segunda-feira, 13 de janeiro de 2025



13 de Janeiro de 2025
CARPINEJAR

Uma serial killer entre nós

Não tem quem não se assuste quando descobre que alguém sem antecedentes criminais, pacato, ordeiro, de sorriso fácil e de aparência inofensiva - um vizinho, um colega de trabalho, um conhecido, um cliente - é capaz de praticar crimes monstruosos.

É o caso da contadora Deise Moura dos Anjos, 42 anos, presa no domingo dia 5, sob acusação de quatro homicídios duplamente qualificados por motivo fútil e com emprego de veneno.

Em 23 de dezembro, seis membros de sua família adoeceram depois de consumirem um bolo durante o café da tarde em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul. Três das vítimas morreram de paradas cardiorrespiratórias.

Em setembro de 2024, o sogro de Deise morreu após ter comido bananas e um café com leite em pó, produtos entregues pela nora em uma visita. A exumação do corpo, feita na última semana, depois das mortes relacionadas ao bolo, confirmou o pior: o homem também havia sido envenenado.

Ou seja, Deise teria matado o sogro e, três meses depois, procurado intoxicar a sua sogra, Zeli. Na emboscada, precipitou o fim de três integrantes da própria família, com os quais mantinha inimizade e reservas. A Polícia Civil, munida de provas robustas, cogita que pode estar diante de uma serial killer.

E seria uma serial killer familiar, dizimando parentes a partir do uso de arsênio. Segundo reportagem do colega Humberto Trezzi, a suspeita já teria prometido matar o sogro e dito que a sogra veria toda a família em um caixão.

O que se assemelhava a insultos da boca para fora se mostrou um ardil macabro e premeditado. Casada com o filho de Zeli há cerca de duas décadas, residente em Nova Santa Rita, gestora financeira formada pela Universidade La Salle, Deise se encontrava desempregada, com disponibilidade para arquitetar seu plano diabólico, caracterizado por pedidos de desculpa fingidos para obter aproximação.

É difícil compreender os labirintos da mente de Deise, antever seu cemitério cerebral sendo construído, lápide por lápide.

Mesmo com as brigas declaradas, WhatsApp bloqueado pela sogra, inveja e ciúme da parte mais abastada do lar e discussões com o marido, a sua página no Facebook exibe apenas uma normalidade perturbadora. Não há mensagens óbvias de que ela estaria disposta a matar todos ao seu redor. O que sugere é que ela seguia a vida apesar dos problemas domésticos, como qualquer um de nós.

Como supor que uma pessoa que posta uma foto com a legenda "Minha família! Minha prioridade!" realizaria o contrário e liquidaria seus laços de sangue?

Existe um alto grau de dissimulação que nos choca. Um disfarce engenhoso, uma ambiguidade controlada, para enganar os mais próximos durante tanto tempo. Não por menos, ela menciona o vilão Coringa: "Quando for falar mal de mim, aproveita e fala todas as coisas boas que eu fiz quando você precisou". A princípio, pensava-se que era fã de quadrinhos.

Não por menos, uma de suas postagens fixadas é um texto de Santo Agostinho, dramatizado na novela global Bom Sucesso: "A morte não é nada, eu somente atravessei para o outro lado do caminho".

A princípio, pensava-se que era religiosa. Hoje, só hoje, entendemos o peso de cada uma de suas citações. Elas passariam despercebidas se Deise nunca tivesse sido incriminada. O que talvez ela tenha se esquecido de interpretar nos versos do santo, um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros séculos do cristianismo, é que os mortos, perto do Criador, são ainda mais poderosos para fazer justiça. _

CARPINEJAR

13 de Janeiro de 2025 
Cláudia Laitano

Duplipensar

Mark Zuckerberg ainda estava na barriga da mãe quando a Apple marcou época com o anúncio de um novo computador. Era o começo do ano de 1984 e alguém deve ter pensado que seria uma grande sacada contrapor o futuro cheio de possibilidades inaugurado pela era dos computadores pessoais à distopia totalitária imaginada por George Orwell em 1949. Ridley Scott, criador de Blade Runner (1982), foi chamado para dirigir.

Em uma tela gigantesca, vemos um sujeito que evoca a imagem do Big Brother dirigindo-se a uma plateia apática e cinzenta: "Hoje, celebramos o primeiro glorioso aniversário das Diretivas de Purificação de Informações. Criamos um jardim de pura ideologia onde cada trabalhador pode florescer, protegido das pragas que transmitem pensamentos contraditórios". O discurso é interrompido quando uma mulher lança um martelo em direção ao orador, explodindo a tela e rompendo o transe coletivo. A seguir, uma voz em off conecta a cena com o produto anunciado: "Em 24 de janeiro, a Apple apresentará o Macintosh. E você verá por que 1984 não será como 1984".

Corta para 2025. O feto na barriga de Kristen Zuckerberg é hoje um bilionário de 40 anos. A empresa que ele fundou é tão poderosa e ubíqua que qualquer pronunciamento seu soa como o discurso do presidente - não eleito - do mundo. Ao anunciar uma série de medidas para acabar com o programa de checagem de fatos da Meta, Zuckerberg não apenas abraçou a retórica trumpista com o entusiasmo de um cristão recém-convertido como deixou claro que está disposto a agir como presidente do mundo sempre que for bom para os negócios. Fatos? Cada um que escolha os seus.

"O mito é o nada que é tudo", nos lembra Fernando Pessoa. A mitologia original das big techs sempre foi a da liberdade de expressão. Um mundo em que todas as vozes pudessem ser ouvidas seria um mundo sem regimes totalitários, sem manipulação, sem Big Brothers. Faltou combinar com os russos - e com o resto da Humanidade.

O que se viu, com o passar dos anos, foram as redes sociais sendo transformadas em lucrativos cercadinhos em que a ração de realidade de cada um é distribuída conforme as decisões opacas de um algoritmo - a versão millennial do Big Brother, pode-se dizer. Ao associar-se a uma ideologia que censura livros, nega a ciência e tem zero interesse em proteger a diversidade de ideias ou a democracia, usando a defesa da "liberdade de expressão" como escudo, Zuckerberg acabou dando um exemplo prático de "duplipensar" (outra genial criação orwelliana): a arte de conciliar o inconciliável. _

LAITANO

13 de Janeiro de 2025
OPINIÃO RBS

Bravatas ou ameaças?

Antes mesmos de assumir seu novo mandato no comando do país mais poderoso do Ocidente, o recém- eleito presidente Donald Trump vem provocando sobressaltos nos aliados dos Estados Unidos com afirmações bombásticas. Só na semana passada, ele ameaçou anexar o Canadá ao território norte-americano e usar a força para se apropriar da Groenlândia e do Canal do Panamá. Insinuou ainda que o Golfo do México deveria se chamar Golfo da América, porque são os norte-americanos que fazem a maior parte do trabalho por lá.

A bazófia e os arroubos imperialistas do presidente eleito provocaram reações diplomáticas de toda ordem, que vão do sarcasmo à indignação. A presidente do México, por exemplo, lembrou que uma parte extensa do território dos Estados Unidos, incluindo a Califórnia e o Texas, pertencera a seu país até o século 19, antes de ser repassada ao vizinho. "Podemos chamá-la de EUA Mexicana. Soa bem, não é?" - ironizou a senhora Claudia Sheinbaum em entrevista coletiva.

As respostas de outras nações à provocação do norte-americano foram ainda menos amistosas. O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, escreveu: "Só se o inferno congelar o Canadá vai se tornar parte dos Estados Unidos, até mesmo porque os trabalhadores e as comunidades dos dois países se beneficiam sendo parceiros comerciais e de segurança um do outro". Já o ministro de relações exteriores do Panamá, Javier Martinez-Acha, afirmou que a soberania sobre o canal é inegociável e irreversível. 

Com a Dinamarca a situação é diferente: depois de dizer que a Groenlândia não está à venda, o governo dinamarquês foi avisado por assessores de Donald Trump de que o presidente está falando sério e que deseja efetivamente negociar o assunto. Em consequência, o ministro dos negócios estrangeiros dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, já sinaliza que seu país está aberto ao diálogo.

Todas essas questões deveriam mesmo ser resolvidas pelo diálogo e pela diplomacia. O mundo não precisa de mais conflitos. Embora certas manifestações trumpistas possam ser consideradas apenas bravatas inconsequentes, o cargo que ele ocupará tem o potencial de transformar palavras em ação. Basta lembrar que pronunciamentos irresponsáveis no final de seu mandato anterior levaram seus apoiadores a invadir e depredar a sede do poder legislativo do país.

As palavras têm poder, especialmente quando saem da boca de uma liderança política da dimensão do presidente norte-americano. Ainda que tenha sido reeleito legitimamente pela maioria dos representantes da população de seu país, Trump não tem o direito de transformar a maior democracia do Ocidente num império expansionista nem de colocar em prática uma política externa baseada em intimidações e ameaças. Melhor que sejam apenas bravatas. A humanidade já está suficientemente preocupada com os conflitos bélicos em andamento e com os sucessivos desastres ambientais provocados pelas mudanças climáticas. _

Os arroubos imperialistas do presidente eleito dos EUA provocaram reações diplomáticas de toda ordem


13 de Janeiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Respostas capitais

Iná Jost

Coordenadora de pesquisa do InternetLab, centro independente de pesquisa interdisciplinar que promove debate e produção de conhecimento em direito e tecnologia aplicados à internet

"Nossa vida é efeito do poder econômico que as plataformas têm"

Advogada formada pela UFRJ, Iná Jost integrou por quatro anos o departamento eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), coordenando missões de observação eleitoral nas Américas. Trabalhou como pesquisadora do laboratório Latinno, iniciativa que mapeia inovação democrática na América Latina.

Qual deve ser o efeito da mudança da política de checagem da Meta?

A primeira questão é que a Meta vinha, desde 2016, incrementando a política de moderação de conteúdo de modo a desfavorecer discursos de ódio, machistas, misóginos. Vinha em evolução. Havia reclamação e muito a melhorar, mas fez diferença. Um exemplo é a política sobre desinformação na área de saúde. Na pandemia, a Meta mudou e agregou essa política. Não existem dados sobre o resultado, mas foi importante quando as pessoas achavam que iam virar jacaré tomando vacina.

Isso deve desaparecer?

O comunicado fala em simplificação. Na prática, significa a retirada desses filtros criados nos últimos oito anos e mais permissividade em relação a muitos conteúdos. Não acredito que isso seja parte da liberdade de expressão. São discursos violentos que, ao contrário, reduzem a liberdade de expressão de outras pessoa, de grupos minoritários.

Como se manifesta?

A política já permite, por exemplo, a equiparação de mulher a propriedade. São genéricas, porque não há como prever todo conteúdo que vai circular. Para demonstrar a aplicação, as plataformas incluem exemplos que mostram como aplicar. Como é um discurso muito violento, estava incluído e foi retirado do exemplo, o que significa que está permitido. Outro exemplo retirado é a equiparação de pessoas trans a ?freak?, que em inglês é ?louco?, ?surtado?. É ainda pior do que doença mental, porque é uma palavra muito pejorativa. Isso ilustra para onde o vento vai soprar.

O que não era bom vai piorar?

Diante dessa mudança muito radical parece que o cenário anterior era ideal, e não era. Os filtros que existiam poderiam ser um problema e censurar de maneira errada, mas sua retirada piora muito. No jargão, a gente fala em "falso positivo", quando um conteúdo é retirado e não deveria, e "falso negativo", quando fica mas é problemático. Acontecia direto. A empresa tem um enorme desafio logístico, administra uma enxurrada de conteúdo. Mas ao menos existia uma tendência de colaborar com autoridades locais, contratar checadores locais.

Quando chega ao Brasil?

Quando, não se tem ideia. Mas parece estar desenhado para os próximos meses, talvez nos próximos anos. Promete ser uma escalada global, porque a Meta deixou claro que tem interesse em escalar.

Com a União Europeia (UE) quase isolada na regulação, vai se consolidar o "vale tudo" nas redes?

Não diria que a UE está isolada. A regulação importa e é um exemplo dentro de seus parâmetros e contexto. Mas vejo problema no discurso de trazer o DSA (Digital Services Act, nome da lei da UE aprovada em 2022) ao Brasil. Tem história e estrutura regulatória muito diferentes das nossas. É um grande exemplo, mas específico e local. E está em período probatório. Cada país tem muito o seu contorno.

Qual a chance de regulação no Brasil?

Existia forte vento do governo soprando a favor da regulação. Mas o Congresso é ruim de roda. Será difícil obter acordo político viável. O lobby das redes é muito forte, e o Congresso não está interessado, ou melhor, está interessado em não abordar o assunto. A Unesco tem diretrizes para regulação de plataformas. Mas depende muito da articulação com o Congresso.

Se quem vê às vezes os vídeos de Mark Zuckerberg se surpreendeu, qual a reação da comunidade digital?

Foi desconcertante. Nunca fui checadora, mas conversei com alguns e entendi que a Meta tinha um programa de padrão- ouro. Tem parceiros locais que recebem o conteúdo denunciado, checam e devolvem um link verificado. A plataforma decide se retira ou não. Mark fez confusão deliberada entre moderadores e checadores, deu a ideia de que estão interferindo. Mas quando devolvem o link, perdem o controle do que vai acontecer. 

Muita gente dos direitos digitais é cética sobre checagem porque é trabalho de formiga. É até ingênuo achar que vai resolver. Mas melhora o nível do que circula nas plataformas, dá ao usuário o direito de ver as checagens. Quem recebe conteúdo dizendo que Lula morreu depois da queda no banheiro pode receber um link verificado e pode ser que clique. É um direito.

O X perdeu relevância sob Elon Musk. As redes de Zu- ckerberg correm esse risco?

Algumas pessoas podem sair, ou deixar de usar. Mas a gente fica muito vendido. Nossa vida é um efeito do poder econômico que as plataformas têm, inclusive do monopólio. A mesma empresa é dona de aplicativo de mensagens, plataforma de texto e outra de conteúdo, além de inteligência artificial que responde a temas delicados, sobre política, por exemplo. São muitos serviços que uma mesma empresa domina. O Brasil é um mercado importante e tem usuários muito engajados, mas é difícil ter impacto financeiro grande a ponto de rever a mudança. É um mercado em reais, o que reduz seu peso. Diante de moeda mais desvalorizada, fica mais barato. E se comparar com o mercado nos EUA, então...

Se a decisão foi provocada pela reeleição de Trump, pode mudar de novo em quatro anos?

Nunca diga nunca. Pode mudar, como já mudou. As decisões corporativas são sempre muito pautada nas razões econômicas. E esse liberou geral interessa aos cofres das empresas. Como pessoa física, acho difícil voltar a pasta de dente para o tubo. 

GPS DA ECONOMIA

13 de Janeiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

PSDB deve se fundir com PSD ou MDB

Assim que retornar das férias, no dia 16, o governador Eduardo Leite mergulhará nas articulações para as eleições de 2026. O plano de concorrer a presidente da República segue mais vivo do que nunca, mas Leite sabe que o PSDB deixou de ser um partido competitivo e, por isso, conta com a fusão com o PSD (preferência da maioria dos tucanos) ou com o MDB, desejo do atual presidente nacional, Marconi Perillo.

Em queda livre desde 2018, quando seu candidato Geraldo Alckmin ficou em quarto lugar, com apenas 4,76% dos votos, o PSDB afundou de vez em 2022, depois de João Doria derrotar Leite na prévia e desistir da disputa no meio do caminho. Alckmin saiu do partido, foi para o PSB e hoje é vice-presidente da República. Restou aos tucanos indicar a vice de Simone Tebet, Mara Gabrilli, que em 2023 migrou para o PSD.

De perda em perda, o partido foi murchando e hoje tem apenas três governadores. Além disso, foi mal na eleição municipal e não tem sequer perspectiva de se manter no poder no Rio Grande do Sul a partir de 2027, já que o acordo firmado com o MDB prevê o apoio ao vice-governador Gabriel Souza.

Em caso de o PSDB se fundir com o PSD de Gilberto Kassab, Leite poderia ser candidato a presidente contando com uma estrutura que foi vencedora na eleição de 2024 e conquistou o maior número de prefeitos. Para isso, será preciso que o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), opte por disputar a reeleição. O PSD está no governo de São Paulo, e Tarcísio seria o candidato preferencial de Kassab.

Ocorre que para ser candidato Tarcísio precisa ter certeza do apoio de Jair Bolsonaro, mas ele, mesmo estando inelegível, insiste que estará na disputa. O governador teria de renunciar no início de abril de 2026, sem ter certeza de que terá o apoio do Bolsonaro. Para concorrer à reeleição, como favorito, pode continuar no cargo. O PSD tem outros governadores, como Ratinho Júnior, do Paraná, mas aliados de Leite acreditam que Ratinho será candidato ao Senado.

Leite não tem nada a perder. Está no segundo mandato e pode concorrer ao Senado, mas sua preferência é pelo Executivo. Caso se confirme a fusão com o PSD, ele tanto pode ser candidato a presidente como a vice. _

Aliás

MDB e PSD integram o governo Lula, mas são pragmáticos: só apoiarão a reeleição do presidente ou de um candidato do PT se tiverem elementos para concluir que ele é favorito para vencer. Do contrário, terão seu próprio nome ou apresentarão o vice de um concorrente forte. Nas pesquisas de hoje, Lula aparece como o candidato mais forte, mas seu futuro depende da saúde e do desempenho da economia.

O nome que o MDB tem para concorrer ao Planalto é o de Simone Tebet, que participa do governo Lula e teria dificuldade para fazer oposição ao atual presidente ou ao ministro Fernando Haddad, sua dupla na equipe econômica.

Melo aposta em choque de limpeza para melhorar zeladoria na Capital

Criado em 2021, no primeiro mandato, o programa Mais Comunidade é a aposta do prefeito Sebastião Melo para melhorar os serviços de zeladoria em Porto Alegre, um ponto fraco na sua primeira gestão. Neste fim de semana, o bairro escolhido foi o Guarujá, na Zona Sul, onde o prefeito chegou acompanhado da primeira-dama, Valéria Leopoldino, de secretários, técnicos, vereadores e conselheiros do Orçamento Participativo.

Em uma espécie de mutirão, foram executados serviços de limpeza, pintura, capina, poda, roçada, tapa-buracos, recolhimento de fios soltos e fiscalização. Cerca de 60 garis atuaram com o auxílio de três caminhões em um grande mutirão de capina e roçada.

O programa Linda Orla Limpa, do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), realizou atividade de educação ambiental sobre o descarte de resíduos recicláveis na praia do Guarujá.

O secretário de Serviços Urbanos, Vitorino Baseggio, informou que as equipes vão permanecer trabalhando no bairro durante duas semanas:

- Estamos integrando os serviços de várias secretarias. Pretendemos estender esta ação para os demais bairros, promovendo um impacto inicial, para depois podermos manter a zeladoria.

Melo tem dito que não basta a prefeitura limpar. Que, se queremos uma cidade limpa, a população precisa entender que não pode sujar.

- O objetivo do programa é ouvir as comunidades e encaminhar soluções - disse o secretário de Governança, Cassio Trogildo, coordenador do programa que já visitou 110 localidades em quatro anos. 

Centros Humanitários serão fechados até junho

Montados como alternativa para acomodar os desabrigados pela enchente de maio, os Centros Humanitários de Acolhimento (CHAs) remanescentes em Porto Alegre e Canoas serão desmontados até o final do primeiro semestre deste ano.

O vice-governador Gabriel Souza, que articulou com a Organização das Nações Unidas (ONU) a montagem dos centros, diz que os CHAs tiveram papel importante para dar dignidade às pessoas que estavam nos abrigos, mas agora o governo tem opções.

Parte dos desabrigados irá para moradias provisórias, outra parte para as casas definitivas.

- O governo federal garantiu que todas as pessoas de baixa renda que perderam suas casas com a enchente teriam casas, mas as entregas estão atrasadas. Se não fossem os CHAs, essas pessoas ainda estariam em abrigos - afirma Gabriel.

Hoje, Gabriel e o secretário de Habitação, Carlos Gomes, farão visita técnica ao local onde estão sendo instaladas as primeiras 80 moradias temporárias de Porto Alegre. _

Vereadora levanta teoria conspiratória contra STF

Estreante na Câmara Municipal de Porto Alegre a vereadora Mariana Lescano pagou seu primeiro mico ao postar na rede social X uma suspeita infundada sobre o Supremo Tribunal Federal e receber uma resposta sucinta dos administradores do perfil do Supremo.

A policial escreveu: "DAS DUAS, UMA... Moraes exigiu que Bolsonaro apresentasse o convite de Trump. E 127 segundos depois do documento ser publicado no STF, a Globo já divulgou o doc com matéria completa. Ou Moraes vazou pra Globo antes, ou a Globo tem jornalistas a frente do tempo e com bola de cristal. E aí, o que tu acha que aconteceu? Nós sabemos..."

No próprio post, o perfil oficial do STF respondeu: "Informamos que a decisão foi divulgada pela assessoria de imprensa do STF ao mesmo tempo para todos os veículos jornalísticos credenciados no tribunal". 

POLÍTICA E PODER


13 de Janeiro de 2025
EM FOCO

Lei que restringe celulares em escolas será sancionada hoje

Uso do telefone móvel passará a ser limitado no ambiente escolar, inclusive nos intervalos e recreios. Expectativa é de que novas regras passem a vigorar já no ano letivo de 2025. Deputado federal autor de proposta diz que objetivo é dar respaldo aos colégios e que é necessário entender a realidade de cada local

Sofia Lungui

Deve ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na tarde de hoje, a lei que restringe o uso de celular nas escolas públicas e privadas do país. A proposta, de autoria do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), foi aprovada pela Câmara e o Senado em dezembro, após nove anos tramitando no Congresso.

A cerimônia está marcada para as 15h, no Palácio do Planalto, em Brasília, com a participação de parlamentares envolvidos na tramitação da medida. A expectativa é de que Lula sancione o texto sem vetos e que as novas regras passem a vigorar já no ano letivo de 2025.

A legislação será regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC). Pela lei, o uso de celular passa a ser limitado no ambiente escolar, inclusive nos intervalos e recreios. Será permitido apenas para fins pedagógicos e para garantir acessibilidade a estudantes com deficiência, ou em casos de violência no entorno da instituição.

Orientações

O porte será vedado apenas aos alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º a 5º ano), com exceção para casos de inclusão ou acessibilidade. Para alunos de Ensino Médio e anos finais do Ensino Fundamental (6º a 9º ano), será possível levar o celular para a escola, mas o dispositivo deve ficar guardado na mochila ou em outro local.

Conforme Alceu Moreira, o objetivo é dar respaldo às escolas para que possam restringir o uso dos dispositivos, caso sintam necessidade. Ele destaca que é necessário entender a realidade de cada local:

- A legislação autoriza que não se permita a utilização, ninguém pode tirar a autoridade dos professores no recinto escolar. Mas terá de haver diálogo. A lei estabelece que o telefone não deverá ser utilizado. A palavra proibição é muito pesada. É preciso conversar, mostrar para as pessoas que a legislação não é para proibir, mas sim proteger os alunos.

A legislação orienta que o aparelho não seja utilizado nem mesmo no recreio. Segundo a psicóloga e especialista em uso de telas Sofia Sebben, as escolas devem implementar as novas medidas gradualmente.

Outra medida a ser tomada pelos colégios é garantir que haja profissionais dispostos a acolher os alunos, uma vez que abandonar repentinamente o uso do celular pode trazer sofrimento para alguns.

- Para aqueles adolescentes que vinham utilizando bastante o celular, será mais desafiador. Nessa fase, o cérebro está a todo vapor, e mudar um hábito assim, do dia para a noite, pode ser complicado. É importante que as escolas e as famílias auxiliem nessa adaptação - explica.

Leitura

Para Sofia, uma boa dica é que as instituições e os familiares incentivem que as crianças e jovens despertem o interesse por outras atividades para além do tempo nas telas, como leitura e esportes. Nas escolas, é importante criar espaços atrativos aos adolescentes, para que não sintam tanta falta do celular.

É o caso do colégio Arthur da Costa e Silva, de Capivari do Sul, no Litoral Norte. Mesmo com o celular liberado nos intervalos, como os estudantes já se acostumaram a utilizar menos o aparelho, costumam aproveitar o recreio para outras atividades, como jogar vôlei, tocar violão e conversar com os colegas. _

"No início, houve resistência, mas agora se acostumaram"

O assunto vem gerando discussões por parte de especialistas, profissionais da educação, mães e pais de estudantes, tendo em vista que os celulares são muito presentes em sala de aula. O entendimento é de que será um desafio implementar a lei e aderir às restrições. Na prática, algumas escolas já contam com regras próprias para controle do uso do aparelho.

É o caso da Escola Estadual de Ensino Médio Arthur da Costa e Silva, de Capivari do Sul, que limita o uso do aparelho desde 2022. De acordo com a diretora Sinara Araujo da Silveira Famer, após a pandemia, os gestores perceberam que o uso dos dispositivos eletrônicos por parte dos alunos estava sendo excessivo e prejudicava a aprendizagem. Por isso, sentiram a necessidade de impor limites.

A instituição adquiriu caixas para colocar nas salas de aula. Assim que entram no recinto, os estudantes precisam deixar o celular na caixa.

Acordo

Mas eles podem usar os dispositivos em outros espaços do ambiente escolar, inclusive nos intervalos. A medida vale para alunos de todas as idades.

- No início, houve resistência, mas agora eles se acostumaram. Quando um aluno acaba desrespeitando a regra e insiste, após a terceira advertência, o professor tira o celular dele e entrega para a direção. A direção só entrega o celular para o responsável do aluno, que precisa vir buscar. Tudo isso foi acordado junto à comunidade escolar - diz a diretora do colégio, que conta com 277 alunos. _

"Após a terceira advertência, o professor tira o celular dele e entrega para a direção."

Sinara Araujo da Silveira Famer

Diretora da Escola Arthur da Costa e Silva, de Capivari do Sul

"É importante que as escolas e as famílias auxiliem nessa adaptação.

Sofia Sebben - Psicóloga e especialista em uso de telas


13 de Janeiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O que a tragédia do bolo ensina

Enquanto os gaúchos não conseguem desgrudar os olhos do caso do envenenamento em série, em Torres, dois temas são urgentes para que, como sociedade, possamos tirar algum aprendizado de toda essa tragédia. O primeiro é sobre a necessidade de revisão dos protocolos hospitalares a respeito de óbitos decorrentes de intoxicação alimentar.

A polícia chegou a comentar sobre o assunto na coletiva de sexta-feira, após a análise que comprovou que o sogro da suspeita também morreu devido ao arsênio. Ora, o corpo só pode ser exumado e periciado porque não fora cremado em setembro.

Claro, não havia qualquer tipo de investigação ou suspeita de envenenamento no momento da morte daquele homem. Mas, se ficasse comprovado o óbito, ainda no hospital, devido à ingestão de arsênio, os novos assassinatos teriam sido evitados.

Outro ponto que a tragédia familiar levanta é a facilidade a que se tem acesso a arsênio no Brasil. Devido ao grande risco de contaminação acidental, a substância tem venda controlada e é proibido como raticida. No entanto, uma rápida pesquisa na internet leva a conhecidos sites de comércio digital para a compra do produto. E por um preço bem baixo. _

Apenas nas duas primeiras semanas de janeiro, já há três datas que marcam temas relacionados à defesa da democracia: a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, os dois anos dos ataques de 8/1 e, na próxima quarta-feira, os 40 anos da eleição de Tancredo Neves.

Quem mais foi à posse do ditador da Venezuela

Além da embaixadora Gilvânia Maria de Oliveira, que compareceu à posse do ditador Nicolás Maduro, em Caracas, representando oficialmente o Brasil, integrantes da esquerda estiveram na solenidade: o historiador Valter Pomar e a psicóloga Monica Valente, secretários-executivos do Foro de São Paulo, Camila Moreno, que atuou na coordenação do Ministério da Educação durante o governo Dilma Rousseff, e Vera Lúcia Barbosa, ex-secretária de Movimentos Populares do PT. O MST também enviou comitiva composta por cinco integrantes, entre eles João Pedro Stédile. _

Experiência gaúcha na Academia de Lisboa

Com vasta experiência e prática, o coordenador do curso de especialização em Direito Penal da PUCRS, Marcos Eberhardt, vai integrar o corpo docente da pós-graduação da Universidade Autónoma de Lisboa, em Portugal.

Ele ministrará o curso de "Prova e Garantismo Penal", que começa em 3 de fevereiro. As aulas foram projetadas para quem deseja aprofundar o conhecimento sobre matéria probatória no âmbito do processo penal garantista. _

Entrevista

"O antissemitismo vem da ignorância"

Daniela Russowsky Raad

Presidente da Federação Israelita do Rio Grane do Sul

Aos 34 anos, a advogada Daniela Russowsky Raad é a nova presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs). Ela é a mais jovem dirigente da instituição e a segunda mulher. Descendente de árabes e judeus, Daniela conversou com a coluna sobre seus planos à frente da entidade.

? Como a sua descendência contribui para a sua visão de mundo?

Meus avós por parte de pai eram libaneses, vieram para o Brasil em 1948. Eram cristãos maronitas. Por parte de mãe, tenho uma família judia. Meus bisavós vieram para cá, para o Brasil, fugidos da região da Bielorrússia, naquela onda imigratória para as colônias do interior do Rio Grande do Sul, para Philippson, especificamente. Tanto da parte libanesa da família quanto da judia, valorizamos muito o respeito às pluralidades. Também prezamos muito pela educação. Isso me forjou como pessoa.

? Está havendo renovação na presidência da Firs?

Gosto de pensar como uma continuidade. Quando se vê alguém jovem, isso remete a uma ideia de ruptura. Não é como eu vejo. É uma diretoria que, na média de idade, todos são relativamente jovens. Mas, ao mesmo tempo, para se chegar a uma diretoria como essa, existe um trabalho de muito tempo. Sobre o fato de ser mulher, a gente teve Matilde Gus, a outra presidente, muitos anos atrás, que fez um trabalho maravilhoso e que é uma inspiração. Temos movimentos na comunidade muito fortes que trabalham com o social e com a caridade. Foram sendo plantadas sementes que vão gerando frutos. Hoje, eu estar aqui (na presidência), como jovem e mulher, é resultado do trabalho de pessoas que foram plantando, deixando um espaço para desenvolvimento, para que a gente quisesse vir também e continuar esse trabalho.

Você era vice-presidente. Também, nesse sentido, é uma continuidade?

Comecei como voluntária na Firs aos 19 anos, mas na diretoria estou há quatro anos. No último ano, eu era vice. Foi uma sucessão bem-feita. O Márcio Chachamovich, o antigo presidente, fez um trabalho incrível. Não teve uma renovação completa da diretoria.

Como você pretende tratar o tema do antissemitismo?

O antissemitismo não é novo. Achar que surgiu nos últimos anos é ingenuidade. Sempre existiu. É uma forma de ódio, de preconceito, de racismo. Infelizmente, isso existe e dificilmente a gente consegue se livrar. A gente contém o antissemitismo, trabalha para que não se propague. A Conib (Confederação Israelita do Brasil) criou um sistema de mapeamento nacional que mostra que, no último ano, houve aumento de quase 70% de denúncias no país. Isso só faz com que a gente tenha de trabalhar de forma ainda mais firme para combater o ódio. O antissemitismo, a meu ver, vem, em grande parte, devido à ignorância.

Como combater?

Acredito que educação e informação são as melhores formas. Esta gestão está comprometida com isso.

Como vê a importação, no Brasil, do tema dos conflitos no Oriente Médio, em geral com uso político e ignorando as complexidades daquela região?

Precisa ser evitada. A gente não tem de trazer o conflito para cá. A comunidade judaica é conhecida. Completamos, no ano passado, 120 anos da imigração judaica para o RS. Nesse período, a comunidade judaica foi mais do que acolhida e mais do que abraçou. Ela se integrou a todas as outras comunidades no Estado. Isso é o que temos de olhar: para essa construção conjunta. Hoje em dia, pessoas antissemitas querem disseminar algum ódio contra os judeus e o fazem, muitas vezes, mirando Israel. Chamamos de roupagem do antissionismo. É necessário quebrar estereótipos, preconceitos, de achar que a comunidade judaica tem um perfil único. Isso não existe. A comunidade é plural, diversa politicamente. É preciso valorizar o respeito ao próximo, à vida, à tolerância ao outro, ao diferente. 

INFORME ESPECIAL

sábado, 11 de janeiro de 2025

08/01/2025 - 17h35min
Sofia Lungui

Hospital Moinhos de Vento formaliza pedido para abrir curso de Medicina no Rio Grande do Sul 

Solicitação foi protocolada junto ao Ministério da Educação. Para iniciar as atividades, é necessário aguardar autorização do governo federal, que ainda não tem previsão 

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

A solicitação foi protocolada junto ao MEC.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

A Faculdade de Ciências da Saúde do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, formalizou pedido para abrir um curso de Medicina no Rio Grande do Sul. A solicitação foi protocolada junto ao Ministério da Educação (MEC). Para que as atividades iniciem, é necessário aguardar os trâmites regulatórios determinados pelo governo federal para abertura do curso, conforme informou o hospital. 

O MEC está analisando a solicitação e ainda não há previsão para a aprovação do pedido. Nesta semana, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) uma portaria anunciando que a Faculdade Moinhos recebeu habilitação do MEC para “solicitar o protocolo do pedido de autorização do curso de Medicina”.

No entanto, de acordo com esclarecimentos do MEC à reportagem, isso não significa que o curso esteja autorizado. Conforme nota enviada pela pasta, “a habilitação não equivale à autorização para o funcionamento do curso de Medicina e não enseja a garantia de autorização do curso”. 

A habilitação atesta que a Associação Hospitalar Moinhos de Vento, mantenedora da faculdade, cumpre com exigências necessárias para obter essa certificação. Entre os requisitos estão: ter as condições necessárias para residências médicas em diferentes áreas, ter número mínimo de leitos de emergência e ter convênio com a rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) no município da unidade hospitalar.

Somente após a conclusão da análise do pedido, caso o pedido seja aprovado, será emitido o ato autorizativo que permitirá o início das atividades do curso. A partir da publicação dessa autorização, devem ser iniciadas as atividades do curso em um prazo de no mínimo três meses, e no máximo de 12 meses, conforme o MEC.

Questionado, o Hospital Moinhos de Vento informa que aguarda os trâmites regulatórios determinados pelo MEC para abertura do curso. A possibilidade de aprovação já havia sido anunciada pelo então ministro da Comunicação, Paulo Pimenta à Rosane de Oliveira.

Em nota, o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias, defende que as novas faculdades de Medicina devem oferecer todos os pré-requisitos para que a formação dos alunos seja adequada para o futuro da profissão.

"Para cada faculdade, com condições que venha a ser aberta, é fundamental que o mesmo número de vagas seja fechada em faculdades que não oferecem o mínimo necessário para uma formação acadêmica correta. Nós temos que olhar para a Medicina para o futuro e onde nós vamos precisar de médicos qualificados, com capacidade de atendimento e com uma boa formação", afirma Matias.

11/01/2025 - 05h00min
Marcelo Gonzatto

Casas resistem ao avanço dos arranha-céus e preservam estilo de veraneio "raiz" no Litoral Norte

Pátio com grama, móveis antigos e quinquilharias na garagem são algumas das características que ecoam verões passados nas praias gaúchas, mesmo em zonas cada vez mais urbanizadas

Duda Fortes / Agencia RBS

Imóvel na Avenida Fernando Amaral, em Tramandaí, prensado entre dois prédios altos erguidos nos últimos anos.

Mesmo diante do avanço irrefreável de prédios altos e condomínios fechados no Litoral Norte, nas zonas centrais de praias como Tramandaí há casas que teimam em preservar um estilo "raiz" de veraneio. Com varandas sombreadas, brinquedos infantis espalhados pelo pátio e garagens cheias de objetos antigos, elas resistem às pressões imobiliárias alicerçadas nas memórias afetivas de seus proprietários — que não abrem mão dos imóveis onde, a cada ano, mantêm a tradição de verões passados.

Em todo o lado Sul da famosa Avenida da Igreja, no Centro, restou uma única casa de veraneio em meio aos edifícios e estabelecimentos comerciais. De propriedade da professora aposentada Ângela Elisabeth Kuwer Rothen, 69 anos, e de sua irmã, Leda Brenner, a moradia em si é uma relíquia familiar a céu aberto.

— Quando meus pais precisaram desmanchar a casa deles em Sapiranga porque perderam um pedaço do terreno, trouxeram toda ela para Tramandaí e a reconstruíram nesse terreno, comprado em 1957, tijolo por tijolo — revela Ângela.

A família de veranistas, que inclui três filhas da professora e dois netos, de sete e de quatro anos, além de quatro cachorros, já perdeu a conta de quantas ofertas milionárias recebeu nos últimos anos para vender o imóvel. Todas recusadas prontamente.

— Estamos na quarta geração veraneando aqui. Sentamos no pátio, fazemos uma roda de chimarrão e, quando passa um conhecido aqui pela frente, entra e toma um chimarrão com a gente — conta uma das três filhas de Ângela, a nutricionista Renata Elisabeth Rothen, 40 anos.

Como em muitos outros endereços de perfil semelhante, objetos que não têm espaço nas moradias citadinas conseguem abrigo definitivo no litoral. No caso da família Rothen, isso inclui pequenas esculturas de uma galinha e três pintinhos que decoram o pátio junto à cerca de tela.

— Não deu para ficarem em Sapiranga, então colocamos aqui. As crianças passam na calçada e adoram — complementa Renata.

Terreno foi adquirido nos anos 1950, e a casa veio desmontada de Sapiranga.

Duda Fortes / Agencia RBS

Pátio dos Rothen tem grama, cachorro e brinquedo de criança.

Duda Fortes / Agencia RBS

Ângela, à direita, com as filhas e a neta Maria Isadora, quatro anos.

Duda Fortes / Agencia RBS

Local já recebeu quatro gerações da mesma família em Tramandaí.

Duda Fortes / Agencia RBS

Casa prensada entre arranha-céus

Não muito longe dali, até quatro ou cinco anos atrás a casa de alvenaria cor salmão situada na Avenida Fernando Amaral era apenas mais uma propriedade térrea entre as vias Almirante Tamandaré e Marcílio Dias. Agora, está literalmente espremida entre dois arranha-céus. Rachaduras chegaram a aparecer nas paredes do imóvel onde, há décadas, o designer gráfico Rodrigo Vianna Lauer, 49 anos, e Vera Freitag Muller, 87, passam os verões juntos.

Neste ano, Vera — que considera Rodrigo como um filho de criação — ainda não conseguiu rumar para a praia por questões de saúde. Mas o designer mantém o espaço ao gosto da veranista à sua espera: na cozinha, onde cortinas brancas e azuis na janela combinam com as lajotas igualmente azuladas na parede, se destacam um antigo fogão Wallig e tradicionais potes de cerâmica para café, farinha, açúcar e feijão sobre uma bancada de fórmica.

O interior é repleto de raridades como uma caixa amplificada Cadensa Amplisom SA 400, de 4 watts, modelo à venda nos anos 1970 que ainda é usado para ouvir música.

Rodrigo Vianna Lauer com foto mais antiga da casa localizada na Avenida Fernando Amaral.

Duda Fortes / Agencia RBS

Muro baixo que costumava caracterizar as casas de veraneio décadas atrás.

Duda Fortes / Agencia RBS

Cozinha guarda as mesmas características de meio século atrás.

Duda Fortes / Agencia RBS

Dois prédios altos foram construídos de cada lado da casa nos últimos anos.

Duda Fortes / Agencia RBS

— É, realmente, uma demonstração de resistência — resume o designer.

Objetos guardam memórias afetivas

A cadeira de couro surrado onde todos os dias se recosta a veranista Carmen Lúcia Flores Machado, 66 anos, para bater papo com os três filhos ou vigiar as brincadeiras dos cinco netos, tem permanência garantida na varanda da propriedade localizada na Avenida Protásio Alves, em Tramandaí.

Sobre o mesmo couro marrom rasgado, sentou-se durante décadas o pai de Carmen, Guaracy Machado, falecido há quase 20 anos.

— Ele levantava, sentava aqui e tomava um chimarrão. O pessoal passava na frente e dizia "Oi, seu Guaracy!". Dali um pouco, a mãe trazia a caipirinha, e aqui ele ficava. Depois ia para a praia — conta Carmen.

Os netos, agora, brincam de subir e deslizar pelos pilares do alpendre da mesma forma como a veranista se divertia há mais de 50 anos.

— A gente até se emociona, porque nós fazíamos isso, e o pai dizia: "cuidado!" — relembra Carmen, com a voz trêmula.

Casa de veraneio da família de Carmen Lúcia Flores Machado.

Duda Fortes / Agencia RBS

Veranista costuma sentar na mesma cadeira em que o pai passava boa parte do dia.

Duda Fortes / Agencia RBS

Cortinas de crochê na sala, onde uma antiga mesa redonda de fórmica recebe as refeições.

Duda Fortes / Agencia RBS

Veranista planta hortênsias no pátio, hábito que herdou dos pais.

Na garagem, um Corcel II, ovos e um colchão

Casa de veraneio raiz de verdade não pode deixar de ter uma característica: uma garagem repleta dos mais variados itens — nem todos eles ainda úteis ou em uso. O imóvel de madeira azul localizado na Rua Jorge Sperb, na verdade, é tanto moradia para Zenith Souza, 76 anos, quanto imóvel de temporada para os familiares que, nos meses mais quentes do ano, rumam para o local a fim de aproveitar os dias de sol e calor.

No quarto, uma velha TV de tubo garante a audiência das novelas e telejornais. Nas paredes, se dependuram peixes decorativos, um pequeno relógio de madeira, fotos esmaecidas.

Corcel II deixou de circular para armazenar compras e materiais da casa.

Duda Fortes / Agencia RBS

Zenith Souza diz que não pretende se desfazer do imóvel onde a família passa o verão.

Duda Fortes / Agencia RBS

Antiga TV de tubo no quarto de paredes de madeira pintadas de rosa.

Duda Fortes / Agencia RBS

Antigo relógio de parede, feito de madeira, é uma das peças de decoração.

Na garagem, resta um Corcel II de pneus murchos convertido em uma espécie de móvel de despensa. No banco do carona, repousa um conjunto de rolos de papel higiênico. Sobre o capô, está uma embalagem com 30 ovos, fios enrolados, sacos plásticos. Na parede, se sustenta uma velha secadora de roupas que, segundo Zenith, ainda funciona perfeitamente, próximo de um par de escadas.

— Uma prima minha já disse que iria jogar tudo fora e comprar tudo novo. Mas esse é o tipo de decoração que eu gosto. Fui criada assim — justifica Zenith, que não troca suas paredes de tinta já um pouco descascada nem por uma cobertura.

11/01/2025 - 06h00min
Fabricio Carpinejar

Relacionamento com o padre

Leitora conta que o sacerdote da cidade mantinha um relacionamento com ela e com outra mulher ao mesmo tempo. Leitora de GZH compartilha que teve um caso com o padre de sua cidade por três anos. No entanto, descobriu que ele tinha uma relação com ela e com uma outra mulher, ao mesmo tempo.

Ao descobrir que o sacerdote estava em dois relacionamentos, ela buscou entrar em contato com a envolvida. Mas como troco, foi bloqueada pelo homem, que continuou o relacionamento com a outra. 

Confira no vídeo acima a opinião do colunista sobre o caso, no episódio desta semana do Desafio Sentimental, com Carpinejar. "No desafio sentimental GZH, uma história cabeluda. Leitora teve um caso com um padre, descobriu que o padre tinha uma amante, descobriu o paradeiro da amante e contou para a amante que também estava sendo enganada pelo mesmo padre.

O padre não somente tinha um caso, tinha dois casos simultâneos. Rompendo o seu voto de abstinência. E, mais grave, profanando o seu papel de orientador. É como se um terapeuta tivesse um caso com a sua paciente. Não dá. Pois você está numa posição de orientar, de formar, de aconselhar.

Você não pode usar o seu poder para benefícios pessoais, para motivos subterrâneos, para segundas intenções. Você tem um papel moral de cuidador.Não pode se aproveitar da fraqueza do outro para garantir vantagens. E essa leitora sofre, não pela situação em si, mas porque o padre a bloqueou e não estabelece mais contato.

Quando estamos apaixonados, ficamos obcecados e não entendemos o certo e o errado. Você deve se distanciar dessa figura, que não é nem um pouco inspiradora.

Ela não faz jus à sua humanidade. Aproveite esse momento para conseguir se desintoxicar pouco a pouco. Vê só, um padre e suas duas amantes. E as duas amantes brigando para ter a exclusividade dele, sendo que o padre não pode se relacionar com ninguém.

Que tempos! Que tempos de treva! O que você deve fazer é se cuidar, é se resguardar, é limpar a ferida e denunciar o padre, porque senão ele fará novas vítimas". Quer compartilhar seu dilema amoroso? Semanalmente, GZH recebe relatos para o escritor, em maioria enviados pelo direct do Instagram (siga em @gzhdigital).

Mande a sua mensagem! Ela pode aparecer na coluna nos próximos dias. 

11/01/2025 - 05h00min
Marcelo Rech

O risco do improviso

Políticos veteranos são hoje vítimas de hábitos passados, quando as redes ainda não selecionavam frases

Duda Fortes / Agencia RBS

Durante sua posse, tudo que Melo conseguiu com seu improviso sobre ditaduras foi ofuscar os temas que, de fato, afetam o futuro dos moradores da cidade.

Dez dias depois, alguém se lembra de algo na posse do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, além da sua controversa defesa da liberdade de defender ditaduras? Pois Melo, que tem uma veia de comunicador popular, parece não ter se dado conta de que, no mundo de hoje, ninguém mais presta atenção ao conjunto do discurso — mas apenas a frases curtas, extratos fugazes e, preferencialmente, polêmicos.

Quem fizer uma busca sobre o discurso de Melo vai encontrar tão somente dezenas de menções a sua fala sobre ditaduras — de direita e de esquerda, ressalve-se. Quem não acompanhou a cerimônia ao vivo penou para conhecer a íntegra do discurso na Câmara de Vereadores. Ali, ele falou por 23 minutos, manifestou respeito a diferenças e defendeu a reforma da previdência municipal e a retomada do otimismo em Porto Alegre. Mas tudo que ele conseguiu com seu inútil improviso sbre ditaduras foi ofuscar os temas que, de fato, afetam o futuro dos moradores da cidade.

Lula acha que resolverá o problema de comunicação de seu governo falando mais. Aí é que mora o perigo

Com ou sem checagem de fatos no Facebook e no Instagram, políticos veteranos são hoje vítimas de hábitos passados, quando as redes ainda não selecionavam frases — os tais cortes — para amplificar trapalhadas verbais. Em eras pregressas, Lula, como hoje, cometia incontáveis gafes em suas gambiarras verbais, mas pouco se dava atenção. Agora, Lula acha que resolverá o problema de comunicação de seu governo falando mais. Aí é que mora o perigo. Quanto mais fala de improviso, mais ele cai na armadilha dos extratos. Fosse apenas pelo dano a suas imagens, como nos memes de Dilma Rousseff, o problema seria dos políticos. Mas quando Lula larga que o único problema do país é a taxa de juros, só fica registrado seu negacionismo quanto à trajetória insustentável da dívida pública. O dólar explode, a inflação se retroalimenta, os juros futuros empinam e o povo paga a conta da asneira presidencial.

Lula pode se mirar em casa sobre como não se comunicar nos dias atuais. Janja atrapalhou o esforço de visibilidade do G20 no Brasil quando, num impulso adolescente, soltou um “Fuck you, Elon Musk”. No fim, foi essa frase que marcou o encontro.  Faltou compreensão da liturgia do cargo, como diria José Sarney, mas falta também a muitos que se aventuram no improviso o autocontrole para não avançar o sinal, a menos que isso seja parte de uma tática política.

O triunfo do caradurismo

Jair Bolsonaro e, recentemente, Pablo Marçal são os que mais souberam tirar proveito de declarações escandalosas. No caso deles, era estratégia para sair do anonimato, mas essa é sempre uma jogada de risco: Bolsonaro exagerou tanto na dose que a verborragia espalhafatosa ajudou a queimar sua reeleição. 

10/01/2025 - 18h32min
Marta Sfredo

Galípolo aponta o dedo para o governo em carta aberta para explicar estouro da inflação

Presidente do BC disse que o câmbio foi um dos três motores da alta de preços, e que "a percepção sobre o cenário fiscal afetou o preço dos ativos"

Sergio LIMA / AFP

Galípolo afirmou que dólar subiu mais por fatores domésticos.

Sergio LIMA / AFP

Como o IPCA, índice oficial de inflação no Brasil, fechou 2024 acima do teto da meta, em 4,83%, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi obrigado a escrever uma carta aberta explicando os motivos e se comprometendo com medidas para evitar que volte a ocorrer.

Nas justificativas, Galípolo apontou três principais causas da inflação: o "ritmo forte de crescimento da atividade econômica", a depreciação cambial e fatores climáticos (leia a íntegra clicando aqui). Dois desses fatores têm forte peso das decisões do governo Lula: o aumento de gastos acelerou o crescimento e hesitações em cortes de gastos pressionaram o câmbio.

Na carta, Galípolo afirma que "a significativa depreciação cambial decorreu principalmente de fatores domésticos, complementada pela apreciação global do dólar norte-americano". Esse trecho acentua a responsabilidade do governo Lula sobre o estouro da meta de inflação.

Para não deixar dúvidas, Galípolo coloca o alvo no lugar: "A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio".

Nas providências para que a inflação não volte a estourar, o presidente do BC reafirma a intenção de fazer mais duas elevações de um ponto percentual no juro básico. E confirma uma leitura do mercado: "Vários riscos se materializaram, tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões".

Também reiterando leituras do mercado, Galípolo projeta que "a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta".

Para esclarecer

A carta de explicações dos presidentes do Banco Central são dirigidas ao presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN) porque é esse órgão que define a meta de inflação que o BC deve perseguir. Como quem ocupa esse cargo é o ministro da Fazenda, é o destinatário da carta, mas o documento é concebido como uma explicação à nação. Logo, Galípolo não dá explicações a Haddad, mas à população brasileira, que sofre o efeito da alta de preços.

Para lembrar

O sistema de meta de inflação foi adotado em 1999, depois da fracassada tentativa de controlar o câmbio. A meta de inflação do ano passado era de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Se não passasse de 4,5%, ficaria dentro do teto. Mas excedeu esse limite em 0,33 ponto percentual.

Neste ano, entra em vigor um novo formato de acompanhamento da inflação, a chamada "meta contínua", baseada nas melhores práticas internacionais. Em vez de cuidar apenas do fechamento do ano, a inflação em 12 meses é acompanhada a cada mês e avaliada de acordo com a meta e seu intervalo de tolerância.

Por outro lado, não tem prazo fixado para ser alcançada. O Conselho Monetário Nacional (CNM) não precisa mais definir a meta com dois anos de antecedência, como ocorreu até 2022. A mudança já foi adotada na maioria dos países que usam o regime de meta de inflação e o Brasil era considerado "atrasado" nesse avanço.

Estouros sucessivos

Nos últimos seis anos, só dois dentro da meta

2019 | 4,31%

2020 | 4,52%

2021 | 10,06%

2022 | 5,79%

2023 | 4,62%*

2024 | 4,83%

(*) na época, o teto era de 4,75%

Fonte: IBGE

11/01/2025 - 05h00min
Juliana Bublitz

Demi Moore e a crueldade do etarismo

Aos 62 anos, a atriz venceu o Globo de Ouro e desabafou sobre rótulos e preconceitos que enfrentou ao longo da carreira

ROBYN BECK / AFP

Ela e o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Comédia/Musical.

A noite do último domingo (5) foi dela: Fernanda Torres conquistou o público (e emocionou o Brasil) ao vencer o Globo de Ouro de melhor atriz em filme dramático. Mas foi, também, de uma outra grande atriz, que nos últimos anos vinha sendo preterida pela indústria do cinema por um motivo inacreditável: a idade.

Envelhecer, meu amigo, minha amiga, é cruel especialmente para as mulheres. Cinquentões grisalhos costumam ser vistos como “charmosos”, “maduros” e “sexies”. A versão feminina é bem diferente: “desleixada” e “velha” são apenas alguns dos adjetivos usados para defini-las, caso não correspondam aos padrões esperados.

Se já é difícil passar da barreira dos 50 anos para nós, reles mortais, imagine para quem vive da imagem. É o caso de Demi Moore. Quando a atriz mundialmente conhecida pela doce (e jovem) personagem de Ghost (1990) amadureceu, foi deixada de lado.

Demi contou que vivia um momento pessoal ruim quando o roteiro de A Substância, de Coralie Fargeat, foi parar em sua mesa. Estava em baixa e sem perspectivas. Além de tudo, seguia sendo vista em Hollywood como uma "atriz menor", de filmes divertidos, mas rasos.

Até que foi fisgada por aquele roteiro insano e entendeu a mensagem. O filme conta a história de uma mulher famosa (estrela de um popular programa de ginástica na TV) que se submete a um procedimento misterioso (e dilacerante)  para rejuvenescer. 

No fundo, o que está em discussão na tela são temas como o culto à juventude, a obsessão pela beleza e os sentimentos de obsolescência e inadequação sentidos, em especial, pelas mulheres. Bingo.

— O universo me disse que eu ainda não havia terminado — contou Demi, na premiação em Los Angeles.

Ela aceitou o papel, fez uma atuação brilhante e, aos 62 anos, se consagrou no Globo de Ouro (lado a lado com Fernanda, a quem abraçou), com o primeiro grande prêmio de sua trajetória. 

Quando parecia impossível, ela deu uma surra no etarismo.

Em seu discurso, a atriz desabafou sobre os rótulos que ganhou e os preconceitos que enfrentou ao longo da carreira. Disse que o filme e sua vitória são um recado para as mulheres que acreditam que nunca são "inteligentes o suficiente, ou bonitas o suficiente, ou magras o suficiente, ou bem-sucedidas o suficiente, ou basicamente não o suficiente". 

— Hoje, finalmente me sinto eu mesma — concluiu Demi Moore, falando por si e por todas nós.

Aliás...

Além de Demi Moore e Fernanda Torres, outras atrizes 50+ arrasaram no Globo de Ouro: Viola Davis (59), Cate Blanchett (55), Nicole Kidman (57), Tilda Swinton (64). Kate Winslet e Angelina Jolie, com 49, também.

Cultura velhofóbica

A antropóloga Mirian Goldenberg, autora de A Invenção de uma Bela Velhice, vem alertando para os perigos da cultura velhofóbica. A gente só muda isso se parar de ver apenas doença e feiura na velhice.

terça-feira, 31 de dezembro de 2024


31 de Dezembro de 2024
CARPINEJAR

Em 2025

Que você se lembre de procurar a lua no fim do dia, que volte a se sentir no interior, observando as estrelas no céu. Que você ame quando menos esperar, que seja feliz de repente.

Que você dirija cantando as suas músicas prediletas, não sofrendo tanto com os engarrafamentos. Que você possa estar em casa quando chover. Que você possa estar na rua quando houver sol e brisa.

Que você seja surpreendido pela fala de uma criança, renovando a sua delicadeza. Que você engome a sua roupa fantasiando o encontro. Que você namore num jantar segurando as mãos por cima da mesa e encostando os pés por baixo.

Que você dance como se não houvesse amanhã, que converse em botecos numa eterna saideira. Que você frequente os cinemas para recuperar o protagonismo de sua vida. Que você se esforce para reconhecer os seus colegas, sempre chamando-os pelo nome. Que você já demonstre capricho no café da manhã, no primeiro ato de se servir.

Que você nunca passe por um cachorro sem oferecer a ternura da sua infância. Que você durma consciente de dormir, que não desmaie no sofá ainda vestido. Que você abra espaço para plantas em sua residência, que não se veja longe do verde. As mudas melhoram o nosso silêncio e solitude.

Que você descubra algo novo todo mês, que não se restrinja a repetir o que já conhece. Que você seja premiado com dinheirinho perdido nos bolsos dos casacos. Que você reviste as peças antes de colocar na máquina de lavar.

Que você dê mais valor para as moedas e para os 15 minutos que sobram. Que você seja mais alegre torcendo para o seu time do que secando o rival. Que você elogie os amigos e incentive seus projetos de mudança.

Que você respeite a dor da perda e não apresse o luto de ninguém. Que você leia um pouco por vez, algumas páginas, para treinar a memória. Que você invista num esporte, para recobrar o prazer da disputa saudável.

Que você convide os pais para uma viagem, que não se reduza ao mundo do casal. Que você tenha confiança para não se rebaixar, e humildade para não deixar nenhuma pessoa invisível ao seu lado.

Que você esqueça o celular quando estiver frente a frente com os seus afetos. Que você consiga listar os lugares aonde deseja ir, os shows a que pretende assistir, começando a contagem regressiva de seus sonhos.

Que você tenha coragem de enfrentar as amizades quando elas se envolverem em relacionamentos tóxicos, e tenha empatia para socorrê-las sem jogar na cara que tinha razão e avisou antes.

Que você não se constranja ao entrar no elevador ou na sala de espera do médico. Que você saiba diferenciar a teimosia burra da insistência inteligente. Que você se apresente aos seus vizinhos.

Que você não desmarque compromissos com a família em cima da hora, causando frustração e descrédito. Que você faça o bem para depois olhar para quem foi. Que você acredite em si e desconfie das críticas.

Que você seja contente do seu jeito, sem preconceito, usando a gamela para o churrasco ou para as frutas. Que você não seja influenciável a ponto de duvidar de si, nem uma parede a ponto de não escutar ninguém.

Que você jamais subestime seus problemas pensando que não precisa de terapia. Que você aprenda a respirar quando irritado, a se acalmar quando provocado, a se retirar quando o outro não fizer por merecer a sua companhia.

Que você perdoe as suas versões anteriores e agradeça quem se tornou. Que 2025 não traga nada para você, que você mesmo busque. 

CARPINEJAR


31 de Dezembro de 2024
MÁRIO CORSO

Ano novíssimo

Caro leitor, acabas de ganhar, especialmente personalizado para ti, um ano novo em folha. Ele brilha, não tem nenhum arranhão, nenhuma poeira, nem marca de dedos. Está à tua disposição a partir de agora, sem nenhum custo adicional. Dica: não use com moderação.

Repetindo, não use com moderação, pega com as duas mãos e morde com força. Afinal, o fornecimento é limitado, eles não aceitam trocas, tampouco admitem recurso e o que não usares vai fora.

Especialmente, não deixe para depois. Se és desses que só vai abrir a caixa depois do Carnaval, olha que poderá já estar mofado. Saiba que é um artigo muito bom, excelente, mas precisa ser cultivado, arejado, tratado com carinho.

Recém acabou um ano, lembre de quantas vezes já trocaste de ano te perguntando o que fizeste com esse tempo passado. Isso não pode se repetir. O ano de 2025 não é para ficares guardado no armário esperando a hora certa para usar. A hora certa é agora. Promessas e decisões que esperam a segunda-feira nunca dão certo. O que dá certo é a que começas neste momento.

Leia atentamente o manual de instruções do Ano-Novo. Sim, eu sei, é parecido com o dos outros anos. Eles não têm feito atualizações, ou alterações de funcionalidades no produto, desde o reinado de Tutancâmon, mas ninguém o lê com calma. Todas as regras onde dizia que se fizeres X vai dar m*, segue dando m*. E o avesso, se não fizeres Y vai dar m*, seguirá dando m*. Não te faz de tonto. Não me venha com: eu não sabia? Foi só uma vez? Não era minha intenção?

Aceito que as condições não são das melhores para viver um ano novo pleno, mas pensa bem, quando foi diferente? Às vezes, por sorte, tropeçamos em tempos amenos, menos ácidos, mas eles são a exceção, não a regra. Vai te acostumando, não espere o sol, quase sempre a vida é abaixo de mau tempo.

Se existe algo intelectualmente pouco razoável é a esperança. Apesar disso, ela é o combustível da nossa substância. Ela é a palavra que encontramos para o que em nós não desiste. Ela é a simbolização da força da vida. Ela é a própria insistência de querer seguir vivo. Em 2025 escute a esperança, mas não fazendo planos, simplesmente faça, ou te prepare, para o que queres realizar. _

MÁRIO CORSO