sábado, 19 de abril de 2025


A erosão do "soft power" americano

As viagens internacionais para os Estados Unidos diminuíram desde que Donald Trump voltou ao cargo, diz uma reportagem do The Washington Post. Especialistas do setor de turismo afirmam que os motivos são óbvios: detenções e deportações, que causaram medo de experiências ruins na fronteira.

Fronteiras, aliás, são coisas que me causam medo. Já confidenciei isso a amigos: como jornalista, elas determinam o sucesso ou o fracasso de uma cobertura jornalística. Já senti isso entre El Salvador e Honduras, entre Líbano e Síria, entre Jordânia e Israel. Sinto, agora, receio em relação aos EUA.

Tenho um amigo cujo visto de turista foi negado sem maiores explicações: o rapaz de quase 30 anos tem Ensino Superior, emprego, bom salário e residência fixa em Porto Alegre. Nunca pensou em ficar ilegal nos EUA, ao contrário, sonhava visitar Nova York, voltar e contar o que viu, mas teve o documento rejeitado na entrevista, em Porto Alegre, sem explicações.

Isso depois de pagar quase R$ 1 mil. Outra amiga, que mora e estuda em Nova York há mais de 10 anos, pediu renovação do visto, mas não sabe se receberá autorização. Os critérios não são claros.

Liderar pelo exemplo

Uma pena. Durante décadas, os EUA exerceram um tipo de poder que não precisava de tanques nem de mísseis: o poder da atração. Bastava um filme, uma música, um símbolo. Nas relações internacionais, chamamos de soft power, um conceito formulado por Joseph Nye, que se refere à capacidade de um Estado influenciar o comportamento de outros por meio da atração e da persuasão, e não pela coerção.

Esse poder simbólico está enraizado na legitimidade dos valores políticos, na cultura e na política externa percebida como legítima e moralmente orientada. As universidades, a cultura pop, a promessa da liberdade, a democracia emoldurada pela Constituição.

Os EUA eram a imagem do país que acolhia, liderava e inspirava. Mas essa moldura, quase consensual no passado, vem se liquefazendo com Trump. As decisões do presidente, suas palavras e sua postura empurram os EUA para o isolamento. O "America First" não é apenas slogan, mas realidade, para o bem e o mal.

Nas fronteiras, a política migratória se tornou vitrine do fechamento. No campo econômico, o uso das tarifas como arma vira roteiro para a confrontação não apenas para com quem foi escolhido adversário geopolítico do século 21, a China, mas também para aliados históricos, em Tóquio, Bruxelas, Berlim e Paris.

O resultado é triste: os EUA, antes vistos como farol democrático desde os Pais Fundadores, agora despertam desconfiança mundo afora.

Perder o soft power é perder a capacidade de liderar sem mandar, e influenciar sem pressionar. É perder algo que não se reconstrói com tanques nem com PIB. _

Penitência e perdão

Ajuris e OEA fecham acordo - "Ex-terrorista" na lista da Time

A Escola da Associação de Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) firmou acordo de cooperação com a Organização dos Estados Americanos (OEA) para promover atividades acadêmicas e de pesquisa nas áreas do Direito e do Direito Internacional. A parceria foi formalizada em Washington, com a presença do presidente da entidade gaúcha, Cristiano Vilhalba Flores, e do secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

O objetivo é aprimorar e qualificar a formação de juízes e demais integrantes do sistema de Justiça do Brasil e dos países membros da OEA. As atividades serão coordenadas pela Escola da Ajuris. Também participaram do evento a diretora da entidade, Clarissa Costa de Lima, e o vice-diretor, Daniel Neves Pereira. 

Na mesma lista que inclui o cantor Ed Sheeran, a atriz Demi Moore, a ativista Gisèle Pelicot, o empresário Elon Musk e a tenista Serena Williams, chama atenção a presença de um "ex-terrorista", se é que se pode dizer assim, entre as cem pessoas mais influentes do mundo em 2025, segundo ranking da revista Time.

Divulgada na semana que passou, a relação traz o nome do presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, na categoria de "Líderes". Al-Sharaa comandou o grupo, classificado por vários países como terrorista, Hay?at Tahrir al-Sham (HTS), e assumiu o país após a queda do regime de Bashar al-Assad em 2024. 

Fiéis ligados à irmandade Jesus Yacente, em Zamora, na Espanha, saíram às ruas da cidade para rememorar a Sexta-feira Santa.

O gorro pontudo, usado pelos penitentes espanhóis, surgiu em um dos momentos mais sinistros da história, na Inquisição, levada a cabo pela Igreja Católica, quando os condenados por blasfêmia e heresia eram obrigados a usar o "capirote" para identificação e constrangimento. _

Justiça climática em foco

Para marcar o primeiro ano do dilúvio de 2024, em maio, a Ajuris também promoverá o evento Justiça Climática em Foco: Lições da Enchente do RS e Caminhos para o Futuro. O evento ocorre em 29 de maio, das 9h30min às 18h no auditório do Espaço Multiuso do TJ-RS. Além de especialistas em sustentabilidade, participarão líderes comunitários, como Fabiane de Figueiredo Xavier, do Quilombo Areal da Baronesa, Luís Rogério Machado, do Quilombo dos Machado, e Beatriz Gonçalves, das comunidades das Ilhas Ribeirinhas. Inscrições no site da entidade. _

Isenções no IPTU de Porto Alegre

O valor da renúncia fiscal com as isenções do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) de Porto Alegre aumentou 53,1% após a criação de uma ferramenta digital pela equipe da Divisão de Receita Imobiliária da Secretaria da Fazenda. A medida beneficia, principalmente, moradores de habitações populares e imóveis incluídos na Regularização Fundiária Urbana, que têm direito à isenção.

A mudança operacional começou com a criação em 2024 de um sistema que permite aplicar as isenções de forma automatizada e em larga escala. Antes, o processo era manual e individualizado. Com a automatização, o número de isenções para imóveis populares saltou de cerca de 12 mil em 2024 para mais de 16 mil em 2025. 

RODRIGO LOPES 


18 de Abril de 2025
CARPINEJAR

O que estamos fazendo de nossa Páscoa?

As cestas de Páscoa de antigamente tinham um charme artesanal e afetivo que se perdeu no tempo.

Eram montadas nos lares, secretamente, com enfeites e doces caseiros: ovos pintados à mão, coelhinhos de tecido, biscoitos amanteigados em formato de cenoura, docinhos de leite condensado enrolados com embrulho colorido, pães de mel com cravo e canela, amendoins caramelizados, balas de coco, trufas, pudim no potinho e bolinhos confeitados.

Sentíamos o calor da mão de quem cozinhava, a guloseima fresquinha, recém-saída da panela, o carinho das vésperas e dos sonhos.

Os pais renunciavam à publicidade pelo mistério, com um suspense bem forjado e oculto no mundo adulto. Ajeitavam a surpresa em cestos de vime, forrados com guardanapos bordados ou papel crepom e celofane. Guarneciam as bandejas de modo igualitário, peça por peça, item por item, para não gerar ciúme entre os irmãos.

A prole vigiava o raiar do sol, a manhãzinha do Domingo de Páscoa com expectativa. O coelho entregaria o mimo em algum lugar incógnito da casa. Ela deveria procurar, rastrear o esconderijo, abrir as portas dos armários e as gavetas, espiar debaixo das camas e das mesas, revirar as almofadas do sofá, mexer nos entulhos da garagem, nos baldes do tanque da lavanderia.

O bando expedicionário cantava em uníssono, de preferência com saltos e pinotes: "Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos, três ovos assim...". Pegadas indicavam os caminhos para o arrebatamento, para o susto, para o sorriso trocando os dentes de leite.

Naquela época, há quatro décadas, dávamos mais atenção ao gesto do que ao conteúdo. Não existiam a atual disputa de marcas, a demanda por brindes e presentes, a obsessão por personagens conhecidas do universo infantil.

As cestas personalizadas e neutras desabilitavam a concorrência e a inveja. Prezávamos o sentido religioso da ressurreição de Cristo - hoje as crianças nem mais sabem se o momento se refere ao nascimento ou à morte de Jesus. Reverenciávamos a fertilidade e o início de uma nova vida, representados pelos ovos e pela figura do coelho.

A cobiça vem apagando as pequenas delícias da família. Uma caixa de bombons não emociona mais. Já estamos completamente indiferentes à data, exigindo o tamanho cada vez maior do produto.

Os pais gastam o que não têm, sofrem com as chantagens e birras, compensam a culpa e a sua ausência com o consumismo. O que estamos legando para nossas crianças?

A idolatria do brinquedo junto ao chocolate derrubou a compaixão. A embalagem subjugou o interior dos hábitos. Sobrou apenas a casca de um feriado, sem nenhuma profundidade metafísica.

Jogamos fora o movimento lúdico do faz de conta, as brincadeiras coletivas, o pacto com os antepassados, os rituais de geração a geração, as ideias criativas, a caça ao tesouro, o uso da imaginação.

O açúcar, antes, funcionava como um pretexto para entender e praticar outras doçuras. _

CARPINEJAR

18 de Abril de 2025
MARCO MATOS

Guerra contra a dengue

Gosto de escrever aqui sobre assuntos leves, crônicas, algo que meu olhar capta em algum instante da rotina. Hoje não vai dar.

Existe uma doença, bem séria, que muita gente negligencia, talvez por nunca ter passado por ela. Nunca se esqueça: a dengue mata. Eu tenho absoluta certeza de que se você já teve ou convive com alguém que também já passou por isso, você sabe do que eu estou falando.

Eu tive dengue em 2015, quando morava em Maringá, no norte do Paraná. Foi a sensação mais estranha e ruim que tive em toda a minha vida. Em sete dias, quase derreti de febre que insistia em ir e vir, cada vez pior. Minhas pernas não aguentavam o peso do meu corpo. Meus olhos ardiam. E foram muitos outros sintomas. Pensei até que não iria resistir. Tive muito medo.

A questão central aqui é que eu, que já enfrentei epidemias de dengue muito mais graves quando morei no Paraná, não vejo a mesma preocupação com a doença aqui no Rio Grande do Sul. Talvez porque o número de mortes aqui não seja tão alto quanto era lá, todos os anos.

Quando o verão se aproximava toda a região se mobilizava. Não tinha dia que não via pelas ruas alguma equipe dessas que combatem o mosquito seja com informação ou com fumacê (uma espécie de veneno que é lançado ao ar para matar os mosquitos). Aqui nem percebo as pessoas preocupadas em usar repelente!

Nessa quinta-feira noticiamos no Jornal do Almoço e em GZH que Porto Alegre iria decretar emergência em saúde por causa da dengue. Um hospital de campanha foi montado ao lado da UPA da Zona Norte.

Combater a dengue não é algo de agora. Faz anos, décadas que sabemos o que precisa ser feito. É simples: não dá para ter nada que possa acumular água, já que assim você cria o ambiente ideal para que o mosquito se prolifere. Para quem ainda não sabe, um mosquito da dengue precisa picar alguém com a doença e só então passa a transmitir dengue para outras pessoas.

Minha coluna de hoje é um pedido de atenção, um chamado de alerta. Teremos quatro dias mais tranquilos, dois feriados e um fim de semana. Tempo de sobra para olhar bem em volta de casa, fazer o que é preciso.

Parece até loucura ter que, em 2025, pedir para que as pessoas virem potinhos, coloquem areia em pneus, lavem bebedouros de animais, verifiquem os vasos de plantas. _

O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

MARCO MATOS


18 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Quem são os credores dos EUA

A situação de caos criada por Donald Trump cria a expectativa de um freio à turbulência global. A concentração de riqueza nos Estados Unidos faz com que seu presidente tenha a sensação de ser dono do mundo, mas até o dono do mundo tem... credores.

Esse é o papel dos países que detêm títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries. Os diferentes tipos de papéis emitidos pelo governo compõem cerca de 90% da dívida pública americana, de US$ 36,7 trilhões, o equivalente a 122,7% do PIB.

Os países compram esses títulos para compor suas reservas internacionais, necessárias em um mundo em que o dólar determina negócios globais e os Treasuries são o porto seguro dos portos seguros. Durante a crise, até essa noção que parecia imutável foi chacoalhada.

Foi atribuída a um sinal de travamento na negociação desses títulos a gota d?água que fez Trump recuar, para além da pressão de Wall Street e dos amigos bilionários.

Chegou a haver especulação se o segundo maior detentor desses papéis, a China, teria provocado essa trava. Mas a discrição do gigante asiático e o orgulho da potência americana impediram, até agora, que isso fosse demonstrado.

O que ficou claro é que os credores dos EUA têm, afinal, algum poder, especialmente diante de quem só vê valor em cifrões. E, como todos estão desafiados pelo vaivém tributário, essa pode ser uma forma de chamar Trump à racionalidade.

Estoque de Treasuries maior do que o da China, só o Japão tem, com 42% a mais de títulos americanos do que o vizinho da Ásia. Os japoneses ganharam prioridade nas negociações comerciais.

O terceiro é um aliado histórico, o Reino Unido, que enfrenta tarifa de 10%. Não teme alíquota punitiva no final dos 90 dias de "pausa". O Brasil aparece em 15º lugar, com US$ 199,1 bilhões em Treasuries no final do primeiro trimestre - mais da metade das reservas internacionais, de US$ 336,2 bilhões no mesmo período. _

Governo Lula agora admite "estrangulamento" em 2027

Em meados de 2024, a Instituição Fiscal Independente (IFI) advertiu para o risco de "gravíssimo estrangulamento orçamentário" em 2027. Antes de prosseguir, é bom lembrar que a IFI é, como diz o nome, independente, ou seja, uma espécie de "xerife" das contas públicas cujo papel é avaliar dados sem opinar ou fazer juízo de valor. Acompanha, fiscaliza e emite alertas.

Nesta semana, durante a a apresentação de um já inquietante orçamento para 2026, o próprio governo Lula admitiu que o ano seguinte será "desafiador".

- Para 2027, R$ 122 bilhões (em despesas discricionárias) já é bastante comprometedor, por isso já citei como um número que comprometeria a execução de políticas públicas - disse o secretário de Orçamento Federal, Clayton Monte.

O problema é que, em despesas discricionárias - em tese, não obrigatórias -, é preciso prever desembolsos compulsórios, como R$ 56,5 bilhões em emendas parlamentares. Sobrariam R$ 65,7 bilhões, valor insuficiente para cumprir os pisos de gastos com saúde e educação.

Para entender, só depois de garantir as emendas e aplicações mínimas nos dois setores é possível destinar recursos a investimentos, por exemplo. Se a "sobra" não for suficiente nem para cumprir a regra, afeta o funcionamento do setor público da União. De que forma? Em tese, precisaria passar por um mecanismo semelhante ao "shutdown" nos Estados Unidos, em que serviços federais deixam de ser prestados.

Para evitar que isso ocorra, seria necessária um reforço orçamentário ou mudança no arcabouço fiscal aprovado no atual governo. Para lembrar, o regime fiscal anterior, de teto de gastos, desvinculava os pisos da saúde e da educação das receitas. Nenhuma das duas medidas teria aprovação fácil agora, mais ainda em 2026, ano eleitoral.

E Pestana faz novo alerta para o próximo ano:

- O quadro para 2026 é mais difícil, impondo um desafio maior em relação ao incremento das receitas, em um contexto de PIB e inflação em retração. E, ainda, sem incorporar os eventuais efeitos da atual guerra comercial no cenário global. _

Na Argentina, sem "mala" de dinheiro

A semana da Páscoa começou com mudança cambial na Argentina, país que brasileiros gostam de visitar em feriadões. A troca do "cepo" - restrições a operações com dólares - por um sistema de bandas flutuantes semelhante ao do Brasil de março de 1995 até janeiro de 1999 teve disparada do dólar, seguida de acomodação.

Na prática, há aproximação entre o dólar oficial e o "blue", o principal paralelo no país. Ontem, o oficial fechou cotado a 1.160 e o "blue", a 1.255 pesos argentinos. Então, turistas que andavam com dinheiro para evitar usar cartão podem dispensar a "mala".

O que não mudou, ao menos por enquanto, é a diferença de preços entre Brasil e Argentina. Como indicaram as levas de hermanos no litoral gaúcho, divididas entre as areias e as lojas, o lado de cá da fronteira segue mais barato do que o de lá.

A retirada de subsídios governamentais pelo governo Milei fez a inflação acumular alta de 55,9% em 12 meses. No Brasil, também é alta, mas está em 5,48% no acumulado em 12 meses. _

Casas a desabrigados quase prontas, falta adequar terreno

A poucos dias de o dilúvio de maio completar um ano, a coluna acompanha com ansiedade a construção das primeiras 50 casas definitivas que serão doadas a atingidos pela inundação em Muçum. No final do ano passado, a expectativa de entrega era até março, mas o mês terminou sem que as famílias pudessem ter um lar definitivo.

O Movimento União BR, que dedicou recursos milionários de doações a essa entrega, afirma que "o terreno escolhido apresenta desafios técnicos e exige intervenções adicionais de contenção e infraestrutura, especialmente após as chuvas que atingiram a região nos últimos meses".

O União BR destaca, ainda, que o trabalho é feito "em parceria com a prefeitura e o governo do Estado para viabilizar, o mais rápido possível, a entrega das casas no Jardim Cidade Alta 2".

A prefeitura de Muçum afirma que, "por se tratar de um terreno com desafios técnicos, foram feitos ajustes no projeto e na execução da obra, em parceria com o Movimento União BR e o governo do Estado".

Conforme a Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária do Estado (Sehab), "o recebimento dos documentos técnicos finais, elaborados pela prefeitura de Muçum, deu-se em 31 de março de 2025". Só a partir de então, relata a secretaria, "providenciou os trâmites para aprovação do recurso do Funrigs", que deve decidir na próxima reunião do Comitê Gestor, no dia 29. _

GPS DA ECONOMIA

18 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Lula erra em asilo à ex-primeira-dama do Peru

Como o presidente Lula vai explicar aos brasileiros a concessão de asilo diplomático à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro? Mais: como explicar que Nadine e seu filho menor de idade tenham sido trazidos para o Brasil em um avião da FAB?

Certos atos de governantes não têm defesa, mesmo quando embalados no papel de seda da humanidade. A justificativa extraoficial de que Nadine já tinha pedido para residir no Brasil para fazer tratamento contra o câncer não cola. Nem brasileiros que estão vivendo no Exterior e precisam se tratar de uma doença grave têm o privilégio de voltar em aviões da FAB.

O máximo que o governo faz - e nisso acerta - é retirar brasileiro de zonas de conflito ou de desastres. Não se tem notícia de alguém trazido dos Estados Unidos, por exemplo, onde a medicina é caríssima, voltar em avião da FAB para se tratar de um câncer pelo SUS.

Argumento é o mesmo de Bolsonaro

Nadine e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados sob acusação de receber dinheiro de origem ilícita da Venezuela e da Odebrecht para financiar as campanhas de 2006 e 2011. Humala e Nadine são acusados de receber US$ 3 milhões em contribuições ilegais da construtora que foi uma das protagonistas da Lava-Jato no Brasil.

Lula pode dizer que o casal peruano foi vítima de um julgamento injusto ou viciado. Se isso lhe soa familiar é porque esse argumento é o mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda não foi julgado mas tenta desqualificar a acusação da Procuradoria-Geral da República com a tese de que é inocente.

Quando Bolsonaro passou dois dias refugiado na embaixada da Hungria em Brasília, o PT fez um escarcéu, alegando que ele pretendia fugir do Brasil com medo de ser preso.

E se Bolsonaro for condenado e se homiziar na embaixada dos Estados Unidos, da Argentina ou de qualquer país "amigo", dizendo-se perseguido político, como reagirá o governo brasileiro? _

Em queda de popularidade, Lula dá aos adversários um pacote pronto para ser criticado, não fundamenta a decisão e deixa o caminho livre para os acusados pela trama golpista saírem do país pela porta da frente de uma embaixada.

Propostas para a saúde não reduziram angústia dos prefeitos

Nem todos os prefeitos da Região Metropolitana saíram felizes da reunião com o governador Eduardo Leite sobre a saúde, quando ele anunciou recursos para o Assistir e propôs assumir a gestão da alta complexidade de Porto Alegre.

O presidente do Consórcio da Granpal e prefeito de Guaíba, Marcelo Maranata, cobrou mais medidas.

A chegada do inverno tende a aumentar muito a preocupação dos nossos prefeitos. A gente não vê o financiamento do Estado nem da União - lamentou.

O prefeito de Sapucaia do Sul, Volmir Rodrigues (PP), ameaçou reduzir o número de leitos já na próxima semana se não conseguir um acordo para resolver a sobrecarga. _

Prefeito de Viamão é condenado por expor intimidade de ex-companheira

O prefeito de Viamão, Rafael Bortoletti (PSDB), foi condenado a nove anos de prisão por divulgar uma gravação íntima da ex-companheira sem consentimento dela e tentar coagir testemunhas.

Segundo a decisão do juiz Igor Hamade, Bortoletti expôs áudios, da época em que os dois tiveram um relacionamento, em uma caixa de som durante reunião de políticos em um sítio.

Ele foi condenado a nove anos, um mês e 22 dias de reclusão em regime fechado e multa, mas poderá recorrer da decisão em liberdade.

Em nota, a defesa do prefeito informou que vai recorrer e que acredita que a Justiça irá reformar a decisão. _

Podemos e PSDB vão anunciar união

O casamento do PSDB com o Podemos está na fase do acerto de detalhes e será anunciado até o dia 30, mas os tucanos não migrarão em massa para o novo partido. Como os dois gostariam de manter os nomes de solteiros, a solução salomônica será uma terceira denominação. O mais provável é que venha se chamar Juntos, manter o número 20 (do Podemos) e adotar o tucano como símbolo.

De acordo com o presidente do Podemos no RS, Éverton Braz, a presidente nacional do partido, Renata Abreu, está tentando convencer os tucanos a aceitarem uma incorporação e não fusão. Pode parecer irrelevante, mas de acordo com Braz o problema é o estatuto do PSDB, considerado defasado em comparação com o do Podemos. Em caso de fusão, seria preciso escrever um novo estatuto.

Na interpretação de Renata Abreu, a fusão abriria caminho para que deputados dos dois partidos pudessem migrar para outra sigla sem risco de perder o mandato. Se a opção for pela incorporação, apenas os tucanos poderão alegar incompatibilidade para sair. _

Quem irá com Leite para o PSD

Principal líder do PSDB no Estado, o governador Eduardo Leite está acertado com o PSD. Com Leite devem migrar a ex-prefeita de Pelotas Paula Mascarenhas, o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, o ex-prefeito de Santa Maria Jorge Pozzobom e o deputado estadual Professor Bonatto. A deputada estadual Nadine Anflor e os federais Lucas Redecker e Daniel Trzeciak tendem a optar pelo Republicanos. No novo partido deve permanecer o presidente do PSDB de Porto Alegre, Moisés Barboza. _

O ministro Augusto Nardes, do TCU, contesta a interpretação da coluna de que suas viagens ao Interior fazem parte de um projeto eleitoral. Ele alega que está visitando várias cidades como relator do processo do Programa Recupera Rio Grande, que cuida da área dos recursos repassados à Defesa Civil.

POLÍTICA E PODER

18 de Abril de 2025-
Rodrigo Lopes

Amigos... amigos...

Aos amigos, os favores. Aos inimigos, a lei. É o que diz o velho ditado, que o presidente Lula faz questão de tornar atual com a concessão de asilo político a Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, esposa de Ollanta Humala. Pior do que isso, só o fato de um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) estar esperando Nadine no aeroporto de Lima tão logo fosse concluída a sessão judicial que culminou na condenação à prisão dela e de seu marido, o ex-presidente.

Concessões de asilo são atos políticos - e o direito, em geral, é revertido quando muda o governo de turno, ou a ideologia de quem está no poder. Há exceções, claro. Principalmente no Brasil, o país das exceções. Alfredo Stroessner, o ditador paraguaio, que governou seu país entre 1954 e 1989, viveu por 17 anos no Brasil, desde que José Sarney o protegeu após ser apeado do poder. O autocrata vizinho morreu em bom lar, em Brasília, em 2006. Ou seja, além de Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula garantiram que não fosse julgado em seu país pelas atrocidades aos direitos humanos que cometeu.

No caso de Nadine, o que desonra a nação é o fato do uso de um avião da FAB, pago pelo contribuinte, estar disponível para a ex-primeira-dama de forma tão rápida. Foi perspicaz o governo e o presidente, o comandante-em-chefe do país. É de surpreender a agilidade, sobretudo porque costumo ser um dos críticos diante da eventual lentidão das Forças Armadas para deslocamentos internos em tragédias como a que o RS viveu, em maio. _

Asilados e protegidos políticos

O asilo político à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, condenada pela Justiça de seu país por lavagem de dinheiro em casos ligados à empreiteira brasileira Odebrecht, não é um caso inédito no Brasil. O governo brasileiro já oferece proteção a figuras controversas da política internacional. Confira, ao lado, casos emblemáticos. _

Roger Pinto Molina

Opositor ferrenho de Evo Morales, denunciou corrupção e foi acusado de "sedição" pelo governo boliviano. Em 2012, pediu asilo na Embaixada do Brasil em La Paz, onde ficou 15 meses até ser retirado em um carro diplomático brasileiro. Morreu em um acidente aéreo em Goiás, em 2017.

Cesare Battisti

Ex-militante de extrema-esquerda italiana, ficou conhecido pelo envolvimento com grupos armados na Itália nos anos 1970. Em 1981, conseguiu asilo político na França, revogado anos depois. Passou pelo México e chegou ao Brasil em 2004. Em 2009, Lula concedeu asilo político, ignorando um pedido de extradição da Itália - que o acusava de terrorismo. Em 2019, Jair Bolsonaro autorizou sua extradição, sendo deportado para a Itália.

Abdalá Bucaram

Foi presidente do Equador deposto em 1997 por "incapacidade mental" declarada pelo Congresso de seu país. Vindo ao Brasil com parte de sua família, viveu asilado por vários anos.

Demais casos

Outros dois casos que chamam atenção: Ronald Biggs e Manuel Zelaya. Os dois não receberam asilo político formal, mas foram protegidos pelo governo brasileiro.

Biggs viveu no país por cerca de 30 anos. Participou do famoso assalto ao trem pagador, em Glasgow, em 1963. Foi preso, fugiu do Reino Unido e chegou ao Rio em 1970, onde viveu até 2001, quando voltou a seu país e foi detido. Faleceu em 2013.

Já Manuel Zelaya foi presidente de Honduras entre 2006 e 2009, foi deposto por um golpe militar. Zelaya retornou clandestinamente ao país em setembro do mesmo ano e refugiou-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Após meses de impasse, em 2010 foi viver na República Dominicana, retornando em 2011.

Um olhar sóbrio sobre a crise institucional no Brasil

No meio do furacão, nada como o olhar distanciado. A revista britânica The Economist conseguiu isso no artigo que ganhou repercussão ontem sobre os poderes excessivos do Supremo Tribunal Federal (STF).

E o primeiro sintoma da lucidez do texto é a capacidade de análise desapaixonada - que consegue, por certo, provocar a ira de quem se ilude em eleger, de um lado ou de outro, mocinhos e bandidos no atual cenário político brasileiro.

Decisões monocráticas

O texto provoca tanto bolsonaristas quanto alexandristas - e lulistas. A tônica do texto é focada no excesso de decisões monocráticas na Corte. Mas sobra, literalmente ou no subtexto, para todos - intra e extramuros do Supremo.

O diagnóstico é: a mais alta Corte enfrenta crescentes questionamentos na medida em que tenta administrar temas políticos. Para restaurar a imagem de imparcialidade, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de golpe de Estado, deveria ocorrer no plenário do STF - e não pela Primeira Turma, composta pelo ex-advogado de Lula Cristiano Zanin e um ex-ministro Flávio Dino, além de Alexandre de Moraes.

Orientação liberal

A revista faz fortes críticas a Moraes, que está exercendo, segundo a Economist, "poderes surpreendentemente amplos, que têm como alvo predominantemente atores de direita".

É preciso ler o artigo com a consciência de que a Economist tem orientação liberal - e, até por isso, não personifica a culpa de um Brasil que parece andar para trás. A culpa não é só de um ou outro lado. Tampouco de um único poder da República, o que não isenta aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro de terem tentado golpe de Estado. _

STF na berlinda

Outro ponto do artigo da Economist é impactante: todos presidentes brasileiros desde 2003 foram acusados de violar a lei. Daí a importância do olhar externo.

No texto, sobram críticas a integrantes do STF. Além de Moraes, chamado de "juiz estrela", o decano da Corte, Gilmar Mendes, é alvo pelo Fórum Jurídico de Lisboa. Dias Toffoli é mencionado pelos despachos individuais. Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, criticado pela declaração "derrotamos o bolsonarismo".

Esses fatores, diz a revista, comprometem a credibilidade do STF. E não ocorrem por acaso. Executivo e Legislativo caíram em descrédito, levando o Supremo a ampliar seu escopo em resposta a uma crise institucional. Quem se permitir aceitar críticas de fora e ler o texto compreenderá que a "anistia" resolverá o problema. A crise institucional em que nos encontramos é mais profunda. _

Casos de antissemitismo crescem 350%

Um relatório lançado nesta semana revela aumento de 350% nos casos de antissemitismo no Brasil, em 2024.

O documento foi lançado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), a Federação Israelita do Estado de São Paulo e o Departamento de Segurança Comunitária (DSC/FISESP).

Conforme o presidente da Conib, Claudio Lottenberg, o Brasil apresentou o maior aumento dos casos globais (961%) desde o início da guerra no Oriente Médio, deflagrada pelos atentados do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023.

No primeiro mês de conflito Israel-Hamas, houve aumento de 1.000% das denúncias, média de 12 denúncias diárias. O documento aponta um total de 1.788 casos, atingindo recorde histórico no Brasil, com aumento de 350% dos casos em 2024.

O ambiente digital é o principal vetor: 73% das denúncias ocorreram no ambiente online, com o X (ex-Twitter) liderando (48%) e o Instagram em segundo (37%). _

INFORME ESPECIAL

sábado, 12 de abril de 2025

11/04/2025 - 15h15min
Martha Medeiros

Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros

Nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice

De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós.

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Ao me visitar, uma amiga trouxe um vinho e o livro A Minha Mãe é a Minha Filha, de Valter Hugo Mãe. Uma edição minúscula, menos de 50 páginas, que trata sobre a relação do autor com sua progenitora. Minúscula no tamanho, claro, pois o assunto é da maior grandeza.

Minha amiga e eu estamos passando pela mesma situação: nossas mães, que tão bem nos cuidaram na infância e adolescência, agora precisam segurar na nossa mão para atravessar essa rua assustadora chamada velhice.

Valter Hugo Mãe é só doçura em seu texto e faz tudo parecer um piquenique no parque com a matriarca. De fato, que oportunidade fabulosa de ficarmos mais próximos delas e retribuir o tanto que fizeram por nós. Em tese, perfeito: os papéis se invertem, o ciclo se fecha e o amor vence no final. Na prática, porém, é um tsunami, que o digam as mulheres na faixa dos 50 e 60 que tinham outros planos. 

Geralmente, estão com os próprios filhos criados e com alguma estabilidade profissional. Seria o momento de se concederem uma aposentadoria por serviços prestados à família: hora de pensar em si mesmas, fazer um curso, visitar amigos que moram fora, dar uma circulada por aí antes de serem abatidas em pleno voo, afinal, também estão iniciando o processo de envelhecimento, só que ainda com pernas firmes e bom estoque de energia.

Quando essa liberdade precisa ser adiada, é um baque. Ninguém deseja, aos 60, já ter perdido os pais. Quem tem a sorte de ainda tê-los, sabe que eles, depois dos 80, correm riscos atrás de um volante, mal conseguem caminhar sozinhos e a ida ao mercado vira um passeio na selva. Não todos: muitos mantêm-se autônomos, mesmo em idade avançada. Cada pessoa tem seu próprio prazo de validade, e é um privilégio quando se consegue chegar tão longe sem depender dos outros. Mas não é a norma.

Tema bonito para uma prosa poética, mas mexe com emoções variadas. A culpa é a primeira a atacar. Queremos fazer mais por eles, mas temos nossa própria vida para cuidar. É justo privilegiar as demandas deles? O histórico da relação deve ser levado em conta? Se tivermos mágoas retroativas, devemos sublimá-las? Terceirizar os cuidados é bom? É ruim? Pra quem?

Dezenas de perguntas nos invadem. Terapeutas, acudam. Amor existe de sobra, mas com pitadas de impaciência, tempero que não é bem-vindo nesta receita. Por enquanto, um elemento tem facilitado a jornada dos Medeiros: o bom humor. Minha família nunca foi de fazer drama. Vamos rindo enquanto dá para rir, e assim todos se ajudam. Talvez esteja aí a beleza do caos: reconhecer que todos os envolvidos precisam de ajuda, e vivenciar a troca de papéis com a leveza necessária, sem ficar apostando em quem vai pirar primeiro. 


12 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Alanpa!

Tenho quatro cadeiras no Beira-Rio há 15 anos. Confesso que já escondi as mensalidades da esposa. Solicitei ao clube que não mandasse mais os boletos pelo correio.

Como você paga tudo isso para um time? - ela me perguntou. Naquela época, eu me constrangi como uma ovelha cardada. Hoje, não mais. Hoje uivo com orgulho. Preciso proteger as minhas alegrias.

Por influência benéfica da terapia, assumi e aprendi a declarar: gasto e não nego. Sou fanático.

Frequentar o estádio é um dos meus maiores prazeres. O meu recreio. Onde descarrego as preocupações. Onde volto a ser um guri. Trata-se do principal evento da semana. Fico com aquele gostinho de Pastelina e guaraná na boca, após trabalhar como mula nos dias úteis. Um gostinho de esperança de infância. De explosão. De catarse.

Já conto com os meus vizinhos de bandeira e boné: o livreiro que fala sozinho e some no intervalo do segundo tempo; o adolescente que não para de berrar "chuta!"; o senhor que não cansa de exigir "senta". Compomos uma família colorada a cada batalha. São as pessoas de sempre compartilhando 90 minutos comigo, ao lado dos filhos e do melhor amigo Zé.

Investiria o dobro (não me escute, Alessandro Barcellos) para assistir ao espetáculo de Alan Patrick. Um 10 legítimo, em extinção. Camufla a bola nos pés - ela só aparece mais adiante, sob a forma de um lançamento primoroso ou de um chute imprevisível estufando as redes.

Um mago. Atua de fatiota e gravata-borboleta, um gentleman com a maciez da grama. Desliza, flutua. Eu canto Fly Me To The Moon, de Frank Sinatra, enquanto o vejo. Me leve para a lua. Me leve para o tri da Libertadores.

É tão bom que os adversários o respeitam e o temem. Ele transforma cobrança de pênalti em suspiro. A arquibancada respira com ele. Põe 40 mil torcedores a praticar pranayama, exercício da yoga. Redescobrimos o nosso diafragma. Redescobrimos o nosso coração. Todos puxamos o ar ao mesmo tempo, subindo o abdômen. Todos soltamos o ar ao mesmo tempo, descendo o abdômen num grito ensandecido de gol.

Na história, só Paulo César Carpegiani pode ombrear com ele em técnica e tática naquela posição. Os saudosos e sobreviventes concordarão comigo.

Seu repertório é inesgotável. Mobilia uma casa - janela, lençol, chaleira - em alguns minutos. Ele vem aumentando a minha concentração: não me distraio como antes, não pisco, não vou ao banheiro, não consumo nada dos ambulantes - à espera de um milagre ou de um lance surpreendente. Vem me devolvendo a comoção do instante ao vivo, inédito.

Não o quero na Seleção Brasileira, por ciúme, por gula, por inveja, por avareza. Não gostaria de desperdiçá-lo em nenhum jogo. Não gostaria de cedê-lo para mais ninguém. Ele desperta os piores sentimentos de possessividade. Inclusive porque a Seleção não o merece. Peço desculpas pela minha limitação. Deveria ser festejado mundialmente. Mas admito: meu mais terrível medo é perdê-lo.

Sofro por antecedência, projetando como o manteremos na próxima temporada. Ele não para de brilhar, de chamar atenção, de ser citado por comentaristas que estavam acostumados a exaltar exclusivamente o Sudeste. Chegou a fazer hat-trick em cima do Atlético Nacional da Colômbia. Precisava de três? Precisava esbanjar?

Em 13 de maio, Alanpa estará de aniversário. Completará 34 anos. Já estou pensando em comprar um presente. Até lá, muita terapia para explicar à minha esposa novos desembolsos com o futebol. Imagino o diálogo:

- Você nem o conhece! - Ah, conheço, sim. Ele vive me presenteando. Se sou um marido mais feliz hoje, agradeça a ele. O justo seria dividir as despesas. 

CARPINEJAR

12 de Abril de 2025
ANDRESSA XAVIER

A tal inteligência artificial

Nessa semana o Estado abrigou mais uma vez o South Summit, evento que evidencia soluções em inovação e tecnologia, premia startups e debate novidades nesse mundo que não é explorado por todos nós, cidadãos leigos em muitas partes desse assunto. Deve ser um orgulho para a gente ter aqui, pertinho, num dos nossos cartões-postais, um evento desse porte.

Perdi as contas de quantas vezes ouvi falar em inteligência artificial nesses três dias e tudo que ela pode fazer por nós. Pode não, já está fazendo, e em alguns casos nem percebemos ainda. IA não é relativa a um futuro distante nem mesmo a filmes de ficção. Enquanto algumas pessoas tinham medo de que as vacinas roubassem seu material genético, o que é uma bobagem, essas mesmas colocam todos seus dados à disposição dos aplicativos e equipamentos. Hoje somos facilmente observados pela tecnologia, que sabe o que pesquisamos, procuramos em lojas ou sites, compramos ou a que assistimos.

Nossas redes sociais mostram com o que simpatizamos ou polemizamos. Nada é por acaso. Engana-se quem acha que existe almoço grátis na internet. Quando a plataforma indica um filme que é do meu tipo, é porque minhas informações anteriores disponibilizadas ali mostram qual é o meu gosto. Para música, para compras, para notícias e até desinformação. É assim que o jogo funciona, a não ser que você more numa ilha sem internet nem telefone.

A IA tem muita coisa boa. Ainda estamos aprendendo a domar as plataformas, ao menos no meu caso, mas é surpreendente como a tecnologia pode nos ajudar se bem utilizada. Dia desses, ao ouvir duas pessoas falando sobre as maravilhas feitas pela inteligência artificial no trabalho delas, agilizando a formatação de planilhas, apresentações e fazendo gráficos rapidamente, uma terceira pessoa ficou matutando, até que perguntou o que a IA ajudaria na vida dela, já aposentada. Ficou também maravilhada ao saber que pode inclusive conversar com um aplicativo no celular. Que tem como ser lembrada de compromissos ou mesmo de remédios que precisa tomar.

Na saúde, a IA pode ajudar automatizando cadastros e agilizando filas. Na educação, já está ajudando a mapear a evasão escolar, acelerando um diagnóstico que precisa ser tratado. Os e-mails no trabalho agora têm a possibilidade de ajudar a resumir uma conversa ou até escrever para um colega. Pode otimizar processos jurídicos e também ajudar médicos.

Este é um mundo sem limites, que exige cuidados, responsabilidade e discussão ética, mas é uma realidade já posta. Negar a existência agora será pagar uma conta mais cara logo ali na frente. Inteligência artificial, somada às pessoas que souberem tratar dela, não é o futuro, é o presente. _

ANDRESSA XAVIER

12 de Abril de 2025
MARCELO RECH

O senhor do caos

A esta altura, já nem importa tanto o turbilhão nos mercados, com trilhões de dólares atirados de um lado para o outro pela ação desvairada de Donald Trump. No futuro, o que se lembrará destes dias é a perda de confiança nos EUA como aliado e parceiro comercial, e o redesenho do mapa geopolítico pelo futuro a perder de vista. De relance, a guerra tarifária de Trump poderia ser apenas o desatino momentâneo de um jogador de pôquer das finanças, mas ela vai bem além.

Depois de passar a rasteira militar na Europa, a puxada de tapete comercial obriga todas as nações a olharem para o lado e estabelecerem novos vínculos baseados em alguma coisa parecida com estabilidade e razoabilidade. E quem acabou ficando no papel de mocinho nesta queda de braço? Ela mesma, a China, que se apresenta como o porto seguro da sensatez. Parabéns, Trump, você conseguirá empurrar nações outrora hesitantes para os longos braços de seu maior adversário.

Definir Trump como um troglodita nos negócios é pouco. Pretender isolar os EUA em uma muralha comercial, e no estilo show de calouros com que foi apresentada, é um caso de patologia diplomática e de amadorismo econômico, quando não de insanidade mental. E Trump só pediu água porque ia encalacrar o mundo em um inverno nuclear econômico, como alertou um de seus bilionários doadores, apavorado com as trapalhadas de sua criatura.

Quando investidores começaram a se livrar dos bônus do tesouro dos EUA de 10 anos, tido até a semana passada como o investimento mais seguro da Terra, o chão tremeu. No fim, o errático presidente dos EUA só comprovou que sua palavra não vale nada e revestiu a maior potência do planeta em um manto de ridículo, rancor e desconfianças. Para qualquer um que acredite nos valores da civilização moderna, como democracia, liberdade econômica e respeito a fronteiras, isso é preocupante.

O incêndio produzido pelo Nero da Casa Branca não se apagará tão cedo porque simplesmente não há como, nem razão para, se equilibrar a balança entre todos os países que fazem comércio com os EUA. Sobre inevitáveis diferenças comerciais, aliás, o economista Robert Solow foi mordaz em uma palestra há alguns anos: "Eu tenho um déficit crônico com meu barbeiro, que não me compra coisa nenhuma". Ou seja, quase nunca essa é uma relação de soma zero.

Como o mundo não vai parar por causa das doideiras de Trump, devem se acelerar os novos blocos econômicos e os acordos bilaterais, com os EUA ao largo e a China fortalecida no longo prazo. Preparemo-nos. Apenas um exemplo: alguém supõe alguma reação de repúdio de um mundo cada vez mais dependente da China se e quando ocorrer a invasão de Taiwan? Donald Trump já deixou sua assinatura na história, e ela é ainda mais desastrosa do que jamais se poderia imaginar. 

MARCELO RECH


12 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Tarifaço abre porta da era do caos?

Todas as análises mais abrangentes sobre os efeitos do tarifaço de Donald Trump precisam ser cautelosas. Primeiro, porque a única certeza que se tem é de que o principal efeito é... explosão da incerteza. Mas proliferam diagnósticos de que à frente se vê um novo mundo, diferente do que conhecíamos até agora.

Um dos sinais mais fortes dessa mudança vem dos títulos do Tesouro americanos, até agora o porto seguro dos portos seguros. Os papéis de longo prazo (T-Bonds de 30 anos) decolaram, indicando baixa procura. A lógica é que, se não há demanda, é preciso elevar a remuneração para captar.

E recuam os juros dos Bunds (títulos soberanos da Alemanha). Com maior número de interessados, pode pagar menos. O movimento sugere saída de investimentos em Treasuries e entrada nos papéis alemães. Então, o porto seguro já não é mais tão... seguro.

"Em apenas 10 dias, o presidente acabou com as velhas certezas que sustentavam a economia mundial, substituindo-as por níveis extraordinários de volatilidade e confusão", resumiu a revista britânica The Economist, que titulou na capa The Age of Chaos (A era do caos).

Com outras formas e outras palavras, é isso que têm repetido economistas, empresários e historiadores. As bolsas asiáticas e europeias encerraram com sinais mistos e sem variações fora do habitual. As americanas fecharam no "positivo normal", entre 1% e 2%. No Brasil, o dólar recuou 0,46% com cautela, para R$ 5,871.

Mas as perdas nos mercados, especialmente nos dos EUA, já provocaram empobrecimento, porque seis em cada 10 americanos poupam comprando ações. Sem contar o risco incomensurável (que não se pode medir) que cerca os Treasuries. _

Proteção à mudança no clima

Quase um ano depois da enchente de maio de 2024, há ao menos 21 projetos para mitigação e adaptação à mudança climática em cidades gaúchas em busca de financiamento. Conforme o levantamento Global Snapshot 2024, feito pelo CDP, organização sem fins lucrativos, em parceria o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia (GCoM), a demanda total de investimento é de cerca de R$ 900 milhões. O valor não inclui os pedidos de Porto Alegre, que não informou as quantias. Só inclui São Leopoldo e Canoas.

Serviços públicos gáuchos com IA

Até o final de abril, o governo do RS vai lançar sua nova estratégia digital. E as novidades incluem a mediação de inteligência articial (IA) própria, que já está sendo treinada para falar "gauchês". Um dos princípios dessa nova fase é unificar todas as informações em uma mesma base de dados, que terá interface com as pessoas na plataforma meurs.gov.br.

- Não vai ter mais o dado da saúde, o dado da segurança. Todos estarão centralizados, para ajudar o cidadão - disse a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, em evento para convidados no South Summit Brazil.

Segundo Danielle, a nova estratégia vai inverter a relação dos gaúchos com o Estado:

- Agora, o cidadão vai poder parar de procurar o Estado, porque o Estado vai procurá-lo.

Um dos exemplos dados pela secretária envolve avisos quando for preciso fazer vacina, quando houver algum benefício disponível que a pessoa não está usando, mas também na hora de pagar o IPVA.

- Com o tempo, vai funcionar como a Netflix, vai entender o perfil do cidadão e interagir com ele, com o cuidado de não ser invasivo demais - detalhou.

Estão predefinidos quatro perfis: empreendedores, estudantes, produtores e servidores públicos. _

Muito cuidado ao reduzir beneficiários do Bolsa Família

A iniciativa de prefeituras e entidades empresariais para reduzir o número de famílias que recebem Bolsa Família precisa ser muito bem dosada. Pode ser bem-sucedida se apresentar alternativa consistente. Mas precisa ter muita responsabilidade.

A explosão de benefícios ocorreu no período pré-eleitoral, em 2022, quando critérios foram "flexibilizados". Prefeituras podem ajudar garantindo creches para que mães em idade ativa possam trabalhar.

Entidades empresariais, por sua vez, podem montar programa de qualificação da mão de obra, para que a formalização seja uma alternativa atraente em termos salariais, com jornadas adequadas.

Especialistas estão longe da unanimidade sobre a correlação entre o número de beneficiários do programa e a falta de pessoal. Veem maior impacto no mercado de trabalho informal. Há diferença enorme entre o pagamento médio de R$ 659,04 e o salário mínimo de R$ 1.518. Atuações em entregas ou como motorista de aplicativo competem com salários e jornadas do mercado formal.

E há outro alerta: dados ainda mostram pleno emprego, mas há sinais de que a atividade deve desacelerar. Se o esforço de reduzir os beneficiários do Bolsa Família coincidir com um mercado de trabalho menos aquecido, pode deixar famílias na miséria e contribuir para gerar mais rejeição ao universo formal, que contrata e demite em ciclos. _

Projeto de R$ 100 milhões em biometano no RS

Distribuidora de gás que atende cerca de 11 milhões de famílias e 60 mil empresas no país, a Ultragaz vai investir R$ 100 milhões no Rio Grande do Sul. A empresa é do Grupo Ultra, dono também da rede de postos Ipiranga.

O aporte será destinado a projetos de biometano, gás liquefeito de petróleo (GLP), bioGLP e energia elétrica, para impulsionar a transição energética na indústria gaúcha. Conforme o diretor de desenvolvimento da Ultragaz, Aurélio Ferreira, o plano começa a ser implementado ainda neste ano e gerar cerca de cem empregos. Tem apoio do governo do Estado e da Invest RS, agência de desenvolvimento, que assinaram termo no South Summit Brazil 2025. _

GPS DA ECONOMIA 


12 de Abril de 2025
EM FOCO -Bruna Oliveira

EM FOCO

Quarta edição do South Summit fecha com marcas simbólicas que vão além do aumento na participação de empresas, startups e fundos de investimentos. Ecossistema de inovação gaúcho dá sinais de que "está forte e olhando para frente"

Demonstração de maturidade e resiliência

Quando a água do Guaíba superou os cinco metros de altura nas paredes históricas do Cais Mauá, em maio de 2024, poucos imaginavam rever o mesmo cartão-postal tão pujante menos de um ano depois. Com a mesma força de reconstrução que mobilizou o RS desde então, o ecossistema de inovação gaúcho também se mostrou resiliente, consagrando espaço e relevância na edição do South Summit Brazil 2025, encerrada na sexta-feira, em Porto Alegre.

Unânime entre os diversos atores, a palavra que fica é de um amadurecimento. De Porto Alegre em si para a realização de eventos de grande porte, do ambiente inovador que se consagra no RS e do próprio South Summit, uma marca global.

- É uma edição que mostra para o Brasil e para o mundo um ecossistema que está de pé, forte e olhando para frente. A edição do ano passado já havia sido muito madura, mas esta nos consolida realmente como um grande evento para quem quer fazer negócios no entorno da inovação e da tecnologia - resume Wagner Lopes, country manager do South Summit, cargo semelhante ao de CEO da edição brasileira.

"Profissionalização" das conexões

O amadurecimento da edição se reflete em uma "profissionalização" das conexões. Para a secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, Simone Stülp, trouxe outra lógica para os negócios.

- Tenho sentido a força dos investidores presentes no evento, na conexão com as empresas e as startups. Isso é muito bom, quando falamos em ativação econômica ou em Rio Grande do Sul do futuro. São os investidores entendendo muito bem a lógica do evento e são as startups melhor preparadas para essa interlocução. Isso é tudo o que sempre sonhamos para que pudéssemos enxergar o mundo e o mundo pudesse nos enxergar - destacou a secretária.

Nesta perspectiva, o resultado das edições comprova que o South Summit é, acima de tudo, um projeto de impacto e de desenvolvimento para o Estado, acrescenta Lopes:

- Quando trouxemos o South Summit lá em 2022, esse era o objetivo, trazer uma marca global que pudesse acelerar o desenvolvimento do nosso ecossistema e causar impacto. Passadas três edições e agora, ao final da quarta, começamos a sentir um pouco mais disso. Há o impacto direto na economia, mas há também o impacto de o evento ser percebido, tanto em reputação quanto em imagem de Porto Alegre como local inovador.

Mais do que a vibração nos armazéns do Cais Mauá, o impacto está no "extramuros", com efeitos na economia, na hotelaria, na gastronomia e em uma série de outros serviços. Muitas ativações com o público foram realizadas durante os três dias de evento, como uma espécie de vitrine para marcas locais não necessariamente relacionadas à inovação. Conforme a organização, 95% da produção do evento se abastece de fornecedores locais, o que também traz efeitos econômicos diretos.

Mudança cultural

Outro ponto citado como legado das edições do South Summit diz respeito a uma mudança cultural. Conforme os organizadores, a abordagem mais incisiva do tema nos últimos quatro anos, por ocasião do evento, faz com que a inovação esteja mais presente no cotidiano. Na prática, isso representa mais empresas se voltando ao assunto e mais jovens sendo formados com o despertar das oportunidades em inovação.

Na edição de 2025, um dado que simbolizou essa mudança foi a maior participação de startups. Foram mais de 2,1 mil empresas nascentes inscritas este ano.

- Vejo que a inovação hoje está muito disseminada. Isso torna o ecossistema mais maduro e faz, claro, com que a gente tenha abrangência ainda maior de startups já em fase de tração - diz Rodrigo Cavalheiro, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS) e um dos "líderes locais" do South Summit.

Espraiamento

O efeito não fica restrito à Grande Porto Alegre, onde importantes centros de inovação como Instituto Caldeira, Tecnopuc e outros parques tecnológicos já estão consolidados. O movimento incentiva que novos hubs se instalem em cidades do Interior. Cavalheiro cita Alegrete, Santana do Livramento e Uruguaiana como novos polos em fomento.

Objetivo do South Summit, os negócios sinalizados pela presença de investidores e fundos de investimentos ampliaram espaço em 2025. E mudaram a abordagem.

- A busca hoje não é por startups unicórnios, aquelas que rapidamente estão valendo um bilhão de dólares, mas por aquelas que crescem de forma resiliente. São as "cabras da montanha", como a gente chama, que caem, mas sobem de novo - diz Cavalheiro.

Mesmo que as grandes cifras não cheguem a todas as empresas nascentes, a possibilidade de escalonar faz com que muitas ideias saiam do âmbito acadêmico e inaugurem um perfil de nova economia, aponta o secretário de Inovação de Porto Alegre e coordenador do Pacto pela Inovação de Porto Alegre, Luiz Carlos Pinto da Silva:

- Tem as startups que atraem grandes fundos, mas tem também aquelas que são importantes por serem de impacto. Não necessariamente são atrativas para um fundo, mas são uma maneira de criar emprego, de trazer negócios tradicionais para a nova economia e de abrir horizontes - destaca Silva. _


12 de Abril de 2025
ENTREVISTA - Rodrigo Lopes

VIR para o RS

Visitar. Investir. Residir.

As letras iniciais dessas palavras formam o acrônimo "VIR". Esse é o novo conceito que a Invest RS, Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, criada depois da tragédia climática para projetar a imagem do Estado lá fora e atrair investimentos, irá lançar nos próximos dias.

A estratégia de posicionamento deseja mostrar o RS não apenas como um lugar com potencial para empresas instalarem operações, explica o presidente da Invest, Rafael Prikladnicki. Mas também para quem deseja fazer turismo e, quem sabe, morar.

A gastronomia excepcional, a diversidade de paisagens naturais, os eventos e festivais são destacados dentro do pilar "visitar". A campanha destaca que o RS atraiu R$ 100 bilhões em 2024, maior valor dos anos recentes, com destaque para os projetos de CMPC, maior investimento privado da história do RS, Scala Data Centers, GM e Aeromot. São salientados como pontos favoráveis a economia diversificada, o capital humano qualificado, graças às reconhecidas universidades federais e privadas, e o ambiente favorável para negócios, com incentivos fiscais e programas de apoio ao empreendedorismo, e o potencial de inovação.

Por fim, o "R" de residir destaca que cidades gaúchas são reconhecidas pelos altos índices de qualidade de vida, segurança, infraestrutura robusta e ecossistema inovador. Belíssima campanha, dá orgulho de ver.

Que venham! 

ONU decide abrir um escritório permanente no RS

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) vai abrir um escritório em Porto Alegre. O órgão internacional, cuja sede no país fica em Brasília, dispõe de unidades hoje em São Paulo, Manaus, Boa Vista, Pacaraima e Belém. A previsão para a instalação do escritório na capital gaúcha é maio.

- Já vínhamos atuando no RS há vários anos a partir de parcerias com ONGs, como o SJMR, Aldeias Infantis e CAM. Com a catástrofe climática de 2024, encaminhamos uma equipe de emergência para apoiar a resposta a pessoas refugiadas e comunidade brasileira de acolhida atingidas pela tragédia. Neste momento, decidimos nos fixar no RS para ter mais capacidade de ampliar a integração de refugiados e pessoas deslocadas forçadas no Estado e na região como um todo, em razão de indicadores que acompanhamos, cujo potencial de empregabilidade, formação e bem-estar social, é evidente - diz o oficial de Meios de Vida e Inclusão Econômica do Acnur, Paulo Sergio Almeida.

Ele ressalta também a capacidade de interlocução e colaboração junto às autoridades políticas de Estado e municípios, ampliando o acolhimento e fortalecendo políticas para o desenvolvimento local, complementando mutuamente os esforços. _

Nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande"

O Grupo RBS realizou o pré-lançamento da nova fase do movimento "Pra cima, Rio Grande", em um jantar oferecido na quinta-feira a parceiros e autoridades por ocasião do South Summit Brazil, do qual a empresa é media partner. Lançada em junho de 2024, a bandeira institucional busca apontar caminhos para a reconstrução do Rio Grande do Sul.

No encontro para mais de cem convidados, o presidente do Conselho de Gestão e publisher da RBS, Nelson Sirotsky, e o CEO do Grupo RBS, Claudio Toigo, conduziram a apresentação. A nova etapa com ações institucionais, editoriais e de comunicação será lançada no fim deste mês.

Na ocasião, Nelson também homenageou Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, pelos cem anos do grupo e os 60 anos da TV. Ele enalteceu a parceria de mais de cinco décadas com a RBS e a visibilidade dada aos desafios e avanços para a reconstrução do Estado no último ano. _

Uma equipe da emissora alemã Deutsche Welle está no RS, produzindo reportagem especial sobre a passagem de um ano da enchente no Estado. O jornalista gaúcho Guilherme Becker, que atua no veículo, está visitando os principais pontos da tragédia.

Entrevista - Rafael Leal - Chefe da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores

"Sempre trabalhamos preservando a independência do Brasil"

Líder da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores, Leal falou com a coluna no South Summit Brazil.

O que é o programa Diplomacia da Inovação?

São três objetivos: o primeiro é trabalhar a imagem do Brasil no Exterior. O segundo é incentivar os agentes do ecossistema a se internacionalizar. E o terceiro é conectar as startups ou os parques tecnológicos com as suas contrapartes no Exterior. Por que é importante trabalhar a imagem do Brasil lá fora? Quando compramos um celular ou um microfone, por exemplo, a informação de onde foi feito esse equipamento afeta o juízo que se tem sobre esse produto. 

Se eu disser que esse celular é fabricado na Coreia do Sul ou nos Estados Unidos, no Vale do Silício, ou no Chile, isso vai afetar a visão que se tem sobre a qualidade desse produto. O trabalho do Itamaraty é tentar reduzir o gap entre a percepção que se tem do Brasil no Exterior e a realidade. O nosso trabalho é fazer com que ele seja conhecido: trazendo pessoas de lá para cá e levando gente do Brasil para esses ecossistemas, para que se saiba o que está sendo feito.

Como é operacionalizado?

De várias formas. Primeiro fazemos um trabalho de inteligência, que consiste em mapear os ecossistemas de inovação mais dinâmicos do mundo. Por exemplo: os ecossistemas de inovação na Malásia, no Vietnã ou na China ainda são pouco conhecidos no Brasil. Usamos diplomatas que estão nas embaixadas e consulados do Brasil mundo afora para um conhecimento especializado sobre aqueles países. O que temos feito é para que um empreendedor, um parque tecnológico, uma missão de ciência, tecnologia e inovação que vá para aquele país, tenha um documento de referência sobre como aquele país atua em setores de ciência, tecnologia e inovação. 

Fazemos o contrário também. Estamos trabalhando no mapeamento e na produção de um documento que mostra o ecossistema de inovação brasileiro, para quando vier uma delegação mostramos: "Olha, em Recife tem o Porto Digital, em Porto Alegre tem o Instituto Caldeira, tem o Tecnopuc". Mostrar também para o Exterior o que está sendo feito aqui. Outra é levar os empreendedores para o Exterior, por meio de missões tecnológicas. Também trabalhamos com programas de incubação cruzados, que significa levar startups para conhecer outros países e também selecionar projetos de fora e fazer uma imersão nos ecossistemas.

A guerra comercial entre China e EUA preocupa a diplomacia da inovação?

É preocupante, sem dúvida, mas o Itamaraty sempre trabalhou nesse espaço multilateral, preservando a independência do Brasil, de conseguir trabalhar com todos os povos e buscando oportunidades para o país, procurando avançar da melhor forma o interesse nacional. Continuamos trabalhando nessa área da inovação como antes, buscando oportunidades para inserir o Brasil inovador tanto na Ásia, quanto no hemisfério americano. 

ENTREVISTA