DANUZA
LEÃO
O mais
importante
Uma
boa informação tem de vir de quem está por dentro da intimidade dos negócios,
da amizade com políticos
A
informação é hoje um bem precioso, e milhares de pessoas se matam para obter
uma, por pequena que seja, não importa sobre o quê.
É
preciso ser bem informado, e para isso é preciso uma especial competência: um
homem bem informado é um homem poderoso, pois com boas informações se consegue
qualquer coisa.
Se
for sobre o mercado de capitais, alguns podem ficar ricos ou, para usar uma
expressão mais moderna, dar uma tacada que vai garantir toda a sua
descendência.
Uma
boa informação tem de vir de alguém que está "por dentro" da
intimidade dos negócios, da amizade com políticos; pode também vir da amiga da
mulher do governador ou da manicure da mulher do juiz, pois quem souber da
novidade antes de ela se tornar pública vai poder ligar para dez amigos
importantes e contar, para que eles saibam que você já sabia.
Para
isso talvez seja preciso ser amigo também do segurança do Congresso, e com
tantas e tão ecléticas amizades, não vai ter tempo, jamais, para ir a um cinema
ou namorar. E daí?
Pense
um pouco: algum poderoso vai contar a você, que não é ninguém, se a taxa de
juros vai subir ou descer? Pois é exatamente aí que entram eles, os que têm a
capacidade de captar os sinais da mensagem, como se fosse um código.
Para
obter a informação, é preciso dar algo em troca, seja lá o que for. É um
negócio -como quase tudo na vida.
Para
um político tímido e solitário, pode ser companhia; para quem quer ascender
socialmente, conhecer as pessoas certas; para certos homens, ser apresentado às
gatas. Não, nada de prostituição: bem pior. É, por exemplo, apresentar jovens
aspirantes a modelo e, num clima de muito charme, levantar a bola do amigo,
levar para jantar, dar muita risada. Isso hoje em dia é profissão.
Cada
vez se entende menos o mundo. Houve um tempo em que trabalho era trabalho.
Havia hora para começar, para terminar, e todo mundo sabia o que estava
fazendo. O carpinteiro tinha seu martelo, seu serrote, seus pregos, quando o
serviço estava pronto, entregava e recebia seu dinheiro. Ou era sapateiro, ou
costureira, ou médico, ou tinha uma loja.
Era
fácil de entender. Hoje, é nos jantares e nas grandes festas que são feitos os
negócios.
Mas
às vezes é preciso tirar férias de tanta modernidade e ir para um lugar onde a
informação não chegue ou, se chegar, não faça quase nenhum sentido.
Um
lugar onde não haja carros, nem televisão, onde não existam cinemas, os jornais
não cheguem nem existam celulares, nem internet.
Se
quiser radicalizar, vá para uma casa no mato, sem conforto, eletricidade,
ar-condicionado; um lugar onde as informações cheguem por um vizinho que
apareça de manhã, sente na varanda, tome um café - talvez uma cachacinha-, olhe
para o céu e diga que acha que vai chover; não soube pelo serviço de
meteorologia, mas porque as galinhas acordaram alvoroçadas e o vento está
abafado. Dizem que isso ainda existe.
Mas
um dia pode dar vontade de voltar, e aí o problema vai ser se inserir de novo
no mundo e ver o quanto é importante saber, em primeira mão, se a atriz da
novela está ou não grávida.
Em
primeira mão significa 30 minutos antes dos outros -e talvez não mais do que 15
depois dela.
O
mundo anda mesmo estranho.
danuza.leao@uol.com.br
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