quinta-feira, 6 de novembro de 2025


 06 de Novembro de 2025
CARPINEJAR

Todo brasileiro é um pouco parente um do outro.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na terça-feira, a segunda edição do levantamento de nomes mais frequentes no Brasil, com a novidade da inclusão do sobrenome.

Silva tem o reinado definitivo dos registros, mostrando-se presente na identificação de 16,76% da população. São 34 milhões de pessoas com o sobrenome em comum, dividindo os galhos da árvore genealógica. Na cidade de Belém de Maria, por exemplo, em Pernambuco, com 11 mil habitantes, 63,9% dos moradores são Silva. Só se lê Silva na lista de chamada da escola.

Minha esposa é Silva por parte de pai. Conheço bem a confusão que a sua difusão costuma provocar. Sei o quanto ela recebeu ligações a respeito de uma Beatriz Silva com pagamento atrasado que não era ela. Ou o quanto penou com a sua criatividade para cadastrar um e-mail que não tivesse sido usado. Ou o quanto abusou de underlines e números para entrar nas redes sociais.

Santos é o segundo colocado no ranking, com 21,4 milhões de pessoas (10,5% da população). Em terceiro, vem Oliveira. Em quarto, Souza. Em quinto, Pereira. Em sexto, Ferreira. Não é de se estranhar. Somos um país absolutamente religioso, devoto de Nossa Senhora. Sempre haverá uma Maria na família. Minha mãe é Maria, as irmãs do meu pai são Maria.

Trata-se do batismo mais recorrente, alcançando cerca de 12,3 milhões de pessoas em 2022 - o que representa 6,1% do total. Como se toda a população do Rio Grande do Sul fosse formada por Marias.

O mesmo acontece com José, numa carpintaria bíblica que segue fazendo seus sucessores: quase 5,2 milhões de habitantes (ou 2,5%). Os dois já lideravam o censo anterior, relativo a 2010, retomando, num engajamento carismático retrô, o pico da década de 1960. Não saímos do presépio.

Para evitar sósias, ser uma Clorina ou um Abelin é uma vantagem, um privilégio da singularidade.

Qualquer um pode pesquisar na plataforma e descobrir seus duplos pelo Brasil. Eu tenho 165 mil xarás pelo território nacional, o equivalente ao contingente populacional de Teresópolis (RJ). Fabrício se encontra na 198ª posição em popularidade. Não existe ameaça de epidemia. Estou num posto cômodo no ranking: nem tão célebre, nem tão anônimo. O que mais me agrada é a média de idade do meu nome: 28 anos. Vou pegá-la emprestada para mim.

Já o Nejar paterno apresenta 86 ocorrências. É possível reunir o meu povo inteiro num miniauditório. Corresponde a 10% do Carpi materno, que conta com 877 ocorrências e exige um teatro. Melhor ainda é inventar um sobrenome - como o meu, Carpinejar. Tenho certeza de que só há eu no mundo. Por enquanto. Talvez a gente viva pelo desejo de ver nosso nome em destaque. É a primeira coisa que aprendemos na classe: como escrevê-lo.

É o motivo da batalha inicial na gestação, da guerra sem fim dos pais por nossa causa: qual será o nome dele? Terá a cara de quem? É uma briga que levamos vida afora, defendendo a grafia em hotéis e a pronúncia em telefonemas e conversas. Não queremos que ninguém erre. Ficamos chateados, como se o lapso fosse um abominável descaso.

O nome é a nossa fé, a nossa solidão. Por mais que seja similar ao de alguém, a maneira de lidar com ele é única. 

CARPINEJAR

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