
15 de Novembro de 2025
ANDRESSA XAVIER
O cais do Pará
Belém do Pará mais parece outro país quando visto por moradores do extremo sul brasileiro. É tudo muito diferente do que vivenciamos no Rio Grande do Sul. O calor, a floresta, a comida, os costumes. As casas em palafitas, circular de barco, as frutas e peixes. Tudo é bem típico. As dimensões continentais do Brasil nos garantem esse leque de tradições e cultura. Nossa riqueza está nisso e tive o privilégio de, ao cobrir a COP, conhecer um pouquinho do Norte.
O mercado Ver-o-Peso, o maior da América Latina a céu aberto, tem de tudo. Peixe, carne, frutas, goma de tapioca, castanha, comidas prontas, artesanato e perfume de ervas para o famoso banho de cheiro. É lugar de turistas, de moradores, de todo mundo. Logo ali ao lado, o que chama atenção é outro cartão-postal paraense. A Estação das Docas é imponente, muito por conta dos guindastes amarelos. Essas estruturas foram mantidas para lembrar a história do local.
No final do século 19 e começo do 20, o Pará vivia a abundância proporcionada pelo ciclo da borracha. O látex vindo da floresta abastecia os mercados mundiais. A Inglaterra produziu e trouxe grande parte da estrutura. Depois do auge, veio a derrocada. Com a concorrência mundial, a borracha deixou de ser levada daqui. Os armazéns e estrutura logística ficaram abandonados por décadas. A ligação da cidade com o Rio Guajará ficou restrita. Em meio aos quase escombros, cresceu somente a insegurança e aquele virou um local de prostituição e tráfico de drogas.
A situação é a mesma que conhecemos na capital gaúcha. Felizmente faz alguns anos que o Cais Embarcadero abriu, ainda que seja uma brecha, e proporcionou o reencontro da população com o Guaíba. Mas Belém foi além disso, e muito antes da gente. No ano 2000 foi inaugurado o atual complexo, com meio quilômetro de extensão. Os armazéns foram revitalizados, a área virou ponto de encontro, o turismo tomou o lugar dos problemas que antes havia ali.
As docas unem teatro, com ruínas de uma construção de 1665, e outras atrações culturais. Tem também os armazéns que viraram espaços gastronômicos. A operação é simples. Espaços antigos que foram modernizados e abrigam restaurantes lado a lado, em um mesmo salão. A sorveteria Cairu, que os paraenses dizem que é a melhor do Brasil, faz jus à fama. Entre os sabores, bacuri, castanha, milho, tapioca e açaí, o puro. São 25 anos de um espaço popular, acessível e que virou ponto de encontro. O cais deles funciona e deve ser exemplo para os nossos armazéns, descuidados e caindo aos pedaços.
Mesmo com um delay de décadas, temos aqui, no nosso quintal, a oportunidade de um cais vivo e maior. A amostra que o Embarcadero nesses últimos anos traz é de esperança de uma ocupação maior da área portuária para, de fato, fazermos as pazes com a história e com a nossa orla. _
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