sábado, 24 de abril de 2021


17 DE ABRIL DE 2021
LYA LUFT

Reflexos em águas turvas

A vida inteira busquei explicações e deciframento: encontrei silêncio, segredo, ou mais perguntas. Às vezes o conforto de um ombro, outras vezes... dor.

No último lapso de um tempo com limites, abrem-se águas onde um dia entrarei. Tudo compreendido e absolvido, imagino que, absorta, me tornarei luz sem sombra: puro assombro ou deslumbramento.

Alguém joga xadrez com minha vida, alguém me borda pelo avesso, alguém maneja os cordéis. (Mordo disfarçadamente o fruto da minha inquietação.) Alguém me inventa e desinventa como quer: talvez seja esta a nossa condição.

Bastaria um momento de silêncio para eu ser feliz: mas do fundo do palco, uma voz, sem parar, me chama: serás tu, amor, ou é a morte apenas que reclama? Quando me feriram, meu lado não verteu água nem sangue: eu me verti de mim por essa fenda, escorri para a terra debaixo da relva, ausente. (Alguém sabia sempre que eu estava ali, talvez fosse o teu olhar na noite.) Quando houve um tempo de retorno voltei, subi empurrando a alma com meu sangue, por labirintos e paradoxos até inundar novamente o coração. Talvez com o mesmo ardor de antigamente.

Se te pareço ausente, não creias: hora a hora minha dor agarra-se a teus braços, hora a hora meu desejo revolve meus escombros, e escorrem de meus olhos mais promessas. Não acredites no meu breve sono, nem dês valor maior ao meu silêncio: se leres recados numa folha branca, não creias também: é preciso encostar teus lábios nos meus lábios para ouvir. Nem acredites se pensas que te falo: palavras são meu jeito mais secreto de calar.

No relógio daquelas madrugadas, quando eu era menina e estava insone, a velhinha do Tempo tricotava longas tiras de medo: minha morte sendo preparada nessa trama. Sedas, farrapos, teias tão soturnas, todo o terror que eu esquecia quando me libertavam o sol e as cores, e as vozes da casa...

Alguma coisa me ficou daquelas noites; o metal dos ponteiros, as agulhas, as mãos ossudas de noturnas bruxas, tudo continua na urdidura do fio singular da minha sorte.

Um rio corre entre o porão e o sótão da nossa vida: leva dores e amores, nosso último riso há tanto tempo. Mas numa curva qualquer, porque ainda respiramos, tudo pulsa outra vez, e brilha de alegria sabendo que temos pela frente algum calor, e um rumor de ondas na areia.

Passa no meio de nós, entre o sonho do sótão e o medo dos porões, o rio da vida: que me leve adiante mais uma vez, que venha até mim a sua água turva de decepção ou clara de esperança, com toda a audácia e o fervor que pareciam perdidos.

Dentro desta mulher, uma menina brinca de ciranda na calçada e tem fome de futuro. Dentro desta mulher, uma jovem chega à janela para assistir ao desfile da vida - e se julga imortal. Dentro desta mulher, uma guerreira se reconstrói depois de parir filhos para o mundo, e ninguém sabe se apenas finge não ter morrido também.

LYA LUFT

17 DE ABRIL DE 2021
MARTHA MEDEIROS

O que será de nós?

Quem conhece a obra do psicanalista Contardo Calligaris deve ter se sentido, como eu, meio órfã com sua partida precoce. Suas colunas de jornal, entrevistas, palestras, tudo servia como uma espécie de farol que iluminava o caminho rumo à maturidade. Ele defendia a construção de uma trajetória individual autêntica, com experiências variadas, bem diferente da felicidade fabricada com fórmulas de obediência social. Era uma de suas frases mais conhecidas: "Melhor que ser feliz é ter uma vida interessante."

A também psicanalista Maria Homem, sua esposa, em um texto emocionante publicado dias atrás, compartilhou algumas conversas íntimas do casal, em que a pergunta "o que seria de mim sem você?" surgia em diferentes momentos do relacionamento, inclusive de forma cômica. Até que, na etapa final da doença que o levou, a pergunta ganhou um aspecto trágico. Quando estamos na iminência de perder alguém, essa amputação realmente nos assombra: o que vai ser de mim sem você?

A resposta que Contardo deu à Maria serve para todos nós. "Vai ser o que você quiser". A ideia sempre foi essa: crie sua própria vida em vez de se deixar levar ao sabor do vento. É preciso fazer escolhas e se responsabilizar por elas, mesmo sabendo que em tudo há prós e contras, tudo é dicotômico. O risco faz parte da aventura de viver.

Pois é, mas veio essa parada forçada. Cerca de 350 mil famílias perderam parentes, outros milhares perderam amigos, e a população inteira lida com variadas anulações de suas rotinas: a perda dos planos a longo prazo, a perda das idas aos teatros, palestras, shows, feiras e festivais, a perda dos contatos íntimos: não se pode mais sentir o toque, a vibração da voz, a intensidade do olhar de cada um. Tudo o que existia antes ficou distante e o futuro parece tão distante quanto. Estamos encurralados num presente perpétuo, que nos roubou a mobilidade - não só de entrar em outros países, mas de entrar na vida de novas pessoas, de conhecê-las profundamente, de evoluir através delas. Está difícil renovar o estoque de emoções e descobertas. Fomos obrigados a nos contentar com a convivência online, que não possui a mesma potência energética, a mesma substância da presença. O movimento possível, agora, é para dentro. Leitura, reflexão, aprendizado. A busca incessante por conteúdo, única chance de trapacearmos as limitações.

Inventar a própria vida requer uma disposição corajosa para a mudança e autonomia para agir, para lutar contra a banalização dos dias, para criar uma história que nos honre e orgulhe. É o nosso maior desafio hoje: mesmo sem liberdade plena, e avariados por tantas perdas, continuar decidindo o que será de nós.

MARTHA MEDEIROS


17 DE ABRIL DE 2021
CLAUDIA TAJES

Pobre de espírito não lê

Faz tempo que eles tentam, não que eu saiba quem são eles. Se economistas, fizeram uso de livros. Se funcionários de carreira, quais sejam, também não deveriam desprezar os livros. Se analistas, gestores, administradores, até mesmo militares, é lamentável que pretendam acabar com um mercado inteiro para botar as contas em dia. O que, diga-se, não é assim que vão conseguir.

De uma coisa dá para ter certeza: professores não são. Independentemente de um ou outro dar aulas sobre investimentos por aí.

Que eu lembre, começou no atual governo, quando o sinistro Paulo Guedes quis acabar com a isenção de PIS e Cofins para o mercado editorial. O aumento de cerca de 12% no preço do livro seria repassado, óbvio, para o consumidor. As editoras já trabalham no limite, não teriam como absorver o custo. Foi a primeira vez que se ouviu a justificativa estapafúrdia de que o livro pode ser caro, já que só a elite compra.

Na ocasião, viralizou uma foto do sinistro, também conhecido como ex-Posto Ipiranga, diante da sua própria estante vazia de volumes e ideias. E tudo fez sentido. É do ser humano considerar dispensável aquilo que não lhe apela. Aqui em casa, por exemplo, ninguém vai encontrar cinzeiros, a discografia do cantor Latino ou um três-oitão. Não nos faz falta.

Mas ninguém imagine que o Guedes não pensou nos menos favorecidos ao propor a taxação do livro. Jamais. Palavras dele: "Vamos dar livros de graça para o mais frágil, para o mais pobre". Pode não ser o livro que o pobre gostaria, mas quem se importa? Em lugar de Pequeno Manual Antirracista, da Djamila Ribeiro, a vida e obra da Damares. Em lugar de Vista Chinesa, da Tatiana Salem Levy, a Bíblia com prefácio do ministro Kassio Conká. Vai ler e não reclama, pobre.

A proposta do sinistro veio na carona das medidas pensadas para a reforma tributária, lá por agosto de 2020. Acredito que, devido às reações que provocou, não se falou mais nela. Assim como não se falou em taxar fortunas e grandes empresas, como Biden anunciou que fará nos Estados Unidos, aumentando também os investimentos públicos em infraestrutura. O bom de dizer isso aqui é que ninguém pode me acusar de estar passando adiante preceitos comunistas, já que a ideia foi do Biden, não do Putin.

Pois bem. Na semana passada, a reforma tributária voltou à pauta, e quem apareceu de novo? A taxação de livros.

Segundo a Receita Federal, famílias com renda de até dois salários mínimos só consomem livros didáticos. Os livros de ficção e outros seriam exclusividade das famílias com renda acima de 10 salários mínimos. O que não fecha nesse raciocínio é que os livros didáticos serão taxados também, o que faz a suposta preocupação com os mais vulneráveis parar no mesmo lugar em que uma medida dessas deveria estar: a lata de lixo.

Nos capítulos anteriores: a lei que começa a diminuir os impostos sobre impressos vem lá da Constituição de 1946, por emenda apresentada pelo então deputado Jorge Amado. Sim, ele mesmo. Jorge Amado, o escritor. Ali ficou consagrada a isenção de impostos para o papel utilizado na impressão de livros, jornais e revistas. A Constituição de 1988 estendeu a isenção também para os livros, jornais e revistas já impressos. Mais tarde, a isenção do PIS e Cofins permitiu a redução do preço final do livro pelos anos seguintes. Isenção essa que agora pode cair por conta da avaliação preconceituosa, para não dizer o mínimo, da atual equipe econômica. Pobre não lê.

Só para fins de comparação, até dá para entender. Quando o livro passou a ser considerado um bem digno de ser protegido, Jorge Amado era deputado federal. Hoje temos na Câmara, entre tantos outros, Flordelis, apresentadores ignorantes de TV e um dos filhos do homem, que adora posar com biografia de torturador.

Não é só pelos 12%. É pelo que isso diz sobre o país que nos tornamos.

A foto que ilustra a coluna mostra o seu João Carlos dos Santos, que se alfabetizou aos 70 anos, realizando o sonho de comprar seu primeiro livro. Pois é. Para relembrar, a matéria toda está aqui: gzh.rs/livrosjoao.

CLAUDIA TAJES

17 DE ABRIL DE 2021
JULIA DANTAS

PENSAMENTO POSITIVO

Foi apenas neste ano que conheci o conceito de positividade tóxica, e achei-o fascinante. A positividade tóxica se dá quando, não importa o que esteja acontecendo, a pessoa mantém uma atitude forçadamente positiva, tentando impor aos outros essa postura e silenciando as emoções negativas. É quando você comenta com alguém que está ansioso, triste e preocupado porque perdeu o emprego, e a pessoa responde que "toda crise é uma oportunidade", ou que "basta pensar positivo", ou ainda que "é só ter força de vontade para superar isso".

Nunca vi força de vontade ser aceita no caixa do mercado, então essa é sempre a frase que mais me perturba. A gente poderia unir os 14 milhões de desempregados mais os quase 6 milhões de desalentados do Brasil numa imensa corrente de pensamento positivo e isso não pagaria a conta de luz de ninguém.

Claro que é uma coisa ótima encontrar modos de obter uma perspectiva construtiva sobre os nossos problemas, mas convém não perder contato com a realidade. Como dizem por aí - e já faz tempo -, ou você é feliz ou é bem-informado. Ao longo do último ano, todo brasileiro precisou de um período de desintoxicação após ler o noticiário, pois, assim como há males que vêm para o bem, há males que só vêm para o mal mesmo.

Qual o lado bom no fato de que, mês passado, mesmo diante da perspectiva de mais um ano letivo em EAD, o presidente da República ter vetado o projeto que garantiria internet grátis a alunos e professores da rede pública? Como alguém pode ver algo de bom no fato de que o ministro da Justiça gasta seu (muito bem pago) tempo abrindo processos contra quem critica o presidente em público? Cinco pessoas foram presas em Brasília por segurarem uma faixa que dizia "Bolsonaro genocida" e trazia uma caricatura dele com chifres. A gente deve olhar para isso e ficar satisfeito que pelo menos ele sabe ler?

Qual o lado positivo do fato de que o (primeiro) ano da pandemia foi também o ano com a menor verba para combate ao trabalho escravo em toda a década? A gente deveria ficar feliz que pelo menos a verba foi reduzida em 40%, mas não foi zerada? Não sei vocês, mas eu ando cansada de viver num país onde "pelo menos" virou a norma de sobrevivência.

A gente se vê obrigado a pensar que o governo colocou no ar um site oficial que receitava cloroquina até para bebês, mas pelo menos o site foi tirado do ar rapidamente graças a uma denúncia da imprensa. É para ficar feliz? Faltou oxigênio, faltou leito, faltou UTI, mas pelo menos não faltou caixão? Insistiu que era gripezinha, falou mal e não comprou vacina, fez rodízio de ministro da saúde, chamou os preocupados de histéricos, atacou jornalistas rotineiramente, mas pelo menos vai ter CPI?

Eu sei lá. Sempre fui otimista, mas acho que sob esse governo o que a gente precisa se permitir sentir é raiva mesmo. Raiva e vontade de criar dias melhores. Milhões de pessoas unidas numa corrente de pensamentos não pagam um mísero boleto, mas viram uma eleição. Pensamento positivo para mim é esse.

JULIA DANTAS

17 DE ABRIL DE 2021
LEANDRO KARNAL

ONDE ERRAMOS?

O primeiro susto foi em um restaurante em Tóquio. Paguei a conta e deixei dinheiro a mais. A moça veio atrás de mim devolvendo o excesso. Insisti que era para ela. Recebi uma recusa polida: Its my job. Sim, era o trabalho dela. Guardei as notas com algum constrangimento. Parecia que eu tinha maculado um ambiente puro. Em uma metrópole como a capital do Japão, a maioria dos trabalhadores está acostumada ao oferecimento de gorjetas por parte de turistas. Nos lugares menores, bem sei, decai o inglês e aumenta o espanto. Já sou pago para fazer o que faço. Fazer bem é um item de honra e não pode ser em função do desejo de dinheiro. Parece-me sempre ter ouvido isso sem nunca ter entendido o que falavam. Meu japonês é inexistente, e o inglês, fora das grandes áreas urbanas, é fraco no arquipélago do sol nascente.

Vamos em direção ao Ocidente. Há países nos quais as quantias extras são esperadas por todo serviço. Turistas são fonte de renda e existe pobreza. Salários baixos impelem trabalhadores a aguardar o amparo suplementar. Já fiquei irritado em viagens. Parecia, por vezes, que um simples sorriso deveria ser recompensado com um dólar. Uma vez, indo a um congresso com minha amiga Flavia Galli Tatsch, pessoas pegaram nossas malas na esteira do aeroporto e saíram em passo rápido. Fui atrás rápido, imaginando um roubo. Não! Eram carregadores que, sem pedir ou oferecer, pegaram as bagagens e saíram até a rua para... receberem gorjeta. Sorridentes, colocaram os volumes no carro que indiquei e esticaram as mãos ávidas. Na prática, houve um sequestro relâmpago das nossas roupas e o resgate era em matéria sonante.

Achava que eram as dificuldades econômicas que explicavam o fato. Todavia, em grandes economias capitalistas, como os EUA, a gorjeta é até mais sagrada do que em rincões do Terceiro Mundo. É grave, crime de lesa-pátria, não deixar o valor no pagamento na terra do presidente Biden. Pode ser que em alguns lugares seja a luta pela sobrevivência, em outros o capitalismo que tabela de trabalho a felicidade. O que explicaria o Japão?

No Brasil, por exemplo, oferecemos prêmios para crianças de classe média e alta para fazerem o que deveriam por pura e primária obrigação. Viagens, presentes, dinheiros e outros são ofertados na bandeja do futuro para que os jovens... estudem. É uma forma de suborno ou recurso válido para a educação. Será que as crianças japonesas, diante de um convite a um regalo para que estudem, responderiam: "Não, meu pai, não posso aceitar seu oferecimento. Eu estudo para ter um futuro e ser digno do nome da família, afinal, it?s my job?". Vindo do Brasil, a terra que apresenta alto índice de trabalho infantil em classes baixas e altíssimos níveis de mimo pedagógico nas altas, tendemos a idealizar sistemas sociais e educativos melhores.

Crianças francesas comem de tudo e nunca fazem "manha" pública. Crianças japonesas trabalham com a ideia de dever em grau elevado. Onde erramos?

Sabemos que nós, mais velhos, quase sempre tivemos pais com regras mais claras do que as gerações atuais. O Legislativo da casa da nossa primeira idade estava fora do nosso alcance: todos os valores e normas vinham prontos e pétreos. Nem sempre era justo e quase nunca fácil. "Deitem-se às 21h!" Por quê? Seria grave 20h45min? 21h15min? Ninguém sabia. Era assim desde a aurora dos tempos e a ordem do mundo dependia do rápido atendimento da diretiva materna. Desligar a televisão (a única, na sala). Escovar os dentes e cama! "Mas eu não estou com sono!" "Não precisa dormir, meu filho, basta ficar quietinho no quarto com luz apagada até amanhã."

Submetidos, outrora, a regimes menos inclinados à negociação, imaginamos que os jovens de hoje são folgados e cheios de birra. Um psicanalista daria boas pistas para analisar nosso horror aos sistemas em vigência como forma de responder a nossas dores. Como mudamos de lado com o tempo, temos maior apreço pelo cabo do chicote do que compaixão pelo lombo que o suporta.

Crianças devem ser ouvidas sempre e atendidas de quando em vez. Regras devem ser racionais, claras e justas. Exceções podem e devem ser abertas em nome de valores maiores do que a norma, como a defesa da vida. Nunca deveria ser oferecido suborno para que um filho faça o que deveria fazer. Elogios são bem-vindos, críticas com cuidado e sem humilhação, indicando o caminho correto. Explicação olho no olho, abaixando-se para falar com uma criança. A birra existe e não há dano permanente se alguém de sete anos não receber o que deseja na hora que solicita. Nunca, jamais usar de autoridades externas ou imaginárias em caso de recusa infantil: "Eu vou chamar o guarda...". É uma mentira, e você perderá sua autoridade. Você é pai ou mãe, não "amiguinho" do filho.

Crianças não podem trabalhar formalmente, devem estudar e brincar. Elas devem ser estimuladas a tarefas leves domésticas como arrumar a cama e guardar brinquedos quando tiverem discernimento para tal. Presentes dados a todo instante diluem a alegria das datas. Os limites devem ser dados e jamais a violência física. É quase uma sina: erramos em educação, sempre. Porém, alguns cuidados impediriam que transformássemos crianças pobres em pequenos escravos e as ricas em imbecis mimados. Evitar tais erros já ajudaria bastante o futuro do nosso amado país. Boa semana com esperança nas crianças.

LEANDRO KARNAL



17 DE ABRIL DE 2021
ELIANE MARQUES

A INVENÇÃO DAS BRUXAS

Nos filmes, geralmente ela aparece na pele de uma invejosa e maléfica senhora velha e corcunda, comedora de criancinhas. Contudo, o adjetivo-substantivo bruxa, mais do que um pretenso insulto, compartilha com o tráfico transatlântico de gente, o extermínio de povos indígenas e a colonização uma história de expropriação material e subjetiva advinda das condições necessárias à formação e ao desenvolvimento do capitalismo. Sobre essa figura Silvia Federici lança novas perspectivas no livro Mulheres e Caça às Bruxas, partindo de Calibã e a Bruxa, sua obra anterior. A autora questiona por que xs principais destinatárixs da violência atual, incluída uma renovada caça às bruxas, são corpos que trouxeram a este mundo todas as pessoas e que respondem pelo trabalho de humanizar e manter a existência de outrxs.

Embora desde o século 4 os relatos monásticos dessem a conhecer demônios terrenos raptores das almas do seio da morte, os fatos constitutivos da caça às bruxas remontam aos séculos 17 e 18, quando se iniciou o julgamento das mulheres pela Igreja. Segundo o historiador Jean Delumeau, o sagrado não oficial foi considerado demoníaco, tudo o que se tinha por demoníaco foi tomado por herético e toda a heresia e o herético ficaram sob a guarda do demoníaco e suas agentes - as bruxas. Para os gregos, haíresis (heresia) se referia à escolha entre filosofias. O cristianismo transformou a escolha em crime-pecado.

Ocorrido em outras partes da Europa sob diferentes formas, o cercamento religioso foi concomitante à instituição da política que confinava as mulheres à subalternidade e ao cercamento de terras na Inglaterra, processo pelo qual a classe proprietária e os membros abastados da classe camponesa cercavam terras comuns, aboliam os direitos consuetudinários e desalojavam trabalhadores. Os efeitos das cercas atingiram com força mulheres mais velhas, viúvas sem alguém que pudesse ajudá-las. O ressentimento e a raiva das chamadas de invejosas advinham da injustiça da perda de suas posses para um vizinho, da presença diária de animais pastando nas terras antes comuns enquanto elas passavam fome.

Silvia Federici assinala que também podem se originar desse quadro as acusações de encantamentos a porcos, vacas, cavalos, entre outros, assim como as acusações de que o diabo ia ter com elas e lhes prometia nunca mais sofrerem privações. Contudo, as bruxas não padeciam de passividade diante da expropriação. Elas resistiam à exclusão social com ameaças, olhares de reprovação e maldições a quem se recusasse a ajudá-las. Algumas delas ofereciam presentinhos às crianças das cercanias na intenção de serem aceitas pelo grupo social.

Hoje, os ataques dirigidos às mães de uma juventude que rechaça a expropriação e combate para recuperar o que foi produzido por gerações de comunidades escravizadas, unido à política de encarceramento em massa, representam um dos aspectos da caça às bruxas. Sob o nome bruxa eram e continuam sendo penalizadas a investida contra a propriedade privada, a insubordinação social, a propagação de crenças heréticas e o desvio da norma sexual, na América e na África.

ELIANE MARQUES

17 DE ABRIL DE 2021
J.J. CAMARGO

PARA ONDE O CORAÇÃO NOS LEVA

O amor, infelizmente, não imuniza, mas o desamor é sempre mortal

O dano emocional desta peste na população geral ainda não foi completamente dimensionado. Sabemos com certeza documentada que muitas mortes evitáveis ocorreram por medo de procurar recursos médicos, ou, por suprema ironia, que morremos muitos da doença velha, mas não passamos nem perto da nova.

Por outro lado, a observação da Sociedade Brasileira de Patologia de que houve uma redução de cerca de 50% dos diagnósticos de câncer em 2020 terá desdobramentos a médio prazo porque, disso também se sabe, as fragilidades emocionais não desaceleram os cânceres.

O distanciamento social, indispensável para diminuir a circulação do vírus, também revelou seu efeito colateral nocivo ao dificultar a interação carinhosa entre os amados. A frustração e o tédio pelo confinamento, a interrupção da rotina, a alteração das atividades habituais de trabalho, a constância das notícias trágicas e a perda da liberdade de ir e vir tiveram e continuam tendo consequências funestas e estressantes na condição anímica da população.

Como os seres humanos são diferentes, nada se apressa mais em distingui-los do que a doença. E essa diversidade é ocasionalmente flagrada pelo relato de casos bizarros e muito frequentemente observada pelos médicos intensivistas, que convivem, por exemplo, com o drama da necessidade de intubação, já identificada pela população leiga como uma declarada ameaça de morte.

O Carlos Fernando vivia sozinho desde que se separou há 23 anos, tendo deixado três filhos adolescentes, assumindo, com uma naturalidade que chocava os amigos, que havia entre eles uma relação de nulidade afetiva bilateral.

Com sintomas da covid-19, procurou uma UPA, onde o diagnóstico foi confirmado. Comunicou ao trabalho que ia tirar uns dias de folga e aproveitaria para visitar uns parentes no Interior, e se refugiou num lar vazio de tudo. Depois de 16 dias exilado, mandou uma mensagem ao único irmão que morava em Santa Catarina, dizendo que precisava muito conversar com ele, alarmando-o com a instrução de que a chave da porta lateral estava embaixo do vaso no segundo degrau.

Quando o irmão chegou no fim daquela tarde, ele já não estava. Segundo o legista, a morte ocorrera havia menos de duas horas. Todos ficaram aliviados que, nestas circunstâncias, as cerimônias fúnebres estão proibidas.

No outro extremo, cheia de afeto e susto, chegou Mariângela, com sua bochecha roliça que a máscara mal continha. Igualmente contaminada, foi trazida ao hospital, com falta de ar, para uso imediato de oxigênio. Depois de uma melhora inicial, que chegou a acalmar a aflição do único filho, a reação inflamatória recrudesceu. Depois de um dia de tentativas frustradas de medidas menos invasivas, ficou evidente que estava em fadiga muscular e a intubação era indispensável. Seu médico, um intensivista dedicado e sensível, se apressou em comunicar-lhe, e quis saber se ela mesma preferia dar a notícia ao filho.

Quando ela disse que sim, alcançaram-lhe um celular. Médicos, enfermeiros, técnicos e fisioterapeutas colecionaram, neste ano de pandemia, muitas histórias emocionantes. Mariângela, com uma calma incomum, tratou de tranquilizar o filho, animando-o que ela ia ficar bem, e que ele se cuidasse. Encerradas as declarações de amor, o celular foi devolvido.

Um minuto depois, enquanto o material de intubação era preparado, um pedido surpreendente: "Eu preciso outra vez do seu telefone, doutor, porque faltou dizer uma coisa importante, ao meu filho!". Cercado de enorme expectativa do grupo assistente, o celular foi entregue: "Meu filho, uma coisa que esqueci: retire toda a roupa do varal, dobre e guarde no armário. Quando sair daqui, eu passo!".

Como se aprendeu nesses tempos medonhos, o amor, infelizmente, não imuniza, mas o desamor é sempre mortal. Naquele pedido corriqueiro, começava o diferencial de esperança dos que têm amor pra dar e amor pra receber, os quais, por insondáveis caminhos, vislumbram a inabalável certeza de que vão sobreviver, mesmo que todo imenso estoque de afeto esteja camuflado na simples promessa de uma roupa por passar.

J.J. CAMARGO

17 DE ABRIL DE 2021
DAVID COIMBRA

Um cara de sorte

Não faz muito, li duas autobiografias, do Woody Allen e do Nelson Motta, em que eles atribuem o sucesso que tiveram na vida à sorte. Nelson Motta fala em sorte do título do livro à última página. Woody Allen às vezes substitui a sorte pelo acaso, que é o apelido da sorte.

Silvio Santos também agradece à sorte pelo que conquistou.

- Sorte é tudo na vida - diz ele. - Algumas pessoas têm muita sorte, como eu, e tudo o que fazem dá certo. Outras têm pouca sorte e tudo o que fazem dá errado. E a maioria das pessoas às vezes tem sorte, noutras vezes, não.

Júlio César era outro que acreditava na sorte. Uma vez, ele tinha de cruzar um braço de mar em um barco pequeno. No meio da travessia, alcançou-o uma forte tempestade, que erguia as ondas e ameaçava virar o barquinho. Olhando para os rostos apavorados dos remadores, César os tranquilizou:

- Nada temam: vocês estão levando César e sua fortuna.

A palavra "fortuna", no caso, significa, exatamente, sorte. César acreditava que sua boa sorte o protegeria. Não protegeu - o barco acabou se despedaçando contra os recifes. Mas ele teve sorte de se salvar a nado.

Perceba a diferença: César, ao falar da sorte, falava de sua própria confiança. Ele acreditava que superaria as dificuldades, e assim as enfrentava sem medo.

Já Silvio Santos, Nelson Motta e Woody Allen usam a sorte para expressar sua modéstia. Eles diminuem a importância de seus méritos em suas conquistas. Outros poderiam ter conseguido o que eles conseguiram. Não foram a competência, o esforço ou o talento que os beneficiaram; foi a casualidade: eles estavam no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas.

Sorte.

O que, afinal, seria sorte? Como uma pessoa é abençoada pela sorte? Como é que a gente consegue isso? É Deus quem dá? Se for Deus, por que Ele beneficia uns em detrimento de outros? Deus disse ao meu xará, David, 3 mil anos atrás:

"Assenta-te à minha direita

Até que eu faça dos teus inimigos o escabelo de teus pés".

Ou seja: Deus era por David e contra seus inimigos. David tinha sorte.

Pensei nisso tudo porque, ao passar por uma série de vicissitudes nos últimos tempos, concluí: estou sem sorte. E me vi assim, abandonado e desprotegido em meio ao universo hostil, e comecei a sentir o pior dos sentimentos: senti pena de mim mesmo.

Aquela autocomiseração, aquele desespero mudo estavam me amassando.

Até que olhei ao redor.

Ao sair um pouco de mim e prestar atenção às pessoas que me cercavam, vi as expressões de carinho e de amor da minha mulher e do meu filho. Em seguida, lembrei dos meus familiares, dos meus amigos e dos meus colegas que estavam tão preocupados comigo. E li as mensagens dos leitores, gente que nem conheço, que queriam saber de mim, que diziam estar pensando em mim e que rezavam por mim.

Tantas pessoas de bons sentimentos dedicando a mim um pedaço de seu dia...

Essa ideia me animou. Disse para mim mesmo: "Tenho sorte!". E me joguei de novo, em meu pequeno barco, no mar proceloso da existência. Arrostei: que venham as ondas! E torci para ter mais sorte do que tinha César.

DAVID COIMBRA

17 DE ABRIL DE 2021
SUSPEITA DE ALICIAMENT

Jovens gaúchas relatam ter sido vítimas de empresário

Duas jovens do RS estão entre as que relatam ter sido vítimas de suposto esquema de aliciamento e estupro de mulheres pelo qual o milionário Saul Klein, de São Paulo, é investigado. O caso é apurado pela Delegacia da Mulher de Barueri, município onde mulheres de diversos Estados frequentavam condomínio de luxo. Ao menos 32 alegam que foram exploradas e violentadas - o empresário nega.

Cinco anos após a filha viajar a São Paulo para avaliar uma proposta de trabalho como modelo, uma família convive com os traumas do suposto esquema. Por duas vezes, a jovem tentou suicídio e segue em tratamento. Juliana (nome fictício), modelo de classe média, sempre despertou a atenção pela beleza e chegou a ganhar concursos na área. A mãe acredita que o contato foi pelas redes sociais - a jovem, hoje com 18 anos, nunca quis dizer quem a levou a Barueri pela primeira vez.

- Ele se apropriou, entrou na vida e na cabeça delas, sabendo que eram psicologicamente frágeis. Ela me dizia: "Não quero mal dele. Ele acha que estamos lá por amor". Esse é o perfil das adolescentes que eles aliciavam. Elas ficaram presas naquela manipulação. Era perverso - diz a mãe.

Era comum, segundo a mãe, que a filha oscilasse momentos em que defendia Klein e nos quais relatava violências e humilhações. Ela nega que a filha tenha ingressado no esquema como sugar baby - versão apresentada pela defesa de que ele agia como sugar daddy (homem que sustenta jovens financeiramente, em troca de favores se­xuais e companhia). No período em que estava no condomínio, deveria mentir a profissão dos pais, a origem e algumas vezes até o nome. Juliana, conforme a mãe, desenvolveu anorexia e submetia-se a tratamentos como aplicação de botox. Até que passou pela segunda tentativa de suicídio, ainda mais grave.

- Os presentes dele eram roupas, sapatos, bonecas, bichos de pelúcia. Ele mexia nessa parte infantil delas. Isso que acho muito cruel. Ele agora se defende com a figura do sugar daddy. Mas está longe disso. É muito triste ver um filho teu se desmanchar. Não sei o que vai ser do futuro dela. Isso arrebentou com a vida dela e da família inteira. Era uma menina, cheia de sonhos. Hoje, não consegue se sentir confortável em lugar nenhum na vida. É um dano existencial muito grande - diz a mãe.

Apoio

O projeto Justiceiras - que dá suporte a mulheres que tenham sofrido violências - foi responsável por ouvir as mulheres, que passaram a buscar ajuda desde setembro. Quatorze procuraram o projeto, alegando terem sido vítimas de Klein. Elas passaram a receber assistência e foram ouvidas pelo MP. A Justiça determinou em novembro que o passaporte do empresário fosse apreendido e decretou outras medidas, como a proibição de que se aproximasse das vítimas. No fim do ano, o caso foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. Na sequência, mais 18 jovens buscaram o grupo. Foi aberto inquérito na Delegacia da Mulher de Barueri, que segue em andamento. Em razão do segredo de justiça, a Polícia Civil de São Paulo não informou se o empresário já foi ouvido.

Em 24 de fevereiro, a 2ª Vara Criminal de Barueri revogou as medidas cautelares de todas, ao considerar os argumentos da defesa de que Klein seria um sugar daddy. A defesa do empresário afirma que ele contratava empresa para agenciar as modelos e que ele é vítima de esquema de extorsão. A advogada Gabriela Souza, de Porto Alegre, que representa as vítimas, nega que a relação se desse desta forma e recorre da decisão. As jovens afirmam que tudo fazia parte de um esquema, no qual eram submetidas a humilhações e violências. Em setembro passado, uma dessas modelos, também do RS, cometeu suicídio.

- Ele se coloca como vítima de um grande complô de mulheres interesseiras. Tinha um staff para cometer crimes. E pessoas muito bem pagas para ficar em silêncio. Esse silêncio culminou na violência sexual sem tamanho que essas mulheres sofreram. O Judiciário coloca em dúvida a palavra de 32 vítimas e não protege a vítima, e sim o agressor - diz a advogada.


AMAI-VOS OU ARMAI-VOS?

Em tempos de normalidade já seria absurdo intercalar um "r" para transformar o "amai-vos uns aos outros" dos Evangelhos naquele truculento "armai-vos" contido em quatro decretos do presidente Bolsonaro. Em plena pandemia, os decretos ressoam num tom fúnebre com rastro sinistro.

Por isto, exalto a decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal, ao suspender partes de quatro decretos do presidente Jair Bolsonaro que facilitavam a compra e uso de armas e munições. Com a discrição que a caracteriza, sem alardes propagandísticos, a ministra evitou o que poderia ser o grande semeador da violência no Brasil. Um dos pontos agora suspensos permitia que adolescentes com 14 anos praticassem "tiros desportivos", talvez o detalhe mais brutal dos decretos presidenciais.

Criaríamos assim uma escola paralela, educando para a violência e para a morte, nunca para o amor e a vida. Além disso, os decretos ora suspensos davam às armas e munições um "status" fundamental, facilitando armar-se e municiar-se indefinidamente. Seria transformar o lar num arsenal, com a vida em família em plano inferior.

Os ditos "caçadores desportivos" iriam adquirir um lugar de "relevo" na sociedade, quando - de fato - se dedicam a extinguir a fauna silvestre. No Rio Grande do Sul, a dita "caça desportiva" (em que matar "é um prazer") está proibida por decisão judicial há anos. Não fosse a suspensão de dias atrás, os decretos presidenciais gerariam, aqui, intermináveis questões em juí- zo, travando ainda mais o lento aparelho judicial.

Os decretos retiravam do comando do Exército e da Polícia Federal todo o poder de controle sobre armas e munições, detalhe que também se suspendeu agora.

Em suma, "armar-se" já não será amar-se.

A suspensão parcial dos decretos sobre as armas foi o ponto de partida para Bolsonaro afirmar que "irá surgir um problema sério com o Supremo Tribunal", como disse nas habituais bravatas que faz a apoiadores à saída do Palácio da Alvorada. Antes, o ministro Marco Aurélio Mello alertou que o presidente ameaça usar as Forças Amadas contra governadores adeptos do isolamento social. E a ministra Carmen Lúcia decidiu examinar as denúncias de que Bolsonaro praticou "atos de genocídio" contra indígenas durante a pandemia.

Este "é o problema sério com o Supremo", como diz o presidente, numa linguagem que lembra tosca intromissão na independência do Judiciário. Será o "armai-vos" substituindo o "amai-vos uns aos outros"?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES


17 DE ABRIL DE 2021
+ ECONOMIA

"O prédio mais luxuoso de Porto Alegre"

A proposta é tão, mas tão exclusiva, que não há sequer imagens disponíveis. Só clientes que marcarem hora poderão ver os detalhes do Cyrela by Pininfarina. A grife é do estúdio de design italiano responsável pelo desenho de marcas como Ferrari, Maserati e Bovet. Com essa assinatura, a construtora pretende erguer um marco na Rua Farnese, bairro Bela Vista.

- O Cyrela by Pininfarina será o prédio mais luxuoso da cidade - diz Rodrigo Putinato, CEO da Cyrela Regional Sul.

O plantão de vendas, uma instalação temporária, mais parece galeria de arte. Tem objetos da grife Pininfarina, como uma caneta que não perde a carga e uma bicicleta que recicla energia. Os clientes serão instalados em sofás que circulam mesas, tudo com as linhas curvas que caracterizam o design.

A coluna mal pôde espiar uma maquete para conferir as tais linhas curvas. Mas quem tiver dinheiro no bolso não vai perder a viagem, mesmo sem fechar negócio. Depois de ver um vídeo 3D em um cubo especial, sem necessidade de óculos, as portas se abrem e aparece o símbolo da grife italiana, uma legítima Ferrari. De verdade, não em 3D.

Fundada em 1930 por Battista "Pinin" (um apelido) Farina, a marca passou, em meados dos anos 1980, a se expandir em outros segmentos, como a arquitetura.

O Cyrela by Pininfarina será mesmo para poucos: são 25 unidades residenciais em torre única. Os apartamentos vão de 333 m2 a 378 m2 e opções de duplex com até 750 m2, todos com quatro suítes.

As persianas dos dormitórios serão automatizadas, haverá espera para calefação nos pisos dos banheiros, e um gerador atenderá a todas unidades autônomas para iluminação, tomadas e ar condicionado.

A infraestrutura de lazer vai ocupar dois pavimentos de área comum, que terá dois salões de festas com área gourmet, brinquedoteca, playground, fitness com área externa com equipamentos da marca Technogym - considerados "inteligentes" -, espaço pet, piscina externa e coberta, com raia de 25 metros, sauna seca, sala de massagem e sala de jogos.

Cada unidade terá quatro vagas de garagem com depósitos individuais, com espaço extra para armazenamento, todas com tomadas para carros elétricos.

seria o valor que a Lojas Renner ambicionaria captar com nova oferta de ações. Em fato relevante, a empresa confirma estar "avaliando" um lançamento de ações, mas diz não haver decisão final nem definição de valor.

MARTA SFREDO



17 DE ABRIL DE 2021
+ ECONOMIA

"O prédio mais luxuoso de Porto Alegre"

A proposta é tão, mas tão exclusiva, que não há sequer imagens disponíveis. Só clientes que marcarem hora poderão ver os detalhes do Cyrela by Pininfarina. A grife é do estúdio de design italiano responsável pelo desenho de marcas como Ferrari, Maserati e Bovet. Com essa assinatura, a construtora pretende erguer um marco na Rua Farnese, bairro Bela Vista.

- O Cyrela by Pininfarina será o prédio mais luxuoso da cidade - diz Rodrigo Putinato, CEO da Cyrela Regional Sul.

O plantão de vendas, uma instalação temporária, mais parece galeria de arte. Tem objetos da grife Pininfarina, como uma caneta que não perde a carga e uma bicicleta que recicla energia. Os clientes serão instalados em sofás que circulam mesas, tudo com as linhas curvas que caracterizam o design.

A coluna mal pôde espiar uma maquete para conferir as tais linhas curvas. Mas quem tiver dinheiro no bolso não vai perder a viagem, mesmo sem fechar negócio. Depois de ver um vídeo 3D em um cubo especial, sem necessidade de óculos, as portas se abrem e aparece o símbolo da grife italiana, uma legítima Ferrari. De verdade, não em 3D.

Fundada em 1930 por Battista "Pinin" (um apelido) Farina, a marca passou, em meados dos anos 1980, a se expandir em outros segmentos, como a arquitetura.

O Cyrela by Pininfarina será mesmo para poucos: são 25 unidades residenciais em torre única. Os apartamentos vão de 333 m2 a 378 m2 e opções de duplex com até 750 m2, todos com quatro suítes.

As persianas dos dormitórios serão automatizadas, haverá espera para calefação nos pisos dos banheiros, e um gerador atenderá a todas unidades autônomas para iluminação, tomadas e ar condicionado.

A infraestrutura de lazer vai ocupar dois pavimentos de área comum, que terá dois salões de festas com área gourmet, brinquedoteca, playground, fitness com área externa com equipamentos da marca Technogym - considerados "inteligentes" -, espaço pet, piscina externa e coberta, com raia de 25 metros, sauna seca, sala de massagem e sala de jogos.

Cada unidade terá quatro vagas de garagem com depósitos individuais, com espaço extra para armazenamento, todas com tomadas para carros elétricos.

seria o valor que a Lojas Renner ambicionaria captar com nova oferta de ações. Em fato relevante, a empresa confirma estar "avaliando" um lançamento de ações, mas diz não haver decisão final nem definição de valor.

MARTA SFREDO
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17 DE ABRIL DE 2021
MARCELO RECH

Democracia remendada

Na peça de ficção em que se converteu o orçamento federal de 2021, a queda de braço sobre o estouro fiscal das emendas parlamentares esconde uma distorção peculiar da democracia brasileira.

À primeira vista, a emenda carimbada por um deputado para construir em sua base um ginásio de esportes, por exemplo, é uma iniciativa salutar. Mas é preciso olhar mais fundo. Como qualquer verba pública, a obra deveria seguir critérios técnicos e republicanos de orçamentação, prioridade e execução. No mundo ideal, a obra seria avaliada, orçada e executada pelos governos municipal, estadual ou federal, ou em uma combinação dos três - sem apadrinhamentos ou submissão a interesses partidários e paroquiais.

Conceder funções executivas a parlamentares é parte do imbróglio em que o Brasil se meteu ao perder de vista a separação entre poderes. Nesta lambança, o STF legisla regularmente e até assume poder de polícia, o parlamento absorve funções de governo e o Executivo Federal invade o campo do Legislativo com medidas provisórias. No fim, os três poderes se acotovelam na disputa de espaço e na sobreposição de atribuições, enquanto os governantes locais e regionais que deveriam planejar e executar os orçamentos se veem compelidos a percorrer gabinetes em Brasília para passar o chapéu em busca de verbas. É uma aberração que mantém vivo e aceso o ciclo perverso do clientelismo político, na mesma toada da concessão de favores que vem desde o Brasil Colônia - apenas se deu a ela nova roupagem e aparência de normalidade.

Parlamentares, em tese, são eleitos para legislar; ou seja, para exercer a nobre missão de debater grandes temas, propor, aprovar ou rejeitar novas leis e o orçamento, além de fiscalizar seu cumprimento. Quando uma verba pública é aplicada diretamente por um deputado, ocorre uma dupla distorção. Além de apequenar o mandato, o privilégio torna desigual a disputa eleitoral contra possíveis futuros concorrentes que não têm o poder de escolher obras na sua base. Em suma, criam-se currais eleitorais e fecham-se portas para a renovação política.

Com a dieta de obras públicas, fruto de um Estado que prioriza a própria subsistência, é muito improvável que um deputado ou senador resista à tentação de afagar o eleitorado com projetos que deveriam ser propostos e tocados pelos Executivos. Da mesma forma, é demasiado esperar que o eleitor médio perceba que a relatoria de um projeto relevante pode ter mais impacto em sua vida do que a construção de um ginásio. Como não há força à vista para romper esse ciclo viciante, cabe pelo menos um reconhecimento à bancada federal gaúcha, que procura concentrar suas emendas em projetos comuns para o Estado, despersonalizando em grande medida uma deturpação que embaralha poderes, conspurca o parlamento e enfraquece governos.

MARCELO RECH

17 DE ABRIL DE 2021
J.R. GUZZO

Como uma ditadura do terceiro mundo

O STF assume cada vez mais a cara, o corpo e a alma de uma dessas ditaduras africanas (a América Latina já está numa outra fase) nas quais um ato extremista puxa outro e os ditadores, nos seus arranques de despotismo, vão perdendo o contato com a realidade. Acontece o tempo todo: os ministros, colocados diante de uma decisão radical, tomam outra ainda mais radical. Aconteceu de novo.

Sem razão nenhuma, apenas usando a petição de um partido anão para satisfazer os seus desejos políticos, o ministro Luís Roberto Barroso impôs ao Senado uma humilhação espetacular: mandou o presidente da Casa abrir uma CPI que ele, no pleno uso dos seus direitos constitucionais, não queria abrir. Logo depois de ter feito a Câmara engolir a prisão ilegal de um deputado, o STF dobra a aposta, enfiando goela abaixo do Senado uma CPI sem pé nem cabeça.

A comissão, como se sabe, é para investigar a conduta do governo federal durante a pandemia de covid-19. Só a dele, é claro, e não as ações dos Estados e municípios - que receberam do mesmo STF, há mais de um ano, autonomia completa para gerir a epidemia.

Não saiu bem como queriam; na forma final, ficou aberta uma brecha para perguntas sobre a maciça roubalheira de verbas federais por parte das "autoridades locais", um escândalo em moto contínuo que já provocou mais de 70 investigações da Polícia Federal.

Mas o propósito de atacar o governo e, especialmente, a Presidência da República, permanece intacto: junto com a CPI, o STF deu curso a um prodigioso processo para julgar Jair Bolsonaro por "genocídio" - pelo que deu para entender, o presidente está sendo acusado de não fornecer água potável às "populações indígenas". Acredite se quiser.

Como tinha acontecido na Câmara, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cedeu a mais uma intromissão do STF em questões internas do Congresso Nacional. Durante os últimos 63 dias, Pacheco vinha argumentando que não abria a CPI pedida pelo partido nanico porque o momento, no meio de uma tragédia absoluta, não era apropriado. Não aconteceu nada de novo até agora - mas o "momento", assim que Barroso falou, passou a ser ótimo. O ministro mandou, Pacheco obedeceu no ato; ao que parece, estão se acostumando a apanhar e gostar. É isso, hoje, o parlamento brasileiro.

O Supremo cometeu um suicídio moral ao anular todas as ações penais contra Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, inclusive a sua condenação em terceira e última instância por nove juízes diferentes. Suicidou-se outra vez, logo em seguida, ao julgar o juiz Sergio Moro "suspeito" de agir com parcialidade - com base em informações obtidas através de crime e cuja autenticidade está em dúvida.

Com os seus repetidos surtos na área política, o STF está operando, a cada dia que passa, como uma das ditaduras mais extravagantes e subdesenvolvidas que há por aí.

*Conteúdo distribuído por Gazeta do Povo Vozes - J.R. GUZZO


16 DE ABRIL DE 2021
DAVID COIMBRA

Renato: a queda de uma estátua

Não foi a covid que derrubou Renato do Grêmio. Pode ter ajudado, mas, se o time estivesse bem, ele permaneceria no cargo, ainda que demorasse para voltar à ativa.

Na verdade, a renovação de Renato foi inexplicável. Nessa quinta-feira, escrevi em GZH uma crônica em que analisei as últimas temporadas do Grêmio. Escrevi o seguinte:

"De 2018 para cá, o Grêmio colecionou alguns dos resultados mais constrangedores da sua história. Levou 5 a 0 do Flamengo e 4 a 1 do Santos, foi surrado pelo Atlético Paranaense e pelo Caxias, permitiu que o River e o Inter virassem jogos ganhos nos últimos minutos de partida e, agora, foi eliminado pelo Del Vale na Arena. Mas o pior talvez tenha sido a forma como enfrentou o Palmeiras na final da Copa do Brasil _ um Grêmio desinteressado, alheio, distraído, como jamais se viu, nem nos piores times da sua história mais do que centenária.

Nesses fracassos rotundos, o conjunto de erros da comissão técnica é assombroso. A insistência com jogadores como Paulo Victor, Vanderlei, André e Bressan é um escândalo. A direção compreendeu isso e removeu esses jogadores do grupo. Mas outros começam a tomar o lugar deles, como o zagueiro Rodrigues. Inexperiente, afoito, Rodrigues poderia ser emprestado para aprender e se fortalecer, mas continua à disposição, acaba jogando e fica sempre muito perto de se queimar".

Isso tudo, essa coleção de equívocos, era vista por torcedores e conselheiros do clube. Que pressionavam o presidente Romildo Bolzan. Assim, por mais que Bolzan goste de Renato e seja grato a ele, a realidade termina se impondo. Os resultados gritam mais alto. Renato saiu porque não tinha mais como ficar.

Mas a história da longa permanência de Renato no clube traz algumas lições. A principal é a de que, às vezes, a estabilidade, que é algo positivo, pode se transformar em fator de relaxamento e de acomodação. A segurança de Renato no cargo fez com que ele cometesse temeridades, como a insistência na escalação de certos jogadores que não eram mais suportados pela torcida e pelos próprios dirigentes. Além disso, o comportamento de Renato mudou. Antes de 2018, o Renato vencedor era ponderado e sensato nas entrevistas. Tanto que as pessoas se surpreendiam: "O Renato mudou! O Renato amadureceu!". Depois, quando começou a perder e as críticas vieram, Renato tornou-se arrogante, agressivo e debochado. Até seus amigos do futebol, como Casagrande, o censuraram pela forma como se manifestava.

Mesmo assim, Renato sai do Grêmio sem mácula. A torcida o adora e ele sempre será o maior ídolo do clube. Seus reveses dos últimos tempos logo serão esquecidos e suas conquistas voltarão a ser exaltadas. Mais tarde, se o Grêmio estiver precisando, ele será lembrado. Porque Renato é uma estátua na Arena, e uma estátua é para durar para sempre.

DAVID COIMBRA

16 DE ABRIL DE 2021
OPINIÃO DA RBS

MÁQUINA DE GERAR CONFLITOS

É mais um péssimo sinal emitido pelo governo federal ao mundo a demissão do chefe da Polícia Federal (PF) do Amazonas, Alexandre Saraiva. O afastamento aconteceu em um intervalo de menos de 24 horas após vir a público a notícia de que Saraiva enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime em que pede apuração sobre atitudes do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do senador Telmário Mota (Pros-RR). A alegação é de que ambos estariam prejudicando medidas de fiscalização de crimes contra a natureza. O pano de fundo do conflito é a apreensão de madeira com abundantes indícios de irregularidades feita pela PF, a maior ação do gênero da história do órgão, uma operação que, em circunstâncias normais, deveria ser saudada pelo Palácio do Planalto.

Salles, que pela função ocupada deveria ter uma atuação voltada à proteção do ambiente, age no sentido contrário, defendendo os interesses de empresas investigadas por suposto envolvimento em desmatamento ilegal. Poderia ser chocante, se não se tratasse de apenas mais uma investida de Salles a sabotar trabalho de vigilância contra ações danosas que afetam biomas brasileiros. As denúncias de obstrução de investigação ambiental, advocacia administrativa e organização criminosa contra o ministro deveriam ser suficientes para que o presidente Jair Bolsonaro o defenestrasse sumariamente. Mas quem caiu foi o chefe da PF no Amazonas. Às vésperas da cúpula do clima, convocada para a semana que vem pelo presidente dos EUA, Joe Biden, quando o Brasil vai ser cobrado a combater o desflorestamento, o governo brasileiro mostra que, na queda de braço, ficou ao lado dos suspeitos de crimes ambientais.

O caso tende apenas a acirrar a animosidade internacional contra o Brasil, reforçando a percepção de que o governo Bolsonaro é uma máquina de gerar conflitos. Nos últimos dois anos e quatro meses, são incontáveis as turbulências e as contendas internas e externas gestadas no Planalto. No plano doméstico, o mais recente é o novo ataque de Bolsonaro ao STF e a tentativa de influenciar a CPI da Pandemia. Isso após mal ter baixado a poeira da crise militar que levou à substituição do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas, episódio que chegou ao fim, felizmente, com recados claros de militares da ativa e da reserva de que Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições de Estado e não estão subordinadas a humores do presidente da vez. Ontem deu tempo ainda para gerar um novo atrito com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, com uma publicação, em rede social, sobre o papel das forças armadas do país vizinho na pandemia. Uma atitude desnecessária, lamentável, gratuita e que passa longe do que deveria ser o cultivo de boas relações com as demais nações.

O governo federal tem conflitos com prefeitos, governadores, cientistas, põe em dúvida a lisura do processo eleitoral, interfere em estatais e se desentende com laboratórios e países que poderiam garantir ao Brasil uma situação mais confortável de vacinação, enquanto se esquiva de decisões difíceis e terceiriza culpas. Ao fim, são os brasileiros, exaustos, que perdem com tantas frentes de instabilidade abertas ao mesmo tempo. Espera-se que as instituições prossigam mostrando a solidez necessária para que o país atravesse os dias mais revoltos. Mas o custo de tantos sobressaltos, mais uma vez, pode ser uma nova frustrante constatação de que a tão esperada recuperação da economia será outra vez adiada.

 


16 DE ABRIL DE 2021
EDUARDO BUENO

Maior bandeira

A primeira bandeira do Brasil tremulou poucos dias após o grito do Ipiranga. Foi obra de Jean Baptiste Debret - que já tinha a pena na mão e uma ideia na cabeça. Tomando por base estandartes franceses, ele usou um fundo verde - a cor da dinastia de Bragança - e nele aplicou um losango amarelo, o dourado dos Habsburgos, a casa real da imperatriz Leopoldina. No centro do losango, pôs um escudo com a cruz da Ordem de Cristo, 19 estrelas e a esfera armilar, ladeados por um ramo de café e outro de tabaco - as drogas que faziam a fama e a fortuna do Brasil.

Tal pavilhão manteve-se no alto dos mastros até o golpe militar de 15 de novembro de 1889. Já ao raiar do dia seguinte, Lopes Trovão - o tempestuoso republicano -, apresentou sua nova versão. Era igual à bandeira dos EUA, stars and stripes: listras verdes e amarelas na horizontal e um quadro negro com estrelas no canto. Negro, em louvor aos africanos cujo suor e sangue tinham construído o país. Ruy Barbosa mandou pintar o retângulo de azul. E apresentou ao velho monarquista Deodoro, que odiou tudo. "Senhores, mudamos o regime, não a pátria", disse ele. E assim, com o lábaro que ostenta estrelado, surgiu a bandeira que você conhece - que alguns de nós juramos e que tem gente que agora sequestrou.

Sim, é fato: um bando - cada vez menor, mas cada vez mais fora de si - tomou de assalto a bandeira brasileira desde a campanha que acabou elegendo o mais despreparado presidente brasileiro de todos os tempos (e minha opinião vale mais, pois além de experiente doutrinador, estudei a trajetória de todos os que já comandaram o país desde o golpe que tirou os ramos de café e de tabaco da bandeira). Aliás, não sei como esse povo ainda não pensou em acrescentar um ramo de soja transgênica e uma carreira de pó branco (de avião da FAB) ao pavilhão. Pois já o levou para desfilar nas marchas mais vis das quais a bandeira tomou parte.

Domingo passado, eles se reuniram no Parcão, em torno da figura lastimável de Roberto Jefferson, para defender o direito de contaminar, o direito de aglomerar-se em tempos evangélicos e o "voto no papel". Passei por ali e vi duas criaturas caquéticas e patéticas com um cartaz que dizia: "Não é pandemia, é comunismo". Aí, desisti. Deles. Da bandeira. Quiçá do país. E com certeza do Parcão. Acho até que deveriam dar o Parcão para eles - desde que não saiam mais dali.

Só que a dona Laura Mostardeiro, o republicano Quintino Bocaiúva e a turma que fez a revolução de 30 no dia 24 de outubro (e talvez até o tal Comendador Caminha) não vão gostar nada disso. Mas como são eles que batizam as ruas ao redor do parque, talvez de fato os mantenham presos ali, onde grama não falta. Já a gente fica de boa na Redenção, que, aliás, é maior, mais democrática e mais bonita. Fui.

EDUARDO BUENO