sábado, 21 de outubro de 2023


21 DE OUTUBRO DE 2023
MONJA COEN

GUERRA E PAZ 

Nenhuma guerra é santa. A guerra mata, degola, engole a dignidade, a honra, mata a bondade, o cuidado, a sabedoria e a caridade. Nenhuma guerra é justificável. A paz é santa, a paz é doce, a paz brilha suave e macia pelas ruas e vielas onde não há medo nem guerra. Nenhuma violência justifica outra violência. Nenhuma insatisfação social justifica a matança absurda de jovens, crianças, pessoas de todas as idades, desarmadas, assombradas, surpresas, aterrorizadas.

Recebi um vídeo curto com uma fala do escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Não sei de quando é esse vídeo desbotado, mas o que disse é tão atual: até quando vamos ter loucos, apaixonados pela morte, guiando populações cegas? E Galeano menciona Shakespeare, que escreveu na peça Rei Lear: "Neste mundo, os loucos conduzem os cegos".

Provocar o grande despertar da humanidade é sair desse lugar de loucura e de cegueira, sem abusos sanguinolentos, sem ódios, livres da ganância, raiva e ignorância - os três venenos que perturbam a mente humana.

Armas pedem por guerras. Guerras pedem por armas. Segundo a fala do escritor uruguaio, são gastos US$ 3 milhões por minuto na indústria de armamentos e, por minuto, morrem de fome ou de doenças curáveis 10 crianças. Essa conta não fecha.

Até quando a paz do mundo estará nas mãos dos que fazem o negócio da guerra? Até quando? A quem interessa a violência, o banho de sangue, o ódio, a discriminação? Que poder fantasioso é esse? Que riqueza pobre é essa de lucrar com a morte e com as armas?

Um terror sem justificativa. Nem a fome, nem a falta de terras férteis, nada pode desculpar atos como os que testemunhamos em Israel. Guerra ao terror que desconhece regras, terror que abusa, viola mulheres e crianças, joga granadas em abrigos antiaéreos e atira propositalmente em pessoas desarmadas. Quem ou o que teria tirado desses homens sua humanidade?

Seria matar e destruir, bombardear vilas, ruas, casas, cidades onde a população palestina vive pobre e sofrida, controlada por grupos vingativos - seria essa a resposta? Deixar milhões sem casas, comida, remédios e água - seria a solução? Ou será que a água está sendo canalizada para o mundo subterrâneo, o mundo inferior, onde habitam os seres vingativos?

Goboku issai daima saisho joju (Que todo o mal seja afastado). Que o bem prevaleça. Que os venenos da mente recebam seus antídotos: para a ganância, que surja a doação. Para a raiva, que venha a compaixão. Para a ignorância, que brilhe a sabedoria.

É tempo de orar, de olhar e respeitar a vida em sua pluralidade. Coração partido de dor, tristeza, lamentação. Não fique a favor deste ou daquele povo - isso ainda é divisão. Vamos nos levantar e despertar para dar vida à própria vida. Somos uma única família - a humana.

Não às guerras. Não ao terror. Não à violência. Clamo pela paz. A paz é doce, tranquila, macia, sem desejos, sem apegos, sem aversões. A paz cuida e compartilha, respeita e alegra a vida. A paz brinca com crianças e joga, dança, canta, respira.

Amor, ternura, bondade, sabedoria, compaixão: chamo seus exércitos para libertar os que foram desviados do caminho. Que a macia e suave luz da paz traga conforto e aconchego. Que o processo da cura, o processo da sanidade, o caminho da paz, se abra para toda humanidade.

Mãos em prece

MONJA COEN

21 DE OUTUBRO DE 2023
J.J. CAMARGO

HÁ MUITO ÓDIO SOLTO POR AÍ 

"Na vida eu nunca perco. Ou eu ganho, ou aprendo!" (Nelson Mandela). O mundo nunca foi o jardim da paz e da fraternidade. Pelo contrário, sempre deixou transparecer uma capacidade restrita de amar e ilimitada de odiar.

Os atentos conseguem perceber aqui e ali, sob os mais variados mantos de hipocrisia e dissimulação, esse instinto bestial contido com enorme dificuldade pelas barricadas reguladoras da autocrítica e da lei. Mas de vez em quando, aleatoriamente, e nos últimos tempos mais amiúde, se rompe o verniz da civilidade, e o monstro arreganha os dentes.

Pressionados a chamar de "moderno" esse tempo atroz, temos sido frouxos na indignação, como se fôssemos obrigados a aceitar a recorrência dessas vilanias como sendo inevitável e então, se assim fosse, nada nos restaria fazer senão desenvolver resiliência para conviver com elas. E claro, de boca fechada.

Para piorar ainda mais, vem ocorrendo nas últimas décadas uma grande subversão dos conceitos elementares de relacionamento humano civilizado. E esse sentimento vil passou a ser estimulado pela radicalização, mormente a ideológica neste século e, desde sempre, a religiosa.

Como era de se esperar, a fusão dessas duas condições extrapolou os limites do absurdo, culminando com a mais abjeta das iniquidades humanas: a banalização da morte. E quando se iniciou o que parece ser uma disputa escancarada para ver quem consegue ser mais repulsivo, aquele psicopata capaz de matar indiscriminadamente passou a figurar no alto do pódio e merecedor do aplauso dos descerebrados.

A sensação de pasmo e impotência explica a depressão contagiante de quem acompanha os boletins de notícias do front israelense. Nem os alienados, que não sendo judeus nem tendo nenhum conhecido vivendo na zona do confronto, tenderiam a seguir assim, indiferentes, estão conseguindo ignorar as imagens que chegam de lá.

Não bastasse o show diário de torpezas, uma sensação de absoluta incredulidade tomou conta da imensa maioria de brasileiros lúcidos que assistiram durante um minuto (sinto que mais do que esse tempo resultaria na incapacidade de conter a náusea) um bando de conterrâneos imbecis agitando bandeiras internacionais em apoio ao Hamas, esse grupo que degola crianças para anunciar ao mundo que nada ou ninguém deterá esse exército de homens tão corajosos.

Todos já ouviram falar da complexidade geopolítica do Oriente Médio, mas antes de pretendermos esse entendimento não podemos ignorar que, antecedendo a qualquer conflito, está o direito inegociável à vida, e isso, e só isso já torna vexatória a horda de brasileiros desocupados fazendo passeata em prol de um movimento de assassinos. Sem contar o risco presumível que correram de serem presos pelos nossos juízes, sempre isentos na defesa da democracia.

Ou será que essa exposição pública tinha apenas a bizarra intenção de estarrecer ainda mais os seus desafetos que lhes atribuíam, em silêncio constrito, o diagnóstico de alienação clamando por notoriedade? Vá saber! O ócio crônico é um poderoso fermento da irracionalidade.

J.J. CAMARGO

21 DE OUTUBRO DE 2023
CARPINEJAR

A secação ardilosa

Defendo a alegria da secação. Que seque meu time tranquilamente, numa boa, no conforto de sua poltrona, sem estresse, com a cervejinha e o amendoim ao lado.

É um direito do consumidor do Premiere. Entendo a flauta, a corneta, Rio Grande é feito de duas metades antagônicas.

A unanimidade não existe nem com o uso do VAR. Não devemos eliminar a saudável implicância quando envolve respeito e jamais culmina em retaliações a partir de roubos de bandeiras e faixas da torcida.

Refiro-me aos cidadãos de boa índole, àqueles que me xingam grosseiramente de suas sacadas e varandas.

Pois não reina o silêncio entre nós. No momento do gol adversário, meus vizinhos vivem gritando coisas impronunciáveis. Sei que são dirigidas para mim, o berro é um míssil teleguiado de palavrões para a minha janela.

Na manhã seguinte, os mesmos condôminos me cumprimentam cordialmente, como se nada tivesse acontecido. Eu perdoo o destempero dos vizinhos, a explosão vulcânica, a audiência apaixonada na partida televisionada de meu escrete, porque é uma rivalidade educada que consiste em falar mal pelas costas.

Você pode até me questionar: - Como ter certeza de que as ofensas são para mim? Não é paranoia, não é alucinação de uma perseguição, é que eu faço exatamente igual. Escrevo com conhecimento de causa - nossos reflexos tortos coincidem no espelho do elevador.

Mas o que não suporto na convivência entre azuis e vermelhos é o companheirismo forçado, a dissimulação do afeto, o abraço que é empurrão ao precipício. Não me conformo quando alguém do clube contrário alega que até torceu pelo meu time. Não é verossímil, não aconteceu nenhuma conversão milagrosa, o vinagre não beija perfumado de repente como o vinho.

Por mais que soe como complacência, é muita maldade com o meu destino de sofredor, já de cabeça baixa e barba grisalha. Repare que isso só é dito depois que o meu time perde. Sempre o comentário surge na derrota, no fracasso, no fiasco.

Jamais vem diante de uma glória absoluta, de uma vitória incontestável, para dividir aplausos e parabenizar pela atuação e campanha.

Na verdade, o compadre tem um desejo sorrateiro de me fustigar pelo avesso. Quer que eu abra o meu coração, incentiva o meu desabafo para que eu exorcize o quanto sofri.

Trata-se de um ardil. Dividindo falsamente os sintomas, pretende que eu revele o meu diagnóstico, que eu seja sincero fornecendo detalhes de minha jornada acidentada, de como a minha esperança tombou das alturas.

Mostra-se cúmplice no desconsolo, unicamente para comprovar e testemunhar a minha desilusão, colher provas da minha existência arrasada e depois sair rindo e avisando a todos os conhecidos que me encontro despedaçado. Não confio em simpatizantes vira-casacas.

CARPINEJAR


21 DE OUTUBRO DE 2023
LEANDRO STAUDT

Babel gaúcha

Com orgulho, Ijuí ostenta o título de Capital Mundial das Etnias. Eu visitei nesta semana a Expofest Ijuí, celebração das culturas dos povos que formaram o município no noroeste gaúcho. Organizadas, 13 etnias apresentam história, dança, música e culinária. Em tempo de guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, a festa, que termina neste domingo, mostra como é possível a convivência pacífica.

Fundada em 19 de outubro de 1890 pelo governo estadual, a Colônia Ijuhy conseguiu prosperar recebendo imigrantes de muitas origens. Não era tarefa fácil. Imagine pessoas com idiomas, crenças e costumes diversos. Em outras regiões, a colonização multiétnica não vingou.

Na língua guarani, Ijuhy significa "rio das águas divinas". Os primeiros grupos de imigrantes foram de poloneses, alemães e italianos. Quando chegaram, se juntaram aos gaúchos, descendentes da miscigenação de índios, africanos, portugueses e espanhóis. O produtor cultural Francisco Roloff conta que o relato do padre polonês Antônio Cuber, primeiro pároco católico da colônia, é emblemático. Em 1898, depois de uma missa, o religioso contabilizou 19 idiomas na cerimônia.

Cuber foi importante para a integração e a adaptação dos imigrantes. Como falava cinco idiomas, ajudava nos negócios e resolvia possíveis desentendimentos.

No século 21, Ijuí continua recebendo imigrantes, como os haitianos e os senegaleses. A União das Etnias de Ijuí (Ueti) já contabiliza 49 etnias na formação da população ijuiense. Os sérvios foram os últimos incluídos na lista. O trabalho de pesquisa continua.

Em 1987, foram criados os primeiros centros culturais, que construíram belas casas no Parque de Exposições Wanderley Burmann, local da Expofest Ijuí. O trabalho de preservação da cultura, além de possibilitar o conhecimento do passado das famílias, rende outros frutos. Em 2022, Ijuí recebeu o título de Capital Mundial das Etnias, concedido pela Organização Internacional de Folclore e Arte Popular, credenciada pela Unesco.

A cidade, que tenta preservar tantas culturas e idiomas, pode ser considerada a Babel gaúcha.

LEANDRO STAUDT


21 DE OUTUBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

JARDIM INESPERADO

Nada é mais belo do que o inesperado que encanta. Assim, tenho a obrigação de transmitir aos leitores o que senti, dias atrás, ao visitar o Jardim das Esculturas, na área rural do município de Júlio de Castilhos, quase Nova Palma. Ali, o escultor Rogério Bertoldo, de 56 anos, um autodidata que cursou só até a 6ª série do Ensino Fundamental, construiu um imenso jardim escultural com quase mil peças em pedra de arenito.

É o maior conjunto de esculturas do país, talvez das Américas, com a beleza de um canto à vida que leva a deixar atrás as atrocidades das guerras, da Ucrânia à Faixa de Gaza. No interior do RS, a paz e a vida brotam da pedra e suplantam o horror do matar e destruir típico dos conflitos, como agora na Cisjordânia.

Sozinho, Rogério corta o duro arenito a machadadas, mas com a suavidade de quem sabe o que a futura escultura vai expressar. Quando lá cheguei, ele cortava o arenito já para esculpir os detalhes da nova peça.

O Jardim é imponente. Um imenso Buda domina a visão e leva a centenas de esculturas em que mulheres, homens e crianças mostram posições das artes marciais hindus. Os detalhes são precisos, e o arenito se confunde com a própria vida.

Ali a arte viceja como se tudo nos apontasse que somos irmãos até da dura pedra por habitarmos o mesmo planeta. As muitas estátuas em posições de ioga, com os pés em volta do pescoço, são modelos da habilidade do próprio Rogério, que é também mestre em artes marciais.

Morei 22 anos em Buenos Aires e acompanho a eleição presidencial deste domingo na Argentina com preocupação. O antigo celeiro do mundo é, hoje, um país em desordem financeira, com inflação superior a 100% ao ano. Isto propiciou que aventureiros demagogos dominassem a política, como o candidato presidencial Javier Milei, vencedor nas "prévias", que confunde alhos com bugalhos e quer abolir até a moeda argentina.

O triste fenômeno é nosso conhecido e provém da confusa ignorância dos políticos atuais, só interessados pelo poder pessoal.

FLÁVIO TAVARES
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21 DE OUTUBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

BENEMERÊNCIA E CREDIBILIDADE

Merece entusiástico reconhecimento a fórmula que uniu benemerência e uma instituição de credibilidade para viabilizar o Hospital Nora Teixeira, oficialmente inaugurado na quinta-feira, na Capital. O empreendimento foi construído com um investimento de R$ 284 milhões, mas talvez o grande mérito venha do fato de que cerca de R$ 230 milhões foram arrecadados por doações.

A mobilização, como se sabe, foi puxada pelo casal de empresários Nora Teixeira e Alexandre Grendene, que contribuiu com R$ 80 milhões. Não satisfeita, Nora permaneceu a empenhar-se pessoalmente para angariar o apoio financeiro junto a outras famílias bem-sucedidas e a empresas com atuação no Estado. Nada mais justo, portanto, que fosse homenageada, emprestando o seu nome ao hospital que passa a fazer parte do Complexo Santa Casa, entidade agora com 220 anos de história.

É ainda mais animador saber que o modelo continuará a ser adotado em benefício da saúde da comunidade. Na quinta-feira, o casal anunciou que vai repassar mais R$ 36 milhões para o projeto de reforma de oito andares do Hospital Dom Vicente Scherer. A revitalização e a modernização estão orçadas em R$ 60 milhões e Nora se comprometeu a seguir atuando para captar as doações que faltam para completar o orçamento. Também parte da Santa Casa, o Dom Vicente Scherer é referência nacional em transplantes de órgãos e tecidos, atendendo pacientes não só gaúchos, mas de todo o país.

Por certo novos benfeitores se somarão para ajudar no empreendimento. Colabora para angariar apoio a reconhecida seriedade da gestão da Santa Casa ao longo de sua trajetória. Não faltam, no Rio Grande do Sul, empresários, famílias e companhias com meios financeiros e disposição para contribuir com causas sociais ou culturais. Mas essa disposição não basta. A contrapartida é a existência de projetos robustos e bem estruturados, geridos por instituições com credibilidade, que prestem contas com transparência e façam os objetivos propostos serem atingidos. É preciso ter certeza de que os recursos serão bem empregados. Espera-se, assim, que a experiência exitosa da Santa Casa inspire novas iniciativas pelo Estado.

Filantrópica, a Santa Casa é privada, mas sem fins lucrativos. Atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por convênios e pacientes particulares. Mas a maior parte dos serviços é pelo SUS, deficitário devido às tabelas que não cobrem os custos cada vez mais altos da saúde.

Deriva dessa realidade uma grande engenhosidade. Embora a âncora da nova unidade seja uma emergência de alta complexidade 100% SUS, o restante do hospital - que também teve repasses do Estado, da prefeitura e do Fundo do Idoso - recebe em seus 15 andares, com várias especialidades, pacientes particulares e de convênios. Assim, gera caixa para compensar parte do desequilíbrio do sistema universal, utilizado pela grande maioria da população. A generosidade, como tem de ser, se transforma em acolhimento para os mais carentes.



21 DE OUTUBRO DE 2023
ESPIRITUALIDADE

O novo tempo, segundo o espiritismo

Porto Alegre recebe o 12º Congresso Espírita do RS, que volta a ser presencial e contará com a participação de Divaldo Franco 

Depois de um modelo totalmente online, o Congresso Espírita do Rio Grande do Sul chega à sua 12ª edição em formato presencial, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Promovido pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul (Fergs), o encontro terá, entre os dias 27 e 29 de outubro, palestras, rodas de conversa e uma programação especial para jovens, crianças e bebês.

Com o tema O Sol do Novo Tempo - Sonhar, Construir e Viver o Mundo de Regeneração, o evento conta com a participação de pesquisadores e divulgadores da doutrina espírita, de renome nacional e internacional, como o médium Divaldo Pereira Franco e o jornalista André Trigueiro, que falará sobre a relação entre espiritualidade e preservação do meio ambiente (leia abaixo).

O jurista Haroldo Dutra Dias e o pedagogo Cezar Braga Said, entre outros palestrantes, também marcarão presença.

Segundo a organização, são esperadas mais de 3 mil pessoas para o congresso, que já tem três lotes de ingressos esgotados, mas ainda conta com vagas disponíveis do lote extra a quem deseja acompanhar o evento pelo telão.

Também integram a programação a quarta edição do Congressinho para Bebês (crianças de zero a dois anos), o sexto Congressinho (três a 12 anos) e o quinto Espaço Jovem (13 a 21 anos).

Segundo o presidente da Fergs, Antônio Nascimento, o congresso tratará do atual contexto da humanidade e seus desafios:

- É um momento de polarização, guerra, incerteza, medo. Um momento em que somos convidados novamente ao trabalho, ao bom uso dos talentos dos participantes para que possam fazer a diferença com a família e organizações sociais. Para que isso aconteça, a nossa bandeira é a da tolerância, baseada no diálogo com outras crenças religiosas.

Outro destaque do evento será a exposição Kardec: da França para o Brasil, que apresentará manuscritos originais do codificador da doutrina espírita, o francês Allan Kardec, vindos direto de sua terra natal.

- São documentos preciosos, raros e que despertam atenção intensa no nosso meio espírita. Será uma oportunidade de vermos os originais produzidos de 1854 até 1869 que passaram pelo processo de codificação dos livros que dão base à doutrina espírita - conclui Nascimento.

O encontro disponibilizará, ainda, venda de livros espíritas e contação de histórias propostas pelo Programa Conte Mais.

CHRISTIAN BUELLER



21 DE OUTUBRO DE 2023
TANGO ATRAVESSADO

Argentina na encruzilhada (de novo)

Nação realiza eleições do primeiro turno no domingo. Candidatos se digladiam em meio a cenário de inflação e pobreza 

Os argentinos vão às urnas nas eleições gerais deste domingo para decidir o futuro do país acuados por uma das piores crises de sua história. A encruzilhada dos eleitores à beira da hiperinflação apresenta cinco caminhos, cada qual com seus riscos e desafios, internos e externos.

Três candidatos despontam nas preferências do eleitorado. O favoritismo está com o primeiro colocado nas prévias realizadas em agosto, com 29,86% dos votos. Trata-se de Javier Milei, deputado e economista liberal de extrema-direita que se autodefine como "anarcocapitalista".

Seus principais adversários são o atual ministro da Fazenda e representante do peronismo, Sergio Massa, que obteve 27,27% dos votos em agosto, mas carrega o peso da recente deterioração econômica, e Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança de Mauricio Macri (2015 a 2019), de linha mais conservadora, que obteve 28%. Ela traz na bagagem a herança macrista: o ex-presidente que assinou acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) depois do aprofundamento da crise.

Por fora, correm o governador reeleito de Córdoba e ex-ministro de Carlos Menem na década de 1990, Juan Schiaretti, do Partido Justicialista, e a candidata da Frente de Izquierda y de Trabajadores - Unidad, Myriam Bregman. Ambos alcançaram menos de 10% dos votos nas prévias em agosto.

Desequilíbrio fiscal

Ao depositarem o voto, os argentinos terão de avaliar, dentre outras urgências, as propostas para frear a inflação que já supera os 138% no acumulado do ano - o patamar mais elevado em três décadas - e aumentar a qualidade dos empregos, em mercado de trabalho com quase 60% das vagas atuais na informalidade. Em meio a esse cenário, o peso, a moeda oficial, não para de perder poder de compra.

A conjuntura econômica no país vizinho é fruto de 18 crises nos últimos 60 anos, explica o economista João Pedro Maffesoli. Em comum, acrescenta, esses episódios têm no desequilíbrio fiscal (mais gastos do receitas) seu fator gerador.

RAFAEL VIGNA

21 dE OUTUBRO DE 2023
+ ECONOMIA

Petróleo em alta, gasolina em baixa, mas há "fundamento"

Mesmo com petróleo em alta, não houve rejeição do mercado à decisão da Petrobras de baixar 4,1% o preço da gasolina e subir 6,58% o do diesel. As ações da estatal abriram ontem em alta acima de 1%, mas fecharam em queda de 1,1% (ordinárias) e 1,5% (preferenciais).

Respeitada consultoria do segmento, a Argus observa que "não haveria espaço para reduzir os preços com base nas cotações atuais no mercado internacional". Pondera que "a redução do preço da gasolina parece ser motivada pela situação atual de oferta e demanda doméstica". Diz ver "fundamentos de mercado" na decisão por alta no consumo de etanol e recuo no de gasolina.

No mundo, a troca de estações muda o protagonismo no mercado de combustíveis. No Hemisfério Norte, onde se concentra a demanda, termina a chamada "drive season" - aumento no consumo de gasolina das férias de verão - e começa a temporada de calefação, quando aumenta o consumo de diesel.

No vaivém das ações, pesaram declarações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, de que pretende retomar negócios com a Venezuela depois do alívio do embargo dos Estados Unidos.

A iniciativa é vista com cautela porque a decisão dos EUA é restrita a seis meses e depende de eleições livres, há dúvidas sobre a capacidade de aumento da produção de petróleo no país sul-americano e outras incursões brasileiras na Venezuela resultaram em prejuízos.

Mesmo que a nova "estratégia comercial" da Petrobras seja considerada complexa, nesta semana a estatal alcançou o maior valor de mercado desde 2012, de R$ 525,1 bilhões. O recorde anterior era de outubro de 2022: R$ 520,6 bilhões.

MARTA SFREDO


21 DE OUTUBRO DE 2023
CARTA DA EDITORA

Cobertura na Argentina 

Os veículos da RBS sempre estiveram presentes em grandes coberturas jornalísticas internacionais com a missão de trazer um olhar próprio, de analisar os impactos e os possíveis desdobramentos de determinado fato. O colunista e comunicador Rodrigo Lopes, que no ano passado acompanhou as primeiras semanas da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi escalado há cerca de 10 dias para cobrir o confronto no Oriente Médio entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Já a partir deste sábado, teremos a presença de uma jornalista em outro tipo de cobertura internacional, mas não menos importante: a eleição presidencial na Argentina.

A também colunista e comunicadora Rosane de Oliveira trará suas impressões sobre o disputado pleito entre os candidatos Javier Milei, Patricia Bullrich e Sergio Massa. Rosane terá participações nos espaços de jornalismo da Rádio Gaúcha no sábado e no domingo e participará do programa Gaúcha Atualidade, direto de Buenos Aires, na segunda e na terça-feira. Ela também enviará conteúdos para GZH e Zero Hora, mostrando o clima pré-eleição, a apuração dos votos, o pronunciamento dos vitoriosos (o pleito poderá ter segundo turno).

Rosane, que pela segunda vez cobre uma eleição presidencial argentina, destaca a importância de os veículos da RBS estarem representados no país vizinho:

- A eleição é importantíssima para o Rio Grande do Sul, porque o país é o mais relevante parceiro comercial na América Latina e destino de boa parte das exportações gaúchas. O Grupo RBS não poderia estar fora desta cobertura.

Nas páginas 22 e 23 desta edição, reportagem de Rafael Vigna mostra as razões para a crise econômica, política e social da Argentina e o que está em jogo na eleição deste domingo.

DIONE KUHN

domingo, 15 de outubro de 2023

Quem compartilha o que sabe muda a história de quem aprende. Essa frase é de autoria da escritora brasileira Cora Coralina e faz parte do livro “Vintém de cobre: Meias confissões de Aninha”. A frase destaca a importância do compartilhamento de conhecimento e como isso pode impactar positivamente a vida de quem aprende. Compartilhar conhecimento é uma das melhores maneiras de ajudar as pessoas a crescerem e se desenvolverem.

O papel do professor é fundamental na vida de muitas pessoas. Um professor pode ser lembrado por toda vida na cabeça de milhares de individuos. Por conhecimentos passados, por experiências vividas ou pela capacidade de fazer diferença. O professor tem a capacidade de transformar um aluno indisciplinado em um estudante brilhante. Desde que consiga cativá-lo e conquistar sua confiança .

Quem ama ensinar ensina a amar a aprender. Essa frase é uma variação da citação de Paulo Freire, “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. A frase destaca a importância do compartilhamento de conhecimento e como isso pode impactar positivamente a vida de quem aprende. Compartilhar conhecimento é uma das melhores maneiras de ajudar as pessoas a crescerem e se desenvolverem.

Semear sonhos é facilitar a capacidade de sonhar latente em muito indivíduos e isso é fundamental para a vida humana. Sonhar é uma forma de estabelecer metas e objetivos pelos quais trabalhamos até que os sonhos possam ser realizados.

Infelizmente, muitas pessoas perdem a capacidade de sonhar ao longo do tempo, seja por causa de experiências traumáticas, falta de motivação ou outras razões. No entanto, é possível resgatar essa capacidade e voltar a sonhar. Uma das maneiras de fazer isso é estabelecer metas e objetivos realistas e alcançáveis, que possam ser realizados com esforço e dedicação. 

Outra maneira é buscar inspiração em outras pessoas que já alcançaram seus sonhos e objetivos, ou em histórias inspiradoras de superação e sucesso. O professor, sem dúvida pode ser um facilitador desse processo, fomentando e fortalecendo essa força que cada um de nós possui dentro de si.

Parabéns professores, eternos mestres que fazem de sua vocação a profissão mais importante da vida que é a de plantar as sementinhas do conhecimento e do carácter no coração de seus aprendizes, discípulos ou alunos.

“Aprendizes”, “discípulos” e “alunos” são sinônimos que se referem a pessoas que estão em processo de aprendizagem. “Aprendizes” é um termo mais comum em contextos profissionais, como em programas de aprendizagem profissional. “Discípulos” é um termo mais comum em contextos religiosos ou filosóficos, como em discípulos de Buda ou discípulos de Platão. “Alunos” é um termo mais comum em contextos educacionais, como em alunos de uma escola ou universidade.

Existem muitas pessoas que podem ser facilitadoras e fomentar e fortalecer esse cabedal de conhecimentos e ideias dentro de nós, Mentores, amigos, familiares e colegas de trabalho também podem desempenhar esse papel. O importante é encontrar alguém que possa ajudá-los a desenvolver suas ideias e habilidades, e que possa fornecer feedback construtivo para ajudá-los a crescer e se desenvolver. Mas sem dúvida será sempre o bom professor que o apoiará desde a sua primeira infância porque o aprendizado é um processo contínuo e constante e que sempre haverá espaço para melhorias e aprimoramentos.

“Aprendizagem contínua” é um conceito que defende a aprendizagem e estudo continuados, no qual a educação e o desenvolvimento vão para além da forma tradicional de aprendizagem. A ideia é combinar propósito, autoconhecimento e autonomia para transformar aprendizados em ações.

O aprendizado contínuo ajuda na compreensão e no atendimento às necessidades da sociedade, marcada por transformações constantes. Estamos imersos em uma realidade dinâmica, onde práticas, métodos e ferramentas são a todo momento desafiados, reformulados e substituídos e, sozinho, o modelo tradicional de aprendizagem não satisfaz as demandas atuais .

Existem muitas maneiras de incentivar a aprendizagem contínua, como por exemplo: escolher uma profissão que lhe inspire a se atualizar de tempos em tempos, aprender novas funções e ampliar seu conhecimento sobre o assunto.

sábado, 14 de outubro de 2023


14 DE OUTUBRO DE 2023
CINEMA

MAIS SANTOS DO QUE DEMÔNIOS

Sequência de clássico que completa 50 anos de estreia, ?O Exorcista: O Devoto? perde o foco do tema central da história

O diretor e roteirista David Gordon Green decidiu transformar o seu novo filme, O Exorcista: O Devoto, que estreou nos cinemas na última quinta-feita, em um longa- metragem que unisse todas as tribos religiosas em uma espécie de "vingadorização" do exorcismo.

O cineasta, em um processo de abraçar uma maior gama de crenças, acabou se esquecendo do título do projeto para que foi contratado e, principalmente, da franquia para a qual deveria dar continuidade. A diversidade religiosa é importante, principalmente em tempos de intolerância, mas acaba tirando o longa de sua base e deturpando a ideia inicial em prol de uma mensagem que se torna gratuita e esvaziada.

Em O Devoto, o público conhece a história de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), que em uma viagem de férias para o Haiti acaba vendo a sua esposa grávida ficar gravemente ferida durante um terremoto. A mulher acaba morrendo, mas a filha do casal, Angela (Lidya Jewett) sobrevive. Corta para 13 anos no futuro e Victor é um pai protetor. Em uma brecha que dá para a herdeira, ela acaba sumindo em uma floresta com a amiga Katherine (Olivia O?Neill) por três dias.

As meninas retornam com pés machucados, sem memória, uma certa desorientação e um demônio - e não um qualquer. A entidade, de acordo com o diretor e corroterista David Gordon Green, é estudada e já conhece tudo o que os demonologistas sabem - ou seja, preparada para a batalha. Eis que Victor entra em contato com a única pessoa conhecida que já enfrentou algo semelhante: Chris MacNeil (Ellen Burstyn), que escreveu um livro sobre o episódio que viveu com a sua filha Regan (Linda Blair), meio século antes, fazendo desta uma legacy sequel.

Projeto

A ideia, em sua concepção, poderia funcionar, só que O Exorcista: O Devoto não encontra o mesmo motivo de ser apresentado pelo título original - e muito menos o terror genuíno entregue pela obra de 1973. O Devoto é a primeira etapa de uma trilogia planejada - a segunda, The Exorcist: Deceiver (O Exorcista: Enganador, em tradução livre), tem estreia marcada para 18 de abril de 2025 - e que começa com o pé esquerdo, tanto na recepção por parte da crítica quanto do público, que não foi em peso para assistir ao primeiro capítulo nos cinemas. A bilheteria de estreia ficou abaixo do esperado (US$ 26,4 milhões no primeiro final de semana nos EUA) e acende um alerta para a Universal, que desembolsou nada menos do que US$ 400 milhões apenas para comprar os direitos da franquia.

É por essa pomposa quantia que impressiona o fato de David Gordon Green, que escreveu o roteiro ao lado de Peter Sattler, ter fugido da ideia básica do título original - ainda mais se levar em consideração que o novo longa-metragem é uma continuação direta da obra cinquentenária.

E o novo filme, que dá sequência aos eventos de O Exorcista, chega justamente no ano de aniversário de cinco décadas do clássico dirigido por William Friedkin e, certamente, o longa-metragem definidor do tema nos cinemas merecia um presente melhor. Nesse caso, até ganhar nada seria melhor.

CARLOS REDEL CARLOS.REDEL@ZEROHORA.COM.BR

14 DE OUTUBRO DE 2023
ARTIGO

A MENINA QUE CONVERSAVA COM O APITO DO TREM

OS AVANÇOS DA CIÊNCIA PERMITEM PERSPECTIVAS MELHORES PARA QUEM TEM DOENÇAS REUMÁTICAS. UMA REALIDADE DIFERENTE DA VIVIDA PELA ARTISTA MAUD LEWIS, QUE TRANSFORMOU SEUS HORIZONTES PELA ARTE

A canadense Maud Lewis nasceu no hospital de Yarmouth em 7 de março de 1903. Criada na pequena vila vizinha de South Ohio, viveu a maior parte de sua vida adulta perto de Digby, na vila de Marshallstown. A distância entre as duas cidades é de pouco mais de cem quilômetros, estendendo-se ao longo da Baía de Fundy, na costa mais remota da Nova Escócia.

Do jardim de sua casa, a menina avistava os trilhos dos trens que faziam o percurso entre Digby e Yarmouth, duas das maiores cidades do sudoeste da península banhada pelo Oceano Atlântico. Ela acenava para os trens, e era uma felicidade quando os maquinistas correspondiam e apitavam de volta. De longe, suas deformidades não eram visíveis e assim se tornava possível aquele diálogo entre ela e o mundo ao redor.

Apesar da artrite reumatoide juvenil grave e incapacitante, viveu pela arte. O início exato de sua doença é desconhecido. Em uma foto aos quatro anos, ela aparenta ser uma criança saudável, mas alguns anos depois outra foto já mostra sinais típicos da enfermidade; a doença aproximou o queixo de Maud ao pescoço, e ela esconde as mãos afetadas.

As artrites crônicas da infância, como a de Maud Lewis, ainda não têm causa conhecida. Fatores imunológicos, genéticos e infecciosos estão envolvidos. Sabe-se que há uma certa tendência familiar e que alguns fatores externos, como certas infecções virais e bacterianas, estresse emocional e traumatismos articulares, podem atuar como desencadeantes da doença. Atualmente, o tratamento mais precoce e adequado, multidisciplinar, é focado no controle da doença e em medicamentos que auxiliam na redução da inflamação, melhora da dor e manutenção das habilidades funcionais. O objetivo é alterar o avanço da doença e minimizar o comprometimento do crescimento e do desenvolvimento físico e emocional normais.

Maud não completou seus estudos, apesar de sagaz e interessada. As outras crianças a ridicularizavam tanto que o caminho de 20 minutos entre casa e escola era ainda mais penoso pelas lágrimas não contidas. A menina tímida e alvo de bullying dos colegas passou a ficar em casa com a mãe; dela, recebia aulas de arte e juntas faziam cartões de felicitações para vender. Esse isolamento e estímulo à criatividade influenciaram o trabalho posterior de Lewis como artista folk. Ela não apenas aprendeu a pintar e desenhar, também passou a conviver com a solidão em atividades criativas.

À medida que a doença progredia, Lewis tornou-se mais incapacitada. A artrite interrompeu seu crescimento e, ao longo de sua vida, Maud permaneceu do tamanho de uma criança. Seus ombros ficaram anormalmente inclinados, suas costas, curvadas e torcidas, e nódulos reumatoides deformaram suas mãos. Ela usava a mão esquerda, menos afetada, para sustentar o braço e poder pintar com a mão direita.

O trabalho de Maud Lewis não mostra nada de suas dificuldades ou da dor da artrite. Ao invés disso, ela retrata um mundo ensolarado de bois e flores, pássaros azuis, gatos e borboletas. Estas são memórias do interior da Nova Escócia da infância de Maud, marcada fortemente pelas estações do ano e por sua imaginação. Nascida Maud Dowling, ela se casou aos 34 anos com Everett Lewis, um vendedor ambulante de peixes. Moravam juntos em uma casinha de um cômodo de três metros quadrados com um mezanino, mas sem encanamento ou eletricidade. Durante os primeiros anos de vida de casados, eles saíam no carro de Everett; Maud vendendo seus cartões de felicitações e seu marido vendendo peixes. À medida que a artrite progredia, isso se tornou mais difícil. Ela ficava em casa pintando e anunciava sua arte com uma placa adornada e bem à vista de quem passava pela estrada.

Por causa de sua aparência, Maud Lewis sofreu preconceito pelo resto da vida. Seu biógrafo, o escritor Lance Gerard Woolaver, que também é do Condado de Digby, relata que, quando criança, ele comparava Lewis com a bruxa de João e Maria, e se esconderia numa vala se a visse subindo a estrada. Só mais tarde, já adulto, ele foi capaz de apreciar a beleza da arte de Maud, superando o preconceito e percebendo o quanto ela era uma pessoa iluminada.

Além das pinturas, Lewis decorou peças da casa, panos de prato, pás de lixo, conchas e quase todas as superfícies da casinha por dentro e por fora. E desenhava flores nas vidraças. As pessoas que adquiriam seus trabalhos contavam a outras pessoas sobre ela. Começou a aparecer em matérias de jornais e revistas e em programas da TV. Suas obras pintadas, incluindo a casinha decorada, agora fazem parte da coleção permanente da Art Gallery of Nova Scotia. Numa entrevista, questionada como ela conseguiu tudo isso com uma doença dolorosa e debilitante, Lewis respondeu, sorrindo:

- Enquanto eu tiver um pincel na minha frente, estarei bem.

Maud morreu em 30 de julho de 1970, aos 67 anos, na pobreza, embora já conhecida e com fama nacional. Ela superou graves desafios físicos para criar um estilo artístico único. Embora raramente saísse de sua pequena casa, suas obras viajaram por todos as partes do globo e, nas décadas que se seguiram à sua morte, tornou-se uma figura icônica, um símbolo da Nova Escócia, personagem amada na imaginação e na arte popular. É uma das artistas mais renomadas do Canadá, tema de inúmeras monografias, romances, peças de teatro, documentários e até de um longa-metragem (Maudie, de 2016, protagonizado pela atriz Sally Hawkins).

A menina que foi permanece naquele longínquo espaço de seu jardim, acenando para os trens que passam. Seus sonhos, no entanto, embarcaram e seguem. A visão das imagens alegres da natureza e da vida no campo que a encantaram e aliviaram o seu sofrimento mantém a potência benfazeja de um colírio balsâmico para os olhos do mundo.


14 DE OUTUBRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

AS MÃES DA GUERRA

Não queria falar de guerra, porque não a entendo. Depois de tudo o que aprendemos na história, das guerras que destruíram e devastaram países inteiros, mataram milhões de pessoas no mundo, dizimaram gerações inteiras de jovens mortos inútil e injustamente, o terror continua.

Imagine o nosso país sob violentos ataques aéreos. Imagine se os fogos de artifício de qualquer comemoração, festa, futebol fossem bombas caindo e destruindo tudo. Não teríamos como nos proteger, pra onde fugir. Escolas, hospitais e edifícios bombardeados. E hoje, com o arsenal nuclear, não ia sobrar ninguém pra contar essa história.

E em nome do quê? Como se pode ser conivente com a guerra? O absurdo se torna real. O que chamamos de realidade é um inferno criado pela ganância de poder do homem, pela distorção de todos os valores, pela aceitação da barbárie.

Querem instaurar o caos, a miséria, o pavor e um rastro de sangue que nunca termina. Dizem que, na guerra, jovens que não se odeiam se matam por ordens de velhos que se odeiam, mas não se matam.

Porque, se os governantes e altos militares tivessem que ir, eles mesmos, para a linha de frente do ataque nas trincheiras, o mundo viveria na paz. É muito fácil para esses líderes dementes que desejam implantar regimes extremistas, totalitários absolutistas, distribuir armas e comandar.

Se milhões de jovens levados por fanatismo, idealismo, amor à pátria ou a um deus morrerem como formigas esmagadas, tanto faz. Nada disso tem importância. Esse assassinato em massa vira estatística. Esses jovens deixam de ser os filhos de suas mães, deixam de ser a esperança do futuro. São apenas números. Baixas de uma guerra qualquer, de um governo para quem eles nada significam.

Eu não queria falar de guerra. Eu queria falar de paz. Eu não queria falar dessa visão dolorosa de mortos, mas queria falar de suas mães, suas irmãs, suas mulheres. Falar sobre as mães coragem do mundo. Porque, se pudéssemos ver a guerra da perspectiva delas, a guerra não existiria. Se dependesse delas, seus filhos, seus irmãos, seus homens jamais seriam brutalmente assassinados.

Eu quero falar das mulheres, das vozes caladas, de seu instinto de proteger com seu amor, com suas orações, com as forças que lhes restam. A dor e o desespero de vivenciar o que não podem mudar e ainda assim lutam para sobreviver.

Enquanto esses homens trazem violência para o mundo com a irresponsabilidade de meninos delinquentes, as mulheres tentam remediar as consequências, alimentar e cuidar de crianças, idosos e feridos. E salvar, ao invés de destruir.

Mulheres resolvem problemas que não criaram, superam abusos e dificuldades e sempre encontram soluções. Em tempo de guerra, mulheres lutam pela paz. São guerreiras da paz, guerreiras da vida. Querem seus filhos vivos, querem seus homens tranquilos. Querem poder viver com dignidade.

Os líderes da guerra e do ódio são homens que competem por ego, por estupidez. São psicopatas que podem apertar um botão e destruir o planeta. São os homens que não escutam as mulheres.

BRUNA LOMBARDI

14 DE OUTUBRO DE 2023
J.J. CAMARGO

O EPÍLOGO DA VIDA

A oitava sessão da terceira edição do curso A Medicina da Pessoa foi dedicada a explorar as nuances, dificuldades, e vicissitudes da atividade humana considerada a mais nobre de todas: a de cuidar de quem precisa de uma última ajuda.

Atenção na terminalidade se define pela condição de dependência completa, que assemelha o adulto de qualquer idade à criancinha recém-nascida, que não sobreviveria por conta própria, numa regressão que coloca o nosso paciente na última fronteira da vida, carente de todos os cuidados, tal qual experimentou ao aportar neste mundo, décadas antes. O fato de a maioria dessa população ainda conservar a lucidez torna esse cuidado carente de empatia e de extrema sensibilidade, uma exigência que, definitivamente, exclui a participação de amadores e desmotivados. 

A discussão das razões pelas quais os médicos jovens fogem do paciente terminal foi atribuída a uma formação médica distorcida, com um currículo acadêmico que privilegia a busca da recuperação da saúde e nega a evidência de que o atendimento médico não se encerra com a irreversibilidade do quadro clínico. 

Porque não se pode ignorar que a proximidade da morte e o seu desfecho representam etapas críticas de necessidades assistenciais urgentes e delicadas. Por falta de orientação e treinamento, muitos médicos imaturos não percebem que o discurso esperançoso que faz parte da rotina do atendimento do paciente recuperável, no epílogo da vida, se revela inútil e ofensivo à inteligência do paciente terminal, que invariavelmente sabe o que está morrendo e vive uma situação em que só a verdade faz sentido. Um indício muito eloquente e sutil da inadequabilidade do discurso é o paciente fechar os olhos no meio da preleção médica surreal sobre o projeto terapêutico futuro.

Se isso ocorrer, vire a chave: o paciente sempre sabe quando o futuro acabou. O papel mais importante do médico consiste em aliviar todo o sofrimento físico e oferecer parceria na solução de pendências comuns no ocaso da vida, usualmente na busca de perdão para alguma grosseria que arrastou pela vida afora, como uma alforria para que morra em paz.

Há muito tempo aprendi que analgésico, oxigênio e perdão constituem o tripé básico da terapia médica na terminalidade. Na palestra seguinte, o eminente oncologista, professor Daniel Tabak, deu ênfase à delicadeza e necessidade de empatia, através da discussão dos requintes da relação médico-paciente em oncologia. O afeto, com toda a certeza, é o melhor lenitivo para as mazelas do tratamento oncológico e o medo que caracteriza o convívio com uma doença estigmatizante. 

Débora Noal, uma psicóloga brilhante, falou a seguir, contando das suas múltiplas missões do Médicos Sem Fronteiras, quando trabalhou no limites da miséria humana, em países como Haiti, República Dominicana, Congo, Sudão do Sul, Líbia, Tunísia e, Moçambique. Ela decidiu dedicar sua vida, sua escuta e seu afeto àqueles que mais necessitam e, numa verdadeira catarse, produziu um livro espetacular, O Humano no Mundo, que todos deveriam conservar na mesa de cabeceira para uma passada de olhos quando se sentissem tentados a se queixar da vida. 

Num clima de indisfarçável emoção, a doutora Ana Lúcia Coradazzi, uma oncologista com um olhar generoso para além câncer, concluiu o nosso simpósio falando sobre os tópicos mais delicados dos cuidados paliativos, com foco absoluto em aliviar sofrimento. Quando encerrou a sua comovente apresentação, deixou evidente o quanto de afeto é desperdiçado por aqueles que negligenciam o convívio de maior densidade emocional possível, esse que marca a relação médico-paciente no fim da vida. Reconfortante foi a sensação final de que ninguém saiu incólume daquela sessão tão inspiradora.

J.J. CAMARGO

14 DE OUTUBRO DE 2023
CARPINEJAR

O esconderijo do pijama

Custei a usar pijama. Minha bronca tem uma explicação familiar. Veste uma rejeição antiga.

Só aceitei colocar o conjuntinho dado pela minha esposa recentemente, aos 50 anos, porque ela frisou: "não se parece em nada com um pijama". Eu me senti liberado do trauma pela camiseta e bermuda monocromáticas e descoladas, que preservavam o ar jovial e não me prendiam a uma aparência de conformismo. O preconceito nasceu pelo simples fato de que achava que o pijama havia sequestrado o meu pai.

Ele tinha tirado o pai de mim na maior parte da infância e da adolescência. A ausência paterna se devia ao seu uniforme de dormir, à sua indumentária do descanso. Se o traje noturno não fosse posto pelo meu pai, teria aproveitado mais o seu colo, a sua proteção, os seus conselhos. Meu pai existia em casa até a hora de se cobrir com o pijama.

Quando botava as duas peças listradas, desaparecia. Evaporava da comunicação possível do sofá da sala, da disponibilidade do abraço. Tornava-se um prisioneiro de uma solidão inacessível. Entrava na solitária. Chaveava a cela do cárcere imaginário.

Não tinha mais pai das 21h até as 6h. Não sei quem ele era no seu expediente de cavaleiro medieval da madrugada, de armadura e elmo de algodão. A mãe repreendia toda aproximação. Nenhum assunto urgente, ou dúvida espinhosa, ou dever da escola, ou briga na rua o trariam à tona.

- Não incomode seu pai, ele está de pijama. - Seu pai não pode atender, ele está de pijama. -Tem certeza de que não consegue carona com algum amigo, meu filho? É que seu pai está de pijama.

O pijama era um escritório de reuniões secretas. Seu isolamento. Seu bunker militar. Seu esconderijo matrimonial. Como se ele morasse moralmente num elo perdido da rotina, fisicamente num anexo da casa. Era o mesmo que já estar dormindo, o mesmo que se transferir para uma realidade paralela do multiverso, o mesmo que estar viajando, o mesmo que estar em coma.

Ele continuava pai com qualquer outra roupa, menos de pijama, esse destino alheio ao nosso mundo palpável.

Meus irmãos e eu escutávamos seus chinelos pelo piso de madeira, os espirros alérgicos, a tosse do nervosismo, o ronco de britadeira, o barulho da descarga, o chiado das hélices do ventilador de teto. Ouvíamos sua voz comentando com nossa mãe sobre um colega de trabalho, as gargalhadas estrepitantes de alguma conversa, mas não o enxergávamos. Não podíamos vê-lo.

Até hoje, ao telefonar tarde da noite para o meu pai, em vez de perguntar se ele está acordado, questiono se está de pijama.

CARPINEJAR

14 DE OUTUBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

A GUERRA ENCOBERTA

O conflito no Oriente Médio, em que os terroristas do Hamas e o Estado de Israel disputam territórios, tornou-se uma guerra visível e brutal. É comum ouvir a exclamação "bendito o Brasil, que não tem conflitos", que é falsa em si mesma.

Não busco comparar os ataques do Hamas (que lançou 70 toneladas de explosivos sobre civis indefesos) à nossa violência. Mas o assassinato dos três médicos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, trouxe à luz uma guerra que há anos se trava no país, mas que fazemos de conta que não existe.

Essa guerra civil encoberta cresce, faz vítimas a esmo e se agrava. Os responsáveis diretos são vários. Começa na disputa entre facções que dominam o narcotráfico, lutando por poder e dinheiro, perpassa nosso desdém e se conclui na ignorância dos governantes que não buscam solução profunda para o problema. Contentam-se em aumentar a repressão policial através de uma polícia corrupta (como no Rio e em outros Estados) que, em surdina, pactua com os narcotraficantes. Veja-se o poder do PCC ou de outros "comandos" criminosos que, além do tráfico de drogas, dominam áreas das duas maiores cidades do país até cobrando "impostos", como se fossem um Estado dentro do Estado.

Os aparentes chefões, hoje presos, desfrutam de regalias no cárcere e ditam ordens a seus comandados pelo celular. Há duas explicações para isto - ou o serviço penitenciário está mancomunado com os traficantes ou os verdadeiros chefões são influentes nos governos.

A tudo, soma-se a violência das polícias militares, que, em vários Estados, matam a esmo, num país que não tem pena de morte. Aqui, nenhum juiz pode condenar à morte sequer o criminoso mais perverso, mesmo com provas da perversão. Mas certas polícias militares parecem estar acima da lei, como nas chacinas em favelas do Rio e de São Paulo. Mata até a Polícia Rodoviária (que controla estradas), como na asfixia de um motociclista no Nordeste.

Em bairros humildes, as "balas perdidas" matam até crianças, como em casos recentes. Não somos um país bendito por não ter violência. Aqui a guerra está encoberta.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

ACESSOS PARA O DESENVOLVIMENTO

O governador Eduardo Leite anunciou na véspera do feriado que o Executivo investirá R$ 540 milhões na construção de acessos asfálticos e na recuperação de rodovias estaduais danificadas pelas enchentes das últimas semanas. Parte dos recursos provém da venda da Corsan, dinheiro que está no caixa único do Estado e que não pode ser usado em despesas de custeio. O investimento é oportuno e urgente no momento em que várias comunidades gaúchas se recuperam das recentes turbulências climáticas. Garantir condições de trafegabilidade e acesso aos municípios atingidos pelas cheias é quase uma questão de sobrevivência para suas populações.

Além disso, com a ampliação das obras, o Estado começa a resgatar uma dívida com cidadãos que engolem poeira e atolam os pés no barro há várias décadas, enquanto aguardam o cumprimento de sucessivas promessas feitas por candidatos e governantes. De acordo com reportagem publicada no início do ano neste jornal, remonta ao governo Antônio Britto (1995-1998) o plano de pavimentação do acesso a todos os municípios rio-grandenses. Na época, chegou a ser feita uma licitação coletiva, mas os recursos escassearam e nem mesmo as obras iniciadas puderam ser concluídas.

Num país extremamente dependente do modal rodoviário, a inexistência de estrutura viária adequada provoca prejuízos para a economia, desgaste em veículos públicos e particulares, desconforto no transporte de pessoas e desestímulo para investimentos nos municípios. Com tal retrospecto, resta esperar que o anúncio governamental desta semana tenha consequências práticas mensuráveis, que devem envolver não apenas o trabalho de construção e reparos dos trechos escolhidos, mas também a fiscalização por parte das prefeituras e comunidades para que as obras sejam finalizadas nos prazos estipulados.

Acesso asfáltico adequado não é privilégio para proprietários de veículos. É, ao mesmo tempo, patrimônio público essencial e direito dos cidadãos ao desenvolvimento. Em janeiro deste ano, 47 municípios gaúchos estavam identificados pelo Daer como carentes de pavimentação. Representavam um contingente de 145 mil gaúchos que pagam mais caro pelos produtos que consomem e vendem mais barato o que produzem por conta do encarecimento do transporte em estradas ruins. Em julho, com a conclusão do acesso a Ponte Preta, o número caiu para 46, ainda com 18 obras em andamento.

Agora, com o novo aporte de recursos no Plano de Investimento em Rodovias, o governo pretende executar 36 projetos de acessos municiais nas nove regiões funcionais do Estado, além de acelerar 30 ligações regionais e 168 obras de conservação ou recuperação. A liberação de recursos extraordinários, segundo o governador Eduardo Leite, contemplará obras que podem ter seus cronogramas acelerados para que sejam entregues antes do prazo previsto inicialmente. No Ranking de Competitividade dos Estados, o Rio Grande do Sul evoluiu da 16ª posição no quesito Qualidade das Estradas em 2022 para a sétima posição no relatório deste ano. Pelos cálculos do governo, além do impacto direto na economia das regiões beneficiadas, a intensificação das obras asfálticas deverá gerar 5 mil empregos diretos e outros 20 mil como consequências das melhorias nas estradas. Investimentos em asfalto sempre trazem boas consequências. 


14 DE OUTUBRO DE 2023
CARTA DA EDITORA

Desafios das redações

A imprensa do mundo todo redireciona seus esforços sempre que surgem eventos de alto impacto na população. Foi assim em setembro com os veículos da RBS na cobertura das enchentes no Rio Grande do Sul. E está sendo assim, há uma semana, com a guerra deflagrada por Israel após ser atacado pelo grupo terrorista Hamas. Apesar da importância desses fatos, temos o desafio diário de não perder de vista outros assuntos relevantes.

Mesmo com a atenção voltada ao Oriente Médio, demos destaque para temas preocupantes na educação: o risco de apagão de professores da rede estadual em um futuro próximo e os dados do censo do Ensino Superior que indicam crescimento no ingresso em ensino a distância, como mostra matéria na página 17.

Sabemos que a educação é um problema estrutural no Brasil que historicamente ficou de fora da lista de prioridades dos governos de plantão. O jornalismo tem papel primordial no debate de como qualificar o ensino brasileiro, capacitar os professores e tornar os ambientes escolares mais atraentes aos alunos. Por isso, há cerca de um mês criamos uma seção exclusiva em GZH para temas de educação em todos os níveis.

Nesta segunda-feira, encartado em ZH, o leitor terá acesso a mais uma edição do Guia da Escola. O caderno mostra, entre outros temas, como a prática de atividades físicas, de qualquer modalidade, ajuda na promoção do desenvolvimento e faz a diferença no processo de aprendizagem, o que é preciso para promover a inclusão e como ajudar as crianças a lidar com a emoção. O conteúdo também estará na versão digital de ZH, que pode ser acessada pelo site e pelo aplicativo de GZH.

O Dia das Crianças foi na quinta-feira, mas o presente para nossos leitores não tem prazo de validade. Zero Hora, em sua versão digital, preparou um caderno com crônicas escritas por 19 colunistas e comunicadores da RBS. Além de contarem as suas memórias marcantes de infância, os jornalistas exibem fotos de quando eram crianças.

DIONE KUHN