18
de abril de 2012 | N° 17043
MARTHA
MEDEIROS
Pode ir
No
domingo 8 de abril, foi ao ar a entrevista que o ator Reynaldo Gianecchini deu
à jornalista Marília Gabriela. Houve quem se apegasse ao selinho e ao “te amo”
no final, que nada mais foi do que uma manifestação espontânea de afeto entre
ex-amantes que se dão bem, mas o que merece registro foi a abertura emocional
da conversa, coisa que a TV não costuma esbanjar.
A
entrevista comoveu do início ao fim, chegando perigosamente perto do piegas,
porém Gianecchini foi tão grandioso, que calou qualquer crítica. Não perdeu a
classe, não se vitimizou, falou com desenvoltura e honestidade – foi perfeito.
Houve
um momento que sobressaiu aos demais. Foi quando ele contou como foram os
últimos instantes de vida do pai dele, que também tinha câncer e que veio a
falecer. Gianecchini, sabedor de que o pai estava desenganado, foi ao hospital
e juntos tiveram a oportunidade de conversar sobre diversas questões pendentes
– que pais e filhos não têm questões pendentes?
Não
querendo ser mais um a choramingar “por que não disse tal e tal coisa ao meu
pai quando ele era vivo?”, foi lá e fez o dever de casa.
Tiveram
tempo para zerar as dívidas. Quando não havia mais o que falar, Gianecchini
abraçou o pai longamente e disse: “Pode ir”. Então olhou para os monitores e
viu que os batimentos cardíacos dele começavam a cair, que o pulso começava a
cair – o pai começava a morrer. Ele acompanhou a morte chegando, até que as
máquinas deram o sinal de que tudo havia acabado. “Não senti tristeza. Senti
paz.”
Entre
tantas coisas difíceis que enfrentamos na vida, as despedidas estão entre as
mais cruéis. Dificilmente sentimos paz: romper um vínculo é uma pequena morte,
e com ela advêm a dor, a culpa, a saudade e o medo diante do que o futuro
reserva.
Mesmo
as despedidas do tipo “fácil”, como as que ocorrem em aeroportos e rodoviárias,
são angustiantes: quando nos veremos de novo? Ao menos, sabe-se que haverá um
novo encontro, seja quando for. Já as difíceis implicam separação definitiva.
Incluem-se aí divórcios, fins de namoro, discussões que dissolvem amizades,
sociedades, empregos. Apesar de necessárias, sangram por dentro. Adeus.
Palavrinha fatal.
Pois
Gianecchini reverteu a tese de que toda despedida é um suplício. Diante do
irreversível, não fez drama. Sofrimento e drama não são sinônimos. Existe o
sofrimento pacífico, assimilado, generoso: “Pode ir”. É a aceitação da morte
como um rito de passagem tanto para quem vai quanto para quem fica.
O
drama é que torna tudo mais doloroso. Elimina a razão, não permite formulações
nem aprendizado, apenas corrói, desespera. O drama, que tem na despedida sua
cena representativa clássica, é cafona e improdutivo: o tempo que gastamos
arrancando os cabelos poderia ser mais bem aproveitado se transformado em
meditação e humildade. Aceitar o luto inerente a tudo que acaba é sabedoria das
mais refinadas.
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