sábado, 19 de abril de 2025


18 de Abril de 2025-
Rodrigo Lopes

Amigos... amigos...

Aos amigos, os favores. Aos inimigos, a lei. É o que diz o velho ditado, que o presidente Lula faz questão de tornar atual com a concessão de asilo político a Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, esposa de Ollanta Humala. Pior do que isso, só o fato de um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) estar esperando Nadine no aeroporto de Lima tão logo fosse concluída a sessão judicial que culminou na condenação à prisão dela e de seu marido, o ex-presidente.

Concessões de asilo são atos políticos - e o direito, em geral, é revertido quando muda o governo de turno, ou a ideologia de quem está no poder. Há exceções, claro. Principalmente no Brasil, o país das exceções. Alfredo Stroessner, o ditador paraguaio, que governou seu país entre 1954 e 1989, viveu por 17 anos no Brasil, desde que José Sarney o protegeu após ser apeado do poder. O autocrata vizinho morreu em bom lar, em Brasília, em 2006. Ou seja, além de Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula garantiram que não fosse julgado em seu país pelas atrocidades aos direitos humanos que cometeu.

No caso de Nadine, o que desonra a nação é o fato do uso de um avião da FAB, pago pelo contribuinte, estar disponível para a ex-primeira-dama de forma tão rápida. Foi perspicaz o governo e o presidente, o comandante-em-chefe do país. É de surpreender a agilidade, sobretudo porque costumo ser um dos críticos diante da eventual lentidão das Forças Armadas para deslocamentos internos em tragédias como a que o RS viveu, em maio. _

Asilados e protegidos políticos

O asilo político à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, condenada pela Justiça de seu país por lavagem de dinheiro em casos ligados à empreiteira brasileira Odebrecht, não é um caso inédito no Brasil. O governo brasileiro já oferece proteção a figuras controversas da política internacional. Confira, ao lado, casos emblemáticos. _

Roger Pinto Molina

Opositor ferrenho de Evo Morales, denunciou corrupção e foi acusado de "sedição" pelo governo boliviano. Em 2012, pediu asilo na Embaixada do Brasil em La Paz, onde ficou 15 meses até ser retirado em um carro diplomático brasileiro. Morreu em um acidente aéreo em Goiás, em 2017.

Cesare Battisti

Ex-militante de extrema-esquerda italiana, ficou conhecido pelo envolvimento com grupos armados na Itália nos anos 1970. Em 1981, conseguiu asilo político na França, revogado anos depois. Passou pelo México e chegou ao Brasil em 2004. Em 2009, Lula concedeu asilo político, ignorando um pedido de extradição da Itália - que o acusava de terrorismo. Em 2019, Jair Bolsonaro autorizou sua extradição, sendo deportado para a Itália.

Abdalá Bucaram

Foi presidente do Equador deposto em 1997 por "incapacidade mental" declarada pelo Congresso de seu país. Vindo ao Brasil com parte de sua família, viveu asilado por vários anos.

Demais casos

Outros dois casos que chamam atenção: Ronald Biggs e Manuel Zelaya. Os dois não receberam asilo político formal, mas foram protegidos pelo governo brasileiro.

Biggs viveu no país por cerca de 30 anos. Participou do famoso assalto ao trem pagador, em Glasgow, em 1963. Foi preso, fugiu do Reino Unido e chegou ao Rio em 1970, onde viveu até 2001, quando voltou a seu país e foi detido. Faleceu em 2013.

Já Manuel Zelaya foi presidente de Honduras entre 2006 e 2009, foi deposto por um golpe militar. Zelaya retornou clandestinamente ao país em setembro do mesmo ano e refugiou-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Após meses de impasse, em 2010 foi viver na República Dominicana, retornando em 2011.

Um olhar sóbrio sobre a crise institucional no Brasil

No meio do furacão, nada como o olhar distanciado. A revista britânica The Economist conseguiu isso no artigo que ganhou repercussão ontem sobre os poderes excessivos do Supremo Tribunal Federal (STF).

E o primeiro sintoma da lucidez do texto é a capacidade de análise desapaixonada - que consegue, por certo, provocar a ira de quem se ilude em eleger, de um lado ou de outro, mocinhos e bandidos no atual cenário político brasileiro.

Decisões monocráticas

O texto provoca tanto bolsonaristas quanto alexandristas - e lulistas. A tônica do texto é focada no excesso de decisões monocráticas na Corte. Mas sobra, literalmente ou no subtexto, para todos - intra e extramuros do Supremo.

O diagnóstico é: a mais alta Corte enfrenta crescentes questionamentos na medida em que tenta administrar temas políticos. Para restaurar a imagem de imparcialidade, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de golpe de Estado, deveria ocorrer no plenário do STF - e não pela Primeira Turma, composta pelo ex-advogado de Lula Cristiano Zanin e um ex-ministro Flávio Dino, além de Alexandre de Moraes.

Orientação liberal

A revista faz fortes críticas a Moraes, que está exercendo, segundo a Economist, "poderes surpreendentemente amplos, que têm como alvo predominantemente atores de direita".

É preciso ler o artigo com a consciência de que a Economist tem orientação liberal - e, até por isso, não personifica a culpa de um Brasil que parece andar para trás. A culpa não é só de um ou outro lado. Tampouco de um único poder da República, o que não isenta aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro de terem tentado golpe de Estado. _

STF na berlinda

Outro ponto do artigo da Economist é impactante: todos presidentes brasileiros desde 2003 foram acusados de violar a lei. Daí a importância do olhar externo.

No texto, sobram críticas a integrantes do STF. Além de Moraes, chamado de "juiz estrela", o decano da Corte, Gilmar Mendes, é alvo pelo Fórum Jurídico de Lisboa. Dias Toffoli é mencionado pelos despachos individuais. Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, criticado pela declaração "derrotamos o bolsonarismo".

Esses fatores, diz a revista, comprometem a credibilidade do STF. E não ocorrem por acaso. Executivo e Legislativo caíram em descrédito, levando o Supremo a ampliar seu escopo em resposta a uma crise institucional. Quem se permitir aceitar críticas de fora e ler o texto compreenderá que a "anistia" resolverá o problema. A crise institucional em que nos encontramos é mais profunda. _

Casos de antissemitismo crescem 350%

Um relatório lançado nesta semana revela aumento de 350% nos casos de antissemitismo no Brasil, em 2024.

O documento foi lançado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita do Estado de São Paulo e o Departamento de Segurança Comunitária (DSC/FISESP).

Conforme o presidente da Conib, Claudio Lottenberg, o Brasil apresentou o maior aumento dos casos globais (961%) desde o início da guerra no Oriente Médio, deflagrada pelos atentados do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023.

No primeiro mês de conflito Israel-Hamas, houve aumento de 1.000% das denúncias, média de 12 denúncias diárias. O documento aponta um total de 1.788 casos, atingindo recorde histórico no Brasil, com aumento de 350% dos casos em 2024.

O ambiente digital é o principal vetor: 73% das denúncias ocorreram no ambiente online, com o X (ex-Twitter) liderando (48%) e o Instagram em segundo (37%). _

INFORME ESPECIAL

sábado, 12 de abril de 2025

11/04/2025 - 15h15min
Martha Medeiros

Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros

Nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice

De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Ao me visitar, uma amiga trouxe um vinho e o livro A Minha Mãe é a Minha Filha, de Valter Hugo Mãe. Uma edição minúscula, menos de 50 páginas, que trata sobre a relação do autor com sua progenitora. Minúscula no tamanho, claro, pois o assunto é da maior grandeza.

Minha amiga e eu estamos passando pela mesma situação: nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice.

Valter Hugo Mãe é só doçura em seu texto e faz tudo parecer um piquenique no parque com a matriarca. De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós. Em tese, perfeito: os papéis se invertem, o ciclo se fecha e o amor vence no final. Na prática, porém, é um tsunami, que o digam as mulheres na faixa dos 50 e 60 que tinham outros planos. 

Geralmente, estão com os próprios filhos criados e com alguma estabilidade profissional. Seria o momento de se concederem uma aposentadoria por serviços prestados à família: hora de pensar em si mesmas, fazer um curso, visitar amigos que moram fora, dar uma circulada por aí antes de serem abatidas em pleno voo, afinal, também estão iniciando o processo de envelhecimento, só que ainda com pernas firmes e bom estoque de energia.

Quando essa liberdade precisa ser adiada, é um baque. Ninguém deseja, aos 60, já ter perdido os pais. Quem tem a sorte de ainda tê-los, sabe que eles, depois dos 80, correm riscos atrás de um volante, mal conseguem caminhar sozinhos e a ida ao mercado vira um passeio na selva. Não todos: muitos mantêm-se autônomos, mesmo em idade avançada. Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros. Mas não é a norma.

Tema bonito para uma prosa poética, mas mexe com emoções variadas. A culpa é a primeira a atacar. Queremos fazer mais por eles, mas temos nossa própria vida para cuidar. É justo privilegiar as demandas deles? O histórico da relação deve ser levado em conta? Se tivermos mágoas retroativas, devemos sublimá-las? Terceirizar os cuidados é bom? É ruim? Pra quem?

Dezenas de perguntas nos invadem. Terapeutas, acudam. Amor existe de sobra, mas com pitadas de impaciência, tempero que não é bem-vindo nesta receita. Por enquanto, um elemento tem facilitado a jornada dos Medeiros: o bom humor. Minha família nunca foi de fazer drama. Vamos rindo enquanto dá para rir, e assim todos se ajudam. Talvez esteja aí a beleza do caos: reconhecer que todos os envolvidos precisam de ajuda, e vivenciar a troca de papéis com a leveza necessária, sem ficar apostando em quem vai pirar primeiro. 


12 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Alanpa!

Tenho quatro cadeiras no Beira-Rio há 15 anos. Confesso que já escondi as mensalidades da esposa. Solicitei ao clube que não mandasse mais os boletos pelo correio.

Como você paga tudo isso para um time? - ela me perguntou. Naquela época, eu me constrangi como uma ovelha cardada. Hoje, não mais. Hoje uivo com orgulho. Preciso proteger as minhas alegrias.

Por influência benéfica da terapia, assumi e aprendi a declarar: gasto e não nego. Sou fanático.

Frequentar o estádio é um dos meus maiores prazeres. O meu recreio. Onde descarrego as preocupações. Onde volto a ser um guri. Trata-se do principal evento da semana. Fico com aquele gostinho de Pastelina e guaraná na boca, após trabalhar como mula nos dias úteis. Um gostinho de esperança de infância. De explosão. De catarse.

Já conto com os meus vizinhos de bandeira e boné: o livreiro que fala sozinho e some no intervalo do segundo tempo; o adolescente que não para de berrar "chuta!"; o senhor que não cansa de exigir "senta". Compomos uma família colorada a cada batalha. São as pessoas de sempre compartilhando 90 minutos comigo, ao lado dos filhos e do melhor amigo Zé.

Investiria o dobro (não me escute, Alessandro Barcellos) para assistir ao espetáculo de Alan Patrick. Um 10 legítimo, em extinção. Camufla a bola nos pés - ela só aparece mais adiante, sob a forma de um lançamento primoroso ou de um chute imprevisível estufando as redes.

Um mago. Atua de fatiota e gravata-borboleta, um gentleman com a maciez da grama. Desliza, flutua. Eu canto Fly Me To The Moon, de Frank Sinatra, enquanto o vejo. Me leve para a lua. Me leve para o tri da Libertadores.

É tão bom que os adversários o respeitam e o temem. Ele transforma cobrança de pênalti em suspiro. A arquibancada respira com ele. Põe 40 mil torcedores a praticar pranayama, exercício da yoga. Redescobrimos o nosso diafragma. Redescobrimos o nosso coração. Todos puxamos o ar ao mesmo tempo, subindo o abdômen. Todos soltamos o ar ao mesmo tempo, descendo o abdômen num grito ensandecido de gol.

Na história, só Paulo César Carpegiani pode ombrear com ele em técnica e tática naquela posição. Os saudosos e sobreviventes concordarão comigo.

Seu repertório é inesgotável. Mobilia uma casa - janela, lençol, chaleira - em alguns minutos. Ele vem aumentando a minha concentração: não me distraio como antes, não pisco, não vou ao banheiro, não consumo nada dos ambulantes - à espera de um milagre ou de um lance surpreendente. Vem me devolvendo a comoção do instante ao vivo, inédito.

Não o quero na Seleção Brasileira, por ciúme, por gula, por inveja, por avareza. Não gostaria de desperdiçá-lo em nenhum jogo. Não gostaria de cedê-lo para mais ninguém. Ele desperta os piores sentimentos de possessividade. Inclusive porque a Seleção não o merece. Peço desculpas pela minha limitação. Deveria ser festejado mundialmente. Mas admito: meu mais terrível medo é perdê-lo.

Sofro por antecedência, projetando como o manteremos na próxima temporada. Ele não para de brilhar, de chamar atenção, de ser citado por comentaristas que estavam acostumados a exaltar exclusivamente o Sudeste. Chegou a fazer hat-trick em cima do Atlético Nacional da Colômbia. Precisava de três? Precisava esbanjar?

Em 13 de maio, Alanpa estará de aniversário. Completará 34 anos. Já estou pensando em comprar um presente. Até lá, muita terapia para explicar à minha esposa novos desembolsos com o futebol. Imagino o diálogo:

- Você nem o conhece! - Ah, conheço, sim. Ele vive me presenteando. Se sou um marido mais feliz hoje, agradeça a ele. O justo seria dividir as despesas. 

CARPINEJAR

12 de Abril de 2025
ANDRESSA XAVIER

A tal inteligência artificial

Nessa semana o Estado abrigou mais uma vez o South Summit, evento que evidencia soluções em inovação e tecnologia, premia startups e debate novidades nesse mundo que não é explorado por todos nós, cidadãos leigos em muitas partes desse assunto. Deve ser um orgulho para a gente ter aqui, pertinho, num dos nossos cartões-postais, um evento desse porte.

Perdi as contas de quantas vezes ouvi falar em inteligência artificial nesses três dias e tudo que ela pode fazer por nós. Pode não, já está fazendo, e em alguns casos nem percebemos ainda. IA não é relativa a um futuro distante nem mesmo a filmes de ficção. Enquanto algumas pessoas tinham medo de que as vacinas roubassem seu material genético, o que é uma bobagem, essas mesmas colocam todos seus dados à disposição dos aplicativos e equipamentos. Hoje somos facilmente observados pela tecnologia, que sabe o que pesquisamos, procuramos em lojas ou sites, compramos ou a que assistimos.

Nossas redes sociais mostram com o que simpatizamos ou polemizamos. Nada é por acaso. Engana-se quem acha que existe almoço grátis na internet. Quando a plataforma indica um filme que é do meu tipo, é porque minhas informações anteriores disponibilizadas ali mostram qual é o meu gosto. Para música, para compras, para notícias e até desinformação. É assim que o jogo funciona, a não ser que você more numa ilha sem internet nem telefone.

A IA tem muita coisa boa. Ainda estamos aprendendo a domar as plataformas, ao menos no meu caso, mas é surpreendente como a tecnologia pode nos ajudar se bem utilizada. Dia desses, ao ouvir duas pessoas falando sobre as maravilhas feitas pela inteligência artificial no trabalho delas, agilizando a formatação de planilhas, apresentações e fazendo gráficos rapidamente, uma terceira pessoa ficou matutando, até que perguntou o que a IA ajudaria na vida dela, já aposentada. Ficou também maravilhada ao saber que pode inclusive conversar com um aplicativo no celular. Que tem como ser lembrada de compromissos ou mesmo de remédios que precisa tomar.

Na saúde, a IA pode ajudar automatizando cadastros e agilizando filas. Na educação, já está ajudando a mapear a evasão escolar, acelerando um diagnóstico que precisa ser tratado. Os e-mails no trabalho agora têm a possibilidade de ajudar a resumir uma conversa ou até escrever para um colega. Pode otimizar processos jurídicos e também ajudar médicos.

Este é um mundo sem limites, que exige cuidados, responsabilidade e discussão ética, mas é uma realidade já posta. Negar a existência agora será pagar uma conta mais cara logo ali na frente. Inteligência artificial, somada às pessoas que souberem tratar dela, não é o futuro, é o presente. _

ANDRESSA XAVIER

12 de Abril de 2025
MARCELO RECH

O senhor do caos

A esta altura, já nem importa tanto o turbilhão nos mercados, com trilhões de dólares atirados de um lado para o outro pela ação desvairada de Donald Trump. No futuro, o que se lembrará destes dias é a perda de confiança nos EUA como aliado e parceiro comercial, e o redesenho do mapa geopolítico pelo futuro a perder de vista. De relance, a guerra tarifária de Trump poderia ser apenas o desatino momentâneo de um jogador de pôquer das finanças, mas ela vai bem além.

Depois de passar a rasteira militar na Europa, a puxada de tapete comercial obriga todas as nações a olharem para o lado e estabelecerem novos vínculos baseados em alguma coisa parecida com estabilidade e razoabilidade. E quem acabou ficando no papel de mocinho nesta queda de braço? Ela mesma, a China, que se apresenta como o porto seguro da sensatez. Parabéns, Trump, você conseguirá empurrar nações outrora hesitantes para os longos braços de seu maior adversário.

Definir Trump como um troglodita nos negócios é pouco. Pretender isolar os EUA em uma muralha comercial, e no estilo show de calouros com que foi apresentada, é um caso de patologia diplomática e de amadorismo econômico, quando não de insanidade mental. E Trump só pediu água porque ia encalacrar o mundo em um inverno nuclear econômico, como alertou um de seus bilionários doadores, apavorado com as trapalhadas de sua criatura.

Quando investidores começaram a se livrar dos bônus do tesouro dos EUA de 10 anos, tido até a semana passada como o investimento mais seguro da Terra, o chão tremeu. No fim, o errático presidente dos EUA só comprovou que sua palavra não vale nada e revestiu a maior potência do planeta em um manto de ridículo, rancor e desconfianças. Para qualquer um que acredite nos valores da civilização moderna, como democracia, liberdade econômica e respeito a fronteiras, isso é preocupante.

O incêndio produzido pelo Nero da Casa Branca não se apagará tão cedo porque simplesmente não há como, nem razão para, se equilibrar a balança entre todos os países que fazem comércio com os EUA. Sobre inevitáveis diferenças comerciais, aliás, o economista Robert Solow foi mordaz em uma palestra há alguns anos: "Eu tenho um déficit crônico com meu barbeiro, que não me compra coisa nenhuma". Ou seja, quase nunca essa é uma relação de soma zero.

Como o mundo não vai parar por causa das doideiras de Trump, devem se acelerar os novos blocos econômicos e os acordos bilaterais, com os EUA ao largo e a China fortalecida no longo prazo. Preparemo-nos. Apenas um exemplo: alguém supõe alguma reação de repúdio de um mundo cada vez mais dependente da China se e quando ocorrer a invasão de Taiwan? Donald Trump já deixou sua assinatura na história, e ela é ainda mais desastrosa do que jamais se poderia imaginar. 

MARCELO RECH


12 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Tarifaço abre porta da era do caos?

Todas as análises mais abrangentes sobre os efeitos do tarifaço de Donald Trump precisam ser cautelosas. Primeiro, porque a única certeza que se tem é de que o principal efeito é... explosão da incerteza. Mas proliferam diagnósticos de que à frente se vê um novo mundo, diferente do que conhecíamos até agora.

Um dos sinais mais fortes dessa mudança vem dos títulos do Tesouro americanos, até agora o porto seguro dos portos seguros. Os papéis de longo prazo (T-Bonds de 30 anos) decolaram, indicando baixa procura. A lógica é que, se não há demanda, é preciso elevar a remuneração para captar.

E recuam os juros dos Bunds (títulos soberanos da Alemanha). Com maior número de interessados, pode pagar menos. O movimento sugere saída de investimentos em Treasuries e entrada nos papéis alemães. Então, o porto seguro já não é mais tão... seguro.

"Em apenas 10 dias, o presidente acabou com as velhas certezas que sustentavam a economia mundial, substituindo-as por níveis extraordinários de volatilidade e confusão", resumiu a revista britânica The Economist, que titulou na capa The Age of Chaos (A era do caos).

Com outras formas e outras palavras, é isso que têm repetido economistas, empresários e historiadores. As bolsas asiáticas e europeias encerraram com sinais mistos e sem variações fora do habitual. As americanas fecharam no "positivo normal", entre 1% e 2%. No Brasil, o dólar recuou 0,46% com cautela, para R$ 5,871.

Mas as perdas nos mercados, especialmente nos dos EUA, já provocaram empobrecimento, porque seis em cada 10 americanos poupam comprando ações. Sem contar o risco incomensurável (que não se pode medir) que cerca os Treasuries. _

Proteção à mudança no clima

Quase um ano depois da enchente de maio de 2024, há ao menos 21 projetos para mitigação e adaptação à mudança climática em cidades gaúchas em busca de financiamento. Conforme o levantamento Global Snapshot 2024, feito pelo CDP, organização sem fins lucrativos, em parceria o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (GCoM), a demanda total de investimento é de cerca de R$ 900 milhões. O valor não inclui os pedidos de Porto Alegre, que não informou as quantias. Só inclui São Leopoldo e Canoas.

Serviços públicos gáuchos com IA

Até o final de abril, o governo do RS vai lançar sua nova estratégia digital. E as novidades incluem a mediação de inteligência articial (IA) própria, que já está sendo treinada para falar "gauchês". Um dos princípios dessa nova fase é unificar todas as informações em uma mesma base de dados, que terá interface com as pessoas na plataforma meurs.gov.br.

- Não vai ter mais o dado da saúde, o dado da segurança. Todos estarão centralizados, para ajudar o cidadão - disse a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, em evento para convidados no South Summit Brazil.

Segundo Danielle, a nova estratégia vai inverter a relação dos gaúchos com o Estado:

- Agora, o cidadão vai poder parar de procurar o Estado, porque o Estado vai procurá-lo.

Um dos exemplos dados pela secretária envolve avisos quando for preciso fazer vacina, quando houver algum benefício disponível que a pessoa não está usando, mas também na hora de pagar o IPVA.

- Com o tempo, vai funcionar como a Netflix, vai entender o perfil do cidadão e interagir com ele, com o cuidado de não ser invasivo demais - detalhou.

Estão predefinidos quatro perfis: empreendedores, estudantes, produtores e servidores públicos. _

Muito cuidado ao reduzir beneficiários do Bolsa Família

A iniciativa de prefeituras e entidades empresariais para reduzir o número de famílias que recebem Bolsa Família precisa ser muito bem dosada. Pode ser bem-sucedida se apresentar alternativa consistente. Mas precisa ter muita responsabilidade.

A explosão de benefícios ocorreu no período pré-eleitoral, em 2022, quando critérios foram "flexibilizados". Prefeituras podem ajudar garantindo creches para que mães em idade ativa possam trabalhar.

Entidades empresariais, por sua vez, podem montar programa de qualificação da mão de obra, para que a formalização seja uma alternativa atraente em termos salariais, com jornadas adequadas.

Especialistas estão longe da unanimidade sobre a correlação entre o número de beneficiários do programa e a falta de pessoal. Veem maior impacto no mercado de trabalho informal. Há diferença enorme entre o pagamento médio de R$ 659,04 e o salário mínimo de R$ 1.518. Atuações em entregas ou como motorista de aplicativo competem com salários e jornadas do mercado formal.

E há outro alerta: dados ainda mostram pleno emprego, mas há sinais de que a atividade deve desacelerar. Se o esforço de reduzir os beneficiários do Bolsa Família coincidir com um mercado de trabalho menos aquecido, pode deixar famílias na miséria e contribuir para gerar mais rejeição ao universo formal, que contrata e demite em ciclos. _

Projeto de R$ 100 milhões em biometano no RS

Distribuidora de gás que atende cerca de 11 milhões de famílias e 60 mil empresas no país, a Ultragaz vai investir R$ 100 milhões no Rio Grande do Sul. A empresa é do Grupo Ultra, dono também da rede de postos Ipiranga.

O aporte será destinado a projetos de biometano, gás liquefeito de petróleo (GLP), bioGLP e energia elétrica, para impulsionar a transição energética na indústria gaúcha. Conforme o diretor de desenvolvimento da Ultragaz, Aurélio Ferreira, o plano começa a ser implementado ainda neste ano e gerar cerca de cem empregos. Tem apoio do governo do Estado e da Invest RS, agência de desenvolvimento, que assinaram termo no South Summit Brazil 2025. _

GPS DA ECONOMIA 


12 de Abril de 2025
EM FOCO -Bruna Oliveira

EM FOCO

Quarta edição do South Summit fecha com marcas simbólicas que vão além do aumento na participação de empresas, startups e fundos de investimentos. Ecossistema de inovação gaúcho dá sinais de que "está forte e olhando para frente"

Demonstração de maturidade e resiliência

Quando a água do Guaíba superou os cinco metros de altura nas paredes históricas do Cais Mauá, em maio de 2024, poucos imaginavam rever o mesmo cartão-postal tão pujante menos de um ano depois. Com a mesma força de reconstrução que mobilizou o RS desde então, o ecossistema de inovação gaúcho também se mostrou resiliente, consagrando espaço e relevância na edição do South Summit Brazil 2025, encerrada na sexta-feira, em Porto Alegre.

Unânime entre os diversos atores, a palavra que fica é de um amadurecimento. De Porto Alegre em si para a realização de eventos de grande porte, do ambiente inovador que se consagra no RS e do próprio South Summit, uma marca global.

- É uma edição que mostra para o Brasil e para o mundo um ecossistema que está de pé, forte e olhando para frente. A edição do ano passado já havia sido muito madura, mas esta nos consolida realmente como um grande evento para quem quer fazer negócios no entorno da inovação e da tecnologia - resume Wagner Lopes, country manager do South Summit, cargo semelhante ao de CEO da edição brasileira.

"Profissionalização" das conexões

O amadurecimento da edição se reflete em uma "profissionalização" das conexões. Para a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Simone Stülp, trouxe outra lógica para os negócios.

- Tenho sentido a força dos investidores presentes no evento, na conexão com as empresas e as startups. Isso é muito bom, quando falamos em ativação econômica ou em Rio Grande do Sul do futuro. São os investidores entendendo muito bem a lógica do evento e são as startups melhor preparadas para essa interlocução. Isso é tudo o que sempre sonhamos para que pudéssemos enxergar o mundo e o mundo pudesse nos enxergar - destacou a secretária.

Nesta perspectiva, o resultado das edições comprova que o South Summit é, acima de tudo, um projeto de impacto e de desenvolvimento para o Estado, acrescenta Lopes:

- Quando trouxemos o South Summit lá em 2022, esse era o objetivo, trazer uma marca global que pudesse acelerar o desenvolvimento do nosso ecossistema e causar impacto. Passadas três edições e agora, ao final da quarta, começamos a sentir um pouco mais disso. Há o impacto direto na economia, mas há também o impacto de o evento ser percebido, tanto em reputação quanto em imagem de Porto Alegre como local inovador.

Mais do que a vibração nos armazéns do Cais Mauá, o impacto está no "extramuros", com efeitos na economia, na hotelaria, na gastronomia e em uma série de outros serviços. Muitas ativações com o público foram realizadas durante os três dias de evento, como uma espécie de vitrine para marcas locais não necessariamente relacionadas à inovação. Conforme a organização, 95% da produção do evento se abastece de fornecedores locais, o que também traz efeitos econômicos diretos.

Mudança cultural

Outro ponto citado como legado das edições do South Summit diz respeito a uma mudança cultural. Conforme os organizadores, a abordagem mais incisiva do tema nos últimos quatro anos, por ocasião do evento, faz com que a inovação esteja mais presente no cotidiano. Na prática, isso representa mais empresas se voltando ao assunto e mais jovens sendo formados com o despertar das oportunidades em inovação.

Na edição de 2025, um dado que simbolizou essa mudança foi a maior participação de startups. Foram mais de 2,1 mil empresas nascentes inscritas este ano.

- Vejo que a inovação hoje está muito disseminada. Isso torna o ecossistema mais maduro e faz, claro, com que a gente tenha abrangência ainda maior de startups já em fase de tração - diz Rodrigo Cavalheiro, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS) e um dos "líderes locais" do South Summit.

Espraiamento

O efeito não fica restrito à Grande Porto Alegre, onde importantes centros de inovação como Instituto Caldeira, Tecnopuc e outros parques tecnológicos já estão consolidados. O movimento incentiva que novos hubs se instalem em cidades do Interior. Cavalheiro cita Alegrete, Santana do Livramento e Uruguaiana como novos polos em fomento.

Objetivo do South Summit, os negócios sinalizados pela presença de investidores e fundos de investimentos ampliaram espaço em 2025. E mudaram a abordagem.

- A busca hoje não é por startups unicórnios, aquelas que rapidamente estão valendo um bilhão de dólares, mas por aquelas que crescem de forma resiliente. São as "cabras da montanha", como a gente chama, que caem, mas sobem de novo - diz Cavalheiro.

Mesmo que as grandes cifras não cheguem a todas as empresas nascentes, a possibilidade de escalonar faz com que muitas ideias saiam do âmbito acadêmico e inaugurem um perfil de nova economia, aponta o secretário de Inovação de Porto Alegre e coordenador do Pacto pela Inovação de Porto Alegre, Luiz Carlos Pinto da Silva:

- Tem as startups que atraem grandes fundos, mas tem também aquelas que são importantes por serem de impacto. Não necessariamente são atrativas para um fundo, mas são uma maneira de criar emprego, de trazer negócios tradicionais para a nova economia e de abrir horizontes - destaca Silva. _


12 de Abril de 2025
ENTREVISTA - Rodrigo Lopes

VIR para o RS

Visitar. Investir. Residir.

As letras iniciais dessas palavras formam o acrônimo "VIR". Esse é o novo conceito que a Invest RS, Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, criada depois da tragédia climática para projetar a imagem do Estado lá fora e atrair investimentos, irá lançar nos próximos dias.

A estratégia de posicionamento deseja mostrar o RS não apenas como um lugar com potencial para empresas instalarem operações, explica o presidente da Invest, Rafael Prikladnicki. Mas também para quem deseja fazer turismo e, quem sabe, morar.

A gastronomia excepcional, a diversidade de paisagens naturais, os eventos e festivais são destacados dentro do pilar "visitar". A campanha destaca que o RS atraiu R$ 100 bilhões em 2024, maior valor dos anos recentes, com destaque para os projetos de CMPC, maior investimento privado da história do RS, Scala Data Centers, GM e Aeromot. São salientados como pontos favoráveis a economia diversificada, o capital humano qualificado, graças às reconhecidas universidades federais e privadas, e o ambiente favorável para negócios, com incentivos fiscais e programas de apoio ao empreendedorismo, e o potencial de inovação.

Por fim, o "R" de residir destaca que cidades gaúchas são reconhecidas pelos altos índices de qualidade de vida, segurança, infraestrutura robusta e ecossistema inovador. Belíssima campanha, dá orgulho de ver.

Que venham! 

ONU decide abrir um escritório permanente no RS

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) vai abrir um escritório em Porto Alegre. O órgão internacional, cuja sede no país fica em Brasília, dispõe de unidades hoje em São Paulo, Manaus, Boa Vista, Pacaraima e Belém. A previsão para a instalação do escritório na capital gaúcha é maio.

- Já vínhamos atuando no RS há vários anos a partir de parcerias com ONGs, como o SJMR, Aldeias Infantis e CAM. Com a catástrofe climática de 2024, encaminhamos uma equipe de emergência para apoiar a resposta a pessoas refugiadas e comunidade brasileira de acolhida atingidas pela tragédia. Neste momento, decidimos nos fixar no RS para ter mais capacidade de ampliar a integração de refugiados e pessoas deslocadas forçadas no Estado e na região como um todo, em razão de indicadores que acompanhamos, cujo potencial de empregabilidade, formação e bem-estar social, é evidente - diz o oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do Acnur, Paulo Sergio Almeida.

Ele ressalta também a capacidade de interlocução e colaboração junto às autoridades políticas de Estado e municípios, ampliando o acolhimento e fortalecendo políticas para o desenvolvimento local, complementando mutuamente os esforços. _

Nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande"

O Grupo RBS realizou o pré-lançamento da nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande", em um jantar oferecido na quinta-feira a parceiros e autoridades por ocasião do South Summit Brazil, do qual a empresa é media partner. Lançada em junho de 2024, a bandeira institucional busca apontar caminhos para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

No encontro para mais de cem convidados, o presidente do Conselho de Gestão e publisher da RBS, Nelson Sirotsky, e o CEO do Grupo RBS, Claudio Toigo, conduziram a apresentação. A nova etapa com ações institucionais, editoriais e de comunicação será lançada no fim deste mês.

Na ocasião, Nelson também homenageou Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, pelos cem anos do grupo e os 60 anos da TV. Ele enalteceu a parceria de mais de cinco décadas com a RBS e a visibilidade dada aos desafios e avanços para a reconstrução do Estado no último ano. _

Uma equipe da emissora alemã Deutsche Welle está no RS, produzindo reportagem especial sobre a passagem de um ano da enchente no Estado. O jornalista gaúcho Guilherme Becker, que atua no veículo, está visitando os principais pontos da tragédia.

Entrevista - Rafael Leal - Chefe da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores

"Sempre trabalhamos preservando a independência do Brasil"

Líder da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores, Leal falou com a coluna no South Summit Brazil.

O que é o programa Diplomacia da Inovação?

São três objetivos: o primeiro é trabalhar a imagem do Brasil no Exterior. O segundo é incentivar os agentes do ecossistema a se internacionalizar. E o terceiro é conectar as startups ou os parques tecnológicos com as suas contrapartes no Exterior. Por que é importante trabalhar a imagem do Brasil lá fora? Quando compramos um celular ou um microfone, por exemplo, a informação de onde foi feito esse equipamento afeta o juízo que se tem sobre esse produto. 

Se eu disser que esse celular é fabricado na Coreia do Sul ou nos Estados Unidos, no Vale do Silício, ou no Chile, isso vai afetar a visão que se tem sobre a qualidade desse produto. O trabalho do Itamaraty é tentar reduzir o gap entre a percepção que se tem do Brasil no Exterior e a realidade. O nosso trabalho é fazer com que ele seja conhecido: trazendo pessoas de lá para cá e levando gente do Brasil para esses ecossistemas, para que se saiba o que está sendo feito.

Como é operacionalizado?

De várias formas. Primeiro fazemos um trabalho de inteligência, que consiste em mapear os ecossistemas de inovação mais dinâmicos do mundo. Por exemplo: os ecossistemas de inovação na Malásia, no Vietnã ou na China ainda são pouco conhecidos no Brasil. Usamos diplomatas que estão nas embaixadas e consulados do Brasil mundo afora para um conhecimento especializado sobre aqueles países. O que temos feito é para que um empreendedor, um parque tecnológico, uma missão de ciência, tecnologia e inovação que vá para aquele país, tenha um documento de referência sobre como aquele país atua em setores de ciência, tecnologia e inovação. 

Fazemos o contrário também. Estamos trabalhando no mapeamento e na produção de um documento que mostra o ecossistema de inovação brasileiro, para quando vier uma delegação mostramos: "Olha, em Recife tem o Porto Digital, em Porto Alegre tem o Instituto Caldeira, tem o Tecnopuc". Mostrar também para o Exterior o que está sendo feito aqui. Outra é levar os empreendedores para o Exterior, por meio de missões tecnológicas. Também trabalhamos com programas de incubação cruzados, que significa levar startups para conhecer outros países e também selecionar projetos de fora e fazer uma imersão nos ecossistemas.

A guerra comercial entre China e EUA preocupa a diplomacia da inovação?

É preocupante, sem dúvida, mas o Itamaraty sempre trabalhou nesse espaço multilateral, preservando a independência do Brasil, de conseguir trabalhar com todos os povos e buscando oportunidades para o país, procurando avançar da melhor forma o interesse nacional. Continuamos trabalhando nessa área da inovação como antes, buscando oportunidades para inserir o Brasil inovador tanto na Ásia, quanto no hemisfério americano. 

ENTREVISTA

sábado, 5 de abril de 2025


Atualizada em 04/04/2025 - 14h07min
Martha Medeiros

O que o povo não sabe é que sou craque em me nutrir bem – só que sou uma gourmet de ideias. Passo o dia beliscando música, textos, entrevistas, conversas, postagens, humor

Fiz da minha casa uma delicatessen cultural.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Costumo ser a última a aderir a novidades. Entre minhas amigas, fui a última a ter smartphone, a última a entrar no WhatsApp, a última a ter um perfil no Instagram, o que não é surpresa para elas. No século passado, fui a última a ter videocassete, a última a ter um CD player, e já que estamos falando da pré-história, fui a última de nós a transar também.

Onde quero chegar? Comprei uma Air Fryer! Obrigada, obrigada. Os algoritmos também estão em festa. Não param de me enviar receitas de salmão, de frango, tudo para que eu me liberte das frituras e vire uma mulher moderna e saudável – já era hora.

O que o povo não sabe é que sou craque em me nutrir bem – só que sou uma gourmet de ideias. Prefiro pensar a me empanturrar de batata frita. Passo o dia beliscando música, textos, entrevistas, conversas, postagens, humor. Fiz da minha casa uma delicatessen cultural.

Trabalho em home office desde quando era um privilégio de poucos. Hoje, somos uma multidão sem ter um patrão vigiando a produtividade por trás de nossos ombros. A tradicional escapada para o cafezinho (pausa restauradora dos prisioneiros de escritórios) deu lugar a escapadas a todo minuto, sem vigilância. Daí que eu insiro vários “cafezinhos” entre as obrigações da agenda. 

Releio trechos de livros, assisto a entrevistas do Roda Viva e do Sem Censura, acompanho os comentários do Pedro Cardoso no Insta, pesquiso músicas novas para minha playlist, troco áudios quilométricos com os amigos que moram longe, confiro a programação do ICL 

Notícias, faço palavras cruzadas enquanto pego sol na sacada, sigo psicanalistas, jornalistas, poetas, filósofos e comediantes nas redes (já que não consigo evitar meu próprio sequestro, ao menos escolho bem os algozes), faço exercícios na sala com pesos, elásticos e caneleiras, me distraio com fotos de moda de rua, leio mais um pouco, saio para caminhar escutando as músicas que recém adicionei, consulto meu saldo no aplicativo do banco e descubro que sim, vai dar para viajar em junho. E volto para o trabalho correndo, porque ser feliz tem um preço.

Dispersiva, sim, mas bem alimentada. Não dedico meu tempo aos sabotadores da verdade – vou ao teatro e ao cinema quando quero ficção. Dieta balanceada é aquela composta de nutrientes valiosos: arte de qualidade, informação de boa procedência e uma pitada de ousadia, que para caretice tenho apetite zero.

Adquiri uma Air Fryer porque minha cozinha não mudou quase nada desde 1988 e tenho uma reputação a zelar. Mas não consumo qualquer babado só para me sentir atualizada. Ainda prefiro textos longos, amigos reais e políticos que desapontam, mas não são insanos. Serei a última a aderir à morte da minha cuca. 


Passeio sem volta

As estradas, que deveriam servir para aproximar existências, só têm interrompido sonhos. O novo palco do terror é o Acesso Rota do Sol, na altura do km3, no Vale do Taquari.

Sete alunos do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) morreram, dos 35 ocupantes de um ônibus de excursão, que se dirigia ao Cactário Horst, o maior cactário da América Latina, em Imigrante (RS), a 140 quilômetros de Porto Alegre.

As vítimas - seis mulheres e um homem - ainda não foram identificadas. O veículo capotou em uma ribanceira, às 11h15min de sexta-feira. Numa curva, teria perdido os freios, saindo da pista pelo lado esquerdo. O ônibus andou cerca de cem metros fora da faixa.

Vinte e seis pessoas estão feridas, com fraturas múltiplas.. Havia estudantes e professores do curso de Paisagismo, além do motorista.

Venho chamando atenção para o estado lamentável das nossas vias, agravado depois das enchentes. Quem passa pela Rota do Sol já sabe dos riscos. Aliás, a estrada nem poderia ter esse nome, mais próxima de um Vale das Sombras e da Morte - esburacada, precária, sem as devidas muradas de segurança. Mesmo não sendo a pivô desse acidente, basta um problema técnico e não há escapatória. Em outro trecho, em Itati, no fim de janeiro, cinco pessoas morreram, incluindo um menino de nove anos, após colisão entre caminhão do Corpo de Bombeiros e um carro.

Santa Maria revive as feridas do luto da boate Kiss (2013) e de dois professores universitários assassinados em assalto em Mato Castelhano (RS), em julho de 2024. São perdas consecutivas envolvendo a UFSM, a principal universidade da cidade.

O Rio Grande do Sul testemunha a repetição de uma tragédia em rodovia. Há seis meses, também sete adolescentes, atletas do clube Remar para o Futuro, de Pelotas (RS), sofreram um acidente fatal na BR-376, em Guaratuba, no Paraná, que causou ainda o óbito do coordenador técnico, Oguener Tissot, e do motorista.

Se, no Paraná, uma carreta sem freios atingiu a traseira da van que transportava a equipe esportiva no retorno ao Estado depois de competição em São Paulo, agora a falta de freios no ônibus resultou no desastre em Imigrante.

O que era para ser uma dia memorável, aquela viagem anual para quebrar a rotina da sala de aula, uma atividade prática em contato com a natureza, uma celebração com os orientadores, uma expedição científica entre as imensas estufas com 2 mil espécies de plantas divididas entre cactos e suculentas, tornou-se um passeio macabro e sem volta para vocações curiosas e ávidas pelo conhecimento.

Ficam os espinhos infeccionando o coração das famílias, desamparadas com a precocidade do adeus.

Não tem como suportar a inversão do ciclo da vida e enterrar os próprios filhos. É o deserto do futuro. _

CARPINEJAR
 05 de Abril de 2025
APÓS LEI MARCIAL

APÓS LEI MARCIAL

Impeachment é confirmado, e Coreia terá nova eleição

O tribunal constitucional da Coreia do Sul confirmou na sexta-feira o impeachment do presidente Yoon Suk-yeol, quatro meses após ele mergulhar o país em uma crise ao declarar lei marcial.

Os juízes concluíram que não havia necessidade de lei marcial. A norma suspendia atividades políticas e liberdades civis e levou militares às ruas da capital, Seul, que chegaram a invadir o parlamento.

Um dos advogados do ex-presidente chamou a decisão de "completamente incompreensível" e "puramente política".

A decisão abre caminho para novas eleições presidenciais, que devem ser realizadas em até 60 dias. Até lá, o país seguirá governado interinamente pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que também foi alvo de impeachment, mas o processo foi anulado pela Justiça.

- Farei o máximo para administrar a próxima eleição presidencial de acordo com a constituição e a lei, garantindo uma transição tranquila - disse Han.

Opositor é favorito

Pesquisas apontam que Lee Jae-myung, líder do Partido Democrata, principal legenda liberal de oposição, é o favorito para se tornar o próximo presidente do país. _



05 de Abril de 2025
MARCELO RECH

Trump, o antiglobalização

Não deixa de ser uma cruel ironia que os manifestantes de esquerda que bradavam contra a globalização nos anos 1990 tenham encontrado em Donald Trump o algoz da ordem econômica mundial vigente até a quarta-feira passada.

Para lembrar. A globalização é um fenômeno que remonta à era das grandes navegações, mas foi a partir do fim da União Soviética, em 1991, e do surgimento da internet que as economias se tornaram interdependentes, com produções descentralizadas, e aceleraram os acordos de livre-comércio, como a União Europeia, o Mercosul e o Nafta.

Sem norte desde a ruína do Muro de Berlim e a conversão da China em ditadura capitalista, boa parte da esquerda ocidental abraçou o discurso contra a globalização - e, por consequência, contra o capitalismo representado pelo livre trânsito de mercadorias. Os ativistas antiglobalização, recorde-se, clamavam contra multinacionais que plantavam fábricas no mundo subdesenvolvido em busca de reduções de custo e acusavam "Exploração, espoliação!".

É igualzinho ao que Trump vociferou esta semana no Jardim das Rosas, na Casa Branca, embora, pela visão trumpista, o explorado seja o ingênuo povo dos EUA. Ironia das ironias, Trump levou à cerimônia um sindicalista de Detroit para defender sua muralha contra o livre-comércio. Sinal dos tempos, o ataque a organismos internacionais e blocos econômicos, como a UE, se tornou parte da agenda da extrema direita mundial.

Uma vertente da antiglobalização se instalou em Porto Alegre nos anos 2000, nos Fóruns Sociais Mundiais, com o mote de "um outro mundo é possível". Os fóruns tinham uma agenda difusa, quando não confusa, mas o que se viu esta semana, duas décadas depois, é que coube a Trump criar um outro mundo na esteira de sua fúria antiglobalista e contra os organismos multilaterais, ainda que com o sinal trocado daquela esquerda.

Um dos seus alvos é o mesmo dos manifestantes de dezembro de 1999, quando milhares de irados esquerdistas promoveram a chamada Guerra de Seattle, onde se realizava a conferência da Organização Mundial do Comércio. A OMC é hoje o altar para se depositar os protestos contra as tarifas nos EUA - o governo Lula, por exemplo, pensa em recorrer ao organismo. Trump, porém, cumpriu o sonho daquela esquerda e esvaziou a influência da OMC, por sinal.

Nos anos 1990, os manifestantes denunciavam a exploração de "povos oprimidos", em boa medida pelos acordos comerciais que favoreciam as chamadas cadeias integradas da produção. Duas décadas depois de a globalização ter retirado centenas de milhões da mais absoluta miséria, os povos de Índia, Vietnã e Indonésia estão entre os mais atingidos pelas tarifas de Trump. Tudo o que eles desejariam agora era mais globalização e menos ironias históricas. _

MARCELO RECH

05 de Abril de 2025
ANDRESSA XAVIER

Estádios lotados

Imagine a preocupação de uma mãe e de um pai esperando por mais de um ano um especialista para atender o filho que tem sintomas de algo que eles não fazem ideia do que seja. Eles só querem um diagnóstico para saber como lidar e tratar. Agora pense na pessoa que precisa de um oftalmologista e vai ter que ficar meses aguardando uma simples consulta. A mulher que notou que tem algo errado no seu corpo, mas não consegue investigar sem o encaminhamento ideal. O idoso com dor constante no quadril. A capital gaúcha tem 200 mil casos como esses, com muitos detalhes e especificidades que não consigo trazer aqui.

A fila do SUS em Porto Alegre, como mostrou a reportagem da Lisielle Zanchettin nessa semana, é de 206.267 consultas. Se fosse uma fila presencial, encheria duas vezes o Beira-Rio e mais duas vezes a Arena ao mesmo tempo, mas sem torcedores, e sim pessoas sentindo dores e aflições. Como se fosse pouco, ainda há 167 mil exames represados. É como se quase toda a população da cidade de Alvorada saísse de casa e formasse uma fila. Há um temor sempre pairando no ar de que, quando esses pacientes forem enfim chamados, já tenham morrido. Medo que tem fundamento, já que há casos de espera de cinco anos. Cinco anos!

Se a fila fosse física, com as pessoas amontoadas esperando em linha, talvez nos fizesse ficar mais chocados, mas como a gente não vê ela é abstrata, é distante. A não ser que seja alguém da nossa família ou do círculo de amizades sofrendo nessa espera, seguimos a vida normalmente. Sabemos todos que a responsabilidade não é somente do município, mas do Estado e do governo federal. Os três precisam atuar juntos e investir para que os pacientes não esperem por meses ou anos um atendimento de 15 minutos.

Não vejo luz no fim desse túnel a curto prazo. Sinto a saúde como um problema sem solução, mesmo estando à beira do colapso. Um emaranhado do qual não conseguimos sair. Uma lama que prende os pés e não nos deixa caminhar.

O que a população precisa como resposta é quando o tema será tratado com a agilidade que merece. Essas filas são cruéis e expõem uma realidade bem nossa, que precisa ser enfrentada.

No fim das contas, as pessoas só precisam de um prazo mais curto e de um atendimento de qualidade. Parece simples e é um direito básico, mas estamos sempre atolados de problemas e burocracia que nos impedem de resolver. Já ouvi inúmeros candidatos a tudo prometendo "melhorar a saúde". Assim mesmo, de forma vaga, sem projeto, sem plano, sem prazo. Até lá vamos mofando nas filas, esperando leitos, esperando atendimento, esperando consultas, esperando viver até chegar a nossa vez. _

ANDRESSA XAVIER

05 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

Tarifaço, contenção de danos e oportunidades

A escalada da guerra comercial desencadeada pelo tarifaço promovido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, põe a economia global na rota de uma crise cuja gravidade está distante de ser bem compreendida e dimensionada. São poucas as certezas. Uma delas é a de que, em conflitos do gênero, não há ganhadores, embora possam existir países que saiam menos machucados da contenda. Outra é a de que a ordem internacional está sendo redesenhada.

Diante dos riscos à frente, mas também da dificuldade de prever desdobramentos, os mercados acionários derretem pelo mundo, o petróleo despenca e o dólar tem oscilações bruscas para cima e para baixo. No radar está a possibilidade de uma combinação não usual de inflação pressionada junto a uma recessão. 

Após Trump anunciar a taxação de importações de 185 nações ou territórios, a China, segunda maior economia do planeta, retaliou e impôs tarifas de 34% a todos os bens norte-americanos. A resposta agrava a instabilidade e os temores de aprofundamento dos efeitos deletérios da guerra comercial, como a paralisação de investimentos produtivos, a interrupção de cadeias, com reflexos nos custos, e um freio brusco na economia global.

O Brasil ficou na lista dos menos atingidos, com uma taxa de 10%. Imediatamente surgiram estimativas de que o país poderia acabar beneficiado, abocanhando parte do mercado norte-americano hoje ocupado por nações que terão tarifas bem maiores. Até pode ser, mas ao mesmo tempo existe a possibilidade - com precedentes - de o excedente de produção de grandes exportadores da Ásia ser desovado em outros mercados. O Brasil, pelo porte, tende a ser um destino preferencial. Paira uma ameaça, portanto, sobre setores industriais do país.

Resta ao Brasil, em um papel a ser protagonizado pela diplomacia profissional, trabalhar para reduzir danos. Convém persistir no caminho da negociação bilateral com a Casa Branca, para reforçar que não passa pelo país o problema do déficit comercial dos EUA. Os norte-americanos são superavitários nas trocas comerciais com o país. 

O Congresso aprovou durante a semana a chamada Lei da Reciprocidade, que dá instrumentos de retaliação. Seu uso ou qualquer revide aos EUA, no entanto, devem ser muito bem pensados para que, ao fim, não prejudiquem ainda mais a economia nacional. Taxar produtos norte-americanos pode significar importar inflação. São estudadas alternativas na área da propriedade intelectual e de quebra de patentes.

Mas crises também são oportunidades. Diante da postura protecionista e isolacionista dos EUA, faria bem o Brasil se fosse na direção contrária, de maior abertura. Deve-se redobrar a aposta no acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Atingido por Trump, o bloco do outro lado do Atlântico tende a ambicionar mais o tratado. 

Em recente passagem de comitiva governamental brasileira pelo Japão, voltou-se a falar sobre uma aliança entre os sul-americanos e o país asiático. Mais nações passarão a ter novos incentivos para buscar alternativas à nova postura norte-americana. É hora de se esforçar para reduzir estragos imediatos e planejar nossos passos para proveitos futuros. 



05 de Abril de 2025
ACERTO DAS TUAS CONTAS - Giane Guerra

No chão da fábrica

Há muito tempo, a automação das fábricas busca, além de reduzir custo, claro, enfrentar o problema da falta de mão de obra. Agora, a inteligência artificial também tem esse objetivo, aprendendo com os humanos e potencializando o que eles fazem, para reduzir o tempo que leva uma atividade e ampliando sua repetição. Além disso, aqui na feira de Hannover, na Alemanha, está se pedindo para facilitar a migração de estrangeiros qualificados para trabalharem na indústria. Para quem está planejando carreira, vale ficar atento a estas oportunidades, buscando emprego e qualificação onde se precisa.

Preparação de mão de obra é missão da nova diretora-geral do Senai/Sesi-RS, Susana Kakuta, que integrou a missão a Hannover. Entre as iniciativas do Brasil citadas por ela, a mais interessante - dado o momento econômico e político mundial - é um projeto para buscar para indústrias gaúchas trabalhadores deportados dos Estados Unidos de volta ao Brasil. Um piloto deve ser lançado em uma empresa de Erechim.

Outro programa no qual ela aposta é no Soldado Cidadão, já em execução, capacitando para uma profissão jovens que estão no Exército. Também na missão empresarial, o gerente-geral do Sesi/Senai-RS, Márcio Basotti, está em busca de ideias no projeto com salas de aula em carretas de caminhões para levar o ensino profissional a cidades de todo o interior gaúcho.

Há oportunidade de ensino e emprego sobrando, vamos arregaçar as mangas?

Um desafio gigante da indústria é tornar-se atrativa para as novas gerações. Neste sentido, a coluna exalta o SESI Lab, espaço de ciência, tecnologia e arte bem na área central de Brasília. Nele, crianças (e adultos que as acompanham até quando as pernas aguentam) passam horas brincando em dezenas de atividades ligadas à física, matemática, química e tudo mais que envolve o processo industrial. É cativante e - perdoem o lugar comum - ensina brincando. _

* A coluna viajou a Hannover a convite da Fiergs.

Projeto em espera

Expectativa era de que o projeto de R$ 105 milhões do Senai-RS com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) trouxesse algo como o Sesi Lab de Brasília para Porto Alegre, além de ser espaço de formação de pesquisadores e parcerias tecnológicas. O projeto, porém, está parado na definição de terreno.

A área que era para o Teatro da Ospa deixaria a obra cara, diz o presidente da Fiergs, Claudio Bier. O prefeito Sebastião Melo ofereceu área no Largo da Epatur, mas também não é considerada adequada. _

Ensino no agro

Falando em qualificação, um polo do agronegócio, o norte gaúcho, terá um centro de educação da WebSilos em Soledade para formar profissionais - da operação à diretoria - para trabalharem em silos e armazéns de grãos. Os salários no setor vão de R$ 2,5 mil a R$ 8 mil no Rio Grande do Sul, que, aliás, tem perdido mão de obra para o Mato Grosso, onde a remuneração vai de R$ 4,5 mil a R$ 18 mil.

- Está mais complicado armazenar grãos, modificados geneticamente para ter mais óleo. Manejo, limpeza e cuidado são diferentes. Equipe qualificada tem menos acidentes, perdas de grãos e estrago em equipamento - diz o CEO Eduardo Monteiro. _

Espaço dos orgânicos nas prateleiras

Nos mercados, lojas, farmácias e no menu dos restaurantes, os alimentos orgânicos têm prateleiras, espaços e selos especiais com a identificação "Bio". Até mesmo o cardápio de cervejas sinaliza aquelas bebidas que foram produzidas sem agrotóxico. Na Alemanha, há supermercados que vendem apenas orgânicos. A maior rede, por exemplo, tem 400 lojas. Em Nuremberg, a feira Biofach tem apenas expositores de comida orgânica e são mais de 2 mil. _

Metrô pontual

Hannover, no norte da Alemanha, é uma cidade com menos da metade dos moradores de Porto Alegre, mas tem várias linhas de metrô de superfície e subterrâneo. O que mais apaixona a coluna é a frequência e a pontualidade dos horários. Em tempo, os fios de energia são subterrâneos, sem aqueles emaranhados nos postes aos quais tentam nos acostumar.

Gasolina e diesel

Temor de a economia cair na guerra comercial derruba o petróleo. Mas Petrobras mexe em preço de gasolina e diesel só quando a cotação acalma, evitando oscilação.

ACERTO DAS TUAS CONTAS


05 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Acusado de matar colombiano vai a júri

Oito anos após a morte do estudante colombiano Eduardo de la Hoz, durante briga de condomínio em Porto Alegre, o autor dos disparos, o bombeiro Tiago Lamadril Borges, será julgado na segunda-feira, na 2ª Vara do Júri do Foro Central da Capital.

À época vizinho de Eduardo, o soldado é acusado de homicídio qualificado. Acompanhei a história como repórter desde o episódio trágico, em 2017. Escrevi à época uma reportagem especial, intitulada "A vida e a morte de Eduardo", publicada em várias páginas de ZH, detalhando como uma discussão de condomínio terminou em desastre. O motivo da briga: o desaparecimento de uma bicicleta.

Natural de Barranquilla, norte da Colômbia, Eduardo fazia mestrado em História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desde 2015.

O crime foi em 16 de fevereiro de 2017, quando o jovem de 29 anos questionou o subsíndico do prédio onde morava, na Avenida Cristóvão Colombo, sobre o sumiço de sua bicicleta na garagem. Após a discussão, outro morador do prédio, o soldado Borges, teria confundido o colombiano com um ladrão e, armado, deu ordem de prisão. Segundo a versão da defesa do bombeiro, Eduardo não teria atendido. Borges disparou dois tiros que atingiram o jovem. Eduardo ficou internado sete meses (dois deles em coma), até morrer, em 24 de setembro.

Desde então, a família busca Justiça. A mãe de Eduardo, a advogada e assistente social María del Carmen León, acompanha o caso em Barranquilla, onde mora. Gostaria de estar no júri, mas foi orientada a priorizar a saúde - ela precisou de acompanhamento psiquiátrico após a morte do filho.

Eduardo era um jovem historiador que foi vítima de xenofobia e racismo no Brasil - diz ela à coluna.

Em junho, ela pretende vir a Porto Alegre para receber o diploma de mestre do filho, que estava prestes a concluir a pós-graduação e iniciar doutorado na Suécia. O irmão de Eduardo, Hector de la Hoz, que mora em Florianópolis, estará no Fórum.

A vida nunca voltou ao normal. O tempo parece ter parado naquele momento. Natais, viradas de ano, carnavais, aniversários, nada voltou ao normal - conta Héctor.

A família é representada pelo Ministério Público (MP-RS). Procurada, a defesa do réu, a cargo da advogada Tais Martins Lopes, disse que só irá se manifestar após a decisão do júri. O soldado Borges responde ao processo em liberdade. _

Cooperativa terá equipamento que identifica 30 tipos de plástico

A Cooperativa de Trabalho e Reciclagem Campo da Tuca (Coopertuca) será a primeira do RS a participar de projeto inovador de triagem de resíduos. A iniciativa permitirá o uso de um espectrômetro portátil - equipamento que identifica até 30 tipos diferentes de plástico.

O dispositivo integra o programa "Cooperativas Mais Tecnológicas", da BASF, para aprimorar a triagem de plásticos para reciclagem. _

Entrevista - Romeu Zema - Governador de Minas Gerais

"Acho que Bolsonaro não teve nada a ver com isso"

Entre os nomes que se apresentam como possíveis candidatos à Presidência nas eleições de 2026 está o do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ele conversou com exclusividade com a coluna na sexta-feira, antes do painel Qual o futuro do Brasil?, que compartilhou com o governador Eduardo Leite no Fórum da Liberdade, na Capital.

Para 2026, há vários nomes de possíveis candidatos. Como é que o senhor avalia o atual cenário?

Acho que da diversidade se extraem boas coisas. Em uma democracia, quanto mais diversos os candidatos, melhor. Temos de escutar todos. Cada linha tem a sua contribuição a dar. Vejo como muito positivo. Agora, o Brasil precisa de gestão. Somos um país que, na minha opinião, nunca deveria ser o que tem mais ministérios no mundo. Não é quantidade que leva. É você trabalhar duro que faz isso. E aqui, no Brasil, parece que estamos confundindo o Estado grande com o Estado bom.

? O senhor acredita que é possível reverter a inelegibilidade do ex-presidente Bolsonaro?

Acredito que sim. Vejo que as acusações contra ele muitas vezes não procedem. Espero que seja revertido.

? Um dia depois do STF tornar Bolsonaro réu, o senhor publicou mensagem de apoio ao ex-presidente. Ele teve relação com os atos do 8 de janeiro?

Ele inclusive não estava no Brasil. Acho pouco provável. Aquilo ali foi uma manifestação, como já tivemos centenas no Brasil, de caráter popular e incorreta. Sou totalmente contrário a qualquer manifestação que deprede, que cause vandalismo. Manifestação, para mim, tem de ser ordeira. Vai para praça, grite, faça o que achar adequado, mas sem afetar patrimônio e o direito de ir e vir das pessoas. Acho que ele (Bolsonaro) não teve nada a ver com isso. Os atos do 8 de Janeiro foram uma ameaça à democracia?

Foram um ato de vandalismo. Nunca vi qualquer tentativa de golpe de Estado no mundo onde idosos participaram, mulheres desarmadas, como dia 8 de Janeiro. Pessoas que estavam lá insatisfeitas fizeram errado, precisam ser condenadas, pagar as penas, as multas, mas não pena de 14 anos.

Como o senhor avalia a atuação do STF no caso?

Parcialidade total. Um julgamento político. O que aconteceu com manifestantes que já entraram em ministério, do MST, em anos anteriores? Tem alguém detido? É um tratamento totalmente desigual e, nesse último caso, desproporcional. Todo ato de vandalismo precisa ser punido, mas não com pena de 14 anos.

Se Bolsonaro conseguisse reverter o processo de inelegibilidade e pedisse apoio ao senhor. Abriria mão da candidatura para apoiá-lo ou aceitaria convite para ser vice?

Tem de ficar muito claro aqui: tenho um projeto para o Brasil, e não um projeto para o Romeu Zema. O que quero é um país bom, um país que se desenvolva, que acabe com a corrupção no que for possível. Esse é o Brasil que sonho. E o presidente Bolsonaro é, mesmo que não gostem dele, o maior líder da direita. E ele, sendo um candidato, teria, sim, o meu apoio. Quero um Brasil melhor, independentemente de cargo. Me considero mais empreendedor do que político. Tenho muito o que contribuir se eu passar para o outro lado do balcão ainda.

O que o senhor acha do projeto de anistia dos manifestantes do 8 Janeiro?

Deveríamos ter no Brasil Justiça imparcial. Parece que, como não temos, precisamos apelar para alguma coisa que se chama anistia. Mas aquelas pessoas que depredaram o patrimônio público, na minha opinião, devem seguir a lei ao pé da letra. Devem pagar pelo que fizeram. Agora, falar que estão contra a democracia, aí é interpretação e não do que está na lei. Houve depredação de patrimônio público. Pague por isso, de acordo com a lei. Agora, falar que é golpe de Estado, que uma mãe de dois filhos, cabeleireira, está conspirando contra a democracia, parece um grande exagero. _

INFORME ESPECIAL