sábado, 14 de dezembro de 2024


12 de Dezembro de 2024
OPINIÃO RBS

OPINIÃO RBS

Fraude revoltante

Um dos grandes méritos da Operação Leite Compen$ado, deflagrada pela primeira vez em 2014, foi fazer o setor se comprometer a aperfeiçoar e manter em dia, em todos os elos da cadeia, programas de controle que assegurassem a qualidade do produto levado à mesa do consumidor. A última fase da ofensiva do Ministério Público (MP) contra fraudadores de um dos mais nobres alimentos ocorreu em 2017. Imaginava-se que as sanções aos envolvidos, com condenações, prisões e R$ 12 milhões em valores pagos pelos investigados, seriam pedagógicas. E crimes semelhantes não voltariam a ocorrer no Estado tão cedo.

Causa revolta que ainda existam empresários do segmento e profissionais gananciosos, crentes na impunidade, dispostos a lucrar a qualquer custo, o que inclui fraudar com substâncias nocivas à saúde um alimento básico, consumido em larga escala por crianças, por exemplo. Foi o que descobriu o MP, a partir das investigações que resultaram na 13ª etapa da Operação Leite Compen$ado, deflagrada nesta quarta-feira. Um laticínio de Taquara, no Vale do Paranhana, foi o alvo. Cinco pessoas acabaram presas. Entre elas, um sócio da empresa.

Gera mais indignação o fato de entre os presos estar um engenheiro químico, conhecido como "Alquimista", implicado outras duas vezes na adulteração de leite. Uma delas foi em 2005. Acabou absolvido. A outra foi na quinta fase da operação, em 2014. O engenheiro ainda espera o desfecho do processo judicial sobre este caso, mas estava proibido de trabalhar em laticínios e há dois anos deveria estar usando tornozeleira eletrônica. Segundo o MP, o profissional foi contratado para orientar sobre a adição de soda cáustica e água oxigenada para mascarar a deterioração dos produtos. As irregularidades foram encontradas no leite UHT, no em pó, no soro e em compostos lácteos.

Todos os investigados devem ter total direito à defesa. Mas o mínimo a se aguardar é uma apuração profunda sobre esse caso e a aceleração do processo em curso a que o engenheiro responde. Uma vez provados na Justiça os crimes, o que a sociedade espera é uma punição adequada e que impeça definitivamente os envolvidos de voltarem a delinquir. De acordo com o MP, além de ter marcas no varejo, a companhia vendia para prefeituras e há pouco venceu licitação para fornecer a uma escola em São Paulo. Uma empresa investigada por não ter integridade em seus produtos, portanto, ganhou um contrato público para nutrir crianças.

O promotor Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, lembra que, após 2017, chegaram ao MP apenas duas denúncias. Envolviam adição de pequena quantidade de água no leite. Entendeu-se que não existiria necessidade de novas operações. Foram feitas recomendações para ajustes nos procedimentos. O caso de agora, pelo contrário, é grave. É provável, portanto, tratar-se de episódio isolado, e que não deve gerar temor no consumidor ou manchar a imagem da cadeia, como em 2014. Todo o segmento no Estado, inclusive quem não tinha nenhuma relação com qualquer adulteração, teve prejuízos com a fraude cometida por uma minoria uma década atrás. O aprendizado, porém, legou um sistema de controle de qualidade mais robusto e benéfico para a população. 


12 de Dezembro de 2024
ACERTO DE CONTAS

Casas adiadas

Complexo em SC pensado para gaúchos

De olho nos clientes gaúchos, a Aquino Incorporações busca licenças para construir o Rosa Open Shopping, um complexo de R$ 60 milhões com shopping a céu aberto, moradias e escritórios na cidade de Imbituba, no litoral de Santa Catarina, perto de Garopaba. O centro de compras terá cinema e 40 lojas em 18 mil metros quadrados. A ideia do dono, Fabiano Aquino, é inaugurar em 2028. Segundo ele, 95% dos clientes da empresa são do Rio Grande do Sul. Lojas custarão a partir de R$ 300 mil e apartamentos, R$ 309 mil. _

Aprovado no Senado e encaminhado para análise da Câmara dos Deputados, o projeto que regulamenta o uso de inteligência artificial (IA) é essencial para aumentar o projeto de R$ 3 bilhões anunciado pela Scala Data Centers em Eldorado do Sul. A empresa almeja ter uma "cidade de data centers" na região metropolitana de Porto Alegre, o que movimentaria R$ 500 bilhões na economia gaúcha, tem dito o governador Eduardo Leite.

À coluna, o CEO Marcos Peigo explicou que o segmento trabalha com "três degraus de capacidade". No atual, já operado pela Scala, são 800 megawatts. Com inteligência artificial, conforme previsto no projeto de lei no Congresso, o mercado aumenta para 3 gigawatts (3 mil megawatts). No caso de ampliar o texto - o que é possível por emendas -, permitindo cargas internacionais de IA sendo processadas no Brasil, a capacidade dispara a 11 gigawatts.

- O Brasil seria um exportador de data centers, trazendo a capacidade e o processamento de dados que não são nacionais. É como se criássemos embaixadas, onde as leis que se aplicam naquela jurisdição são as da origem - explica o executivo.

Recentemente, a Câmara de Vereadores de Eldorado do Sul aprovou a mudança de área de rural para industrial o local escolhido pela Scala Data Center para instalar o projeto. A cidade foi severamente atingida pela enchente, mas esse terreno não foi alagado.

- Também criou um distrito exclusivo para data centers, com processo de licenciamento simplificado e unificado. É o primeiro de que se tem notícia na América Latina para esse tipo de atividade - acrescentou Peigo.

Divergência

O setor de data centers pede que se retire da regulação de inteligência artificial o trecho do pagamento por direitos autorais no desenvolvimento de sistemas de IA, quando usados textos, imagens, áudios e vídeos. Foi acrescentado por reivindicação da imprensa e dos artistas ao Senado. _

Giane Guerra

12 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL- O Rodrigo Lopes

Soda cáustica no leite e as armas químicas

Qual a diferença entre um ditador que usa armas químicas contra sua própria população e um empresário que adultera o leite com soda cáustica e água oxigenada?

Poucas. Talvez a única seja que, no caso do primeiro, ele visa a sua manutenção no poder e provocar terror entre civis com fins políticos. O segundo tem por trás a ganância: fazer render o produto para ganhar mais dinheiro.

No mais, sobram semelhanças: Bashar al-Assad e o químico industrial preso na 13ª etapa da Operação Leite Compensado, em Taquara, no Estado, ontem, utilizam-se de substâncias que matam, rápido ou devagar, ou podem deixar sequelas. O sarin de Al-Assad tem extrema potência sob o sistema nervoso. Soda cáustica é cancerígena.

Tanto Al-Assad, que fugiu para não ser morto, quanto o "Alquimista" gaúcho são reincidentes. O primeiro atacou várias vezes a população civil com armas químicas, o mais trágico em Ghouta, em 2013, durante a guerra civil síria. O segundo já havia sido preso em 2014 em apuração sobre adulteração do produto.

São 11.863 quilômetros que separam a Síria do Rio Grande do Sul. Duas realidades diferentes de uma mesma sociedade doente. Extremamente doente.

Cabe investigação

Durante a operação ontem em uma empresa de Taquara acusada de adulteração no leite, um cartaz chamou a atenção do repórter Lucas Abati, da Rádio Gaúcha.

Ele adverte funcionários a ingerirem leite somente do laboratório - e não do depósito. Fica a pergunta: estavam protegendo os colaboradores do risco de tomarem o produto com soda cáustica ou era uma questão de controle? Cabe investigar. _

Na Capital, não bastam motociclistas sobre calçadas e passando sinal vermelho à noite. Virou moda motoristas andarem na contramão. Terça à noite, a coluna viu carro descendo no sentido inverso do permitido na Rua Felipe de Oliveira, entre a Corte Real e Lucas de Oliveira.

Presépio polêmico no Vaticano

Desde o dia 8 de dezembro, uma imagem no Vaticano vem causando polêmica: no presépio instalado na sala Paulo VI, utilizada para audiências do papa Francisco em dias frios, o menino Jesus aparece deitado na manjedoura sobre o keffiyeh, o lenço símbolo da resistência palestina.

A cena emite uma mensagem poderosa (e controversa) de apoio à causa por parte da Igreja, o que incomodou a comunidade judaica.

O presépio teve como curador o artista palestino Taisir Hasbun, natural de Belém, onde nasceu Jesus. Trabalharam também no presépio de três metros de altura Johny Andonia e Faten Nastas Mitwasi, também dessa cidade histórica.

Hasbun disse que o lenço seria um modo de fazer com que os visitantes saibam da existência dos palestinos.

Ontem, o Vaticano removeu a figura do menino Jesus, seguindo a tradição. Ele é devolvido ao presépio na noite de Natal.

O lenço palestino também foi retirado. A conferir se voltará no dia 24. _

Devolução de IPVA para atingidos na enchente

Será apreciado em plenário da Assembleia na próxima terça-feira um projeto de lei que visa devolver valores de IPVA já pagos em casos de veículos inutilizados ou perdidos devido a catástrofes naturais, sinistros ou perda total.

O projeto, conhecido como "Lei da Devolução do IPVA Pago", é de autoria do deputado Delegado Zucco (Republicanos) e a expectativa é de que seja aprovado ainda este ano.

Na visão do parlamentar, além da devolução proporcional do IPVA já pago em caso de perda total, furto, roubo ou desastres naturais, o projeto também dispensa de pagamento do imposto período em que o veículo não foi utilizado. _

Acerto com o passado

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou na terça-feira que parentes de pessoas mortas pela ditadura cívico-militar, que assolou o Brasil entre 1964 e 1985, poderão pedir nova versão da certidão de óbito nos cartórios de registro civil.

Nos novos documentos, deverá constar no lugar da causa mortis: "morte não natural, violenta, causada pelo Estado a desaparecido no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964."

- É um acerto de contas legítimo com o passado - disse o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso. _

Rifa para afetados pela cheia

A Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS criou durante a enchente de maio campanha chamada Quando a Água Baixar, com objetivo de arrecadar recursos para estudantes, servidores e terceirizados impactados pela catástrofe. Para continuar a iniciativa, o curso está realizando uma rifa solidária.

Serão 24 prêmios doados por artistas, profissionais e marcas de todo o Brasil. Os itens, que incluem categorias de Arte, Experiências e Produtos e Serviços, estão disponíveis em várias cidades do Brasil. Os vencedores poderão escolher seus prêmios, segundo a ordem do sorteio, que será em 16 de dezembro. São 3 mil bilhetes disponíveis, a R$ 15 cada. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 7 de dezembro de 2024



07 de Dezembro de 2024
ARTIGOS

Conexão RS-Ásia

Missões internacionais são fundamentais para estreitar relacionamentos diplomáticos e empresariais. Esse movimento gera atração de investimentos e promoção de novos negócios. Finalizamos a missão Japão China 2024, onde visitamos esses gigantes asiáticos, que valorizam essa aproximação. Foram 10 dias mergulhados na cultura oriental na busca de conhecimento e de inovação. Tivemos acesso às tecnologias de ponta usadas de forma inteligente, refletindo na evolução constante e resiliente da economia dos dois países.

A comitiva gaúcha liderada pelo governador Eduardo Leite começou pelo Japão com 124 milhões de habitantes, passando por Tóquio, a maior metrópole do mundo, com 37 milhões de pessoas. Na China, nos reunimos com governos e empresas de províncias que juntas somam 251 milhões de habitantes. Passamos por uma agenda robusta com empresas e investidores asiáticos, levando na pauta a atração de investimentos e a abertura de mercados de setores estratégicos, como automotivo, de transição energética, energias renováveis e proteína animal. Tivemos um foco pesado nas ações e projetos de resiliência, já que são países que enfrentam muitos problemas com desastres climáticos e temos interesse em integrar essa tecnologia para prevenção e mitigação desses eventos no Estado.

Esse contato com importantes players faz parte da estratégia do Plano de Desenvolvimento Econômico, Inclusivo e Sustentável e da agência de promoção comercial e atração de investimentos, a Invest RS, para potencializar investimentos e abrir mais mercados aos produtos gaúchos.

O RS já é um grande produtor de alimentos para o mundo. Hoje, temos nas mãos a oportunidade de também ser um grande fornecedor de energia renovável e biocombustíveis.

Seguindo as diretrizes do governador Eduardo Leite, continuaremos trabalhando para tornar o RS um Estado cada vez mais amigo do empreendedor, com isso prospectando mais negócios e gerando mais emprego e renda para a população gaúcha. _

Ernani Polo - Secretário de Desenvolvimento Econômico


A cobiçada

janela do avião

Virou enquete nacional: você daria ou não a poltrona da janela para uma criança chorando? Viralizou vídeo que deflagrou esse debate nas redes sociais, na última quarta-feira. As imagens mostram uma bancária mineira, Jennifer Castro, com fones de ouvido, sentada na janela do avião. A jovem foi exposta porque se negou a ceder o lugar para um menino.

A mãe contrariada queria que seu filho se sentasse na janela, como forma de acalmar o choro (ou birra) dele. O tiro saiu pela culatra. A internet apoiou a bancária, tanto que ela ganhou um milhão e meio de seguidores em alguns dias.

Vamos por partes. A mãe não tinha se sentado na mesma fileira com o seu pequeno. Se assim fosse, poderia apenas solicitar uma troca de lugar, da janela para o corredor.

Eu já fiz muito isso, para deixar pai ou mãe junto de seu filho, ou para não separar um casal. Trata-se de um acordo simples, sem trauma.

Não era o caso. A mãe não parecia interessada em se acomodar ao lado do filho. Ela partiu para cima de um alvo, uma pessoa solitária na janela, e demandava o assento avulso.

Num péssimo hábito contemporâneo, a câmera é sacada como uma arma por uma terceira pessoa, fazendo uma denúncia um tanto injusta.

"Tô gravando a sua cara, porque você não tem empatia com as pessoas. Isso é repugnante, no século 21, a pessoa não ter empatia com uma criança. Se fosse com um adulto, tudo bem, agora com uma criança é demais", disse quem filmou, tomando as dores maternas.

A gravação vem de trás. E a mãe não pediu, mas intimou, constrangeu, escancarou ao escárnio a jovem, que demorou para entender o que estava acontecendo, pois se encontrava descansando de olhos fechados.

Havia uma prepotência no gesto, que não tolerava qualquer recusa. Ou seja, a mãe obrigava a troca em nome de um bom senso da sua cabeça. O modo de reivindicar o lugar foi agressivo, acintoso. Não existiu educação na abordagem.

Duvido que, com gentileza e carinho, a bancária não se levantaria dali. Faltou justificar cordialmente a necessidade.

A princípio, o enrosco pôs em evidência uma mãe que não é capaz de impor limites para o seu próprio filho, buscando satisfazer um capricho. Pretendia calar a gritaria com um súbito conforto, com um presente inesperado (a ser dado pelos outros).

Se a mãe sentia um desejo imenso e inadiável de colocar seu rebento na janela, por que não comprou o espaço com antecedência, adotando o exemplo da bancária?

Na hipótese de não desfrutar de condições para adquirir o upgrade, um dos pilares da boa educação é adaptar as crianças, sempre exigentes, para a realidade financeira da família.

De toda maneira, a comunicação direta e afrontosa já apresentava um vício de origem, porque cabe à tripulação mediar esse procedimento. O assento é pessoal e nominal. A realocação de passageiros pressupõe uma formalidade e uma autorização dos profissionais do voo.

Perguntar não ofende, acusar sim. A elegância da bancária, acostumada à pressão dos clientes de seu banco, sem responder à ameaça, sem agredir de volta, forneceu equilíbrio para aquela aeronave.

Diante dos excessos alheios, nada melhor do que o silêncio. O silêncio terapêutico sempre será um céu de brigadeiro. 

CARPINEJAR 



07 de Dezembro de 2024
COM A PALAVRA - Ann Berger Valente

COM A PALAVRA

"Tecnologia pode ajudar muito no processo de ensino e aprendizagem"

A norte-americana Ann Berger Valente, 67 anos, é educadora e pesquisadora da tecnologia digital como ferramenta de expansão das oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento do potencial individual. Em passagem pela Capital, ela conversou com Zero Hora sobre o tema.

Fernanda Polo - Gerente de Pesquisa Educacional no Lifelong Kindergarten Group (MIT Media Lab) e integrante da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa

Como ser mais criativo na educação para reter a atenção dos alunos em meio a tantos apelos tecnológicos?

A tecnologia pode ajudar muito no processo de ensino e aprendizagem, mas não são todas as tecnologias que fazem uma mudança de postura de poder entre professor e aluno - na qual o professor é detentor das informações, e o aluno, receptor. Há tecnologias, como a lousa digital, que não mudam nada em termos dessa relação. É uma tecnologia extremamente cara. 

Você ainda tem o professor na frente da sala passando as informações para as crianças, e as crianças recebendo. Gostamos muito de usar a tecnologia onde a criança pode interagir com esse meio, se expressar. Isso também é muito diferente de ficar vendo o feed do TikTok ou do Instagram. É a mesma coisa: você está recebendo essas informações, não acrescentando muito, porque tem muita porcaria, e, além de tudo, há todos os problemas de alienação, comparação com o outro e bullying. 

Mas se você usar a tecnologia para expressar, para criar um projeto, para programar o computador, dar ordens para o computador, aí você tem uma relação de ter uma ideia, testar a ideia, ver o resultado. E esse resultado é fiel, porque o computador não acrescenta nada além do que você fala para ele. Esse processo é uma depuração muito eficiente das suas ideias. E pode ser sobre assuntos que você não podia explorar no mundo físico. Pode ter simulações, ser sobre relações sistêmicas de diferentes forças. Quando você começa a explorar essas relações por meio do computador, você tem a possibilidade de usar as simbologias e as anotações para isso, que você não teria decorando algoritmos na lousa.

A tecnologia pode ter um impacto positivo na aprendizagem, então?

Pode ser um impacto negativo do lado socioemocional, com certeza. A gente está vendo muito isso nos adolescentes e tudo mais. Mas na aprendizagem, eu acho que tem muito potencial para explorar novas tecnologias, novos conhecimentos, novas maneiras de se expressar.

Pode fornecer exemplos?

Tem vários exemplos nos quais a tecnologia é usada para fazer um projeto sobre algum ambiente do nosso meio. Pode ser a nossa escola, nossa cidade, algo menor. E as crianças, juntas, começam a construir, vamos supor, a escola que a gente quer. Teve um projeto muito lindo em São Paulo sobre isso. Foram construindo os prédios, o que seria essa escola no futuro, usando sucata, para uma espécie de maquete, mas, aí, introduzindo motores, placas solares, alavancas e programando todos esses elementos usando linguagem de programação. 

Então, você está aprendendo uma série de conhecimentos de engenharia, de matemática e, ao mesmo tempo, fazendo uma expressão, uma avaliação crítica do seu entorno. Esses projetos são fantásticos e é uma construção coletiva de uma sala, de um grupo.

O que é a aprendizagem criativa?

É uma abordagem pedagógica baseada nas ideias do construcionismo, que tem suas bases na pesquisa do Seymour Papert, no Massachusetts Institute of Technology (MIT). O construcionismo propõe que a criança aprende por meio de construir coisas. Em vez de ser ensinado por meio de repetição, reforço, memorização, a criança vai criando hipóteses e testando essas hipóteses. Se dá certo, então vai avançando. Se não, preciso repensar o que eu estava pensando. Isso é muito parecido com as ideias de Jean Piaget, que desenvolveu a ideia de construtivismo. É toda uma teoria pedagógica. 

O Seymour Papert veio em cima desse construtivismo, no construcionismo, no sentido que a criança aprende por meio desse processo de testar. Eles chamam de assimilação de novas combinações, mas por meio de construir coisas. Ao construir um objeto, seja um robô, um castelo de areia, um poema, um teatro, eu vou colocando as minhas ideias para fora. Ao externalizar as ideias, eu posso olhar para aquilo e perguntar: era isso que eu imaginava? Também outra pessoa pode olhar e dizer: você estava pensando assim, mas olha aqui. Aí você pode ajustar.

Como os professores brasileiros podem implementar a aprendizagem criativa na prática, na sala de aula?

É só querer. Tem vários eventos acontecendo no Brasil inteiro. Nós temos o portal da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (aprendizagemcriativa.org), que tem uma série de ideias, de atividades, materiais e planos de aula. Então, tem uma série de atividades já prontas, que podem ser usadas, adaptadas, misturadas. Também tem todo o material de formação sobre todos os aspectos da aprendizagem criativa. Porém, a gente acha que a aprendizagem é muito sobre pessoa com pessoa. Então, a rede é um movimento social de pessoas, professores que já compraram essa ideia, já vivem essa ideia. Acreditamos que um professor "contamina" o outro.

No Brasil, há uma discussão sobre proibir o celular nas escolas. Qual é a sua opinião?

Você tem de desenvolver o letramento digital para poder ser um usuário sensato. Se você proibir, você deixa de aproveitar a oportunidade de fazer uma aprendizagem monitorada, poder discutir sobre o que é esse conteúdo com colegas, com o professor. Se você banir, então ele vai pegar o celular depois e vai fazer o uso da forma mais banal. Agora, na sala de aula, o celular compete muito com o professor que está dando aula na lousa. 

Acho que é um sinal que tem de mudar um pouco o nosso método de ensino. Mas, por outro lado, quando você vê as crianças sentadas no pátio, cada uma no seu celular, sem ser interagindo, você também está perdendo uma oportunidade de socialização, de atividade física, de uma série de outras coisas. Então, eu acho que tem de ser usado de uma forma sensata, moderada, com finalidades apropriadas, porque tem muito potencial da tecnologia e do próprio celular. 


07 de Dezembro de 2024
MARCELO RECH

Emendas fazem mal à política

Toda essa aborrecida discussão sobre o montante das emendas parlamentares oculta um problemão que é o retrato do Brasil mais atrasado: com que direito os congressistas se adonam de uma fatia cada mais relevante dos impostos pagos pelos contribuintes e a distribuem a bel-prazer? Qual a lógica para que deputados e senadores, eleitos para legislar, passem a agir como governos, determinando a aplicação prática de R$ 186 bilhões entre 2019 e 2024? E que justificativa tem o Congresso, como ocorre no caso do pacote de contenção de gastos, para chantagear o Executivo na votação de algo de interesse vital para o país porque um ministro do STF estabeleceu um regramento sobre o carnaval das emendas?

Fosse só uma questão de usurpação de funções de um poder pelo outro, já seria grave. Mas, como todo mundo passou a mexer no queijo dos outros, naturalizou-se a noção de que deputados e senadores devem não só lutar por mais verbas para suas bases eleitorais, mas eles próprios devem conduzir o repasse, no velho e nocivo clientelismo que grassa por aqui desde o Brasil Colônia.

Diante de uma imensidão de carências, é compreensível a ansiedade de prefeitos e líderes comunitários que percorrem gabinetes parlamentares em busca de emendas para atender a demandas locais. E também se entende que, uma vez disponível a bijuja, seria pedir demais a um deputado ou senador que rejeitasse a hipótese de destinar o recurso para a sua base. Nem quem pede nem quem repassa são culpados por uma prática que apequena a política e reforça os currais eleitorais.

O erro está no modelo perverso. Como ficou claro nas eleições de 2020 e 2022, candidatos que despejam dinheiro de emendas têm muito mais chances de se eleger do que quem se candidata pela primeira vez, sem a bolsa gorda dos impostos. Ou seja, além de tudo, as emendas sabotam o equilíbrio entre candidaturas e, portanto, corroem a própria democracia.

Ao ser um atalho para reeleições em série, a farra das emendas produziu uma droga política altamente aditiva. Seu usuário precisa cada vez mais de recursos, e sua abstinência pode lhe custar a carreira. Por isso, o empenho desesperado de Câmara e Senado em manter o fluxo constante e crescente da droga eleitoral. Se essa disfunção estancasse no aprisionamento de governos com cada vez menos poder de governar, já seria muito ruim, mas é pior. Quando uma emenda vai para uma estrada ou hospital, até se entende. É provável que fosse necessário. Mas e quando 26 emendas injetam mais de R$ 90 milhões nos últimos três anos em uma empresa de competições de jogos eletrônicos de Goiás, como noticiou essa semana a Folha de S.Paulo? Tire suas conclusões. _

MARCELO RECH


07 de Dezembro de 2024
OPINIÃO RBS

Acordo UE-Mercosul, um passo promissor

Após 25 anos de avanços, impasses e retrocessos, União Europeia (UE) e Mercosul anunciaram nesta sexta-feira que foi obtido o consenso nas negociações sobre o acordo de livre comércio entre os dois blocos. Faltam, é verdade, etapas burocráticas demoradas e resistências a serem vencidas até o tratado ter efeitos práticos. Ainda assim, o comunicado feito em Montevidéu, no Uruguai, é um passo promissor e merece ser celebrado pelos obstáculos vencidos e pelas perspectivas de uma aliança estratégica e de cooperação entre duas regiões que englobam uma população de mais de 700 milhões de pessoas e quase um quarto da riqueza global.

O acordo entre UE e Mercosul, que cria a maior zona de livre comércio do mundo, prevê reduzir ou zerar tarifas de importação de bens e serviços entre os blocos. Mesmo que existam diferentes números, as projeções são unânimes em indicar benefícios econômicos para ambos os lados.

Os reflexos, ao longo dos anos, aparecerão na forma de mais trocas comerciais, investimentos e, por consequência, no PIB dos sócios dos conglomerados de países. Se há vantagens para o Brasil e seus parceiros do Prata, ganha também o Rio Grande do Sul, em posição privilegiada na região.

O estreitamento de relações entre as nações sul-americanas e europeias, voltado a impulsionar negócios, se investe de importância adicional pelo prenúncio de dias mais turbulentos no comércio global e na geopolítica. O futuro presidente dos EUA, Donald Trump, acena com mais protecionismo. Mira essencialmente a China, mas já disparou ameaças de elevar tarifas para produtos de outros países.

A parceria entre a União Europeia e o Mercosul, neste contexto de incerteza e conflitos, pode ser uma espécie de trincheira de proteção contra os estilhaços da guerra econômica entre Washington e Pequim. Em um período de surtos nacionalistas e isolacionistas, o acordo UE-Mercosul surge também como um respiro do multilateralismo.

Como em todo tratado do gênero, em um primeiro momento são apontados os setores que podem tirar maior proveito e os que terão algumas dificuldades. Para o Mercosul, em especial o Brasil, o tratado tende a ser bastante vantajoso para o agronegócio, altamente competitivo, a despeito da existência de cotas. O Rio Grande do Sul, como um dos protagonistas da produção de grãos, proteína animal e equipamentos voltados ao setor primário, tende a ser favorecido. Essa é a razão, como é notório, para a ferrenha oposição ao tratado pela França, onde também cresce a onda protecionista puxada pelos agricultores locais, temerosos de perderem mercado. Alguns segmentos industriais brasileiros, por outro lado, podem ter desvantagem inicial em relação aos pares do Velho Mundo.

Aberturas comerciais, como se sabe, tendem a impulsionar a busca por eficiência. Ganham os consumidores, com acesso a uma gama maior de produtos e serviços a preços mais acessíveis. Assim, cabe ao país acelerar reformas e facilitar investimentos em infraestrutura que diminuam o custo Brasil e ajudem a tornar as fábricas locais e demais setores capacitadas para concorrer nos dois lados do Atlântico.

Mesmo que não surjam novos obstáculos intransponíveis nas etapas que ainda precisam ser superadas, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul ainda deve demorar para ser implementado. É preciso saber aproveitar este tempo para solucionar os gargalos que tiram o potencial da economia brasileira. 


07 de Dezembro de 2024
Política e poder - Rosane de Oliveira

Bolsonaro e a confissão velada

Na tensa entrevista que concedeu ao Gaúcha Atualidade na manhã de sexta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro se exaltou ao ser questionado sobre o indiciamento pela Polícia Federal por tentativa de golpe no final de 2022. Criticou reiteradas vezes o ministro Alexandre de Moraes e chamou de bandidos os policiais que participaram da investigação.

Questionado pela jornalista Andressa Xavier sobre a reunião da qual participaram os comandantes das Forças Armadas, confirmou o encontro, mas negou que tenha feito qualquer consulta sobre golpe.

Na versão de Bolsonaro, o que se discutiu na reunião foram alternativas diante da impossibilidade de questionar o resultado da eleição no foro adequado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já que o PL recebeu uma multa milionária por colocar em dúvida a integridade das urnas eletrônicas. Entre essas alternativas, estavam a decretação de estado de sítio ou de defesa e a GLO (garantia da lei e da ordem).

Com uma interpretação peculiar do artigo 142 da Constituição Federal, Bolsonaro insistiu que discutir essas alternativas era jogar dentro das quatro linhas, expressão que popularizou durante o mandato, quando dizia que, se quisesse, poderia ter ultrapassado esse limite.

Ainda que indiretamente, o ex-presidente confirmou que os então comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, opinaram que não havia o que ser feito contra o resultado da eleição.

Narrativa baseada em fake news

Bolsonaro insistiu que "ninguém viu a tal minuta do golpe", documento que consta no inquérito da Polícia Federal e cuja íntegra está à disposição de quem quiser procurar no Google.

O ex-presidente disse que está sendo perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes desde 2018. Repetindo narrativa usada em outros momentos, insistiu na fantasia de que o Tribunal Superior Eleitoral fez campanha "com dinheiro público" para incentivar os jovens de 16 a 18 anos a fazerem o título eleitoral, porque esse público vota no PT. Foi preciso lembrar que o TSE e os TREs fazem campanhas para os jovens se alistarem de dois em dois anos, quando o Brasil realiza eleições. _

Lula faz duras críticas à comunicação do governo

Quem assistiu à manifestação do presidente Lula no encerramento do seminário nacional do PT, nessa sexta-feira, em Brasília, ficou com a sensação de que o ministro da Comunicação, Paulo Pimenta, foi colocado na frigideira diante dos companheiros. Lula, que falou por videoconferência, fez duras críticas à comunicação do governo e do PT. Disse que o partido precisa entender que o perfil do trabalhador mudou.

- Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias - disse Lula. O presidente deixou claro que está insatisfeito:

- Há um erro, um equívoco meu na comunicação. O Stuckert (fotógrafo da Presidência) costuma dizer "presidente, o senhor é o maior comunicador do nosso partido, o senhor tem de falar mais". E a verdade é que não tenho organizado as entrevistas coletivas, elas não têm sido organizadas. Eu adoro falar em rádio.

Pimenta disse à coluna que não há conversa estruturada sobre mudanças, mas que Lula concordou em fazer o que ele está propondo há tempo. _

Ex-presidente falou com a Rádio Gaúcha ao lado do deputado Zucco

aliás

Você nunca verá um golpista admitir que planejou ou participou de um golpe de Estado.

Até hoje, os golpistas de 1964 chamam aquilo de "revolução".

Candidato até que a morte o impeça

Na entrevista à Rádio Gaúcha, Jair Bolsonaro disse que é o plano A, B e C para a eleição de 2026 e que será candidato até a morte civil ou política.

Questionado se o seu candidato seria Eduardo Bolsonaro ou o governador Tarcísio Gomes de Freitas, caso continue inelegível, respondeu em tom de deboche:

- Vou indicar você.

O ex-presidente acredita que com a mudança na composição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai conseguir reverter a inelegibilidade. _

mirante

O prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, recebeu na sexta-feira a Medalha do Mérito Farroupilha, por proposição do deputado Dimas Costa (PSD). Dimas era cotado para concorrer a prefeito, mas abriu mão em favor de Zaffalon.

O jornalista Daniel Scola receberá no próximo dia 13, às 11h, na Assembleia Legislativa, a Medalha da 56ª Legislatura. A homenagem foi proposta pela deputada Nadine Anflor (PSDB).

O MDB fará uma imersão com os prefeitos e vices eleitos nesta segunda-feira, das 9h às 18h, no Hotel Embaixador, em Porto Alegre. Em 2025, o partido governará o segundo maior número de municípios, mas é o primeiro em população (25% do total).

Cezar Schirmer reassumiu a Secretaria de Planejamento da Capital. A segunda suplente do MDB, Camila Nunes, assumirá na Câmara.

POLITICA


07 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Dom Jaime entre os príncipes da Igreja

Quando questionado sobre sua origem, dom Jaime Spengler costuma se definir, com a simpatia e a informalidade que lhe são peculiares, como "cataúcho". O mais novo cardeal brasileiro nasceu em Gaspar, entre Blumenau e Navegantes, em Santa Catarina, mas no Rio Grande do Sul atingiu alguns dos postos mais relevantes da Igreja Católica no Brasil - além de arcebispo metropolitano de Porto Alegre, é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste sábado, o "cataúcho" será elevado ao panteão dos purpurados, entrando pela porta da frente do colégio cardinalício.

Dom Jaime honra a tradição do sul do Brasil de dar ao supremo senado da Igreja grandes nomes. É do Rio Grande do Sul dom Vicente Scherer (1903-1996), um dos mais importantes religiosos do século 20, com importante participação política, assistencial, educacional e eclesiástica. Sua trajetória transcorreu boa parte do século 20: as duas grandes guerras mundiais, a Guerra Fria, a Era Vargas, a Campanha da Legalidade, o golpe de 1964 e a redemocratização. Além disso, viveu - e protagonizou - momentos paradigmáticos para a Igreja Católica, como a criação da CNBB e o Concílio Vaticano II.

Outro dos grandes cardeais gaúchos foi dom Aloísio Lorscheider (1924-2007), por duas vezes presidente da CNBB e incansável soldado não apenas da fé, mas também da democracia. Em outubro de 1970, quando secretário-geral da CNBB, foi preso durante uma ação do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) na sede do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades), o que contribuiu para alterar o posicionamento da Igreja em relação à ditadura.

Como não lembrar também de dom Cláudio Hummes (1934-2022), o mais próximo que o Brasil chegou de ter um papa no século 21. Foi cotado ao trono de São Pedro em 2005 e 2013, amigo de Francisco e um dos mais influentes purpurados intramuros no Vaticano.

Também é gaúcho o atual arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, 75 anos, que apresentou sua renúncia ao Papa recentemente, ao que recebeu como resposta o pedido de que permanecesse por mais dois anos, no posto.

A Santa Catarina de dom Jaime Spengler deu ao Brasil e ao mundo o também grande dom Paulo Evaristo Arns, cuja luta contra as torturas e pelo movimento Diretas Já iluminaram o Brasil em sua hora mais escura.

Dom Jaime, o senhor está bem acompanhado no céu e na terra. Parabéns e boa sorte! Os "cataúchos" estão muito orgulhosos. _

Antes da posse, um passeio entre amigos

O grupo de amigos que está em Roma para prestigiar a posse de dom Jaime Spengler como cardeal, em cerimônia prevista para este sábado, participou nesta sexta-feira de uma visita guiada pelos jardins do Vaticano.

O cicerone foi o padre Antônio Hofmeister, também gaúcho e que costuma ser o intérprete informal e anfitrião nas visitas de brasileiros ao papa Francisco.

No grupo, além do rabino Guershon Kwasniewski, estão em Roma diretores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e o médico cardiologista Fernando Lucchese.

Durante o passeio, os visitantes passaram pelo novo papamóvel, que está sendo testado. É o primeiro 100% elétrico a ser usado por um papa. Modelo Mercedes-Benz.

Ainda nesta sexta-feira, dom Jaime celebrou uma missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Os amigos gaúchos também participaram. _

Um respiro em meio à tempestade

O Mercosul foi criado tendo como inspiração a União Europeia (UE), mas nunca prosperou tal qual o modelo do bloco supranacional do Norte, que alcançou talvez o limite máximo do ideal de integração entre países - a ponto de ter livre circulação de pessoas, bens e capitais, com o euro sendo seu maior exemplo.

Em um mundo que migrava da bipolaridade da Guerra Fria para a unipolaridade americana, blocos regionais tornaram-se um fenômeno dos anos 1990, quase como um sonho liberal: a integração comercial era requisito para o desenvolvimento econômico. Afinal, a cartilha kantiana ensina que países com laços comerciais não fazem a guerra.

Na UE, houve traumas, ranger de dentes, crises na zona do euro e retrocessos na integração, como o Brexit. No Mercosul, rusgas ideológicas e má vontade política levaram o bloco originalmente formado por quatro países ao quase fracasso. Não foram poucas as vezes em que ouvi a frase: "O Mercosul está morto".

De fato, a geopolítica, ao longo desses 25 anos de negociações para um acordo comercial entre os dois blocos, soprou para o outro lado. Como poucas vezes ao longo da história, vivemos a volta ao tribalismo, os nacionalismos exacerbados, o crescimento de movimentos antiglobalização, isolacionismos e protecionismo.

Também como poucas vezes, houve tantos processos de instabilidade ao mesmo tempo: da Ucrânia à Coreia do Sul, passando pelo Oriente Médio. Em um mundo mais isolacionista e com novas guerras, voltar a falar de forma concreta em integração e cooperação não deixa de ser um respiro. _

Caixa atualiza lista do Minha Casa Minha Vida no RS

A Caixa Econômica Federal atualizou a lista de beneficiários no RS elegíveis para o programa Minha casa Minha Vida. No total aparecem 3.954 nomes. Na nova lista, aparecem contemplados beneficiários em 55 municípios gaúchos, entre eles, Porto Alegre.

A prefeitura da Capital enviou cerca de 3,8 mil nomes como candidatos ao programa do governo federal. Até a última quarta-feira, haviam sido aprovados 1.747. Nesta nova leva, aparecem 1.944 contemplados só em Porto Alegre - logo, houve um acréscimo de 197 nomes.

A modalidade Compra Assistida do programa atende famílias contempladas nas faixas 1 e 2 do programa, que tiveram sua residência destruída ou danificada pela catástrofe climática de maio. Ao ter os critérios aprovados, elas passam a escolher qualquer imóvel de até R$ 200 mil a ser comprado pela Caixa Econômica Federal. _

Novo presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia

O chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da PUC, médico Paulo Caramori, foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O anúncio foi feito na quarta-feira, já a posse está prevista para o início do próximo ano.

Paulo Caramori é reconhecido por sua atuação clínica e científica, contribuindo em diagnósticos e tratamentos de doenças cardiovasculares no Brasil. À frente da SBC, ele terá o desafio de liderar iniciativas estratégicas, além do fortalecimento da pesquisa na área e do acesso a tratamentos de alta complexidade no país.

O doutor destaca que, entre os desafios, a prioridade é a prevenção de doenças cardiovasculares. _

O Superior Tribunal Militar elegeu, pela primeira vez, uma mulher para o seu comando. Será a ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha.

INFORME ESPECIAL

06 de Dezembro de 2024
CARPINEJAR

Minha queda na avaliação do Uber

Em casa, brincamos de ver quem tem a nota mais alta no Uber. Não sabe onde fica? Acesse o aplicativo, vá ao ícone da sua conta, que se encontra no canto superior direito, clique em cima, e abrirá uma página com a sua foto. Debaixo da imagem, consta a sua cotação de usuário. Assim como você pontua os motoristas, os motoristas elogiam ou não o seu comportamento.

Já deu para perceber que a minha família é competitiva. Possuímos um vasto histórico com notas na escola, com desempenho em competições esportivas, com jogos de tabuleiro como War ou Ludo. Ninguém está ali de bobeira.

Minha nota hoje é a mais alta - 4,93 -, igual à de minha esposa, Beatriz, mas a ultrapasso porque tenho muito mais viagens.

No critério de desempate, eu me consagro como o campeão do momento. Mas nem sempre foi assim. Realizei uma campanha de superação. Minha mãe já baixou a minha nota para 3,90. Fiquei naquela faixa suspeita em que o motorista recusa a corrida por medo do passageiro.

Maria Elisa tem 85 anos, e não aceita a existência do Waze. Deus existe, o Waze não existe.

Entra no Uber e começa a apontar a rosa dos ventos com o indicador. Quando o motorista não adota exatamente o percurso que ela quer, pois ele se orienta pelo mapa eletrônico, ela desanda a perguntar:

- Para onde está me levando?

Pesa um clima de tensão e desconfiança durante o deslocamento. Tentei explicar que o motorista dispõe de um recurso tecnológico para obter um trajeto mais curto e evitar o engarrafamento.

Mas ela insiste em sua direita, esquerda, direita. Não admite que não seja ela a mandar no seu itinerário.

Confesso que suava frio em todo diálogo dentro do veículo, quase caí para a segunda divisão dos usuários com minha mãe de carona. Ao acabar a corrida, eu recebia uma ou duas estrelas. Nunca era contemplado com a constelação inteira.

Até que decidi mudar de transporte e só circular de táxi com a mãe. Não há nota. Não há avaliação. Não há temor de seus questionamentos.

E o melhor é que, quando ela embarca, o taxista pergunta: - Tem uma rota de sua preferência? É tudo o que deseja ouvir. É o céu. É a glória na Terra. Minha mãe não deixa de ter razão em sua mania controladora.

Nem sempre o caminho mais rápido é o mais seguro. Nem sempre o caminho mais rápido é o mais bonito. E nunca o caminho mais rápido é o dela. Atalhos são as trilhas pelas quais ninguém sente vontade de ir, por isso estão vazios.

Ela faz questão de passar pelas vias principais do bairro e conferir como estão os flamboyants, as cerejeiras, os jacarandás amarelos. As árvores são tão importantes quanto as farmácias ou as padarias.

Seguir apenas o Waze é se meter em quebradas, ruas sem asfalto ou esburacadas, declives, lombadas da erosão das chuvas, trechos com pouca iluminação. É bater a cabeça no teto, é segurar na alça para não ser arremessado ao para-brisa.

Maria Elisa conhece a cidade há oito décadas. É a sua intimidade com o mundo. Não é justo arrancar dela suas referências, seu passado, seu berço, seus lugarzinhos de estimação. 

CARPINEJAR

06 de Dezembro de 2024
MARCO MATOS

Meu Natal

Já escrevi aqui sobre minha paixão por panetones, mas minha fascinação pelo Natal não se restringe ao gosto desse bolo docinho e recheado. Sou um apaixonado pela magia dessa época. É quando todos os problemas do mundo parecem ter solução.

Tive a oportunidade de visitar a região da Serra duas vezes, até agora, neste Natal. Eu olho para as ruas cheias de enfeites, para as luzes e também pra reação das crianças ao verem o Papai Noel! Parece que eu também sou criança. Me divirto, sorrio, acho que todos aqueles personagens são reais!

Tem uma coisa que me incomoda muito nos adultos: a vergonha de parecer infantil. Eu não dou a mínima pra opinião dos outros quando o assunto é Natal. Até um blusão natalino de lã eu comprei este ano.

Um dos maiores crimes que um adulto pode cometer na vida é dizer pra uma criança que Papai Noel não existe. Eu ainda acredito nele. É óbvio que não desse jeito como a gente é acostumado a ver em enfeites. O Noel é, pra mim, esse espírito de Natal que toma conta dos nossos corações. É um símbolo bonito da inocência que é ser criança.

Quando a gente cresce, podemos não fazer mais cartinhas ao Papai Noel, mas quantos de nós não listamos desejos e pedidos ao papai do céu? É tempo de comemorar o nascimento de Jesus, de acreditar na bondade do ser humano e de olhar para o próximo, ajudar, estender a mão, ser feliz e ficar feliz em ver a felicidade alheia.

A pessoa que não gosta de Natal está morta por dentro. A ela falta abraço e amor. Não existe possibilidade de não ficar contente com a oportunidade de estar em família, fazer crianças felizes e renovar os sonhos.

Não tenha medo de parecer bobo. É Natal!

E, sim, o mundo é cheio de problemas. Estamos longe de viver num conto de fadas. Nossas cidades precisam de tanto! Há tantas crianças sem a chance de ter sonhos. Existem muitos desafios.

E o Natal também serve pra olhar pra isso, com carinho e fraternidade. Somos todos irmãos e, todos os dias, ganhamos a chance de ajudar a diminuir as desigualdades, fazer o bem!

Sozinho ninguém muda o mundo e meu desejo mais sincero é que esse mês de dezembro sirva pra gente resolver nossas desavenças, sorrir gratuitamente pelas ruas. Reclamar não resolve problema nenhum, mas ser alegre é o primeiro passo pra transformar nossa rotina e, consequentemente, todo o resto.

Dezembro poderia durar pra sempre! _

MARCO MATOS


06 de Dezembro de 2024
OPINIÃO DA RBS

A forma de reduzir a pobreza

Mesmo que o Brasil permaneça bastante distante dos níveis desejados de renda e bem-estar da população, trazem alento os dados publicados na quarta-feira pelo IBGE mostrando que o país e o Rio Grande do Sul alcançaram, em 2023, os menores níveis de carência desde 2012, quando foi iniciada a série da pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais. No Estado, 14,4% da população estava abaixo da linha da pobreza no ano passado, ante 16,8% em 2022. 

Na condição de extrema pobreza, o percentual caiu de 2,5% para 1,3%. No Brasil, respectivamente, as reduções foram de 31,6% para 27,4% e de 5,9% para 4,4%. Foi o segundo ano consecutivo de melhora nos rendimentos, após pico da carestia, em 2021, quando os efeitos econômicos da pandemia apareceram de forma mais aguda.

Embora se comemore o maior número de brasileiros que melhoraram as condições básicas de vida nos anos recentes, ainda há muito a avançar em termos de progresso socioeconômico. O melhor caminho para este objetivo, como indica a análise qualitativa da pesquisa do IBGE, é o da manutenção de uma economia que cresça de forma sustentada e consistente ao longo do tempo, dando fim ao histórico de períodos de euforia sucedidos por crises e recessões, que voltam a jogar multidões na miséria.

Existem outros desafios a serem enfrentados. Em resumo, é uma agenda que deve ser voltada para o aumento da produtividade e da competitividade da economia. O mercado de trabalho já está apertado no Brasil e, portanto, a prioridade é encontrar formas de produzir e fornecer mais serviços em menos tempo, o que exige mais qualificação da mão de obra e absorção de novas tecnologias. 

Um trabalhador mais eficiente em suas tarefas pode receber mais sem que isso seja inflacionário. Um melhor ensino, portanto, é ponto de partida. Ao lado da educação, o país precisa de reformas que melhorem o ambiente de negócios, como a tributária, em fase final de avaliação no Congresso. A próxima deve ser a administrativa. 


06 de Dezembro de 2024
ESTAMOS EM OBRAS - Jocimar Farina

TAP confirma retomada de voo entre Lisboa e Capital para abril. A companhia aérea portuguesa TAP confirmou que retomará o voo direto entre Porto Alegre e Lisboa a partir de abril de 2025. Até há possibilidade desse retorno ocorrer antes, mas a própria empresa considera ser improvável.

Serão três operações semanais, às terças, quintas e sábados, com capacidade de transportar até 335 pessoas. A TAP não informou a partir de quando os clientes já começarão a comprar as passagens com o voo direto.

Outra confirmação repassada pela companhia aérea é que os voos já existentes para Florianópolis serão mantidos. A operação foi criada a partir de setembro, por causa do fechamento do aeroporto Salgado Filho.

Demais empresas

Das companhias aéreas que realizavam voos internacionais antes da enchente, a TAP era a única que ainda não havia confirmado oficialmente o retorno. A partir de 19 de dezembro, a Copa Airlines retoma a rota direta para a Cidade do Panamá a partir do aeroporto Salgado Filho. O voo terá frequência de três vezes por semana.

Em janeiro, a Latam voltará a oferecer voos para Lima, no Peru, e Santiago, no Chile. Já a Aerolíneas Argentinas decidiu alterar a data de início da retomada das suas operações na capital gaúcha. Os pousos e decolagens ocorrerão a partir de 3 de março.

Obras

Em 15 de dezembro, enfim, as obras de recuperação do aeroporto serão concluídas. O asfalto da pista já foi todo substituído. Nos próximos dias, serão finalizadas as etapas de pinturas das faixas de tráfego dos aviões e a instalação dos instrumentos de auxílio à navegação aérea.

Desde quarta-feira, o check-in doméstico e o despacho de bagagens retornaram ao seu local original, no terminal de passageiros. A área do check-in internacional ficará novamente exclusiva para os voos para o Exterior. _

Duplicação do Caminho do Meio a partir do primeiro semestre

Depois de mais de uma década de promessas, enfim, a duplicação do Caminho do Meio está prestes a sair do papel. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano enviou para a Central de Licitações (Celic) o edital que prevê a contratação da empresa que ficará responsável pela obra que será realizada em Viamão.

Nesta semana, o deputado estadual Valdir Bonatto (PSDB) ouviu do secretário Rafael Mallmann que o governo tenta que o processo de escolha seja aberto ainda neste ano. A expectativa do governo é que a duplicação poderá iniciar já no primeiro semestre de 2025.

A obra começará por Viamão porque a prefeitura foi a primeira a ter os projetos da obra aprovados pela Caixa Econômica Federal, que presta apoio às análises do material. O trecho a ser duplicado tem 11,4 quilômetros.

A prefeitura de Alvorada apresentou os estudos para a duplicação do seu trecho, de 4,3 quilômetros. Porém, o projeto recebeu ressalvas e solicitações de alterações pela Caixa. Dessa forma, a documentação está precisando ser revista, antes que seja possível iniciar a obra.

Promessa

Já o trecho de Porto Alegre, que tem 7,3 quilômetros, teve os projetos entregues pela prefeitura em novembro.

A obra na Capital é uma das promessas feitas por Sebastião Melo para o segundo mandato. E já há, inclusive, recurso separado para fazer parte da obra. O governo do Estado cadastrou uma proposta para captação de recurso federal e obteve a aprovação de R$ 25 milhões pelo PAC Mobilidade Urbana Sustentável - Mobilidade Grandes e Médias Cidades. _

ESTAMOS EM OBRAS

06 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Mercosul, UE e a vitória do multilateralismo

Ainda que a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) não garanta que o tratado se torne realidade, uma vez que há um longo caminho à frente, da revisão até a aprovação pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, já é possível traçar vencedores e derrotados. Tudo indica que o tratado será confirmado hoje. Alguns pontos a se observar:

a) Javier Milei muito ladra, mas não morde. Essa já era uma percepção na COP29, em Baku, quando ele retirou a delegação argentina da conferência para criar fato político, mas a ação em nada interferiu no documento final. No G20, o normalmente "bravo" Milei poderia ter se recusado a assinar o texto final que trazia pontos rejeitados por sua agenda "ultraliberal", mas, de novo, saiu quieto. Embora despreze o Mercosul, sabe que ruim com ele, pior sem ele.

b) Emmanuel Macron, presidente da França, o mais vocal dos líderes europeus contrários ao acordo com o Mercosul, perde a batalha. Seguirá buscando apoio de parceiros europeus até a ratificação do tratado, mas, neste momento, tem problemas domésticos demais para se preocupar.

c) Em última análise, diante de um mundo mais isolacionista, em que instituições internacionais são questionadas sobre sua efetividade, a união de dois grupos de países que encarnam o ideal liberal pós-Guerra Fria (ao menos em tese, com livre circulação de pessoas, bens e capital), a se concretizar, será uma vitória do multilateralismo. _

Ahn enfrenta os fuzis

A fracassada tentativa de golpe na Coreia do Sul produziu imagens icônicas, como a de uma manifestante que, indignada diante de militares enviados para barrar a entrada do público no parlamento, colocou a mão sobre o fuzil de um dos militares, gritou e o empurrou. Ela se chama Ahn Gwi-ryeong.

- Houve pessoas que conseguiram até parar blindados. Então, não acho que minhas ações foram particularmente especiais - disse Ahn à agência de notícias Reuters.

Ela é jornalista e trabalha como porta-voz do Partido Democrata, oposição ao governo de Yoon Suk-yeol, o presidente que decretou lei marcial e que, agora, virou alvo de impeachment. _

R$ 8,5 milhões para projetos de resiliência climática

A divulgação do projeto ocorreu ontem, durante cerimônia de abertura do 66º Fórum Nacional do Conselho Nacional de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), em Porto Alegre. Detalhes sobre a seleção pública das propostas serão conhecidos nos próximos dias, quando será publicado o edital de inscrições.

A chamada das propostas é voltada para empresas, organizações da sociedade civil, terceiro setor, universidades, entre outros. As soluções inscritas devem estar dentro do tema: "Adaptação climática em Ação: Natureza como Aliada" e "Ciência para a Adaptação Climática: Desvendando o Potencial da Natureza". Também necessitam ter envolvimento em ao menos um dos municípios atingidos pela enchente ou próximo deles.

A edição da Teia de Soluções - Resiliência Climática para o Rio Grande do Sul é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, o RegeneraRS, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul e a Fundação Araucária, com apoio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná. _

Encontro entre um rabino e um futuro cardeal

Em Roma, Guershon encontrou-se ontem com dom Jaime, que está hospedado no Colégio Pio Brasileiro, espécie de "casa" dos bispos brasileiros na capital italiana.

O encontro, a pouco mais de 48 horas da cerimônia de "posse" de dom Jaime como cardeal, foi cercado de emoção.

O rabino o presenteou com a Torá, o livro sagrado do judaísmo, em português e hebraico. Recebeu do arcebispo o convite para cerimônia no Vaticano.

- Queria ter esse momento de tranquilidade, fora do protocolo, informal, entre amigos - contou Guershon à coluna.

O rabino lembra que esteve na posse de dom Jaime como arcebispo, em novembro de 2013.

- Agora é uma honra para este rabino estar em sua posse como cardeal no Vaticano. É uma amizade de mais de uma década, construída com base no diálogo inter-religioso, que acabou transcendendo para uma amizade entre duas pessoas que têm um afeto enorme - acrescentou.

Segundo Guershon, dom Jaime lhe disse que "ainda não caiu a ficha". 

Dupla alegria

- Agora, tenho o livro autografado pelos dois autores. É uma honra - comemorou. 

A Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) foi a vencedora do Prêmio Vakinha Protagonistas, que reconheceu iniciativas realizadas por meio da plataforma. Durante a chuva de maio, a Firs realizou campanha de arrecadação de recursos chamada "Comunidade Judaica pelas Vítimas das Enchentes no RS".

INFORME ESPECIAL

sábado, 30 de novembro de 2024


30 de Novembro de 2024
MARTHA MEDEIROS

Bate-bola, jogo rápido

A bola é a metáfora perfeita para este assunto.

Talvez você conheça um homem que, mesmo sendo generoso e inteligente, não entendeu direito como funciona o mecanismo de dar uma, duas, três embaixadinhas com a palavra e passar a bola adiante. Ele retém a bola e dá 12, 20, 35 embaixadinhas, enquanto os parceiros aguardam de braços cruzados, e por vezes até desistem da brincadeira, se dispersando. A roda só se mantém quando todos têm o mesmo protagonismo, a troca precisa ser ágil.

Falo de conversas em grupo. Cinco pessoas, dois casais, três ímpares, um par, não importa. Ninguém pode reter a bola por muito tempo, ou o jantar desanda, a conversa entedia. A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento. Alguns segundos são suficientes, daqui a pouco a bola volta para você.

Vai à praia hoje? Observe.

Tenho absoluto fascínio pelos garotos que batem bola em círculo à beira mar. São os mestres da diplomacia, adolescentes já manifestando o adulto que serão. Todos com domínio de suas habilidades, sem a compulsão de reterem a bola a ponto de desprestigiarem os parceiros. Todos têm a mesma oportunidade de mostrarem seus dotes, sendo que o principal deles nem é a destreza, e sim a arte de conviver.

Mas e se você for um Gabigol entre amadores, um Vini Junior entre pernas de pau? Maior será sua dignidade ao se igualizar e manter a bola por pouco tempo em seus pés. O encontro nunca serve para projetar um só, e sim para confirmar a disponibilidade do grupo em repartir os holofotes e permitir que a verdade sobressaia: somos todos iguais, mesmo aqueles que parecem mais iguais do que os outros.

Meninas são craques em bate-bolas com tempo repartido, observe-as em bares e cafés: elas sabem que têm muito a dizer, e todas mantêm-se interessadas umas nas outras. Duas, três embaixadinhas falando de si mesmas, e passam a bola. Às vezes com uma ligeireza que induz a achar que falam todas ao mesmo tempo - ainda assim, todas têm a sua vez.

Meninos, não retenham a bola com exagero, não se concentrem tanto em si mesmos e em suas histórias prolongadas, aprendam a repartir. A bola logo voltará a seus pés. Joguem-na para frente com paciência e desprendimento, assistam a habilidade de quem está jogando junto e permitam que a vida seja divertida para todos. _

MARTHA MEDEIROS