercam a posse do novo presidente eleito da Argentina, Javier Milei, especialistas avaliam que o país deve continuar sendo atrativo para os turistas brasileiros em 2024. Isso porque a expectativa é de que o cenário de desvalorização do peso não mude significativamente no primeiro ano de governo. Também se espera que o alto potencial econômico do turismo seja considerado na tomada de decisões por Milei.

Até setembro, a Argentina havia recebido cerca de 5,3 milhões de visitantes estrangeiros - o segundo maior número do período em 13 anos, conforme o Instituto Nacional de Promoção Turística (Inprotur). O país também registrou a maior entrada de turistas do Brasil por via terrestre desde 2010: foram em torno de 337,5 mil pessoas em nove meses.

Considerando todos os meios de transporte, 1.025.854 brasileiros foram para a Argentina entre janeiro e setembro deste ano, conforme a editora Panrotas.

Estrutural

Pedro Dutra Fonseca, pesquisador e professor do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da UFRGS, explica que a ida ao país está atrativa para os turistas do Brasil porque o peso está muito desvalorizado. Fonseca avalia que o mais provável é que, pelo menos a curto prazo, as viagens para a Argentina continuem valendo a pena para os brasileiros, em especial porque o problema de balanço de pagamento do país "dificilmente vai se resolver da noite para o dia". Em sua visão, o cenário não deve se alterar muito em 2024, permanecendo vantajoso para turistas do Brasil que queiram visitar, fazer compras, se hospedar e ir a restaurantes:

- Esse problema da falta de dólar na Argentina é estrutural. Como vai fazer para entrar dólares no país? Ele teria de exportar mais, importar menos. Teria de ter uma recessão muito grande e credibilidade externa para os empresários voltarem ao país. Isso não é fácil de resolver da noite para o dia. O cenário mais provável é que, mesmo que ele (Milei) encaminhe um plano mais racional para a economia, o efeito não seja tão imediato.

Paulo Gusmão, diretor do Sindicato das Agência de Viagens (Sindetur-RS) e CEO da operadora Galápagos Tour, se diz otimista em relação às viagens de 2024 para o território argentino, principalmente se o governo mantiver uma política de turismo semelhante à que existe e se não cumprir o plano de dolarização da economia:

- Se dolarizar, acho que pode ficar ruim para nós. Agora, se o peso se mantiver como está e baixar um pouco a inflação, eu acredito que continue bom. Temos bastante procura para 2024 e eu acredito que vá permanecer como está ou até melhorar para os brasileiros.

Na visão de Gusmão, Milei deve tomar decisões favoráveis ao turismo, já que o setor também movimenta a economia do país. Ele garante que houve crescimento na procura por viagens para a Argentina nos últimos anos, mas ressalta que a rede hoteleira ainda não está tão barata como o esperado e que há um grande problema em relação ao alto custo das passagens aéreas - por esse motivo, muitos visitantes têm optado por viajar de carro.

- O restante, está barato. As tarifas de serviços estão muito boas, e a alimentação também está com preços muito atrativos - comenta Gusmão.

Esse problema da falta de dólar na Argentina é estrutural. (...) Isso não é fácil de resolver da noite para o dia. O cenário mais provável é que, mesmo que ele (Javier Milei) encaminhe um plano mais racional para a economia, o efeito não seja tão imediato.

Pedro Dutra Fonseca

Pesquisador e professor do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da UFRGS

Se dolarizar, acho que pode ficar ruim para nós. Agora, se o peso se mantiver como está e baixar um pouco a inflação, eu acredito que continue bom. Temos bastante procura para 2024 e eu acredito que vá permanecer como está ou até melhorar para os brasileiros.

Paulo Gusmão

Diretor do Sindicato das Agência de Viagens do RS e CEO da operadora Galápagos Tour

JHULLY COSTA

02 DE DEZEMBRO DE 2023
POLÍTICA +

Prédios públicos devem ter um destino

O pedido reiterado pelo prefeito Sebastião Melo ao ministro da Previdência, Carlos Lupi, para que ceda ao município um dos antigos prédios do INSS, junto ao Mercado Público, chama atenção para um absurdo com o qual não deveríamos nos acostumar jamais. Trata-se da quantidade de imóveis federais, estaduais e municipais ociosos, enquanto milhares de pessoas carecem de moradia decente.

Qual é o sentido de o poder público ser dono de imóveis que se deterioram pela ação do tempo, trazendo prejuízo aos cofres públicos, quando poderiam ser transformados em moradias? O prédio do INSS na Travessa Mario Cinco Paus é um entre centenas que poderiam ser reformados e transformados em edifícios de apartamentos a serem vendidos com financiamento da Caixa Econômica Federal.

Imóveis como esse que a prefeitura quer transformar em moradia, promovendo o chamado "retrofit", não têm sentido como "patrimônio público" se continuarem como estão. Porque, com a informatização, jamais o INSS vai voltar a ter o número de funcionários que teve no passado. Nenhuma empresa haverá de se interessar em comprá-lo para reformar e transformar em escritório.

É preciso que se encontre fórmula jurídica capaz de permitir que se dê uso nobre ao que hoje é um fantasma no centro da cidade.

Além de opção possível para um programa de moradia, a ocupação dos prédios públicos que hoje estão às moscas tem a vantagem de levar vida para o Centro Histórico. Imagine-se, por exemplo, transformar um desses elefantes brancos em um residencial para famílias de policiais, que poderiam financiar um imóvel no centro da cidade, em vez de comprá-lo na periferia, que é onde a renda familiar alcança, dado o preço dos terrenos nas áreas centrais.

Assim como esse, há outro imóvel do INSS que poderia muito bem se transformar em moradia popular no centro de Porto Alegre. É o antigo Cristaleira, na Rua Jerônimo Coelho, pertinho da Praça da Matriz.

Esses imóveis são "patrimônio dos aposenta­dos". Mas para que serve um patrimônio que, em vez de render algum dinheiro, exige gastos com manutenção?

União, Estados e municípios têm de vender os imóveis que podem ser vendidos e aplicar o dinheiro em políticas sociais, no pagamento de dívidas históricas ou mesmo na reforma de prédios públicos, como escolas e unidades de saúde. Se não interessam ao mercado, por que não transformá-los em moradias para reduzir o déficit habitacional?

ROSANE DE OLIVEIRA

02 DE DEZEMBRO DE 2023
CHAMOU ATENÇÃO

Final feliz para o cão fugitivo

A cineasta e artista visual Ana Beatriz Arieta viveu momentos angustiantes na quinta- feira, quando seu cãozinho vira-lata, o Jordan, desapareceu durante um passeio na praça próxima ao condomínio onde reside, no bairro Higienópolis, em Porto Alegre, perto das 19h.

- Ele estava procurando com quem brincar na pracinha, e é muito rápido. Sujou a guia de lama, então precisei tirar para lavar. Quando fui recolocá-la, ele saiu em disparada atrás de um menino, que deve ter confundido com meu filho. Foi nesse momento que o perdi de vista - relembra Ana Beatriz.

Foi então que o policial civil Afonso Henrique da Cunha Augusto, 48 anos, entrou em cena. Ele estava deslocando com a viatura pela Avenida Carlos Gomes, próximo à Avenida Plínio Brasil Milano, quando populares em uma parada de ônibus começaram a fazer sinal para o veículo.

- Até achei que seria um assalto. Quando parei para atender a população, eles estavam com o cão, que estava assustado pela via e corria risco de ser atropelado. De imediato, procurei verificar se o animal tinha alguma identificação, mas como não tinha, levei-o para a Delegacia de Combate à Intolerância (DPCI) para dar comida e água - conta.

Reencontro

Ana Beatriz relata que, ainda na quinta-feira, recebeu a informação de que Jordan havia sido resgatado pela Polícia Civil, mas não sabia para qual local o cãozinho tinha sido encaminhado.

- Aí começou outra força- tarefa: descobrir em qual delegacia ele estava. A tensão de perder um bichinho é algo anormal. No entanto, consegui encontrar meu filho - desabafa.

O emocionante reencontro entre Jordan e Ana Beatriz ocorreu na delegacia, onde o policial e a cineasta trocaram agradecimentos e compartilharam alegria pelo desfecho feliz da história.

- O Afonso foi de uma simpatia muito grande, nem sei como agradecer. O título desse conto será "o dia em que Jordan foi para a cadeia" - brinca Ana Beatriz, aliviada ao ter seu fiel amigo de volta.

Enquanto o cão Jordan brincava e abanava o rabinho pelos corredores da delegacia, Afonso compartilhava os detalhes do resgate:

- Estava preocupado, queríamos achar logo os donos. O importante é de que o final foi feliz. O papel da polícia é salvar vidas, independentemente de quem seja.

Produção: Leonardo Martins