segunda-feira, 16 de junho de 2025


16 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Versões fantasiosas: Inter jamais jogou bem no ano

Ao som da flauta, o Inter dormirá no Z-4 por um mês devido à paralisação do Brasileirão pelo Mundial de Clubes. Pode parecer que não é um apocalipse. Ainda faltam dois terços do campeonato. Pode parecer um acidente de percurso. Mas não é verdade.

Excetuando as rodadas iniciais, é a primeira vez desde 2016 que o Inter acaba na zona. E lembra o que aconteceu naquele ano?

O clube tem alimentado narrativas de que só estamos na mendicância da tabela pelo número de lesões, pelo calendário apertado ou por priorizar a Libertadores e a Copa do Brasil. Correspondem a versões fantasiosas, que escondem a realidade: o time jamais teve uma partida de gala (Gauchão não conta), com os titulares ou com os reservas.

São cinco derrotas, cinco empates e duas vitórias (ambas no Beira-Rio), sendo uma sobre o Cruzeiro, com um jogador a mais, e outra, a última, há dois meses, contra o fragilizado Juventude. É uma campanha pífia. Vergonhosa. Na Copa do Brasil, sofremos para ganhar em casa do Maracanã.

Se não fosse a virada difícil no segundo tempo contra o Bahia, já teríamos dado adeus à Libertadores. Ou seja, fomos os primeiros no grupo da morte por um detalhe, mas somos um morto-vivo. Houve grandes chances de sermos eliminados também por um detalhe.

No conjunto da temporada, nada justifica o trabalho de Roger Machado. Eu adoro sua personalidade, mas ele possui um histórico de começar bem e depois desandar. Foi assim no Palmeiras, no Atlético Mineiro, no Fluminense. É litrão: só tem gás no começo. Suas melhores largadas se resumem ao comando de equipes gaúchas.

Tudo é penoso. Previsível. O elenco joga mole. Será carência de qualidade ou de qualificação? Wesley desaprendeu a atacar. Enner desaprendeu a fazer gol. Bruno Henrique e Thiago Maia desaprenderam a desarmar. Anthoni ostenta a pior média de defesas de um goleiro no país. Quando ele não falha, tampouco salva.

Se o Galo tivesse Anthoni debaixo das traves na derrota de quinta-feira, em Belo Horizonte, e não Everson, o chute de Borré e a cabeçada de Juninho teriam entrado.Em todos os confrontos - tirando a Copa do Brasil, o empate com o Fortaleza e o triunfo sobre o Nacional - o Inter levou gol. Somos uma defesa vazada por excelência. Um exemplo de vulnerabilidade. Sempre saímos atrás no marcador.

A recorrência não é problema do técnico? A hora da mudança é agora, aproveitando a pausa para recuperar a mentalidade vencedora. Para resgatar a mínima esperança de reequilibrar as finanças. Nossa dívida está perto de um bilhão.

Conhecemos o roteiro. Fingimos tranquilidade até cairmos da Libertadores e da Copa do Brasil. Vem um novo treinador tarde demais, que talvez nos redima no Brasileiro e alcance uma vaga no G-6. Torna-se um messias. É renovado o seu contrato. A direção defende a ideia de continuidade e de planejamento com a pré-temporada.

Há 15 anos, a partir desse interminável ciclo vicioso, não conquistamos um título de relevância. Debutamos na miséria. Clube grande não age desse jeito. Não vive de milagres e de desculpas. _

CARPINEJAR

16 de Junho de 2025
CLÁUDIA LAITANO

Um dia todo seu

O historiador português Rui Tavares lembrou em uma coluna recente no jornal Folha de S. Paulo que Portugal talvez seja o único país do mundo a associar sua data nacional não a uma batalha (ou a uma declaração de Independência, como no caso do nosso 7 de Setembro), mas à morte de um poeta, Luis de Camões, em 10 de junho de 1580. 

Fiquei imaginando como seria bonito ensinar às crianças que quem inventou um certo Brasil (o que nos dá mais orgulho) não foi Cabral ou Dom Pedro I, mas Machado de Assis e Guimarães Rosa - ambos, por coincidência, nascidos em junho, como Fernando Pessoa, o que consagra o mês como o campeão incontestável em um ranking imaginário de grandes serviços prestados pelo calendário à literatura em língua portuguesa. Nunca as festas juninas fizeram tanto sentido.

Junho é também o mês do Bloomsday, comemorado nesta segunda-feira não apenas na Irlanda onde nasceu James Joyce, criador de Leopold Bloom, personagem do romance Ulysses que perambula por Dublin ao longo das 24 horas do dia 16 de junho de 1904, mas em todos os países onde há leitores. Instituído em 1924, apenas dois anos depois da publicação do livro, o Bloomsday é o mais bem-sucedido exemplo de soft power associado à literatura. Pelo menos para nós, que não nascemos lá, Ulysses é o verdadeiro hino nacional da Irlanda.

Se poucas cidades foram retratadas por escritores tão celebrados quanto James Joyce, muitas poderiam ter um Bloomsday para chamar de seu, inclusive Porto Alegre ("Caio dia", já pensou?). Não precisa ser uma data, um "day", mas qualquer casa, pracinha ou pedaço de realidade que inspire a imaginação dos leitores e a peregrinação dos turistas. (Fala aqui a pessoa que escaneou cada centímetro do Champs Elysées procurando um banheiro público, não pelos motivos óbvios, mas porque uma personagem de Em Busca do Tempo Perdido havia passado mal por ali.)

Enquanto isso, em Londres, um grupo de leitores de Mrs. Dalloway começa a se movimentar para instituir um dia de comemorações semelhante ao Bloomsday. Nada mais justo, uma vez que a cidade é um eixo central na obra-prima de Virginia Woolf - publicada há exatos cem anos. Como em Ulysses, a ação se passa em um único dia, 13 de junho de 1923, quando Clarissa Dalloway se prepara para dar uma festa e seus caminhos se cruzam com a vida e a morte, o passado e o presente, o trivial e o definitivo. Examinando "a mente comum num dia comum por um momento", Virginia Woolf lança o leitor em um magistral vórtice de pensamentos e percepções que até agora não tinha um nome apropriado. Agora tem: Dallowday. _

CLÁUDIA LAITANO

16 de Junho de 2025
OPINIÃO RBS

Um risco global

O exército de Israel admitiu em relatório publicado em fevereiro que o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 ao seu território foi fruto de erros graves de seus serviços de inteligência. Foram mal avaliadas as informações sobre as reais intenções do grupo terrorista de empreender uma ofensiva no nível executado. Subestimou-se a capacidade da milícia armada financiada pelo Irã de realizar a invasão que resultou em 1,2 mil mortos e 250 sequestrados. 

As repercussões dos infames acontecimentos de um ano e oito meses atrás são sentidas até hoje com o conflito na Faixa de Gaza. Perduram com o sofrimento dos que ainda são mantidos reféns no enclave e com a angústia das famílias israelenses e de outras nacionalidades que seguem à espera ao menos da devolução dos corpos. Permanecem com o padecimento dos palestinos, população que o Hamas não hesitou em usar como escudo e sacrificar, por saber que a resposta militar de Israel seria contundente.

A ofensiva aérea de Israel contra o Irã, no final da semana passada, deve ser vista pela perspectiva da prevenção a um ataque com armas atômicas, com consequências inimagináveis. Os israelenses miraram, sobretudo, as instalações nucleares e a capacidade de obtenção de armamentos de extrema potência destrutiva pelo país persa, governado por uma teocracia que não esconde seu grande objetivo: varrer Israel do mapa. É o mesmo propósito, aliás, do Hamas, um dos tentáculos armados por Teerã, assim como o Hezbollah, no Líbano, e os Houthis, no Iêmen.

Há décadas a comunidade internacional tenta impedir o Irã de ter arsenal atômico. Na quinta-feira, horas antes do início do bombardeio, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), instância reguladora da área da ONU, adotou uma resolução condenando o Irã, acusando-o de violar obrigações de não proliferação de armas nucleares. Citou "material nuclear não declarado e atividades em vários locais não declarados". Relatou ainda que os iranianos se aproximavam de ter urânio enriquecido no patamar de pureza necessário para armas. A reação do regime dos aiatolás foi a de dobrar a aposta e informar que aumentaria "significativamente" o enriquecimento de urânio.

O contexto das tensões no Oriente Médio, somado ao alerta da AIEA, o primeiro em 20 anos direcionado a Teerã, mostra a inexistência de garantias de que o programa nuclear teria apenas objetivos pacíficos. A possibilidade de o Irã atacar Israel com armas de destruição em massa, portanto, deixou de ser conjectura improvável para se tornar uma ameaça de caráter existencial para o Estado judeu bastante plausível. 

Democracias liberais do Ocidente, da mesma forma, não poderiam se considerar a salvo. Os indícios de propósitos militares do Irã, além do precedente de outubro 2023, explicam e amparam a ação preventiva de Israel. Não é razoável, afinal, esperar racionalidade e diálogo de um regime guiado pelo radicalismo religioso, opressor do próprio povo.

França, Alemanha e Reino Unido, que vinham criticando o governo Benjamin Netanyahu pela situação atual em Gaza, voltaram a ressaltar o direito de Israel de se defender. O conflito escala, com israelenses realizando novos ataques e iranianos respondendo com chuvas de mísseis, atingindo alvos civis de forma indiscriminada. 

O desejável, obviamente, seria uma saída diplomática e a obtenção de garantias verificáveis de que o Irã abre mão de projetos bélicos atômicos. Só não se pode negar os altos riscos de não existir essa certeza, pela conduta pregressa do regime. Não só o Oriente Médio, mas o mundo se tornaria mais perigoso se um governo que coleciona inimigos e se move pelo fundamentalismo primitivo conseguisse alcançar tamanho potencial destruidor. 


16 de Junho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Fabio Giambiagi - Pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-assessor do Ministério do Planejamento na gestão de José Serra

"Temos um regime de irresponsabilidade compartilhada"

Fabio Giambiagi é formado em Economia pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ. Integrou a gestão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington por dois anos. É especializado em contas públicas, assunto da maioria de seus cerca de 40 livros. Na semana em que se debateu saída para o rombo nas contas públicas, avalia que 2027 está sendo antecipado.

Por que há tanto bate-cabeça no governo e com o Congresso sobre cortes de gastos e aumentos de tributos?

É 2027 colocando um pé em 2025. Há muito tempo que se sabe que temos um encontro com a verdade orçamentária em 2027. O arcabouço atual não resiste em pé no próximo governo, seja quem for o vencedor das eleições. O debate inevitável de 2027 foi parcialmente antecipado para 2025. A solução que vier a ser encontrada não passará de gambiarra. A definitiva terá de vir em 2027.

Qual o problema das atuais?

Não é a regra em si, que até faz sentido. Se o gasto cresce no máximo o equivalente a 70% do aumento da receita, ao longo do tempo tenderia a se ajustar. O problema é a inconsistência entre a regra geral e algumas específicas. É o caso do reajuste real do salário mínimo e da vinculação das despesas com saúde e educação, presentes desde o primeiro momento do arcabouço. Não foi resolvida nem o será no atual governo. Ou muda a regra geral para permitir mais gasto ou mudam essas duas específicas.

E o que se espera para 2027?

Tudo vai depender de quem vencer a eleição. Se houver mudança na Presidência da República, pode haver desdobramentos naturais da mudança do ocupante do Planalto, com alteração da política econômica. Se o presidente for reeleito, tenho curiosidade para saber o que fará.

Por quê?

Porque é impossível não mudar. Todo ano, é preciso apresentar o orçamento do seguinte até 31 de agosto. Antes, é preciso apresentar as linhas gerais no projeto de lei de diretrizes do orçamento (PLDO), que costumam ser apresentadas em abril. Nesse protocolo, o governo é obrigado a apresentar ao Congresso o cenário fiscal dos anos seguintes. Neste ano, o governo criou um conceito que é um oxímoro (figura que combina noções opostas).

Qual seria?

Inventaram o conceito de "gasto negativo". É uma aberração contábil. É como se no orçamento familiar, o cidadão tivesse um salário de R$ 10 mil e depois de pagar comida, escola do filho e outros, incluísse "gasto negativo" de R$ 1 mil com lazer (a soma correta seria de R$ 11 mil). Isso não existe. Como o Excel aceita tudo, foi a forma de fechar a matemática.

Para que "gasto negativo"?

O orçamento é elaborado a partir das despesas obrigatórias. O que sobra, no total de gastos permitido pelo arcabouço, é o que se chama, no jargão fiscal, de "despesas discricionárias". Mas por mais estranho que pareça, são quase todas também obrigatórias. A despesa das intocáveis emendas parlamentares é obrigatória. Como cresce de acordo com o aumento da receita, o espaço para as discricionárias diminui. Para conseguir incluir as "discricionárias obrigatórias", incluíram o tal gasto negativo. O líder do PT (na Câmara), Lindbergh Farias, disse no dia 8 que o governo não tem intenção de mudar as regras de saúde e educação e do reajuste do salário mínimo. Então, o que teremos serão medidas cosméticas.

Resumir o ajuste a essas medidas provoca sempre a reação de que "cortam só no andar de baixo", não?

Não haverá perda de valor recebido por quem ganha salário mínimo, nem dos recursos da saúde. Isso não está em pauta. No dia em que for feito, ninguém vai tirar um centavo da educação. A discussão é sobre qual será a regra de reajuste a partir de determinado momento, porque essa é uma despesa que aumenta loucamente. A conta não fecha nunca.

Não seria necessário conter também o gasto com emendas e o custo tributário, ou seja, incentivos fiscais?

Com certeza. Temos um regime de irresponsabilidade compartilhada. O Executivo é irresponsável, tem uma situação que nos leva à insolvência, se for mantida. E o Legislativo não se considera parte da equação, mas tem poder de veto sobre o Executivo. Para qualquer observador da realidade que conheça um pouco da questão fiscal, o regime é disfuncional. Ninguém no Congresso se sente responsável. Cada um pensa na sua própria paróquia.

E por que, na semana caótica do orçamento, o dólar ignorou o problema?

É que o mundo está de pernas para o ar. Tivemos um caso extremo. Foi como se Lula enviasse tropas federais para São Paulo à revelia do governador (referência ao envio do Exército dos EUA à Califórnia). É algo próximo de um estado de sítio. Antes, o dólar iria para a Lua, porque é uma instabilidade institucional de república de bananas. É a situação em que o famoso porto seguro é qualquer coisa menos seguro. Nas atuais circunstâncias, o investimento vai para o resto do mundo. _

GPS DA ECONOMIA

16 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Fábio Schaffner

Começa a corrida pelo Palácio Piratini

Caso alguém ainda não tenha percebido, a eleição de 2026 já está em pleno curso no Estado. A intensa movimentação saiu da coxia e foi para o palco, com ao menos quatro postulantes ao Piratini se exibindo aos holofotes 14 meses antes do período oficial de campanha.

No sábado, o MDB lançou oficialmente a pré-candidatura de Gabriel Souza num evento para 500 pessoas em Campo Bom. Se em 2022 Gabriel transitava pelas beiradas, agindo com discrição para convencer a base partidária a, pela primeira vez, abrir mão de candidatura própria e ficar com a vaga de vice de Eduardo Leite, agora é ele quem dita o rumo e o ritmo da legenda. Mais 10 eventos regionais serão realizados até o final do ano, encerrando com um congresso estadual em Porto Alegre, em novembro.

No PL, Luciano Zucco não fica para trás. O deputado reuniu apoiadores e aliados em uma churrascada em Porto Alegre no final de semana passado e na quarta-feira anunciou sua pré-candidatura ao lado de Jair Bolsonaro. Com o aval do ex-presidente, Zucco antecipa movimentos para tentar coibir o avanço de Gabriel sobre dois partidos que considera fundamentais, o PP e o Republicanos.

O PDT é menos intenso, mas também já realizou encontros regionais em Osório, São Jerônimo e Camaquã para testar o nome de Juliana Brizola. O próximo será em São Borja. Juliana liderou a pesquisa Quaest de fevereiro, com 19% das intenções de voto ao governo.

No PT, as atenções estão voltadas para a eleição do diretório estadual, em julho. A expectativa é de que Valdeci Oliveira vença no primeiro turno, fortalecendo a candidatura de Edegar Pretto a governador. Sem vitrine no governo federal, Pretto tem percorrido o Interior aos finais de semana. _

Governo quer agenda - tranquila até 2026

Se depender do governo Eduardo Leite, os deputados estaduais não votam mais nenhum projeto polêmico até o final do mandato. Faltando um ano e meio para o término da legislatura, o Piratini não quer criar cisões na base aliada.

Todos os esforços a partir de agora são para conduzir o consórcio governista, de preferência sem nenhuma defecção, para o palanque do vice-governador Gabriel Souza.

Na agenda do Piratini, há apenas três projetos importantes para serem votados até dezembro: a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o orçamento de 2026 e o Propag, esse último caso haja avanço na renegociação da dívida com a União.

Ou seja, são matérias ordinárias, meros compromissos formais, sem riscos de derrota nem desgaste. No ano que vem não deve ser diferente. _

Sinistro

Relator da CPI da Pousada Garoa, Marcos Felipi (Cidadania) apresenta seu relatório na próxima segunda-feira, dia 23. O trabalho será centrado em quatro frentes: responsabilidades, segurança, fiscalização da prefeitura e soluções para evitar que algo semelhante se repita. Com a experiência de mais de 50 CPIs em oito mandatos parlamentares, o vereador Pedro Ruas (PSOL) está contente com o resultado. Todavia, deve apresentar um relatório paralelo caso Felipi não pese a mão nos pedidos de indiciamento. _

Conta de chegada

A chegada de Onyx Lorenzoni ao PP está levando muita gente à calculadora no partido. Há um forte otimismo na ampliação da bancada federal, porém é quase consenso que algum graúdo vai sobrar.

Além dos três deputados atuais, Afonso Hamm, Covatti Jr e Pedro Westphalen, devem concorrer à Câmara o próprio Onyx, o senador Luis Carlos Heinze, o deputado estadual Frederico Antunes e Any Ortiz, prestes a desembarcar do Cidadania. _

BARULHO

Azarão na disputa pelo comando do PT gaúcho, Thiago Braga tem fustigado a cúpula partidária ao pautar temas como o enfraquecimento da sigla no Interior. O incômodo maior, porém, é com a insistência com que Thiago defende uma guinada ao centro, sugerindo inclusive apoio a Juliana Brizola na disputa pelo Piratini em 2026. Se depender dele, o PT pela primeira vez abre mão da cabeça de chapa, uma heresia para a massa petista.

Está cada vez mais acirrada a disputa no PP para ver quem vai ser candidato a vice. Silvana Covatti ainda é a favorita, mas Ernani Polo intensificou o lobby em nome próprio.

Rumos distintos

Eduardo Leite deve ir a Lisboa e Paris, em julho, em nova missão oficial. Já Gabriel Souza a partir de agora só viaja pelo interior do Estado. _

O Cpers tem audiência com Eduardo Leite em 27 de junho. Na pauta, reajuste de 14%, concurso e melhorias no IPE.

POLÍTICA E PODER


16 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

E se os americanos entrarem na guerra?

Se os EUA se envolverem na guerra entre Israel e Irã, a situação se agravará ainda mais, uma vez que não só o poder de fogo americano é imensamente maior, como também atrairia outros países, por enquanto silenciosos (como Rússia e China), ao conflito, que se posicionariam ao lado dos aiatolás. Teerã diz que não tem como alvo os americanos - mas, cá entre nós, bastaria um erro de cálculo, um míssil iraniano, por exemplo, matando um cidadão dos EUA em Israel, para que os EUA se envolvessem. Ou mesmo uma embaixada ou consulado atingido por um dos braços armados iranianos, o Hamas, o Hezbollah ou os Houthis.

Por outro lado, Israel só conseguiria cumprir seu objetivo alegado de neutralizar o programa nuclear iraniano com o apoio militar dos EUA - caças israelenses atingiram a usina de Natanz, mas não conseguem destruir, por exemplo, Fordow, infraestrutura iraniana que fica dentro de uma montanha. Para tanto, os israelenses precisariam de bombas de penetração profunda, como a MOP, que só os americanos dispõem.

A simples identificação pelo Irã de que os EUA estariam apoiando Israel com armamentos serviria de argumento para os aiatolás mirarem alvos americanos na região: além de prédios diplomáticos, correm risco bases dos EUA no Iraque (Erbil), nos Emirados Árabes Unidos (Al-Dhafra), no Kuwait (Campo Arifjan) e a maior delas, Al-Udeid, no Catar. Sem falar de navios petroleiros no Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico.

O deslocamento de navios de guerra para a região, como efeito de dissuasão, já demonstra que Israel tem carta branca da Casa Branca. Informações de inteligência também devem estar sendo compartilhadas entre os dois países. Agora, se os EUA entrarem na guerra, será para derrubar o regime dos aiatolás - um preço caríssimo para Trump, que se elegeu, no passado, prometendo não envolver os EUA no que chamava de "guerras eternas" no Oriente Médio. _

Homenagens ao Bará no Mercado Público

Na mesma sexta-feira em que igrejas católicas da Capital celebravam o dia de Santo Antônio, o Mercado Público de Porto Alegre recebeu as tradicionais homenagens a Bará, orixá que, nas religiões de matriz africana, é considerado o guardião que abre caminhos.

Bará tem uma forte ligação com o Mercado Público. Seguidores dessas religiões acreditam que o orixá foi assentado, ou seja, fixado ritualisticamente em um objeto e enterrado durante a construção do edifício no ponto central do Mercado.

No final da noite de sexta, porém, a imagem do orixá, conduzida num andor, foi atacada nas proximidades do local. Um suspeito do ataque chegou a ser detido e encaminhado à polícia, mas foi liberado. O caso foi remetido à Delegacia de Combate à Intolerância da Polícia Civil. _

Entrevista - Fernando Brigidi - Gaúcho que atuou no gabinete de Kamala Harris

"Nunca me acostumei a trabalhar na Casa Branca"

Gaúcho de Porto Alegre, Fernando Brigidi trabalhou, durante o governo do ex-presidente democrata Joe Biden, no gabinete da vice-presidente Kamala Harris. De Nova York, onde mora, ele contou à coluna um pouco dos bastidores de seu período na Casa Branca.

Em 2021, você participou da campanha de Joe Biden e da vice Kamala Harris, que acabaram vencendo aquela eleição. O que mudou na sua vida?

Realizei um sonho de trabalhar na Casa Branca, de viajar o país com a vice-presidente, por mais de 22 Estados. Primeiro, trabalhei no Ministério da Agricultura, nos primeiros dois anos do mandato, e, depois, no gabinete dela. Orgulho de representar os latinos no governo, e do que conseguimos construir, e, depois, nos 107 dias em que ela era candidata a presidente.

Qual era a sua função na Casa Branca?

Comecei como assessor, mas minha função no gabinete da vice-presidente depois era de diretor adjunto de engajamento político e relações institucionais. Na prática, significava que toda vez que ela viajava ou fazia um evento na Casa Branca, organizávamos os grupos políticos que tinham de estar representados. Então, foi bem gratificante. Em março de 2024, fui com a vice-presidente a Selma, Alabama, para ela cruzar a ponte em que 59 anos antes negros tinham sido massacrados ao tentarem voltar. Cruzar a ponte com a primeira vice negra foi muito emocionante. Foi também no discurso dela que, pela primeira vez, alguém do primeiro escalão usou o termo "cessar-fogo" em relação à guerra no Oriente Médio.

Como era o convívio com Kamala Harris?

Era inspirador. A primeira mulher negra vice-presidente. Ela conta que, quando criança, participou de uma das primeiras turmas de um projeto piloto de integração entre crianças negras e brancas. Saber que ela veio daquele momento para o gabinete de vice-presidente era muito importante. Também pelas características dela: resiliência, de ter uma ambição muito grande. São coisas que me inspiravam e com as quais eu me identificava. Ela falava o tempo inteiro para nós que o serviço público é um sacrifício. Nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, a instituição privada paga muito mais e se tem muito mais liberdade. A vida pessoal é muito mais confortável. No serviço público, a gente trabalhava 24 horas por dia, sete dias por semana. Lembrava sempre que o trabalho que a gente fazia, nas nossas pequenas decisões no dia a dia, impactava milhões de pessoas.

Como era trabalhar dentro da Casa Branca?

Quando comecei, algumas pessoas me falavam "Tu vai acabar te acostumando". Eu nunca me acostumei. Todos os dias que eu entrava lá, eu me sentia muito especial. Como assisto muitos seriados americanos sobre política, parecia que eu estava literalmente vivendo um filme. Teve dois momentos impactantes: o primeiro foi quando eu participei da festa de Natal, dentro da Casa Branca, com o presidente. A gente estava jantando no salão dos banquetes, onde acontece aqueles jantares entre o presidente e um rei. Estávamos lá, eu e meu marido, jantando naquele espaço, e foi inacreditável. E um outro momento foi quando o presidente estava saindo do governo. Ele fez o último discurso social de dentro do Salão Oval, e a tradição, ele sai do Salão Oval e, depois, caminha para os salões, que são mais de cerimonial. Estava toda a equipe lá, eu estava lá. Foi super especial vê-lo se despedindo do país e de sua equipe, agradecendo a todo mundo. Ele disse para a gente manter a fé no povo americano, na democracia. A gente já imaginava que o governo Trump seria muito difícil para quem tem valores progressistas. Mesmo naquele momento, ele estava tentando nos motivar.

Houve algum outro momento emocionante?

Quando eu levei a minha mãe para visitar a Casa Branca, eu mostrei para a minha mãe o Salão Oval: uma professora pública estadual do Rio Grande Sul. Não são muitas as pessoas que têm essa experiência. Foi bem especial. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 14 de junho de 2025



12/06/2025 - 04h00min
Lou Cardoso

"Namorar é aprendizado": veja o que dizem casais de diferentes gerações sobre relacionamento

Três casais de diferentes gerações compartilham os aprendizados de seus relacionamentos e mostram como uma relação pode ser um espaço de construção conjunta

Cultura, Comportamento e Donna

O que significa namorar? O conceito pode ter variações, mas, de forma geral, a maioria dos casais entende que é um processo contínuo de conhecer o outro, e a si mesmo, enquanto se constrói algo a dois. Quando se é jovem, o primeiro amor parece intenso, novo e empolgante. Já na vida adulta, os sentimentos costumam estar mais maduros, e cada pessoa sabe o que busca em uma relação.

Pensando nisso, a reportagem de Zero Hora convidou três casais, de diferentes gerações, para compartilhar as suas reflexões sobre o que é essencial em um namoro, além de seus aprendizados ao longo das relações.

Como o amor começa? 

Era março de 1988 quando a consultora de turismo Juçara Figueiró da Fontoura, hoje com 73 anos, e Carlos Alberto Brondani, garçom de 60 anos, se conheceram em uma casa de umbanda em Porto Alegre. Após algumas trocas de olhares e conversas despretensiosas, veio um convite que definiria o rumo do casal, marcado por afeto, amizade e muitos desafios. 

— Tomei coragem e me convidei para levá-la para casa. Levei uma, duas, três vezes, e ela nunca me convidava nem para um cafezinho, né, minha senhora? — diz Carlos Alberto, olhando para Juçara. — Até que, no dia em que ela me convidou para um café, começou a nossa história — recorda. 

Também foi na convivência que a supervisora comercial Patrícia Langer, 51 anos, e o corretor de imóveis César Silva, 50, deram início a uma relação marcada por espontaneidade, paciência e parceria constante. 

Os dois se conheceram em 2002, em uma empresa automotiva. Colegas na mesma função, revezando escalas de folga e cobrindo férias um do outro. O namoro começou naquele mesmo ano e ganhou seriedade desde o princípio.

— A gente trabalhava muito próximo. Era o tempo todo junto, mas nunca teve estresse. A gente sabia que era algo para valer. Mesmo trabalhando juntos, tínhamos nossos momentos nos finais de semana. Logo começamos a pensar em comprar um apartamento — conta Patrícia.

Patrícia e César se conheceram no trabalho e estão juntos há 23 anos.

Patricia Langer / Arquivo Pessoal

Entre os frutos do casal está o filho, João Pedro Langer, de 15 anos.

Patricia Langer e César Silva / Arquivo Pessoal

César e Patrícia eram colegas de trabalho quando começaram a namorar.

Patricia Langer / Arquivo pessoal / 3

Foi entre as aulas e atividades esportivas da faculdade que Maria Vitória da Silva Mayer, 21 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, e Marcelo Marques Stodolni, 22, aluno de Jornalismo, se interessaram um pelo outro. Apesar da rotina corrida, o primeiro beijo do casal foi digno de uma cena de filme.

— No Carnaval de 2024, eu estava em Jurerê e ela, na Praia do Rosa. Aí fiz a loucura de pegar um aplicativo de transporte e viajei duas horas para ver ela — lembra Marcelo. Para ela, esse gesto mudou tudo:

— Eu achava que ele não ia vir. Quando ele apareceu, pensei: "Meu Deus, é ele". 

Namorar é um teste? 

Segundo o pesquisador Dardo Lorenzo Bornia Junior, professor de Ciências Sociais do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), o conceito de namoro surgiu como um intermediário entre o ato de conhecer alguém e o casamento — especialmente em contextos religiosos no passado.

As relações afetivas eram, em sua maioria, arranjos sociais, políticos e econômicos. Hoje, o namoro já não carrega mais a obrigação de levar ao altar. Para muitos, a relação se justifica pelo prazer de estar com alguém, sem necessariamente firmar um futuro conjugal.

— Sabemos que, especialmente a partir dos anos 1970, com as mudanças nas leis do divórcio e nas gerações mais urbanas, o namoro não necessariamente indica uma promessa de casamento, mas é visto como o próprio objetivo da relação, podendo evoluir para algo mais sério ou não — explica o pesquisador.

Maria Vitória e Marcelo compartilham a rotina na faculdade e nas atividades físicas.

Maria Vitória da Silva Mayer / Arquivo pessoal

Casal está junto há um ano e deseja dividir o futuro juntos.

Maria Vitória da Silva Mayer / Arquivo pessoal

Primeiro beijo do casal foi durante o Carnaval de 2024.

Arquivo Pessoal / Maria Vitória da Silva Mayer

Juçara e Carlos Alberto, por exemplo, estão juntos há quase 40 anos e têm dois filhos adultos – Acauã e Marina Brondani, de 35 e 32 anos, respectivamente. Mesmo com uma família já formada, o casal ainda não oficializou a união – algo que, segundo eles, deve mudar em breve.

— Já pedi ela em casamento umas três ou quatro vezes — brinca Carlos Alberto.

— A gente já tem tudo. Vivemos em união estável e agora vamos passar para o papel por questões jurídicas. Mas o que realmente importa, a gente já tem — reforça Juçara.

Para chegar até aqui, o relacionamento enfrentou obstáculos – entre eles, o racismo e a diferença de idade de 13 anos, que gerava olhares atravessados na época em que começaram o namoro. Com o tempo, as críticas perderam força, mas o amor entre eles só se fortaleceu, guiado por um ingrediente fundamental: o diálogo.

— O que nos manteve juntos foi isso: compreensão e a certeza de que toda crise passa. Para manter esse núcleo forte, fizemos terapia familiar, o que eu recomendo muito. Às vezes, a gente tenta consertar tudo sozinho, mas não tem resposta para tudo. Um terceiro pode ajudar a reorganizar as coisas — afirma Carlos Alberto.

Eles também fizeram questão de construir um lar diferente do que tiveram.

— A gente traz muitas coisas da infância. Mas tentamos fazer diferente, formar uma família com mais diálogo, mais companheirismo — acrescenta Juçara.

Patrícia e César também passaram por momentos difíceis. Mesmo com a alegria da chegada do filho João Pedro, hoje com 15 anos, a relação exigiu paciência diante das adversidades da vida adulta.

— A gente divide tudo. A adolescência do filho, a velhice dos pais, as tarefas de casa... Tem fim de semana que cuidamos da minha mãe, no outro da mãe dele. E mesmo no meio de tudo isso, seguimos querendo estar juntos — conta Patrícia.

Já para Maria Vitória e Marcelo, o namoro na juventude é um constante aprendizado e nem sempre fácil. Para a estudante, um dos maiores desafios é a correria do dia a dia:

— Hoje em dia, tudo tem que ser rápido, do nosso jeito. Mas relacionamento exige paciência, escuta, maturidade pra entender que fases difíceis passam — relata a jovem, que completa: — Às vezes, o amor está num "bom dia", num copo d’água que ele me traz. A gente aprende que amor é mais do que paixão.

Afinal, o que significa namorar?

O termo namoro, que vem do latim e significa se apaixonar, passou a ser associado à difusão do amor romântico como justificativa para relacionamentos e casamentos. Segundo destaca Bornia, esse entendimento se popularizou nos últimos cem anos com a chamada "indústria cultural do amor", muito presente na literatura, na música e, especialmente, nas novelas.

Hoje, como mostram os casais entrevistados pela reportagem, namorar significa, essencialmente, estar junto — o que contribui para o conceito de “se apaixonar” diariamente.

Foi assim com Juçara e Carlos Alberto. Com os filhos seguindo seus próprios caminhos, o casal vive uma nova fase:

— Nosso namoro hoje é tomar uma taça de vinho em casa, conversar, rir, dormir juntos. Uma fase mais devagar, mas muito gostosa. Nosso relacionamento começou com fogo e paixão, depois virou companheirismo, e agora é cuidado um com o outro — diz Carlos Alberto, que sonha com o futuro de mãos dadas com a futura esposa: — Quero ficar velhinho com ela, de bengala. Quanto mais eu puder estar ao lado dela, eu vou querer estar.

Juçara concorda, com o olhar de quem já atravessou o tempo ao lado do seu grande amor:

— Vamos seguir juntos, grudados, tentando aproveitar a vida de verdade. Até o fim.

Acauã Brondani / Arquivo pessoal

Juçara e Carlos Alberto com os filhos Acauã e Marina.

Acauã Brondani / Arquivo pessoal

Vinte e três anos depois, Patrícia e César seguem namorando — sempre com novos planos, viagens, shows e barzinhos. Para eles, o segredo de uma relação duradoura está em continuar se escolhendo.

— O início do namoro é cheio de fantasia. Depois, vem uma fase mais verdadeira. É preciso regar. Às vezes é um "eu te amo" no meio da tarde, um "obrigado por estar comigo". Coisas simples que mantêm tudo vivo — cita Patrícia.

César completa:

— É saber respeitar as diferenças, conversar, trocar ideias, reconhecer as qualidades e aceitar os defeitos. É assim que a gente vai junto.

Apesar de recente, Maria Vitória e Marcelo também entendem que um namoro vai muito além do romance idealizado pela ficção:

— Namorar é aprendizado. A gente deixa de viver só por nós mesmos e passa a compartilhar a vida com alguém. Com o tempo, vamos entendendo a visão do outro. E isso ensina demais — reflete Maria.

— Esse é meu primeiro namoro, então muita coisa foi nova. Mas eu sinto que evoluí muito como pessoa. Namorar é isso: evolução — completa Marcelo.

E o futuro do amor?

Os relacionamentos seguem em transformação, refletindo as mudanças da sociedade. Com isso, o namoro ganhou novos rituais e novos modelos de relação – do cortejo por cartas aos aplicativos, de casais LGBT+ a uniões não-monogâmicas. E mesmo que as relações mudem, a busca por afeto, intimidade e conexão continua essencial.

— Nunca encontraremos alguém que seja exatamente como queremos, porque cada pessoa é única. É difícil encontrar esse equilíbrio, especialmente quando somos bombardeados diariamente com ideais de consumo nas redes sociais. As relações humanas não são produtos a serem consumidos. Encontrar o meio termo é o verdadeiro desafio — conclui Bornia.



13/06/2025 - 13h02min 
Martha Medeiros

Todos nós somos meio loucos de nascença

Estamos todos no mesmo barco, bilhões de aprendizes que jamais chegarão a um consenso universal, nem ao cerne de coisa nenhuma

Minha filha mais nova e o namorado dela eram duas crianças de 11 anos quando o filme Saneamento Básico, de Jorge Furtado, foi lançado. Hoje ambos têm 29 e assistiram, pela primeira vez, a essa comédia irresistível que voltou a ganhar projeção e que a eles pareceu uma obra estimulante e nova – e é mesmo. 

Roteiro e texto naturalmente inteligentes, direção sem tomadas vertiginosas, atores espetaculares que se divertem em cena. A eficiência da verdade, a simplicidade rindo na cara da tecnologia. Não é que ainda funciona. Não só funciona, como se tornaram urgentes: elas, as qualidades espontâneas.

Uma rápida digressão: todos nós somos meio loucos de nascença. Como é que se tolera a ideia de que iremos morrer de uma hora para outra, sem saber quando? Explica-se o sucesso da religião, que procura nos consolar, ainda que eu prefira a filosofia, que nos ajuda a entender. Entre uma e outra, nos resta dar algum significado à vida, investindo em amigos, amores, filhos, trabalho, livros, cinema, música.

Antigamente, isso bastava para manter a saúde mental, mas agora complicou. Aquele mundo que ficava do lado de fora de casa arrombou a porta e se sentou no nosso colo. Temos acesso à intimidade de qualquer morador de Hollywood. Opinamos sobre medicina antroposófica e sobre os hábitos sexuais dos aborígenes como se fôssemos especialistas. 

Assistimos a vídeos que foram roteirizados, gravados, regravados, editados e que circulam como se fossem produto da casualidade. Consumimos toneladas de mentiras. Rolamos feeds e stories para passar o tempo, permitindo que conselhos de sei-lá-quem nos atinjam 50 vezes ao dia. Não há como fugir, fomos sugados pela sabedoria duvidosa de estranhos. Dar sentido à vida da forma que conhecíamos (amores, trabalho...) parece preguiça, agora a gente tem que buscar um significado digital de longo alcance.

Então ressurge do passado um filme que enaltece justamente o amadorismo, e nos lembra que continuamos absolute beginners, iniciantes que se realizam, mesmo, é através do amor, como diz a música de David Bowie: “Enquanto estivermos juntos, o resto pode ir para o inferno”. Houve uma época em que uma única presença era mais valiosa que um milhão de seguidores.

Os profissionais das redes são apenas diletantes tentando faturar algum, o que é legítimo, mas não são deuses. Menos idolatria, portanto. Menos bajulação. Estamos todos no mesmo barco, bilhões de aprendizes que jamais chegarão a um consenso universal, nem ao cerne de coisa nenhuma. Que tal voltarmos a assumir que somos nada além de amadores bem-intencionados? Se continuarmos reverenciando apenas a alta performance, sucumbiremos de vez ao delírio. Meio loucos já somos. 



14 de Junho de 2025
CARPINEJAR

Mil desculpas

Tive a missão de convidar José Eduardo Agualusa para participar como atração surpresa do Festival Fronteiras do Pensamento, que alegrou o centro histórico da Capital com debates e duetos de pensadores no fim de maio. Quem me delegou a incumbência foi o amigo Pedro Longhi.

- Você é bom de papo - Pedro me elogiou. - E você é bom de treta - retribuí a gentileza.

A questão delicada é que, como Agualusa seria uma novidade de última hora, eu deveria convencer um dos mais elegantes autores da língua portuguesa - premiado pelo diário britânico The Independent por O Vendedor de Passados - a vir de Lisboa para Porto Alegre de um dia para o outro. Estávamos na quarta, o evento seria na sexta.

Comecei a abordagem despretensiosamente: - Oi, meu amigo, tudo bem? Uma sondagem: onde você estará na sexta?

Ele me respondeu que estaria fazendo uma colonoscopia. Segui a deixa: - Tudo é pretexto para adiar esse exame. Quer vir para POA?

Ele riu, alegou que não poderia adiar, que achara uma miraculosa brecha na agenda, que tinha protelado o exame mais de uma vez.

Acreditei que eu havia perdido a batalha. Mas insisti:

- Já tomou laxante?

Avisou que não.

- Então, aproveite a chance! Troque uma viagem por dentro por uma mais tranquila por fora.

Senti que ele vacilou. Investi com ânimo:

- Será lindo. Eu irei entrevistá-lo. Nem precisará de anestesia.

Ele passou a compactuar com a ideia:

- Pelo menos, você sabe como iniciar a conversa.

Eu metaforizei:

- O destino é o capricho do acaso.

Agualusa emendou:

- Se bem que não seria eu a viajar por dentro. Eu seria o dentro. Daí percebi que o conquistei: - Verdade. Você é o dentro disfarçado de fora. Como sempre.

Foi quando ele decidiu: - Ok, adiarei a colonoscopia. Agradeci oceanicamente. Em nosso diálogo no palco, ele me assustou um tanto. Não sei se foi para se vingar.

O escriba de boina e cavanhaque me descreveu o improvável. Ele contou que estava devaneando com Mia Couto, seu cúmplice de escrita, e, de repente, surgiu a dúvida:

- Quantos romances você já publicou? - perguntou Mia. Não se lembrava. Por preguiça, ou pressa (a preguiça é uma pressa para nenhum lugar), ele resolveu consultar o ChatGPT, que esclareceu:

"São 16 livros. Aqui está a lista".

José Eduardo Agualusa analisou a relação e não reconheceu um dos títulos. - ChatGPT, não escrevi este livro: O Mapa das Fissuras. Posso estar ficando louco, mas até procurei em minha biblioteca ou nas livrarias: simplesmente não existe!

O aplicativo tratou de se corrigir:

"Peço mil desculpas, tem toda a razão, esse livro não está nas livrarias porque você ainda não escreveu, vai escrever. Portanto, como ainda não foi escrito, ainda não está disponível".

Agualusa está atualmente escrevendo O Mapa das Fissuras. O primeiro caso em que a inteligência artificial encomendou um livro à inteligência humana - e não o contrário.

O futuro já aconteceu. _

CARPINEJAR

É o fim dos aiatolás?

A mira inicial dos ataques de Israel foram centrais nucleares, bases aéreas e de lançamentos de mísseis, cientistas e comandantes militares, mas o alvo final, que os aiatolás não se iludam, é a longeva ditadura dos turbantes.

Poucas vezes na história se viu uma ofensiva tão longa e detalhadamente planejada. Há pelo menos 20 anos, Israel perscruta seu maior inimigo com a convicção de que não era uma questão de se, mas quando ia bombardear os centros nucleares. Com a experiência de escaramuças anteriores, Israel sabe que as pancadas pregressas no programa atômico de Teerã, da eliminação de cientistas à difusão de vírus nos computadores iranianos, apenas retardam por meses ou alguns anos o desenvolvimento de artefatos nucleares com o selo dos aiatolás. A ameaça de um cogumelo atômico se erguer sobre Tel-Aviv só desaparecerá com o real compromisso do Irã de abdicar do enriquecimento de urânio ou o fim do regime.

Na véspera do ataque, a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU denunciou o Irã, e a resposta de Teerã foi anunciar reforços no desenvolvimento nuclear. A coincidência foi mais uma peça a se encaixar no quebra-cabeça de oportunidades únicas que se abriram para Israel definir o momento de atacar. Em primeiro lugar, os braços longos do Irã na região - Hamas em Gaza, Hezbollah no Líbano e Houthis no Iêmen - foram dizimados ou são incapazes de reagir. A Síria de Assad deu lugar a um regime que não quer confusão agora, a Rússia de Putin está entretida com suas próprias humilhações e a capacidade de resposta do Irã foi fragilizada pelos ataques contra radares e lançadores de mísseis em outubro passado.

A reação burocrática do mundo islâmico e de outros países contra a ação israelense também evidencia que ninguém se mostra disposto a socorrer os aiatolás. No fundo, tudo o que os vizinhos do Irã não desejam - como de resto qualquer governo com o mínimo de sanidade - é deixar um botão nuclear nas mãos de fanáticos religiosos com ambições de expansão imperialista.

Ditaduras resistem a muita coisa - e conflitos bélicos são bons para unir a população e silenciar a oposição num primeiro momento. Mas, como mostram a Argentina das Malvinas e o Iraque de Saddam Hussein, nem o mais sanguinário regime resiste a uma humilhação militar. A desenvoltura, e a eficácia, do serviço secreto israelense sob as barbas do líder Ali Khamenei é de fazer corar aiatolá de pedra. Um levante no Irã, contudo, não ocorre com o país sob ataque. Se os aiatolás sobreviverem, restabelecerão o programa nuclear sem amarras e sob proteção redobrada contra ameaças externas. Esse é o maior risco da ação israelense. A sorte está lançada, e não tem mais como voltar atrás. 

MARCELO RECH

LEGISLATIVO

Câmara propõe que parlamentares recebam salário e aposentadoria ao mesmo tempo. Projeto permite que deputados e senadores ganhem benefício enquanto estiverem no mandato. Prevê, ainda, uma "gratificação natalina"

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados apresentou projeto de lei que extingue a proibição do acúmulo de aposentadoria como parlamentar com o salário de cargo eletivo federal. A matéria, protocolada na terça-feira, é assinada pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e pelos representantes de PL, PP, União Brasil, PT e PSD na Mesa Diretora.

A lei 9.506, de 1997, que criou o atual regime de previdência dos deputados e senadores, diz que o parlamentar federal que tiver direito ao benefício da aposentadoria não poderá receber o pagamento enquanto estiver no mandato de deputado, senador ou outro cargo eletivo.

Caso o projeto seja aprovado, ele permitirá que deputados e senadores - participantes do Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC) - acumulem a aposentadoria, que é proporcional com o tempo de contribuição, com o salário de R$ 46.366,19, pago atualmente.

Nova gratificação

Além disso, o projeto cria ainda uma "gratificação natalina" para os integrantes do PSSC, a ser paga com base nos valores recebidos pelos parlamentares em dezembro.

Ao justificar a iniciativa, a Mesa Diretora disse que a proibição impõe "restrição incompatível com os princípios constitucionais da isonomia e da legalidade". A Mesa argumentou ainda que a exceção "perpetua discriminação indevida".

"Além de inconstitucional, a regra em vigor desestimula a continuidade da participação política dos cidadãos que já cumpriram integralmente os requisitos legais para a aposentadoria e seguem contribuindo para o regime", diz a justificativa. 



14 de Junho de 2025
POLÍTICA E PODER - Paulo Egídio

Ferramenta de IA vai sugerir decisões a magistrados

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) lançou um pacote de ferramentas de inteligência artificial (IA) que prometem agilizar e facilitar o trabalho de magistrados e servidores. Oito plataformas foram desenvolvidas pela Corte, das quais cinco já estão disponíveis. Todas elas estão sob o guarda-chuva do projeto Gaia, sigla de Gestão Avançada de Inteligência Artificial. O nome também faz referência à mãe de Themis - a deusa da Justiça, na mitologia. A intenção é tornar mais dinâmica a análise dos processos, cujo estoque aumenta cerca de 20% ao ano no Estado.

Entre os recursos desenvolvidos está a Gaia Minuta, ferramenta que sugere minutas de decisões aos magistrados de 1º e 2º grau. Quando acionado, o mecanismo analisará os dados do processo e buscará referência no acervo de despachos anteriores daquele magistrado para apresentar uma proposta de decisão, que levará em conta inclusive o estilo de escrita de cada juiz.

Se considerar necessário, o magistrado também poderá ampliar a busca para o acervo de outros gabinetes e para o de cortes superiores, permitindo acesso às jurisprudências mais recentes. Todas as decisões, no entanto, serão analisadas pelos juízes antes de serem proferidas.

O desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, presidente dos conselhos de Inovação e Tecnologia e de Comunicação Social do TJRS, afirma que a ferramenta concederá mais agilidade e assertividade à jurisdição:

- Estamos propiciando uma ferramenta que sirva como assistente, sem substituir a ação do magistrado.

Transcrição de depoimentos

Também integra o pacote a Gaia Assistente, uma espécie de assistente virtual que ajudará a localizar informações e resumir o conteúdo de autos processuais.

Uma terceira aplicação, que entrará no ar em julho e promete facilitar o trabalho cotidiano, é a Gaia Audiências Inteligentes, desenvolvida para transcrever depoimentos prestados em audiências. Além da reprodução das declarações prestadas, será apresentado um resumo com os pontos mais importantes do depoimento. _

As plataformas de IA no Tribunal de Justiça começaram a ser desenvolvidas em dezembro do ano passado, após a migração dos processos do Judiciário gaúcho para a nuvem.

Verba na Sapucaí

O governo do Rio Grande do Sul aportará recursos para o desfile da escola de samba Portela, do Rio de Janeiro, no Carnaval de 2026. O acordo será assinado nos próximos dias. De acordo com o Palácio Piratini, o valor a ser repassado ainda está sendo discutido.

Na sexta, a escola anunciou que o tema do desfile será Príncipe Custódio, líder de origem africana que chegou a Porto Alegre no início do século 20, e a negritude gaúcha.

Além do aporte, o governo ajudará a Portela no contato com líderes negros e com empresas do RS, para captar patrocínios via Lei Rouanet. _

Presente na festa

O governo estadual informou que a busca do apoio partiu da Portela e ressaltou que "a cultura afro-gaúcha ganhará protagonismo na avenida", além de mencionar que o censo de 2022 mostrou o RS como o Estado com a maior proporção de praticantes de religiões de matriz africana no Brasil.

"Ao ser convidado pela escola de samba, o governo entendeu que estar presente na maior festa do planeta seria uma oportunidade de o Rio Grande do Sul exaltar a contribuição afro-gaúcha na formação da identidade cultural brasileira" diz o Piratini. _

Em Pelotas, Leite se reúne com Marroni e anuncia recursos

O governador Eduardo Leite viajou até a cidade natal na sexta-feira para anunciar um conjunto de investimentos na saúde de Pelotas. O montante, a ser confirmado neste sábado, chegará aos R$ 38 milhões, divididos em quatro hospitais da cidade.

Na noite de sexta, Leite foi recebido pelo prefeito Fernando Marroni para um encontro na prefeitura, do qual também participou a ex-prefeita Paula Mascarenhas. Embora opositores, Leite e Paula declararam voto em Marroni no segundo turno da eleição municipal do ano passado.

Neste sábado, os dois visitam juntos as obras do Hospital Regional de Pronto-Socorro, que receberá R$ 14 milhões do governo estadual para a aquisição de materiais e equipamentos. Outros R$ 14 milhões serão aplicados na ampliação da unidade de oncologia e no setor de hematologia da Santa Casa de Pelotas.

Também estão previstos repasses de R$ 6 milhões para aquisição de raio X e ressonância magnética no Hospital Universitário São Francisco de Paula e outros R$ 4 milhões para revitalização da fachada e restauro do Hospital de Beneficência Portuguesa.

Na passagem pela terrinha, Leite também fará caminhada no Mercado das Pulgas, tradicional evento cultural da cidade, e passará pelo Café Aquários ao meio-dia. À tarde, as agendas serão no Parque da Baronesa e na Praça Palestina. _

Avião para a polícia

O governo do Estado está adquirindo um avião para a Polícia Civil. Trata-se de um monomotor turboélice, modelo Piper Meridian M500, fabricado em 2014. A aeronave será bancada com 9,5 milhões de recursos federais e outros R$ 6,3 milhões estaduais.

Vencedora da licitação, a Aeromot deverá entregar o avião até janeiro de 2026.

O processo para a aquisição foi aberto no primeiro semestre do ano passado. Não há relação, portanto, com a intenção de compra de um avião a jato com recursos do fundo da reconstrução (Funrigs), da qual o governo recuou em abril. _

Comando trabalhista

O vereador Márcio Bins Ely é o favorito para assumir o comando do diretório metropolitano do PDT. O grupo ligado ao parlamentar busca formar uma chapa de consenso com os correligionários ligados a Juliana Brizola.

O maior fator de resistência ao vereador é a possibilidade de o partido ingressar formalmente no governo Melo. Bins Ely, embora tenha indicações na prefeitura, diz que essa possibilidade é remota.

Atual presidente, José Vecchio Filho marcou reunião para segunda-feira, às 18h30min, para discutir a sucessão. _

Emendas turbinadas

Tramita na Câmara de Porto Alegre projeto que amplia em mais do que o dobro a fatia do orçamento destinada a emendas impositivas de vereadores. A proposta é do vereador Gilvani, o Gringo (Republicanos).

Hoje, os vereadores indicam 0,65% da receita líquida, o que em 2025 equivale a R$ 58,7 milhões. A proposta de Gringo cria nova fatia para as bancadas de parlamentares, em volume ainda maior: 1% da receita.

Na prática, isso elevaria a parcela das emendas para 1,65% do orçamento, que seriam R$ 149 milhões - ou seja, mais de R$ 4 milhões por vereador. _

mirante

Será às 13h30min de segunda-feira a filiação do ex-ministro Onyx Lorenzoni ao PP, adiantada pela coluna na quinta-feira. Onyx assina ficha na sede do diretório estadual, no centro de Porto Alegre.

O deputado Gustavo Victorino (Republicanos) propôs restringir pedidos de vista a projetos de lei nas comissões da Assembleia. A regra atual permite um pedido por bancada,

que dura uma semana. A proposta de Victorino autoriza apenas um pedido coletivo, por três dias.

POLÍTICA E PODER

14 de Junho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Agora, a guerra é entre dois países, e isso muda tudo

A guerra no Oriente Médio atingiu um novo e perigoso patamar, com a ofensiva direta de Israel ao Irã, país que financia grupos terroristas como o Hamas, o Hezbollah e os Houthis. A diferença em relação aos ataques cirúrgicos que vinha realizando é que, desta vez, é um bombardeio de um Estado contra outro Estado - e não contra líderes extremistas, como no passado.

A grande pergunta que o mundo se faz, neste momento, é: quais as chances de a guerra ganhar proporções regionais ou, mesmo extrapolar, o Oriente Médio.

Poucas. A facilidade com que os caças israelenses ingressaram no espaço aéreo iraniano demonstra o quanto as defesas do regime estão fragilizadas. O mérito nesse caso é totalmente de Israel, que, antes de começar a onda de ataques que decapitou o comando da Guarda Revolucionária e das forças armadas infiltrou, por trás das linhas inimigas, comandos que sabotaram os sistemas antiaéreos.

Os aviões iranianos ficaram no chão, baterias de foguetes explodiram tão logo os primeiros mísseis despencavam sobre Teerã e Natanz, onde fica a principal instalação de enriquecimento de urânio dos aiatolás.

Em outubro, Israel já havia destruído grande parte da capacidade de defesa aérea do Irã, incluindo baterias de mísseis S-300 de fabricação russa.

A resposta iraniana imediata foi despejar cem drones sobre Israel - um número bem reduzido em relação a ações anteriores (400 drones chegaram a ser disparados no ano passado). A onda recente de mísseis balísticos, mais difíceis de serem detectados pelo Domo de Ferro, foi pesada, mas não chegou ao nível de saturação do ano passado. Em 2024, pelo menos 20 mísseis iranianos conseguiram atingir o alvo devido à falta de interceptores.

Ambos os países têm trabalhado arduamente para reabastecer seus estoques de mísseis em antecipação a mais combates.

Grande número de bases

O apoio dos EUA a Israel é o ponto de desequilíbrio na balança. O país tem um grande número de bases na região e deslocou novos navios de guerra para a costa de Israel, como dissuasão.

Sem poder contar com a Rússia (mais preocupada com a Ucrânia), o Irã deve tentar utilizar seus tentáculos para atingir alvos mais vulneráveis e ao alcance de terroristas, como embaixadas ou unidades militares americanas em países como Jordânia e Líbano, por exemplo. Israel diz estar em guerra, mas que o objetivo não é mudança de regime no Irã, que, por sua vez, também afirma que está em guerra.

As próximas horas ditarão o rumo que a crise irá tomar. Mesmo que não se espalhe por toda a região, um conflito agora entre dois países tem potencial devastador. _

O adeus a um dos últimos quatro pracinhas da 2a Guerra

Morreu nesta sexta-feira, aos cem anos de idade, o tenente Oudinot Willadino, um dos quatro últimos veteranos gaúchos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que participaram dos combates da 2ª Guerra Mundial. Willadino participou de batalhas como as conquistas de Monte Castello e Montese.

Natural de Santa Maria, Willadino residia em Caxias do Sul quando se alistou como voluntário no Exército Brasileiro. Durante o conflito, serviu como soldado atirador em um dos pelotões de fuzileiros das tropas brasileiras que atuaram na Campanha da Itália.

Após a guerra, Willadino não deu continuidade à carreira militar, sendo dispensado do Exército logo após seu retorno ao Brasil. Nos últimos anos, o veterano morava em Porto Alegre. _

Wagner Moura ganhará indenização do MBL

O Movimento Brasil Livre (MBL) foi condenado a pagar uma indenização de R$ 50 mil ao ator Wagner Moura por danos morais. A decisão, unânime, foi proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). O caso, que se arrastava há anos, foi conduzido pelo advogado gaúcho, natural de Porto Alegre, Fabiano Machado da Rosa.

Tudo começou em 30 de março de 2016, quando o MBL publicou em sua página no Facebook uma foto de Wagner Moura acompanhada da seguinte mensagem: "Quanto custa o seu governismo? Wagner Moura, captando R$ 11,5 milhões pela Lei Rouanet, fará vídeos defendendo o governo Dilma". A imagem ainda trazia uma marca d?água com os dizeres: "Selo Rouanet de Governismo".

Porém, esta não é a primeira vez que o MBL é condenado a indenizar artistas. Em março de 2024, a Justiça do Rio homologou um acordo no qual o grupo pagou R$ 15 mil ao músico Tico Santa Cruz por danos morais, após chamá-lo de "racista" em publicações.

Em 2022, o movimento também foi condenado a pagar R$ 50 mil ao humorista Gregório Duvivier. Na ocasião, em junho de 2016, o MBL havia divulgado uma imagem que reunia Duvivier, Wagner Moura e Tico Santa Cruz sob a frase: "Chega de Lei Rouanet. Acabou a mamata".

Os dois outros casos também foram conduzidos pelo advogado Fabiano Machado da Rosa. _

Geneticista gaúcho receberá prêmio internacional

O médico geneticista e professor titular de Genética da UFRGS, Roberto Giugliani, recebeu o Prêmio Guthrie - ISNS-Revvity de 2024, a mais alta distinção mundial na área de triagem neonatal.

O prêmio anual é da International Society of Neonatal Screening (ISNS) e reconhece profissionais com grandes contribuições para o avanço da triagem neonatal no mundo. A entrega oficial da premiação ocorrerá em 2026.

Giugliani é referência internacional em doenças raras, cofundador e diretor da Casa dos Raros, em Porto Alegre, e head de Doenças Raras da Dasa Genômica. Lidera diversos projetos no país que têm o objetivo de ampliar a triagem neonatal proporcionada pelo SUS.

Na sua trajetória, em 1982, criou a Unidade de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pioneira na introdução do teste do pezinho no Estado em 1984. Antes dele, outro brasileiro havia recebido o prêmio: o professor Benjamin Schmidt, pioneiro da triagem neonatal no Brasil. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 7 de junho de 2025



30/05/2025 - 16h00min
Sara Bodowsky

Um arraial para encantar adultos e crianças em Porto Alegre 

Capital também terá concurso de queijo e doce de leite neste final de semana e Cais Mauá recebe o primeiro Paleta Atlântida no dia 7 de junho

Recuperado da enchente de 2024, o Sítio Canto Rural – um pedacinho de paraíso bucólico que fica nos Caminhos Rurais de Porto Alegre – volta a receber famílias que buscam um pouco mais de contato com a natureza. 

Em junho, o espaço promove o Arraial da Felicidade, uma celebração pensada para encantar adultos e crianças, com aqueles sabores característicos da época: tem milho cozido, canjica, pipoca, bolo de fubá, pão de queijo e até quiche. Tudo feito com ingredientes fresquinhos, muitos deles vindos de produtores locais.

Além do Arraial, que rola nos dias 21, 22, 28 e 29, o mês abre com o Café Estilo Casa da Vovó (dias 1º e 8), feito em parceria com a Le Clair Gastronomia. A comida é preparada com carinho e memória. E entre uma delícia e outra, dá pra curtir trilhas, plantar mudinhas com os pequenos e relaxar em espaços pensados pra desacelerar.

O Arraial é a partir das 14h30min. Os ingressos variam de R$ 90 a R$ 165, com vagas limitadas e reservas antecipadas pelo WhatsApp (51) 99691-8619. O Sítio Canto Rural fica bem pertinho, ali no Lami. Conheça mais no Instagram @sitiocantorural. 

Concurso de queijos 

Reprodução / Divulgação

Ao menos 40 produtores participarão do evento.

Reprodução / Divulgação

Evento imperdível esse fíndi – que eu inclusive já botei na agenda: é o 3º Concurso de Queijos e Doce de Leite Artesanais do Rio Grande do Sul, que rola na Casa de Cultura Mario Quintana. Junto ao evento acontece a feira dessas delícias, onde estarão expondo pelo menos 40 produtores. É a oportunidade de conhecer, provar e ainda levar pra casa o que de melhor se produz de queijo e doce de leite no Estado.

O evento também oferece oficinas de harmonização com queijos, vinhos, cervejas e cafés – uma oportunidade para o público aprofundar a experiência sensorial. Sexta, das 12h às 19h, sábado, das 9h às 19h, e domingo, das 9h às 17h. Mais detalhes nas redes da Associação Gaúcha de Laticinistas, a AGL, no Instagram @agl.poa. 

Aos poucos, a capital gaúcha volta a ter voos diretos para cidades importantes de outros países. A partir do dia 19 de junho, Porto Alegre tem pela primeira vez voos sem escala para Bariloche, na Argentina. O trecho é operado pela companhia aérea Azul. 

Até o dia 24 de agosto, os voos acontecem todas as quintas-feiras, partindo do Aeroporto Salgado Filho para o Aeroporto de Bariloche. O percurso dura 3h35min, sem escalas. A cidade argentina conhecida por suas montanhas nevadas, estações de esqui e esportes de inverno é um dos destino de neve mais próximo do país. 

Te prepara que o Cais Mauá vai estar irresistível no sábado, dia 7 de junho. O motivo? Vai rolar lá o primeiro Paleta Atlântida em Porto Alegre. A edição especial vai reunir assadores amadores e profissionais em um dos principais cartões-postais da cidade. Serão mais de 600 metros de churrasqueiras, com mais de mil participantes assando simultaneamente. 

O evento ocupará quatro armazéns do Cais Mauá com várias atrações, entre elas um espaço exclusivo com sistema open bar e open food, que contará com 20 ilhas de assados comandadas por churrascarias clássicas de Porto Alegre como Santo Antônio, NB Steak, Assado Raiz e Marquês Empório Parrilla. 

Rola ainda praça de alimentação, encontro de piquetes do Acampamento Farroupilha e um show especial de Tonho Crocco e Banda, encerrando o evento. 

O Paleta Atlântida – Edição Porto Alegre acontece no sábado, dia 7, das 11h às 18h, no Cais Mauá (acesso pela Av. Pres. João Goulart, 97), no Centro Histórico. Link para compra de ingressos e mais informações no perfil @paletaatlantida. 

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