23
de março de 2012 | N° 17017
ARTIGOS
- Flavio José Kanter*
Velhos podem trabalhar?
Li a
história do senhor Ron Akana, que tem 83 anos de idade. Parece ser o comissário
de bordo em atividade há mais tempo nos Estados Unidos, 63 anos na United. Há um
outro com 87 trabalhando na Delta, mas começou dois anos depois de Akana. E sua
antecessora na mesma companhia deixou de trabalhar há cinco anos, aos 85.
Ele
já voou uns 20 milhões de milhas, algo como fazer 800 voltas à Terra ou ir e
voltar à Lua 40 vezes. Quer saber se ele está cansado? Diz que não. O fato de
ser o mais antigo lhe permite escolher antes a escala de trabalho.
O
que escolhe? Rotas longas, como seus pares mais antigos nas companhias aéreas,
para atingir rapidamente a quota de horas requeridas no mês. Muitos comissários
trabalham até idade avançada porque precisam do salário.
Não é
o caso deste senhor. Ele ganhava mais de US$ 100 mil anuais aos 70 anos. Diz
que trabalha porque não se imagina longe dos colegas e dos passageiros que
encontra a cada novo voo. Gosta do que faz, até de preparar a mala e o uniforme
de trabalho nas noites antes de voar. Brinca que o que ganha trabalhando é para
as férias...
Há o
que refletir nessa história. A pirâmide populacional vem se modificando, com
menores taxas de nascimento e aumento na longevidade. Muitos países já avançaram,
e o Brasil entrou nessas mudanças.
Isso
traz implicações, pois diminuem contribuintes e as aposentadorias tornam-se
cada vez mais longas. Gastos com saúde e doença de pessoas que vivem mais
tornam-se maiores. São necessários mais leitos hospitalares, vagas em emergências.
A
presença dos velhos por mais tempo no mercado de trabalho também se torna real.
Tudo indica que os que gostam do que fazem trabalham bem, são apreciados,
utilizam a experiência acumulada e são bons no que fazem. A satisfação por se
envolver com algo prazeroso faz com que o trabalho seja uma alegria renovada, não
um fardo.
Isso
é construído ao longo da vida. Ron Akana trabalha desde os 20 anos, época em
que se voava impecavelmente trajado, eram servidos coquetéis de frutos do mar e
se atendiam passageiros que se reuniam em torno do bar do avião para uma bebida.
Nos
tempos cinzentos da aviação atual, ele trabalha com a mesma satisfação: soube
entender e se ajustar às mudanças que ocorreram nessas décadas.
A
tendência é de se viver mais. É bom nos prepararmos para uma velhice boa.
*Médico
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