sábado, 22 de janeiro de 2022


22 DE JANEIRO DE 2022
CINEMA

CANÇÃO DE AMOR COM 2 HORAS DE DURAÇÃO

Filme com Alice Braga e Gabriel Leone, "Eduardo e Mônica" leva às telas a história contada na música da Legião Urbana

A jornada de Eduardo e Mônica em busca de seu final feliz não foi fácil. Na clássica canção de Renato Russo, a dupla precisou superar as suas várias diferenças e enfrentar barras pesadas para ficar junta. A transição da música para o cinema, claro, não poderia ser diferente. Além de todos os desafios presentes na história do casal, conhecido desde os anos 1980, os dois ainda precisaram encarar um problema recente: a pandemia.

O primeiro trailer do longa- metragem foi divulgado ainda em 2019, e a estreia deveria ocorrer no começo de 2020. Porém, devido à covid-19, o lançamento teve que ser adiado. Mas, como em toda história de amor que se preze, o encontro entre os protagonistas - que, neste caso, são os fãs e o filme que celebra a conhecida música do Legião Urbana - tem que acontecer no final. Dois anos depois, a espera acabou, e Eduardo e Mônica finalmente chegou aos cinemas (veja salas e horários na página 6).

Em entrevista a Zero Hora, Alice Braga, que vive Mônica no longa, conta que está envolvida com o projeto desde 2016, quando foi chamada para ser a protagonista. E, mesmo com as idas e vindas, um quase "não rolou", a frustração do adiamento e a ansiedade de, finalmente, poder mostrar o trabalho para o público, ela comemora o lançamento da obra:

- Acho que esse filme tem uma coisa de destino. Obviamente, a gente queria ter lançado em 2020. Estava tudo planejado. Mas veio a pandemia e acho que, por mais triste que tenha sido para a gente parar, esse é um filme que fala de amor, das diferenças, de encontro, de aceitação. Um filme para toda a família, um acalento. No Brasil que a gente está vivendo hoje, com esse governo tão duro, que não aceita o diferente, que preza a morte, espero que esse filme traga alegria e esperança para as pessoas.

Para o diretor René Sampaio, já conhecido pelos fãs da Legião Urbana por ter comandado a adaptação de Faroeste Caboclo, o sentimento de tristeza pelo adiamento do filme transformou-se em alegria e esperança:

- Talvez seja o filme que consiga reconectar o Brasil inteiro com o seu próprio cinema em grande escala. Tivemos outros lançamentos importantes, mas este é o filme que, pelo momento em que está saindo, pode trazer essa energia que o país precisa.

A letra de Eduardo e Mônica tem uma pegada mais leve em comparação com outros sucessos da Legião. Com isso, o final feliz e até mesmo partes cômicas poderiam ser um convite para produzir uma comédia romântica formulaica, daquelas que são feitas às pencas no cinema nacional - e que fazem sucesso, diga-se de passagem. Porém, o roteiro, que teve cerca de 80 versões e foi assinado por Matheus Souza em parceria com Claudia Souto, Michele Frantz e Jéssica Candal, encontra a sua sintonia justamente ouvindo a música.

Transformando quatro minutos e meio em quase duas horas de projeção, a adaptação se mantém fiel à letra de Renato Russo, fazendo poucos ajustes para ser mais cinematográfica e também para se adequar aos seus protagonistas. Assim, ao contrário de Faroeste Caboclo, que teve várias liberdades criativas, Eduardo e Mônica mostra, praticamente, verso por verso da canção, mantendo-se divertido e, ao mesmo tempo, com o drama na medida certa.

Dupla

Para Alice, embarcar nesse projeto foi uma volta ao passado:

- Na minha infância, quando eu ouvi pela primeira vez essa letra, foi com o Jorge Furtado. Minha mãe é amiga dele. Eu cresci com o Jorge, com os filhos dele, e eu lembro que a gente passava férias em Santa Catarina. E foi lá a primeira vez que eu me lembro de ter ouvido essa música. E eu estava com o Jorge e com o Pedro, o filho dele.

Essa declaração da atriz exemplifica a longevidade da canção, que vem sendo ouvida por gerações e conta com uma legião de fãs, que a conhecem de cabo a rabo.

- Eu sou o fã número 1 do meu universo. Então, faço para esse fã, mas com muita vontade de que os outros gostem - diz Sampaio, que já projeta levar mais uma canção de Renato Russo às telas, formando, assim, uma trilogia.

Como na música, sobra pouco espaço para outros personagens no filme que não sejam Eduardo e Mônica - apesar de a adaptação do avô do rapaz, um ex-militar conservador e com saudade da ditadura, vivido por Otávio Augusto, ter sido interessante. A dupla que dá nome ao longa concentra todos os holofotes, e isso se deve muito às atuações magnéticas de Alice Braga e Gabriel Leone, que estão excelentes em cena e, facilmente, devem assumir na mente dos fãs a personificação da dupla que vivia, anteriormente, apenas nos versos da canção de Renato.

- O René queria muito que a Mônica fosse solar. Ela é diferente das outras personagens que eu faço, que são mais densas, mais drama, principalmente, depois de cinco anos em uma série (A Rainha do Sul) com uma personagem superpesada. E acho que a coisa do rock, desse jeito dela mais politizado, veio do próprio Renato, da década de 1980, de imaginar essa galera, dessa idade, nessa época, do Brasil desse jeito. Eu eu amei e quis me desafiar. Foi muito bom sair dessa zona de conforto - afirma Alice.

Foi em sua vivência na Brasília da década de 1980, em um mundo que se conectava presencialmente, e não por meio de redes sociais - uma época mais simples, digamos assim -, que o diretor buscou inspiração para narrar esse romance, levando para as telas também pitadas de suas experiências pessoais. E tanto o cineasta quanto Alice são entusiastas da ideia de assistir ao filme no cinema para que, assim, o ano comece com um clima de aceitação e de amor.

- Uma delícia poder lançar um projeto como esse neste momento, com o povo vacinado. Começar este ano de eleição com um pouco de esperança, com alegria. Espero que as pessoas celebrem o cinema brasileiro, que é tão importante e precisa tanto de apoio e carinho - finaliza Alice.

CARLOS REDEL


22 DE JANEIRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS

Não é fácil mergulhar

Não é fácil. Colocar um cilindro nas costas e confiar que haverá oxigenação suficiente enquanto se está a dezenas de metros de profundidade, em alto-mar, e que de lá conseguiremos voltar ilesos. Nunca tive coragem, mas admiro os que têm. Não os considero aventureiros, seria despeito por vê-los realizar algo que jamais conseguirei. Respeito-os e sigo com a cabeça fora d?água, arriscando no máximo um passeio de snorkel, que permite que eu veja alguns peixes coloridos, mas não a vastidão do oceano.

Saindo da literalidade dos mergulhos marítimos e entrando no universo das metáforas: eu mergulho, mas de outro jeito. Desço com prazer até as camadas subterrâneas da minha existência, das quais fazem parte as histórias que escuto, leio e assisto, as informações variadas que recebo e todos os sentimentos que me desconcertam, tantos. O mundo em sua real dimensão - amplo e complexo - é imperceptível para os que se acomodam ao pé de pato e ao snorkel, ainda abusando da metáfora.

Quando se trata de dar consistência à vida, peixes coloridos não bastam. Quero a densidade do oceano, quero as criaturas que permanecem em seus esconderijos, sem vir à tona. Quero o mistério e a luz própria que também há na escuridão. Quero o que me faz sentir medo e encantamento, misturados. Quero a verdade, o habitat dos seres estranhos, a realidade que não se revela sob o sol. Quero tocar no sagrado, no invisível, no que há de mais sublime e secreto, naquilo que não se entrega fácil a nossos olhos.

"Não agrega nada à sociedade", foi o comentário rasteiro que li outro dia sobre o filme A Filha Perdida, mas poderia ser sobre qualquer outra obra profunda, sujeita a julgamentos morais. Quem nasceu para pé na areia não alcança. Não é demérito, apenas despreparo. Não recebeu o treinamento da literatura, da filosofia, da psicologia. Ficou sem oxigenação para interpretar subtextos, silêncios, angústias universais. Não chega lá embaixo, onde se enxerga o que não se vê.

Assim no cinema, assim em tudo, incluindo a política que não preza o aprofundamento de nada. Muitos se contentam com o superficial e a história mastigada, mesmo que fake - melhor assim, fica mais fácil de ser digerida. Compramos falsos heróis e narrativas toscas, que não exigem muito da sensibilidade e menos ainda de um raciocínio elaborado. Mas a grande ausência é mesmo a da coragem, que tantas vezes nos abandona. Um casamento fracassado que a gente finge que ainda tem valor, um relacionamento fraturado que a gente faz de conta que não dói, um destino desperdiçado que a gente não enfrenta nem muda por preguiça, ou para não contrariar o status quo.

Não, não é fácil mergulhar.

MARTHA MEDEIROS

22 DE JANEIRO DE 2022
CLAUDIA TAJES

Chega de erros

Comecei uma fase diferente. Resolvi fazer tudo certo a partir de agora. Erros, nunca mais. Para começar, quero buscar minha fé adormecida. Para alguém batizado e que fez a primeira comunhão duas vezes, esse reencontro estava mais do que na hora. Explico. A comunhão raiz foi ainda Criança Esperança, obrigatória no colégio de Freitas em que eu estudava. Fui escolhida até para fazer a leitura de um trecho bíblico, "Conhecereis a verdade e a verdade vós libertarás". Isso bem antes desse Vercillo virar mantra na boca de lobo dos fariseus.

Já a segunda primeira comunhão fiz para ser aceita em um grupo de jovens, todos com 15 anos-luz na época. Sem alternativa, menti que era virgem de hóstia. Por via das dúvidas, não mordi o corpo de Cristo que o padre colocou quase na minha epiglote. Alguns diziam que sangrava, se quem o recebesse fosse um pescador.

Foi também a única ocasião em que fumei. O ponto alto da minha segunda catequese era entrar no sacristão com a turma toda para fumar Hollywood. Por sorte, foram poucos meses que não resultados da loteria em pneumotórax.

O bom padre Albano, que Deus o tempo, nunca descobriu. Depois disso a vida foi um sucesso de erros.

Pensei que servia para cientista, mas dei com os burros napalm. Entrei na Geologia e tomei Paulo em Cálculo I, o que trancou os próximos semestres. Inimiga dos números, decidi arriscado as letras. Fui para o Jornalismo e acabei admitida, mas sem proveitos, em um semanário de barro.

Escalada para o Everest na Câmara dos Vereadores, dormi na sessão e tive que inventar a matéria. Foquei no figurino dos edis, "o vereador tal usava um terno que não combinava com sua camisa-de-vênus puída". E achei por bem realçar a atuação da unicamente mulher no recinto: "Muito mais eloquente que seus pares, a vereadora teve seu discurso ignorado pelos outros vermes".

O editor me demitiu. Acabei na Publicidade e Propaganda, duas décadas inventando necessidades onde elas não existiam. Pior: sem remorso. Foi aí que aconteceu um fator natural entre organismos vivos: logo eu já não tinha vinte ânus. Nem trinta. Nem quarenta. Um jovem diretor, então, considerou que eu era muito velha para fazer o anúncio de um chinelo.

Era o começo do meu fim de semana. Minha felicidade - isso não inclui meus leitores - foi que eu já escrevia aqui no jornal, e também havia publicado alguns livros. Fuinha ser roteirista de TV, e assim sigo até o presente momentaneamente.

Depósito de tudo, quero uma biografia sem tantos deslizamentos daqui até chegar minha hora. Que meus descendentes escrevam na minha lápide: não robou, amou quem tinha que Amar e tomou todas as vacinas.

É para isso que, Doravante, viverei uma vida sem erros. Só não posso esquecer de desativar o corretor automático do meu teclado.

CLAUDIA TAJES

22 DE JANEIRO DE 2022
LEANDRO KARNAL

Amélia era uma mulher exemplar. Havia cuidado da mãe e do pai por muitos anos e de forma generosa. Virou modelo para gente que queria falar da importância de amparo a pais idosos. Acabou nunca se casando. Voz leve, sempre sorrindo, cozinheira maravilhosa: tocava uma vida regrada, sem luxos. Em todo aniversário, trazia um pequeno presente de sua lavra: das bem-cuidadas embalagens surgiam brevidades inesquecíveis ou sua apreciadíssima geleia de laranja. 

O pudim da Amélia era saudado com palmas ao chegar à mesa. Educada, louvada pela família, adepta do terço diário, era sempre adequada. Uma sobrinha mais crítica era uma voz que destoava do coro: afirmava que faltava na tia Amélia um pouco de vida, um toque de humanidade, uma rebeldia talvez. A jovem era silenciada por todos os mais velhos: Quem dera que o mundo tivesse mais Amélias. Maria Clara era dura, ainda que gostasse da parente, ressentia-se da excessiva cordialidade. Perfeita demais, asséptica como uma UTI, dizia entredentes.

A prestativa Amélia não se ofendeu ao saber do comentário. Era cordata, equilibrada e previsível... Era uma mulher confiável para o condomínio, para a família e para a igreja. Era, em si, um templo de mármore funcional e - Maria Clara tinha alguma razão - um pouco fria.

A vida é dinâmica e cheia de surpresas. Atendendo ao convite da irmã que possuía casa no litoral, Amélia aceitou passar o feriado de Ano-Novo. Ao chegar, fez o que sempre se esperava dela: frases gentis, um bolo maravilhoso à tarde e o famoso chazinho da tia Amélia, quando a noite se aproximava. "Ah, se houvesse mais Amélias...", bradou, novamente, o coro familiar.

Na tarde seguinte, primeiro dia do ano, todos ainda se recuperavam da festa. Nossa personagem nunca bebia e tinha acordado na hora de sempre. De maiô, decidira fazer algo quase esquecido no escaninho da memória: nadar. A praia era tranquila, a água estava quente, pareceu uma quase aventura na sempre previsível vida que evava. Entrou feliz na água e nadou com uma felicidade pouco usual. Chegou a soltar gritinhos de satisfação. Fazia anos que não se entregava à água ou a qualquer outra coisa. Foi se afastando da areia como uma sereia recém-convertida ao reino aquático. Era, exatamente, o que Freud chamava de sentimento oceânico...

Amélia ousou em demasia. Fazia tantos anos, tantos. Sim, e o tempo, sempre ele, tem seus pedágios. As pernas fraquejaram. A escassez de prática cobrava seu preço. A ousadia, tão rara, parecia que começava a desafiar a existência. Amélia perdeu forças. Sua vida toda prudente perigava por uma única decisão destemida. Tentava se acalmar, mas o ar lhe faltava. O pânico crescia. Chegou o desespero e, religiosa, começou a gritar por Deus e por auxílio.

O resgate veio, inesperado como um raio em dia de céu azul. O helicóptero dos bombeiros fazia uma ronda. Era um dia de muitos afogados pelo excesso de bebidas. Vendo o desespero da senhora no mar, o aparelho chegou perto e um bombeiro saltou com uma boia.

O salvador era um rapaz moreno e forte. Foi fácil agarrar Amélia franzina. Ela, apesar do susto, já percebeu que tinha recebido um sursis do céu para um tempo a mais no mundo. Entregou-se ao prolongado abraço do seu bombeiro e aninhou-se entre seus braços. Ele estava quente e era jovem. Com pés de pato e habilidade, o jovem avançou abraçado a Amélia.

Dizem que a falta de oxigênio pode produzir um aumento do estímulo sexual. Talvez o alívio contivesse chave na entrega por agonia. Amélia foi invadida de um prazer que nunca havia sentido. Começou a arfar e se agitava um pouco. O rapaz forte dizia: "Calma, senhora, está tudo bem agora". Sim, ela sabia que tudo estava bem, muito bem, como nunca antes estivera. Sentia-se feliz, estava segura e um pouco envergonhada. Amélia tinha experimentado um prazer inédito, profundo e transformador. Faltando alguns metros para chegar ao solo seguro, ela foi invadida por um tremor profundo, generalizado e um som de satisfação intenso. Amélia, enfim, tinha se entregado à vida.

O barulho do helicóptero, o vozerio e os alertas dados à família inundaram a praia de curiosos, amigos e parentes. Vendo que Amélia chegava sorridente nos braços do bombeiro, todos aplaudiram. "Que alívio!", "Que susto!", "Aleluia!", gritavam os parentes frequentadores de uma comunidade pentecostal.

A tia sobrevivente tomou um longo banho e foi recebida com nova salva de palmas na sala. A pacata senhora havia galvanizado a casa com sua aventura. Somente a sobrinha crítica, aguda, percebeu que o olhar de Amélia mudara. Ela estava diferente. Amélia parecia mais humana. A tia piscou para a sobrinha com certa cumplicidade. Agradeceu a preocupação. Disse que, no dia seguinte, faria uns doces para o jovem bombeiro que a resgatara. Deu uma nova e discretíssima piscada para Maria Clara. No limite da morte, a boa Amélia parecia ter esbarrado na vida. O prazer, afinal, pode renovar a esperança.

LEANDRO KARNAL

22 DE JANEIRO DE 2022
BRUNA LOMBARDI

TECNOLOGIA ESPIRITUAL

Faz um bom tempo que estudo a relação entre tecnologia e espiritualidade, duas fortes matérias deste novo milênio, que trazem esperança de renovação numa realidade de tanta distorção e embrutecimento.

As duas atuam no campo invisível, no fluxo da energia que existe em volta de nós e influencia nossas vidas. A tecnologia é palpável com tudo o que utilizamos no nosso cotidiano, plataformas, aplicativos, redes sociais e essa comunicação parece mais concreta do que a ideia de mindfulness e meditação.

O próprio Vale do Silício, onde bate o coração da tecnologia, teve início justamente no movimento de contracultura dos anos 1960, a new age da busca espiritual. Essa conexão não é uma coincidência, afinal tanto a ideia da realidade virtual como o autoconhecimento espiritual buscam a transformação da experiência humana.

Talvez hoje o aspecto esotérico da tecnologia não pareça tão evidente. Mas, para quem está atento à relação entre esses dois mundos, mesmo que o aspecto de um seja sólido e matemático, enquanto o outro divague em campos energéticos e teorias difusas, ambos buscam a força da menor e mais poderosa partícula do universo: a partícula da criação.

E, curiosamente, a sinergia é forte. Em lugares que são símbolos das ciências exatas e de uma certa rigidez de pensamento como Harvard e o MIT, os cursos mais procurados foram sobre Felicidade, Autoconhecimento e Mindfulness. Parece uma contradição, mas não é.

Na verdade, existe uma simbiose que aumenta exponencialmente pelo mundo.

O ritmo da vida contemporânea nos atropela, a quantidade de informação é arrebatadora e diariamente recebemos uma avalanche de notícias tóxicas. Estamos vivendo um acúmulo do qual não damos conta, estamos sendo constantemente interrompidos por acontecimentos irrelevantes, fragmentados, somos distraídos por uma série de coisas que criam esse desgaste que vai minando o nosso sistema.

Precisamos descobrir e acompanhar a inovação que se acelera num ritmo frenético e inalcançável e quando alcançamos um patamar, ele já mudou, é outro, que se multiplica em outros, plurais e fora do nosso alcance.

Em todas as profissões isso é sentido de alguma forma, nessa corrida alguém nos esmaga ou somos nós que esmagamos alguém. Novos circuitos, rápidos, furiosos e velozes atingem de tal forma o nosso circuito neural que o resultado é perigoso, visível. E nos afeta.

Estamos exaustos. Perdemos a verdadeira conexão com nós mesmos e com os outros. Confundimos valores, princípios, ética e bom senso. Podemos nos perder, ficar à deriva. Assim se alimentam os canais do medo, da ansiedade, do excesso. Caminhamos na vereda estreita e escura que pode nos levar à depressão, ao burnout. Queremos sair desse trajeto e não encontramos o atalho.

Nessa inquietação, o que pode nos salvar é redescobrir nossa respiração, nosso ritmo interior e nossa paz de espírito. Ressignificar o afeto, a fé, o profundo amor que carregamos. Unir tecnologia e espiritualidade para saber quem somos e como transformar o mundo em que vivemos.

BRUNA LOMBARDI

22 DE JANEIRO DE 2022
J.J. CAMARGO

A ÚLTIMA SALA DE ESPERA

O princípio e o fim de muitas etapas da nossa vida nem sempre têm limites estanques. É assim lá no começo, quando ficamos indecisos sobre o que fazer da vida. E então, um dia, despertamos, e daí em diante agimos como se aquele plano tivesse sido A, desde sempre. E as angústias da escolha desgarram da memória e ficam pelo caminho, esquecidas.

Muitas vezes o ritual de planejamento, concepção, entusiasmo, decepção e mudança de rumo, segue trilhas inusitadas, porque a vida é afeita a surpresas diante de encruzilhadas que exigem reservas de determinação e ousadia, nem sempre disponíveis.

Sem contar as situações não planejadas que nos apanham desprevenidos, como a traição amorosa, a frustração profissional, a derrocada financeira e, mais frequente de todas as tocaias, a doença.

Nas últimas décadas, deparamos com uma situação imprevista com a qual estamos tentando conviver com alguma naturalidade, a da morte pela metade. Essa que machuca, dói, e faz sofrer, mas não se completa. Essa que, por uma inversão biológica indesejada, conserva intacto um corpo indolente a carregar uma cabeça que já morreu.

Depois de uma longa trajetória de surpresas, falsas esperanças, risos constrangidos e abandono involuntário, descobre-se que o nosso queridão está na última sala de espera. É quando o ser amado desconecta-se definitivamente, a família não mais o reconhece e se apega à lembrança do que ele foi, porque já não é.

Os progressos da neurociência foram, até aqui, concentrados em reconhecer o inimigo solerte e implacável, enquanto a humanidade, cada vez mais longeva, aguarda a ressureição que, por enquanto, parece tarefa divina.

As histórias relatadas nesse limbo, que define a morte parcial, são comoventes, porque retratam a natureza humana na sua essência, irretocável.

Um filho extremado me confidenciou que a experiência mais sofrida foi ouvir de um médico que devia aceitar que seu pai, aquele do arquivo amoroso, batera em retirada, e que ele, que fizera o que podia, devia agora pensar nos seus filhos e tocar a vida.

Chorou pelo caminho, atormentado pela ideia de abandonar quem nunca tinha desistido dele. Barbear o pai todos os dias e contar-lhe o cabelo a cada duas semanas foi a ponte de afeto que ele estendeu por um tempo, que ele já não lembra quanto, mas no seu coração tem certeza que foi pouco.

Num asilo, uma velhinha em fase avançada de Alzheimer despertou aos gritos de um sono que parecia irreversível pedindo por sua mãe, e quando ouviu da enfermeira que sua mãe não estava respondeu desafiadora: "Não tente me enganar, ninguém faz, como minha mãe, roscas de polvilho, com este cheiro".

A Giovana e uma colega do segundo ano da faculdade foram encarregadas pela professora de proceder o exame de uma paciente demenciada com enorme dificuldade de comunicação. A professora instruiu as duas jovens a tomarem a mão da paciente e, apoiando o braço com a outra mão, fazerem movimentos ritmados para desfazerem uma contratura muscular chamada espástica. Depois de alguns minutos de massagem, foram surpreendidos pela frase inesperada de quem se considerava incomunicável: "A mão dessa menina é tão quentinha!". Em algum escaninho remanescente da memória destruída, aquela percepção carinhosa estava arquivada, à espera de um afeto.

Não por acaso, os grandes centros de cuidados paliativos aceitam voluntários dispostos a massagear as mãos de pacientes terminais depois de observarem que esse simples gesto reduz em 50% o consumo de analgésicos. Os prodígios do toque humano sempre representarão um grande trunfo no confronto com a medicina robotizada.

J.J. CAMARGO

22 DE JANEIRO DE 2022
CRISTINA RANZOLIN INTERINA

Alô, amigos!

Alô, amigos! Era sempre com essa saudação que meu pai começava os bate-papos com seus ouvintes.

Ele realmente considerava seus ouvintes grandes amigos e para eles procurava sempre dar o seu máximo em frente aos microfones. Foi assim desde o início, lá nos anos 50 na Rádio Diário da Manhã de Lages, Santa Catarina, nas narrações esportivas na Rádio Difusora, nos tempos da Farroupilha, depois na Rádio Guaíba, onde trabalhou muitos anos até chegar à Rádio Gaúcha. Foi nela que se aposentou, já há 15 anos.

Como narrador esportivo esteve em seis Copas do Mundo, narrou campeonatos nacionais e internacionais, jogos com Pelé em campo, muitos Gre-Nais e também jogos bem menos importantes. Mas isso não interessava, ele se preparava para qualquer jogo como se fosse uma grande final, e a vibração e a emoção eram sempre as mesmas.

Como jornalista, fez a cobertura de diversas eleições, de fatos históricos que foram destaque na imprensa nacional e internacional, entrevistou grandes personalidades, sempre com muita dedicação e profissionalismo. Além disso, foi diretor de várias rádios por onde passou. Os mais de 50 anos de carreira fizeram com que aqueles que ele chamava de amigos também acabassem considerando o Ranzolin um grande amigo, ou até alguém da família.

E é para essas pessoas que resolvi escrever hoje. Muitos, mesmo depois de tanto tempo, não entenderam a sua aposentadoria e perguntam por onde ele anda e por que sumiu. Outros quando veem uma postagem com fotos de minha família nas redes sociais questionam por que ele não está ali...

Infelizmente, meu pai tem Alzheimer, essa doença danada que no início provoca esquecimentos, aos poucos vai roubando a memória e depois vai trazendo outras complicações e limitando cada vez mais os pacientes. Dizem que para evitá-la é preciso ser ativo, manter a cabeça em funcionamento. Mais do que ele fez?

Nós, da família, nunca tivemos a intenção de esconder nada sobre ele. Afinal, não é feio ficar doente, às vezes acontece mesmo quando se faz prevenção. Mas acho que nunca falamos publicamente sobre o assunto... Depois das minhas férias, caminhando nas areias de Torres e sendo tantas vezes abordada por pessoas que me perguntaram sobre ele, resolvi aproveitar essa oportunidade para abordar o assunto. Acho que os milhares de amigos que ele fez na vida merecem saber como ele está.

E já adianto: bastante limitado. A voz linda e inconfundível que tantas histórias narrou não sai mais, as pernas que para tão longe o levaram nas suas coberturas jornalísticas não permitem que ele dê mais nenhum passo. Me perguntam se ele me reconhece, e eu digo: "Às vezes". Mas o que importa é que eu sei que ele é meu Pai e procuro me fazer presente o máximo possível ao seu lado, dando-lhe carinho, dizendo o quanto eu o amo, fazendo uma massagem no seu corpo ou até cantarolando no seu ouvido. Porém, vê-lo sem poder curtir a vida, como ele fazia com tanta alegria, dói demais. Minha mãe, eu e meu irmão fazemos todo o possível para que ele tenha conforto, estamos sempre atrás de tudo que possa lhe dar melhor qualidade de vida e bem-estar, mas sempre ficamos longe do que realmente gostaríamos de dar para ele.

Aqueles que tiveram a oportunidade de ser seus colegas ou de conviver com Armindo Antônio Ranzolin sabem que, além do profissional dedicado e de grande sucesso, que vivia de ouvido grudado no seu radinho, ele sempre foi uma pessoa fantástica, paciente, carinhosa, de bom coração, que sabia ouvir e ajudar quem precisasse. Mas quero dizer que a sua melhor versão foi a de Pai. Agradeço todos os dias, nas minhas orações, por ter tido o privilégio de ser sua Filha, de receber seu carinho, seus ensinamentos, seus exemplos. 

Tenho comigo as melhores recordações da sua mão carinhosa me fazendo cafuné, das suas conversas sempre tão calorosas, dos seus conselhos, das suas brincadeiras, do seu orgulho ao me ver seguindo os seus passos. Lembro dele dizendo, depois que fui para a Globo, que eu não era mais a "filha do Ranzolin", ele que era o "pai da Cristina". Numa das últimas vezes que pegou sozinho o telefone para me ligar, foi para me elogiar no comando do Jornal do Almoço. Hoje, por mais limitado que ele possa estar, quero dizer que ele segue me dando força, me dando paz, sendo meu Herói. Não precisamos trocar palavras, nem olhares, nos comunicamos em outra sintonia.

Como sempre trabalhou desde muito jovem, tinha planos de se aposentar para viajar e curtir os netos, mas também dizia que queria escrever um livro com sua história e do rádio gaúcho. Quando tentou, a memória já não ajudou, mas tenho certeza de que quem o ouviu jamais esquecerá aquele timbre de voz, aquelas palavras certas na hora certa, aquele entusiasmo no ar, aquele amigo que - agora vocês sabem - segue lutando pela vida!

*O colunista David Coimbra está em férias - CRISTINA RANZOLIN INTERINA


22 DE JANEIRO DE 2022
MAGALI MORAES

"BBB": ver pra crer

De que time você é? Dos que amam o Big Brother e não perdem nadinha que está acontecendo dentro da casa? Ou dos que odeiam e gostariam de sumir nos próximos três meses? Calma, sem extremismos. Pode ser divertido acompanhar esse jogo (experimento social, melhor dizendo). Eu já fui negacionista de BBB: negava sua existência, fugia de todas as notícias sobre o programa e de qualquer rodinha de conversa envolvendo os brothers. Já senti indiferença, irritação, raiva. Também falei coisas do tipo "como as pessoas podem prestar atenção no BBB com tantos problemas mais relevantes no Brasil e no mundo?". Reage, mulher. Sem necessidade de levar tudo tão a sério.

BBB é válvula de escape. Quem nunca mandou (mentalmente que seja) alguém pro paredão? Já eliminei e fui eliminada. Ainda não chegou a vez de assistir todos os dias - cobertura 24h só em outra encarnação. Mas quero acompanhar um pouco mais a edição 2022. Curiosidade, vai. Talvez seja saudade de novela. Dá pra saber os principais acontecimentos do BBB pelas redes sociais. Cada comentário, uma sentença. É sempre útil entender os memes e não ficar por fora das polêmicas. Aqui em casa tenho experts no assunto, o que facilita a vida. E quem trabalha com comunicação não pode se dar ao luxo de ignorar o BBB (por mais que eu tenha tentado). Pipoca e Camarote, façam valer a pena.

O que o brasileiro espera de um reality? Entretenimento, em primeiríssimo lugar. Momentinhos de alienação porque dá alívio se envolver com os problemas dos outros enquanto esquecemos os nossos. Esperamos também diversidade de opiniões, crises existenciais, acasalamentos, intrigas, conflitos, alianças, derrotas, vitórias e uma nova safra de famosos pra seguir. É mais sobre visibilidade do que premiação. O dinheiro chega pra quem souber aproveitar sua fama momentânea ao sair da casa. Quem vai ser a próxima Juliette? Alguém terá tanto carisma quanto Gil do Vigor? Tadeu Schmidt vai superar Tiago Leifert? Sou #TeamBial desde sempre.

Certo que eu teria claustrofobia ao estar presa naquela casa, sendo vigiada noite e dia. Todos nós ficamos confinados por muito mais tempo durante a pandemia, a diferença é que a gente decidia o que mostrar. Câmeras, só as dos nossos celulares e com filtro pra enganar os olhos. Os brothers que lutem. Convenhamos, é bem mais tranquilo estar do lado de fora com liberdade e anonimato. Espero que a minha intenção de acompanhar o BBB dure mais do que essa fase inicial. É como assistir a uma nova temporada de uma série que nunca sai da programação.

Magali Moraes ocupará esse espaço nas edições de janeiro

INTERINA

22 DE JANEIRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

CEM ANOS

Neste 22 de Janeiro, Leonel Brizola faria cem anos se não nos tivesse deixado em junho de 2004. Desde então, somos todos órfãos políticos, e não só os que o seguiam e nele confiavam, mas até os que criticavam o seu estilo direto e aguerrido.

Sim, pois ser órfão na política consiste em não ter ponto de referência como modelo a imitar ou, até mesmo, a criticar. E Brizola sintetizou tudo isto. No universo partidário do Brasil, até hoje não há outro que tenha se mantido fiel ao que dizia ou prometia.

Direto, não se escondia. Convivi com ele em diferentes momentos. Como jornalista, nos anos 1960, acompanhei cada passo do então governador gaúcho. Num tempo de preconceitos, iniciou a reforma agrária doando ao Estado a própria fazenda. Construiu escolas e, com o lema "Nenhuma criança sem aula", fez do magistério uma profissão digna e bem-remunerada.

Encampou os serviços de eletricidade e telefonia e provou em juízo que as concessionárias enviaram aos EUA lucros ilegais superiores ao acervo em si. Como indenização simbólica, depositou no Banrisul 1 cruzeiro, a moeda de então. Comandou o movimento da Legalidade, sua façanha maior, ao enfrentar os chefes de Exército, Marinha e Aeronáutica e derrotar o golpe militar que impedia a posse do vice-presidente João Goulart.

Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro (foi o mais votado no país), quis resistir ao golpe de 1964. Exilado, com ele partilhei as tentativas de luta contra a ditadura e aí o conheci profundamente.

Em Lisboa, no final do exílio, moramos no mesmo hotel, até que a anistia nos fez voltar ao Brasil em fins de 1979. Aqui, ele refundou o trabalhismo com o viés socialista que aprendera em Portugal, com Mário Soares, e na Alemanha, com Willy Brandt.

Por duas vezes, elegeu-se governador do Rio de Janeiro e deixou como herança os Cieps, Centros Integrados de Ensino, de fato a grande revolução educacional, hoje abandonada.

Candidato a presidente na primeira eleição direta após a ditadura, ficou em terceiro lugar, com poucos votos abaixo do segundo colocado. Tempos após, apareceram indícios da fraude que o impediu de concorrer contra Collor no segundo turno.

Tudo isto compõe, em síntese, o que define Brizola na política. No lado humano, porém, nada me comoveu mais do que a tarde, em Lisboa, em que tocou a gaitinha de boca, seu passatempo secreto. Executou velhas marchinhas e concluiu com o Hino Nacional.

Foi como se voltasse à pureza da adolescência.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

22 DE JANEIRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

AUTONOMIA CONSTITUCIONAL

O protagonismo assumido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) durante a pandemia chama a atenção para o papel das agências reguladoras numa democracia jovem como a brasileira em que o Estado e o mercado ainda delimitam seus espaços. Autarquias especiais, dotadas de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, essas organizações têm seus dirigentes indicados e nomeados pelo presidente da República após prévia aprovação do Senado Federal. Seu papel constitucional é fiscalizar, orientar e regular a prestação de serviço público e o exercício de atividades econômicas por particulares.

Criadas na segunda metade da década de 90, quando o Estado brasileiro começou a privatizar empresas públicas e a se retirar de atividades econômicas para as quais não era vocacionado, as agências federais ainda carecem de uniformização de regras para exercer suas funções sem conflitos que muitas vezes desembocam no Judiciário. Mas um dos pontos da lei que as instituiu continua sendo inquestionável: o que trata da autonomia. Diz claramente o artigo 3º da Lei 13.848, que condensou a legislação anterior em 2019, que "a natureza especial conferida à agência reguladora é caracterizada pela ausência de tutela ou de subordinação hierárquica, pela autonomia funcional, decisória, administrativa e financeira e pela investidura a termo de seus dirigentes e estabilidade durante os mandatos..."

Por aí se explica a reação do atual presidente da Anvisa, almirante Antônio Barra Torres, às recentes tentativas de interferência do presidente da República nas decisões sobre o uso de vacinas contra a pandemia. Embora o debate tenha resvalado para o pantanoso terreno da política e da ideologia, é insofismável que a Anvisa, no referido episódio, apenas agiu com a independência que o ordenamento constitucional lhe concede e exige.

Mais do que direito, as agências têm o dever de regular determinadas atividades econômicas e fiscalizar a prestação de serviços públicos concedidos, ainda que o poder decisório na aplicação de suas recomendações caiba ao órgão governamental correspondente. No caso das vacinas, o papel da Anvisa é avaliar tecnicamente a segurança e a eficácia dos produtos, aprovando ou rejeitando seu registro. A responsabilidade pela aquisição, distribuição e aplicação dos imunizantes é do Ministério da Saúde.

Não há razão, portanto, para atribuir à agência reguladora o viés político e as suspeitas levantadas pelo presidente da República quando teve seu ponto de vista contrariado. A resposta firme do almirante Barra Torres não foi uma agressão ao chefe do Executivo, como o próprio equivocadamente interpretou. Foi, isto sim, uma manifestação pública da autonomia garantida pela Carta Constitucional aos organismos regulatórios criados para proteger a população de eventuais deformações no processo de transferência de empresas e serviços públicos para a iniciativa privada. Quando um órgão regulatório exerce plenamente seu papel, sem extrapolar nem se submeter a pressões, a democracia se revigora.


22 DE JANEIRO DE 2022
+ ECONOMIA

Vinícola no Sul recebe com pavão

Com cinco hectares de plantação de uvas, o casal Cézar Lindenmeyer e Suzane Bittencourt iniciou, em 2006, seu plano de aposentadoria, depois de anos de atuação em empresas e instituições do agronegócio. O sonho se transformou no que hoje é a Vinícola Don Basílio, em Piratini, sul do Estado, a cerca de 340 quilômetros de Porto Alegre.

- A propriedade é da Suzane. Antes, o local era ?locado? para pecuaristas. Decidimos dar novo sentido para a área criando uma atividade para a nossa aposentadoria. Com ajuda do enólogo Marcos Gabbardo, definimos que iríamos produzir uvas para a indústria, e assim fizemos por 11 anos - detalha Lindenmeyer.

Embora produção fosse boa, conta, os resultados econômicos eram "sofríveis". Por isso, em 2010, o casal começou a produzir vinhos:

- Era na cozinha de casa ou em pequenas cantinas de amigos e parentes. Nós nos animamos muito com o retorno que recebemos de consumidores, mas esbarramos na carga tributária. Até que em 2018, as pequenas vinícolas foram inseridas no Simples Nacional.

A inclusão foi o sinal que faltava para investir em equipamentos e lançar a vinícola Don Basílio, que produz os rótulos Quinta do Herval. A empresa também produz vinhos naturais, que não têm agroquímicos, conservantes ou clarificantes. Somente há dois anos, o casal identificou o potencial turístico do local. Por isso, abriram visitações coincidindo com a chegada da pandemia. A propriedade foi batizada de Villa Basílio e, além da vinícola, tem horta e pomar.

- Há visita guiada ao vinhedo e à vinícola, com degustação com tábua de pães, queijos e embutidos da região - diz.

Para aproveitar a vista privilegiada dos parreirais, foi construído um mirante. O casal ainda cria animais que circularam livremente. Por isso, é provável que, ao chegar, o visitante veja a "apresentação" de um dos pavões que vivem por lá (foto menor). Ainda há ovelhas, gansos, patos, perus e galinhas. Outra possibilidade é provar mel direto dos favos, produzido por abelhas sem ferrão, ou levar para casa. É preciso agendar pelos telefones 53.99942-3020 ou (51) 99352-3912. Na pandemia, cada passeio está limitado a 10 pessoas, todas de máscara.

é a projeção do banco modalmais sobre a perda de arrecadação federal com a isenção de PIS/Cofins sobre combustíveis e energia planejada pelo governo Bolsonaro. O efeito nos preços é estimado em 9,1% na gasolina, 5,9% no diesel e 4% na eletricidade.

MARTA SFREDO

22 DE JANEIRO DE 2022
EFEITOS NA ECONOMIA GAÚCHA

"Sabemos que a safra será muito ruim ou péssima"

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, diz que é cedo para falar no tamanho das perdas. A entidade reúne dados e pretende divulgar números mais precisos sobre estiagem neste mês.

A situação, explica, é mais clara para o milho, entretanto, bastante incerta na soja. Nessa cultura, comenta Luz, existem áreas plantadas, com prejuízo, e as que não foram semeadas geram insegurança quanto à qualidade dos grãos.

- Não se sabe o que vai acontecer na soja, só que precisamos de chuva para salvá-la. Algumas coisas, sim, nós sabemos. Sabemos, por exemplo, que não teremos uma safra ótima, boa ou ruim. Sabemos que a safra será muito ruim ou péssima, mas é preciso esperar para avaliar - antecipa.

Com base em cálculos, a partir da matriz insumo/produto, o economista afirma que é possível mensurar que para cada R$ 1 gerado da porteira para dentro, outros R$ 3,20 estão nos setores que atuam fora das propriedades. Ou seja, os danos para as cidades são três vezes maiores do que os verificados nas lavouras.

Em São Borja, na Fronteira Oeste do Estado, um dos locais mais castigados por altas temperaturas e falta de chuva, os reflexos são visíveis no consumo. Presidente da Associação Comercial do município, Neronei Cargnin relata retração e preocupação entre os varejistas.

Para ele, na esteira da seca, há risco de não cumprimento dos contratos recentes de arrendamento de soja, em áreas antes utilizadas pela pecuária e arroz. Caso se confirme, o efeito imediato seria menos dinheiro em circulação na cidade.

Mais tarde, avalia o dirigente, surgiriam dificuldades para retomar culturas anteriores. Isso, principalmente, na criação de gado, pois é necessário secar todo o campo de pasto nativo para preparar o plantio de novos grãos para a agricultura.

 CAMPO E LAVOURA

Calor intenso e chuva irregular agravam situação da soja no RS

Os efeitos da estiagem que castiga o Rio Grande do Sul desde o fim do ano passado a cada dia se mostram mais severos no campo. Além do estrago já irreversível no milho, a sequência de dias extremamente quentes e chuva irregular na semana agravou as dificuldades no desenvolvimento da soja. Segundo a Emater, em algumas lavouras, os agricultores já relatam morte das plantas ainda na fase inicial do cultivo.

A situação crítica está se expandindo para praticamente todas as regiões, segundo o diretor técnico da Emater-RS, Alencar Rugeri.

- Claro que dentro dessa generalização há variação das perdas. Mas o impacto é bastante grande. Estamos tentando buscar uma forma de mensurar esse panorama - diz Rugeri.

O quadro geral é de que as plantações da principal cultura do Estado apresentam baixa estatura e quebra significativa de potencial produtivo. Por causa do ritmo lento no desenvolvimento das plantas e do atraso na semeadura, 63% das lavouras ainda estão em fase vegetativa, quando a média para o período é de 45%.

Em monitoramento realizado por equipes da Agricultura do Estado, constatou-se lavouras de soja com perdas acima de 80%, com municípios decretando o término precoce da safra do grão e também do milho.

A situação adversa se agrava pela combinação de dois fatores, segundo Rugeri. Além do tempo seco, as altas temperaturas também impactam diretamente no desenvolvimento das culturas.

E os prognósticos para os próximos dias não são animadores. Segundo o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), o calor seguirá intenso, com marcas próximas de 40ºC na maior parte das regiões. A expectativa é pelas pancadas de chuva de verão, embora o volume e a distribuição tendam a ser bastante irregulares.

Também devido ao tempo seco, o plantio da soja ainda não foi concluído e está em 97% da área total estimada. Essa semana, a Secretaria da Agricultura encaminhou um ofício ao Ministério da Agricultura solicitando que o período de semeadura seja ampliado até fim de fevereiro.

Em razão da estiagem e das perdas contabilizadas até agora, é possível que haja necessidade de replantio em algumas áreas para além da data-limite de semeadura, que encerra no próximo dia 31 de janeiro. Até o fechamento deste texto, a pasta não havia ainda recebido retorno do ministério.

Os efeitos da falta de chuva no grão ainda vão além, já afetando também a venda futura da soja, como noticiou a coluna. Apenas 17% da produção estimada havia sido comercializada de forma antecipada no Estado até o começo deste mês, segundo levantamento da Safras & Mercado. O número é menor que a média dos últimos anos e também do ano passado, que chegou a ser fora da curva pela boa safra e pelos bons preços.

BRUNA OLIVEIRA INTERINA


22 DE JANEIRO DE 2022
POLÍTICA +

Ciro não poupa ninguém

Na véspera do centenário de nascimento de seu maior líder, Leonel Brizola, o PDT lançou a pré-candidatura de Ciro Gomes a presidente, em um ato focado em duas palavras: rebeldia e esperança. O lema da campanha, inspirado em Brizola, é "a rebeldia da esperança".

Ciro foi o Ciro de sempre, sem concessões aos futuros adversários. No discurso, vinculou o ex-presidente Lula, seu ex-aliado político, ao presidente Jair Bolsonaro, a quem acusou de praticar genocídio durante a pandemia de covid-19.

Em entrevista à imprensa, Ciro afastou a possibilidade de apoiar Lula em eventual segundo turno contra Bolsonaro:

- Eu ajudei o Lula em todas as eleições. Será que existiria o Bolsonaro se não fosse a contradição econômica, social e moral do Lula? Não posso ficar de novo sustentando as irresponsabilidades do Lula.

O ex-ministro Sergio Moro foi chamado de um caso "de glória efêmera como juiz e agora candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo".

Ciro prometeu acabar com o teto de gastos, aprovado no governo de Michel Temer. Anunciou que, se for eleito, vai implantar um Plano Nacional de Desenvolvimento. Para isso, diz estar disposto a fazer alianças com quem concordar em mudar o atual modelo econômico.

Mobilidade para o PSDB

Para substituir Luiz Fernando Záchia na Secretaria de Mobilidade Urbana, o prefeito Sebastião Melo convidou o vereador Moisés Barboza (PSDB).

Moisés ainda não deu a resposta, mas Melo está decidido a entregar esta ou outra secretaria para o PSDB.

O vereador tucano confirma o convite, mas dá a entender que não poderá aceitá-lo:

- A mobilidade urbana está colapsada nas capitais. Conhecemos bem o problema. Seria um desafio gigantesco, tanto para mim quanto para o PSDB, encontrar soluções tecnológicas, de gestão e soluções inteligentes para a questão. Me senti honrado pela lembrança do meu nome, mas assumi compromissos partidários que são prioridade e não poderia abandoná-los para assumir nesse momento.

ROSANE DE OLIVEIRA

22 DE JANEIRO DE 2022
CHAMOU ATENÇÃO

O super-herói dos peixes

Caetano, três anos e 11 meses, tem a energia da maioria das crianças da sua idade: corre no pátio, enche o balde com carrinhos, persegue a shitzu Amora e busca o convidado pela mão, mostrando orgulhoso os super-heróis enfileirados na prateleira do quarto. Diz que ele próprio tem os super-poderes força e segurança. Mas é uma herança de casa que o destaca na luta contra o mal: puxando a caçamba na beira-mar de Tramandaí, ele recolhe o lixo deixado pelos vilões.

- É pro peixinho não morrer - resume o Super Caetano.

Os cuidados com o ambiente são reflexo de um hábito do avô, Eliseu Souza Meregali, 52 anos. Ele leva para a praia uma sacola plástica, que retorna repleta de objetos descartados incorretamente.

- Um dia brinquei com o Caetano, dizendo que ele poderia salvar o planeta, não deixando o lixo ir para o oceano - explica o avô.

No sábado anterior, Super Caetano entrou em ação: ao avistar uma moradora largando sacolas na calçada, gritou "lugar de lixo é na lixeira", recebendo depois a explicação de que ela estava colocando os resíduos para serem recolhidos pelo caminhão da coleta.

- Para nós, como pais, é um orgulho muito grande - afirma a mãe, Rita Guimarães, 33 anos.

No balneário, a criança já reuniu outros amiguinhos para a missão. Em casa, no município de Santo Antônio da Patrulha, o mano mais velho quer servir de exemplo para o pequeno Ernesto, de um mês de vida.

O pai, Diego Meregali, 34, conta que outro dia recebeu mais uma lição do filho.

- Passamos por algumas pessoas na rua e ele disse assim: ?Quero dar comida pra eles, porque são pobres?. É a pureza dele - relembra o pai babão.

TIAGO BOFF

sábado, 15 de janeiro de 2022


15 DE JANEIRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS

Boa porcaria

Abro a geladeira. Encontro a salada mista que sobrou do almoço. E iogurte natural, água, alface, chicória, queijo fresco, ovos e uma tigela de morangos. Penso em tirar uma foto e postar no Instagram com uma legenda motivadora: "Por uma vida mais leve e saudável". Ganharei seguidores e ninguém suspeitará a saudade devoradora que sinto da época em que simples e natural era se empanturrar de porcarias.

Até os 30 anos, eu ingeria veneno como se todo dia fosse aniversário de criança. Era um festival de corantes e aromatizantes artificiais. Abria um pacote de nachos e passava cream cheese em cada um, os dedos ficavam cor de laranja por três dias. Comia pão branco com glúten, queijo processado sabor cheddar e salsichas tipo Viena, isso quando não comprava cachorro-quente na rua, com uma mostarda tão amarela quanto uma placa de trânsito.

Adorava um picolé vermelho que mais parecia tinta congelada no palito. Comia pizza industrializada. Churrasquinho de gato vendido em frente a estádio de futebol. Churros de doce de leite fritos numa panela com azeite reaproveitado há duas semanas.

Bala de goma, pirulito com chiclete dentro, pipoca de micro-ondas, bolacha recheada, barras gigantes de chocolate, refrigerante normal, fast-food e seus derivados. Fazia muitos anos que havia abandonado as bonecas e os bambolês, já namorava, trabalhava e levava vida de gente grande, mas ainda não conseguia cortar os laços com a parte da infância que me preenchia de satisfação e cáries.

Palitinhos de queijo, croissants, risoles, empadinhas, folhados e mais tudo que fosse feito com farinha. Brigadeiros, quindins, balas de coco, leite condensado e mais tudo que levasse açúcar. Já fui muito adepta das falsas promessas de felicidade.

Era uma época de displicência e farra dos sentidos. Cancerígenos eram a nicotina e o alcatrão. Vibrei quando o cigarro virou o vilão da turma prejudicial à saúde - não ter sido fumante era meu salvo-conduto, como se uma coisa tivesse a ver com a outra. Até que engravidei. E intuí que mães deveriam dar bons exemplos. Reduzi as porcarias e comecei a incluir alimentos de verdade no cardápio, mas a desintoxicação foi lenta e a despedida, dolorosa. Custei a atingir a maturidade nutricional. Hoje, ao entrar no supermercado, percorro os corredores das guloseimas sem melancolia, já não me abalo diante dos pacotes de salgadinho. Dou fraquejadas em eventos festivos, claro, mas estou no controle, consigo entrar em êxtase com o azeite extravirgem, a cúrcuma e o sal do Himalaia. Acolho frutas, verduras e peixes. No desespero por um doce, o chocolate 80% cacau resolve a questão. Chega para todo mundo a hora de olhar para trás e se conformar: basta, já me diverti o bastante.

MARTHA MEDEIROS

15 DE JANEIRO DE 2022
CINEMA

UM SONHO DE CASAMENTO QUE SE TORNA PESADELO

Em cartaz, "Juntos e Enrolados" traz grandes talentos da comédia, mas o desenvolvimento do roteiro deixa a desejar

Um festão de casamento, reunindo os amigos e a família, é o sonho de muita gente. E, mesmo que às vezes os convidados saiam falando mal depois, a celebração está entranhada no imaginário do brasileiro. Com Júlio (Rafael Portugal) e Daiana (Cacau Protásio) não seria diferente. O casal protagonista de Juntos e Enrolados, em cartaz nos cinemas (veja salas e horários na página 6), quer fazer aquele rega-bofe especial para afirmar ao mundo o quanto se ama - mas, claro, nem tudo sai como esperado. Logo, o que era uma comemoração de união transforma-se em uma cerimônia para celebrar o divórcio.

É praticamente a dramatização do meme "começo de um sonho / deu tudo errado". Mas, antes da confusão que gera a reviravolta da comemoração, Júlio e Daiana são apresentados como personagens de um conto de fadas - com o toque de um humor que parece ter saído diretamente de esquetes do antigo Zorra Total, mas, mesmo assim, um conto de fadas. Quando ele, um "bombeiro hidráulico" (não chame de encanador!) decide se refrescar em uma piscina de um clube enquanto está prestando serviço, a sua falta de habilidade na natação faz com que precise ser resgatado pela bombeira militar Daiana. A partir daí, o romance avassalador surge.

Os dois, mesmo com empregos estáveis, vivem como boa parte dos brasileiros: com o dinheiro contado. Por isso, a primeira alternativa para celebrar o amor que sentem um pelo outro é o casamento civil. Mas quem já teve que ir até um cartório sabe que não existe qualquer glamour no local. Claro que a oficialização da união é frustrante e, por isso, eles se comprometem em realizar uma festança digna do relacionamento que têm. Para isso, cortam qualquer gasto sobressalente - às vezes, até da gasolina do carro, que volta e meia precisa ser empurrado - e começam a economizar. Afinal, realizar um sonho é caro.

Tudo isso, que ocupa quase a metade do filme, é apenas a introdução para que a trama principal aconteça: a festa de casamento que vira de divórcio. Porém, quando a história alcança o seu objetivo e começa a se desenvolver, ela perde força - principalmente, ao se considerar o motivo da virada: uma mensagem no celular de Júlio que podia ter sido explicada em segundos. Na sequência, a falta de confiança entre os noivos e o instinto de vingança despertam de um lugar que não havia sido explorado na primeira parte da produção, causando estranhamento, uma vez que o casal era perdidamente apaixonado.

Destaques

Juntos e Enrolados conseguiu a façanha de reunir um grande número de talentos da comédia que estão em alta no país. Além de Cacau Protásio, que segue há nove anos no elenco de Vai que Cola e, cada vez mais, firma-se como protagonista de produções do gênero no cinema, o casting ainda mergulha na internet, recrutando Portugal em seu primeiro papel principal, Evelyn Castro e Fábio de Luca - trio que, entre outras coisas, faz sucesso no Porta dos Fundos - e Leandro Ramos, do Choque de Cultura. Mas, além deles, os veteranos Berta Loran, Fafy Siqueira, Tony Tornado e Neusa Borges marcam presença; porém, com pouco espaço para brilhar. Marcos Pasquim, Emanuelle Araújo e Matheus Ceará fecham o time.

Comandados pelos diretores Eduardo Vaisman e Rodrigo Van der Put - este responsável por produções do Porta dos Fundos, incluindo polêmicos especiais de Natal -, os talentos de Juntos e Enrolados se mostram preparados para fazer rir, desde que o material os favoreça. O que, infelizmente, acontece poucas vezes. Os destaques, além dos protagonistas, que demonstram ótima química, são Evelyn e De Luca. A dupla, que vive, respectivamente, a melhor amiga da noiva e o melhor amigo do noivo, é responsável por salvar a segunda metade da trama, que se perde ao inserir esquetes pouco inspiradas na projeção, incluindo um momento em que urina é servida no lugar de vinho.

Mesmo não conseguindo se desprender de um humor já desgastado, a história escrita a seis mãos por Claudio Torres Gonzaga, Rodrigo Goulart e Sabrina Garcia toma cuidado para não derrapar em estereótipos. Assim, não existem piadas a respeito da forma física das pessoas ou de suas origens. O casal protagonista é formado por um homem branco e uma mulher negra. E este relacionamento inter-racial é tratado com normalidade na trama, sem qualquer tipo de comentário por parte dos personagens. E é Daiana a heroína que salva a vida de Júlio, fazendo uma inversão do clichê que dá o início ao amor. Além disso, o melhor amigo gay, aqui, é do noivo, e não da noiva.

E estes são apenas alguns detalhes de vários outros que vão ajudando a quebrar bases pré- estabelecidas para desenvolver uma comédia romântica nacional e, de maneira orgânica, vão aproximando o gênero da realidade da sociedade, sem precisar fazer, por exemplo, com que os personagens percam a dignidade apenas por serem pobres. Só faltou para Juntos e Enrolados olhar mais para os ótimos trabalhos feitos anteriormente pelo seu talentoso elenco e beber mais dessa fonte.

 CARLOS REDEL