sábado, 15 de fevereiro de 2025



15 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Do Exército para a Brigada

O Comando Militar do Sul (CMS) vai doar seis veículos blindados Urutu e 20 fuzis automáticos leves (FAL), calibre 7.62 M964, à Brigada Militar.

A expectativa é de que a entrega dos equipamentos seja feita em março, em data a ser definida. Os carros de combate serão doados para os Batalhões de Choque e de Operações Especiais da BM.

O Exército Brasileiro vem desativando os Urutu, um carro de combate anfíbio, para transporte de tropas, que foi utilizado em missões da Organização das Nações Unidas (ONU) como no Timor Leste e no Haiti e que vem sendo substituído pelo Guarani. A Força está em processo de modernização da frota de carros de combate, com a aquisição do Centauro II. Hoje, os principais blindados do Exército são os Leopard 1A5BR e o M60 A3.

No dia 21 de fevereiro, ocorrerá a entrega aos policiais militares dos certificados de conclusão do Estágio de Segurança no Manuseio da Viatura Blindada de Transporte Pessoal Urutu. As instruções, que têm como objetivo preparar os militares da BM para o recebimento das viaturas, começaram na última terça-feira. A 6ª Divisão de Exército, na Capital, está encarregada da coordenação do estágio e da cerimônia de doação.

Em dezembro de 2022, o CMS doou 21 Urutu ao exército uruguaio. _

Capivaras no Arroio Dilúvio

Chamou atenção de quem circulou na sexta-feira pela Avenida Ipiranga, entre a Borges de Medeiros e a Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre, seis capivaras que nadavam e aproveitavam tranquilamente a vegetação do local.

Na Região Metropolitana, as capivaras são comuns na Reserva Biológica do Lami, na Capital, e no Parque Estadual de Itapuã, em Viamão.

Os animais são, possivelmente, uma mãe e cinco filhotes. A coluna conversou com biólogos que explicaram que as capivaras devem ter chegado no Dilúvio pelo Guaíba, principalmente devido à enchente de maio do ano passado.

Tratam-se de animais herbívoros, que se alimentam de plantas, como folhas, flores, frutos, algas e caules. 

Carbono neutro na Feira do Varejo

A Feira Brasileira do Varejo (FBV) deste ano será protagonista na sustentabilidade.

O evento promovido pelo Sindilojas Porto Alegre e Sebrae RS ocorrerá entre 21 e 23 de maio e conta com a parceria da startup gaúcha AKVO ESG, de Erechim, para a implementação de um programa de compensação de emissões para tornar a feira um evento carbono neutro. _

CEEE Pró-Cultura

A CEEE Equatorial está em primeiro lugar entre as empresas que patrocinaram projetos no âmbito do Pró-Cultura em 2024. O valor investido foi de aproximadamente R$ 3,2 milhões. Para 2025, as inscrições estão abertas até 25 de fevereiro para novos projetos que precisarem de apoio, desde que sejam aprovados pelas leis estaduais de incentivo. _

Filho de Elon Musk teria mandado Trump calar a boca?

Cenas de crianças no Salão Oval, o mais poderoso gabinete do mundo, sala de trabalho do presidente dos Estados Unidos, não chegam a ser novidade. Aliás, costumam fazer a alegria dos fotógrafos.

Uma das imagens mais icônicas do século 20 foi de John F. Kennedy Jr. brincando embaixo da famosa mesa, chamada de Resolute Desk, enquanto o pai, JFK, lê documentos, em 1963.

Então com oito anos, a filha mais nova de Barack Obama, Sasha, também teve seu momento em 2009, "espionando" o pai detrás de um sofá.

Voltamos a 2025: X, sim, esse é seu nome... Não é filho de Donald Trump, mas de Elon Musk, o poderoso assessor do presidente.

O menino chamou a atenção ao longo da semana pelos gestos irreverentes, caras e bocas, dedo no nariz, mas, sobretudo, pelo que teria dito a Trump. As redes sociais fizeram a festa na sexta com vídeos em que o garoto aparece supostamente dirigindo-se ao presidente:

- Eu quero que você cale a sua boca - teria dito.

Em outro momento, X também teria afirmado:

- Você não é o presidente, precisa ir embora!

Seguidores de Trump contra-atacaram, dizendo que seria fake. Afinal, o garoto "disse o que dizem que ele disse" ou não? A resposta: até a tarde de sexta-feira, não era possível confirmar, com fontes independentes, se o vídeo é verdadeiro ou se foi editado. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 8 de fevereiro de 2025

07/02/2025 - 16h00min
Martha Medeiros

Longa vida àqueles que ainda vivem para nos inspirar

Somos seres domesticados que cumprem o script universal e que precisam desesperadamente de transcendência, portanto, saudemos os talentos multiculturais que nos salvam da brutalidade e da tacanhice.

Marina também assumiu, para mim, um papel maternal.
Gilmar Fraga / agencia RBS

Lembro das risadas que Ney Latorraca provocava em novelas que iam ao ar logo após o telejornal onde Gloria Maria exibia suas primeiras reportagens. Nos intervalos, os bordões criados pela equipe de Washington Olivetto nos induziam a escolher determinada marca de geladeira ou de lingerie, e depois, tevê desligada, era a hora de escutar Gal Costa ou bailar com Rita Lee, mulheres modernas que também devem ter lido as crônicas, contos e poemas de Marina Colasanti, que abriu tantas portas para nós. 

É um baque chegar nesta fase da vida sabendo que amanhã ou depois virá a notícia de mais uma baixa entre aqueles que fizeram parte da nossa história. Estão nos deixando, um a um. Eles adoecem, eles envelhecem – assim como nós. Perdê-los é perder-se também. 

O paradoxo é que, mesmo abalados por esta “renovação de estoque” (assim Millôr Fernandes designava o processo de nascimento e morte), ainda assim, só temos a celebrar. Tivemos a honra de sermos todos contemporâneos. Cada época tem seus ícones, e minha geração foi bem sortuda com o elenco que lhe coube. Que tipo de existência teríamos sem os craques da Tropicália e do Asdrúbal, sem Domingos Oliveira, sem Antonio Cícero? Os dias se tornam inúteis se não escutamos uma canção ou lemos um poema de algum mortal que ajuda a nos formatar.  

Quem primeiro me alcançou um livro de Marina Colasanti foi minha mãe, eu tinha 20 anos, e a partir daí Marina também assumiu, para mim, um papel maternal. Ambas – mãe em contato direto e escritora em contato indireto – foram os faróis que me conduziram na vida: Martha, é por aqui. 

Hoje sei que de nada vale o empenho diário – trabalhar, sobreviver, cuidar dos outros, cuidar de si, sofrer, resistir – se não formos compensados por momentos de plenitude, em que nos conectamos com as ideias e os sentimentos de estranhos que iniciam um diálogo secreto conosco e fazem nossa consciência se expandir. 

Às vezes, quando fico sem ânimo com o rumo que o mundo está tomando, me pergunto por que estou mofando dentro de um apartamento, cumprindo horários e compromissos repetitivos a fim de manter a ordem social, em vez de viver de forma mais lúdica, em simbiose com a natureza, livre das agendas e das expectativas dos outros? 

Não há resposta certa, todo cotidiano é imperfeito: nenhuma maneira de existir atende 100% às nossas necessidades. Então passamos a vida tentando nos adequar, até que chega o dia em que o esforço não é mais preciso. Fim.

Em que tudo isso vai dar, afinal? Em nada. Somos seres domesticados que cumprem o script universal e que precisam desesperadamente de transcendência, portanto, saudemos os talentos multiculturais que nos salvam da brutalidade e da tacanhice. Longa vida àqueles que ainda vivem para nos inspirar. 


07/02/2025 - 19h50min
Sara Bodowsky

Querida Quaraí: uma cidade que fica na memória e desperta a vontade de voltar

Compartilho também uma sugestão de culinária árabe com receitas familiares em Porto Alegre, que entrega produtos fresquinhos.

Vista para o palco de diversas lendas gaúchas.

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

Distante cerca de 600 quilômetros de Porto Alegre, Quaraí foi uma descoberta inesperada em meio à minha viagem pela fronteira com a Argentina e o Uruguai. A cidade fica no meio do caminho entre Uruguaiana e Santana do Livramento – é onde encontramos o lendário Cerro do Jarau. E, como diz o hino da cidade, a “querência querida” Quaraí marca a memória e fica sempre a vontade de voltar.

Cerro do Jarau 

O cenário é de tirar o fôlego.

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

Chalé perfeito para descansar.

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

O Cerro é uma formação rochosa de uma cadeia de morros com aproximadamente 200 metros de altura e é berço de várias lendas gaúchas, entre elas a da Salamanca do Jarau – que mistura a força e a história dos povos originários com a chegada dos espanhóis e portugueses à região.

E foi uma emoção sem tamanho ficar hospedada justamente em frente ao Cerro. A fazenda Santa Rita do Jarau tem um chalé lindo e confortável, todo pensado nos detalhes para descansar. A família que administra o local leva o café da manhã para os hóspedes em uma cesta com produtos locais, tudo fresquinho e delicioso. Aí, sem pressa, é curtir um mate olhando para esse tanto de história ali em frente, sabe?

O espaço também oferece turismo rural, camping, cavalgadas e passeios ao Cerro do Jarau. Informações pelo perfil do Instagram @santarita.jarau ou pelo WhatsApp (55) 99680-6893.

Delícias gastronômicas

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

Hambúrguer é uma boa pedida.

A área urbana de Quaraí, que faz fronteira com Artigas, no Uruguai, fica a 20 minutos da propriedade. Vale a visita. No lado brasileiro, a dica é a Canelo’s, com hambúrgueres e gelatos artesanais muito gostosos. 

É bacana ficar um tempo ali, degustando as delícias e observando a mistura do português com o espanhol, tão característica dessa nossa fronteira. Aí, anda um pouquinho, atravessa o Rio Quaraí e já entra em Artigas, no Uruguai. Não é preciso fazer imigração – o trâmite só é necessário se você decidir seguir para o interior do país vizinho. 

Museu em Artigas

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

Local é aberto ao público.

Sara Bodowsky / arquivo pessoal

Ande um pouco pelas ruas uruguaias bonitas, curta as casinhas antigas devagarinho e se prepare para a mesma surpresa que tivemos: o Museu Histórico Departamental de Artigas (Calle Jose Pedro Varela, 278). Riquíssimo em história, arqueologia e paleontologia, é um espaço aberto ao público, novíssimo e com vários objetos que contam muito da história da região. 

Curtiu? Se quiser conferir mais imagens desse roteiro, te convido a conferir o primeiro vídeo do meu perfil do Instagram, no @SaraBodowsky. E tem muitos outros destinos por lá também!

Curte comida árabe? Eu adoro! 

Esfirra fechada feita na hora.

divulgação / divulgação

Ingredientes vêm da Palestina.

A dica é a Zait e Zaatar. São pratos da culinária árabe com receitas familiares preparados todos pela Saida Cristina. Ela foi criada em Jilijiya, cidade na Palestina distante cerca de 45 minutos de Jerusalém. Ela e o marido vieram para o Brasil há mais ou menos 30 anos. E foram as filhas, brasileiras, que insistiram para que a mãe transformasse seu amor pela cozinha e pelos sabores de casa em um negócio.

Os temperos (como o Zaatar, que deu nome à empresa) são enviados diretamente pela mãe da Saida, que ainda mora na cidade natal. E os sabores são espetaculares. Tem quibes e esfirras de carne e queijo. As pastinhas de humus e a de laban (coalhada) são de comer de colherinha. 

O falafel (que inclusive atende veganos também) foi meu produto preferido. Complicado escrever esse texto quando a fome começa a chegar... Mas aí fica o recado: é preciso encomendar com alguma antecedência (nem que seja de horas), porque os produtos são entregues fresquinhos. 

Os pedidos podem ser feitos pelo Instagram @zait_e_zaatar ou pelo WhatsApp (51) 99931-9363.



08 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Epidemia de desastres aéreos

Há uma epidemia no ar. De pequenos aviões caindo. Talvez seja preciso um novo controle e fiscalização para aeronaves de pequeno porte. Ainda mais que, atualmente, as mudanças climáticas têm aumentado a frequência de turbulências em voos.

Tivemos um acidente em Gramado, no fim dezembro, com a morte do empresário Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, sua esposa, as três filhas do casal, a sogra, a cunhada e o seu marido e seus dois filhos. Tivemos um acidente em uma praia de Ubatuba, no litoral de São Paulo, no início de janeiro. O piloto morreu e sete pessoas ficaram feridas.

Agora um avião de pequeno porte caiu na Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, na manhã de sexta-feira. O King Air bimotor subiu do aeroporto Campo de Marte pela manhã e a torre perdeu contato às 7h16, minutos após sua saída. Estava se dirigindo para Porto Alegre.

Os tripulantes, dois gaúchos, morreram carbonizados: o advogado Márcio Louzada Carpena e o piloto Gustavo Medeiros.

Durante a tentativa de pouso de emergência, a aeronave colidiu com um ônibus, que incendiou após o impacto. Outras seis pessoas foram atingidas. E todas as tragédias aconteceram no perímetro urbano, dentro de grandes cidades, multiplicando o poder das perdas.

De acordo com o Cenipa, 2024 já se mostrava como o ano com mais acidentes aéreos no Brasil na última década. Dos 175 acidentes registrados, 44 foram fatais e resultaram em 153 óbitos. 2025 parece engrossar as estatísticas.

Natural de Porto Alegre, cidade onde também morava, formado em Administração e Ciências Aeronáuticas, ambas graduações pela PUCRS, o piloto Medeiros possuía ampla experiência na aviação. Atuou entre 2011 e 2021 na companhia Azul. Ele deixa um filho do primeiro casamento. Sua atual esposa está grávida. Não conhecerá a menina que tanto festejava e aguardava.

Novamente somos assaltados pela fatalidade, pela efemeridade da existência. Momentos antes de decolar, Carpena, 49 anos, postou imagens nos seus stories do seu avião, adquirido recentemente, há menos de três meses. Assistimos à véspera da morte sem prever ou compreender os desígnios do destino.

Ele estava ali, logo não está mais. Ele vivia feliz e, num átimo, desaparece para a esposa e três filhos. Os stories do embarque seguem vivos durante 24 horas, ele não.

Professor licenciado da PUC e da Escola da Magistratura (Ajuris), exaltado pelos alunos, dono de um escritório de advocacia especializado em direito societário, com sedes em Caxias do Sul e Porto Alegre, palestrante de direito processual civil, bem-sucedido, trabalhando 14 horas por dia com alegria, gremista praticante, anchietano nostálgico, viajante inveterado - para celebrar as conquistas ou esquecer os problemas -, amante da filosofia, pintor amador, parte sem se despedir. Parte no meio de seus sonhos e grandes projetos, sem completar 50 anos, quando começava a colher os frutos de uma carreira de três décadas, que havia iniciado como auxiliar de escritório.

Como ele mesmo escreveu em suas postagens: "A vida é irônica, é necessário tristeza para conhecer a felicidade, barulho para apreciar o silêncio e ausência para valorizar a presença". _

CARPINEJAR

08 DE FEVEREIRO DE 2025
ANDRESSA XAVIER

Herança

Ela ouve todo mundo, não importa o partido ou o time. É querida e cheia de opiniões, o que pode nos fazer discordar e até xingar, ou não achar tão querida assim. Ela informa e é companhia. Muitas vezes nos arrepia e emociona, principalmente no futebol. Grita gol como ninguém. Nos deixa nervosos, ansiosos, pedindo para o árbitro apitar logo o final da partida.

Ela não fica fora de nada. Se tem um acontecimento mundial, ela vai. Eleições americanas, argentinas, Olimpíada, Copa, Libertadores, Gauchão, Campeonato Brasileiro, Oscar. É arroz de festa. Se tem gente na praia, ela vai também. Se tem votação, ela vai para a Câmara, a Assembleia ou para o Congresso. Ela está em todas. Se chove além da conta, ela vai ouvir as pessoas que perderam tudo na enchente, mesmo que seja dolorido de escutar. Fala até sobre as guerras.

Aos 98 anos, que completa neste sábado, é uma guria, sempre procurando as novidades, mas sem perder sua essência e o porquê de existir. Tem parceiros comerciais incríveis, que acreditam no jornalismo profissional, e um público que a acompanha até de muito longe. Ela ajuda a matar a saudade do pago para quem se espraiou pelo mundo.

Estou falando da Gaúcha, que começou as atividades em 1927. Era musical, com programas de auditório que faziam muito sucesso. Com o tempo foi readequando a programação e se transformou em uma rádio de jornalismo geral e esportivo. Grandes nomes da comunicação brasileira passaram por ela e ainda passam. Muitos se formam, expostos aos ouvidos mais atentos de um público exigente. É como trabalhar em uma vitrine, sendo avaliado em tempo real.

Os ouvintes também sempre têm uma história sobre a relação com a Gaúcha. Normalmente é hábito que passa, quase como uma herança, de pai para filha, de mãe para filho, de avós para netos. Muitos começam no futebol. Outros migram para a Gaúcha conforme vão se tornando adultos, buscando informação. Ela é companhia no mate e no trabalho. Está no carro e em casa. É fácil de ser acompanhada enquanto fazemos outras funções.

No meu caso, o começo foi indo para a escola no carro do meu pai, ouvinte número 1 de quase todos os horários. Naquela época eu não gostava. Era cedo, não tinha música, algo que adolescentes adoram, eu não entendia muito das notícias. Com o tempo, fui me apegando e me apaixonando. Quando comecei o estágio trabalhando aqui, em 2009, me encantava ao ouvir pessoalmente as vozes que só escutava no rádio. Reconhecia os locutores que nunca tinha visto antes apenas por seus timbres ecoando nos corredores. A Gaúcha é magia que só rádio tem. Parabéns a quem faz parte dessa história, que todos os dias conta mais histórias, rumo ao centenário. _

ANDRESSA XAVIER

08 de Fevereiro de 2025
MARCELO RECH

Mais é menos

Você já se deu conta de quanto mais canais de TV passamos a ter, menos assistimos a um programa inteiro? Quanto mais opções no streaming, menos passamos dos 15 minutos iniciais de um filme? E quanto mais vídeos do YouTube acessamos, mais usamos aquele recurso de pular 10 segundos, pular 10 segundos, pular 10 segundos?

Coisa estranha, não? Quanto mais conteúdo à nossa disposição, menos nos concentramos e nos aprofundamos. Ou seja, temos cada vez mais informação e conhecimento na ponta dos dedos, mas acabamos sabendo cada vez menos sobre coisa nenhuma. É o espírito do nosso tempo, o Zeitgeist da abundância superficial - seja na hora de absorver conteúdos, escolher candidatos ou fazer uma compra online só porque pipoca uma oferta diante dos olhos.

Aonde essa tendência vai nos levar eu não sei, até porque, querendo ou não, vou de roldão - embora tente resistir bravamente às seduções dos videozinhos rápidos criados exatamente para explorar o máximo de atenção que dedicamos a algo hoje. São 15 segundos para passar o recado ou nada. Triste e assustador, mas é assim que o mundo passou a se mover.

Para minha geração, cujos felizardos como eu puderam contar na infância com uma Barsa ou a coleção da Conhecer, resta uma sensação de vazio. Admiro de vez em quando, e ainda aproximo o nariz para aspirar o aroma inconfundível e eterno das páginas dos meus 18 volumes do Tesouro da Juventude. Foram devorados e felizmente bem manuseados há quase seis décadas. Onde foi parar aquele conhecimento que dava base na vida futura de crianças e adolescentes? Tem uns documentários interessantes na internet, admito. Mas e a concentração da leitura? Quem lê só lê. Não fica usando outra tela e se distraindo em momentos de baixa intensidade.

Também por isso admiro meu amigo Daniel Scola, que lê muito e sempre dá ótimas dicas de leitura. Invejo sobretudo sua capacidade de se desligar do digital para se conectar com um livro, e só o livro. Mas eu precisaria de três vidas para dar conta dos exemplares que já comprei nessa, quanto mais pelo que eu fico babando em livrarias. Preciso aprender com ele como não cair nas tentações digitais, até porque, convenhamos, desconheço que já tenha surgido um influencer predestinado a ganhar um Prêmio Nobel.

Como não nos concentramos mais, podemos estar perdendo de vista os novos luminares. Só para ficar na nossa aldeia, onde estão os novos Ericos Verissimos, Moacyres Scliars, Marios Quintanas e Davids Coimbras? Talvez eles estejam entre nós, quem sabe? Só que estamos muitos ocupados saltando os vídeos de 10 em 10 segundos. _

MARCELO RECH

08 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

Chance para elevar a aprendizagem

O começo do novo ano letivo, que na rede estadual do Rio Grande do Sul ocorre na segunda-feira, significa na prática o início da vigência da legislação federal que restringe o uso de celulares nas escolas do país. O debate sobre a necessidade de limitar o uso de smartphones e o acesso a redes sociais e aplicativos de mensagem tanto nas salas de aula como nos intervalos amadureceu bastante no Brasil no ano passado, a partir do robustecimento das evidências de que a distração causada pela tecnologia atrapalha a absorção de conteúdos e as notas.

Convém ressaltar que, sozinha, a legislação está longe de ser o bastante para reverter a qualidade insuficiente do ensino no Brasil, escancarada nos programas internacionais que avaliam e comparam a performance de estudantes de diferentes países. Ainda assim, pode ser capaz de contribuir bastante para uma melhora na assimilação do conhecimento, a partir da perspectiva de que os alunos não dispersem tanto a atenção e consigam se concentrar mais nas aulas. Os professores, ao menos, deixam de ter a concorrência dos celulares à mão das crianças e adolescentes.

A lei, válida para escolas públicas e particulares de toda a Educação Básica, desde a pré-escola até o Ensino Médio, traz benefícios adicionais. Como a restrição também é válida para intervalos e recreios, tende a fazer bem para o desenvolvimento das habilidades sociais, por estimular as interações presenciais, hoje prejudicadas pela imersão individual nas telas. O tempo longe dos dispositivos eletrônicos pode ainda permitir uma mudança de hábitos que diminua bastante o uso excessivo dos aparelhos com acesso à internet pelas crianças e adolescentes, um comportamento que pode causar problemas cognitivos e sofrimentos, como ansiedade.

A Secretaria da Educação do Estado (Seduc) publicou na sexta-feira uma portaria sobre o tema, como forma de orientar a rede sobre a aplicação da lei. Um dos pontos importantes é alertar para professores e outros profissionais que trabalhem na escola evitar o uso dos dispositivos, a não ser para finalidades pedagógicas ou de gestão. Dar o exemplo também é essencial para o respeito às regras.

Tanto a legislação como a portaria do Estado também deixam claro que os aparelhos eletrônicos podem ser utilizados para questões de acessibilidade e inclusão, problemas que envolvam saúde ou outros tipos de emergência. Por isso trata-se de uma restrição, e não de uma proibição. Até porque os smartphones e outros aparelhos do gênero podem e devem ser usados como ferramentas pedagógicas, sob supervisão. 

A tecnologia faz parte do dia a dia da população e vive-se em uma sociedade cada vez mais digital. Cabe à escola potencializar o bom proveito de uma forma que colabore com uma aprendizagem conectada às exigências que os alunos terão na vida adulta e, ao mesmo tempo, instruir sobre os malefícios do uso desmedido.

A legislação federal, após nove anos de tramitação, foi aprovada em dezembro do ano passado pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República no mês passado. Já existiam algumas leis municipais e iniciativas de escolas particulares neste sentido. Para que a norma federal produza os bons efeitos esperados, é essencial que a comunidade escolar pactue as diretrizes e exista a compreensão e a colaboração dos pais e responsáveis. _

OPINIÃO RBS

08 de Fevereiro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Quando a inflação foi maior no Brasil?

Na quinta-feira, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração inapropriada - afirmou que "o povo" pode ajudar a baixar preços se recusando a comprar produtos que sobem mais -, a oposição surfou no deslize. A base aliada do atual governo reagiu afirmando que a inflação foi mais alta no mandato anterior, que os críticos apoiavam.

A inflação acumulada (não é mera soma) nos quatro anos do governo Bolsonaro foi de 26,9%, o que daria média aritmética de 6,74% ao ano. Em 2021, a inflação anual chegou a dois dígitos, o que não ocorria desde 2015. Nos dois anos do governo Lula, o acumulado é de 9,7%, com média aritmética de 4,84% ao ano.

Saliva presidencial abastece o câmbio

Tanto no governo anterior quanto no atual, a alta de preços teve e tem componentes externos - fora do controle da gestão - e internos, que poderiam ser administrados. E nos dois casos contou com abastecimento de saliva presidencial pela via do câmbio.

No governo Bolsonaro, a pandemia desorganizou as cadeias globais de suprimento e elevou preços no mundo todo.

No Brasil, a alta começou antes, estimulada pelo juro nominal mais baixo da história do real, de 2% ao ano. Na época, o então presidente não responsabilizou os consumidores, mas os donos de mercadinhos. Qual foi a contribuição do então presidente para a alta de preços? Declarações que inflaram o dólar.

No governo Lula, parte da alta da inflação ainda é herança da desarrumação da pandemia, parte decorre da aceleração das consequências da mudança do clima - ondas de calor e enxurradas prejudicam a produção de alimentos. Atribuir responsabilidade aos consumidores faz tão pouco sentido quanto culpar os mercadinhos. Qual é a contribuição do atual presidente para a alta de preços? Declarações que inflaram o dólar.

Então, se existem medidas capazes de amenizar a inflação, devem ser consideradas, em primeiro lugar, moderação nos discursos, em segundo, respeito ao tripé que evitou a volta da híper ao Brasil: responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e regime de meta de inflação. Nem intervenções abruptas nem artificialismos temporários - muito menos terceirizar responsabilidades - darão resultados estáveis e duradouros. _

Governo bolsonaro %

2019 4,31

2020 4,52

2021 10,06

2022 5,79

Média anual 6,74

governo Lula %

2023 4,62

2024 4,83

Média anual 4,84

Fonte: IBGE

Um resort para morar

Como será morar em um resort? Uma empresa gaúcha vai responder à pergunta. A Park Incorporadora está construindo um prédio em Canela no modelo home resort, jargão do mercado imobiliário para definir um empreendimento que pretende se parecer com um hotel cinco estrelas com prestação de serviços aos hóspedes - no caso, aos moradores.

O projeto do Green Park é avaliado em R$ 25 milhões e tem área social, incluindo piscina e academia, no terraço. Ao todo, são 32 unidades, de studios de 36 metros quadrados a apartamentos com duas suítes.

Em fase avançada da construção, já com metade das unidades vendidas, o Green Park tem entrega prevista para abril de 2026. O prédio ficará na região central de Canela. _

Mercado "pune" grandes lucros

Itaú Unibanco e Bradesco anunciaram grandes lucros na semana, mas as ações na bolsa caíram, ou escaparam por pouco. O Itaú lucrou R$ 40,2 bilhões em 2024, o maior valor já alcançado por uma instituição financeira na bolsa de valores, a B3, segundo a consultoria Elos Ayta. As ações oscilaram 0,18% para cima. O Bradesco ganhou R$ 19,6 bilhões - 20% acima de 2023, e as ações caíram 3,12%. A reação se deveu parte a detalhes dos resultados e parte à maior cautela sinalizada para este ano, à luz do juro em órbita. _

Nova ameaça de Trump faz dólar subir

O dólar fechou a semana em R$ 5,793, resultado de alta de 0,51% na sexta-feira. Duas notícias agitaram o mercado: nova ameaça de tarifa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e um possível reajuste do Bolsa Família para aliviar a alta dos preços dos alimentos.

Trump disse que quer anunciar tarifas de reciprocidade a diversos países em coletiva de imprensa com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba. Os alvos prioritários seriam Reino Unido e União Europeia, mas o presidente dos EUA já reclamou do nível das tarifas que o Brasil aplica a produtos americanos, o que deixa o país em suspense.

No cenário interno, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, disse em entrevista à Deutsche Welle que "está na mesa" um aumento do valor do Bolsa Família.

A medida teria impacto fiscal e poderia causar aumento de inflação, o que gera desvalorização do real. Já no final do dia, integrantes da equipe econômica disseram que não há discussão sobre reajuste do Bolsa Família.

Caso Trump cumpra a nova ameaça, concretiza a temida guerra mundial comercial. O aumento de imposto de importação tem potencial de abalar o câmbio por provocar inflação nos EUA e manter o juro alto por lá. _

GPS DA ECONOMIA

08 de Fevereiro de 2025
POLÍTICA E PODER

Governadores querem derrubar vetos de Lula

Governadores de Estados detentores das maiores dívidas com o governo federal vão trabalhar para derrubar pelo menos sete dos 11 vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Propag, novo programa aprovado pelo Congresso para os pagamentos dos passivos. A estratégia foi definida na sexta-feira, em uma reunião no Rio de Janeiro da qual participaram os governadores Eduardo Leite (RS), Cláudio Castro (RJ) e Romeu Zema (MG), além de secretários dos governos de Goiás e São Paulo.

Entre os vetos que os governadores vão trabalhar para derrubar está o que obrigaria o Rio Grande do Sul a depositar recursos a um fundo que beneficia outros Estados em melhor situação fiscal. Também está na mira o veto que impede a manutenção do contrato pelo qual a União paga débitos dos Estados com bancos internacionais e incorpora esse montante no valor total da dívida.

Tentativa de acordo

- Organizamos nossa visão sobre cada um dos vetos e vamos consolidar isso em um documento que será apresentado para a União, para o Congresso e para a sociedade como um todo, e vai ser utilizado como orientação dos votos que vamos buscar junto aos deputados e senadores - disse o governador, após a reunião no Palácio Guanabara.

Assinado acordo com o BNDES

O governador Eduardo Leite aproveitou a viagem ao Rio para assinar, com o BNDES, um acordo para estruturar plano estratégico de resiliência climática de médio e longo prazo.

Novo nome na praça

Reconhecido pela atuação firme na enchente e na revisão de beneficiários do Bolsa Família, o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira (PSDB), caiu nas graças de líderes empresariais. Os mais entusiasmados começaram a cogitá-lo como opção para concorrer ao Palácio Piratini pela direita.

Instituto Floresta assume reforma de escola na Capital

Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed), o Instituto Cultural Floresta (ICF) assumiu a reforma da Escola Professora Leopolda Barnewitz. O colégio, localizado na Cidade Baixa, funcionava como escola estadual até o final do ano passado, quando foi devolvido à prefeitura após sua municipalização.

Já em andamento, a reforma da escola está na primeira etapa, com a reabilitação da estrutura para abrigar alunos do Ensino Fundamental.

A segunda fase da reforma prevê a abertura de, no mínimo, cem vagas para a Educação Infantil, aliviando o déficit atual de cerca de 3 mil vagas nas creches. O investimento total da obra é de R$ 2 milhões, financiados pelo ICF por meio de doações privadas.

Jair Bolsonaro - mirante

A Defensoria Pública foi ao Tribunal de Justiça contra a lei conhecida como "Escola sem Partido" em Porto Alegre. O pedido é para que os efeitos sejam suspensos de imediato e, no mérito, para que seja declarada inconstitucional.

POLÍTICA E PODER


08 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O gargalo da falta de estrutura aeroportuária

As circunstâncias da queda do avião em São Paulo, que resultou na morte do advogado gaúcho Ma´rcio Louzada Carpena e do piloto Gustavo Medeiros, ainda estão sendo investigadas. Mas não é de agora que especialistas em aviação têm alertado sobre os gargalos na infraestrutura aeroportuária no Brasil. Essa preocupação já havia aparecido após a tragédia aérea em Gramado, que matou o empresário Luiz Cláudio Galeazzi e outras 11 pessoas.

Conforme o professor Lucas Fogaça, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Escola Politécnica da PUCRS, os aeroportos não têm se expandido muito - nem em número, nem em infraestrutura:

- A demanda aumentou muito no Brasil e hoje é um gargalo. Então, não conseguimos ter mais voos e mais competitividade entre as (companhias) aéreas, em parte, porque a infraestrutura não comporta.

Na Região Sudeste, o coração da aviação no Brasil, há um "problema de pátio".

- Se um aeroporto grande, tipo Guarulhos, Congonhas ou Galeão, fechar por meteorologia, por exemplo, as aeronaves têm dificuldade de achar lugar para alternar porque não há espaço para estacioná-las - afirma.

Fogaça destaca que o Brasil chegou ao limite da infraestrutura aeroportuária:

- Isso afeta a segurança de voo indiretamente. Força as empresas a operarem mais perto do limite.

Especialista em segurança de voo e examinador de pilotos da Agência Nacional de Aviação (Anac), Fábio Borille afirma que, para aviação regional e principalmente aviação particular, há déficit de lugares que tenham estrutura, procedimentos de chegada e saída, áreas de escape.

- O que acontece no Brasil: constrói-se um aeroporto em uma fazenda meio afastada e começa-se a morar em volta, como ocorreu em Congonhas ou com o Campo de Marte (de onde decolou o avião acidentado nesta sexta-feira). Não se consegue expandir para lado algum porque a cidade cresceu pra ali - explica.

Ele também destaca a necessidade de se pensar sobre infraestrutura que auxilie os procedimentos de voo por instrumentos.

- Em Canela, temos uma pista com obstáculos na cabeceira, árvores, etc. Se espichou a pista um pouco, mas não há como aumentar muito mais, porque há hotel, casas. Tinha-se operação noturna com balizamento, mas roubaram os fios. Falta de segurança.

Olhar para o RS

Assim como Fogaça, Borille também ressalta a falta de opções para pousos. Segundo ele, ao voar no RS durante a noite, caso ocorra alguma emergência, as opções de pouso são em Porto Alegre ou "volta", o resto é "quebra-galho".

- Eu já tive problema saindo de Ijuí, na época do Salgado Filho fechado ainda. Vim para Belém Novo, estava com teto baixo, chuva, etc. E tive de voltar para Florianópolis, mas não tinha nenhum aeroporto com uma infra que tivesse um abastecimento. Torres seria o melhor, mas não tem abastecimento. Nos Estados Unidos, tem bastante, as pistas são boas, não tem buraco, são largas, são compridas, tem abastecimento. _

O encontro entre dois Franciscos

Mais uma família gaúcha teve um encontro com o Papa Francisco, porém, desta vez, teve um sentimento diferente. Isso porque foi entre o pequeno Francisco Lavarda Lacourt, de nove anos, com o Pontífice. O fato ocorreu no primeiro sábado do mês, na Basílica de São Pedro.

De Santiago, na Região Central, Francisco, o gaúcho, está visitando a Itália, onde já está a prima de segundo grau Jéssica Crestani, que, apesar de ser de Porto Alegre, está morando há quatro meses no país.

Os dois e mais familiares foram a Roma com a meta de ver o Papa, mas não imaginavam que o encontro seria tão próximo.

- Era um evento fechado. Eu não tinha convite. Tinha uma fila enorme para tentar entrar, então conversei com Deus como: "Ou é agora ou nunca".

Para ela, Deus atendeu:

- Então, fui falar com um guarda para pedir informações e falei que queria ver o Papa. Ele puxou um ingresso e me deu. Então eu disse: "E a minha família?". Perguntou quantos eram. Falei que eram sete e ele se espantou. Olhou para outro colega e conseguiu os bilhetes.

Na Basílica, sentaram em um ponto onde o Papa passaria.

- Depois da celebração, levaram ele de cadeira de rodas pelo corredor. Quando passou, meu primo (pai de Francisco) disse ao Papa que o nome de Francisco era em homenagem a ele. O Papa virou, sorriu e entregou um doce. _

Entrevista  Antonio Weston
Chefe do serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre

"É a primeira vez que um gaúcho vai a um evento desses"

O chefe do serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre, Antonio Weston, foi convidado pela Associação Internacional de Câncer Gástrico para participar do Consenso Internacional, evento que reunirá 30 especialistas da área na Itália em outubro.

Qual o papel da associação?

É a entidade que normatiza e determina as diretrizes para o tratamento do câncer de estômago no mundo. A associação começou no Japão e tem sedes no mundo inteiro. Ela determina as diretrizes e as normativas do tratamento da doença. A cada dois anos, um encontro é realizado em um país. Em 2025, será na Itália.

O que é decidido no Consenso Internacional?

As diretrizes principais do tratamento da doença. Um exemplo: um doente tem um diagnóstico de câncer de estômago. Como ele vai ser tratado? Com cirurgia ou com quimioterapia? Quem determina isso é a Associação Internacional de Câncer Gástrico. E isso sofre inovações à medida que o tempo vai passando. Para isso que é realizado o consenso.

Por que o senhor foi escolhido para participar?

É resultado de uma trajetória de 25 anos. Comecei em 1999, na Associação Brasileira de Câncer Gástrico. Fui presidente entre 2019 e 2023. Já somos referência internacional na doença, no tratamento e no conhecimento científico, mas é a primeira vez que sou convidado para um consenso dessa magnitude. É o principal evento do mundo na área.

Qual a importância de o RS estar presente?

É o Rio Grande do Sul e o Brasil participando. Somos os únicos dois médicos (além de Antonio Weston, há um profissional de São Paulo que participará do encontro). Para mim, é uma honra. Estarão lá os principais experts no mundo. É um reconhecimento internacional no tratamento dessa doença. É a primeira vez que um gaúcho vai a um evento desses. _

Cartões de auxílio material escolar

Os cartões de Auxílio Material Escolar da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed) serão distribuídos às direções das escolas da rede municipal de ensino na quarta-feira. A partir de quinta-feira, pais e responsáveis já poderão retirar o item nas escolas.

Os cartões de débito, emitidos pelo Banrisul, contêm valores que variam de R$ 124,04 (berçários 1 e 2) até R$ 156,64 (anos finais - Ensino Fundamental). 

INFORME ESPECIAL

sábado, 1 de fevereiro de 2025



31/01/2025 - 14h38min
Martha Medeiros

Viajar é fuga, sim. Fuga do relógio, do supermercado, dos sapatos de salto

Em ruas estrangeiras, a coragem confirma que é a minha melhor parceira. Partir é de costas, voltar é de frente, como escreveu Caio Fernando Abreu.

Jamais viajei sem carregar a sensação de estar causando perturbação à vida de alguém que ficou. Quase sempre, minha mãe. Eu tinha 24 anos quando resolvi conhecer a Europa. Minha primeira viagem para outro continente, levando mil dólares em dinheiro, nomes de amigos de amigos anotados num papel e um passaporte estalando de novo. 

Seriam dois meses sem roteiro definido. Não era uma viagem à Lua, nem mesmo uma mudança definitiva, mas soube que, depois que eu cruzei o portão de embarque do aeroporto, minha mãe teve que ser amparada, mal conseguiu caminhar de volta para o carro. Sua garota havia sido convocada para a guerra.

A família preferia que eu estivesse preparando o enxoval, mas eu tinha férias vencidas e férias a vencer, e negociei com meu chefe a junção desses dois períodos. Ele, camarada, garantiu que manteria meu emprego na volta. Então lá fui eu, deixando aquele rastro de tragédia atrás de mim.

Viajar é fuga, sim. Fuga de uma rotina cuja repetição faz parecer que envelhecemos sem sair do lugar. Fuga de nossas reações automáticas diante dos desconfortos da alma. Fuga dos passos previsíveis até chegar à morte. Fuga do relógio, do supermercado, dos sapatos de salto, das aulas de ginástica, dos parentes, das 24 horas supersônicas de cada dia, bom dia e boa noite alternando-se a uma distância de minutos.

Ruas estrangeiras erguem minha cabeça, eu que no dia a dia caminho olhando para o chão, temendo fissuras na calçada. Ao viajar, contemplo obras de Monet em plena tarde de quinta-feira. Dou um mergulho não planejado no mar. Fico bonita usando um vestido de uma cor que achei que não combinava comigo. Descubro que sou simpática com estranhos. Não sinto fome ao meio-dia. Atravesso avenidas como se elas fossem portais, todos os caminhos levam a um lugar que nunca fui, e a coragem confirma que é a minha melhor parceira. Estou tão dentro de mim que não estou ao alcance de ninguém.

Não que desgoste de estar com as pessoas. Conviver é uma aventura; conversar, uma façanha. Mas estar a sós é um prazer quase lisérgico. Sei que uma solidão permanente e indesejada desvirtuaria esse meu discurso e colocaria em pauta um drama que desconheço, mas é boa a sensação de que minha existência não necessita ser confirmada pelos outros de hora em hora. Eu tenho certeza de que existo muito, e existo bem.

Voltar é a confirmação de que os outros importam e de que sou capaz de abdicar de mim para me acomodar a um comportamento padrão. Voltar é sempre uma declaração de amor. Partir é de costas, voltar é de frente, como escreveu Caio Fernando Abreu. Tenho lido muito neste verão, enquanto economizo para mais uma fuga malsucedida. Não adianta, eu sempre volto.


01 de Fevereiro de 2025
SARA

Sushi em casa

Rota Canoas/Porto Alegre de uma delícia da culinária japonesa - O Kampeki Sushi, que leva muita gente de Porto Alegre até Canoas há pelo menos cinco anos para degustar comida japonesa de muita qualidade, está na capital gaúcha com telentrega.

Testei a novidade há poucas semanas e foi um sucesso lá em casa. O contato foi feito por telefone e o produto chegou fresco, superbem acondicionado e com um sabor delicioso. Destaque para a saladinha sunomono da marca - sou muito fã.

A tele em Porto Alegre funciona de terça a domingo das 18h às 23h pelo WhatsApp (51) 99747-4567. Os pedidos também podem ser feitos pelo site deliverydireto.com.br/kampekisushi-portoalegre. Perfil nas redes: @kampekisushi. _

Osteria em Porto Alegre

Cardápio para celebrar a boa mesa e o verão

Arte no domingo - Happy hour Agenda especial na Fundação

Fevereiro com novidades

E neste domingo, feriado em homenagem à padroeira da Capital, Nossa Senhora dos Navegantes, tem presente para quem estiver pela cidade: a Fundação Iberê terá entrada gratuita.

São quatro exposições para visitar: Iberê 110 Anos - Minha Restinga Sêca, Iberê Camargo - Território das Águas, 35ª Bienal de São Paulo - Coreografias do Impossível - Itinerância Porto Alegre e Un lento venir viniendo. Capítulo III, com obras do colecionador argentino Alec Oxenford.

A Fundação Iberê fica na Avenida Padre Cacique, 2000, bairro Cristal. Domingo estará aberta das 14h às 18h. Confira mais sobre as exposições em iberecamargo.org.br. 

Um dos mais tradicionais e premiados restaurantes de Porto Alegre, o tailandês Koh Pee Pee traz durante todo o mês de fevereiro o Menu Happy Hour.

De segunda a sábado, das 18h30min às 19h30min, o local oferecer dois drinks - ou um baldinho de cerveja com quatro unidades - e uma entrada, com valor fechado de R$ 99.

Os drinks têm versões com e sem álcool. São oferecidas no Happy entradas do cardápio como Poh Pia, Sa-teh e Krathong Thong. Há opções também para vegetarianos

O Koh Pee Pee fica na Rua Schiller, 83, Bairro Rio Branco. Reservas pelo telefone (51) 3333.5150 ou pelo site kohpeepee.com.br. Perfil nas redes sociais: @kohpeepeethairestaurante. 

SARA

01 de Fevereiro de 2025
DRAUZIO VARELLA

O equívoco do IMC

Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade

O critério mais aceito para definir obesidade se baseia no IMC, calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Como consideramos obesas as pessoas com IMC igual ou superior a 30, essa faixa inclui um grupo muito heterogêneo, que vai dos que têm obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35) até aqueles com obesidade grave (IMC acima de 40), alguns dos quais podem pesar 200 quilos.

Se rotularmos como doentes todos os que caem nessa faixa tão diversificada, teremos cerca de 20% dos brasileiros e 40% dos norte-americanos, por exemplo. A continuar nesse ritmo, ser considerado saudável ficará restrito a uma minoria.

Acho um equívoco usar o IMC como critério único para separar pessoas com saúde daquelas enfermas. Primeiro, porque, entre outras limitações, o IMC não leva em conta sequer fatores anatômicos como a estrutura osteomuscular. Quem tem ossos largos, braços e pernas grossas tende a ter IMCs mais elevados do que os longilíneos. Parâmetros como circunferência abdominal são cada vez mais valorizados pelos especialistas, para avaliar o risco cardiovascular.

Segundo, porque o IMC não reflete a atividade física. Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade. Com frequência encontro nas maratonas corredores corpulentos que poderiam ser chamados de gordos. Faz sentido dizer que são doentes mulheres e homens capazes de correr 42 km?

Você, leitor, dirá que a obesidade traz com ela hipertensão arterial, diabetes, derrames, ataques cardíacos e outros agravos. É verdade, a incidência desses e de outros males é mais alta em obesos. Mas estaria justificado classificar a obesidade como uma patologia médica no caso dos que não apresentam nenhuma dessas complicações?

Claro, a obesidade é uma condição ou fator de risco para essas doenças, mas não devemos nos referir a ela - e a outros fatores que aumentam riscos de adoecer - como se fossem estados mórbidos, quando na realidade não o são.

Da mesma forma, é inadequado chamarmos de doentes pessoas com pressão alta ou com taxas de glicose elevadas ou infectadas pelo HIV, que não apresentam sintoma nenhum. Colocar-lhes rótulos de hipertensas, diabéticas ou aidéticas não as ajuda, esses termos são preconceituosos e discriminatórios, enquadram gente saudável na categoria dos doentes.

Explico melhor. Mesmo quando não havia tratamento antiviral para a infecção pelo HIV, as pessoas podiam conviver com o vírus por 10 anos sem manifestar sintomas. Enquanto durava esse período eram saudáveis, só deixavam de sê-lo quando se instalavam as infecções oportunistas que as levariam à morte.

Posso dizer que está doente alguém com pressão arterial de 14 x 10 ou 15 x 11 absolutamente assintomático? Ou com glicemia de 160, sem nenhum sintoma de diabetes? Nesses casos, hipertensão e diabetes são condições de risco para desenvolver ataques cardíacos, AVCs, insuficiência renal e perda de visão que poderão surgir em meses ou anos ou nunca. Enquanto assintomáticas, pressão alta e glicemia elevada não são doenças, mas fatores de risco.

Você, leitora, deve estar pensando que chamar de doença ou de condição é uma questão puramente semântica. Os anos de medicina me ensinaram que não é.

Imagine que examino um homem de 45 anos que ganhou 20 quilos. Meço a pressão: 15 x 10. Faço o teste para glicemia: 150. Se parto do princípio de que ele é hipertenso e diabético, faço o diagnóstico de duas doenças crônicas, incuráveis. Ele sai da consulta com uma prescrição de hipotensores e hipoglicemiantes que deverá tomar pelo resto dos seus dias. É razoável tratá-lo da mesma maneira do que outro com pressão de 18 x 12 e glicemia de 350?

Se parto do princípio de que ele ainda não está doente, mas numa condição que o predispõe a complicações eventualmente graves, existe esperança. Antes de prescrever medicamentos, vale a pena tentar motivá-lo a perder peso, fazer exercícios, melhorar a dieta. Tentar convencê-lo de que esse esforço poderá livrá-lo da medicação e dos efeitos colaterais.

Você, colega descrente, dirá: é tempo perdido, a gente fala, mas ninguém muda o estilo de vida. Não seja pessimista, alguns mudam. 

Drauzio Varella

01 de Fevereiro de 2025
J.J. CAMARGO

O que aprendemos para não esquecer

Qualquer lição pode ser boa ou ruim. A sabedoria está em reconhecer o que aproveitar e o que repelir. Se, como professores, tivéssemos a consciência de que estamos sendo continuamente observados com aquela ânsia que todo aprendiz tem de copiar atitudes antes de adquirir o senso crítico que só virá com a maturidade, certamente seríamos melhores modelos. E ficaríamos menos ansiosos se, tempos depois, um ex-aluno, num encontro fortuito, começasse a conversa com esta frase assustadora: "Professor, preciso lhe confessar que nunca vou esquecer aquele dia em que o senhor?.". E não precisaríamos fazer aquela pausa respiratória na expectativa de que a história fosse boa de lembrar. Porque é deprimente quando alguém resolveu arquivar justamente o que merecia ter sido cremado.

Seria um notável ganho de tempo se aprendêssemos muito cedo, e sem fantasia, que qualquer lição pode ser boa ou ruim, e que sabedoria é reconhecer o que aproveitar ou repelir.

Lembro da força do mau exemplo ao acompanhar as instruções de um oncologista explicando ao velho agricultor americano que aquela lista enorme era de analgésicos. Ao ouvir do paciente que achava que não ia precisar tanto remédio porque se considerava forte para dor, o médico repreendeu-o: "Quando esse tumor chegar nas costelas, o senhor vai descobrir o que é dor".

Chocado com tanta insensibilidade, reclamei, timidamente como recomenda o convívio civilizado, que aquele velhinho (que tinha a cabeça parecida com a do meu pai) provavelmente não dormiria naquela noite. E o professor, tranquilamente, me respondeu: "A minha função é prescrever os analgésicos, colocá-lo para dormir é responsabilidade dos benzodiazepínicos". Poucas vezes me senti tão seguro do tipo de médico que eu não queria ser.

No outro extremo (as lembranças inesquecíveis moram nos extremos), a minha experiência mais marcante, pela delicadeza e precocidade, ocorreu quando, ainda no quinto ano da graduação, recebi do residente de pneumologia a incumbência de fazer a ficha de admissão de um peão de estância, internado na enfermaria de Pavilhão Pereira Filho. Depois das perguntas básicas, ele se pôs a contar a história das suas queixas de um jeito tão original que me fascinou, e isso é tudo o que lembro daquele arremedo de anamnese.

Mas nunca esqueci do pedido que me fez quando lhe estendi a mão para me despedir: "Eu quero me tratar com o senhor, porque foi o único doutor, até hoje, que me escutou!".

Metade agradecido, metade constrangido, não fui capaz de confessar que eu não era formado, e que mais lhe deixara falar por ainda nem saber o que perguntar.

De qualquer modo me encantei com a ideia de um dia vir a ser o médico que ele supôs que eu já fosse. 

J.J. CAMARGO


01 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Escolhendo os times na escola

Se eu pudesse voltar atrás, não participaria dos jogos da exclusão, dos jogos da rejeição da minha infância.

Teria boicotado, feito greve, discursado contra. Há dores que demoram para doer. A consciência social nem sempre é pontual, nem sempre está desperta desde cedo. Eu não previa os efeitos danosos para tantos outros meninos como eu.

Uma vez que eu não arcava com o preconceito, não entendia a sua influência perniciosa, o seu papel desagregador, o seu exemplo antieducacional. Nas aulas de educação física, o professor indicava dois colegas para escolher os times. Cada um desfrutava do direito de chamar, alternadamente, integrantes para sua equipe.

Eu sempre fui boleiro, e terminava sendo um dos primeiros recrutados. Não penava como alvo da perseguição. Dispunha da confiança imediata dos meus semelhantes, então me calava.

Depois que os melhores eram convocados, numa disputa de preferência por quem havia mostrado habilidade nas peladas do recreio, acontecia um bizarro concurso para evitar os piores no próprio time.

Os capitães se digladiavam para não contar com os "pernas de pau" em sua formação. Xingavam publicamente os que sobravam no final da seletiva. Disparavam desaforos para crianças indefesas que estavam ali justamente para aprender futebol. Crianças que não tinham nenhuma obrigação de conhecer os fundamentos do esporte.

- Pode ficar, jogamos com um a menos.

- Ele não, é muito ruim.

- Nem colocando de goleiro.

- Ele não presta nem como poste.

Qual o propósito da escola senão dar chance para quem nunca entrou em campo? Mas vivemos num país segregador, pulando etapas, em que é difícil ensinar o básico. Parece que todo mundo deve nascer sabendo.

Assim muitos jovens perderam a vontade de comparecer a interações coletivas, postos de lado já nos ensaios e treinos da vida.

Eu queria pedir desculpa retroativa a todos que foram zombados nas peneiras estudantis, apelidados de "perebas" ou de "babas", ofendidos pela sua aparência, num bullying perigoso sobre obesidade e demais características físicas.

A todos que não receberam uma mísera oportunidade, um único incentivo, a proteção do acolhimento, o cuidado para se entrosar pouco a pouco, sem a hierarquia sumária de valor, sem o julgamento prévio.

Lamento a minha passividade. Tão obcecado no meu desempenho, focado no meu individualismo, egoísta nos dribles, feliz com a fragilidade do adversário, eu não via na época o quanto eles sofriam com qualquer erro, qualquer passe torto, qualquer tiro a gol longe da meta, defenestrados por antecipação. Atuavam sob o signo do pânico e da opressão, para confirmar expectativas e agouros. Não se encontravam relaxados ou motivados. Experimentavam um terrorismo psicológico desmedido. Não usufruíam de paz para tentar, falhar, retomar, condenados a provar o engano nos primeiros minutos de bola rolando. A indisposição reforçava os estereótipos, os rótulos, os recalques.

Já começávamos a aula derrotados moralmente. _

CARPINEJAR


01 de Fevereiro de 2025
ARTIGO

O cinema brasileiro ainda está aqui

Comemorar as indicações de Ainda Estou Aqui ao Oscar vai além de celebrar a memória do que não pode ser esquecido e de exportar a sensibilidade artística brasileira para o mundo. Por meio da conquista que resgata a autoestima cultural do país temos um movimento que promete se estender para além do dia da cerimônia de premiação, que é o reconhecimento de uma área com incontornável impacto social e econômico no Brasil: o cinema. O poder da expressão do ator Selton Mello, que vibrou afirmando que "Nós entramos para a história. Ainda estamos aqui: Eunice, Rubens, nós e vocês", é hoje compartilhada por cada um de nós que fazemos parte da indústria cinematográfica.

Atuando na cadeia produtiva do cinema como professora, vibro junto com Selton e com todos os meus colegas pela relevância social e histórica que ganha destaque mundial. A obra, que humaniza Eunice Paiva, transformando sua dor em resistência, não só resgata a memória de Rubens Paiva, mas alerta sobre a importância de preservar a democracia e combater o apagamento histórico, se tornando uma reflexão sobre o passado e uma advertência para o futuro.

Tecnicamente, além da direção e da atuação impecável de Fernanda Torres, o filme é fortalecido por um roteiro sólido, direção de fotografia que nos transporta para os anos 1970 e um elenco talentoso, justificando as indicações ao Oscar. Mas mais importante do que qualquer prêmio é o apoio dos brasileiros ao cinema nacional, essencial para que nossa indústria siga gerando filmes de qualidade.

Na sala de aula, o filme vai se transformar em um ensinamento poderoso. Certamente, inspira futuros cineastas a manterem viva a chama da resistência e a lutarem por uma produção nacional relevante. O maior prêmio é a transformação que essas histórias proporcionam - não apenas nas telas, mas também nas mentes e corações de quem assiste a elas, de quem dedica a vida atuando nesta indústria, que gera milhares de empregos e movimenta a economia criativa. _

Helena Stigger - Professora e coordenadora da graduação em Produção Audiovisual da Escola de Comunicação