10
de abril de 2012 | N° 17035
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Todo casado por muito tempo é tarado
Quando
alguém confessa que está casado há 30 anos, ataco:
– Tarado!
Ele
tenta se explicar, logo repito:
– Tarado!
Ele
gagueja, e gesticulo com o dedo:
– Tarado!
Ficar
com a mesma mulher todo dia é obra de maníaco sexual. Não tem o que acrescentar.
É safadeza em demasia. Sério, sem brincadeira, o homem casado é um pervertido. Deveria
ser preso por atentado ao pudor. Não poderia sair por aí espalhando o exemplo.
Há a
crença equivocada de que o solteiro dispõe de um harém, que pode sair
livremente e aproveitar sua sexualidade sem dar satisfação. Que nada. O
solteiro não larga a primeira marcha – ao engatar a terceira e correr um
pouquinho, já troca de caso e necessita conhecer o percurso inteiro de novo.
O
casamento é a porta dos sentidos, a autêntica libertinagem, o elo perdido do
Marquês de Sade.
Sabe
mais sobre sexo quem transa com a mesma mulher durante décadas do que aquele
que tem uma diferente a cada manhã. É como jogador de futebol, que atua muito
melhor com a sequência de partidas.
Mulher
não é diversidade, é permanência. Ela se solta ao longo da convivência, impõe
seu ritmo lentamente, até formar um estilo para se vestir e outro para se
despir.
Depende
de tempo para expor suas fantasias. Afortunado é o que não se separa antes dos
cinco anos.
Com
a intimidade, sua companhia realiza acrobacias inacreditáveis, transforma as
janelas em trapézios; os trapézios, em escadas de incêndio.
Uma
mulher devota é capaz das maiores obscenidades. Porque o amor tira a culpa, o
amor elimina o preconceito, o amor não sofre de nojo.
Uma
mulher devota enlouquece o marido. Cria suspense na hora certa, desarma o ciúme
no último minuto. Tem informações privilegiadas sobre a vítima: conhece seus
pontos fracos, o lugar do arrepio atrás do ouvido, onde tocar para acelerar ou
retardar o prazer, o que falar para enervar o silêncio.
Uma
mulher devota é irresistível, rodará a casa por um afago, estará reaproveitando
os suspiros do dia nos gemidos de noite.
Uma
mulher devota desfruta de segurança no relacionamento para correr riscos no
quarto.
Vá se
acostumando com a ideia: sua esposa humilha qualquer profissional, pois entra
na cama para ganhar, não joga amistoso, não faz cera, não tem interesse a não
ser o próprio orgasmo.
Sua
esposa que é pornográfica. Ela dedicará absoluta atenção na transa, a atenção
cristalina que vem da carência. Nada passará em branco, nada será esquecido.
As
insanidades indescritíveis são experimentadas no matrimônio. Os casados são
bando de loucos, irresponsáveis, perigosos.
O
altar perdoa a cama.
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