sábado, 12 de janeiro de 2019


12 DE JANEIRO DE 2019
LYA LUFT

Beleza ou paciência

Outro dia vi , talvez no meu Face, esta frase: "Quando tudo dá certo, a gente diz ´Beleza!?. Quando dá errado, se diz ´Paciência!`". Como tantas dessas frases soltas na rede social, essa me pareceu divertida e verdadeira. Outras, muitíssimas, são bem tolas, sem fundamento, preconceituosas ou ainda arrastando, depois de mais de um mês, as disputas e insultos políticos.

Sim, quando dá certo, a gente fica tranquilo, ou eufórico, dá graças a Deus (um amigo médico reclamou: "Agradecem a Deus, está certo, mas e nós, médicos, em geral só nos citam em participações fúnebres"). Há quem agradeça, mas enfim... Deus ajudou, quando nos salvamos, Deus quis quando alguém amado morre. Somos simplistas talvez para aguentar a montanha-russa da vida.

Sempre tive pouca paciência, sobretudo para aprender coisas. Fui uma estudante esquisita, eu acho, sabendo muita coisa, porque lia loucamente, e ignorando outras, básicas, por falta de capacidade ou paciência para me concentrar. O bom professor de matemática que me deu aulas particulares anos a fio certo dia disse a meu pai, constrangido: "Doutor Arthur, a sua filha é muito inteligente, mas comigo não aprende mesmo. Eu explico, explico, ela fica me olhando com aquele jeito meio distraído, e vejo que, de verdade... não entendeu nada".

Outro professor, já na faculdade, brincava dizendo que eu aprendia "pra trás", isto é, se não pegava logo pela intuição, já desistia do esforço de aprender. Sonhadora e preguiçosa, eu não queria saber quantos metros de trilhos tantos operários fariam em tantas horas, ou quantas maçãs caberiam num cesto se... Ali não valiam nem "beleza", nem "paciência".

Escrevi na coluna passada, mais uma vez, da minha paixão inata pelas palavras. Vai daí que também implico com algumas: por exemplo, atualmente, "empoderamento" e "feminicídio". Elas são ruins? Não valem? Até que são boas, até que valem porque todos entendem, mas sobretudo "feminicídio" é de matar e provoca minha maior impaciência. Dói nos ouvidos. "Homicídio" não bastaria porque se liga a homem? Que pobreza. Assim, no populismo atual por este grande mundo, não basta dizer "o homem às vezes sabe ser genial" porque isso não incluiria as mulheres? Não se atina com o fato bem simples da linguagem segundo o qual "homem" é agenérico, refere-se a criatura da raça humana... Como quando dizemos "presidente" de uma empresa, caso seja mulher, não precisamos criar o termo "presidenta" (ou "presidanta")...

Eu sei que língua é um ser vivo, que se modifica segundo fato social que é, e que isso independe, em geral, da atuação de uma ou mais pessoas. Possivelmente, nas gírias diversas, alguma celebridade usando um termo ou interjeição, ou mesmo gesto (que é linguagem), vai criar uma momentânea onda de imitadores. Logo passa. Mas a língua em si, essa fascinante criatura viva, bela e atroz, poética e cruel, ou inócua e obtusa, merecia ser dispensada dessa invasão de feminicídios e empoderamentos, e mais outros da sua turma. Implicância minha, impaciência? Provavelmente. Ainda bem que, como já disse e repito, sendo ela um ser vivo e livre, não precisa da minha simpatia ou implicância para continuar.

LYA LUFT

12 DE JANEIRO DE 2019
MARTHA MEDEIROS

O ronco


O título deste texto entrega: rapazes, o assunto é com vocês, pois mulher, quando ronca, é em baixo volume, sem perturbar as relações conjugais (ok, em tese). O ronco masculino é de outra categoria: a dos rugidos aterrorizantes que fazem a gente ter certeza de que dorme ao lado de uma fera que foi esfaqueada na jugular e está nos estertores da sobrevivência, berrando sua ancestralidade primitiva. Passados muitos anos após o fim do meu casamento, admito que adoro meu ex-marido, mas já o desejei matar inúmeras vezes enquanto dividíamos os lençóis, e o assassinato só não foi efetivado graças a um dispositivo chamado divórcio, que não dá cadeia.

Essa alternativa pacífica - o divórcio - ainda traz uma vantagem, mesmo que pouco honrosa: a vingança. O ex terá uma nova namorada, é evidente. E ele se apaixonará por ela e esquecerá a anterior, que agonizou por anos a seu lado na cama. Pois. Enquanto os amigos desejam felicidade eterna ao novo casal, é uma satisfação secreta imaginar que, após algumas madrugadas juntos, a felicidade eterna dos pombinhos estará por um fio. Quá quá quá.

Porém, mistério: a fera esfaqueada na jugular começa um novo relacionamento e simplesmente deixa de roncar. Ao menos deixa de roncar daquela forma vulcânica e perversa que impedia que se pregasse o olho a noite inteira. Não é justo. Depois que meu ex-marido e eu nos separamos, ele disse que nenhuma outra namorada se queixou do ronco dele. Nenhuma. Que elas até achavam bonitinho o ronronar dele. Ronronar!!! Quando estava comigo, o querido virava um ogro selvagem assim que pegava no sono, e agora as namoradas dele dizem que nunca escutaram nada que justificasse estrangulá-lo. Eu pergunto a ele: e sua apneia? O que elas dizem a respeito? Nunca comentaram nada, ele responde. COMO ASSIM, NADA? Você quer me deixar louca? Era desesperador. Era infernal.

Aí me ocorre que, depois de separar, eu também tive namorados. E, pensando bem, nenhum deles roncava. No máximo um ronronar - pois é, um ronronar. Quando eles reclamavam que suas ex-mulheres enchiam a paciência por causa de seu ronco, eu, a santa, tomava o partido deles, lógico: era implicância, amor, você dorme feito um anjo.

Por favor, especialistas, ajudem a decifrar esse enigma. Estou prestes a declarar que os homens começam a roncar só depois de um ano de relação, por aí. Talvez exista algum mecanismo que os impeça de soltar aquele som cavernoso no comecinho do romance. As vias respiratórias dos homens apaixonados talvez não fiquem obstruídas. Ou, sei lá, toda mulher em fase de encantamento é ligeiramente surda. Depois se acumulam os anos de convívio, vem a rotina, o hábito, o tédio e o ronco, nessa ordem. Será?

Estou preocupadíssima. Em início de namoro. Ele ronrona, apenas.

MARTHA MEDEIROS

12 DE JANEIRO DE 2019
PIANGERS

Ninguém precisa trabalhar segunda-feira


Não estou com pressa de começar o ano e acredito que todos deveriam ainda estar de férias. Me incomoda imaginar que, hoje, não deu nem 15 dias em 2019, já tem gente trabalhando, pegando carro, ônibus, trem, chegando no escritório, tomando café, almoçando no bandejão da firma. Não está certo isso. 

Os que estão trabalhando sabem que está errado, eles deveriam estar na praia descansando, tomando cerveja e falando bobagem até a madrugada. Quem está trabalhando agora está fingindo que está trabalhando - fingindo que responde e-mails, que fecha contratos, que prospecta clientes - porque no fundo ninguém está mesmo trabalhando. Estão só fingindo. Quem está trabalhando nesta semana sabe que é verdade.

Se você é o chefe de uma pessoa que está trabalhando neste janeiro calorento, este janeiro ensolarado, este janeiro que pede a brisa do mar, sorvete para crianças e chopes para adultos, se você é o chefe de uma pessoa que está trabalhando neste janeiro, deveria rever esta posição agora mesmo. Libere seus funcionários. Diga: "Estão liberados. Voltem quando o tempo nublar". Ou apenas mostre aos seus subalternos esta coluna. Encaminhe pelo WhatsApp. Ninguém precisa trabalhar na segunda-feira. Vamos ser um pouco mais realistas.

Quem trabalha na primeira quinzena de janeiro, me desculpem, está apenas atrapalhando o descanso dos outros. Não há um cliente que se regozije com um ligação no começo do ano, não há um contrato que seja fechado com alegria. Nenhuma reunião terá júbilo, nenhum elogio será sincero. Serão todos hipócritas em um escritório neste janeiro, fingindo prazer em horários rígidos, deleite em metas para cumprir, agrado em conversas ao bebedouro.

Ninguém precisa trabalhar na segunda-feira. Pode ficar tranquilo. Eu conversei com seu chefe e está tudo acertado. Você, pegue sua família, leve as crianças para praia, arrume uma piscina de um amigo, coloque um chinelo e compre carvão. É inaceitável alguém trabalhar neste verão. Você faça uma caipira, coloque o celular em modo avião, ignore a ansiedade alheia. O ano ainda não começou. Ainda está quente e faz sol e todos estão na praia. Não seja indelicado de pensar em trabalho.

PIANGERS


12 DE JANEIRO DE 2019
CARPINEJAR

Lápis-borracha

Lápis é lápis, borracha é borracha. Quando a borracha está na cabeça do lápis, ela não costuma funcionar. Só borra, só piora o remendo. Parece uma lixa rasgando a folha. É como se fosse mais decorativa do que prática.

Quando preciso apagar algo, uso borracha, avulsa, branca, guardo a certeza de que não fará carnaval com a minha letra.

O mesmo devemos pensar no relacionamento amoroso. Não transforme a sua esposa ou marido no único amigo, no único confidente. Não converta o seu par em lápis-borracha. Vai gerar estragos no papel.

Sem contar que, praticando o dois em um, ao se separar, perde tudo e não tem uma vivalma em seus contatos frequentes para se socorrer.

Amor é amor, amizade é amizade, cada um com a sua função.

É saudável manter um conselho de amigos antigos à parte, inclusive para preservar o distanciamento crítico e serenar as discussões com humor e leveza.

Centralizar todas as expectativas numa pessoa é anular a sua presença. Ninguém aguenta ser o foco das crises, a fonte das dúvidas. As responsabilidades de um relacionamento já são pesadas. Inventar de unificar as tarefas termina por agravar desentendimentos.

Até porque, no calor da disputa amorosa, é comum perder a lucidez e o discernimento e atalhar ofensas. Nem sempre os desabafos são entendidos, podem soar como cobranças. Dizer qualquer coisa avoadamente costuma ser enquadrado em grosseira.

Com a amizade, fala-se bobagem sem segundas intenções. No romance, as bobagens entram no território perigoso e interpretativo do ato falho.

O amigo por perto desafoga mágoas e descongestiona reclamações. É uma peneira, um filtro. O que é ruim fica no escudo dele, o que é relevante ganha impulso e assume uma maior clareza em nossa mente.

Ele é o nosso dublê nas quedas e nos tombos. Realiza ensaios das lamúrias em telefonemas e encontros e, muitas vezes, evita brigas dispensáveis e confrontos inúteis.

A esposa ou o marido estão dentro de casa defendendo o seu ponto de vista. O amigo não tem nenhum interesse evidente e vem com o seu corretivo - a verdadeira borracha - cortar o que não se quer ouvir.

Além de nos conhecer há mais tempo, tem o jeitinho certo para nos amansar e nos convencer a pedir desculpa.

CARPINEJAR


12 DE JANEIRO DE 2019
CLAUDIA TAJES

Coisas de menina

Para muito além do rosa, lembrei de algumas "coisas de menina" mais significativas do que a cor da roupa. Isso por conta, claro, do vídeo da ministra aquela. Aí vão alguns exemplos narrados sem rigor histórico, mas com total respeito aos fatos. E tem muito mais de onde saíram esses.

OBSTINAÇÃO. Quando uma menina bota uma ideia na cabeça, dificilmente ela desiste. E, se não conseguir o que quer de primeira, vai continuar insistindo até chegar lá. O estudo, por exemplo. Nem faz tanto assim, os pais achavam que era uma perda de tempo as filhas estudarem. Para que se logo estariam cuidando da casa e do marido? Havia as que não aceitavam e terminavam seus dias em um convento ou no hospício, dois destinos consagrados para as filhas rebeldes. 

Depois de muita briga, olha nós aqui ainda que a luta continue em diversos lugares pelo mundo. E o voto? No começo do século 20, o voto era uma exclusividade dos homens abonados. Os mais humildes não tinham vez, e as mulheres, muito menos. O movimento das sufragistas foi abrindo caminho para que, em 1928, uma professora do Rio Grande do Norte se transformasse na primeira eleitora brasileira. Nada cai do céu para as mulheres o que nos fez assim, obstinadas. E dispostas a não entregar a rapadura jamais.

MAIS OBSTINAÇÃO. E quando mulher não podia trabalhar? Quer dizer, trabalhava quase em regime de escravidão, limpando, cuidando e administrando a casa em troca da satisfação do marido e dos filhos. Até que a Revolução Industrial precisou de mais braços para explorar, depois os homens foram para suas estúpidas guerras mundiais, e aqui estamos nós. No Brasil, o processo começou com mais força nos anos 1970, com a deteriorização dos salários e a necessidade de complementar a renda das famílias. Mas essas foram apenas as razões econômicas, porque o que sempre moveu a gente foi a necessidade de acabar com os limites que insistiam em nos impor. Quem torce a cara para o feminismo acaba por esquecer que todas nós nos beneficiamos com as conquistas do movimento.

CAPACIDADE. Ao contrário do que os antigos acreditavam, as mulheres não eram boas apenas no lado de dentro das casas. Aliás, uma função doméstica como a cozinha, por exemplo, hoje é atividade que garante não só o sustento, mas o reconhecimento de muitas. Ninguém mais discute a capacidade das mulheres em todas as áreas, em todos os lugares, em todos os escalões, mas isso não se traduz em igualdade de oportunidades. Na média, os salários delas também continuam menores do que o dos homens o que nos lembra que a equiparação é uma causa muito urgente e muito séria. Isso nem é feminismo, é só justiça mesmo.

MAIS CAPACIDADE. Ao receber seu prêmio de Melhor Coadjuvante no Globo de Ouro, a atriz Patricia Clarkson agradeceu assim ao diretor da série: Você exigiu tudo de mim, exceto sexo, que é exatamente como deve ser na nossa profissão. Como deve ser em todas as profissões. Exijam tudo o que for relativo ao trabalho que a gente dá. Fora isso, só se dá para quem se quiser.

PROTEÇÃO. Até bem pouco tempo, diziam que mulher não sabia ser amiga de mulher. Que a característica principal das nossas relações era a competição, factóide caricaturalmente reproduzido em filmes, programas de TV, novelas e romances para moças. Só que o mundo tem visto exatamente o contrário disso. Unidas, as mulheres se protegem e têm dado os maiores exemplos de resistência dos nossos dias, seja contra todas as formas de violência, seja nas questões políticas. Proteção é uma coisa de menina que se mistura com empatia, com generosidade e, óbvio, com amor. Sutilezas e delicadezas dos cromossomos XX. Já a cor da roupa, bom, cada uma usa o que bem quiser, assim como faz da sua vida o que bem entender. Decisão é coisa de menina. E dela ninguém abre mão.

CLAUDIA TAJES


12 DE JANEIRO DE 2019
DRAUZIO VARELLA

ESTRATÉGIA SINISTRA

Eles foram lançados com o pretexto de ajudar fumantes a livrar-se da dependência de nicotina. Por alegarem não conter as substâncias cancerígenas e a fuligem resultantes da combustão do fumo, evitariam riscos de câncer, doenças cardiovasculares e pulmonares obstrutivo-crônicas.

Numa demonstração inequívoca das intenções da indústria mais criminosa da história do capitalismo ocidental, a Altria - o maior fabricante de cigarros nos Estados Unidos, detentora das marcas Marlboro e Parliament, entre outras - acaba de investir 12,8 bilhões de dólares na compra de 35% da Juul Labs, empresa que domina um terço do florescente mercado de cigarros eletrônicos do país.

Perspicaz leitor, não lhe soa estranho uma multinacional aplicar tal soma no fabricante de um produto destinado a combater aquele que ela mesmo comercializa? Veja o que está por trás desse negócio.

1) A Juul manterá a independência, mas poderá usar "infraestrutura e serviços", pontos de venda e marketing direto aos consumidores de cigarros combustíveis por meio de propagandas inseridas nos maços, além de ganhar acesso ao mailing e à rede de vendas da Altria e de sua subsidiária, a Philip Morris.

2) Da mesma forma que os cigarros comuns, os eletrônicos são preparados para atrair crianças e adolescentes. Não é por acaso que muitos têm o formato de pendrives que podem receber carga em USB de computadores e contém aditivos químicos com gosto de chocolate, morango, crème brûlée e outros sabores agradáveis ao paladar infanto-juvenil.

3) Graças a essas artimanhas, eles se tornaram sucesso de vendas entre adolescentes americanos. Inquérito conduzido em 2017 pelo National Institute on Drug Abuse entre 45 mil alunos do curso equivalente ao nosso Ensino Médio mostrou que 28% haviam fumado cigarros eletrônicos no ano anterior. Em 2018, esse número aumentou para 37%.

4) O mesmo inquérito revelou que, em 2018, o número de alunos fumantes de cigarros comuns foi de 3,6%, queda expressiva em relação aos 22% de 20 anos atrás.

Como vários estudos demonstraram que, comparados aos não-usuários de eletrônicos, os que fazem uso deles se tornam fumantes convencionais com maior frequência, não é necessário pós-graduação em Harvard para entender a estratégia sinistra: a indústria que vende nicotina empacotada em dispositivos para queimar tabaco sente que os lucros caem nos países de renda per capita mais alta, e decide investir numa forma mais palatável de administrá-la às crianças, que seja considerada inofensiva pela sociedade.

A manobra nada mais é do que um golpe inescrupuloso para recapturar um mercado de dependentes de nicotina ameaçado pelas campanhas educativas e as estatísticas que identificam o cigarro como fonte inesgotável de sofrimento e principal causa de morte evitável.

A eficácia da indicação dos cigarros eletrônicos no tratamento da dependência de nicotina é altamente questionável. Um estudo retrospectivo, publicado em 2017 no British Medical Journal, mostrou que eles elevaram a taxa de sucesso de 4,8% para 8,2%.

No entanto, em junho de 2018, foi publicado no The New England Journal of Medicine um estudo prospectivo conduzido com metodologia bem mais rígida, no qual apenas 1% dos fumantes de eletrônicos permaneciam livres do cigarro comum depois de seis meses de acompanhamento.

Em maio de 2018, um estudo publicado no Annals of Internal Medicine revelou que, seis meses depois de receber alta hospitalar, 10,1% dos que fumaram eletrônicos conseguiram parar de fumar, contra 26,6% dos que o fizeram sem usá-los.

Mesmo a pretensa justificativa de que eles evitariam os males do cigarro comum tem sido questionada. Evidências preliminares sugerem que também estejam associados ao risco de infarto do miocárdio, de enfisema e outras doenças pulmonares.

O Brasil tem feito muito esforço para reduzir o número de fumantes: proibição do fumo em ambientes fechados, aumento de impostos, advertências nos maços, restrições à propaganda, matérias educativas nas escolas e nos meios de comunicação de massa. Os resultados não são desprezíveis. Segundo o Vigitel, em 2017, a prevalência do fumo entre nós era de 10,7%. Hoje, fumamos menos do que nos Estados Unidos e nos países europeus.

Se não adotarmos medidas preventivas enérgicas, andaremos para trás. Sem controle, os cigarros eletrônicos tornarão dependentes de nicotina milhões de crianças brasileiras.

DRAUZIO VARELLA



12 DE JANEIRO DE 2019
CHRISTIAN DUNKER

PAULO FREIRE

Jamais me esquecerei da conferência de Paulo Freire na Faculdade de Educação da USP em 1987. Tempos de redemocratização do país, para a qual ele trazia a experiência da África que tinha adotado sua concepção de alfabetização. Ele tinha ido receber um prêmio em um destes países, talvez fosse o Zimbábue, e o dignitário local foi buscá-lo no hotel. Como parte dos costumes locais, em sinal de reverência e acolhimento, o tal sujeito tomou a mão de Paulo Freire e saíram assim, de mãos dadas, caminhando pela rua. Um exemplo prático e impactante de sua tese mais importante, discutida em Pedagogia do Oprimido: reconhecer o saber e o modo de vida do aprendente. 

Cada um aprende a partir de sua própria posição e história, seja ela de riqueza ou pobreza, de mulher ou homem, de negro ou branco. A ideia é tão forte quanto simples. Fazer valer a leitura que cada um já tem do mundo, para em seguida expandir ou tirar para fora, no sentido literal e latino de educere, torna cada um sujeito de sua própria viagem de conhecimento, o que antigamente chamava-se formação. Ideologia, ao contrário, é achar que a criança ou o adulto analfabeto é uma página em branco, que a gente preenche como uma conta bancária.

A ideia pareceu-me incrivelmente psicanalítica, ou pelo menos lacaniana, no sentido de que aprendíamos a não inserir palavras ou intenções na boca de nossos pacientes. Nunca, jamais em tempo algum, querer impor o seu saber de modo a sugestionar o analisante em um sentido específico e consequentemente destituí-lo como agente de seu próprio processo. 

Por outro lado a imagem da vergonha relativa que o grande mestre tinha sentido, e compartilhara conosco, era uma segunda lição imensa. Não é um problema possuir valores e preconceitos se você está disposto a enfrentá-los, expondo-os à experiência que transformará os envolvidos. Reconhecer o ponto de vista do outro, na contradição produtiva que ele traz com o seu, exprimia-se na cena de dois homens andando de braços dados em público.

Quando cheguei à Inglaterra, por volta de 2001, para fazer meu pós-doutorado, perguntei o que eles sabiam sobre o Brasil. A reposta foi clara e repetitiva: em termos intelectuais? Paulo Freire. Visto como uma espécie de Franz Fanon da educação, um dos pais da teoria pós-colonial, ele é o que temos de mais próximo de Pelé no futebol acadêmico. 

Ainda que fosse um Tarciso ou Valdomiro, ele é o cara que todo mundo conhece. Se você duvida, consulte um site chamado Google Scholar. Pelo mundo afora acostumei-me com essa resposta, até que pude conhecer sua filha, Madalena Freire, também educadora. Ela tinha colocado em prática um modelo de formação de professores nas comunidades dos morros do Rio de Janeiro, baseado na apropriação e na escrita da história de si. Tornar-se autor. Estava ali a mesma ideia novamente.

Portanto, quando vejo nosso novo governo declarar uma limpeza étnica do lixo marxista nas universidades, começando por Paulo Freire na educação, não consigo deixar de pensar como suas ideias deram certo. Foi graças a essa valorização cultural do ponto de vista do outro que os discursos mais ignorantes, como os que Olavo de Carvalho, mentor desta barbárie que se anuncia, puderam se apresentar como uma opinião entre outras. 

Terra plana, conspiração gay-comunista, Darwin e Newton, esta dupla de idiotas, tudo vale como um ponto de vista digno de respeito e consideração, ainda mais quando enunciado do alto das goiabeiras em flor. A culpa é mesmo de Paulo Freire. Se não tivéssemos levado tão a sério o que ele disse, jamais teríamos permitido que pessoas sem formação acadêmica formal ou instrução credenciada pudessem externar tais opiniões sem vergonha (no duplo sentido). O que ele não podia prever é que, depois de tudo, em sua própria terra, ele não teria vergonha, mas medo, de andar de braços dados com outro homem.

CHRISTIAN DUNKER


12 DE JANEIRO DE 2019
J.J.CAMARGO

OS QUE NUNCA ERRAM

Se não houvesse tantos incapazes de admitir o erro, seríamos poupados do tempo desperdiçado ouvindo desculpas esfarrapadas e explicações fajutas que chateiam porque não convencem e irritam porque subestimam a nossa inteligência mediana.

Acho que já requintei minha atitude diante da tentativa sempre frustrada dos narcisistas que, muitas vezes sendo inteligentes, devem perceber que não convencem, mas isso não arrefece o ímpeto de ostentar uma convicção até fazê-la parecer verdadeira, exatamente por se considerarem assim, inteligentes.

Numa fase mais imatura, minha reação, em geral, era de indignação, geralmente mal contida. Depois, me convenci de que há do lado de lá um grande sofrimento pela certeza de algum grau de deboche no olho de quem ouve. E imagino que essa já é uma punição suficiente.

Os juízes, os policiais e, muito antes deles, os padres e rabinos sabem o quanto a confissão de um erro ou pecado retira de peso das costas do confessado. É como um salvo conduto generoso que liberta a vítima para voltar a viver na plenitude, mesmo que, no meio do caminho, haja uma penitência a ser cumprida.

Quem trabalha em grupo aprende desde cedo o que significa ter de dar explicação: numa cadeia de responsabilidades e tarefas, alguém não cumpriu a sua parte. Porque é fácil admitir que, se todos fizessem tudo o que foi previsto ou determinado, nunca mais teríamos de conviver com o constrangimento de suportar alguém tentando explicar o inexplicável.

Na atividade médica, suscetível ao erro como poucas, dada a quantidade absurda de variáveis em jogo, há uma enorme dificuldade de admitir que erramos, mesmo quando é óbvio que sim.

Há uma crença ingênua de que a confissão do erro pelo médico vai enfraquecer a relação com o paciente, mas acontece exatamente o contrário, pelo menos entre pessoas de boa fé, o que naturalmente exclui a escória desconfiada que interroga o médico com o gravador escondido.

Não há nada que aproxime mais o paciente do seu doutor do que ele sentir-se tratado com igualdade. E, acreditem, a confissão sincera do erro oferece uma aproximação emocional inigualável.

Os que se comportam como se fosse proibido errar, além de negarem a condição humana que nos faz falíveis, serão obrigados a conviver com o repúdio manifesto por impulso ou contido por educação de quem estará pensando: "Que pena que o nosso doutor pensa que eu sou tão idiota que não consigo perceber o que, de fato, aconteceu!".

Independentemente de quais desdobramentos o erro possa ter, a percepção inconfundível no olho do interlocutor de que não estamos convencendo é o maior desconforto possível numa conversa entre um assustado buscando ajuda e um pretensioso negligenciando esperança.

J.J.CAMARGO


12 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA

Será que é muito pequeno?

Hemingway adorava matar bichos e pessoas. Mais pessoas. Há várias fotos dele sorrindo atrás do corpo de algum grande animal abatido por seu rifle. Lá estão o velho Ernest e um melancólico leão morto, ou o velho Ernest e o cadáver de um leopardo. Não há, que eu saiba, nenhuma imagem do velho Ernest junto ao corpo de um ser humano que ele executou, mas, bem, ele executou.

Esse fato não é muito conhecido, embora seja um fato. Hemingway chegou a ser julgado por crimes de guerra nos anos 40. Acabou absolvido. Depois, contou a amigos que, pelos seus cálculos, havia assassinado 122 soldados alemães. Escrevi "assassinado" porque era isso mesmo que Hemingway fazia: ele matava sem que suas vítimas sequer tivessem possibilidade de defesa. E, a dois ou três interlocutores, confessou que o prazer de caçar um homem era infinitamente maior do que o de caçar um animal.

Hemingway realmente apreciava a violência. Na época em que vivia em Paris, tornou-se amigo de vários escritores famosos, um deles o inescrutável James Joyce, que era muito provocador, mas muito fraco fisicamente. Essas características tornavam a simbiose entre eles perfeita, porque Joyce arrumava brigas nos bares, durante as esquinas dobradas das madrugadas, e Hemingway lutava por ele. Joyce discutia, Hemingway socava. Cada um na sua.

Scott Fitzgerald foi outro grande escritor da turma de Hemingway, naquele tempo em que Paris era uma festa. Os dois tinham em comum o gosto por bebidas e mulheres. Quanto às bebidas, ambos as ingeriam na mesma (vasta, enorme, oceânica) quantidade, já em relação às mulheres Hemingway tinha mais experiência. Ele vivia substituindo uma mulher por outra e escrevendo sobre elas. A ponto de Fitzgerald avisar:

- Você precisará ter uma mulher para cada livro que escrever.

De fato, os personagens femininos dos romances de Hemingway eram baseados em mulheres que ele havia conhecido na vida real, e aí o verbo "conhecer" tem acepção bíblica.

A vida de Fitzgerald, em contraponto, girou em torno de uma mesma mulher, a também escritora Zelda, bonita, charmosa e esquizofrênica. Hemingway não gostava nada dela e ela não gostava nada dele. Talvez ambos tivessem razão.

Uma noite, ainda em Paris, Fitzgerald chamou Hemingway ao banheiro do restaurante em que estavam - tinha de lhe falar em particular. Hemingway achou estranho, mas o acompanhou. No banheiro, Fitzgerald revelou que, dias antes, Zelda havia se queixado do tamanho de seu pênis.

- Com essa coisinha você nunca vai satisfazer mulher alguma - dissera ela.

Fitzgerald queria que Hemingway olhasse para o pênis dele e fizesse uma avaliação honesta. Hemingway continuou achando muito estranho, mas topou auxiliar o amigo. Fitzgerald baixou as calças, Hemingway olhou, olhou bem, olhou com cuidado e sentenciou:

- Você é completamente normal.

- Mas parece pequeno!

- É o ângulo de onde você está olhando. De cima parece pequeno. Mire-se de perfil, no espelho, e verá que seu pênis é normal.

Fitzgerald saiu do banheiro mais aliviado.

Os padrões de Zelda deviam ser muito elevados, mas, ainda que fossem, ainda que ela não se sentisse contemplada pelas medidas do marido, aquilo não era algo a se dizer, não é? Ela deve ter feito essa observação para diminuir (mesmo) o seu homem.

Ou seja: Zelda, a cruel, e Hemingway, o assassino, não eram boas pessoas. Zelda também não era boa escritora. Hemingway, sim. Era um mestre. Seu estilo direto, preciso, jornalístico, mudou um pedaço da literatura. Quando leio um livro de Hemingway, pouco me importa quem ele foi ou o que ele fez. Importa-me a sua obra. É o exercício que tento fazer hoje, com os artistas brasileiros. Eles estão sempre se manifestando, a respeito de tudo e de todos. Estão sempre falando. Eu? Eu não ouço. Não quero saber o que pensam. Não quero julgar a arte pelo artista. Não quero me desiludir. Não me venha com Hemingway. Venha-me com O Velho e o Mar.

DAVID COIMBRA

12 DE JANEIRO DE 2019
MÁRIO CORSO

Cortes autoinfligidos

Ainda não encontrei um livro que dê conta do novo protagonismo que o corpo vem assumindo nas últimas décadas. Esse corpo mimado por dietas e academias, esculpido a bisturi, decorado com tatuagens e pier- cings, que dá trabalho e do qual tanto se espera.

Sempre fomos através de um corpo, é óbvio, mas nunca precisamos tanto de um para ser alguém. Está fora de moda apenas ter sucesso, ser admirado, é preciso que o biótipo demonstre isso. O corpo faz parte do triunfo, ou ele não é total.

Em resumo: o valor que damos à nossa compleição física cresceu. Sem saudosismos, talvez seja porque descobrimos que não temos um corpo, e sim somos um corpo. Seria uma mudança e tanto. Historicamente nos concebemos como uma alma presa à matéria, e não como um organismo em que brota uma subjetividade. Talvez em ato estejamos à frente da ideia que temos de nós mesmos, já vivendo um pensamento que virá.

Mas a divagação é para situar um problema que preo- cupa pais e professores: muitos jovens estão secretamente se cortando. Primeiro acalmem-se, o mundo não piorou, não é mais desesperador do que era, apenas os sintomas transmutam-se. Tanto como antes não nos tatuávamos tanto - escolhendo um dos exemplos de fenômenos da nova ordem corporal -, não nos cortávamos tanto. Portanto, é preciso inserir o gesto nesse novo momento no qual "falamos" mais desde o corpo. Os mais velhos se assustam por não conhecerem esses mecanismos do dialeto corporal recente, por isso lhes parecem tão pungentes.

O que temos é um sofrimento agudo que não encontra outra forma de se expressar. É preciso que esse sujeito seja escutado, que entenda sua dor, para que possa ser dita de outra maneira. Acompanhado de alguém que entenda sua dor, ela talvez não precise ser corporalmente encenada.

Geralmente os cortes são uma tentativa desesperada de estancar uma angústia, transformando-a em dor física, e dar visibilidade ao sofrimento psíquico. Também possibilitam parar para retomar depois, pois, restando a marca, não será esquecida. É uma dor que não pode ser deixada de lado, tampouco é possível suportá-la o tempo todo. É um corte na carne e na cena. Por isso nos relatos o corte é dito como um alívio momentâneo.

Machucados cicatrizam e tornam-se memórias inesquecíveis, que deixaram de sangrar e doer, mas como se o sofrimento tivesse deixado uma assinatura. Porém, se a dor de uma ferida psíquica fechar suturando um lamento que não se transformou em palavras, ela voltará iniciando novos apelos, que podem ser vistos mas não escutados. Ao invés de calar as dores com analgésicos para a alma, convém lembrar: esses machucados só cicatrizam de verdade se for de dentro para fora, é preciso deixar sangrar as palavras até que as dores sequem.

MÁRIO CORSO


12 DE JANEIRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

ESPERANÇAS E ANSEIOS NO PIRATINI

O sucesso da gestão de Eduardo Leite está condicionado principalmente à apresentação de um plano sólido para o futuro do Estado

Nos primeiros 10 dias no co-mando do Palácio Piratini, Eduardo Leite concentrou esforços em duas grandes frentes: a edição de decretos de contenção de gastos, a fim de garantir fôlego financeiro para o Estado, e a reestruturação de secretarias e órgãos de governo. Embora sejam ações fundamentais para trazer racionalidade à gestão pública, o trabalho do recém-empossado governador do Rio Grande do Sul só começará de verdade e aí poderá ser avaliado quando as primeiras medidas estruturantes, prometidas durante a campanha eleitoral, forem concretizadas.

Passado o entusiasmo da vitória nas urnas, apresenta-se agora ao governador a vida real. Alta taxa de homicídios, folha de pagamentos atrasada, dívidas com hospitais e baixos índices de qualidade no ensino são apenas alguns dos desafios que já estão batendo às portas do Piratini.

O sucesso da gestão de Eduardo Leite está condicionado principalmente à apresentação de um plano sólido para o futuro do Estado. Os detalhes ainda não foram anunciados, mas entrevistas concedidas por secretários ao longo das duas primeiras semanas de trabalho indicam que o governo, apesar do aumento do número de secretarias, pode estar no caminho certo, preocupado em modernizar a estrutura, enxugar gastos supérfluos e acelerar a venda de imóveis ociosos.

O projeto em estudo pela Secretaria de Educação para reduzir de 30 para 12 o número de coordenadorias regionais é um bom exemplo. Trata-se de uma medida racional, considerando-se que, com a digitalização de processos, a necessidade de atendimento presencial caiu drasticamente na última década. Não há razão para 1,3 mil professores, que poderiam estar em sala de aula, estarem envolvidos em trabalhos burocráticos que, em grande parte, poderiam ser automatizados, sem a extinção de qualquer emprego. A atividade-meio não pode ser mais importante do que a atividade-fim.

Também é promissor que estejam no horizonte de curto prazo do governador a revisão do plano de carreira dos servidores, um robusto programa de parcerias público- privadas, além de uma proposta alternativa para adesão ao regime de recuperação fiscal, que não inclua a venda do Banrisul.

Olhadas individualmente, muitas das medidas representam um pequeno impacto nos cofres públicos, mas são fundamentais para tornar a máquina mais eficiente e evitar sobreposição de funções em um Estado que não consegue sequer quitar a folha de pagamento do funcionalismo em dia.

Peça-chave para levar adiante as mudanças, é bem-vindo ainda o esforço de Eduardo Leite para manter boas relações do Executivo com a Assembleia Legislativa. A aprovação de medidas que contrariam interesses e privilégios incompatíveis com a situação de penúria do setor público não é fácil. Outros governadores de reconhecidos talentos políticos tentaram e não conseguiram.

O grande desafio do jovem governador gaúcho é não se deixar engolir pelas questões da rotina da gestão. Para isso, montou sua equipe de governo. Os focos de incêndio são e serão muitos, mas Leite precisa dedicar boa parte da sua energia ao longo prazo. Sem pensar no Rio Grande de amanhã, o hoje fica ainda mais difícil.


12 DE JANEIRO DE 2019
MARTA GLEICH

Raízes centenárias


Uma das nossas grandes missões, como jornalistas, é estar próximos das pessoas. Proximidade é uma palavra que levamos a sério desde o planejamento da pauta até o conteúdo ser veiculado em jornal, digital e rádio. Por isso, adoramos o Gauchão. É um campeonato da nossa terra, com a nossa gente e a nossa cara. Nos aproxima, especialmente, do Interior.

Falta uma semana para o Gauchão 2019 começar, numa edição que será especial: são os 100 anos da competição. Para lembrar momentos desse símbolo do Estado, alguns craques do nosso time atuaram, nas últimas semanas, no caderno 100 Fatos nos 100 Anos do Gauchão, que você pode ler nesta edição e em versão digital de GaúchaZH.

O editor Cristiel Gasparetto, o repórter Rafael Diverio e o comunicador Gustavo Manhago mandaram ver na pesquisa sobre os fatos que deveriam ser destacados. Acessando fontes como os livros citados na última página do caderno, encontraram de tudo.

Tem de comentarista de TV desmaiando ao vivo por causa do calor a jogos disputados debaixo de neve. Ou tragédias que cancelaram rodadas e um lamentável caso de racismo. Grandes façanhas, como a do primeiro campeão, Brasil-PEL, do Guarany-BA, único bi do interior, do histórico Renner, da dupla Ca-Ju derrubando a dupla Gre-Nal e do Novo Hamburgo levando a taça para o Vale do Sinos.

E tem uma galeria de personagens, como o torcedor-símbolo Vicente Rao, o atacante Tesourinha, os Irmãos Pontes e, claro, Tite - não podemos esquecer que o Gauchão é berço de grandes treinadores.

Vale conferir, ainda, imagens bem curiosas. Com a ajuda da Letícia Coimbra, integrante da turma do nosso CDI (Centro de Documentação e Informação), garimpamos algumas pérolas, como o Paulo Sant?Ana vestido de Papai Noel azul e a célebre foto do Figueroa nu, que adiou uma rodada inteira. Também foi escalado o pessoal de diagramação e arte: Douglas Menezes, Gilmar Fraga, Anna Fernandes, Leandro Maciel, Hermes Wiederkehr e Brunno Lorenzoni. Eles transformaram o conteúdo em páginas e ilustrações no jornal e no site.

O resgate do centenário do Gauchão - não é a centésima edição e, sim, o centésimo ano, já que começou em 1919, mas não foi disputado em dois anos na década de 1920 - é um abre-alas para o conceito de "Campeonato Raiz", com que os veículos do Grupo RBS vão trabalhar em 2019 na cobertura da competição. Teremos quadros especiais, noticiário completo, histórias contadas por personagens de dentro e de fora dos gramados. Aguarde novidades no próximo fim de semana, quando os 12 clubes entram em campo para mais uma disputa repleta de emoções do jeito que os gaúchos gostam.

MARTA GLEICH

sábado, 5 de janeiro de 2019


05 DE JANEIRO DE 2019
LYA LUFT

Palavras como caramelos

Quem me lê sabe que desde sempre fui apaixonada por palavras. Para mim, encantamento, magia, pedrinhas coloridas, cristais translúcidos, caramelos, murmúrio de riacho ou chamado de mar, não importa.

Por isso, eu uso algumas como enfeites, anéis ou brincos, colares com que me sinto bem: glicínia, abside, murmúrio, lágrima, magnólia, marinha... Tantas. Tive esperança, quando muito pequena, de acordar um dia me chamando Magnólia, ou Virgínia, ou Margarida. Qualquer coisa menos as três letras sem graça do meu nome real. Quis me chamar Esperança, não lembro por quê. Açucena, para horror de minha mãe: eu mal começava a ler e numa página encontrei esta beleza: "As gotas de orvalho brilhavam nas pétalas das açucenas".

Então, hoje me fixo na esperança, que tem lá o sibilo do sss mas o conteúdo solar. Minhas esperanças foram mudando dramaticamente (não no sentido negativo) em todos esses anos. Quando pequena, esperava que minha mãe não visse que eu tinha quebrado o copo; que eu tinha sujado o vestidinho sentada na terra; que meu pai me trouxesse aquele livro; que chovesse de noite para eu dormir sentindo aquele incrível aconchego; que chegasse logo Natal e nada de Papai Noel com varas no saco...

Que chegasse a hora de irmos para a praia nas férias de verão, quando não se faziam, como hoje, fins de semana e feriados na beira do mar - a viagem era penosa, demorada, às vezes arriscada. Mas bem antes já se manifestava aquela esperança da temporada em Torres, ainda uma ruazinha com poucas casas e aquele mar esplendoroso, sonoro, belo e às vezes sinistro, que, para mim, era a voz dos afogados chamando de noite no escuro... Essa esperança de praia começava lá por outubro, novembro, com os primeiros calores e noites mais estreladas. A gente inventava: "Estou sentindo cheiro de praia".

Depois havia as esperanças mais melancólicas, como quando, lá pelos sete anos, por acaso descobri que meu pai, adorado acima de tudo, tinha problemas cardíacos. E, quando perguntei, ele, com toda a naturalidade, sem imaginar o buraco que se abria na minha alma, explicou com simplicidade que o coração era uma espécie de bomba, que bombeava sangue, e um dia podia parar. E aí? (O meu, apertado, subindo pela garganta.) Aí, a gente morre.

Quando ele morreu, eu tinha 35 anos, mas era como se quase diariamente cutucasse a esperança: por favor, por favor, que em meu pai aquele coração bondoso, sábio, amoroso, protetor, não parasse.

Fui tendo esperança de virar adulta; de fazer faculdade, aprender mil coisas; de me casar, ter filhos; de ver todos saudáveis e felizes; de ter meu primeiro livro lido... de escrever outros... esperança de mais beleza e amor e harmonia nas casas, no mundo. Esperança como uma primavera meio doida que faz milagres porque é linda, firme, obstinada e feliz.

Muitas esperanças foram abatidas pelos chamados golpes do destino. Muitas, talvez até mais do que eu merecesse, se cumpriram. Hoje, nesta fase de virada do Brasil, a esperança de sermos éticos, decentes, justos, abertos, altivos, parceiros para o mundo, cresce no coração - como aquele pão cheiroso saído das mãos generosas e hábeis das mães ou das avós crescia magicamente debaixo de um pano alvo e limpíssimo, antes de ir para o forno. E dali sair com aquele aroma de segurança, de renovação e de confiança que começa a se espalhar por aqui.

LYA LUFT

05 DE JANEIRO DE 2019
MARTHA MEDEIROS

O mais perto que cheguei do céu

No final de 2017, estava fora de Porto Alegre e não pude assistir ao show que Caetano Veloso fez ao lado dos filhos Moreno, Zeca e Tom. Pra minha sorte, a turnê tem sido tão exitosa que eles retornaram à cidade um ano depois e pude, em dezembro de 2018, assistir a Ofertório. Já vi Caetano cantando com os Doces Bárbaros, com Jorge Mautner, com Gilberto Gil, e muitas vezes sozinho - sempre comovente. Mas, desta vez, knock-knock-knockin? on heaven?s door. Acesso ao paraíso.

Entre uma música linda e outra ainda mais bela, fiquei olhando para aquele garoto de 76 anos que viveu, que amou, que deu tanto ao Brasil, e baixou em mim uma espécie de orgulho alheio. É muita bênção poder subir ao palco acompanhado de seus três filhos e cantar junto com eles as passagens de cada etapa de seu crescimento. "Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo." O tempo. O quinto elemento do show.

Instrumentistas, compositores, intérpretes: os quatro são tudo e são unos. A mesma sensibilidade e elegância. Quatro talentos a serviço da doçura, da sofisticação, da poesia. E pra contrabalançar o sublime, são homens de convicção, contestação. Sem fúria, mas com bravura, quatro homens inteiros, cada um doando o seu pedaço de vida até aqui.

Foi tão bonito. Tão bonito.

Mães carregam (arrastam!) seus filhos, são exaltadas, amam fazendo barulho. Pais são mais sóbrios, amam com sutileza, dão a mão. Eram, ali no palco, um pai cheio de ternura e três filhos discretos, mas nada disso impedia que dançassem, rissem, se posicionassem. Parceria que não nasceu de um contrato em três vias, e, sim, parceria gerada nas canções de ninar, nos castelos de areia na praia, em tardes chuvosas assistindo a um filme na TV. Uma banda chamada família. Brincando de serem os novos baianos, os novos Caymmi, os novos Jackson Five - os novos eles mesmos, instalando no palco a sua sala de estar.

No show, a parte mais conhecida da playlist é elevada à quarta potência. Leãozinho, de letra tão simples, amplifica-se no verso "de estar perto de você e entrar numa". Força Estranha fica mais forte ainda no verso "por isso essa voz tamanha". Trem das Cores cresce no verso "de um azul celeste celestial". Foi mesmo como bater às portas do céu, lá onde mora o sagrado, o divino maravilhoso.

Essa rasgação de seda não é apenas pela música (ainda que, só por ela, já se justificaria), mas porque, por meio dela, demonstrou-se possível a utopia de pacificar passado e futuro, unificar gerações, dar à família um sentido de fortaleza, o que nunca é fácil, sendo uma instituição diversa e tão caótica. Portar o mesmo sobrenome não é garantia de nada, mas portar-se com dignidade diante do belo e daquilo que nunca envelhece coloca o mundo de joelhos. Vida, doce mistério.

MARTHA MEDEIROS

05 DE JANEIRO DE 2019
PIANGERS

O incrível caso do bêbado que voou

No domingo, quando eu, Aurora e Flora, duas menininhas fofas que estão aprendendo a andar de skate e bicicleta, fomos tomar um caldo de cana para aliviar o calor tórrido de uma tarde de dezembro, o vendedor contava uma história. Pesquei sem querer. "Ah, achei que era mentira! Então é verdade?", disse o interlocutor, um cidadão de cara rosada e sorriso simpático, apesar dos dentes que lhe faltavam. 

O vendedor de caldo de cana confirmou. Era a mais pura verdade. Um furacão tinha arrasado sua cidade natal, no interior do Paraná, destelhando casas e fazendo cair árvores. O fato acontecera na semana anterior. O destaque da história, e neste momento o vendedor de caldo de cana fez uma cara muito séria, era que um bêbado da cidade, sem a prudência dos sóbrios, caminhava no meio da rua e foi levado pelo vento. 

"Ele foi mais ou menos daqui até aquele prédio", disse o vendedor de caldo de cana. "Aquele prédio", ele disse apontando para uma edificação distante uns 600 metros. Neste momento, fiz com o rosto aquelas caras de quem não tem muito o que dizer, olhos arregalados amistosamente e queixo empurrado pra frente, demonstrando que estava acreditando em tudo. Foi um daqueles casos em que a gente mente só com a expressão do rosto. "E a velha morreu do coração", disse o homem, sem explicar de onde tinha vindo a velha na história. 

Achei simpático perguntar. "A velha estava em casa e viu o bêbado voando e morreu do coração na hora", ele disse, novamente sem nenhum traço de constrangimento. Olhei bem nos olhos dele, e ele nos meus. Posso garantir que não percebi nenhuma ironia, pista alguma de que ele poderia começar a rir da minha cara no segundo seguinte por ter acreditado nesta história surreal. 

"É mesmo?", perguntei, tomando um gole de caldo de cana. "Verdade", me disse o vendedor. "Quanto saiu aqui?", perguntei. "Seis pila paga", me respondeu. Juntamos nossas três notas de dois reais, entregamos ao homem e nós encaminhamos pra casa. O tempo estava começando a fechar.

PIANGERS

05 DE JANEIRO DE 2019
ANA CARDOSO

Os Sem Presente

Existe um grupo crescente de pessoas que não trocam presentes no fim do ano. Que não os compram. Nem os fazem às pressas. São os Sem Presente.

Aplaudidos pelos economistas, eles não são de todo maus. Você deve conhecer algum. Não comem com as mãos nem arrotam à mesa. Mas não fazem sucesso com as crianças.

Alguns Sem Presente - há quem os chame de lunáticos - sequer comem o peru do Natal. Muitos são veganos, outros fazem jejum intermitente. Há os que fazem churrasco e são bem comilões. Tem de tudo. Não são muito populares, é verdade. Por enquanto.

Optar por não dar presente é uma escolha consciente e séria. Nessa decisão há um bocado em jogo. Como não ser convidado para algumas festas ou sentir a orelha fervendo até a véspera do Ano-Novo.

Por outro lado, a pessoa não precisa quebrar a cabeça para tentar lembrar de alguma pista de presente. E como é difícil acertar sob pressão. Uma coisa é comprar algo quando você se lembra da pessoa, num momento aleatório, outra é entrar em lojas lotadas com a missão de agradar.

O Movimento dos Sem Presente surgiu na casa de uma avó com muitos netos que estavam sempre disputando e chorando porque haviam ganhado menos presentes do que seus primos. Não importava a quantidade de pacotes. Nem o conteúdo dos embrulhos. Era só briga e reclamação.

Ao invés de curtir o presente de que mais gostou ou - valha-me Deus - o mais inusitado ou mais divertido, não. Cada neto só se importava com o fato de o irmão ou a prima ter ganhado mais pacotes. Essa avó, indignada, decidiu que não compraria mais Legos nem tricotaria meias de lã. Se engana quem apostar que a senhora passou a investir o dinheiro em contas de fintechs para os netinhos. Ainda que seja do tipo moderninha.

Tão moderna que fundou esse movimento. Para a tristeza geral das black fridays, aviso que o Natal Sem Presente está virando uma tendência. Antropólogos mais antenados dizem que não é novidade. Que nas periferias isso já é uma realidade há muitas décadas. Pois bem, no último ano foi registrado um aumento entre os praticantes dessa modalidade.

Antes que alguém se encante com esse grupo e queira saber mais, é preciso fazer uma ressalva: você está pronto para abraços desinteressados, sentar e ouvir as pessoas e ser generoso o ano todo? A doar seu tempo e não o seu dinheiro para melhorar a vida das pessoas? Se a resposta é não, é melhor nem tentar entrar para os Sem Presente. Corre pro shopping que é mais fácil.

ANA CARDOSO


05 DE JANEIRO DE 2019
CARPINEJAR

Não há milagre nas férias

Você confia que nas férias fará tudo o que não conseguiu ser ao longo do ano. Cumprirá finalmente o check-list de seus votos em uma tacada. Não sobrará nada pendente em 2019. Nada ficará para trás.

Na mala, coloca uma série de sutiãs esportivos e shorts para malhar, sendo que não compareceu à musculação nem um mês, apesar de pagar a inscrição antecipadamente na academia por um semestre.

Mas acredita que achará folga para correr na praia e desfrutará da aparelhagem do hotel antes do café da manhã, antes das 7h, horário em que jamais acordou na vida para se exercitar. Pretende aproveitar as chances e ser diferente. Mudará os hábitos num estalar dos dedos. Acredita mesmo que as férias são o buraco negro da existência onde os desejos retardatários se concretizam.

E também coloca roupa de festa na bagagem, aquele vestido vermelho de cauda, poderoso e pesado, para escandalizar. Além de providenciar um espaço ao salto e todos os seus acessórios.

Nunca pôde desfilá-lo, e custou uma fortuna. Haverá uma inacreditável recepção de gala e praticará o seu inglês ginasial com uma legião de turistas. Acredita que chegou a hora, porque são férias, a estrela cadente das férias cortará o seu céu.

E separa pares de sapatos, monta looks diferentes para 10 dias, acondiciona chapéus, embala a coleção de echarpes. Fantasia uma por uma das suas postagens no Instagram.

Imagina que terá um momento de frio e também se previne e reserva um par de botas e casacos de lã. E sonha com luau, lareira, piscina com borda infinita, mesa de sinuca, massagem, caipirinha, trilhas, windsurf, todas as estações, esquizofrenicamente, em uma semana e pouco. E põe o quimono que nunca estreou, o roupão que nunca testou, a minissaia de couro para balada que nunca contou com coragem para sair. Em caso de aguaceiro, levará a capa amarela de Cantando na Chuva.

Não esquecerá coisa alguma, situação nenhuma. Sua bagagem é praticamente o lado inteiro do armário que não usa. Mas agora vai acontecer. Idealizou tanto o descanso para pôr em prática o que nunca deu certo.

Reserva uma pequena biblioteca para o almejado descanso, com seis títulos, do suspense à comédia romântica, para se esbaldar culturalmente na espreguiçadeira, na rede, na cadeira de praia. Tudo bem que apenas conseguiu ler três livros em 12 meses. Sem o estresse do trabalho, dobrará a média, recuperará o tempo perdido.

Afinal, as férias servem para contrariar as expectativas. Só que não. Não existe milagre em tão breve período. Repetirá apenas o que sempre foi, o que costuma ser.

CARPINEJAR


05 DE JANEIRO DE 2019
LEANDRO KARNAL

Férias cerebrais

A casa guarda ainda algum vestígio das festas de fim de ano, a geladeira está repleta de sobras e, finalmente, muitos de nós estão de férias ou têm o ritmo de trabalho bem diminuído. Este período é morto em termos de produtividade, salvo pela posse de novos governantes. Nada melhor do que aproveitarmos o tempo que (finalmente!) parece ser maior para colocar leituras em dia.

Muita gente prefere passar horas diante de um celular ou outra tela, em redes sociais, jogos eletrônicos, canais de streaming. Outros, que ainda lembram como é o mundo real, fogem para balneários, retiros e acampamentos. Todas as opções para relaxar são válidas, mas ler é ir a qualquer lugar sem precisar sair de onde está. Viajou?

Leia no avião, no ônibus, na cadeira de praia, na rede. Ficou em casa? Livre-se do smartphone por algumas horas e abra um livro. Jogue-se numa poltrona ou na cama e saboreie o mundo contido nas páginas a sua frente. Se o vício em telefones é muito grande, baixe um aplicativo que bloqueie outras atividades, um leitor de PDF ou de formatos de e-book e... voilà! Leia no bendito aparelho que não sai de suas mãos e entorta cada vez mais seu pescoço.

Está desatualizado ou sem prática? Vou recomendar alguns textos que me marcaram neste ano e alguns clássicos para sua quinzena que se abre. Meu sonho é que o bichinho da leitura lhe pegue e que a quinzena se abra para o ano todo de textos e de ideias. Por ora, meu desejo é que suas férias sejam cerebrais. Descansar o corpo exercitando a mente. Desejo dar vigor à massa cinzenta e aumentar nosso repertório cultivando o hábito de crescer pela leitura.

Como este foi um ano de política e de tentativas de imaginar futuros melhores, vou começar com Yuval Harari e suas 21 Lições para o Século 21. Sapiens mergulhou em nosso passado como espécie. Homo Deus, o livro seguinte (já insinuado no final de Sapiens), arriscava previsões de longo prazo para nossa espécie. Agora, o premiado historiador israelense nos provoca, refletindo sobre nossa atualidade e sobre o porvir imediato. Deus, guerras, terrorismo, fake news, imigração, pós-verdade, ignorância e trabalho. Esses são apenas alguns dos temas que o farão pensar antes de fazer votos para o ano novo.

Ainda na mesma toada, Como as Democracias Morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Um best-seller necessário para os dias atuais. Os autores apresentam os norte-americanos diante da ascensão (para muitos, inexplicável) de Donald Trump, analisam a política antidemocrática desde o nazi-fascismo nos anos 1920 e 1930, passam pelos governos militares na América Latina e chegam ao atualíssimo avanço da extrema direita na Europa. Nesse voo, Levitsky e Ziblatt percebem que as democracias, frágeis e necessárias como sempre, não morrem mais em tomadas de poder, nas mãos de ditadores com porretes nas mãos, mas sim em... eleições. Daí por diante, o que eu disser será spoiler. Corra para ler!

O filósofo germano-coreano Byung-Chul Han lançou os dois livros seguintes há alguns anos. As obras continuam a impressionar pelo exercício que promovem em nosso cérebro e por serem "fininhas": ninguém pode ter preguiça de lê-las! Não há ordem recomendada e ele tem outros livros muito bons, mas comece por A Sociedade do Cansaço e por A Sociedade da Transparência. Este ano conheci pessoalmente e pude dividir o palco com Gilles Lipovetsky, criador do termo hipermodernidade. Seus livros sobre moda são ótimos, entretanto fiquemos com o último traduzido para o português (Da Leveza: Para Uma Civilização do Ligeiro). Aqui, há uma análise precisa da arte, da cidadania (passando pela lógica da Netflix), para pensarmos nosso mundo e seu feitio hiperconsumista.

No campo da ficção, vamos a um clássico: Quarto de Despejo, escrito por Carolina Maria de Jesus, em 1960. A mineira radicada em São Paulo teve pouquíssimo estudo formal, mas manteve um diário descoberto por um jornalista e publicado na sequência. O cotidiano das favelas paulistas pela visão arguta, crítica, dolorosa e angustiante da autora. Tudo de forma objetiva, em linhas retas e linguagem informal. Uma origem similar a Geovani Martins, a grande descoberta do ano para quem gosta de contos. Nascido na periferia do Rio, formado em oficinas literárias, e já traduzido em nove idiomas, o carioca criou o ótimo O Sol na Cabeça, arrebatando vários prêmios literários.

Bráulio Bessa é um jovem e popular poeta cearense, inspirado pelo cordel e Patativa do Assaré. Tem gente que não gosta porque ele é pop. Eu o li justamente porque ele, em um campo quase abandonado da literatura, vende como pão quente e com ingredientes de qualidade. Seus temas são cotidianos e fazem pensar. Para quem não tem o hábito de ler poemas, funciona como porta de entrada.

Ainda difícil de encontrar, pois não foi publicado por grande editora, está a surpresa do prêmio Jabuti deste ano: outro cearense, Mailson Furtado, que escreveu o longo poema À Cidade, em 2015, fazendo também suas ilustrações e diagramação. O Brasil é um país de bravos e escassos leitores e autores.

Por fim, minha homenagem a Zygmunt Bauman, um dos pensadores com quem mais dialoguei nos últimos anos. Leia seu Retrotopia, escrito pouco antes de sua morte em janeiro de 2017. Um exame lúcido da cisão, do vasto oceano que existe entre o poder e a política em nossos tempos líquidos.

Revisitar clássicos (Diário de Anne Frank ou contos de Clarice Lispector) é sempre um prazer infalível. Em época de crise de livrarias, ler é quase um gesto de resistência. Um livro pode ser bem mais barato do que uma camiseta. É preciso ter esperança.

LEANDRO KARNAL, HISTORIADOR, PROFESSOR DA UNICAMP, AUTOR DE, ENTRE OUTROS, "TODOS CONTRA TODOS: O ÓDIO NOSSO DE CADA DIA".

05 DE JANEIRO DE 2019
COM A PALAVRA


"Astrologia é uma ferramenta que pode ajudar a pessoa a se conhecer melhor"

João Bidu - astrólogo, 71 anos O mais famoso "horoscopista" do Brasil fala sobre seu ofício e, é claro, sobre o que esperar de 2019.

Um dos astrólogos mais conhecidos do Brasil, o paulista João Carlos de Almeida, o João Bidu, habita há décadas os mostruários de produtos nos caixas de supermercados e as bancas com revistas que estampam seu nome e sua foto. Apesar da crise do mercado editorial, a "grife" João Bidu ainda é muito presente, indissociável das publicações populares que oferecem previsões para o amor, o trabalho e a saúde. 

Antes um produto para o público feminino, hoje o horóscopo é buscado também pelos homens, constata o autor. Neste início de 2019, aproveitando o mês que ainda concentra resoluções para o novo ano, ZH conversou com o simpático "horoscopista" - como Bidu era chamado no início da carreira - sobre sua trajetória, a crença de leitores nos desígnios revelados pelos astros e a sua relação pessoal com as mensagens enviadas pelos satélites e planetas.

SUA APROXIMAÇÃO COM A ASTROLOGIA COMEÇOU NO RÁDIO. COMO FOI?

Aos dois anos e meio, tive poliomielite. Não podia brincar com a molecada nas peladas lá na vila onde a gente morava. Embora com limitações, tive uma infância bastante divertida, alegre, caçava passarinho... Hoje nem passa pela nossa cabeça caçar passarinho! Onde já se viu? Brincava com a molecada para lá e para cá, mas na hora de jogar futebol não dava, não tinha condições de correr como eles. Aí resolvi ficar na beira do campo, como se transmitisse o jogo. As pessoas me incentivavam. 

A partir dos 15 anos, comecei a trabalhar em uma rádio em Bauru (SP) fazendo comentários sobre futebol varzeano. A carreira evoluiu, tive a oportunidade de começar a transmitir. Minha paixão sempre foi ser locutor esportivo. Aí fui para a Auriverde, onde estava feliz da vida, era uma rádio de boa audiência, reunia os grande profissionais da área em Bauru. Então o sócio-diretor da emissora resolveu criar o João Bidu, pegando o João do meu nome e o Bidu de uma gíria que já tinha passado, que significava "adivinhão", "claro", "lógico". 

Achei que não daria certo porque não tinha intimidade com astrologia. Ele me tranquilizou dizendo que eu seria apenas o apresentador de um programa astrológico, em que o astro principal era o Omar Cardoso, naquela época o maior astrólogo do Brasil. O João Carlos de Almeida narrava futebol, e o João Bidu falava de astrologia. Eu fazia uma voz um pouco diferente, enganava o povo, né (risos)?

E QUANDO O SENHOR COMEÇOU A FAZER SEU PRÓPRIO HORÓSCOPO?

Me empolguei, fui atrás de livros, peguei os anuários do Omar Cardoso, descobri rapidinho o esquema de casas astrais, os signos que combinam, os signos que não combinam, e, com outros livros, aprimorei meus conhecimentos. Em 1974, o Omar foi contratado pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo, que tinha uma rádio em Bauru. Virei o horoscopista. Me deram o nome de Professor João Bidu. João Bidu era um nome muito popularesco e talvez não passasse credibilidade. E assim foi. Deu certo. Fizemos sucesso, a audiência continuou boa também. Com a morte do Omar Cardoso, as emissoras ficaram órfãs de um astrólogo. Naquele tempo, todas as grandes emissoras tinham o horóscopo na parte da manhã. Comecei a fazer programas para várias emissoras do Brasil.

O QUE A ASTROLOGIA PODE PREVER?

É uma ferramenta que sempre pode ajudar a pessoa a se conhecer melhor em termos de personalidade, principalmente quando você levanta o mapa astral, trabalhando com mais elementos, não só o signo solar que todo mundo conhece, mas com o signo ascendente, que está ascendendo no horizonte, no lado em que o sol nasce, e a distribuição dos planetas. Os planetas são muito importantes. 

Às vezes, a pessoa é do signo de Áries, mas tem uma influência grande de planetas no signo do ar, então ela vai ter características arianas, evidentemente, mas vai ter também uma forte influência dos signos do ar, que são Gêmeos, Libra e Aquário, que têm muita criatividade, poder de adaptação, facilidade de relacionamento, inteligência. Mas o público vê a astrologia, no fundo, como um guia para desvendar o futuro, para saber o amanhã. Todos valorizam essa parte da personalidade, que bate mesmo, mas, na verdade, a grande procura é pelo horóscopo, aquilo que pode acontecer amanhã, no ano ou no mês.

CERTAMENTE MUITAS PESSOAS CONDICIONAM SUAS AÇÕES AO QUE LEEM. QUE ALERTA O SENHOR DARIA A ELAS?

Tem gente que precisa daquela mensagem astrológica como se fosse uma muleta, um apoio. Normalmente, quem procura astrologia é a pessoa que está sem amor. Tanto que a astrologia, nas revistas, era um produto muito mais voltado para as meninas que tinham aquele sonho de encontrar o príncipe encantado. A partir do momento em que elas se casavam, deixavam as revistas de horóscopos porque já tinham realizado o sonho. Hoje as coisas mudaram.

COMO SE DEVE LER UM HORÓSCOPO?

O que está ali é uma dica, porque é muito genérico. Quando você está analisando o signo de Áries, e Júpiter está em Sagitário, Júpiter está então na nona casa astral de Áries. Provavelmente, as possibilidades são de que você tenha surpresas ou contatos com pessoas de longe, estrangeiras, assuntos relacionados a importação e exportação, uma influência muito grande da religião em sua vida, senso de justiça ou alguma coisa relacionada ao lado judicial. Evidentemente que isso é muito genérico e não vai acontecer com todo mundo, mas acredito que deve acontecer com muita gente. Falo que "deve" porque nunca fizemos uma pesquisa para saber. Caso contrário, há muito tempo a astrologia já teria sido banida, varrida para baixo do tapete.

ISSO SEMPRE ME INTRIGOU: COMO ACREDITAR QUE SEJA POSSÍVEL QUE UMA MESMA PREVISÃO DE HORÓSCOPO SE APLIQUE À VIDA DE MILHÕES E MILHÕES DE PESSOAS QUE O LEEM NUM MESMO DIA?

Não se aplica. A gente faz uma previsão genérica para todo mundo. Todo mundo lê. Vai acontecer com uns, não vai acontecer com outros. Tem uns que leem com fanatismo, como se fosse religião, tem gente que só dá uma passadinha e não se impressiona muito. Mas não tem como uma previsão que sai no jornal, na revista ou na televisão acontecer para todos. É uma dica, uma mensagem para tentar ajudar. Acredito que, quando consigo dar uma ajudinha para uma pessoa que vai tomar uma decisão, o trabalho já está valendo a pena. Está gratificado.

O SENHOR E EU SOMOS ESCORPIANOS. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DESSE NOSSO SIGNO DE TANTA MÁ FAMA?

Você é minha irmã astral. Realmente, Escorpião tem fama de ser violento, agressivo. É governado por Plutão, mas era governado por Marte. Depois foi descoberto Plutão, e hoje se descobriu que Plutão nem planeta é... Na verdade, Escorpião tem muita coisa de Áries, é realmente uma pessoa agressiva, impetuosa, precipitada, que nem sempre pensa para fazer as coisas, se entusiasma à primeira vista, pela primeira impressão. Mas é também uma pessoa muito emotiva, de coração generoso e que tem uma capacidade de transformar muito grande, de regeneração. Escorpião está ligado à oitava casa astral, aquela que tem relação com reorganização, reciclar, pegar alguma coisa e dar um visual diferente, transformá-la em algo mais atraente e, com isso, fazer sucesso. Me considero uma pessoa muito precipitada.

O SENHOR FAZ PREVISÕES PARA SI MESMO?

Faço. Quando vou realizar algo importante, sempre dou uma olhada, mas nunca deixo de fazer as coisas, mesmo quando a influência está negativa, só que aí tenho que redobrar a atenção. Não gosto de fazer as coisas no meu inferno astral, que são os 30 dias que antecedem o aniversário. Meu aniversário é 8 de novembro, então, de 8 de outubro a 8 de novembro, sempre tento evitar fazer as coisas. Mas ano passado tive um assunto muito importante, não tive como fugir, e graças a Deus deu certo. O inferno astral é um período perigoso, exige atenção especial, a pessoa pode estar desmotivada, um pouco deprimida, mas os 30 dias de inferno astral costumam trazer também surpresas muito positivas.

PELO QUE VEJO, AS PESSOAS ACREDITAM MUITO EM INFERNO ASTRAL, NÉ?

Bastante. Acreditam muito mais no inferno astral do que no paraíso astral. O paraíso astral é o quinto signo contando com o nosso. Por exemplo, para você que é de Escorpião: Escorpião (1), Sagitário (2), Capricórnio (3), Aquário (4), Peixes (5). Peixes é o seu paraíso astral. Teoricamente, há mais alegrias, prazer, vitórias e sorte no paraíso astral. Não sei por quê, mas as coisas ruins acontecem com mais facilidade. Pela minha experiência, já vi que muita coisa que está prevista no inferno astral acontece. E muita coisa que está relacionada ao paraíso astral acaba não acontecendo.

SEU SITE TEU UMA SEÇÃO CHAMADA PERGUNTE AO JOÃO BIDU. QUE TIPOS DE HISTÓRIAS APARECEM ALI?

Comecei a falar de sexo no rádio e lembro bem que tive que parar porque um dia um amigo meu falou: "Pô, João, você me deixou constrangido. Estava levando minha menina para o colégio e você falando de sexo". Pensei, vou tirar essa seção do ar. Eu já tinha virado um conselheiro sentimental, e de repente também me vi na condição de conselheiro sexual. Mas aí o dono da rádio me perguntou por que eu parei de falar de sexo. Expliquei. 

"Não, pelo amor de Deus, João, esse povão não tem informação! Você dava dicas importantes." Aí avisávamos, "daqui a cinco minutos vamos apresentar a seção sobre sexo", e a pessoa que estava ouvindo poderia trocar para não ficar constrangida. No "Pergunte ao João Bidu" aparece tudo o que você imaginar: a mulher que descobriu que o marido era gay, a mulher que gosta de um e está saindo com outro, a mulher que descobriu que o marido tem uma amante mas ela gosta dele e não sabe o que fazer - este caso é até recente.

O QUE O SENHOR RECOMENDOU NESSE ÚLTIMO CASO?

Se o homem teve esse caso foi porque, evidentemente, pintou uma grande atração. Então está faltando alguma coisa na relação dela. Se ela acha que pode recuperar e, principalmente, perdoar, o que é muito difícil, para não viver sempre com aquele fantasma na cabeça, então vale a pena tentar novamente. Na hora de responder, nunca gosto de decidir pela pessoa. Gosto de deixar para que ela tome a decisão. Dou uma opinião. Só que sei que é perigoso. 

Ela vê a minha resposta e, às vezes, quer fazer exatamente do jeito que estou falando, porque acha que eu sei tudo, que estou trabalhando com os astros e sei o que é melhor para ela. Às vezes, ela não consegue separar uma coisa da outra. Trabalho com público de diversas classes sociais, muitas são pessoas com pouquíssima informação.

VOCÊ TAMBÉM ANALISA SONHOS. QUAIS OS MAIS COMUNS?

Sonho com morte, que na verdade não significa a morte física, mas muito mais a ruptura de alguma coisa, de uma amizade, de um pensamento. Sonhar com cobra... A cobra é muito interpretada como traição, mas acho que é uma interpretação errônea dos antigos. A cobra não é um animal traidor, ela só reage quando se sente acuada, assustada. Antigamente, a cobra também era sinal de saúde. Conforme a cor da cobra, tem um significado. Sonho com sangue significa que algo de extraordinário vai acontecer em sua vida, modificando-a para melhor. As pessoas têm muito medo de ver sangue, mas o sangue também é vida. Sonho com traição também tem bastante. 

"Será que ele está me traindo realmente?" Sempre falo que o sonho tem várias funções. Muitas coisas que acontecem nos sonhos refletem nossos medos e nossos desejos. Se a gente tem medo de alguma coisa, é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe sonhando com aquilo. Ao mesmo tempo, quando a gente deseja muito uma coisa e não a consegue na vida real, muitas vezes a gente acaba sonhando com aquilo, realizando a fantasia no sonho. Segundo os estudiosos, isso serve para dar paz para nossa alma, para a gente aguentar as batalhas do dia a dia.

QUAIS AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ASTROLÓGICAS DE 2019? O QUE SE PODE DIZER DESTE ANO?

É um ano de Marte. Ano de Marte normalmente é um ano de guerra, de competição, de muita luta. Marte é o planeta mais guerreiro, tem força, uma força às vezes até descomunal. As pessoas podem usar muito a força, e nisso daí podem se machucar e se dar mal. Então recomenda-se ter certa prudência, moderação em 2019. Usar a vitalidade, sim, usar a força física e mental, sim, mas com moderação, para não criar problemas em vez de encontrar soluções. Isso serve para todos os signos de modo geral, só que para cada signo depende da casa astral em que Marte está. 

Para você, de Escorpião, Marte representa a sexta casa astral, que tem relação direta com saúde e trabalho. Esses dois setores estarão protegidos e iluminados e podem lhe trazer muitas alegrias, mas vai depender muito da força que você imprimir, da impetuosidade, do jeito que você se dedicar a isso. Até porque tem aquele velho ditado: quem vai com muita sede ao pote acaba se afogando. É um ditado que serve muito para o ano de 2019. Tem que saber usar a força, é uma energia poderosa, mas às vezes ela constrói e às vezes ela destrói.

DO AMOR, PARA O MEU ANO, VOCÊ NÃO FALOU... NÃO ESTÁ EM ALTA, PELO JEITO.

Marte é o planeta do sexo, da paixão, muita paixão, mas que não significa casamento, relação forte e duradoura. Paixões devem explodir muito, não só para você, de Escorpião, mas para todas as pessoas de um modo geral. Marte tem relação direta com a paixão, enquanto Vênus, que é o planeta do amor, fala mais da parceria, de um relacionamento mais sério que pode se transformar em casamento.

TENHO QUE ME CUIDAR, ENTÃO (RISOS).

Sem dúvida alguma, porque pode ir com muita sede ao pote. E, geralmente, no amor, na paixão, quando a gente fecha os olhos e vai com tudo, aí é que a gente leva algumas boladas nas costas. Tomara que não aconteça nem com você, nem comigo (risos).

DEPENDENDO DO QUE ACONTECER, ENTÃO, VOU PEDIR UMA ORIENTAÇÃO PARA O SENHOR: PARA O BRASIL, O QUE SE PODE ANTECIPAR DESTE 2019?

O Brasil é do signo de Virgem (por conta da data de sua Independência, em 7 de setembro), e Virgem não está em um ano astral dos melhores, não. Marte representa a oitava casa astral, que é transformação, regeneração, essa parte é muito boa, oportunidade de transformar muita coisa, mas, ao mesmo tempo, pode haver também de perdas financeiras, principalmente em assuntos ligados a empréstimos, aposentadorias, consórcios, heranças, legados. 

Alguma coisa nesse sentido pode acabar tumultuando a vida do país. Júpiter está transitando em Sagitário, e, sempre que um planeta transita pelo signo que rege, sua influência é muito maior. Júpiter governa a nona casa astral, que é o mundo exterior, o internacional, então é bem provável que o mundo passe a olhar o Brasil de maneira diferente e que o Brasil consiga também atrair muitos investimentos estrangeiros. Isso vai ajudar a economia.

O SENHOR TEM 71 ANOS DE IDADE E 46 DE CARREIRA. GERAÇÕES ACOMPANHARAM O SEU TRABALHO. PENSA EM PARAR?

Não, não penso. Enquanto Deus me der saúde... Tenho 71 anos, mas não lembro que tenho 71 anos (risos). Para mim, é como se eu tivesse 50. Tem certas coisas que, evidentemente, não são a mesma coisa, mas como não lembro que tenho 71 e convivo com muita gente jovem, acho que isso me fortalece, me rejuvenesce para eu continuar trabalhando.

AS PREVISÕES PARA JOÃO BIDU, ENTÃO, SÃO BOAS, FAVORÁVEIS?

São favoráveis. Pelo menos o entusiasmo continua o mesmo de quando comecei.

LARISSA ROSO