sábado, 14 de junho de 2025



12/06/2025 - 04h00min
Lou Cardoso

"Namorar é aprendizado": veja o que dizem casais de diferentes gerações sobre relacionamento

Três casais de diferentes gerações compartilham os aprendizados de seus relacionamentos e mostram como uma relação pode ser um espaço de construção conjunta

Cultura, Comportamento e Donna

O que significa namorar? O conceito pode ter variações, mas, de forma geral, a maioria dos casais entende que é um processo contínuo de conhecer o outro, e a si mesmo, enquanto se constrói algo a dois. Quando se é jovem, o primeiro amor parece intenso, novo e empolgante. Já na vida adulta, os sentimentos costumam estar mais maduros, e cada pessoa sabe o que busca em uma relação.

Pensando nisso, a reportagem de Zero Hora convidou três casais, de diferentes gerações, para compartilhar as suas reflexões sobre o que é essencial em um namoro, além de seus aprendizados ao longo das relações.

Como o amor começa? 

Era março de 1988 quando a consultora de turismo Juçara Figueiró da Fontoura, hoje com 73 anos, e Carlos Alberto Brondani, garçom de 60 anos, se conheceram em uma casa de umbanda em Porto Alegre. Após algumas trocas de olhares e conversas despretensiosas, veio um convite que definiria o rumo do casal, marcado por afeto, amizade e muitos desafios. 

— Tomei coragem e me convidei para levá-la para casa. Levei uma, duas, três vezes, e ela nunca me convidava nem para um cafezinho, né, minha senhora? — diz Carlos Alberto, olhando para Juçara. — Até que, no dia em que ela me convidou para um café, começou a nossa história — recorda. 

Também foi na convivência que a supervisora comercial Patrícia Langer, 51 anos, e o corretor de imóveis César Silva, 50, deram início a uma relação marcada por espontaneidade, paciência e parceria constante. 

Os dois se conheceram em 2002, em uma empresa automotiva. Colegas na mesma função, revezando escalas de folga e cobrindo férias um do outro. O namoro começou naquele mesmo ano e ganhou seriedade desde o princípio.

— A gente trabalhava muito próximo. Era o tempo todo junto, mas nunca teve estresse. A gente sabia que era algo para valer. Mesmo trabalhando juntos, tínhamos nossos momentos nos finais de semana. Logo começamos a pensar em comprar um apartamento — conta Patrícia.

Patrícia e César se conheceram no trabalho e estão juntos há 23 anos.

Patricia Langer / Arquivo Pessoal

Entre os frutos do casal está o filho, João Pedro Langer, de 15 anos.

Patricia Langer e César Silva / Arquivo Pessoal

César e Patrícia eram colegas de trabalho quando começaram a namorar.

Patricia Langer / Arquivo pessoal / 3

Foi entre as aulas e atividades esportivas da faculdade que Maria Vitória da Silva Mayer, 21 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, e Marcelo Marques Stodolni, 22, aluno de Jornalismo, se interessaram um pelo outro. Apesar da rotina corrida, o primeiro beijo do casal foi digno de uma cena de filme.

— No Carnaval de 2024, eu estava em Jurerê e ela, na Praia do Rosa. Aí fiz a loucura de pegar um aplicativo de transporte e viajei duas horas para ver ela — lembra Marcelo. Para ela, esse gesto mudou tudo:

— Eu achava que ele não ia vir. Quando ele apareceu, pensei: "Meu Deus, é ele". 

Namorar é um teste? 

Segundo o pesquisador Dardo Lorenzo Bornia Junior, professor de Ciências Sociais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), o conceito de namoro surgiu como um intermediário entre o ato de conhecer alguém e o casamento — especialmente em contextos religiosos no passado.

As relações afetivas eram, em sua maioria, arranjos sociais, políticos e econômicos. Hoje, o namoro já não carrega mais a obrigação de levar ao altar. Para muitos, a relação se justifica pelo prazer de estar com alguém, sem necessariamente firmar um futuro conjugal.

— Sabemos que, especialmente a partir dos anos 1970, com as mudanças nas leis do divórcio e nas gerações mais urbanas, o namoro não necessariamente indica uma promessa de casamento, mas é visto como o próprio objetivo da relação, podendo evoluir para algo mais sério ou não — explica o pesquisador.

Maria Vitória e Marcelo compartilham a rotina na faculdade e nas atividades físicas.

Maria Vitória da Silva Mayer / Arquivo pessoal

Casal está junto há um ano e deseja dividir o futuro juntos.

Maria Vitória da Silva Mayer / Arquivo pessoal

Primeiro beijo do casal foi durante o Carnaval de 2024.

Arquivo Pessoal / Maria Vitória da Silva Mayer

Juçara e Carlos Alberto, por exemplo, estão juntos há quase 40 anos e têm dois filhos adultos – Acauã e Marina Brondani, de 35 e 32 anos, respectivamente. Mesmo com uma família já formada, o casal ainda não oficializou a união – algo que, segundo eles, deve mudar em breve.

— Já pedi ela em casamento umas três ou quatro vezes — brinca Carlos Alberto.

— A gente já tem tudo. Vivemos em união estável e agora vamos passar para o papel por questões jurídicas. Mas o que realmente importa, a gente já tem — reforça Juçara.

Para chegar até aqui, o relacionamento enfrentou obstáculos – entre eles, o racismo e a diferença de idade de 13 anos, que gerava olhares atravessados na época em que começaram o namoro. Com o tempo, as críticas perderam força, mas o amor entre eles só se fortaleceu, guiado por um ingrediente fundamental: o diálogo.

— O que nos manteve juntos foi isso: compreensão e a certeza de que toda crise passa. Para manter esse núcleo forte, fizemos terapia familiar, o que eu recomendo muito. Às vezes, a gente tenta consertar tudo sozinho, mas não tem resposta para tudo. Um terceiro pode ajudar a reorganizar as coisas — afirma Carlos Alberto.

Eles também fizeram questão de construir um lar diferente do que tiveram.

— A gente traz muitas coisas da infância. Mas tentamos fazer diferente, formar uma família com mais diálogo, mais companheirismo — acrescenta Juçara.

Patrícia e César também passaram por momentos difíceis. Mesmo com a alegria da chegada do filho João Pedro, hoje com 15 anos, a relação exigiu paciência diante das adversidades da vida adulta.

— A gente divide tudo. A adolescência do filho, a velhice dos pais, as tarefas de casa... Tem fim de semana que cuidamos da minha mãe, no outro da mãe dele. E mesmo no meio de tudo isso, seguimos querendo estar juntos — conta Patrícia.

Já para Maria Vitória e Marcelo, o namoro na juventude é um constante aprendizado e nem sempre fácil. Para a estudante, um dos maiores desafios é a correria do dia a dia:

— Hoje em dia, tudo tem que ser rápido, do nosso jeito. Mas relacionamento exige paciência, escuta, maturidade pra entender que fases difíceis passam — relata a jovem, que completa: — Às vezes, o amor está num "bom dia", num copo d’água que ele me traz. A gente aprende que amor é mais do que paixão.

Afinal, o que significa namorar?

O termo namoro, que vem do latim e significa se apaixonar, passou a ser associado à difusão do amor romântico como justificativa para relacionamentos e casamentos. Segundo destaca Bornia, esse entendimento se popularizou nos últimos cem anos com a chamada "indústria cultural do amor", muito presente na literatura, na música e, especialmente, nas novelas.

Hoje, como mostram os casais entrevistados pela reportagem, namorar significa, essencialmente, estar junto — o que contribui para o conceito de “se apaixonar” diariamente.

Foi assim com Juçara e Carlos Alberto. Com os filhos seguindo seus próprios caminhos, o casal vive uma nova fase:

— Nosso namoro hoje é tomar uma taça de vinho em casa, conversar, rir, dormir juntos. Uma fase mais devagar, mas muito gostosa. Nosso relacionamento começou com fogo e paixão, depois virou companheirismo, e agora é cuidado um com o outro — diz Carlos Alberto, que sonha com o futuro de mãos dadas com a futura esposa: — Quero ficar velhinho com ela, de bengala. Quanto mais eu puder estar ao lado dela, eu vou querer estar.

Juçara concorda, com o olhar de quem já atravessou o tempo ao lado do seu grande amor:

— Vamos seguir juntos, grudados, tentando aproveitar a vida de verdade. Até o fim.

Acauã Brondani / Arquivo pessoal

Juçara e Carlos Alberto com os filhos Acauã e Marina.

Acauã Brondani / Arquivo pessoal

Vinte e três anos depois, Patrícia e César seguem namorando — sempre com novos planos, viagens, shows e barzinhos. Para eles, o segredo de uma relação duradoura está em continuar se escolhendo.

— O início do namoro é cheio de fantasia. Depois, vem uma fase mais verdadeira. É preciso regar. Às vezes é um "eu te amo" no meio da tarde, um "obrigado por estar comigo". Coisas simples que mantêm tudo vivo — cita Patrícia.

César completa:

— É saber respeitar as diferenças, conversar, trocar ideias, reconhecer as qualidades e aceitar os defeitos. É assim que a gente vai junto.

Apesar de recente, Maria Vitória e Marcelo também entendem que um namoro vai muito além do romance idealizado pela ficção:

— Namorar é aprendizado. A gente deixa de viver só por nós mesmos e passa a compartilhar a vida com alguém. Com o tempo, vamos entendendo a visão do outro. E isso ensina demais — reflete Maria.

— Esse é meu primeiro namoro, então muita coisa foi nova. Mas eu sinto que evoluí muito como pessoa. Namorar é isso: evolução — completa Marcelo.

E o futuro do amor?

Os relacionamentos seguem em transformação, refletindo as mudanças da sociedade. Com isso, o namoro ganhou novos rituais e novos modelos de relação – do cortejo por cartas aos aplicativos, de casais LGBT+ a uniões não-monogâmicas. E mesmo que as relações mudem, a busca por afeto, intimidade e conexão continua essencial.

— Nunca encontraremos alguém que seja exatamente como queremos, porque cada pessoa é única. É difícil encontrar esse equilíbrio, especialmente quando somos bombardeados diariamente com ideais de consumo nas redes sociais. As relações humanas não são produtos a serem consumidos. Encontrar o meio termo é o verdadeiro desafio — conclui Bornia.



13/06/2025 - 13h02min 
Martha Medeiros

Todos nós somos meio loucos de nascença

Estamos todos no mesmo barco, bilhões de aprendizes que jamais chegarão a um consenso universal, nem ao cerne de coisa nenhuma

Minha filha mais nova e o namorado dela eram duas crianças de 11 anos quando o filme Saneamento Básico, de Jorge Furtado, foi lançado. Hoje ambos têm 29 e assistiram, pela primeira vez, a essa comédia irresistível que voltou a ganhar projeção e que a eles pareceu uma obra estimulante e nova – e é mesmo. 

Roteiro e texto naturalmente inteligentes, direção sem tomadas vertiginosas, atores espetaculares que se divertem em cena. A eficiência da verdade, a simplicidade rindo na cara da tecnologia. Não é que ainda funciona. Não só funciona, como se tornaram urgentes: elas, as qualidades espontâneas.

Uma rápida digressão: todos nós somos meio loucos de nascença. Como é que se tolera a ideia de que iremos morrer de uma hora para outra, sem saber quando? Explica-se o sucesso da religião, que procura nos consolar, ainda que eu prefira a filosofia, que nos ajuda a entender. Entre uma e outra, nos resta dar algum significado à vida, investindo em amigos, amores, filhos, trabalho, livros, cinema, música.

Antigamente, isso bastava para manter a saúde mental, mas agora complicou. Aquele mundo que ficava do lado de fora de casa arrombou a porta e se sentou no nosso colo. Temos acesso à intimidade de qualquer morador de Hollywood. Opinamos sobre medicina antroposófica e sobre os hábitos sexuais dos aborígenes como se fôssemos especialistas. 

Assistimos a vídeos que foram roteirizados, gravados, regravados, editados e que circulam como se fossem produto da casualidade. Consumimos toneladas de mentiras. Rolamos feeds e stories para passar o tempo, permitindo que conselhos de sei-lá-quem nos atinjam 50 vezes ao dia. Não há como fugir, fomos sugados pela sabedoria duvidosa de estranhos. Dar sentido à vida da forma que conhecíamos (amores, trabalho...) parece preguiça, agora a gente tem que buscar um significado digital de longo alcance.

Então ressurge do passado um filme que enaltece justamente o amadorismo, e nos lembra que continuamos absolute beginners, iniciantes que se realizam, mesmo, é através do amor, como diz a música de David Bowie: “Enquanto estivermos juntos, o resto pode ir para o inferno”. Houve uma época em que uma única presença era mais valiosa que um milhão de seguidores.

Os profissionais das redes são apenas diletantes tentando faturar algum, o que é legítimo, mas não são deuses. Menos idolatria, portanto. Menos bajulação. Estamos todos no mesmo barco, bilhões de aprendizes que jamais chegarão a um consenso universal, nem ao cerne de coisa nenhuma. Que tal voltarmos a assumir que somos nada além de amadores bem-intencionados? Se continuarmos reverenciando apenas a alta performance, sucumbiremos de vez ao delírio. Meio loucos já somos. 



14 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Mil desculpas

Tive a missão de convidar José Eduardo Agualusa para participar como atração surpresa do Festival Fronteiras do Pensamento, que alegrou o centro histórico da Capital com debates e duetos de pensadores no fim de maio. Quem me delegou a incumbência foi o amigo Pedro Longhi.

- Você é bom de papo - Pedro me elogiou. - E você é bom de treta - retribuí a gentileza.

A questão delicada é que, como Agualusa seria uma novidade de última hora, eu deveria convencer um dos mais elegantes autores da língua portuguesa - premiado pelo diário britânico The Independent por O Vendedor de Passados - a vir de Lisboa para Porto Alegre de um dia para o outro. Estávamos na quarta, o evento seria na sexta.

Comecei a abordagem despretensiosamente: - Oi, meu amigo, tudo bem? Uma sondagem: onde você estará na sexta?

Ele me respondeu que estaria fazendo uma colonoscopia. Segui a deixa: - Tudo é pretexto para adiar esse exame. Quer vir para POA?

Ele riu, alegou que não poderia adiar, que achara uma miraculosa brecha na agenda, que tinha protelado o exame mais de uma vez.

Acreditei que eu havia perdido a batalha. Mas insisti:

- Já tomou laxante?

Avisou que não.

- Então, aproveite a chance! Troque uma viagem por dentro por uma mais tranquila por fora.

Senti que ele vacilou. Investi com ânimo:

- Será lindo. Eu irei entrevistá-lo. Nem precisará de anestesia.

Ele passou a compactuar com a ideia:

- Pelo menos, você sabe como iniciar a conversa.

Eu metaforizei:

- O destino é o capricho do acaso.

Agualusa emendou:

- Se bem que não seria eu a viajar por dentro. Eu seria o dentro. Daí percebi que o conquistei: - Verdade. Você é o dentro disfarçado de fora. Como sempre.

Foi quando ele decidiu: - Ok, adiarei a colonoscopia. Agradeci oceanicamente. Em nosso diálogo no palco, ele me assustou um tanto. Não sei se foi para se vingar.

O escriba de boina e cavanhaque me descreveu o improvável. Ele contou que estava devaneando com Mia Couto, seu cúmplice de escrita, e, de repente, surgiu a dúvida:

- Quantos romances você já publicou? - perguntou Mia. Não se lembrava. Por preguiça, ou pressa (a preguiça é uma pressa para nenhum lugar), ele resolveu consultar o ChatGPT, que esclareceu:

"São 16 livros. Aqui está a lista".

José Eduardo Agualusa analisou a relação e não reconheceu um dos títulos. - ChatGPT, não escrevi este livro: O Mapa das Fissuras. Posso estar ficando louco, mas até procurei em minha biblioteca ou nas livrarias: simplesmente não existe!

O aplicativo tratou de se corrigir:

"Peço mil desculpas, tem toda a razão, esse livro não está nas livrarias porque você ainda não escreveu, vai escrever. Portanto, como ainda não foi escrito, ainda não está disponível".

Agualusa está atualmente escrevendo O Mapa das Fissuras. O primeiro caso em que a inteligência artificial encomendou um livro à inteligência humana - e não o contrário.

O futuro já aconteceu. _

CARPINEJAR

É o fim dos aiatolás?

A mira inicial dos ataques de Israel foram centrais nucleares, bases aéreas e de lançamentos de mísseis, cientistas e comandantes militares, mas o alvo final, que os aiatolás não se iludam, é a longeva ditadura dos turbantes.

Poucas vezes na história se viu uma ofensiva tão longa e detalhadamente planejada. Há pelo menos 20 anos, Israel perscruta seu maior inimigo com a convicção de que não era uma questão de se, mas quando ia bombardear os centros nucleares. Com a experiência de escaramuças anteriores, Israel sabe que as pancadas pregressas no programa atômico de Teerã, da eliminação de cientistas à difusão de vírus nos computadores iranianos, apenas retardam por meses ou alguns anos o desenvolvimento de artefatos nucleares com o selo dos aiatolás. A ameaça de um cogumelo atômico se erguer sobre Tel-Aviv só desaparecerá com o real compromisso do Irã de abdicar do enriquecimento de urânio ou o fim do regime.

Na véspera do ataque, a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU denunciou o Irã, e a resposta de Teerã foi anunciar reforços no desenvolvimento nuclear. A coincidência foi mais uma peça a se encaixar no quebra-cabeça de oportunidades únicas que se abriram para Israel definir o momento de atacar. Em primeiro lugar, os braços longos do Irã na região - Hamas em Gaza, Hezbollah no Líbano e Houthis no Iêmen - foram dizimados ou são incapazes de reagir. A Síria de Assad deu lugar a um regime que não quer confusão agora, a Rússia de Putin está entretida com suas próprias humilhações e a capacidade de resposta do Irã foi fragilizada pelos ataques contra radares e lançadores de mísseis em outubro passado.

A reação burocrática do mundo islâmico e de outros países contra a ação israelense também evidencia que ninguém se mostra disposto a socorrer os aiatolás. No fundo, tudo o que os vizinhos do Irã não desejam - como de resto qualquer governo com o mínimo de sanidade - é deixar um botão nuclear nas mãos de fanáticos religiosos com ambições de expansão imperialista.

Ditaduras resistem a muita coisa - e conflitos bélicos são bons para unir a população e silenciar a oposição num primeiro momento. Mas, como mostram a Argentina das Malvinas e o Iraque de Saddam Hussein, nem o mais sanguinário regime resiste a uma humilhação militar. A desenvoltura, e a eficácia, do serviço secreto israelense sob as barbas do líder Ali Khamenei é de fazer corar aiatolá de pedra. Um levante no Irã, contudo, não ocorre com o país sob ataque. Se os aiatolás sobreviverem, restabelecerão o programa nuclear sem amarras e sob proteção redobrada contra ameaças externas. Esse é o maior risco da ação israelense. A sorte está lançada, e não tem mais como voltar atrás. 

MARCELO RECH

LEGISLATIVO

Câmara propõe que parlamentares recebam salário e aposentadoria ao mesmo tempo. Projeto permite que deputados e senadores ganhem benefício enquanto estiverem no mandato. Prevê, ainda, uma "gratificação natalina"

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados apresentou projeto de lei que extingue a proibição do acúmulo de aposentadoria como parlamentar com o salário de cargo eletivo federal. A matéria, protocolada na terça-feira, é assinada pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e pelos representantes de PL, PP, União Brasil, PT e PSD na Mesa Diretora.

A lei 9.506, de 1997, que criou o atual regime de previdência dos deputados e senadores, diz que o parlamentar federal que tiver direito ao benefício da aposentadoria não poderá receber o pagamento enquanto estiver no mandato de deputado, senador ou outro cargo eletivo.

Caso o projeto seja aprovado, ele permitirá que deputados e senadores - participantes do Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC) - acumulem a aposentadoria, que é proporcional com o tempo de contribuição, com o salário de R$ 46.366,19, pago atualmente.

Nova gratificação

Além disso, o projeto cria ainda uma "gratificação natalina" para os integrantes do PSSC, a ser paga com base nos valores recebidos pelos parlamentares em dezembro.

Ao justificar a iniciativa, a Mesa Diretora disse que a proibição impõe "restrição incompatível com os princípios constitucionais da isonomia e da legalidade". A Mesa argumentou ainda que a exceção "perpetua discriminação indevida".

"Além de inconstitucional, a regra em vigor desestimula a continuidade da participação política dos cidadãos que já cumpriram integralmente os requisitos legais para a aposentadoria e seguem contribuindo para o regime", diz a justificativa. 



14 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Ferramenta de IA vai sugerir decisões a magistrados

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) lançou um pacote de ferramentas de inteligência artificial (IA) que prometem agilizar e facilitar o trabalho de magistrados e servidores. Oito plataformas foram desenvolvidas pela Corte, das quais cinco já estão disponíveis. Todas elas estão sob o guarda-chuva do projeto Gaia, sigla de Gestão Avançada de Inteligência Artificial. O nome também faz referência à mãe de Themis - a deusa da Justiça, na mitologia. A intenção é tornar mais dinâmica a análise dos processos, cujo estoque aumenta cerca de 20% ao ano no Estado.

Entre os recursos desenvolvidos está a Gaia Minuta, ferramenta que sugere minutas de decisões aos magistrados de 1º e 2º grau. Quando acionado, o mecanismo analisará os dados do processo e buscará referência no acervo de despachos anteriores daquele magistrado para apresentar uma proposta de decisão, que levará em conta inclusive o estilo de escrita de cada juiz.

Se considerar necessário, o magistrado também poderá ampliar a busca para o acervo de outros gabinetes e para o de cortes superiores, permitindo acesso às jurisprudências mais recentes. Todas as decisões, no entanto, serão analisadas pelos juízes antes de serem proferidas.

O desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, presidente dos conselhos de Inovação e Tecnologia e de Comunicação Social do TJRS, afirma que a ferramenta concederá mais agilidade e assertividade à jurisdição:

- Estamos propiciando uma ferramenta que sirva como assistente, sem substituir a ação do magistrado.

Transcrição de depoimentos

Também integra o pacote a Gaia Assistente, uma espécie de assistente virtual que ajudará a localizar informações e resumir o conteúdo de autos processuais.

Uma terceira aplicação, que entrará no ar em julho e promete facilitar o trabalho cotidiano, é a Gaia Audiências Inteligentes, desenvolvida para transcrever depoimentos prestados em audiências. Além da reprodução das declarações prestadas, será apresentado um resumo com os pontos mais importantes do depoimento. _

As plataformas de IA no Tribunal de Justiça começaram a ser desenvolvidas em dezembro do ano passado, após a migração dos processos do Judiciário gaúcho para a nuvem.

Verba na Sapucaí

O governo do Rio Grande do Sul aportará recursos para o desfile da escola de samba Portela, do Rio de Janeiro, no Carnaval de 2026. O acordo será assinado nos próximos dias. De acordo com o Palácio Piratini, o valor a ser repassado ainda está sendo discutido.

Na sexta, a escola anunciou que o tema do desfile será Príncipe Custódio, líder de origem africana que chegou a Porto Alegre no início do século 20, e a negritude gaúcha.

Além do aporte, o governo ajudará a Portela no contato com líderes negros e com empresas do RS, para captar patrocínios via Lei Rouanet. _

Presente na festa

O governo estadual informou que a busca do apoio partiu da Portela e ressaltou que "a cultura afro-gaúcha ganhará protagonismo na avenida", além de mencionar que o censo de 2022 mostrou o RS como o Estado com a maior proporção de praticantes de religiões de matriz africana no Brasil.

"Ao ser convidado pela escola de samba, o governo entendeu que estar presente na maior festa do planeta seria uma oportunidade de o Rio Grande do Sul exaltar a contribuição afro-gaúcha na formação da identidade cultural brasileira" diz o Piratini. _

Em Pelotas, Leite se reúne com Marroni e anuncia recursos

O governador Eduardo Leite viajou até a cidade natal na sexta-feira para anunciar um conjunto de investimentos na saúde de Pelotas. O montante, a ser confirmado neste sábado, chegará aos R$ 38 milhões, divididos em quatro hospitais da cidade.

Na noite de sexta, Leite foi recebido pelo prefeito Fernando Marroni para um encontro na prefeitura, do qual também participou a ex-prefeita Paula Mascarenhas. Embora opositores, Leite e Paula declararam voto em Marroni no segundo turno da eleição municipal do ano passado.

Neste sábado, os dois visitam juntos as obras do Hospital Regional de Pronto-Socorro, que receberá R$ 14 milhões do governo estadual para a aquisição de materiais e equipamentos. Outros R$ 14 milhões serão aplicados na ampliação da unidade de oncologia e no setor de hematologia da Santa Casa de Pelotas.

Também estão previstos repasses de R$ 6 milhões para aquisição de raio X e ressonância magnética no Hospital Universitário São Francisco de Paula e outros R$ 4 milhões para revitalização da fachada e restauro do Hospital de Beneficência Portuguesa.

Na passagem pela terrinha, Leite também fará caminhada no Mercado das Pulgas, tradicional evento cultural da cidade, e passará pelo Café Aquários ao meio-dia. À tarde, as agendas serão no Parque da Baronesa e na Praça Palestina. _

Avião para a polícia

O governo do Estado está adquirindo um avião para a Polícia Civil. Trata-se de um monomotor turboélice, modelo Piper Meridian M500, fabricado em 2014. A aeronave será bancada com 9,5 milhões de recursos federais e outros R$ 6,3 milhões estaduais.

Vencedora da licitação, a Aeromot deverá entregar o avião até janeiro de 2026.

O processo para a aquisição foi aberto no primeiro semestre do ano passado. Não há relação, portanto, com a intenção de compra de um avião a jato com recursos do fundo da reconstrução (Funrigs), da qual o governo recuou em abril. _

Comando trabalhista

O vereador Márcio Bins Ely é o favorito para assumir o comando do diretório metropolitano do PDT. O grupo ligado ao parlamentar busca formar uma chapa de consenso com os correligionários ligados a Juliana Brizola.

O maior fator de resistência ao vereador é a possibilidade de o partido ingressar formalmente no governo Melo. Bins Ely, embora tenha indicações na prefeitura, diz que essa possibilidade é remota.

Atual presidente, José Vecchio Filho marcou reunião para segunda-feira, às 18h30min, para discutir a sucessão. _

Emendas turbinadas

Tramita na Câmara de Porto Alegre projeto que amplia em mais do que o dobro a fatia do orçamento destinada a emendas impositivas de vereadores. A proposta é do vereador Gilvani, o Gringo (Republicanos).

Hoje, os vereadores indicam 0,65% da receita líquida, o que em 2025 equivale a R$ 58,7 milhões. A proposta de Gringo cria nova fatia para as bancadas de parlamentares, em volume ainda maior: 1% da receita.

Na prática, isso elevaria a parcela das emendas para 1,65% do orçamento, que seriam R$ 149 milhões - ou seja, mais de R$ 4 milhões por vereador. _

mirante

Será às 13h30min de segunda-feira a filiação do ex-ministro Onyx Lorenzoni ao PP, adiantada pela coluna na quinta-feira. Onyx assina ficha na sede do diretório estadual, no centro de Porto Alegre.

O deputado Gustavo Victorino (Republicanos) propôs restringir pedidos de vista a projetos de lei nas comissões da Assembleia. A regra atual permite um pedido por bancada,

que dura uma semana. A proposta de Victorino autoriza apenas um pedido coletivo, por três dias.

POLÍTICA E PODER

14 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Agora, a guerra é entre dois países, e isso muda tudo

A guerra no Oriente Médio atingiu um novo e perigoso patamar, com a ofensiva direta de Israel ao Irã, país que financia grupos terroristas como o Hamas, o Hezbollah e os Houthis. A diferença em relação aos ataques cirúrgicos que vinha realizando é que, desta vez, é um bombardeio de um Estado contra outro Estado - e não contra líderes extremistas, como no passado.

A grande pergunta que o mundo se faz, neste momento, é: quais as chances de a guerra ganhar proporções regionais ou, mesmo extrapolar, o Oriente Médio.

Poucas. A facilidade com que os caças israelenses ingressaram no espaço aéreo iraniano demonstra o quanto as defesas do regime estão fragilizadas. O mérito nesse caso é totalmente de Israel, que, antes de começar a onda de ataques que decapitou o comando da Guarda Revolucionária e das forças armadas infiltrou, por trás das linhas inimigas, comandos que sabotaram os sistemas antiaéreos.

Os aviões iranianos ficaram no chão, baterias de foguetes explodiram tão logo os primeiros mísseis despencavam sobre Teerã e Natanz, onde fica a principal instalação de enriquecimento de urânio dos aiatolás.

Em outubro, Israel já havia destruído grande parte da capacidade de defesa aérea do Irã, incluindo baterias de mísseis S-300 de fabricação russa.

A resposta iraniana imediata foi despejar cem drones sobre Israel - um número bem reduzido em relação a ações anteriores (400 drones chegaram a ser disparados no ano passado). A onda recente de mísseis balísticos, mais difíceis de serem detectados pelo Domo de Ferro, foi pesada, mas não chegou ao nível de saturação do ano passado. Em 2024, pelo menos 20 mísseis iranianos conseguiram atingir o alvo devido à falta de interceptores.

Ambos os países têm trabalhado arduamente para reabastecer seus estoques de mísseis em antecipação a mais combates.

Grande número de bases

O apoio dos EUA a Israel é o ponto de desequilíbrio na balança. O país tem um grande número de bases na região e deslocou novos navios de guerra para a costa de Israel, como dissuasão.

Sem poder contar com a Rússia (mais preocupada com a Ucrânia), o Irã deve tentar utilizar seus tentáculos para atingir alvos mais vulneráveis e ao alcance de terroristas, como embaixadas ou unidades militares americanas em países como Jordânia e Líbano, por exemplo. Israel diz estar em guerra, mas que o objetivo não é mudança de regime no Irã, que, por sua vez, também afirma que está em guerra.

As próximas horas ditarão o rumo que a crise irá tomar. Mesmo que não se espalhe por toda a região, um conflito agora entre dois países tem potencial devastador. _

O adeus a um dos últimos quatro pracinhas da 2a Guerra

Morreu nesta sexta-feira, aos cem anos de idade, o tenente Oudinot Willadino, um dos quatro últimos veteranos gaúchos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que participaram dos combates da 2ª Guerra Mundial. Willadino participou de batalhas como as conquistas de Monte Castello e Montese.

Natural de Santa Maria, Willadino residia em Caxias do Sul quando se alistou como voluntário no Exército Brasileiro. Durante o conflito, serviu como soldado atirador em um dos pelotões de fuzileiros das tropas brasileiras que atuaram na Campanha da Itália.

Após a guerra, Willadino não deu continuidade à carreira militar, sendo dispensado do Exército logo após seu retorno ao Brasil. Nos últimos anos, o veterano morava em Porto Alegre. _

Wagner Moura ganhará indenização do MBL

O Movimento Brasil Livre (MBL) foi condenado a pagar uma indenização de R$ 50 mil ao ator Wagner Moura por danos morais. A decisão, unânime, foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O caso, que se arrastava há anos, foi conduzido pelo advogado gaúcho, natural de Porto Alegre, Fabiano Machado da Rosa.

Tudo começou em 30 de março de 2016, quando o MBL publicou em sua página no Facebook uma foto de Wagner Moura acompanhada da seguinte mensagem: "Quanto custa o seu governismo? Wagner Moura, captando R$ 11,5 milhões pela Lei Rouanet, fará vídeos defendendo o governo Dilma". A imagem ainda trazia uma marca d?água com os dizeres: "Selo Rouanet de Governismo".

Porém, esta não é a primeira vez que o MBL é condenado a indenizar artistas. Em março de 2024, a Justiça do Rio homologou um acordo no qual o grupo pagou R$ 15 mil ao músico Tico Santa Cruz por danos morais, após chamá-lo de "racista" em publicações.

Em 2022, o movimento também foi condenado a pagar R$ 50 mil ao humorista Gregório Duvivier. Na ocasião, em junho de 2016, o MBL havia divulgado uma imagem que reunia Duvivier, Wagner Moura e Tico Santa Cruz sob a frase: "Chega de Lei Rouanet. Acabou a mamata".

Os dois outros casos também foram conduzidos pelo advogado Fabiano Machado da Rosa. _

Geneticista gaúcho receberá prêmio internacional

O médico geneticista e professor titular de Genética da UFRGS, Roberto Giugliani, recebeu o Prêmio Guthrie - ISNS-Revvity de 2024, a mais alta distinção mundial na área de triagem neonatal.

O prêmio anual é da International Society of Neonatal Screening (ISNS) e reconhece profissionais com grandes contribuições para o avanço da triagem neonatal no mundo. A entrega oficial da premiação ocorrerá em 2026.

Giugliani é referência internacional em doenças raras, cofundador e diretor da Casa dos Raros, em Porto Alegre, e head de Doenças Raras da Dasa Genômica. Lidera diversos projetos no país que têm o objetivo de ampliar a triagem neonatal proporcionada pelo SUS.

Na sua trajetória, em 1982, criou a Unidade de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pioneira na introdução do teste do pezinho no Estado em 1984. Antes dele, outro brasileiro havia recebido o prêmio: o professor Benjamin Schmidt, pioneiro da triagem neonatal no Brasil. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 7 de junho de 2025



30/05/2025 - 16h00min
Sara Bodowsky

Um arraial para encantar adultos e crianças em Porto Alegre 

Capital também terá concurso de queijo e doce de leite neste final de semana e Cais Mauá recebe o primeiro Paleta Atlântida no dia 7 de junho

Recuperado da enchente de 2024, o Sítio Canto Rural – um pedacinho de paraíso bucólico que fica nos Caminhos Rurais de Porto Alegre – volta a receber famílias que buscam um pouco mais de contato com a natureza. 

Em junho, o espaço promove o Arraial da Felicidade, uma celebração pensada para encantar adultos e crianças, com aqueles sabores característicos da época: tem milho cozido, canjica, pipoca, bolo de fubá, pão de queijo e até quiche. Tudo feito com ingredientes fresquinhos, muitos deles vindos de produtores locais.

Além do Arraial, que rola nos dias 21, 22, 28 e 29, o mês abre com o Café Estilo Casa da Vovó (dias 1º e 8), feito em parceria com a Le Clair Gastronomia. A comida é preparada com carinho e memória. E entre uma delícia e outra, dá pra curtir trilhas, plantar mudinhas com os pequenos e relaxar em espaços pensados pra desacelerar.

O Arraial é a partir das 14h30min. Os ingressos variam de R$ 90 a R$ 165, com vagas limitadas e reservas antecipadas pelo WhatsApp (51) 99691-8619. O Sítio Canto Rural fica bem pertinho, ali no Lami. Conheça mais no Instagram @sitiocantorural. 

Concurso de queijos 

Reprodução / Divulgação

Ao menos 40 produtores participarão do evento.

Reprodução / Divulgação

Evento imperdível esse fíndi – que eu inclusive já botei na agenda: é o 3º Concurso de Queijos e Doce de Leite Artesanais do Rio Grande do Sul, que rola na Casa de Cultura Mario Quintana. Junto ao evento acontece a feira dessas delícias, onde estarão expondo pelo menos 40 produtores. É a oportunidade de conhecer, provar e ainda levar pra casa o que de melhor se produz de queijo e doce de leite no Estado.

O evento também oferece oficinas de harmonização com queijos, vinhos, cervejas e cafés – uma oportunidade para o público aprofundar a experiência sensorial. Sexta, das 12h às 19h, sábado, das 9h às 19h, e domingo, das 9h às 17h. Mais detalhes nas redes da Associação Gaúcha de Laticinistas, a AGL, no Instagram @agl.poa. 

Aos poucos, a capital gaúcha volta a ter voos diretos para cidades importantes de outros países. A partir do dia 19 de junho, Porto Alegre tem pela primeira vez voos sem escala para Bariloche, na Argentina. O trecho é operado pela companhia aérea Azul. 

Até o dia 24 de agosto, os voos acontecem todas as quintas-feiras, partindo do Aeroporto Salgado Filho para o Aeroporto de Bariloche. O percurso dura 3h35min, sem escalas. A cidade argentina conhecida por suas montanhas nevadas, estações de esqui e esportes de inverno é um dos destino de neve mais próximo do país. 

Te prepara que o Cais Mauá vai estar irresistível no sábado, dia 7 de junho. O motivo? Vai rolar lá o primeiro Paleta Atlântida em Porto Alegre. A edição especial vai reunir assadores amadores e profissionais em um dos principais cartões-postais da cidade. Serão mais de 600 metros de churrasqueiras, com mais de mil participantes assando simultaneamente. 

O evento ocupará quatro armazéns do Cais Mauá com várias atrações, entre elas um espaço exclusivo com sistema open bar e open food, que contará com 20 ilhas de assados comandadas por churrascarias clássicas de Porto Alegre como Santo Antônio, NB Steak, Assado Raiz e Marquês Empório Parrilla. 

Rola ainda praça de alimentação, encontro de piquetes do Acampamento Farroupilha e um show especial de Tonho Crocco e Banda, encerrando o evento. 

O Paleta Atlântida – Edição Porto Alegre acontece no sábado, dia 7, das 11h às 18h, no Cais Mauá (acesso pela Av. Pres. João Goulart, 97), no Centro Histórico. Link para compra de ingressos e mais informações no perfil @paletaatlantida. 

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06/06/2025 - 13h20min
Martha Medeiros

O que seria, para você, um dia perfeito?

Quando Fátima Bernardes me fez essa pergunta, durante uma entrevista, me veio à mente o filme  de Wim Wenders. No cinema, resultou em uma pequena joia, mas há outras perfeições a buscar

O que seria, para você, um dia perfeito? Quando Fátima Bernardes me fez essa pergunta, durante uma entrevista, me veio à mente o filme Dias Perfeitos, de Wim Wenders, que conta a história de um japonês solitário e metódico, que repete todo dia a mesma rotina. No cinema, resultou em uma pequena joia, mas há outras perfeições a buscar.

Um atual dia perfeito seria almoçar com minhas duas filhas, escrever um texto inspirado durante a tarde, e à noite namorar em frente à lareira – se eu tivesse o elenco completo a mão, o que não tenho. Ou: dar uma caminhada pela manhã escutando minha playlist, almoçar com amigas que me fazem gargalhar e depois ler o novo livro do Edouard Louis de enfiada. Ou: acordar após oito horas de sono ininterrupto, receber um convite de trabalho espetacular e sair para comemorar com o melhor amigo.

Dá para melhorar? Aeroporto, claro. Carimbar meu passaporte é sempre garantia de um dia perfeito. Aterrissando, ir direto para o novo lar da minha filha mais velha, levando ingredientes para um piquenique no chão, pois ainda faltam móveis, e depois ir com ela à exposição do David Hockney, ingressos já comprados, e no início da noite jantar com o Dinho em algum restaurante que ele vai escolher, já que meu amigo mora em Paris há mais de 20 anos. Sexta-feira que vem será um dia perfeito.

Ou: encontrar Marcia na estação ferroviária de Lausanne, onde ela mora, caminharmos até a beira do lago sem parar de conversar e depois fazer um passeio de carro até Vevey, escutando jazz e apreciando a paisagem, e lá entrar numa loja para comprar dois castiçais idênticos, um para cada uma, nossa aliança intercontinental, e à noite, voltar para seu apartamento, onde Bernard já terá aberto o vinho e esquentado o queijo para o fondue. Um dia perfeito que já aconteceu anos atrás e irá se repetir.

Ou: conhecer o barco onde Shayla mora nos canais de Londres. Ela tirará um dia de folga do trabalho e me levará para navegar, e irá me mostrar um outro jeito de viver, e à noite iremos a um pub regar nossas filosofices com cerveja e fazer um brinde à música brasileira, que é a única coisa que ela sente saudade daqui, além de mim, espero, e do meu inglês vacilante, do qual ela não debocha, ao contrário, mente que melhorou muito.

Ou: acordar em uma cidade desconhecida qualquer, trilhar pelas ruas com minha mochila nas costas, esquecer que existe relógio e rede social, me sentir inteira na própria companhia e disponível para o que esse dia perfeito se dispuser a entregar. Talvez até entregue alguém que seguirá viagem comigo, a vida comigo, vá saber. Um dia perfeito depende apenas de um estado de espírito perfeito, com mistérios e confirmações caminhando lado a lado. 



07 de Junho de 2025
O QUE ESTOU LENDO - Danielly Oliveira

Além da corrida

Correr provavelmente não é a obra mais conhecida de Drauzio Varella, que tem no currículo o premiado Estação Carandiru, que até virou filme. Mas o livro pouco conhecido dele está na minha lista de leituras desde quando comecei a me aventurar no mundo da corrida. E só agora consegui lê-lo.

A coisa mais importante para falar sobre Correr é que não se trata de um livro só sobre a prática da corrida. A obra é, na verdade, uma combinação de autobiografia, reflexão social e crônica urbana, em que Drauzio compartilha como a corrida se tornou uma parte essencial de sua vida - tanto física quanto socialmente.

O autor conta sobre seu início tardio nessa prática, aos 50 anos, mostrando os desafios enfrentados e a motivação por trás dessa escolha. Ele correu maratonas, enfrentou lesões, correu em cidades diferentes e até dentro do presídio Carandiru, onde prestava atendimento médico voluntário.

O mais interessante de Correr é que todos esses relatos são intercalados com memórias pessoais de episódios marcantes da sua trajetória como médico e sua relação com o envelhecimento e a disciplina.

Essa é uma leitura para quem corre, mas também para quem busca entender como pequenos hábitos podem transformar nossa relação com a cidade em que vivemos, as pessoas com quem convivemos e, principalmente, com nós mesmos. _

O QUE ESTOU LENDO

07 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Ovos estrelados

Eu fico impressionado com o delay do amor. Você permaneceu por cinco, 10 anos com alguém - e nunca se deu conta do que tinha? Nunca experimentou um lampejo de gratidão?

Precisou se separar para então ver o que perdeu, o que desperdiçou, o quanto era feliz sem perceber?

Não reconheceu a cumplicidade de que dispunha, a companhia maravilhosa ao seu lado, com quem poderia dividir o copo e o prato de olhos fechados, numa lealdade que não havia com mais ninguém? Com quem poderia assinar um papel em branco sem receio de ser enganado? Com quem poderia partilhar a senha do cartão sem medo de ser roubado?

Dependeu da brutalidade do divórcio para reaver a suavidade da convivência? Arcou com a falta e a penúria para recordar o cotidiano recíproco? Só sendo desfalcado dos lençóis para enxergar a importância do pano de prato?

Passou cinco, 10 anos alheio ao patrimônio emocional, sem valorizar a lealdade e a fidelidade do outro, porque elas vinham abundantes, diárias, de graça, sem cobrar nada em troca?

É um tanto de irresponsabilidade. Você teve que sofrer para aprender a amar? Para entender que era amado? Que delay gigantesco é esse?

Você esteve onde durante esse longo período? Num coma de olhos abertos? Olhando para quem? Com toda a demonstração de ternura e apego que havia de sobra à sua frente, você não despertou para os laços raros, sublimes?

E apenas com o terrível adeus conscientizou-se do prejuízo? Como justificar a ausência de atenção? Você acha que o seu antigo parceiro vai acreditar que esteve desligado - e que, de repente, assimilou o tamanho do seu sentimento?

Como ele aceitará você de volta diante da sua confissão de descaso, de indiferença, de desinteresse? Raciocine: foram cinco ou 10 anos não oferecendo o que essa pessoa merecia.

Não é tarde para notar tal erro? Como compensar o conjunto da obra, o vazio duradouro? Amor é pontualidade. Não adianta correr atrás das dívidas depois. Não existe como recuperar uma preciosidade após desprezá-la pelo romance inteiro.

Recorremos aos efeitos especiais - chocolates, rosas, jantares, viagens - em detrimento da constância da presença. Talvez aquele dia em que você não fez nada tenha sido um dos dias mais felizes da relação. Porque vocês dedicaram um tempo para se ouvir, para se atualizar das novidades, para namorar.

Acabamos tornando a nossa vida externa extremamente concorrida e pouco zelamos pela vida interior do casal. Partimos do princípio de que sedução é ostentar - e não absorvemos a lição de que conquista é simplesmente educação, respeito, gentileza, carinho.

Pensamos que basta gastar em itens de luxo, surpreender, realizar programas mirabolantes, e assim deixamos escapar o essencial, distraídos com o supérfluo. Eu tenho a convicção de que a pele fala. É o corpo que ensina para a alma o que é saudade.

Tudo está no toque. Você vai sentir saudade do quê? Não dos acontecimentos grandiosos e públicos, mas das cenas domésticas: do café da manhã, das risadas na sala, das brincadeiras no corredor, das piadas em comum com a cama desarrumada.

A saudade não é épica, é íntima. Você vai sentir saudade daquilo que só você viveu. Só você sabe. Só você testemunhou.

Não sentimos saudade de estar na multidão. A saudade é pessoal. Vem dos momentos a sós.

Aproveite quando você está em casa, com quem você ama. Cozinhar junto é muito melhor do que uma refeição Michelin, ovos estrelados são superiores à constelação de um restaurante. Vocês estarão se ajudando na tábua dos temperos, com os cotovelos rentes e as respirações sincronizadas. Na simplicidade, os dois brilham.

De onde você tirou que seu par quer ser presenteado a toda hora?

Ele se importa muito mais com o tempo que você compra de si mesmo para ofertar a ele. _

CARPINEJAR

07 de Junho de 2025
MARCELO RECH

A barra subiu

Num dos painéis que moderei no excelente Festival Fronteiras, o tema era inteligência artificial, o que me levou a uma pergunta tão óbvia quanto complexa aos dois futuristas no palco, a escritora Martha Gabriel e o neurocientista Álvaro Machado Dias. Quais carreiras deveria escolher agora quem tem 18 ou 19 anos e uma vida pela frente?

Muito apropriadamente, nenhum dos dois - e ninguém que tenha responsabilidade - ousa cravar uma profissão que vai perdurar por, digamos, quatro décadas além. O que se sabe é que, da produção de moranguinhos a cirurgias complexas, a IA está transformando, e vai afetar ainda mais, todos os campos da atividade humana.

Não há dúvidas de que cientistas da computação, sobretudo os especializados em IA, estão sendo caçados pelos empregadores nas portas de universidades. Basta lembrar que o primeiro curso de bacharelado em IA no Brasil, o da Universidade Federal de Goiás, teve neste ano uma nota de corte no Sisu superior à da medicina, que ficou em terceira posição por lá. Faz sentido hoje, mas fará amanhã?

Há menos de cinco anos, programação era uma das profissões do futuro. Agora, a IA avança sobre quem apenas escreve linhas de código. Os que se especializaram em IA seguem em alta. No passado, era dado como certo que o talento criativo seria insubstituível. Na prática, a seara de atividades criativas, como produções de jingles, vídeos, ilustrações e textos - pelo menos aquelas de padrão mediano -, está sendo invadida pelos prompts.

O fato é que, para muitas atividades, a barra subiu, como aliás sempre sobe quando surge uma nova tecnologia. Para outras áreas, é melhor se preparar para um processo de conversão acelerado. No século retrasado, produzir velas e gelo eram atividades demandadas. A energia elétrica desmanchou esses negócios tais como existiam. Os acendedores de lampião, antes vitais nas cidades, sumiram com a disseminação da eletricidade.

Seja o que for, é preciso cautela com as previsões definitivas. Mesmo antes da atual onda de IA, era voz corrente que a função de médico radiologista seria dizimada diante da capacidade de máquinas examinarem exames com alto grau de precisão e velocidade. Parecia fazer sentido, mas, segundo The New York Times, a Mayo Clinic, nos EUA, um dos mais reputados centros médicos do mundo, aumentou seu corpo de radiologistas em 55% nos últimos 10 anos. São hoje mais de 400, que aconselham colegas e conversam com pacientes. O laboratório de IA da clínica emprega 40 cientistas, entre os quais radiologistas, que se debruçam sobre questões como aperfeiçoar a análise de tecidos e prever doenças.

De tudo, só resta uma certeza: trabalhar com a IA, e não contra ela, fará toda a diferença a partir de agora. 

MARCELO RECH


7 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

OPINIÃO RBS

Entre a expectativa e o ceticismo

É grande a curiosidade sobre as medidas discutidas entre o Ministério da Fazenda e os presidentes da Câmara e do Senado para endereçar soluções não apenas para cumprir a meta fiscal de 2025 e de 2026, mas também para dar sustentabilidade às contas públicas nos próximos anos. As ideias alinhadas serão apresentadas aos líderes partidários do Congresso neste domingo para avaliar a receptividade das propostas e as chances de aprovação em plenário. Depois, passarão pelo crivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Criou-se expectativa por ter sido sinalizado que existiria sintonia quanto à necessidade de medidas estruturais, e não apenas paliativas, com efeito de curto prazo. Trocando em miúdos, que assegurassem uma melhor saúde das finanças do país de 2027 em diante. Para isso, seria preciso coragem política do Executivo e do Congresso para decidir por providências impopulares e que tendem a ter forte resistência de grupos de interesse.

Se existiu algo de positivo na crise gerada pela decisão do governo de elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para fechar as contas deste e do próximo ano, seria o fato de ter feito os dois poderes despertarem para a inevitabilidade de ser encarado - sem apenas ações cosméticas - o risco de paralisia do governo, em um futuro nem tão distante, pela perspectiva de quase inexistência de margem para investimentos ou despesas básicas de custeio.

Embretado, o governo anunciou, há pouco mais de duas semanas, o congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas deste ano e elevação do IOF para arrecadar R$ 20,5 bilhões a mais em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. A medida sofreu grande reprovação no Congresso e oposição de entidades empresariais. O Planalto se viu sob o risco de ter o decreto derrubado pelo parlamento. Congelamentos também afetam as emendas parlamentares. Se o governo fizesse nova rodada de contingenciamentos e bloqueios, os parlamentares perderiam um novo naco da farta quantia de dinheiro que têm para distribuir às bases.

Especula-se que, entre as medidas mais robustas, com maior impacto ao longo do tempo, estaria uma redução dos gastos da União com o Fundeb, que financia a educação básica, e uma revisão das isenções fiscais, que, conforme o orçamento, chegam a R$ 587,4 bilhões em 2025. Números extraoficiais da Receita, porém, chegam a apontar R$ 800 bilhões. Há ainda opções para elevar receitas via tributação, mas são alternativas analgésicas. O correto seria trabalhar pelo lado das despesas estruturais, com o Congresso abrindo mão de parte das emendas e o governo aceitando discutir os pisos constitucionais da saúde e da educação e os gastos previdenciários atrelados ao salário mínimo.

Pelos precedentes, paira ceticismo quanto às chances reais de Lula e o Congresso aceitarem um ajuste fiscal à altura dos desafios das contas. Os próximos dias mostrarão se a crise do IOF se transformou em uma oportunidade aproveitada, com Executivo e parlamento assumindo suas responsabilidades. Ou se outra vez os interesses políticos e eleitorais imediatos se sobreporão, frustrando as esperanças de uma reorganização séria da estrutura das despesas públicas


07 de Junho de 2025
GRAMADO SUMMIT - Renata Oliveira Silva

GRAMADO SUMMIT

IA e otimização para capacitar mulheres empreendedoras. A atuação feminina no mundo dos negócios foi tema frequente no evento, onde startups utilizam a tecnologia como ferramenta para auxiliar empresárias

Empreendedorismo feminino e representatividade. Esses foram alguns dos temas que mais reverberaram nos três dias da Gramado Summit 2025, que ocorreu de quarta a sexta-feira, na Serra. E as startups não ficaram de fora, como a B2Ella Hub e a SouMei Delas, ambas de Caxias do Sul, que foram criadas para oferecer suporte para mulheres que desejam iniciar seus negócios.

A B2Ella Hub, das empresárias Patrícia Janczak e Viviane Barbosa, tem o objetivo de prestar consultoria com a ajuda de inteligência artificial, que compila os dados da interessada a partir de perguntas sobre os negócios.

- A gente criou uma jornada para ajudar as empreendedoras a usar IA porque a gente percebe que as mulheres têm mais resistência a utilizar a ferramenta. Então, criamos algo bem simples para ajudá-las por meio de perguntas sobre o que elas têm ou querem ter na sua empresa. No final, a ferramenta vai dar uma visão geral do negócio, além de um plano de ação - explica Viviane.

A plataforma não foi lançada oficialmente, mas elas levaram o projeto para a Gramado Summit na busca de novos parceiros. O negócio ainda realiza ações sociais com prefeituras. Em 2025, capacitaram 30 mulheres em vulnerabilidade de Flores da Cunha.

Já o SouMei Delas é uma ferramenta criada a partir do Sou Mei, da empresa Financeiro Online, onde a CEO Talita Nunes percebeu a dificuldade entre as empresárias no pagamento dos Documentos de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), emissão de notas e gestão do negócio.

- Geralmente, é preciso ir em dois sites diferentes para emitir uma DAS e uma nota fiscal, então decidimos reunir tudo em um só lugar: no app SouMei Delas. Na ferramenta, também será possível fazer a gestão do negócio, analisar rendimentos e conferir o lucro e as despesas - detalha Talita.

O aplicativo foi lançado na Gramado Summit. O evento foi escolhido como porta de entrada, na intenção de conseguir atrair investidores para também trabalhar com uma segunda frente do app: a consultoria.

Mães que fazem acontecer

A capacitação de mulheres no mundo empresarial é algo cada vez mais presente. Desta forma, a Sicredi Pioneira decidiu colaborar, mais especificamente com mães em vulnerabilidade social que decidem empreender.

O programa Mães que fazem acontecer funciona com turmas pequenas, de até 10 pessoas, onde as participantes recebem conteúdos como gestão, marketing digital e mentorias. _


07 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Um rompimento com alto poder didático

A troca de acusações e ameaças entre o bilionário Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já é chamada de "o rompimento do século". O homem que se julgou dono do mundo ao retornar à Casa Branca quatro anos depois da primeira experiência parece, enfim, ter encontrado um adversário "à altura". Só Musk tem tão pouco pudor quanto o atual ocupante da Casa Branca nos enfrentamentos públicos e usa sem constrangimento as palavra mais fortes.

A acusação de Musk de que Trump se envolveu no escândalo de exploração sexual montada por Jeffrey Epstein circula há anos nos EUA e está implícita em um dos documentários feitos sobre o caso disponível na Netflix. O que surpreendeu foi ter sido ressuscitada pelo aliado até anteontem. Trump e Epstein eram amigos.

A quebra da "amizade" era prevista por quem conhece bem a natureza de ambos, como o embaixador Roberto Abdenur, que ainda antes da posse de Trump afirmou à coluna:

- É possível que Musk não dure muito nessa parceria.

Mais do que um adversário "à altura" - sem aspas, já existe um de verdade, o presidente da China, Xi Jinping -, Trump parece ter encontrado sua nêmesis, substantivo originado do nome da deusa grega da vingança e da "justiça distributiva". Não por acaso, na mitologia, Nêmesis era filha da noite (Nyx) e neta do Caos.

Se dentro do governo já havia perdido fortuna equivalente a uma Eslováquia, agora enfrenta novos prejuízos. Na quinta-feira, quando o confronto atingiu seu pico, viu evaporarem mais US$ 150 bilhões em valor de mercado da Tesla, diante da ameaça de Trump de retirar os subsídios aos carros elétricos. Detalhe: dias antes, o presidente americano havia posado ao lado de um Tesla na Casa Branca, o que despertou críticas pelo "show room" privilegiado que dava a Musk.

Semanas antes dos gritos virtuais entre os poderosos, a imprensa americana publicou reportagens expondo a vida particular de Musk. Foi relatado seu conturbado relacionamento com as mães de seus vários filhos - seriam 14 crianças e adolescentes, algumas vivendo em um mesmo condomínio. Também foi abordado seu suposto vício em cetamina (anestésico usado para combater depressão) - ele respondeu que já usou, sob prescrição médica, mas abandonou. Lidas agora, adquirem novas possíveis interpretações.

Apesar da expectativa de uma conversa entre Trump e Musk na sexta-feira, o presidente dos EUA afirmou não ter interesse no diálogo. Especulações sobre a origem da briga apontam para os bilionários contratos da Nasa. Para o mundo, talvez a exposição dos defeitos de ambos seja mais didática do que uma paz cujo objetivo seria apenas fazer contenção de danos. _

Ajuda de R$ 6,4 mi

Concluída um ano depois da enchente de maio de 2024, uma iniciativa lançada da bolsa de valores de Nova York por Alexandre Birman, na época da Arezzo (hoje Azzas) para ajudar atingidos pela enxurrada estima ter beneficiado 3.177 pessoas. Os cerca de R$ 6,4 milhões arrecadados pelo Movimento Próximos Passos RS foram distribuídos em 33 municípios gaúchos, todos conectados à indústria calçadista. O valor recebido pelas famílias pôde ser utilizado conforme suas necessidades. _

O anúncio da reunião entre EUA e China para discutir tarifas na segunda-feira, em Londres, fez o dólar recuar 0,28%, para R$ 5,57 na sexta-feira. Só não baixou mais porque há cautela com o anúncio do pacote fiscal para substituição do aumento de IOF, que pode ocorrer no domingo, em reunião de líderes com o ministro da Fazenda.

Sem "peleia" com a GurIA

Na complexa "genética" da GurIA, a inteligência artificial generativa do serviço público estadual, um DNA especial veio do "tio" Watson X, a IA da IBM. Conforme Rodrigo Ortiz Borges, diretor regional da IBM Brasil, a GurIA é blindada contra "peleias". A coluna quis saber mais, e ele explicou:

- Jamais o usuário do Estado vai poder brigar com o governo por meio da GurIA, porque existe um sistema de guard-rails e orquestração.

Conforme o executivo, é a única no mundo com essa característica:

- A inteligência artificial que não é governada poderá responder da mesma forma a palavras agressivas e de baixo calão. Se alguém incitar o ódio e a violência, pode criar um viés, mas adotamos um mecanismo para que não haja discussão e nenhum problema derivado para o governo do Estado ou para o cidadão. _

GPS DA ECONOMIA


07 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

"Ponte de navios" chinesa pode ser usada para invadir Taiwan

Até mesmo os taiwaneses reconhecem que a questão não é se, mas quando a China irá ocupar Taiwan, que Pequim considera uma província rebelde. Esse dia pode estar próximo. Até semanas atrás, vídeos, que circulavam em sites especializados em defesa, mostravam uma geringonça gigantesca, que parecia saída do filme Water World, o Segredo das Águas, sucesso nos anos 1990 com Kevin Costner.

O jornal americano The Washington Post trouxe as cenas ao público em geral: tratava-se de três embarcações enfileiradas, suspensas sobre "pernas" e conectadas entre si por uma espécie de ponte, que se estendida do mar até a costa por quase um quilômetro.

A CNN geolocalizou o vídeo para uma praia pública perto de Zhanjiang, cidade portuária na província de Guangdong, no sul da China, e sede da Frota do Mar do Sul da marinha chinesa.

Aquele aparato de aço e ferro imediatamente fez os estrategistas erguerem as sobrancelhas, suspeitando de que a China pode estar preparando uma operação de desembarque anfíbio em Taiwan. Essa "ponte" gigantesca poderia formar um pier móvel, como uma verdadeira freeway para a ilha, colocando, em poucas horas, milhares de blindados nas areias taiwanesas.

O aparato se torna ainda mais preocupante quando se juntam as peças do quebra-cabeça estratégico. Em maio, a China colocou no mar para testes o Fujian, o primeiro porta-aviões a utilizar catapultas, superando os dois outros do país, o Shandong e o Liaoning.

Cortador de cabos

Além disso, pesquisadores chineses de instituições ligadas ao governo desenvolveram um poderoso dispositivo de águas profundas: um cortador de cabos, capaz de romper linhas de comunicação e energia vigorosamente fortificadas em profundidades de até quatro mil metros - quase o dobro do cabo submarino mais profundo do mundo. No caso de invasão, a China poderia cortar os cabos submarinos ao redor de Taiwan, semeando pânico entre a população e interrompendo as comunicações com o Exterior. Imenso poder aéreo e naval, operação anfíbia brutal e uma ilha isolada do resto do mundo. Assim se desenharia o dia D de Taiwan, que pode estar próximo. _

Casa de shows que opera há 19 anos vai mudar de nome

A plataforma de apostas esportivas no Brasil, a KTO - Know the Odds, assumirá os naming rights da casa de show Pepsi on Stage, na zona norte de Porto Alegre. Com a novidade, o local passará a se chamar "KTO Arena".

A operação não mudará: a KTO Arena seguirá recebendo shows de grandes artistas da cena musical. Além disso, vão ocorrer eventos de proprietários da marca e ações personalizadas para os principais campeonatos esportivos, como Liga dos Campeões da Europa, NFL, NBA, entre outros.

O interior do espaço terá bares e camarotes remodelados com diferentes temáticas do universo de jogos e esportes. Desde maio de 2006, quando foi inaugurado, o espaço localizado em frente ao aeroporto Salgado Filho era utilizado em parceria com a marca de refrigerantes. A administração é da Opinião Produtora.

A casa de shows tem capacidade para até 5,5 mil pessoas. Nas últimas décadas, recebeu mais de 4 milhões de espectadores, que assistiram a espetáculos de artistas como Bob Dylan, Caetano Veloso, Lauryn Hill e The Strokes.

Os naming rights se referem, basicamente, a um acordo comercial em que uma empresa ou marca adquire o direito de nomear um local, evento, equipe esportiva ou instalação e realizar melhorias no espaço. _

Saneamento básico e jornalismo

No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado na quinta-feira, a Corsan anunciou o lançamento do 1º Prêmio Corsan de Jornalismo Ambiental, a fim de incentivar trabalhos sobre os impactos socioambientais do saneamento básico. O concurso oferece como grande prêmio uma viagem internacional a Paris com acompanhante ou R$ 8 mil em dinheiro. Inscrições em gzh.digital/3FMSLcH. 

Mais voos para a COP30

Com a proximidade da COP30, a malha aérea de Belém terá aumento de 50% no número de voos programados para o período do evento, em novembro. Foi antecipada a programação dos slots (autorizações para pousos e decolagens), o que permitiu que as companhias aéreas se organizassem com maior antecedência e oferecessem voos extras. _

Lula tenta fazer acrobacias na França

O presidente Lula protagonizou um episódio no mínimo curioso na sexta-feira durante a visita da comitiva brasileira à França. O petista fez uma "performance" inusitada durante visita a uma exposição em Paris.

Ao lado do líder francês, Emmanuel Macron, Lula tentou imitar movimentos de um acrobata que se apresentava em uma mostra do artista visual brasileiro Ernesto Neto. Em certo momento, o presidente brasileiro deitou no chão e ergueu as pernas. Depois, se equilibrou sobre os braços.

Na quinta-feira, Lula pediu publicamente a Macron para que "abra seu coração" para o acordo entre a União Europeia e Mercosul. Atualmente, o francês mantém resistência para firmar o acordo. _

"Não vamos deixar o Trump ser o presidente da governança global. Nós precisamos construir uma governança multilateral com mais representatividade."

Presidente Lula

Em discurso no Fórum Econômico Brasil-França, realizado em Paris.

INFORME ESPECIAL

sábado, 31 de maio de 2025


31 de Maio de 2025
MARTHA MEDEIROS

Meus 40 anos

Não parece que foi ontem, parece que foi quando foi: na minha pré-história. Aos 23 anos, juntei um punhado de poemas e os expus, pela primeira vez, para um paulistano que andava sacudindo o mercado editorial com uma coleção que virou a queridinha dos modernos: Cantadas Literárias. Ao enviar pelo correio o envelope recheado com meus versos, não lembro de ter pensado que eu estava sendo louca ou cara de pau demais, o mais provável é que eu não tenha pensado em nada. 

Apenas obedeci à pulsão de vida que me empurra até hoje. Um "vai lá e tenta" sem medo do fracasso. Se tenho um mérito, talvez seja este: não ficar de braços cruzados aguardando a morte. Tem gente que paralisa e prefere ser uma eterna promessa. Nunca prometi nada para ninguém, nem para mim mesma.

Ainda sobem ao palco bandas de rock que fazem turnês de aniversário, coisa que não se verá mais no futuro: um artista que surge hoje, por mais talentoso que seja, compete com milhares de outros em serviços digitais como o Spotify. Dificilmente se destacará como ídolo de massa. Por vivermos em um mundo faminto por novos conteúdos, intuo que ninguém mais se manterá, por anos a fio, em destaque. 

A fama tende a ser um conceito em extinção e festejar 40 anos ininterruptos de qualquer coisa, seja de um amor ou de uma carreira, talvez venha, um dia, a ser considerado um insucesso, como se a pessoa tivesse esquecido de viver. Sei lá se sou boa de previsão, em 2065 se saberá, pena que não estarei aqui para confirmar.

Mas, em 2025, bodas e aniversários continuam a ser celebrados e a persistência resiste como sendo um valor. Persistência que não precisa ser monótona: foram bem movimentados os 40 anos transcorridos entre meu primeiro livro, Strip- Tease, e o próximo (uma edição especial, com frases e versos ilustrados por Daniel Kondo, já já). Me aventurei por diferentes gêneros literários, escrevi relatos de viagens, fiz parcerias musicais, tive textos adaptados para o teatro, sucumbi ao mundo digital e, aguentem, ainda tenho planos. 

A cenoura segue pendurada em frente ao nariz. Continuo na busca por outras primeiras vezes. Estou prestes a abraçar um projeto que me assusta barbaramente. E entre um frio na barriga e outro, não esqueço de viver - aliás, é a parte que mais gosto. _

Estabeleci uma relação estável e longeva com as palavras que escrevi

Se tenho um mérito, talvez seja o de não ficar de braços cruzados aguardando a morte

MARTHA MEDEIROS