quinta-feira, 20 de novembro de 2025


 20 de Novembro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Pessimismo paira sobre a COP30

O clima mudou. E não falo das mudanças climáticas nem das condições do tempo em Belém, onde há chuvas e trovoadas a cada final de tarde. Refiro-me ao ambiente interno da Blue Zone, a área de decisões da COP30.

Os negociadores foram dormir tarde, nas primeiras horas de ontem, depois que os debates entraram madrugada adentro. Havia otimismo no ar a partir do primeiro rascunho de texto final, no qual estava incluída a redução gradual do uso de combustíveis fósseis, exatamente como desejam ambientalistas e parte do governo Lula, em especial o grupo ligado à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. O texto também recebeu o apoio de mais de 80 países.

O problema é que o grupo dos oposicionistas, liderado pela Arábia Saudita (sempre ela), entrou em campo - e considera inegociável a questão. É do jogo da negociação, mas todos baixaram as expectativas por aqui.

O termo "redução gradual de uso" de fósseis é diferente de "transição para longe", presente no documento da COP28. Seria mais ambicioso.

Risco de golpe de morte

Nos bastidores, surgiu a ideia de se separar o tema para debate em outro fórum, um encontro político a ser realizado no futuro, fora do ambiente da COP. O risco é que isso desidrataria o texto final da conferência de Belém, cujo documento não faria referência a combustíveis fósseis ("a COP flopou", cheguei a ouvir de uma parte). E, pior, poderia representar o golpe de morte nas COPs e no sistema multilateral.

A ONU, que já não consegue evitar guerras e foi questionada diante da pandemia, provaria, para os críticos, sua ineficiência ao não conseguir consenso sobre mudanças climáticas. Para o Brasil, a COP30 não seria nem a "COP da implementação" (como desejava o governo), porque não implementaria nada. Nem seria a COP do multilateralismo.

Em outro movimento, a Austrália jogou a toalha. A Turquia irá sediar a COP31, no ano que vem. O país de Recep Tayyip Erdogan vinha apostando muito mais suas fichas para sediar a conferência do que a nação da Oceania. A sede deve ser em Antalya, um balneário do Mediterrâneo, que o governo pretende alavancar como ponto turístico, a exemplo do que o Egito fez ao realizar a COP27 em Sharm el-Sheikh.

A Turquia vem crescendo em demonstração de força geopolítica, principalmente depois do papel de mediadora que exerceu no acordo de cessar-fogo entre o grupo terrorista Hamas e Israel. A chefia das negociações ficará com os australianos, enquanto a presidência, hoje exercida pelo Brasil, será passada aos turcos. _

Temos mais com que nos preocuparmos

Sabe qual foi a repercussão das falas grotescas do chanceler alemão na COP30? Nenhuma. Obviamente, Friedrich Merz foi infeliz, mal- educado e descortês em relação a Belém. Mas isso não teve efeito algum nas negociações ou no ambiente da COP. Nem os belenenses ficaram irados, preocupados ou sequer chateados. Sabe por quê? Porque eles têm mais o que fazer - trabalhar, receber bem os visitantes e lidar com as agruras de uma cidade que tem, sim, seus problemas estruturais, como todas as metrópoles brasileiras.

O debate sobre se foi ou não uma agressão ao Brasil pulula ou nas redes sociais, o tribunal preferido da opinião pública, ou entre a elite política - que, aliás, adora capitalizar uma polêmica a fim de ganhar alguns pontos de popularidade. Mas daí o plenário do Senado aprovar um requerimento de voto de censura a Merz, me parece demais. Como se os nobres parlamentares não tivessem mais com o que se preocupar.

De toda a falsa polêmica, talvez a declaração mais sensata tenha vindo do embaixador André Corrêa do Lago, o presidente da COP30 - que, aliás, só se manifestou sobre o assunto porque foi perguntado por um jornalista.

- Tem tanta coisa boa sendo dita sobre Belém. Tem tanta coisa boa sendo dita sobre a COP. Não temos que ouvir as pessoas que não sabem apreciar. Não temos que ligar para o que as pessoas estão falando, estamos acima disso - disse. _

Viaturas elétricas para a BM

Enquanto em Belém ocorre a COP30, em Porto Alegre a Brigada Militar (BM) entregou ontem duas viaturas 100% elétricas ao 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM).

Os veículos, modelo BYD Yuan Pro, passam a reforçar a frota operacional da unidade e simbolizam o avanço da corporação na adoção de tecnologias sustentáveis.

As aquisições foram viabilizadas por meio de projetos técnicos desenvolvidos pelo setor de Projetos do 9º BPM e financiadas com recursos destinados pela Central de Execuções Penais de Porto Alegre, da Justiça Federal, e pela Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas, da Justiça Estadual. _

Santos Dumont e a reitora da UFRGS

A Casa da Ciência, sede do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na COP30, abriga a exposição "A Ciência Brasileira e seus Personagens". Nela são apresentadas 81 personalidades que fizeram e fazem a história da ciência e da tecnologia no país, como a reitora da UFRGS, Márcia Barbosa.

Entre os homenageados, ao lado de Márcia Barbosa, estão: a médica Margareth Dalcolmo, que teve forte atuação na pandemia; a atual ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações, Luciana Santos; a filósofa e escritora Marilena Chauí; a economista Maria da Conceição Tavares; a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader; o cientista e médico Carlos Chagas; o ex-ministro Celso Pansera; o físico e ex-ministro Sérgio Rezende; o aeronauta e inventor Santos Dumont, entre outras personalidades. _

Cientistas criticam o rascunho

Um grupo com alguns dos principais cientistas climáticos do mundo lançou ontem um documento criticando, de forma enfática, a primeira versão do rascunho das negociações que define o que seria o "mapa do caminho" na COP30.

Na carta, os pesquisadores chamaram as propostas apresentadas, até o momento, de "provocação".

"Na forma como se apresentam, ambas as propostas para os planos de ação para eliminar os combustíveis fósseis e para acabar com o desmatamento são uma provocação. Os delegados parecem não entender o que é um plano de ação. Um plano de ação não é um workshop ou uma reunião ministerial. Um plano de ação é um plano de trabalho real que precisa nos mostrar o caminho de onde estamos para onde precisamos estar, e como chegar lá", escreveram no documento. 

INFORME ESPECIAL

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