
15 de Julho de 2025
CARPINEJAR
Chá de infidelidade
Um escândalo mobilizou as redes sociais a partir de uma reunião familiar em Quinze de Novembro, pequena cidade gaúcha com aproximadamente 4 mil habitantes, na Região das Missões. É como se o Brasil entrasse, de repente, numa casinha de madeira pintada de verde-água, implodindo o teto, o chão, os alicerces morais de um lar.
A esposa simula um chá revelação para os parentes. Aparece com uma caixinha com fitas. No lugar da fumaça rosa ou azul para sinalizar o anúncio do sexo de um bebê, surge a fumaça escurecida e carvoeira da denúncia.
Expõe um dossiê das traições do marido, que está lá, em sua frente: as recaídas com a ex e os casos de infidelidade com três amantes ao longo da convivência, sendo que, de um dos envolvimentos, nasceu um filho - daí o chá de fraldas batizando o encontro.
Começa num tom animado e despretensioso e desemboca num constrangimento infinito, tenso. Os presentes na sala não ousam rir. As respirações são sôfregas. A traída não mede detalhes. Exibe as conversas printadas, as fotos, os horários, os esconderijos, as despesas, os áudios. Não há mais como mentir e dizer que é fofoca. O homem, pego em flagrante, congela. Só balança a cabeça.
- Você levou quanto dinheiro para ela? Por que você está pagando casa para ela? Ela esmiúça o círculo de cúmplices, quem acobertou as puladas de cerca. Jorra bílis e deslealdade para o sofá.
- Eu achei que você era minha amiga. Você sabia de tudo, né? Por que você não veio me contar?
Os anos de hipocrisia, de cinismo, de fingimento, de falsidade de um casamento são pulverizados em sete minutos. A fachada da união estável é descascada com a lixa da infelicidade. Pelo que é possível concluir, a mulher enganada arquitetou a cena como vingança ao seu sofrimento silencioso. Deixou um celular gravando e vazou o conteúdo.
Não aceitou mais permanecer submissa. O infiel jurava que ela nunca reagiria, suportaria os vexames e os chifres calada, e seria "um pato bem bonitinho, bem quietinho, para não manchar a honra da família".
Ela não apenas relata os podres para os mais íntimos, mas também torna pública a conduta paralela do seu companheiro. É uma virada de mesa, uma avalanche de sinceridade, um poltergeist de empoderamento.
Um dos momentos mais tristes do entrevero é quando ela se justifica por ser "bagunceira". - Por que será que uma pessoa fica tão ruim assim e mostra a pior versão dela? Você acha que eu era amada dentro dessa casa?
Provavelmente este seja o ponto central: não se sentir amada, pois sequer foi respeitada. Durante tanto tempo, viu recair sobre si o mais puro desprezo, sendo posta de lado, ridicularizada, arcando com piadas e indiretas, criando o filho sozinha, numa solidão desprovida de socorro.
Não se deve questionar por que ela fez tudo isso, numa inversão dos valores, culpabilizando a vítima. Ela transbordou com razão. Não lhe restou outra saída. Estava emparedada, encurralada, numa relação dependente e lúgubre. Não podia confiar em ninguém ao redor.
Talvez pela primeira vez na vida tenha se priorizado. Se não abrisse as indiscrições ao mundo, jamais seria acreditada. Ela escancarou o machismo para se divorciar em paz, e dar o adeus livre de condicionamentos, do remorso, da pressão social, sem ser julgada como ingrata ou doida.
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