terça-feira, 15 de julho de 2025



15 de Julho de 2025
NÍLSON SOUZA

A guerra dos bonés

Acometido por precoce alopecia androgenética, me transformei num usuário contumaz de bonés. Para quem entendeu apenas a última palavra dessa frase pernóstica, traduzo: uso boné para proteger a careca do sol e do frio, especialmente nas minhas caminhadas matinais. Não sou muito exigente em relação a essa singela peça da minha indumentária. Até pouco tempo atrás, costumava usar o surrado boné que ganhei em visita profissional a uma fábrica de automóveis, por ser confortável e por ter o número cem na parte frontal, referência ao centenário da empresa.

Caminho para chegar lá! - gostava de dizer aos amigos que implicavam com a mensagem numérica.

Infelizmente, o boné se desintegrou muito antes de me levar à meta estabelecida, o que não me tira a pretensão de longevidade. Agora ando com uma folha de bordo bordada acima da aba, porque uma sobrinha me trouxe um boné do Canadá - e aquela árvore parecida com o nosso plátano é o símbolo do país do senhor McLuhan, autor da teoria e da frase que inspiram esta crônica enviesada: o meio é a mensagem.

O boné virou meio para muitas mensagens, inclusive para a mais recente batalha política deflagrada pela taxação trumpiana que atinge mais fortemente o Brasil e, por coincidência, também o Canadá. Mas fiquemos com a nossa briguinha doméstica: entre a prepotência xenofóbica do Maga (Make America Great Again) estado-unidense e o populismo oportunista verde-amarelo (no caso, predominantemente azul), prefiro ficar com o meu boné esfarrapado ou fazer de conta que a folha da árvore canadense é uma mensagem ecológica.

Aproveito o tema para deixar aos pacientes leitores uma mensagem que não cabe na coroa de um boné, mas que talvez seja oportuna para esse momento perturbador da vida nacional: usem os símbolos de seus times preferidos, coloquem as iniciais de seus próprios nomes, homenageiem pessoas amadas, adotem frases ou desenhos divertidos para provocar sorrisos nos observadores, façam propaganda de produtos e marcas de suas preferências, mas, por favor, não deixem que o antagonismo ideológico, o ódio excludente e o oportunismo hipócrita lhes subam à cabeça. 

NÍLSON SOUZA 

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