04
de março de 2012 | N° 16998
MARTHA
MEDEIROS
Sociedade de mulheres
viris
O que não impede que prestemos atenção no
que essa metamorfose pode ter de prejudicial. As mulheres se masculinizaram, é
fato. Não por fora, mas por dentro. As qualidades que lhes são atribuídas hoje,
e as decorrentes conquistas dessa nova maneira de estar no mundo, eram
atributos considerados apenas dos homens. Agora ninguém mais tem monopólio de
atributo algum: nem eles de seu perfil batalhador, nem nós da nossa
afetividade. Geração bivolt. Homens e mulheres funcionando em dupla voltagem,
com todos os atributos em comum. Mas seguimos, sim, precisando uns dos outros –
como nunca.
Não são poucas as mulheres potentes que
parecem conseguir tocar o barco sozinhas, sem alguém que as ajude com os remos.
Mas é só impressão. Talvez não precisemos de quem reme conosco, mas há em todas
nós uma necessidade ancestral de confirmar a fêmea que invariavelmente somos.
E
isso se dá através da maternidade, do amor e do sexo. Se não for possível ter
tudo (ou não se quiser), ao menos alguma dessas práticas é preciso exercer na
vida íntima, caso contrário, viraremos uns tratores. Muito competentes, mas com
a identidade incompleta.
Nossa virilização é interessante em muitos
pontos, mas se tornará brutal se chegarmos ao exagero de declarar guerra aos
nossos instintos.
Ok,
ser mãe não é obrigatório, ter um grande amor é sorte, e muitas fazem sexo
apenas para disfarçar o desespero da solidão, mas seja qual for o contexto em
que nos encontramos, é importante seguir buscando algo que nos conecte com o
que nos restou de terno, aquela doçura que cada mulher sabe que ainda traz em
si e que deve preservar, porque não se trata de uma fragilidade paralisante, e
sim de uma característica intrínseca ao gênero, a parte de nós que se reconhece
vulnerável e que não precisa se envergonhar disso.
Se é
igualdade que a gente quer, extra, extra: homens também são vulneráveis.
“Cuida bem de mim”, dizia o refrão de uma
antiga música do Dalto, e que Nando Reis regravou recentemente. Cafona? Ora, se
a gente não se desfizer da nossa prepotência e não se permitir um tantinho de
insegurança e delicadeza, a construção desta “nova mulher” terá se desviado
para uma caricatura. A intenção não era a gente se transformar no estereótipo
de um homem, era?
Cuide-se bem, e permita que os outros lhe cuidem
também. Viva o dia internacional dessa porção mulher que anda resguardada
demais, mas que não deveria ficar assim tão escondida: não nos desmerece em
nada.
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