sábado, 22 de março de 2025



22 de Março de 2025
OPINIAO DA RBS

O deboche do orçamento

O orçamento da União para 2025, aprovado na quinta-feira no Congresso, com três meses de atraso, é uma síntese da composição de forças que reina em Brasília e um triste retrato de um país em que as conveniências políticas se sobrepõem aos interesses dos brasileiros. Do impasse que postergou a votação até o conteúdo em si, a peça expressa a dominância do centrão diante de um Executivo desarticulado e sem capacidade para equilibrar o jogo no Legislativo, além da desfaçatez de um cálculo eivado de irrealismos que prevê um superávit de R$ 15 bilhões.

Indiferente às verdadeiras prioridades nacionais, o Congresso não abriu mão de pulverizar R$ 50,4 bilhões em emendas. Enquanto isso, faltam recursos para iniciativas estruturantes, como as de infraestrutura, essenciais para competitividade da economia brasileira. É dinheiro que acaba drenado para obras paroquiais e projetos inconsistentes, muitas vezes pessimamente executados. Isso quando não viram assunto de polícia. Os cerca de 80 inquéritos abertos para investigar malfeitos com o dinheiro alocado por congressistas que tramitam no STF são bastante ilustrativos.

O poder desse bloco de siglas que, sem linha programática firme, aderem a qualquer governo, desde que bem recompensadas, se materializa também no direcionamento das verbas para os ministérios. Das quatro pastas que mais foram vitaminadas com recursos em relação ao exercício anterior, três - Esportes (270% de crescimento), Turismo (180%) e Integração e Desenvolvimento Regional (79%) - são comandadas por membros do centrão. À gestão Luiz Inácio Lula da Silva, com a popularidade em queda livre, resta aceitar as chantagens para assegurar vitórias em votações essenciais ao Executivo e, com mais verbas, tentar garantir o aluguel de ao menos parte das siglas fisiológicas na campanha eleitoral de 2026.



22 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Juro alto é ameaça para dívida pública

Na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Banco Central (BC) vai cumprir a missão de levar a inflação para a meta, mas terá de fazer isso de maneira "inteligente". A expressão deixou economistas intrigados, mas é bom lembrar que, além de frear a atividade econômica, a alta do juro - única ferramenta que o BC tem para barrar repasses - pressiona a já pesada dívida pública do Brasil.

Conforme projeção do próprio BC feita em novembro passado, cada ponto percentual de aumento no juro básico eleva a já pesada dívida pública do Brasil em cerca de R$ 55 bilhões. Isso significa que só o choque monetário iniciado em dezembro vai adicionar R$ 165 bilhões aos R$ 7,3 trilhões de pendências acumulados até o final do ano passado.

É também por isso que há necessidade de graduar a elevação da taxa básica com cuidado, com atenção à máxima de que a diferença entre remédio e veneno é a dosagem. O aumento da dívida provoca o mesmo efeito que o aumento do juro pretende anular: pressiona a inflação.

Esse é princípio básico do temor de dominância fiscal que inquieta um número crescente de economistas. E é o motivo pelo qual o melhor, a essa altura, é que o juro alto faça o efeito esperado: esfrie a atividade econômica. Caso contrário, o governo estaria gastando dinheiro com maior remuneração dos credores sem resultado.

E é por isso, também, que agora o mercado questiona de maneira mais incisiva medidas do governo Lula que resultam no efeito contrário, seja por aumento da renda disponível ou incentivo ao consumo. Ao neutralizar ao menos em parte o resultado desejado do juro alto, elevam o risco da tal de dominância fiscal. No início do ano, Haddad falou em "calibrar o crescimento". É disso que o país precisa agora.

O que é dominância fiscal

Situação em que o desequilíbrio das contas públicas é tão grande que torna sem efeito a política monetária - executada por meio da graduação do juro. Mais ainda, significa que os aumentos da taxa básica adotados para frear a atividade econômica e, assim, tentar controlar a alta de preços, produzem consequência oposta: aumentam a inflação. _

RS vai receber R$ 400 milhões em apoio via operação do Itaú

Uma operação internacional de R$ 1,4 bilhão do Itaú Unibanco, em parceria com a IFC (International Finance Corporation, integrante do sistema do Banco Mundial) e o IDB Invest vai destinar R$ 400 milhões ao financiamento de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) do Rio Grande do Sul para a reconstrução econômica depois da enchente de maio de 2024.

- Estamos comprometidos em apoiar nossos clientes na transição para uma economia de baixo carbono, fornecendo o capital necessário para impulsionar o desenvolvimento sustentável e enfrentar os desafios climáticos cada vez mais presentes - afirma Daniel Goretti, diretor da Tesouraria do Itaú Unibanco.

Os recursos para o Estado são parte do maior volume, de R$ 1 bilhão, que será destinado a MPMEs de todo o Brasil. Outros R$ 400 milhões serão aplicados em projetos de preservação da biodiversidade dentro do Programa Reverte, iniciativa da Syngenta da qual o Itaú BBA é o parceiro financeiro.

O objetivo é dar condições técnicas e financeiras para a conversão de áreas de pastagens degradadas em áreas agriculturáveis. O Reverte é considerado a maior iniciativa privada de apoio à conversão de áreas degradadas, contribuindo para o crescimento da produção agropecuária sem expansão da fronteira agrícola sobre áreas de vegetação nativa.

O Itaú Unibanco lançou títulos que seguem os critérios de finanças sustentáveis do banco, alinhados aos princípios de títulos verdes e sociais da International Capital Market Association (ICMA) e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. _

R$ 5,717

foi fechamento do dólar na sexta-feira, resultado de alta de 0,72%. Depois de sete quedas em sequência, a cotação voltou a subir sob temor de imposição de tarifas por Donald Trump, com início previsto para abril.

Gaúcha no rumo da internacionalização

Um acordo vai conectar uma empresa gaúcha à gigante da tecnologia HP. Com sede em Porto Alegre, a Trinca fez parceria com a agência espanhola Nacar Design, que desenha produtos da HP. Focada em tecnologia e design, vai entrar com a parte digital e de desenvolvimento na cooperação com a Nacar. Para a empresa gaúcha, que tem escritório em Barcelona, na Espanha, o acordo é mais um passo em sua internacionalização. Neste ano, pretende expandir no mercado americano, também com escritório próprio. Prevê crescer 20% em 2025. _

Conforme a bolsa de valores, a B3, em 16 de dezembro, a posição comprada em dólar (aposta contra o real) de investidores estrangeiros era de US$ 77,6 bilhões. Na quarta-feira, havia recuado para US$ 42,2 bi. Caiu US$ 35 bi.

GPS DA ECONOMIA


22 de Março de 2025
ACERTO DAS TUAS CONTAS - Giane Guerra

Rendas isentas de IR em caso de doença

Como muitos aposentados seguem trabalhando, surge a dúvida se há isenção ou não de Imposto de Renda no caso de doenças graves também para esta renda extra.

O superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Altemir Melo, esclarece que somente rendimentos de aposentadoria, pensão ou reserva/reforma (militares), inclusive o 13º, das pessoas portadoras de doenças graves têm direito à isenção. Ou seja, as demais rendas, como aluguéis ou remunerações, são tributáveis.

Segundo ele, havia discussão jurídica sobre o assunto. Porém, o tema foi pacificado por uma decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF) em uma ação direta de inconstitucionalidade.

As doenças precisam ser comprovadas por atestados, laudos ou documentos médicos. O pedido de isenção do IR é gratuito, pode ser realizado pela internet e o segurado só precisa comparecer ao INSS caso seja chamado para uma perícia médica. _

As que são aceitas

Moléstia profissional

Tuberculose ativa

Alienação mental

Esclerose múltipla

Neoplasia maligna (câncer)

Cegueira

Hanseníase

Paralisia irreversível e incapacitante

Cardiopatia grave

Doença de Parkinson

Espondiloartrose anquilosante

Nefropatia grave

Hepatopatia grave

Estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante)

Contaminação por radiação

Síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids)

Juro alto deixa o financiamento caro e retrai a venda de imóveis. Lembre-se: mercado enfraquecido abre brecha para quem guardou dinheiro e pode dar uma entrada maior ou comprar à vista. Aproveite esta vantagem na negociação.

13º do INSS

Antecipar novamente o pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) será, sim, avaliado pelo governo em 2025. À coluna, o Ministério da Previdência informou que o assunto será debatido - portanto, não há definição no momento. A nota reforça que depende de decreto. Quem decide é a presidência da República e a Casa Civil. A votação do Orçamento da União para 2025 abriu o espaço para o assunto andar. A dúvida começa novamente a ser enviada por leitores, já que a primeira metade do benefício, em 2024, foi depositada em abril e a segunda em maio. O pagamento do 13º pelo INSS tradicionalmente ocorria no segundo semestre. Porém, desde 2020 - início da pandemia -, vem sendo antecipado para a primeira metade do ano. _

Coelhinho pesou a mão

Supermercados gaúchos receberam das indústrias ovos de Páscoa, em média, 25% mais caros do que no ano passado. O repasse ao consumidor depende da estratégia de cada loja. O aumento é seis vezes a inflação do período e supera até o salto do chocolate, que é o principal motivo para este aumento. O doce está mais caro devido à alta no preço do cacau.

Como a coluna explicou no sábado passado, há uma escassez global do fruto nos últimos quatro anos, provocando recorde nas cotações internacionais. Doenças e mau tempo afetaram colheitas na Costa do Marfim e em Gana, que respondem por mais de 60% da produção mundial. Além disso, muitos produtores foram para cultivos mais rentáveis. O preço maior fez vários voltarem, mas o cacaueiro demora três anos para produzir, ou seja, deve melhorar o preço em 2027 apenas. _

A moda de 2ª mão Consumidor verde

O contrário do fast fashion (moda rápida, com peças de pouco uso) são os produtos que duram bastante tempo, utilizados por anos, doados em boas condições ou revendidos. Brechós ganham espaço lentamente, inclusive entre jovens que querem economizar e/ou ter um consumo mais sustentável. Ainda são mais comuns em bairros, lojas de rua, mas recentemente abriu um no Shopping Total. Na internet, plataformas também tornaram mais fácil vender e comprar usados.

A Confederação Nacional do Comércio perguntou aos moradores do Sul sobre como escolhem entre produto novo e usado. _

Moradores do Sul

As respostas %

Compra o novo, mesmo que mais caro 44

Compra o usado, principal- mente por ser mais barato 28

Compra o usado, pelos impactos ambientais da produção do novo 22

Não sabe 6

ACERTO DAS TUAS CONTAS

22 de Março de 2025
INFORME ESPECIAL -Rodrigo Lopes

Corte, surpresa e garantia de repasse ao setor cultural

Foi com surpresa que o Ministério da Cultura recebeu a informação do corte de 84% no orçamento da Política Nacional Aldir Blanc, de apoio ao setor cultural. Inicialmente, estavam previstos R$ 3 bilhões para a execução do mecanismo de incentivo à cultura. No novo texto do projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2025, aprovado no Congresso na quinta-feira, o valor caiu para R$ 478 milhões.

- Fomos surpreendidos com esse corte realizado pelo relator, mas, rapidamente, fomos entender quais eram os mecanismos possíveis que tínhamos para fazer essa recomposição - afirmou à coluna o secretário-executivo do ministério, o gaúcho Márcio Tavares.

O secretário contou que a ministra Margareth Menezes já discutiu com Rui Costa, da Casa Civil, formas de recuperar o recurso. A promessa é de que o governo federal vai garantir, a despeito do valor que está na rubrica hoje, o montante necessário.

Conforme Tavares, o governo está comprometido em suplementar os recursos, mesmo que tenha havido esse corte na rubrica pelo Congresso. A Lei Aldir Blanc é uma despesa de caráter obrigatório.

- Por isso, nós, imediatamente, saímos com um comunicado não só do Ministério da Cultura, mas do Ministério da Cultura e da Casa Civil, a ministra Margareth e o ministro Rui se falaram, garantindo a integralidade do repasse. Você pode ter certeza, esse ano, mesmo com o Congresso tendo feito uma modificação na lei, o governo federal vai garantir a integralidade do repasse, conforme o regramento que estabelecemos - afirmou.

Alcance de até 97% dos municípios

Tavares avalia que será possível chegar aos R$ 3 bilhões que a lei determina.

- Vamos precisar fazer uma aferição, ver todo mundo que for executar, mas podemos chegar - disse.

Os recursos fomentam as atividades de pequenos produtores, grupos culturais e artistas, atingindo 97% dos municípios brasileiros. Ou seja, a redução, se confirmada, tem forte impacto no setor cultural como um todo. _

Doutor em Relações Internacionais, o professor gaúcho Ricardo Seitenfus doou sua rica biblioteca ao Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo (USP). São 61 caixas, com quase uma tonelada em obras, que incluem o acervo sobre o Haiti, o mais completo da América Latina.

"Tour comunista" na UFRGS

O coletivo Faísca Revolucionária, grupo nacional que conta com participantes na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), planeja realizar neste sábado um "tour comunista" pela instituição.

A ideia é recepcionar os novos alunos e "convidar pra conhecer a UFRGS através de uma perspectiva marxista", além de contar histórias de lutas dos estudantes e trabalhadores da universidade.

Conforme Giovana Pozzi, estudante de História na UFRGS e membro da Faísca Revolucionária, essa será a terceira edição do evento em Porto Alegre. Segundo a estudante, mostrar "a perspectiva marxista" significa apresentar o olhar dos trabalhadores e dos estudantes, que fazem a universidade funcionar todos os dias. A organização do tour explica que o coletivo é totalmente independente da reitoria, sem ligações políticas.

À coluna, o setor de comunicação da universidade informou em nota que "a UFRGS não tem participação institucional nessa atividade. O corpo estudantil possui autonomia para realizar eventos, desde que respeite os princípios da universidade". _

Falcão discursa na ONU

Ídolo do Inter e eterno "Rei de Roma", Paulo Roberto Falcão discursou na quinta-feira em um dos lugares mais importantes do mundo, o plenário da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

O ex-jogador falou sobre sua experiência, trajetória vitoriosa e carreira no programa Change the World - New York Model United Nations.

O evento é organizado pela Academia de Embaixadores para Mudar o Mundo (Diplomatic and Change the World Academy), formada por estudantes de todos os continentes.

No primeiro dia do encontro, na quinta-feira, mais de 4 mil jovens de 140 países estiveram reunidos para pensar como transformar o planeta em um lugar melhor. Falcão falou sobre o futebol como um elemento capaz de propagar lições de liderança, resiliência e paixão.

- Fiquei emocionado de poder ser escutado por uma geração que está preocupada em se preparar para melhorar o mundo. Também fiquei muito feliz em poder contribuir com as lições que o futebol pode dar. Liderança, resiliência, união, o que a gente vive dentro de campo com vitórias e derrotas deixa muitos ensinamentos - disse Falcão à coluna, direto de Nova York.

O evento ocorre há 25 anos. Além de estudantes, reúne pesquisadores, embaixadores, ex-ministros de Estado, personalidades do esporte e funcionários do alto secretariado da ONU. O ex-presidente dos EUA Bill Clinton, por exemplo, abriu as conferências de 2018 e de 2022.

Falcão participou da cerimônia na sede das Nações Unidas acompanhado da esposa, a comunicadora, apresentadora do Jornal do Almoço e colega Cristina Ranzolin. _

Dia Mundial das Geleiras

Para aumentar a conscientização sobre o papel que as geleiras, a neve e o gelo desempenham no sistema climático, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2025 o Ano Internacional da Preservação das Geleiras. A entidade também estabeleceu o 21 de março como o Dia Mundial das Geleiras. Na sexta-feira, foi a primeira vez que em que a data foi comemorada.

Em comunicado, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) - órgão ligado à ONU - afirmou que a data serve para alertar "que o derretimento acelerado das geleiras corre o risco de desencadear uma avalanche de impactos em cascata nas economias, ecossistemas e comunidades".

Segundo a instituição, cinco dos últimos seis anos registraram o recuo mais rápido das geleiras já observado na história - entre 2022 e 2023, ocorreu a maior perda de massa de geleiras. Conforme dados da OMM e do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras (WGMS), atualmente há mais de 275 mil geleiras no mundo, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados. Elas armazenam 70% dos recursos globais de água doce. 

INFORME ESPECIAL

sábado, 15 de março de 2025


14/03/2025 - 13h30min
Martha Medeiros

Que desalento é este que está intoxicando jovens que deveriam estar em seu auge?

Não que tivéssemos muitas certezas na idade deles, mas a gente ia em frente com dúvida e tudo, o pulso latejava.

Não havia zumbis atrás de telas, buscávamos excitação de verdade.

Espero estar enganada, mas meu senso de observação, aliado a algumas matérias que andei lendo, têm me induzido a pensar que pessoas maduras, também conhecidas como velhas, continuam empolgadas com a vida, fazendo planos para o futuro e transando bem, obrigada, enquanto os jovens, que eram os que detinham o monopólio da vitalidade, estão entediados, apáticos, achando graça em nada. Alguém aí confirma?

Outro dia, estava conversando com amigos da minha faixa etária, todos entrados nos 60 e com filhos na casa dos 30, e a impressão deles era a mesma. A nova geração tem passado os dias com cara de paisagem. Eles trabalham desesperançados, não se apaixonam perdidamente e seus entusiasmos mal duram um fim de semana, logo esfriam. 

Não que tivéssemos muitas certezas na idade deles, mas a gente ia em frente com dúvida e tudo, o pulso latejava. Um dia de sol na praia era um acontecimento. Um beijo roubado nos deixava insones. Abraçávamos nossas causas com inocência e ardor, nunca com ódio. Vibrávamos numa frequência positiva. Sorriso não era uma raridade em nosso rosto e não falávamos por monossílabos: palestrávamos em mesa de bar. Melancolia? 

De vez em quando, sucumbíamos a ela, claro. Éramos poetas, alguns trágicos, cortesia da arte e de suas consequências na alma, mas tudo era visto como privilégio da existência. Não havia zumbis atrás de telas, buscávamos excitação de verdade.

Que desalento é este que está intoxicando garotos e garotas que deveriam estar em seu auge? São pouco afirmativos e não lutam por seus sonhos – nem mesmo sonham. Falta propósito. E o fracasso apavora. Contentam-se em ser uma eterna promessa e não estão entendendo que o tempo irá cobrar caro, um dia, pela postura blasé do “tanto faz”.

O excesso é cúmplice do vazio, uma dupla bandida. Excesso de informações, poucos empregos. Excesso de bocas, pouca intimidade. Os cardápios são fartos de “felicidade”: quanto mais é oferecido, mais confusos eles ficam, que caminho seguir? Nós também tivemos que fazer escolhas e as renúncias faziam parte do jogo, não paralisavam ninguém. Agora o rolê tonteia. 

Escolher só uma alternativa entre um milhão? Não conseguem. Nada se destaca, nada é especial. A banalidade dá o tom da conversa, que leva ao fastio, claro. Um minuto de atenção (se tanto) e já se trocou de desejo. 



14/03/2025 - 13h00min
Letícia Paludo

Flutuação hormonal, sobrecarga, estresse: entenda por que as mulheres sentem mais dor crônica do que os homens. As principais queixas são apontadas nos ombros, no pescoço, além de enxaquecas e cefaleias 

As mulheres são vítimas mais frequentes de dores crônicas do que os homens, apontam médicos da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), sendo que as principais queixas relatadas são nos ombros e no pescoço, no abdome, na pelve, além de enxaqueca e cefaleias, entre outras.

A situação se agrava por conta do estigma de que a mulher seria “o sexo frágil” e, por isso, reclamaria mais de dor.

Segundo a médica anestesiologista Daniela Costa Martins Dietrich, coordenadora do comitê de dor pélvica da SBED e professora da residência do ambulatório de dor da Universidade Federal de São Paulo, essa ideia contribui para uma banalização da dor feminina e faz com que o diagnóstico e o tratamento desses incômodos demorem mais a acontecer. 

É preciso escutar o paciente e não se pode banalizar os sintomas dele, que são superimportantes porque a dor é subjetiva, cada um sente a dor individualmente e as pessoas são diferentes no tanto de sensibilidade que têm — afirma a médica.

Dores estruturais

No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, vale a pena prestar atenção especial aos fatores que influenciam a dor crônica em mulheres: são principalmente hormonais, psicológicos, sociais e estruturais.

No que diz respeito às alterações hormonais, estas são mais intensas durante a menstruação, a gestação, a pré-menopausa e a menopausa, quando as flutuações dos hormônios estrógeno e progesterona aumentam muito a chamada “sensibilidade álgica” na mulher, que é a sensibilidade à dor.

— Na pré-menstruação, por exemplo, pode-se perceber que a mulher tem mais cefaleia, enxaqueca, fica mais sensível e mais irritada, coisas que normalmente ocorrem por causa do estrógeno. Já o nível de cortisol fica muito aumentado nos casos de estresse crônico, e normalmente as mulheres estão sempre com estresse crônico — observa Daniela.

Outro fator importante e que muitas vezes não é valorizado são aspectos psicológicos como ansiedade, depressão, estresse e estresse pós-trauma, os quais são capazes de fazer o público feminino experimentar uma sensibilidade aumentada da dor.

Por exemplo: uma mulher deprimida ou ansiosa tende a sentir mais dor que uma que não sofre dessas doenças.

Situações de violência na vida diária ou no passado também podem contribuir para dor crônica, algo que, segundo a especialista da SBED, tem sido amplamente descrito pela ciência recentemente. Abuso sexual, agressão física ou verbal, violência obstétrica são alguns exemplos.

— Tenho muitas pacientes que vivem um verdadeiro drama dentro de casa, um casamento ruim, uma vida ruim, e sofrem de dores crônicas como a fibromialgia e outras. A violência é um fator que predispõe a mulher a ter dor crônica. A dor pélvica crônica, por exemplo, está muito relacionada com abuso sexual — explica a anestesiologista.

A sobrecarga e o estresse provocados por uma jornada dupla, tripla e até quádrupla – uma realidade para muitas mulheres que precisam dar conta do trabalho, dos filhos, da casa e do marido sozinhas – fazem com que fiquem mais sensíveis à dor.

E tanto a intensidade desta dor como a frequência das crises também são influenciadas pela sobrecarga.

— Quando você está sobrecarregada, você vira um furacão. Tudo é mais sensível, você tem mais dor de cabeça, no pescoço, no ombro, tem mais cólica menstrual, mais dor pélvica, dores sobrepostas —afirma a médica.

Dores mais prevalentes

A cervicalgia, a lombalgia e as dores nos ombros são muito comuns em mulheres e costumam estar relacionadas ao estresse, ao acúmulo de funções e ao uso de smartphones e computadores.

A fibromialgia é outro exemplo de dor crônica extremamente prevalente na população feminina, numa proporção que chega a nove mulheres para um homem com a doença. E os impactos na vida da mulher são muitos: pacientes relatam cansaço extremo, fadiga, dor músculo-esquelética, alterações do sono, alterações cognitivas de memória, dificuldade de concentração.

As mulheres também são maioria na questão da dor pélvica crônica, caracterizada pela sensação diária de incômodo na região do umbigo para baixo, na vulva, no canal da uretra, na bexiga, no útero ou no períneo. Pacientes com esse tipo de queixa podem sofrer muito na hora de ir ao banheiro ou durante a relação sexual.

Uma péssima notícia é que quem tem dor crônica também fica mais predisposto a ter outros tipos de dores, um fenômeno que é chamado, em inglês, de overlapping pain syndrome. Por exemplo: a paciente com fibromialgia tem mais predisposição a ter enxaqueca, dor nos ombros e cefaleia.

— Ocorre uma desregulação que faz com que os pacientes com dor crônica vivam num estado de hipersensibilidade. A dor é baseada em química e depende de neurotransmissão, e as dores crônicas afetam tanto os neurotransmissores excitatórios quanto inibitórios — explica a médica.

Impactos no dia a dia

Quem tem dor crônica fica com os nervos à flor da pele e, se não fizer nada a respeito, tende a ficar mais ansioso e choroso porque a dor amputa a vida, como detalha a anestesiologista: a mulher não consegue fazer suas atividades normais, não consegue ter vida social e não consegue ir a uma formatura ou à festinha de um filho, pois está com dor.

Em uma crise de enxaqueca, por exemplo, não consegue sair de casa, pois está com dor e não aguenta a luminosidade.

— O sistema das emoções e da dor é o mesmo, andam de mãos dadas, equilibrados numa balança. Quando um vai mal, o outro vai mal. Se um vai bem, o outro vai bem. A dor limita muito a qualidade de vida das pessoas. E, por outro lado, quando se encontra alguém que valoriza aquela dor, a pessoa fica feliz, aliviada — salienta Daniela.

O tratamento de dor é multidisciplinar, exige uma espécie de exército. Mas o primeiro passo a dar, segundo a médica, é buscar um especialista que atue na área de dor, que geralmente são médicos neurocirurgiões, reumatologistas e anestesiologistas, mas há outros. Depois, pode-se necessitar de fisioterapeuta, psicólogo, psiquiatra, fisiatra, nutricionista.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de dor crônica é complexo devido à subjetividade, mas a primeira coisa que precisa ser feita pelo profissional da saúde é ouvir o paciente, acolher sua dor e não desdenhar de suas queixas.

Outro passo importante é avaliar a história de vida da pessoa, há quanto tempo convive com a dor e se possui algum trauma emocional ou alguma doença crônica preexistente, como diabetes e hipertensão – os diabéticos, por sinal, têm muita probabilidade de ter dores crônicas neuropáticas por conta de um processo de destruição do sistema nervoso periférico que ocorre com a doença.

Também é importante avaliar em qual ciclo de vida reprodutiva a mulher está, já que é sabido que os hormônios influenciam a sensibilidade álgica e que na pré-menopausa, especialmente, costuma-se experimentar um aumento da dor.

Outro ponto a ser observado é como está a vida social em casa e no trabalho. Trabalhar num emprego que odeia, num ambiente que acha péssimo, e ainda pressionada a cumprir prazos pode provocar a evolução da dor crônica.

Em alguns casos, a recomendação médica é focar mais no autocuidado mental, com o corpo e com a autoestima.

— Recomendamos fazer terapia cognitivo-comportamental, mindfulness e separar alguns momentos para relaxar, ir ao salão, arrumar o cabelo e pintar as unhas, porque muitas vezes a mulher negligencia a si mesma para favorecer outras pessoas. Durante o tratamento, na maioria das vezes, a autoestima dela muda e ela começa a olhar menos para os outros e mais para ela — comenta a médica.

A genética também tem influência na dor, pois existem certos genes que, de fato, fazem com que algumas pessoas tenham tendência a ter mais dor que outras. Dessa forma, é interessante analisar se existem outras pessoas com dores crônicas na família.

Após o exame físico, o médico poderá solicitar exames neurológicos, de sangue e de imagem para ter um diagnóstico mais preciso, e pedir avaliação de outro especialista, se necessário.

Quais hábitos podem fazer com que as mulheres sintam mais dor:

Sedentarismo: a atividade física ajuda no funcionamento dos neurotransmissores que inibem a dor no organismo

Má postura: ficar o dia inteiro em pé, carregando peso, segurando crianças no colo ou passar muitas horas seguidas mal sentada em frente ao computador são fatores que aumentam a dor na paciente

Estresse crônico: viver diariamente estressada e ansiosa com prazos e exigências contribui muito para a tensão nos ombros e no pescoço, além do desenvolvimento de cefaleia tensional

Sono de má qualidade: dormir pouco ou ter um sono muito fragmentado piora a situação de quem sofre de dor crônica. A regra é clara: quem tem dor precisa dormir bem para alcançar um sono reparador

Má alimentação: priorizar alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura aumenta a sensibilidade à dor. Uma alimentação ideal para combater a dor deve ser rica em proteínas e pobre em carboidratos e glúten, que são inflamatórios

Fumar e beber: ambos prejudicam o funcionamento do organismo e contribuem para a inflamação

Não delegar tarefas: querer abraçar o mundo e não dividir as tarefas do dia a dia com colegas, funcionários, companheiro e família, por exemplo, contribui para a sobrecarga, ansiedade, depressão e, consequentemente, para a dor crônica


O segredo eterno da sopa de canederli

É o tesouro dos sabores caseiros. O esconderijo dos arrebatamentos. O testamento de risos e suspiros. Nem precisa ser um livro, pode ser um caderninho escolar, com as folhas manchadas de farinha e ovos, com a caligrafia às pressas, onde você anota a quantidade dos ingredientes e a forma de preparo dos pratos que deram certo no convívio.

São fórmulas secretas cobiçadas ardentemente pelos filhos e netos. Você faz chantagem com elas pelo resto da vida. Você promete revelá-las quando julgar que a pessoa merece ou está pronta para assumir a alquimia. Você possui uma carta na manga para seguir vivo na posteridade.

Quem tem livro de receitas não entrega seus truques facilmente. Não sai repartindo os detalhes decisivos do manjar, o diferencial dos banquetes, os temperos improváveis empregados.

É alguém que acalenta a privacidade de sua cozinha, e gera suspense com seus achados. Um abnegado do fogão, um sacerdote dos molhos, com o sigilo sacramental da confissão inviolável.

Não é fofoqueiro de sua magia, dedicando a sua história a preservar os seus alfarrábios e se mostrar presença obrigatória nos almoços e jantares comemorativos. Contar com uma especialidade incomparável nas panelas é garantia da frequência nos álbuns de fotografias. Você jamais ficará de fora das grandes festas, jamais será penetra.

Os dotes culinários se transformam em pré-requisito para ser benquisto pela família e sempre convidado, já que só você sabe o ponto daquela musse de chocolate com furinhos exatos, daquela paella de ferver o mar, daquela galinhada que dá água na boca.

Não passar adiante é se proteger dos concorrentes e da possibilidade de um dia ser dispensado. Muitos casamentos permaneceram de pé somente pela obra gastronômica sagrada. O que eu aprendi tardiamente é que não basta receber a receita. É necessário praticar com o dono dela.

Minha avó expôs, no fim da sua existência, no leito de morte, o rascunho da sua sopa de canederli.

Caldo:

Frango (peito, pescoço, miúdos)

Sal a gosto

1 cebola picada

2 dentes de alho picado

Tempero verde a gosto

1 cenoura inteira

Canederli:

6 xícaras de chá de pão francês "dormido" ralado

250 mg de salame colonial picado bem fino

100 g de queijo colonial picado bem fino

100 g de queijo parmesão ralado

6 ovos batidos

Tempero verde a gosto

Sal a gosto

Farinha para dar liga (em torno de 5 colheres de sopa), a depender da umidade do pão. Pensávamos que manteríamos o hábito da famosa sopa de bolas no inverno. Ninguém de casa, geração por geração, conseguiu repetir. Todos fracassaram, inclusive eu.

Se pudéssemos ressuscitar a nona, perguntaríamos de cara, antes de expressar a nossa incurável saudade: onde erramos?

É que não adianta apenas herdar o escrito, é fundamental pagar o preço do treinamento. Existe algo feito de olho que não vai para o papel. _

CARPINEJAR 


Presidente Eduardo Leite?

Aqui entre nós, que o governador Eduardo Leite não nos ouça, mas sua chance de vencer uma eleição presidencial neste Brasil polarizado é baixa, baixíssima. Por mais legítima que seja sua ambição, Leite tem tudo para fazer o papel de Simone Tebet em 2022: conduta civilizada, ideias sensatas e menos de 5% dos votos. Ou seja, o adulto na sala, enquanto o eleitorado senta o dedo em candidatos que se comportam como alunos da 5ª série quando o professor se ausenta.

Em teoria, Leite tem um perfil de primeira para concorrer. É ficha limpa, jovem mas experiente, transita bem por todas as classes sociais, tem boa comunicação e se mostra firme mas com capacidade de diálogo e negociação. Ganhou projeção nacional com sua liderança na maior catástrofe da história recente do Estado, deu uma ajeitada nas contas públicas e produziu uma cesta de obras e boas notícias, como a queda dos índices de criminalidade, sem brigar com Deus e o mundo.

Na prática, o eleitorado mostra - até agora - disposição para despejar votos em nomes como o cantor sertanejo Gusttavo Lima e em outras extravagâncias, como os pablos marçais da vida. Eles terão papel acessório em 2026, mas influenciarão o voto, assim como o inelegível Jair Bolsonaro. Neste cenário, tudo indica que teremos, de um lado, Lula disputando de novo, de novo, de novo a Presidência, a menos que seu governo naufrague de vez - por enquanto só tem rombos no casco. De outro, uma procissão de candidatos bem à direita, de onde deve sair um ungido para o provável segundo turno.

O fato de o PSDB ter se autodevorado não chega a ser a pá de cal na candidatura de Leite. Bolsonaro se elegeu pelo então inexpressivo PSL. Mas, ainda que Leite seja bancado por uma união com Solidariedade e Podemos, neste cenário poluído é pouco provável que um candidato de bons modos políticos consiga pôr o pescoço acima da multidão, como ocorreu com Germano Rigotto na eleição estadual de 2002, na qual se tornou um meteoro da moderação em um Rio Grande cansado de guerra. Com sua cordialidade e sensatez, Rigotto também sonhou com a Presidência, mas foi triturado por uma consulta interna do próprio partido, o PMDB, que o preteriu por Anthony Garotinho, bem conhecido em delegacias cariocas.

Resta a Leite a esperança de que nem só de esquisitices como Donald Trump e Javier Milei se alimente o eleitorado. Claudia Sheinbaum, à esquerda no México, e Giorgia Meloni, à direita na Itália, se tornaram chefes de governo com plataformas antagônicas, mas têm bom senso e são populares. Já os sistemas parlamentaristas de Polônia, Alemanha e Reino Unido escolheram moderados recentemente. No Brasil de hoje, como terceira via, a chance de Leite é baixa, baixíssima, mas também não é zero. _

MARCELO RECH 


15 de Março de 2025
ANDRESSA XAVIER

O Centro

Já faz quase 20 anos que moro em Porto Alegre, mas, bem antes disso, minhas primeiras memórias de vindas à Capital passam pelo centro da cidade. Praça da Alfândega, em época de Feira do Livro, Casa de Cultura Mario Quintana e uma passada no Mercado Público. Gostava também do antigo Hipo Fábricas, onde passeava com minha mãe de loja em loja. Descíamos do ônibus ao lado da Ughini e andávamos pela Voluntários até o coração do Centro. Às vezes lanchava um cachorro-quente que ficava na Dr. Flores, uma delícia. Tudo isso para dizer que sou uma entusiasta do centro de Porto Alegre. Gosto de andar, de olhar, de apreciar. Por isso fico também chateada com o que considero um abandono de uma área tão bonita da cidade.

Alguns anos atrás, a principal questão era a insegurança, os inferninhos, as brigas de fim de madrugada. Hoje considero que há mais pontos a serem melhorados. A segurança não deixou de ser problema, mas outros se somaram.

Andando pelas ruas dias desses, olhei com atenção para alguns pontos. O asfalto por onde passam os ônibus parece mais de um rally. As obras do quadrilátero são intermináveis. A calçada nova ficou muito feia. Parece mais uma colcha de retalhos. Estava quente, então sentei um pouco em uma praça. Logo uma comerciante da região me alertou para o perigo de estar ali me advertindo para cuidar dos meus pertences. Os pichadores chegam à cobertura dos prédios e suas marcas estão por toda parte. Na frente do Mercado foi feito um chafariz, que depois de danificado não voltou mais a funcionar e virou depósito de bituca de cigarro.

Os lojistas resistem a tudo isso, além de terem seus comércios invadidos pela água e ficarem sem os passageiros do trem por longos meses. Os moradores vão driblando os problemas. Pensando no lado bom, vamos a não muitas quadras além. Redescobrimos a cidade a partir da Orla e do Embarcadero. Que oásis ganhamos nesses dois locais, mas que o Centro não conseguiu acompanhar. Essa região precisa de vida, de cores, de ocupação dos gaúchos. Precisa de verba e atenção. Precisa que os planos andem.

A passarela desconstruída na enchente é um capítulo à parte, acabando com o que restava da primeira impressão de quem entra na cidade. Pela metade, com uma elevada que foi muito útil naquele período, agora é feiura pura. Vai custar caro, mas precisa ser refeita ou remodelada.

Porto Alegre precisará olhar para fora. Para os muros verdes do México, que além de esverdearem o cinza do cimento com plantas, ainda diminuem a temperatura no calorão. Para o Canadá, que tem ciclovias em meio ao trânsito de veículos e funciona, para citar somente dois exemplos. O Centro precisa de um empurrão para voltar a brilhar. _

ANDRESSA XAVIER

15 de Março de 2025
OPINIÃO RBS

Resistência tenaz à transparência

Este espaço, há duas semanas, registrou que parecia ser um avanço o acordo firmado entre o Congresso e o governo federal, homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, para dar maior transparência e rastreabilidade às emendas parlamentares. Nos dias seguintes, o plenário da Corte corroborou o entendimento por unanimidade. Mas aqui também foi alertado de que seria prudente aguardar a implementação das medidas para conferir se as boas intenções se confirmariam na prática ou um novo subterfúgio seria criado. Não deu outra. As normas aprovadas na noite de quinta-feira pelo Congresso mantêm uma porta aberta para a opacidade ao permitir que as emendas de comissão não tenham a identificação do parlamentar que apadrinhou a iniciativa.

Impressiona a resistência tenaz de deputados federais e senadores para manter o manejo de recursos públicos sem a devida limpidez de informações. É uma insistência que claramente afronta princípios constitucionais, como os da publicidade e da moralidade. O texto apresentado e votado de afogadilho teve ampla adesão, do PT ao PL. Passou com a oposição apenas de Psol e Novo.

O conteúdo aprovado permite que, nas emendas de comissão, deputados e senadores façam indicações por meio dos líderes de suas bancadas, sem que o proponente seja identificado. Trata-se de uma prática que parece desafiar a lógica do proveito político das emendas.

Até o advento do chamado orçamento secreto, tornado inconstitucional pelo STF, parlamentares faziam questão de demonstrar aos eleitores que estavam destinando emendas para as suas bases. Surgiu então a estranha moda de os legisladores, sob a sombra da falta da identificação de quem patrocinou a iniciativa, enviarem recursos para cidades de Estados que não são os seus. 

Ou seja, sem o retorno eleitoral da remessa. Soube-se depois da proliferação de corretores de emendas, intermediários com trânsito nas duas casas que "captam" as verbas a serem transferidas a municípios e instituições e ficam com um percentual do dinheiro, depois dividido entre outros participantes da negociação. No final de fevereiro, Dino informou que, no STF, existiam mais de 80 inquéritos abertos para investigar irregularidades envolvendo emendas.

Quando o acordo foi chancelado pelo STF, a expectativa criada foi a de que não pairariam mais dúvidas sobre a paternidade das emendas, as informações seriam disponibilizadas no Portal da Transparência e a alocação teria regras mais rígidas para evitar o desperdício e o desvio de dinheiro público. Nota-se que, outra vez, falou mais alto o interesse por dificultar o acesso a informações básicas, por motivos nada republicanos. Nem os inquéritos no STF ou as operações da PF deflagradas no âmbito de investigações que apuram malfeitos parecem desencorajar o Congresso, que neste ano deve exorbitantes R$ 50 bilhões para pulverizar em emendas.

Relator de ações que questionam a falta de transparência, Dino chegou a bloquear repasses até que novas regras fossem criadas para que cidadãos, entidades da sociedade civil e órgãos de controle acompanhassem melhor a execução das emendas. Espera-se, agora, uma posição do STF. A Corte foi ludibriada ou participou de um jogo de cena. _



15 de Março de 2025
COM A PALAVRA

COM A PALAVRA

Paulinho da Viola - Decano do samba e da MPB, e autor de clássicos como Foi Um Rio que Passou em Minha Vida, acumula seis décadas de carreira e 82 anos de vida

"Muitas vezes me vi em situações de acordar com uma melodia na cabeça"

Nome fundamental do samba, Paulinho da Viola volta a Porto Alegre neste sábado, para show no Araújo Vianna. Na entrevista, fala sobre o processo de criação, analisa transformações no Carnaval e comenta a relação com os gaúchos Lupicínio Rodrigues e Radamés Gnattali.

Pedro Garcia

Passado mais de um século, o senhor acha que o samba consegue se renovar? Há coisas novas surgindo?

Acho difícil falar em renovação. As gerações sempre vão sofrendo influência do seu universo naquele momento. É difícil falar que uma coisa é absolutamente nova, embora isso possa acontecer. Em 2014, fui tocar com uma orquestra na Holanda e, para minha surpresa, descobri que havia uma escola de choro lá. Quando fui ao Japão, em 1986, conheci grupos que faziam samba. Esses grupos vão renovar o samba? Pode até ser. Com certeza tem muita coisa interessante acontecendo.

Em Argumento, de 1975, o senhor pedia cautela em relação a experimentações na forma de fazer samba. Isso ainda lhe incomoda?

Na época, havia na Portela um certo assédio porque outras escolas estavam apresentando sambas diferentes daquilo que se fazia - aqueles sambas muito grandes, mais lentos e cadenciados. Começaram a aparecer sambas mais vibrantes, de andamento mais rápido. Quando fiz esse samba, foi por isso. Tanto que logo depois houve uma cisão na Portela e algumas pessoas se afastaram. Eu mesmo fiquei anos sem sair na escola.

O senhor tem uma história longa na Sapucaí. O Carnaval mudou muito?

Peguei uma época em que as escolas podiam desfilar pelo tempo que quisessem. Depois, passou a ter um tempo determinado. Isso mudou o andamento porque, se você tem que passar dentro de um tempo, naturalmente você acelera o ritmo. Antigamente, o samba era uma coisa tão importante dentro de uma escola que alguns entraram para a história. Aí começaram a aparecer efeitos especiais, tecnologia, as alegorias passaram a ter uma importância enorme.

Algumas vezes há críticas quanto a um suposto excesso de luxo e pirotecnia nos desfiles. O senhor sente isso?

Houve uma época em que eu sentia. Não sei se é porque estávamos muito ligados a uma ideia mais tradicional, dos grandes sambas que o povo todo sabia. Mas ainda na década de 60, um amigo me disse que as escolas precisam mudar, porque senão viraria uma coisa de folclore.

? Há um samba seu, 14 Anos, no qual o senhor conta que queria ser sambista mas seu pai tentava demovê-lo da ideia. Isso aconteceu mesmo?

Meu pai nunca fez pressão para que eu fizesse isso ou aquilo. Como todo pai, dizia que eu tinha que estudar. Quando percebeu que eu era muito ligado no que ele fazia, arrumou um professor para me dar aulas de violão. Mas na verdade, esse samba não foi feito para falar só da minha história. O Jacob (do Bandolim) gravou dezenas de discos, tocou em tudo o quanto é canto, mas dizia: "sou escrivão de Justiça". Muitos músicos tinham outra profissão para poder sobreviver.

E o senhor chegou a trabalhar como bancário, não?

Claro. Trabalhei em outros lugares também. Eu não tinha muita certeza que ia continuar como músico. No início, tocava sozinho. Aí comecei a mandar músicas para os festivais. Só senti necessidade de formar grupo quando tive o primeiro sucesso, Foi um Rio que Passou em Minha Vida. Essa música estourou no Carnaval de 1970 e eu passei a ser muito solicitado.

O senhor é muito reconhecido como compositor e letrista. Como surge uma canção nova?

Muitas vezes me vi em situações de acordar com uma melodia na cabeça. Ou então, estava dirigindo e de repente me via cantarolando uma coisa. Uma ocasião, recebi uma melodia do Elton (Medeiros) e não conseguia fazer a letra. Ele me ligava e dizia: "Rapaz, o disco tá acabando, cadê a música?" (risos). Aí eu sentei perto da cama, peguei um gravador de fita, e sabe o que aconteceu? De repente, comecei a fazer uma outra letra, com outra melodia que não tinha nada a ver com aquilo. Aí, quando voltei para a música do Elton, consegui fazer a letra. Sou intuitivo, não tenho muito método.

Apesar de intuitivo, consegue reconhecer quais foram suas principais influências?

Tenho certeza que minha música foi muito influenciada pelo choro. Eu ouvia muito Jacob do Bandolim. Pixinguinha, até hoje, de vez em quando eu preciso ouvir. Mas Cartola, com quem eu convivi, Nelson Cavaquinho, o próprio Elton, Zé Keti, acredito que eu tenha sofrido influência dessa turma também.

O senhor nunca escondeu a admiração pelo Lupicínio Rodrigues. Uma música dele, Nervos de Aço, dá nome a um disco seu. Como surgiu essa relação?

Meu pai reunia muito os amigos. E eles cantavam músicas de grandes artistas, como Silvio Caldas, Francisco Alves, Orlando Silva, Ciro Monteiro, Roberto Silva. E, na minha infância, Lupicínio era um sucesso no Brasil inteiro. Se você for falar em samba-canção, não pode esquecer de Lupicínio.

O senhor também fez uma música em homenagem a outro músico gaúcho, Radamés Gnattali.

Esse era um gênio. Até hoje tem músicos assumidamente influenciados por ele. Na década de 70, quando houve uma volta da música de choro e vários clubes foram fundados no país, me ocorreu a ideia de fazer um choro. Quando concluí, achei que na terceira parte tinha ficado um pouco parecido com o jeitão do Radamés. Quando fui gravar um especial da Globo, decidi convidá-lo para tocar comigo esse choro, que chamei de Sarau para Radamés.

Muitas canções antigas hoje são contestadas por conta de vieses machistas e racistas nas letras. É um revisionismo correto ou há exagero?

Em alguns casos, pode haver exagero. Em outros, não. Em determinada época, era normal você fazer uma piada de cunho racista. Mas essas coisas perderam o sentido, então os artistas evitam. E não acho nada radical, é algo muito importante.

O senhor está com 82 anos e segue muito ativo. Parar está no seu horizonte?

Não penso nisso. Todo mundo tem seu tempo e, quando chega o tempo de parar, tem que parar. Mas é algo que você sente. Naturalmente, você não tem a mesma pegada de quando tinha 20, 30 ou 40 anos. Para mim, a coisa mais complicada é viajar de avião (risos). Tanto que peço sempre para viajar não um dia antes, mas dois, para poder descansar. São coisas que, provavelmente, um jovem enfrenta tranquilamente. 


15 de Março de 2025
FINAL FELIZ -Humberto Trezzi

FINAL FELIZ

Exame de DNA dá fim a uma espera de mais de três décadas. Mãe e filha se encontraram em fevereiro, após postagem em rede social. Bebê foi entregue a outra família com seis meses. Confirmação saiu na sexta.

Cristiane da Silva, 51 anos, mergulhou em um choro compulsivo ao perceber que o conto de fadas que vive há uma semana teve um final feliz. Ela reencontrou uma filha, Vanessa Silva de Souza, quase 35 anos depois de o bebê ter sido retirado dela por familiares e entregue a outra família. A comprovação, em meio a um dilúvio de lágrimas e soluços, veio por um exame de DNA cujo resultado saiu na tarde de sexta-feira.

Cristiane e Vanessa procuravam uma pela outra há décadas. Até a distância geográfica dificultou. Embora a separação das duas tenha acontecido há mais de três décadas em Charqueadas, na Região Carbonífera, elas não continuaram naquela cidade. A mãe mora agora em São Leopoldo e a filha, em Viamão.

Elas foram separadas quando familiares concluíram que Cristiane, então com 15 anos, era muito jovem para cuidar da bebê e entregaram a criança para um casal.

Em 25 de fevereiro, Vanessa teve a ideia de postar a seguinte mensagem no Facebook, numa página ligada ao município de Charqueadas: "Pessoal, nasci em Charqueadas em 20/03/90. Passei apenas 6 meses lá e fui doada. Não sei nada da minha família e nem onde nasci. Sei que na época o nome da minha mãe era Cristiane da Silva e que ela tinha 15 anos quando nasci. Queria saber mais do meu passado, quem sabe encontrar ela".

Para surpresa dela, recebeu mais de 150 respostas e, entre elas, uma diferenciada: "Oiiiii linda, eu me chamo Cristiane da Silva e tenho 51 anos. Há trinta e três anos eu tive uma filha linda e com o nome Vanessa da Silva. Minha mãe, com a prima dela, deram a minha filha. Eu passei muito trabalho na minha infância, então não queria que ela passasse o que eu passei, contra a minha vontade. Eu dei a minha princesa linda. Hoje eu estou bem, graças a Deus... ela nasceu em 20/03/1990. Minha filha amada."

A mensagem abriu a porta da esperança para as duas. A partir dali, elas trocaram telefones e se falaram todos os dias. Inclusive, Cristiane foi apresentada a Tânia, a mãe adotiva de Vanessa, que apoiou a busca feita pela filha.

Antes mesmo do exame, alguns fatores levavam Cristiane a ter certeza da maternidade, como a data de nascimento da certidão (que coincide) e as fotos de quando Vanessa era bebê, com um macacão usado nos primeiros meses de vida, idêntico a um que foi guardado por Vanessa desde a infância. Mas a semelhança física também é notável: Vanessa é quase uma cópia de sua mãe biológica, com olhos puxados e pele morena, só que em uma versão bem mais alta.

Ansiedade e alegria

Mas Vanessa, cautelosa, queria comprovação científica. E as duas concordaram em fazer um teste de DNA, no Laboratório Silveira, no centro de Porto Alegre. O sangue delas foi coletado na segunda-feira, quando elas se encontraram pela primeira vez. E a ansiedade tomou conta de mãe e filha (já se chamavam assim, mesmo sem a comprovação).

O destino se encarregou de providenciar um desfecho emocionante. As duas entraram juntas no laboratório e abriram juntas os envelopes com os resultados. Abaixo da palavra "Conclusões", a frase tão esperada: "...a probabilidade de que Cristiane da Silva seja a mãe biológica de Vanessa Silva de Souza é de 99,999999..%"

Vanessa logo percebeu que tinha ganho mais uma mãe, quando Cristiane se atirou nos seus braços, aos prantos.

- Minha filha querida, eu sabia que era tu - disse Cristiane.

Até as atendentes do laboratório, acostumadas a fazer dois exames desse tipo por dia, disfarçaram as lágrimas. Mais calma, Cristiane desabafou:

- Por um instante, achei que ia sair resultado negativo outra vez. Mas coração de mãe não se engana.

Cristiane se referia a um teste feito no ano passado com outra Vanessa, que deu negativo.

Vanessa trouxe uma surpresa de casa: o macacão que usava quando foi entregue. Cristiane cheirou a roupinha e chorou mais uma vez.

- Agora é um novo caminho, uma nova história. Dia 20 estou de aniversário e ganhei um baita presente - resumiu. 


15 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Mathias Boni

Lupa nos sinais de desaceleração

Importantes indicadores divulgados nos últimos dias pelo IBGE dão pistas para compreender um pouco melhor o ritmo da atividade econômica do país neste início de 2025.

Na sexta-feira, o órgão publicou a Pesquisa Mensal de Comércio, que analisa o volume de vendas do comércio varejista no país, referente ao mês de janeiro. A variação foi negativa, de 0,1%. Já na quinta-feira, o instituto havia apresentado os resultados da Pesquisa Mensal de Serviços referente a janeiro, também com variação negativa, de 0,2%. Na terça-feira, havia mostrado que a produção industrial do primeiro mês do ano teve variação nula frente ao mês anterior. Para especialistas, os indicadores reforçam que a fotografia do momento atual da atividade econômica no país é de desaceleração.

- A gente já vinha observando uma desaceleração da atividade econômica desde os últimos meses de 2024, e esses dados de janeiro só reforçam isso. Por mais que ainda não sejam tão negativos, esses resultados deixam claro que há um ritmo mais lento - destaca o analista econômico Rodolpho Tobler, do FGV Ibre.

Em relação ao índice do comércio, as vendas cresceram 3,1% em comparação com janeiro de 2024 e acumulam elevação de 4,7% nos últimos 12 meses. Contudo, a variação negativa mensal de janeiro foi a terceira consecutiva, seguida por quedas de 0,3% em dezembro e 0,2% em novembro. O cenário é semelhante nos dois outros setores destacados.

- Ainda há crescimento anual, o que é positivo, mas é um cenário que dá continuidade ao que já era observado no fim do ano passado, com a demanda doméstica e o consumo desacelerando. No mínimo, podemos dizer que o começo de ano está misto, com alguns dados negativos e outros um pouco mais positivos - acrescenta Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo. _

Dólar cai 1% e fecha a R$ 5,743

Após operar quase toda semana acima de R$ 5,80, o dólar encerrou a sexta-feira em R$ 5,743, com recuo de 1%. Na mínima, chegou a R$ 5,712.

Dados de inflação nos Estados Unidos mostram que há chance de cortes de juro por lá, o que aumenta o apetite por ativos de risco, como o real. Um sinal de estímulo ao consumo na China também ajudou ativos ligados a commodities. No cenário interno, uma queda inesperada da dívida pública bruta do Brasil em janeiro ajudou a diminuir o nível de risco fiscal. _

Roubadinhas terá complexo esportivo de R$ 7 milhões

A marca Roubadinhas já é bem conhecida pelos complexos gastronômicos em Porto Alegre e no Litoral Norte. Agora, os sócios da Blend Experiências, que administram a marca, preparam-se para instalar uma nova operação na Capital.

A novidade será a Arena Roubadinhas by Allgayer, complexo esportivo com investimento de cerca de R$ 7 milhões. O empreendimento terá estrutura para a prática de cinco modalidades distintas, como beach tennis e pickleball. A entrada será pela Rua Eudoro Berlink, no bairro Auxiliadora, em um terreno vizinho ao Vila Roubadinhas. No futuro, os sócios pretendem construir uma ligação entre as duas operações.

- Vamos unir esporte, lazer e saúde, com conceitos e marcas inéditas na Capital - diz Laura Bier Moreira, uma das sócias da Blend Experiências e criadora da marca Roubadinhas.

A abertura está prevista para junho. A Arena ficará aberta diariamente, com início das atividades por volta das 6h e término ao redor das 21h. _

Nasce operadora gaúcha de telefonia móvel

Com pretensão de chegar a 5 mil clientes em um ano, nasce a FLW, operadora de telefonia móvel de Santa Cruz do Sul.

A empresa vai operar sem infraestrutura própria, em modelo MVNO (Mobile Virtual Network Operator, ou Operadora Móvel Virtual), regulamentado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Segundo o sócio-fundador Luciano Sperb, será locada a rede da TIM, operadora com cobertura nacional.

A FLW oferece serviços tradicionais, como tráfego 5G e ligações telefônicas, só não existem pacotes: o cliente pode escolher o plano conforme o seu perfil.

- A meta de atingir 5 mil clientes em um ano abrange consumidor final e parcerias com universidades, empresas - acrescenta a CEO da FLW, Roberta Pereira.

Os planos partem de R$ 39,90. A empresa não tem loja física, e o atendimento é realizado em parceria com a operadora Contel. _

GPS DA ECONOMIA

Superávit recorde em janeiro e recuo da dívida bruta

Diferença entre receitas e despesas no primeiro mês foi de R$ 104,1 bi, o maior para qualquer período desde 2002. Resultado reflete sazonalidade

O setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, à exceção de Petrobras e Eletrobras) teve superávit primário de R$ 104,096 bilhões em janeiro, informou na sexta-feira o Banco Central. O resultado primário reflete a diferença entre as receitas e despesas do setor público, antes do pagamento dos juros da dívida pública.

Desde 2002, o setor público teve superávit primário em todos os meses de janeiro, que tem forte sazonalidade positiva para as contas públicas por ser o primeiro do trimestre e semestre e concentrar a entrada de alguns impostos nos cofres do governo. O superávit de janeiro de 2025 foi o maior para qualquer mês na série histórica do BC, iniciada em 2002, informa o jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo os dados do BC, o governo central (Tesouro Nacional, BC e INSS) teve superávit de R$ 83,150 bilhões em janeiro. Estados e municípios tiveram superávit de R$ 21,952 bilhões, e as empresas estatais, déficit de R$ 1,006 bilhão.

Isoladamente, os Estados tiveram superávit de R$ 20,270 bilhões, e os municípios, superávit de R$ 1,681 bilhão.

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse que os meses de janeiro sazonalmente também são favoráveis para os governos regionais. Ele destacou que contribuiu para esse resultado o crescimento das receitas, que avançaram em termos reais (acima da inflação), e sustentaram o resultado primário. Ele detalhou que as transferências da União cresceram 2,8% no mês, enquanto a arrecadação própria, com o ICMS, aumentou por volta de 4%.

A dívida bruta do governo geral (DBGG) como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) caiu pelo segundo mês consecutivo, de 76,1% em dezembro para 75,3% em janeiro. Em reais, essa dívida passou de R$ 8,984 trilhões para R$ 8,940 trilhões.

O pico da série da dívida bruta foi alcançado em dezembro de 2020 (87,6%), devido às medidas fiscais adotadas no início da pandemia. No melhor momento, em dezembro de 2013, a dívida bruta chegou a 51,5% do PIB.

A DBGG que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o BC e as empresas estatais, é uma das referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do país. Na prática, quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.

Já a dívida líquida do setor público (DLSP), que considera as reservas internacionais do Brasil, caiu de 61,2% do PIB em dezembro para 60,8% em janeiro. Em reais, atingiu R$ 7,221 trilhões.

Impacto dos juros

Já o resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais, foi superavitário em R$ 63,7 bilhões em janeiro. No acumulado em 12 meses, o déficit nominal alcançou R$ 956,5 bilhões (8,05% do PIB), ante déficit nominal de R$ 998 bilhões (8,45% do PIB) em dezembro de 2024. _

Isenção do Imposto de Renda e crédito para "puxadinho"

O projeto de lei da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil será enviado, no próximo dia 18, ao Congresso Nacional. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento de entrega de ambulâncias do Samu, em Sorocaba (SP) - ao todo, serão 789 veículos, sendo 111 para o Rio Grande do Sul.

No mesmo evento, Lula disse querer anunciar "logo, logo" uma nova política de crédito, agora voltada para a reforma de casas. Segundo ele, a pessoa que quiser construir um "puxadinho", vai ter crédito para fazê-lo.

- O cara que quer fazer um banheiro, um quarto a mais para a filha, alguma coisa a mais na garagem, mais uma cozinha, ele vai ter crédito para fazer esse puxadinho - disse o presidente.

Promessa de campanha

A proposta de ampliação da isenção de IR foi divulgada em novembro do ano passado pelo governo federal. A medida é uma promessa de campanha de Lula. Hoje, o limite de renda mensal de quem não precisa pagar IR é de R$ 2.259,20, de acordo com a Receita Federal. A lei que instituiu a nova política de valorização do salário mínimo, de 2023, autoriza desconto sobre o imposto de 25% sobre o valor do limite de isenção, no caso, R$ 564,80, valor que somado a R$ 2.259,20 resulta em R$ 2.824.

- A verdade é que quem paga imposto de renda nesse país é quem tem desconto na fonte, porque não tem como sonegar. Mas quem ganha muito, às vezes, nem paga. Inventa sempre uma mutreta qualquer. (...) O que nós queremos é salvar o povo trabalhador de pagar o imposto de renda enquanto muita gente rica sonega - disse o presidente, que afirmou mais uma vez que a população "vai voltar a comer picanha" e que o preço da carne irá baixar. _